I- O MAGISTÉRIO DA IGREJA E OS SALMOS
Coletânea dos cinco livros dos Salmos
§2585 Desde Davi até
a vinda do Messias, os Livros Sagrados contêm textos de oração que atestam o
aprofundamento cada vez maior da oração por si mesmo e pelos outros. Os salmos
foram pouco a pouco reunidos numa coletânea de cinco livros: os Salmos (ou "Louvores"),
obra-prima da oração no Antigo Testamento.
Definição dos Salmos
§2596 Os
Salmos constituem a obra-prima da oração no Antigo Testamento. Apresentam dois
componentes inseparáveis; o pessoal e o comunitário. Estendem-se a
todas as dimensões da história, comemorando as promessas de Deus já realizadas
e esperando a vinda do Messias.
Diversas formas e expressões dos Salmos
§2588 As expressões
multiformes da oração dos Salmos tomam forma tanto na liturgia do Templo como
no coração do homem. Quer se trate de um hino, de uma oração de aflição ou de
ação de graças, de uma súplica individual ou comunitária, de canto de aclamação
ao rei ou de um cântico de peregrinação, ou ainda de uma meditação sapiencial,
os Salmos são o espelho das maravilhas de Deus na história de seu povo e das
situações humanas vividas pelo salmista. Um Salmo pode refletir um
acontecimento do passado, mas é de uma sobriedade tão grande que pode ser
rezado na verdade pelos homens de qualquer condição e em qualquer tempo.
Idéias principais dos Salmos
§2589 Os Salmos são
marcados por características constantes: a simplicidade e a espontaneidade da
oração, o desejo do próprio Deus através de e com tudo o que é bom em sua
criação, a situação desconfortável do crente que, em seu amor preferencial ao
Senhor, está exposto a uma multidão de inimigos e tentações e, na expectativa
do que fará o Deus fiel, a certeza de seu amor e a entrega à sua vontade. A
oração dos Salmos é sempre motivada pelo louvor, e por isso o título desta
coletânea convém perfeitamente ao que ela nos oferece: "Os Louvores".
Feita para o culto da Assembléia, ela anuncia o convite à oração e canta-lhe a
resposta: "Hallelu-Ya"! (Aleluia), "Louvai o Senhor"! - Haverá
algo melhor do que um Salmo? É por isso que Davi diz muito acertadamente:
"Louvai o Senhor, pois o Salmo é uma coisa boa: a nosso Deus, louvor suave
e belo!" E é verdade. Pois o Salmo é bênção pronunciada pelo povo, louvor
de f pela assembléia, aplauso de todos, palavra dita pelo universo voz da
Igreja, melodiosa profissão de fé..
Importância dos Salmos
§2597 Rezados e
realizados em Cristo, os Salmos são um elemento essencial e permanente da
oração de sua Igreja e são adequados aos homens de qualquer condição e tempo.
Instituição dos Salmos
§1176 Celebrar
Liturgia das Horas exige não somente que se harmonize a voz com o coração que
reza, mas também "que se adquira um conhecimento litúrgico e bíblico mais
rico, principalmente dos Salmos".
Oração dos Salmos ensina esperança e fé em Deus
§2657 O Espírito
Santo, que nos ensina a celebrar a Liturgia na expectativa da volta de Cristo,
nos educa a orar na esperança. Por sua vez, a oração da Igreja e a oração
pessoal alimentam em nós a esperança. Especialmente os salmos, com sua
linguagem concreta e variada, nos ensinam a fixar nossa esperança em Deus:
"Esperei ansiosamente pelo Senhor, Ele se inclinou para mim e ouviu o meu
grito" (Sl ,2). "Que o Deus da esperança vos cumule de toda alegria e
paz em vossa fé, a fim de que pela ação do Espírito Santo a vossa esperança
transborde" (Rm 15,13).
Salmos e liturgia
§1156 CANTO E MÚSICA
"A tradição musical da Igreja universal constitui um tesouro de valor
inestimável que se destaca entre as demais expressões de arte, principalmente
porque o canto sacro, ligado às palavras, é parte necessária ou integrante da
liturgia solene." A composição e o canto dos salmos inspirados, com
freqüência acompanhados por instrumentos musicais, já aparecem intimamente
ligados às celebrações litúrgicas da antiga aliança. A Igreja continua e
desenvolve esta tradição: Recital "uns com os outros salmos, hinos e
cânticos espirituais, cantando e louvando ao Senhor em vosso coração" (Ef.
5,19) . "Quem canta reza duas vezes."
§1177 Os hinos e as
ladainhas da Oração das Horas inserem a oração dos salmos no tempo da Igreja,
exprimindo o simbolismo do momento do dia, do tempo litúrgico ou da festa
celebrada. Além disso, a leitura da Palavra de Deus a cada hora (com os
responsos ou os tropários que vêm depois dela) e, em certas horas, as leituras
dos Padres da Igreja e dos mestres espirituais revelam mais profundamente o
sentido do mistério celebrado, ajudam na compreensão dos salmos e preparam para
a oração silenciosa. A lectio divina, em que a Palavra de Deus é lida e
meditada para tornar-se oração, está assim enraizada na celebração litúrgica.
Salmos exprimem o coração dos pobres
§716 O Povo dos
"pobres" os humildes e os mansos, totalmente entregues aos desígnios
misteriosos de seu Deus, os que esperam a justiça não dos homens, mas do Messias
- é finalmente a grande obra da missão escondida do Espírito Santo durante o
tempo das promessas para preparar a vinda de Cristo. É a sua qualidade de
coração, purificado e iluminado pelo Espírito, que se exprime nos Salmos.
Nesses pobres, o Espírito prepara para o Senhor "um povo
bem-disposto".
Salmos oração da comunidade
§2586 Os Salmos
alimentam e exprimem a oração do povo de Deus como assembléia, por ocasião das
grandes festas em Jerusalém e cada sábado nas sinagogas. Esta oração é
inseparavelmente pessoal e comunitária; refere-se aos que oram e a todos os
homens; sobe da Terra Santa e das comunidades da Diáspora, mas abrange toda a
criação; lembra os acontecimentos salvíficos do passado e se estende até a
consumação da história; recorda as promessas de Deus já realizadas e aguarda o
Messias que as realizará definitivamente. Rezados e realizados em Cristo, os
Salmos são sempre essenciais à oração de Sua Igreja.
