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A verdadeira “ecologia integral” na Laudato Si do Papa Francisco

Written By Beraká - o blog da família on terça-feira, 3 de novembro de 2015 | 11:10





A noção do progresso verdadeiro na Laudato Si



A encíclica do papa Francisco coloca a questão do progresso na perspectiva da "ecologia integral": A recente encíclica do papa Francisco, Laudato Si’, é uma valiosa oportunidade para refletirmos sobre a busca de "outras maneiras de entender a economia e o progresso", uma das questões que "nunca se encerram nem se abandonam, mas se retomam e enriquecem constantemente" (nº 16).










O texto enfatiza o aumento da consciência que elimina a "confiança irracional no progresso" (nº 19), ressaltando que o crescimento econômico e o progresso tecnológico dos últimos dois séculos não significaram "um verdadeiro progresso integral e uma melhor qualidade de vida", mas levaram também a uma "verdadeira degradação social", a uma "ruptura silenciosa dos laços de integração e de comunhão social" (nº 46).A encíclica põe a questão do progresso na perspectiva de uma "ecologia integral", em que múltiplas dimensões se articulam num horizonte antropológico complexo: "a ecologia integral exige abertura a categorias que transcendem a linguagem das ciências exatas e biológicas e se conectam com a essência do homem" (nº 11).









Nessa ecologia "integral", a própria natureza aparece como um todo complexo e integrado que deve ser conhecido de modo complexo e integrado, evitando não só o relativismo descompromissado como também o reducionismo orgulhoso. Nenhuma ciência pode fornecer sozinha um conhecimento verdadeiro: "uma ciência que pretenda oferecer soluções para os grandes temas deve necessariamente levar em conta tudo o que o conhecimento produziu nas outras áreas do saber, incluindo a filosofia e a ética social” (nº 112). Esta visão complexa evita as posições extremas tanto da exaltação acrítica do progresso quanto da igualmente acrítica condenação de toda ação humana sobre o mundo: "Num extremo, alguns sustentam a todo custo o mito do progresso e afirmam que os problemas ecológicos serão resolvidos simplesmente com novas aplicações técnicas, sem considerações de ordem ética nem mudanças de fundo (Válido tanto para economias Capitalistas como Comunistas). No outro extremo, alguns sustentam que a espécie humana, com qualquer intervenção que faz, é uma ameaça ao ecossistema global, devendo-se por isto reduzir a sua presença no planeta e impedir todo tipo de intervenção. Entre esses dois extremos, a reflexão deve identificar possíveis cenários futuros, porque não há só uma via de solução. Isto abriria espaço para uma variedade de contribuições que poderiam entrar em diálogo na busca de respostas integrais" (nº 60).Uma posição equilibrada deriva da "desmistificação da natureza", proposta pelo pensamento judaico-cristão: "Se reconhecemos o valor e a fragilidade da natureza e, ao mesmo tempo, as capacidades que o Criador nos deu, isso nos permite pôr fim ao mito moderno do progresso material ilimitado. Um mundo frágil, com um ser humano a quem Deus confia o seu cuidado, desafia a nossa inteligência para reconhecermos como orientar, cultivar e limitar o nosso poder" (nº 78).








A fé ilimitada no progresso é típica do homem moderno, incapaz de combinar o poder e a consciência dos limites; citando repetidamente “O fim da era moderna”, de Romano Guardini, o papa Francisco escreve:
"Tende-se a crer que ‘toda conquista de poder é simplesmente progresso, aumento de segurança, de utilidade, de bem-estar, de vitalidade, de plenitude de valores’, como se a realidade, o bem e a verdade surgissem espontaneamente do próprio poder da tecnologia e da economia (Capitalista, ou Comunista). O fato é que ‘o homem moderno não foi educado para o uso adequado do poder’, porque o imenso crescimento tecnológico não foi acompanhado pelo desenvolvimento do ser humano no que diz respeito à responsabilidade, aos valores e à consciência. Em especial, "a sua liberdade adoece quando se rende às forças cegas do inconsciente, das necessidades imediatas, do egoísmo, da violência brutal. Neste sentido, o homem está nu e exposto diante do seu próprio poder que continua a crescer, mas sem ter as ferramentas para controlá-lo. Falta-lhe uma ética adequadamente sólida, uma cultura e uma espiritualidade que realmente lhe deem um limite e o contenham dentro de um lúcido autodomínio" (nº 105).











