O QUE DIZ O MAGISTÉRIO DA IGREJA SOBRE
O CURANDEIRISMO SUPERSTICIOSO?
CIC.2111 A SUPERSTIÇÃO: A superstição é o desvio do sentimento religioso e
das práticas que ele impõe. Pode afetar também o culto que prestamos ao
verdadeiro Deus, por exemplo,
quando atribuímos uma importância de alguma maneira mágica a certas práticas,
em si mesmas legítimas ou necessárias. Atribuir eficácia exclusivamente à
materialidade das orações ou dos sinais sacramentais, sem levar em conta as
disposições interiores que elas exigem, é cair na superstição.
CIC.2138: A superstição é um desvio do culto que rendemos ao
verdadeiro Deus. Ela se mostra particularmente na idolatria, assim como nas
diferentes formas de adivinhação e de magia.
O dom de cura
é um tipo de manifestação espiritual que encontra total fundamento nas
Escrituras Sagradas. No entanto, nos dias atuais é fácil observar em algumas práticas
que não condizem com o ensino de Cristo e dos apóstolos.Contudo, esses abusos
que eventualmente são cometidos não invalidam a prática destas manifestações
bíblicas.
Muitos líderes
religiosos usam de forma irresponsável os dons espirituais e em particular o
dom de cura. E dessa forma, em tese, cometem uma prática tipifica no artigo 284
do nosso Código Penal descrita como sendo crime de curandeirismo (Capítulo III
“Dos Crimes Contra a Saúde Pública”). Senão, vejamos:
Art. 284 – Exercer o
curandeirismo:
II – usando gestos, palavras ou qualquer outro meio;
III – [...]:Pena – detenção, de seis meses a dois anos.
Parágrafo único – Se o
crime é praticado mediante remuneração, o agente fica também sujeito à multa.
Pela simples
leitura do dispositivo penal, constata-se que o crime de curandeirismo é uma
prática ilícita na qual o agente realiza procedimentos mágicos e coloca em
risco a saúde das pessoas em geral utilizando: gestos, palavras ou qualquer
outro meio.
Para esse tipo
de crime a reprimenda é uma detenção na qual o tempo mínimo é de seis meses e o
máximo de dois anos; e caso o agente tenha praticado a ação visando o proveito
próprio mediante recebimento de remuneração incidirá na forma qualificada do
crime, podendo então pagar uma multa além da detenção.
Vejam que as
indagações são muitas. Entrementes, não há que se falar em prática de curandeirismo
para aqueles Cristãos que, efetivamente,
foram agraciados por Deus com o dom de cura e usam esse dom com discernimento e
responsabilidade.
Um bom exemplo
disso é o próprio Jesus Cristo que na cidade de Jerusalém e nas regiões
circunvizinhas curou diversas pessoas doentes e enfermas sem nunca ter colocado
em risco à saúde delas com os seus métodos; ou sequer falhou ao ministrar cura
na vida dessas pessoas; ou então solicitou qualquer tipo de remuneração pela
benção concedida.
Seguindo o
exemplo de Jesus, temos os apóstolos que também curaram pessoas doentes e
enfermas e não colocaram em risco a saúde das pessoas; ou falharam ao
ministrarem a cura; ou então solicitaram ou exigiram qualquer remuneração em
troca da cura. Sendo assim, caso o crente possua o dom de cura e, de acordo com
a Bíblia, faz o seu uso com discernimento e responsabilidade não estará
realizando curandeirismo; mas sim ministrando a cura.
Em síntese,
dessume-se que o curandeirismo é uma prática criminosa na qual o agente coloca
em risco a saúde das pessoas fazendo uso de procedimentos mágicos e, muitas das
vezes, visando obter algum tipo de benefício próprio. Enquanto que o dom de
cura é uma prática bíblica e uma manifestação espiritual que visa um fim
proveitoso para todos os membros do corpo de Cristo que é a cura de uma pessoa
doente ou enferma da comunidade; tudo isso sem solicitar ou exigir qualquer
forma de benefício pessoal em troca. Enfim, essas são as diferenças existentes
entre o dom de cura e o curandeirismo.
Os Curandeiros
SEQUIOSO (São Paulo): “Os curandeiros e os que exercem a medicina em
nome de ciências ocultas ou do S. Evangelho, serão realmente condenáveis, como
se diz? Realizam muitas curas maravilhosas. Não será isto o sinal
de que Deus está com eles?”
O exercício da medicina em nome da Religião é algo de assaz comum em
nossos dias, até mesmo nas classes mais elevadas da sociedade.
Para proceder com segurança no estudo de tão estranho fenômeno,
procuraremos abaixo analisar o comportamento do terapeuta ocultista e o do seu
paciente — o que nos possibilitará chegar a algumas conclusões significativas.
Na elaboração da presente resposta, muito nos valemos do estudo de
Maurice Colinon: «Les Guérisseurs». Paris 1957, na coleção «Le Bilan do
Mystêre» No 1. Grasset, éditeur. — Antes de escrever tal obra,
o autor realizou demoradas pesquisas no mundo dos curandeiros, dedicando-se, a
seguir, à prática do magnetismo durante alguns meses. Guiado por tal
experiência, Colinon resolveu escrever, professando «não obedecer a preconceito
ou paixão de espécie alguma» (ob. cit. pág. 8).