§2587 O Saltério é o
livro em que a Palavra de Deus se torna oração do homem. Nos outros livros do
Antigo Testamento, as palavras proclamam as obras" (de Deus em favor dos
homens) "e elucidam o mistério nelas contido". No Saltério, as
palavras do salmista exprimem, cantando-as a Deus, suas obras de salvação. O
mesmo Espírito inspira a obra de Deus e a resposta do homem. Cristo unirá uma e
outra. Nele, os salmos nos ensinam continuamente a orar.
§2588 As expressões
multiformes da oração dos Salmos tomam forma tanto na liturgia do Templo como
no coração do homem. Quer se trate de um hino, de uma oração de aflição ou de
ação de graças, de uma súplica individual ou comunitária, de canto de aclamação
ao rei ou de um cântico de peregrinação, ou ainda de uma meditação sapiencial,
os Salmos são o espelho das maravilhas de Deus na história de seu povo e das
situações humanas vividas pelo salmista. Um Salmo pode refletir um
acontecimento do passado, mas é de uma sobriedade tão grande que pode ser
rezado na verdade pelos homens de qualquer condição e em qualquer tempo.
II – TEOLOGIA DOS SALMOS
Santo Agostinho na
sua obra, intitulada Comentário aos salmos, aprofunda-nos a beleza e
importância dos Salmos.Sem dúvidas os salmos têm sido e continuam sendo fonte
riquíssima de inspiração de um dos legados bíblicos mais fecundos para a
espiritualidade da civilização do Ocidente, a leitura e releitura dos livros
dos salmos e dos demais sapienciais tem dado aos leitores religiosos ou não, um
ensinamento ímpar por meio destes poemas que na tradição judaica e cristã tem sido
recitado em forma cânticos.O presente Comentário aos Salmos nasce num ambiente
litúrgico onde os salmos são lidos, cantados, apreciados, comentados e
meditados. Por essa razão, não se encontra no Comentário uma elaboração teológica
sistemática, mas sente-se nele a falta do pastor, o pregador popular e o
catequista. Comentando os salmos, Agostinho tem ocasião de tocar nas questões
teológicas, bíblicas, morais e espirituais do seu tempo.Agostinho solidifica a
tradição patrística, juntamente com Orígenes, Atanásio, Basílio, Ambrósio,
Eusébio de Cesaréia e Jerônio, pois interpreta minuciosamente cada versículo de
cada salmo com base na tradição. Se fala muito hoje em uma retomada de volta as
fontes, esse livro com certeza nos ajuda a compreender esse movimento e porque
não dizer esta didática agostiniana de interpretar e explicar os salmos com
base nas escrituras, sobretudo fazendo uma leitura cristológica do Antigo
Testamento com base no Novo Testamento, e também retomando os grandes pais da
Igreja em suas citações constantes durante os comentários, vários desses padres
da Igreja trabalharam e se dedicaram ao estudo dos salmos, porém nenhum deles
tão minuciosamente e belamente como Santo Agostinho.Em suma podemos afirmar que
nesta imensa obra do bispo de Hipona, os comentários sobre os Salmos nos
revelam Agostinho em oração e nos permitem participar do seu diálogo com o Deus
reencontrado. Nenhuma obra de Agostinho se aproxima tanto de suas Confissões,
nem prolonga melhor as confidências destas, sobre a sua vida mais secreta. Façamos
silêncio, para aprender a rezar rezando os Salmos. A cada salmo rezado e
meditado conseguimos enxergar o paralelo da espiritualidade agostiniana e
também no respeito em relação à tradição da Igreja.
O livro de Salmos é
conhecido como Saltério (nebel), lira ou harpa, uma composição de 150 textos
poéticos de lamentação, súplica, louvor, ação de graças, de tempos e lugares
diferentes. Essa coleção chama-se em hebraico, O Livro dos Salmos. Em
grego,Psalmos, isto é, “Poemas adaptados à música”. É o primeiro e mais
comprido dos livros do Hagiógrafo, a terceira divisão da Bíblia hebraica.O
livro de Salmos é um dos mais estimados e usados do Antigo Testamento e, ao
mesmo tempo, um dos mais problemáticos do cânon. Questões relativas à autoria,
composição, teologia, interpretação, aplicação e função contribuem para a
complexidade do livro. O fato de muitos cristãos, ao longo dos séculos, terem
encontrado consolo em suas páginas em tempos de necessidade, sem jamais
considerar estas questões, serve de testemunho do poder de Deus de ministrar
por meio dos livros das Escrituras.
Os primeiros salmos a
serem agrupados, e que mais tarde dariam origem ao Saltério, foram denominados
“Orações de Davi, filho de Jessé”. Outros foram compostos durante o exílio.
Contudo foi durante o reinado de Salomão e o exercício do serviço litúrgico e
religioso no primeiro Templo, que os salmos definitivamente passaram a fazer
parte da tradição judaica. Assim,
o livro dos Salmos é a compilação de várias coletâneas da fina obra literária
bíblico-canônica judaica (poemas, hinos e cânticos espirituais) e representa a
etapa final de um processo que demandou séculos de história. Foram os
mestres e servos pós-exílicos do Templo, entretanto, que completaram e
concluíram a coletânea final de 150 salmos, ao final do século III a.C.
Os salmos refletem
tanto o caráter histórico como devocional. Muitos acontecimentos da historia
são apresentados: a criação do homem (8.5), a aliança estabelecida com Abraão e
seus descendentes (105.9-11), o sacerdócio de Melquisedeque (110.4), Isaque,
Jacó, Moisés e Arão (105.9-45), a libertação do Egito e a herança Cananéia
(78.13; 105.44). Muitos outros exemplos poderiam ser citados.
DATAÇÃO DOS SALMOS
Ao questionarmos a
data da publicação dos salmos, uma primeira pergunta se faz necessária: de qual
salmo especificamente estamos falando? Porquanto o Saltério é composto de
salmos que vão desde a época pré-exílica, passando por todo o tempo de
cativeiro, até o pós-exílico. O processo de descobrimento, seleção e formação
da coletânea canônica dos salmos levou vários séculos, e foi concluído somente
no final do século III a.C.Considerando que metade de todo o Saltério é de
autoria de Davi (ou davídicos), e que quase todos foram originados no período
áureo de Israel e alguns até mais tarde, podemos datar as primeiras publicações
dos Salmos por volta do ano 1000 a.C.