A mentira de que o progresso econômico carregue automaticamente a felicidade é cada vez mais clara: o progresso da ciência e da tecnologia não é equivalente ao progresso da humanidade e da história; são outras as estradas para um futuro feliz, mas é difícil parar para recuperar a profundidade da vida (cf. nº 113). A encíclica, no entanto, convida a "não nos resignarmos e não desistir de nos fazer perguntas sobre os propósitos e o sentido de cada coisa. Do contrário, só legitimaremos o status quo e precisaremos de mais substitutos para suportar o vazio" (nº 113).











É necessária uma "revolução cultural corajosa" (nº 114): "Ninguém quer voltar às cavernas, mas é essencial diminuir a marcha para olhar a realidade de maneira diferente, observar os desenvolvimentos positivos e sustentáveis e recuperar os valores e os grandes propósitos destruídos por um desenfreio megalomaníaco" (nº 114).
O homem e seu trabalho devem ser o ponto de vista dessa perspectiva mais ampla: é necessário "investir nas pessoas" (nº 128).




Precisamos, assim, de "novos modelos de progresso" (nº 194) que não sejam simplesmente “diplomáticas terceiras vias”:





"Não é suficiente conciliar o cuidado da natureza com a renda financeira, ou a preservação do ambiente com o progresso. É preciso redefinir o progresso. Um desenvolvimento tecnológico e econômico que não deixa um mundo melhor e uma qualidade de vida integralmente superior não pode ser considerado progresso" (nº 194). Para esta "redefinição" do progresso, é fundamental a educação (nº 209), uma "educação ambiental" ampla e integral, que inclui também "uma crítica aos mitos da modernidade baseados na razão instrumental (o individualismo, o progresso indefinido, a competição, o consumismo, o mercado sem regras)" (nº 210). O verdadeiro progresso é esperado de todos "os diferentes níveis de equilíbrio ecológico: o interior, o solidário aos outros, o natural com todos os seres vivos, o espiritual com Deus" (nº 210).Nesse caminho cultural e educativo para uma verdadeira noção de progresso, é essencial também a busca da beleza:"A libertação do paradigma tecnocrático vigente acontece em algumas ocasiões [...] quando a busca criativa da beleza e a sua contemplação são capazes de superar o poder objetivamente em um tipo de salvação que se realiza no belo e na pessoa que o contempla" (nº 112).










RESUMO DA ENCÍCLICA:



A nova encíclica do Papa Francisco, intitulada "Laudato si', sobre o cuidado da casa comum”, e que lida com questões relacionadas à ecologia e ao pleno desenvolvimento do gênero humano. Olhando as suas 187 páginas, o texto tem uma introdução, seis capítulos e duas orações finais.No documento, o Santo Padre propõe uma ecologia integral, que incorpore claramente as dimensões humanas e sociais, inseparavelmente vinculadas com a situação ambiental. Nesta perspectiva, o Pontífice convida a empreender um diálogo honesto em todos os níveis da vida social, facilitando processos de tomada de decisão transparentes. E lembra que nenhum projeto pode ser eficaz se não for animado por uma consciência formada e responsável, sugerindo princípios para crescer nesse sentido a nível educacional, espiritual, eclesial, político e teológico:



1)- No início da encíclica, o Papa recorda o "Cântico das Criaturas" de São Francisco de Assis para fazer uma chamada urgente para um novo diálogo sobre como se está construindo o futuro do planeta. Necessita-se de talentos e do envolvimento de todos – afirma – para reparar os danos causados ​​pelo abuso humano na criação de Deus.



2)- No primeiro capítulo, dedicado ao "O que está acontecendo à nossa casa", o Santo Padre aborda a poluição e as alterações climáticas; a questão da água; a perda da biodiversidade; a deterioração da qualidade de vida humana e a degradação social; desigualdade planetária; as reações fracas; e a diversidade de opiniões que existem sobre estas questões.









3)- No segundo capítulo, intitulado "O Evangelho da criação", o Papa refere-se à luz que oferece a fé; a sabedoria das histórias bíblicas; o mistério do universo; a mensagem de cada criatura na harmonia de toda a criação; uma comunhão universal; o destino comum dos bens; e o olhar de Jesus.



4)- No terceiro capítulo, que trata da "Raiz humana da crise ecológica", Francisco fala sobre a tecnologia: criatividade e poder; a globalização do paradigma tecnocrático; a crise e consequências do antropocentrismo moderno.



5)- No quarto capítulo, que trata de "uma ecologia integral", o Papa reflete sobre a ecologia ambiental, económico e social; ecologia cultural; a ecologia da vida cotidiana; o princípio do bem comum; e a justiça entre as gerações.