AUTORES DOS SALMOS
Falamos de Salmos
como sendo de Davi. Ele é considerado o autor principal, dá a nota dominante, e
a sua voz se sobressai às outras no coro sagrado. Mas houve outros autores além
dele.De acordo com os títulos, Davi foi o autor de 73 salmos, Asafe foi autor
de 12, os filhos de Coré foram autores de 11, Salomão foi autor de 2, e Moisés
e Etã foram autores de 1 salmo cada. Nenhum autor é mencionado no caso de 50 dos
salmos. A Septuaginta adiciona Ageu e Zacarias como autores de 5 salmos.
1)- Salmos de Davi: 3
a 9, 11 a 32, 34 a 41, 51 a 65; 68 a 70, 86, 101, 108 a 110, 122, 124, 132,
133, 138 a 145.
2)- Salmos de
Salomão: 72 e 127.
3)- Salmos dos filhos
de Coré: 42, 44 a 49, 84, 85, 87 e 88. Os filhos de Coré formavam uma família
de sacerdotes e poetas no tempo de Davi.
4)- Salmos de Asafe:
50, 73 a 83. Asafe era um dos principais músicos de Davi. A família de Asafe era
encarregada da música de geração em geração.
5)- Salmo de Etã: 89.
6)- Salmo de Moisés:
90.
É provável que em
alguns casos, o nome atribuído ao autor de certos salmos possa referir-se
melhor ao compilador do que propriamente a um autor.
ORGANIZAÇÃO DOS SALMOS
Já sabemos que os
salmos 1 e 2 servem de introdução geral ao livro e que os salmos de ligação são
uteis para discernirmos o propósito do organizador. Que conclusões podem ser
tiradas deles quanto ao propósito e a mensagem do organizador?
O salmo 1 traça a
distinção nítida entre a conduta do justo e a do ímpio. Também fala de seus
respectivos destinos. Percebemos que o organizador apresenta com precisão um
dos temas principais dos salmos: o interesse pelo galardão dos justo e o
castigo dos ímpios.
O salmo 2 apresenta a
idéia de que Deus escolheu o rei israelita e o defendeu das conspirações dos
reinos. Apresenta-se aqui o aspecto
nacional em contraste com o aspecto individual.
Esse dois níveis de
mensagem (individual e nacional) unem-se em Davi. Ele representa o justo
necessitado de apoio divino. Também é o rei de Israel por excelência, que
representa não só Israel, mas também todos os reis sucessivos de sua linhagem.
Seu amor a Deus levou o Senhor a escolhê-lo como rei e estabelecer a aliança do
Reino com ele.
PROPÓSITO E MENSAGEM
Cada autor possuía um
propósito especifico para compor um salmo. Os comentários mais antigos sugerem
a situação histórica por trás de cada salmo, mas essa prática era altamente
especulativa e não produziu resultados satisfatórios. É provável que muitas
composições tenham sido feitas para suprir necessidades litúrgicas.Devemos
estar dispostos a considerar toda a gama de situações possíveis. Alguns salmos
foram motivados possivelmente por acontecimentos históricos específicos, por
exemplo, treze deles citam ocorrências históricas no título: 3, 7, 18, 34, 51,
52, 54, 56, 57, 59, 60, 63 e 142. A maioria são da autoria de Davi. Outros
devem ter sido escritos para ocasiões litúrgicas distintas. Mas alguns podem
ter sido meditações pessoais. A questão é que não há propósito unificado ou
mensagem identificada como uma linha de pensamento unificada nos salmos.
DIVISÕES E TÍTULOS DOS SALMOS
Na sua edição final,
o Saltério continha 150 salmos. Quanto a isso, a Septuaginta e o texto hebraico
concordam, embora cheguem a essa cifra de modo diferente. A Septuaginta tem um
salmo a mais no fim (mas não com a numeração separada, como Salmo 151); além
disso, une os salmos 9 e 10 num só salmo, e faz o mesmo com os salmos 114 e
115, dividindo os salmos 116 e 147 em dois salmos cada um. É estranho que tanto
a Septuaginta quanto o texto hebraico numerem os salmos 42 e 43 como dois
salmos, embora fique evidente que originariamente eram um só.
O Saltério era dividido em cinco livros (Salmos 1 a 41, 42 a 72, 73 a
89, 90 a 108, 109 a 150), cada um desses livros recebia uma doxologia final
apropriada. Os dois primeiros livros eram provavelmente pré-exílicos. A
despeito dessa divisão em cinco livros, o Saltério era claramente considerado
uma só obra global, com uma introdução (Salmos 1 e 2) e uma conclusão (Salmos
146 a 150):
1)- Os salmos do
primeiro livro são atribuídos a Davi, exceto o primeiro, o segundo, o décimo e
o 33º, que são chamados de órfãos por não se conhecerem o nome de seus autores.
Na Septuaginta, os salmos que compõem o primeiro livro são atribuídos a Davi,
exceto o primeiro, que serve de introdução, e o segundo. O décimo está
incorporado ao nono e o 33º traz o título, “A Davi”. O nome divino de Jeová
aparece geralmente nos salmos que compõem esse livro.
2)- O segundo livro
contém 31 salmos. Os primeiros oito fazem parte de uma coleção de cânticos
atribuídos aos filhos de Coré. O salmo 43, quer tenha sido escrito por eles,
quer não, foi composto para conclusão do salmo 42. Esse grupo é seguido de um
salmo de Asafe. Vem depois de um grupo de 20 salmos pertencentes a Davi, exceto
dois, o 66 e o 67; este último, porém, a Septuaginta o registra como sendo de
Davi. O livro fecha com um salmo anônimo e outro salomônico, 71 e 72. Nesse
livro predomina a palavraElohim para designar a pessoa divina, e dois salmos
são duplicados de outros dois do primeiro livro, nos quais a palavra Deus é
substituída pela de Jeová (52, 70, cf. 14 e 40.13-17).
3)- O terceiro livro
contém 17 salmos. Os primeiros 11 são atribuídos a Asafe, quatro aos filhos de
Coré, um a Davi e outro a Etã. Os salmos desse livro foram colecionados depois
da destruição de Jerusalém e do incêndio do templo (74.3,7,8; 79.1).
4)- O quarto livro
contém igualmente 17 salmos, o primeiro é atribuído a Moisés e dois a Davi; os
14 restantes pertencem a autores anônimos. A Septuaginta dá 11 a Davi, deixando
apenas cinco para autores anônimos, 92, 100, 102, 105 e 106.
5)- O quinto livro
contém 28 salmos anônimos, enquanto que 15 são atribuídos a Davi e um a Salomão.
As inscrições diferem muito na Septuaginta. A coleção dos salmos desse livro
foi feita tardiamente porque inclui odes que se referem ao exílio, 126 e 137.
Observa-se pois, que a composição dos salmos demandou grande período de tempo.
Dos 150 salmos, somente 34 não tem título. Esses chamados salmos
“órfãos” acham-se sobretudo do terceiro ao quinto livro, em que tendem em
ocorrer em grupos pequenos: salmos 91, 93 a 97, 99, 104 a 107, 111 a 119, 135 a
137 e 146 a 150. No primeiro e no segundo livro, somente os salmos 1, 2, 10,
33, 43 e 71 não tem título e, na realidade, os salmos 10 e 43 são continuações
dos anteriores.
TERMOS QUE EXPRIMEM O CARÁTER DO SALMO
1)- Masquil: poema
didático, ou refletivo.
2)- Mictão:
epigramático. Na literatura representa o gênero poético criado na Grécia e
popularizado em Roma, consistente em poesias curtas (alguns poucos versos ou
estrofes) de conteúdo concentrado e incisivo, de fácil memorização e agradável
leitura.
3)- Mizmor: poema
lírico.
4)- Selah (Pausa):
Esse é o termo técnico que mais aparece nos salmos. Aparece setenta e uma vez
em trinta e nove salmos e três vezes em Habacuque 3. Visto que é impossível
determinar se a colocação da palavra é original ou foi introduzida por editores
ou copistas, seu objetivo preciso permanece incerto. Dentre as sugestões para
seu significado está "pausa" ou "interlúdio", indicando um
intervalo no texto ou na execução musical do salmo. Também é possível que seja
uma deixa para o coral repetir uma afirmação, ou para um instrumento
específico, possivelmente um tambor, fosse tocado para marcar o ritmo ou
enfatizar uma palavra.
CLASSIFICAÇÃO DOS SALMOS
A classificação
detalhada dos salmos é de difícil definição, visto que são altamente poéticos,
e um salmo pode tocar em diferentes temas. Porém podemos sugerir diversas
categorias:
1)- Salmos
teocráticos: 95 a 100.
2)- Cânticos de degraus
ou de romarias: 120 a 134. Cantados provavelmente, pelos peregrinos subindo às
festas anuais de Jerusalém.
3)- Salmos de aleluia:
146 a 150.
4)- Salmos
acrósticos: 9,10, 25, 34, 37, 111, 112, 119 e 145. No hebraico a primeira letra
de cada linha, ou de cada estrofe, em ordem, segue a ordem do alfabeto
hebraico. No Salmo 119, cada estrofe tem 8 linhas e cada linha começa com a
mesma letra hebraica da sua estrofe. Esse salmo tem 176 versículos e em todos
esses versículos, a não ser em 3, menciona-se a palavra Deus. Referem-se a
Palavra de Deus como: Lei, Prescrições, Caminhos, Mandamentos, Preceitos,
Juízos, Decretos e Testemunhos.
5)- Salmos
messiânicos: os hinos da vinda do Messias: 2, 8, 16, 22, 45, 72, 89, 110, 118,
132 e outros.
6)- Salmos
penitenciais: 38,130, e 143.
7)- Salmos
imprecatórios: 69, 101, 137 e porções dos salmos 35, 55 e 58. Nesses salmos,
Davi pede a Deus, vingança contra seus inimigos e os inimigos de Deus.
8)- Salmos
históricos: 78,81, 105 e 106.
9)- Salmos de louvor:
Os hinos são facilmente reconhecidos pelo seu exuberante louvor ao Senhor. Deus
é louvado pelo que ele é e pelo seu poder e misericórdia. Salmos 8,24,29,33, 47
– 48.
10)- Lamentos: os
lamentos expressam uma emoção oposta àquela de louvor. No lamento, o salmista
abre seu coração honestamente a Deus, um coração muitas vezes cheio de
tristeza, medo ou mesmo ira. Salmos 25, 39, 51, 86, 102 e 120.
CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS
O Saltério é poesia
do começo ao fim, embora contenha muitas orações. Os salmos são apaixonados,
vívidos e concretos; são ricos em figuras de linguagem, como por exemplo as
símiles e metáforas. As assonâncias, as alterações e os jogos de palavras
também são abundantes no texto hebraico. O uso eficaz de repetições é
característico, bem como o acúmulo de sinônimos e complementos para preencher o
quadro. Palavras-chave muitas vezes ressaltam temas de maior importância nas
orações ou nos cânticos.
A poesia hebraica não
tem rimas, nem métrica regular. Sua característica mais diferenciada e comum é
o paralelismo.
O maior dos versos é composto de dois (às vezes três) segmentos equilibrados
entre si (muitas vezes, o equilíbrio não é rigoroso, e o segundo segmento é em
geral um pouco mais breve que o primeiro). O segundo segmento ecoa, contrapõe
ou complementa estruturalmente o primeiro. Esses três tipos são generalizações
e não são totalmente satisfatórios para classificar a rica variedade que a
criatividade dos poetas conseguiu realizar dentro da estrutura básica dos dois
versos. Podem servir, no entanto, de distinções genéricas que ajudarão o
leitor.
Saber onde os versos (ou segmentos do verso original) em hebraico
começam ou terminam é às vezes, questão incerta. Até mesmo a Septuaginta divide
os versos de maneira diferente dos textos hebraicos hoje existentes. Não é de
admirar, portanto que as traduções atuais às vezes divirjam entre si.