6)- No quinto capítulo, intitulado "Algumas linhas de orientação e ação", o Santo Padre propõe o diálogo sobre o meio ambiente na política internacional; o diálogo para novas políticas nacionais e locais; o diálogo e a transparência nas tomadas de decisões; a política e economia em diálogo para a plenitude humana; e as religiões no diálogo com as ciências.




7)- No sexto capítulo, dedicado à "Educação e espiritualidade ecológica", o Pontífice convida a apostar em um outro estilo de vida; por uma educação para a aliança entre a humanidade e o meio ambiente; e por uma conversão ecológica. Outros temas são: a alegria e a paz, o amor civil e político, os sinais sacramentais e os descanso da celebração, a Trindade e a relação entre as criaturas, a Rainha de toda a criação.





O documento aborda a questão ambiental a partir de uma abordagem pastoral, tendo em conta diferentes aspectos(Por isto integral e não meramente “verde”)! 




Nessa linha, alguns de seus temas são: a estreita relação entre os pobres e a fragilidade do planeta; a convicção de que no mundo tudo está conectado; a crítica ao novo paradigma e às formas de poder que surgem a partir da tecnologia; o convite a procurar outras formas de compreensão da economia e do progresso; o valor real de cada criatura; o sentido humano da ecologia; a necessidade de debates abertos e honestos; a grave responsabilidade da política internacional e local; a cultura do descarte e a proposta de um novo estilo de vida. O Papa Francisco também proclama que a destruição da natureza é um pecado mortal moderno, não sem consequências graves. Porque Deus perdoa sempre, os homens às vezes, mas a terra não perdoa nunca. Ainda assim, salienta que nem tudo está perdido, porque os seres humanos, capazes de degradar-se até o extremo, podem também superar-se, voltar a eleger o bem e regenerar-se.Na verdade, o texto é um compêndio extraordinário da doutrina social da Igreja sobre os grandes desafios sócio-culturais, político-econômicos e religioso-antropológicos que a humanidade enfrenta hoje e no futuro.








Precedida de uma sabotagem informativa e seguido de polêmica – especialmente em certos setores dos Estados Unidos, ligados às indústrias do petróleo e carvão. O texto oficial da encíclica Laudato si, é o primeiro grande documento ecológico da História da Igreja.Daí a expectativa internacional que despertou, acrescida pelo fato de ser dirigida ao "crentes e não-crentes". Isso não significa que a Igreja Católica deixe de contribuir com o seu próprio ponto de vista, com base teológico, mas com fundamento sociológico e científico palpáveis, embora sem pretensão de intervir nos debates políticos.A primeira coisa que faço quando leio um trabalho de certa importância é mergulhar nas suas Notas, então vou ao texto. Esta encíclica me surpreendeu pela quantidade de notas de declarações e documentos emitidos por Conferências Episcopais e outras entidades eclesiais de todo o mundo (Bolívia, Canadá, Argentina, Estados Unidos, Japão, Aparecida, etc.) sobre a questão ecológica. O que mostra a seriedade com que a própria Igreja Católica, a partir de vários ângulos, vem mostrando sobre o tema. Portanto, não é de se estranhar que o texto qualifique como “um bem para a humanidade” a sincera exposição dos desafios ecológicos derivados das convicções religiosas. Com isso, Francisco abre uma nova frente no magistério da Igreja: a ecológica, assim como Leão XIII redescobriu o aspecto do magistério social.No entanto, em um tema com tantas implicações científicas e sociológicas a prudência de Francisco leva-o a afirmar que não é a sua intenção “propor uma palavra definitiva”. Em várias questões concretas quer limitar-se a “promover um debate honesto”, respeitando “a diversidade dos pontos de vista”. Mas sem esquecer dois fatos que considera evidentes: a "rápida deterioração" dessa "casa comum", que é a Terra, e "a debilidade das reações no cenário da política internacional”, provavelmente pressionada pela aliança entre economia e tecnologia, e condicionada por interesses particulares e econômicos, em verdadeira luta com o bem comum.






Alguns acusaram a primeira parte da encíclica ("O que está acontecendo com a nossa casa") de "eco-catastrófica":





Mas quem a lê sem preconceito compreende que se trata do desejo de conectar – buscando soluções positivas – os abusos ecológicos com repercussões sobre os países mais pobres. A tentativa de criar uma cultura ambiental baseada não no catastrofismo milenar, mas no pragmatismo. Não sobre uma visão politizada dos problemas ambientais, mas na adoção de linhas de ação positivas.Neste sentido, convém destacar o estímulo que a encíclica traz às "boas práticas" baseadas em "um modelo circular de produção que garanta recursos para todos e para as gerações futuras, e que requer maximizar a eficiência, a reutilização e a reciclagem". O que leva a uma terceira revolução industrial, em momentos de “crepúsculo do velho capitalismo agressivo", como destaca Jeremy Rifkin.Claro que, perante a encíclica, ficará inquieto aquele setor econômico e político fortemente dependente dos combustíveis fósseis. Mas, ele mesmo é que deveria encaminhar-se, aos poucos, para as novas fontes de energias renováveis, como parece inevitável.