Assim como o Saltério
foi composto durante o período do Antigo Testamento, assim também a teologia
dos salmos é tão abrangente como a teologia do Antigo Testamento. Martinho
Lutero denominou o Livro dos Salmos de: “Uma Pequena Bíblia e o Restante do
Antigo Testamento”.Os leitores cristãos dos Salmos dão atenção especial à
relação entre estes cânticos antigos e Jesus Cristo. Após sua ressurreição,
Jesus falou a seus discípulos que “importava que se cumprisse tudo o que sobre
mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos” (Lc 24.44). O
Antigo Testamento, inclusive os Salmos, aguardavam a vinda de Cristo, o seu
sofrimento e a sua glória. Jesus e os escritores do Novo Testamento fazem
extenso uso dos Salmos para expressar seu sofrimento (Mt 27.46) e a sua glorificação
(Mt 22.41 – 46). Além disso, Jesus foi revelado como objeto de culto dos
Salmos. Uma vez que Cristo é a Segunda Pessoa da Trindade, os hinos e os
lamentos dos Salmos são dirigidos a ele, assim como ao Pai e ao Espírito. Jesus
é ao mesmo tempo, cantor dos Salmos (Hb 2.12) e o seu principal tema.
SALMO 22 E O CALVÁRIO
O Salmo 22 apresenta
o quadro do Calvário como nenhum outro. Aqui a crucificação é retratada com
mais clareza do que em qualquer outra passagem do Antigo Testamento. Começa com
o clamor do Senhor na hora mais negra da sua vida: “Deus meu, Deus meu, por que
me desamparaste?”. Termina com: “... foi ele quem o fez”. O original hebraico
significa: “Está consumado”, a última expressão de Cristo na cruz.No Versículo
6 deste salmo, está escrito: “Mas eu sou verme, e não homem; opróbrio dos
homens e desprezado do povo”, referindo-se à afronta da cruz.
Leia e compare estas passagens:
Salmos
22.1....................................... Mateus 27.46
Salmos
22.6-8.................................... Mateus 27.39,41,43
Salmos
22.12,13................................ Mateus 27.36,44
Salmos
22.8....................................... Mateus 15.23,24
“Como água me derramei, e todos os meus ossos se desconjuntaram; o meu
coração é como cera, derreteu-se no meio das minhas entranhas” (22.14). Isso
descreve transpiração excessiva por causa de tortura física. Refere-se também
ao coração partido de Jesus.
“A minha força se secou como um caco, e a língua se me pega ao paladar;
e me puseste no pó da morte” (22.15). Este versículo descreve uma sede intensa.
“Pois me rodearam cães; o ajuntamento de malfeitores me cercou,
traspassaram-me as mãos e os pés” (22.16). Crucificação, o método romano de
morte por crucificação é descrito aqui neste versículo. A lei judaica
desconhecia esse método de castigo. As palavras descrevem a morte por
crucificação. Ossos das mãos, dos braços, dos ombros, desconjuntados por ter
sido o corpo pregado na cruz, distendendo ossos e músculos.
“Repartem entre si as minhas vestes, e lançam sortes sobre a minha
roupa” (22.18). Até esse ato dos soldados é descrito neste salmo. Leia Mateus
27.35.
ESBOÇO DE SALMOS
Esse esboço se
fundamenta na teoria de que o propósito do organizador é o motivo da
organização dos salmos. Deve-se lembrar que esta abordagem ainda é
especulativa:
I. Livro I 1.1-41.13
Cânticos
introdutórios 1.1-2.12
Cânticos de Davi
3.1-41.12
Doxologia 41.13
II. Livro II 42.1-72.20
Cânticos dos filhos
de Corá 42.1-49.20
Cânticos de Asafe
50.1-23
Cânticos de Davi
51.1-71.24
Cânticos de Salomão
72.1-17
Doxologia 72.18,19
Versículo de
conclusão 72.20
III. Livro III 73.1-89.52
Cânticos de Asafe
73.1-83.18
Cânticos dos filhos
de Corá 84.1-85.13
Cânticos de Davi
86.1-17
Cânticos dos filhos
de Corá 87.1-88.18
Cânticos de Etã
89.1-51
Doxologia 89.52
IV. Livro IV 90.1-106.48
Cânticos de Moisés
90.1-17
Cânticos anônimos
91.1-92.15
Cânticos “O Senhor
Reina” 93.1-100.5
Cânticos de Davi
101.1-8; 103.1-22
Cânticos anônimos
102.1-28; 104.1-106.47
Doxologia 106.48
V. Livro V 107.1-150.6
Cânticos de ação de
graças 107.1-43
Cânticos de Davi
108.1-110.7
Hallel Egípcio
111.1-118.29
Cânticos Alfabético
sobre a lei 119.1-176
Cânticos dos degraus
120.1-134.3
Cânticos anônimos
135.1-137.9
Cânticos de Davi
138.1-145.21
Cânticos “Louvai ao
Senhor” 146.1-149.9
Doxologia 150.1-6
O livro de Salmos,
segundo os estudiosos, pode seguir o mesmo conceito aplicado no livro dos Reis,
isto é, alguém coleta e organiza materiais de diversas fontes de acordo com um
propósito teológico, desta forma a mensagem geral do livro transcende a mensagem
particular de cada Salmo.Estudos comprovam que o livro de Salmos não foi
completado de uma vez, pois suas partes I a III, encontradas nos manuscritos do
Mar Morto (cerca de 150 a.C.), estão dispostas na mesma ordem que conhecemos
hoje. Entretanto, os livros IV e V estão dispostos em outra ordem, o que pode
significar que os livros I a III já estavam com sua ordem definida no fim do
século II a.C., enquanto que os livros IV e V ainda estavam em processo de
organização, concluído plenamente pouco antes do período de Cristo. Portanto,
ao longo de quase mil anos, vários escritores compuseram suas poesias que foram
organizadas em pequenas coleções em diferentes períodos da história com um
propósito teológico.Com relação à forma os Salmos podem ser classificados em:
louvor, lamento e sabedoria. Cada Salmo possui uma única forma, exceto o Salmo
22, onde os versos 1 a 21 são de lamento e os versos 22 a 31 são de louvor.
Os Salmos não eram
exclusivos do povo hebreu, pois os povos mesopotâmicos também se utilizavam
deste recurso literário para expressar suas emoções à divindade. A semelhança
dos Salmos hebraicos com os mesopotâmicos se encontra na forma dos Salmos: o
louvor e o lamento. Contudo existem diferenças consideráveis entre os Salmos
hebraicos e mesopotâmicos, e uma delas é a abordagem do adorador mesopotâmico. Os
Salmos de lamento mesopotâmicos tem a intenção de manipular a divindade, e para
isto recorre a rituais de magia, pois entende que é culpado em todas as
situações, mesmo que não saiba a razão. Como entende que a divindade
mesopotâmica não seja justa e coerente o adorador apenas se propõe a aplacar a
ira divina.O adorador hebreu pressupõe sua inocência e não tenta
manipular a Deus com rituais de magia e encantamentos. Quando os Salmos indicam
claramente a culpa do autor, como é o caso do Salmo 51, a ofensa a Deus é
sempre de caráter ético, enquanto o lamento mesopotâmico é relativo ao
sacrifício impróprio no culto.
O livro de Salmos
segue o padrão interpretativo da história narrada no livro de Reis e Crônicas,
e sua organização não foi feita levando-se em consideração as circunstâncias na
data de composição, mas de acordo com o propósito teológico da coleção. Por
exemplo, os salmos 138 a 145 são davídicos, porém estão organizados na divisão
pós-exílica do Livro dos Salmos.
Ainda outros Salmos estão dispostos de forma a atingir o
objetivo teológico do organizador, tais como:
• 45 – Hino da coroação de Davi
• 48 – Relação com a conquista de
Jerusalém por Davi
• 51 – Arrependimento de Davi
• 78 – Reflexão sobre a queda do Reino do
Norte
• 90 – Salmo de Moisés no início da
divisão exílica
• 103 – Debate sobre o perdão de Deus dos
pecados da Nação
• 110 – Soberania divina com ênfase
escatológica
• 119 – Relação com a Lei como ênfase no
período pós-exílico
Outro exemplo da
organização de acordo com o objetivo teológico é a coleção Aleluia (Salmos 111
a 117) que segue o Salmo 110 com os temas da fidelidade e governo divinos. A
coleção Cântico dos Degraus (Salmos 120 a 134) remete à peregrinação de todo
hebreu a Jerusalém. Esta coleção faz parte da seção do exílio no livro de
Salmos, portanto os leitores refletiriam sobre o retorno a Jerusalém após o
cativeiro babilônico.A primeira sentença é confirmada em todo o livro dos
Salmos, porém a exceção à esta regra também é ensinada. A segunda sentença,
embora não receba apoio bíblico, era senso comum entre os israelitas, pois
entendia-se que, se Deus é justo como pode um justo sofrer ou um ímpio
prosperar? Esta era uma questão muito delicada para o israelita no Antigo
Testamento, pois não havia o conceito escatológico da esperança do céu.Nos
salmos de lamento o autor se queixa da prosperidade dos ímpios e pede que Deus
humilhe seus inimigos. Embora o salmista não se considere plenamente justo, ele
se considera mais justo do que aquele que não temia a Javé. Por isso existem
muitos salmos chamados imprecatórios (3, 28, 58, 109, 137). Nestes salmos vemos
como o autor entendia o modo de Deus agir, pois, para que a justiça de Deus se
confirmasse, o ímpio deveria ser castigado. Posto de outra forma, o pedido de
castigo para o ímpio era a forma do salmista declarar o pecado daqueles que não
andavam conforme a lei de Javé.
O livro de Salmos mostra que os justos podem esperar uma retribuição de
Deus por sua justiça,(TEOLOGIA DA RETIBUIÇÃO aprofundada e encerrada em Jó). A
vida nem sempre é simples e nem dar-se em uma relação cartesiana de causa e
efeito,e a Bíblia não apresenta uma regra de justiça que sempre funciona em
todos os casos.
Reinado
Nove salmos mencionam
especificamente o rei: 2, 18, 21, 45, 72, 89, 110, 132, 144. Destes nove,
quatro falam sobre Davi. Estes salmos são frequentemente considerados
messiânicos, isto é, sinalizam o reino eterno de um rei ideal da linhagem
davídica. Porém, estes salmos também podem se aplicar a qualquer rei, pois
citam o livramento, vitória e bênção para o rei que confia em Deus e segue os
padrões estabelecidos pela aliança. Este padrão foi verificado nos reis da
dinastia davídica que confiaram no Senhor, conforme relatado no livro dos Reis.
O Messias, em comparação com estes reis, seria perfeitamente justo e
desfrutaria de todas as bênçãos de Deus no seu reinado.
Criação
O povo hebreu era
basicamente agrícola, e por isso dependia muito das condições climáticas para
assegurar sua produção de alimentos. As bênçãos e maldições de Javé estavam
ligadas à terra, que fazia parte da aliança. Os deuses dos povos pagãos estavam
ligados ao clima e era necessário que o Deus dos hebreus estivesse fora desta
regra teológica. Javé não estava preso às forças da natureza, por isso, nos salmos que
tratam sobre a criação (8, 19, 29, 65, 104) Deus sustenta toda a criação (104),
que revela a glória de Deus (19). As forças da natureza são
instrumentos de Deus (29, 65) e por isso ele é glorificado acima da natureza,
algo não possível nos sistemas religiosos dos antigos povos pagãos.
III – OS SALMOS NA LITURGIA DA IGREJA CATÓLICA
A Liturgia da Palavra
é diálogo amoroso entre Deus e seu povo reunido para celebrar.Palavra, canto,
silêncio, gestos constituem as ações simbólicas do rito que tem a proclamação
do evangelho como ponto alto. Você, certamente já sabe que a 1ª leitura é um
texto do Antigo Testamento e sempre escolhido em função do evangelho do dia. O
salmo que vem a seguir, é escolhido como um eco da 1ª leitura. Trechos
significativos das cartas do N.T. são oferecidos na 2ª leitura. O canto de
aclamação, em geral tem um verso baseado no evangelho do dia. A seguir se dá a
partilha da Palavra - a homilia, seguida da profissão de fé e das preces da
comunidade.