Ecologia light?





A moderação de abordagem não significa que Francisco se sirva, em seu discurso, de um ecologismo light, de um “verniz ecológico” sem carne e sangue teológicos. Retornando ao “cultivar e proteger a Terra” (Gen 2, 15) do mandamento bíblico, observa que nele está incluído “proteger”, “cuidar” e “vigiar”.A partir desses parâmetros, por exemplo, ele lamenta que a crise financeira de 2007/2008 era uma grande oportunidade para voltar aos princípios éticos e reexaminar os "critérios obsoletos" que continuam a governar o mundo". Por isso – diz – "a própria “criação que sofre dores de parto” é a mesma que sofre a exploração e a destruição da natureza, com uma verdadeira ação de “roubo”, com o esgotamento dos recursos naturais, e a extensão transbordante a toda a população mundial do consumo desenfreado.





Ecologia mais humana que meramente verde!





Na Laudato Si não há só um grito de alarme sobre a gradual destruição do planeta por causa de uma descontrolada atividade humana. Também reafirmam-se problemas de “ecologia humana” e “ecologia integral”, tão próximos do Magistério da Igreja como a função social do direito à propriedade privada, que “não é absoluto ou intocável”, uma vez que está sujeita à "hipoteca social "mencionada por João Paulo II; o respeito pela vida "que não parece muito compatível com a defesa da natureza como justificação do aborto”; a rejeição do relativismo, que corrompe a cultura “quando não se reconhece nenhuma verdade objetiva e que faz das leis imposições arbitrárias”, ou o perigo de uma guerra química ou nuclear, que ainda paira sobre a humanidade.









De especial interesse é a fórmula de Francisco sobre o "débito ecológico", ou seja, a responsabilidade dos países do Norte com os países do Sul, que “continuam alimentando o desenvolvimento dos países mais ricos..., com um sistema de relações comerciais e de propriedade estruturalmente perverso”. Este débito exige que os países desenvolvidos “limitem o consumo de energias não renováveis, contribuindo aos não desenvolvidos recursos para promover políticas e programas de desenvolvimento sustentável".





Em suma, é uma encíclica que está destinada a ser chamada de polêmica!



Apenas um exemplo: Obama acaba de elogiá-la e Bush a olha com receio. Mas, a polêmica – na minha opinião – perderá força quando seja lida a fundo e se descubra a sua riqueza teológica, moral e, até mesmo, de cidadania ecológica. Como se falou, contém um verdadeiro olhar “divino” sobre a Terra e as pessoas que a habitamos. É realmente necessária uma nova economia, mais atenta à ética.Perante isto, podemos ler na Encíclica, é necessária uma “revolução cultural corajosa” que mantenha em primeiro plano o valor e a tutela da cada vida humana, porque a defesa da natureza “não é compatível com a justificação do aborto” e “cada mau trato a uma criatura é contrário à dignidade humana”.  O Santo Padre pede diálogo entre política e economia e a nível internacional não poupa um juízo severo aos líderes mundiais relativamente à falta de decisões políticas a nível ambiental e propõe uma nova economia mais atenta à ética.




Investir na formação para uma ecologia integral!




A Encíclica sublinha que se deve investir na formação para uma ecologia integral, para compreender que o ambiente é um dom de Deus, uma herança comum que se deve administrar e não destruir. E bastam pequenos gestos quotidianos: fazer a recolha diferenciada dos lixos, não desperdiçar água e alimentos, apagar luzes inúteis, agasalhar-se um pouco mais em vez de acender o aquecimento. Desta forma, poderemos sentir que “temos uma responsabilidade para com os outros e o mundo e que vale a pena sermos bons e honestos”.












A Encíclica convida, assim, a praticarmos os sacramentos, em particular a Eucaristia, que “une céu e terra e nos orienta a ser guardiões de toda a Criação”. Então, “Laudato si”, conclui o Papa Francisco, porque “para além do sol, no final, nos encontraremos face a face com a beleza de Deus”.O texto conclui com duas orações, uma que é oferecida para ser compartilhada com todos os que creem em “um Deus criador onipotente”, e a outra proposta para aqueles que professam a fé em Jesus Cristo, que rima com refrão “Laudato Si”, que abre e fecha a encíclica.






Fonte: Zenit








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