Os Salmos são "parte
integrante da liturgia da palavra", não são opcionais, mas essenciais.O
livro dos 150 Salmos, um dos mais citados no Novo Testamento está no centro da
Bíblia. É a síntese em poesia da experiência de Deus feita pelo povo de Israel
no decorrer de sua história. Recebeu o nome de salmo porque era acompanhado do
saltério, um instrumento musical. O próprio Cristo, Maria e as primeiras
comunidades encontraram nos salmos sua maneira de rezar e celebrar. É um dos cantos
mais antigos da celebração cristã, herdado das sinagogas judaicas e interpretado
à luz de Jesus Cristo.Dentro do rito da Palavra o salmo é a fala de Deus
cantada, tem o mesmo peso dos outros textos bíblicos, por isso deve ser feito
sempre na mesa da Palavra e não deve ser substituído por um canto qualquer.Trata-se
de Salmo Responsorial: um salmo e não qualquer canto e responsorial (de
resposta) alternado entre o salmista e o povo. Sua finalidade é prolongar,
interiorizando a mensagem da 1ª leitura - uma resposta cantada que a comunidade
dá a Deus com a própria Palavra dele.Assim, o canto do Salmo se torna
um momento importante da liturgia da Palavra, que nos faz entrar em comunhão,
diálogo entre Deus que fala pela voz do salmista e o povo que escuta e
responde, cantando o refrão ou repetindo algum verso do salmo.
O ministério de
salmista é distinto do ministério de leitor. Sua função é de conduzir uma
oração cantada. Com sua voz dá vida ao salmo, comunicando e expressando os
sentimentos presentes no texto, ajudando a comunidade entrar na dinâmica
amorosa da salmodia, como Palavra e como resposta à Palavra ao mesmo tempo.
O Salmo Responsorial
Dando seqüência às
nossas sessões de compreensão do Próprio da Santa Missa, chegamos agora ao seu
segundo item: o Salmo Responsorial. Se o primeiro item que vimos, o Introito, é
desconhecido de muitos, o mesmo não pode ser dito do Salmo Responsorial que,
bem ou mal, parece ser feito na maioria das igrejas.O adjetivo responsorial
deriva da palavra responsório, por sua vez ligada à palavra resposta. Esta
“resposta”, entretanto, não é resposta à leitura bíblica que precede o Salmo
Responsorial, e sim o refrão. A maioria dos fiéis sabe que o Salmo Responsorial
possui um refrão que, geralmente, é cantado ou recitado pela assembleia.
Os salmos, em seu texto original, não trazem refrão; porém, na Liturgia
um refrão é introduzido, selecionado entre os versículos do próprio salmo.
Serve para sublinhar, por assim dizer, o caráter e o espírito daquele salmo específico.
Nos Domingos e
solenidades sabemos que, além do Evangelho, são feitas duas leituras. O Salmo
Responsorial, nestes casos, posiciona-se entre elas. Nos outros dias
litúrgicos, além do Evangelho é feita somente uma leitura; quando é assim, o
Salmo Responsorial posiciona-se depois dessa leitura única.Assim, estamos
habituados, nas Missas dominicais, a ter o Salmo Responsorial intercalado;
quando ele termina, ainda temos a segunda leitura antes de ficarmos em pé para
o Evangelho. Nos dias de semana, porém, terminado o Salmo Responsorial, já nos
levantamos para o Evangelho – ou melhor: para o terceiro item do Próprio,
comumente chamada “aclamação ao Evangelho”.
No Brasil os textos
usados para o Salmo Responsorial, impressos no Lecionário, são metrificados. É
muito importante que o caro leitor compreenda o que significa isto. A
quantidade de sílabas é medida, assim como os seus acentos. Isto não acontece
num texto como, digamos, as Cartas de São Paulo, ou uma notícia de jornal, ou
este artigo. Estas quantidades medidas são características da poesia.
Em sua infância o leitor certamente aprendeu estes
versos:
Batatinha quando nasce / se
esparrama pelo chão
Mesmo que tenha sido
na versão espalha a rama pelo chão. Intuitivamente, o leitor aprendeu que esses
versos não podem ser proferidos de qualquer jeito. É necessário fazer a correta
acentuação; não só a correta acentuação de cada palavra, mas a correta
acentuação de um verso inteiro. Portanto, posso apostar em que o leitor
pronuncia com ênfase as sílabas que coloco em destaque:
Batatinha quando
nasce / se esparrama pelo
chão
Qualquer outra
acentuação fica antinatural. Os acentos e as quantidades são um aspecto musical
da poesia – pois bem; falei do acento, mas ainda não da quantidade. Então
repare o leitor que os acentos caem precisamente na terceira e na sétima
sílabas de cada verso.
Mas que tem isso a
ver com o Salmo Responsorial? Tudo !!!! pois usamos uma versão metrificada do
Saltério (o livro dos Salmos), impressa, a propósito, com o nome de Saltério
Litúrgico, pelas Edições Lumen Christi. É a tradução oficial da CNBB. Ainda que
o Salmo Responsorial seja só recitado, na Missa (e não cantado), este
conhecimento é importante para proferi-lo com beleza.
Para mostrar um
exemplo ao leitor, tomo o Salmo 1. Seu primeiro versículo é assim traduzido
pela Bíblia Ave Maria:
Feliz o homem que não procede conforme o conselho dos ímpios, não trilha
o caminho dos pecadores, nem se assenta entre os escarnecedores.
Não é um texto
metrificado. Nem precisa ser, isto é importante lembrar. Na Liturgia, a
princípio, também não existe esta obrigatoriedade. Entretanto, em alguns países
existe este hábito de metrificar os salmos, e este hábito não é novo. É uma
escolha tão legítima quanto não metrificar.
O Saltério Litúrgico,
cujas traduções metrificadas são as utilizadas pelo Lecionário, traduz assim o
primeiro versículo do Salmo 1:
Feliz é todo aquele que não anda
Conforme os conselhos dos perversos
Que não entra no caminho dos malvados
Nem junto aos zombadores vai sentar-se.
Quando o Salmo 1 é o
Salmo Responsorial da Missa, é isto mesmo que vemos. Cada verso tem dez sílabas
poéticas, com acentos na segunda, na sexta e na décima sílabas (o terceiro
verso tem onze sílabas, basta considerá-lo como verso de dez sílabas com uma
sílaba extra no início).
O mesmo que
transcrevi acima escrevo de novo, marcando as sílabas fortes, acentuadas, de
cada verso.
Feliz é todo aquele que não anda
Conforme os conselhos dos perversos
Que não entra no caminho dos malvados
Nem junto aos zombadores vai sentar-se.
Os livros litúrgicos
costumam imprimir os Salmos com as sílabas fortes de cada verso em negrito. No
meu exemplo também sublinhei, para chamar mais atenção.
É comum que me
perguntem por que nos livros da Liturgia das Horas existem essas sílabas
impressas em negrito. É justamente por isso. Posicionar corretamente os acentos
na recitação do salmo é fundamental para uma realização bela da Liturgia.
Outra pergunta comum
a respeito destes salmos metrificados faz menção a alguns símbolos que costumam
ser usados nelas. Um deles é o asterisco, que aparece no fim de alguns versos.
Feliz é todo aquele
que não anda *
Conforme os conselhos
dos perversos
Que não entra no
caminho dos malvados *
Nem junto aos
zombadores vai sentar-se.
Neste tipo de
tradução os versos dos salmos são agrupados de dois em dois e, às vezes, de
três em três. O asterisco indica o final do primeiro verso de um grupo de dois
versos; no exemplo acima, são dois grupos de dois versos.
Quando aparece um
grupo de três versos, o asterisco indica o final do segundo, e uma cruz indica
o final do primeiro. No Salmo 58, os versículos 3 e 4 são traduzidos como uma
estrofe de cinco versos: um grupo de dois e um grupo de três:
Eis que ficam
espreitando a minha vida, *
Poderosos armam
tramas contra mim.
Mas eu, Senhor, não
cometi pecado ou crime; †
Eles investem contra
mim sem eu ter culpa: *
Despertai e vindo
logo ao meu encontro!
Esses símbolos ajudam o salmista a cantar o salmo segundo
as fórmulas gregorianas. Ao ver o asterisco, ele sabe que cantará a terminação de
um grupo de dois versos; ao ver a cruz, ele sabe que cantará a terminação do
primeiro verso de um grupo de três versos.
As “fórmulas gregorianas” a que me refiro são também chamadas de tons
salmódicos; são “clichês” melódicos (sem conotação negativa da palavra
“clichê”) utilizados, por exemplo, para cantar versos adicionais do Introito e
de outras partes do Próprio da Missa. Na Liturgia das Horas, pode-se usar uma
dessas fórmulas para todo um salmo; elas são também apropriadas para o Salmo Responsorial
da Missa, tanto para o refrão como para os versos. Não são, entretanto, a única
possibilidade.
Pode-se perfeitamente
compor música para o Salmo Responsorial. O mais comum é que se utilize uma
melodia para o refrão e, para os versos, algum tipo de fórmula gregoriana ou
parecida com as fórmulas gregorianas. Em alguns lugares existe a prática de a
assembleia cantar o refrão e o salmista ler os versos. Pessoalmente, não gosto,
mas a IGMR parece aprovar: (...)De preferência, o salmo responsorial será cantado,
ao menos no que se refere ao refrão do povo. (...) (IGMR, 61). De qualquer
modo, a IGMR fala em “preferência”, o que indica um ideal, mas não uma
obrigação.
Fica claro, pela
instrução do Missal, que o refrão cabe à assembleia. Ao mesmo tempo, a natureza
do Salmo Responsorial permite concluir que a música composta para esse mesmo
refrão deve ser relativamente simples. Com “relativamente” tento dizer que
precisa ser compreensível para os fiéis, de modo que possam repeti-lo
imediatamente. É costume que o Salmo Responsorial comece com o refrão cantado pelo
cantor sozinho, após o que os fiéis o repetem. Parece-me ideal que este refrão
não precise ser “ensaiado” antes da Missa, mas devo enfatizar que isto se trata
de uma opinião pessoal. Uma assembleia que tenha noções de escrita
musical pode aprender um refrão menos óbvio com mais rapidez, situação que
acontece em alguns países. Porém, mesmo sem este conhecimento, há inúmeras
fórmulas e melodias simples que dispensam ensaios com os fiéis.
Com base em situações
que já presenciei, eu gostaria também de dizer que me parece ideal que o
salmista, ao proceder ao canto ou à leitura do Salmo Responsorial, limite-se a
este encargo. São péssimas quaisquer outras falas como “vamos cantar o Salmo”, ou
“nossa resposta ao salmo é...”, ou “todos deverão repetir...” etc.
No mais, convém
observar o nº102 da IGMR: Compete ao salmista proclamar o salmo ou outro
cântico bíblico colocado entre as leituras. Para bem exercer a sua função é
necessário que o salmista saiba salmodiar e tenha boa pronúncia e dicção.
“Saber salmodiar” inclui conhecer (mesmo que intuitivamente, em certos casos)
as questões métricas de que falei anteriormente e, no caso do canto, conhecer
as fórmulas gregorianas e, sendo possível outras fórmulas e melodias.
Por que o nº102 da
IGMR fala em “salmo ou outro cântico bíblico”? Em alguns casos, o Salmo
Responsorial toma seu texto não dos salmos, mas de algum cântico como o
Magnificat (do Evangelho segundo São Lucas), de um dos vários cânticos do Livro
do Profeta Isaías etc. E aqui falo da Missa: na Liturgia das Horas são usados
muitos cânticos bíblicos que não são salmos, e sua tradução também aparece no
Saltério Litúrgico, sendo em número de setenta e cinco!
BIBLIOGRAFIA:
SANTO AGOSTINHO DE HIPONA, Comentário aos salmos, Paulus,
São Paulo - SP, 2008.
http://www.salvemaliturgia.com/2010/02/musica-liturgica-o-salmo-responsorial.html
http://catecismo-az.tripod.com/conteudo/a-z/s/salmos.html
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Encontrei este blog num momento muito oportuno. Atualíssimo e fidelíssimo a Tradição da Igreja. Deus seja louvado!
Fiquei maravilhada com a clareza expressa nessa matéria sobre os Salmos.Estava em busca de material para organizar um encontro de formação para o ministério de leitores da minha Paróquia e, me deparei com essa página do berakash.blogspot.com. Era exatamente o estava faltando para fundamentar o material da formação. A forma como este artigo aborda o tema, dividindo-o sistematicamente em três momentos distintos: I- O MAGISTÉRIO DA IGREJA E OS SALMOS,II – TEOLOGIA DOS SALMOS e III – OS SALMOS NA LITURGIA DA IGREJA CATÓLICA, sem sobra de dúvidas vai contribuir em grande escala para o meu trabalho. Uma vez que já iniciei o material sob a ótica de Luís I. J. STADELMANN, SJ através da sua obra: Os Salmos da Bíblia. ed. Paulinas e Edições Loyola. Estou feliz pela descoberta Parabéns pelo maravilhoso texto e muito obrigada.
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