1. A psicologia do curandeiro
Observa-se que há curandeiros e terapeutas ocultistas dos mais variados
tipos: alguns fazem sobre o paciente uma prece acompanhada de «bênção»; outros
dão-lhe um chá específico; outros, água «milagrosa», que o enfermo deve beber
ou aplicar à parte doente do seu corpo; ainda outros entregam um «bentinho» ou
um talismã... Em geral, cada curandeiro especializa-se no recurso a um desses
meios, que ele costuma aplicar independentemente da índole da doença que lhes
seja apresentada pelo cliente.
Contudo, por muito pobres e monótonos que sejam os procedimentos dos
curandeiros, o resultado que estes anunciam e que os pacientes dizem obter, é
sempre o mesmo: recuperação da saúde.
Deste fato já se deduz uma conclusão importante: na chamada «medicina
livre» não é propriamente o remédio que importa e que cura, mas, sim, o homem ou a pessoa do curandeiro.
Aliás, isso é bem compreensível. O curandeiro, não tendo estudado a
medicina cientifica, não se pode interessar muito pelo diagnóstico científico
das moléstias; ele tem que visar muito mais o enfermo do que a enfermidade como
tal; a essência da sua arte consiste em estabelecer um contato de pessoa a
pessoa com o seu consulente, que o vai procurar frequentemente num estado de
ansiosa expectativa. Não estando ligado às normas da medicina científica, o
curandeiro pode com destreza amoldar-se à personalidade do seu paciente,
procurando «simpatizar» com ele («simpatia» no sentido etimológico de «padecer
com..., identificar-se com quem sofre»), ... procurando outrossim corresponder
ao temperamento e aos anelos que o enfermo lhe apresenta; em uma palavra, ele
se torna para todos «o homem do momento».
Transcrevemos aqui dois testemunhos que bem ilustram quanto acaba de ser
dito. O primeiro provém de um curandeiro italiano, o Dr. Racanelli, que, para
se conformar à lei civil, fez seus estudos de medicina:
«O segredo do curandeiro reside precisamente nessa comunhão, consciente
ou inconsciente, com o enfermo que nele tem fé. O curandeiro não cura a doença,
mas o doente» (F. Racanelli, Le don de Guérison. Delachaux et Niestlé 1951,
33).
Confronte-se tal depoimento com o seguinte testemunho, emanado de um
médico norte-americano, o Dr. Arnold Hutschnecker, o qual procede estritamente
segundo os métodos científicos:
«O novo homem de ciência, o especialista, aproxima-se do doente, munido
de aparelhagem completa e variegada. Ele vê diante de si não pròpriamente um
enfermo, mas uma enfermidade» (Arnold Hutschnecker, La Volonté de vivre. Robert
Laífont 1954, 10).
Justamente por não possuir formação de medicina científica, o curandeiro
facilmente crê possuir um dom extraordinário — o dom das curas — assim como a
missão divina de utilizar essa graça em favor do próximo. É o que explica
certos títulos atribuídos a famosos terapeutas de França: «Radar do
diagnóstico, Mulher-rádio».
2. A psicologia do cliente do curandeiro
Maurice Colinon, durante seus dez anos de estudos do assunto, realizou
um inquérito junto a doentes que iam procurar os curandeiros, indagando quais
os motivos por que assim procediam. As respostas mais frequentemente obtidas
eram do teor seguinte:
“... porque sabem coisas que todos nós ignoramos». «... porque eles nos
compreendem e nós os compreendemos», «...porque os curandeiros restauraram os
remédios simples e naturais, já há muito tempo esquecidos...porque o curandeiro
é gente de vanguarda”
Como se vê, estas respostas não se baseiam propriamente em dados
científicos nem em raciocínio rigoroso; são, antes, a expressão de uma
benevolência preconcebida para com os curandeiros; estes parecem despertar nos
clientes o sentido do «misterioso» ou do «místico», sentido particularmente
arraigado na alma de tais pacientes.
Outro inquérito do mesmo teor, efetuado pela revista «Présences» (no.
especial «Malades et guérisseurs», pág. 56), sugeria semelhante conclusão.
Notem-se
algumas das respostas então registradas:
1)- certas pessoas confessavam que iam ter com o curandeiro, porque
tentavam escapar a uma intervenção cirúrgica ou a internação em casa de saúde;
2)- outras, ... porque desejavam evitar a compra de remédios caros;
3)- outras, ... porque o tratamento receitado pelo curandeiro não é
doloroso.
Sintetizando
os resultados de numerosas análises e pesquisas, os estudiosos chegaram à
verificação seguinte:
“à semelhança do que se dá com o próprio curandeiro, também o consulente
deste é movido primàriamente por razões emocionais; não examina muito a ciência
nem o preparo intelectual do terapeuta; o que, antes, o fascina é a pessoa
deste, geralmente apregoada como extraordinária, dotada de poderes
taumatúrgicos, de intuições místicas, etc. É a pessoa, e não o remédio, que age
sobre ele; verifica-se até que o mesmo remédio aplicado ao paciente por outra
pessoa que não o curandeiro «tal», não produz efeito algum.”
Procurando
explicitar ainda mais a psicologia do cliente da «medicina livre», lembraremos
o seguinte:
o estado de ânimo de quem vai consultar um ocultista é bem diferente do
estado de quem se dirige a um médico propriamente dito. Quem vai ao ocultista ou
ao curandeiro, se acha em situação de sofrimento exacerbado. Desiludido dos
recursos que a ciência costuma indicar no caso respectivo, tal infeliz ouve
repentinamente falar de nova esperança que lhe parece sorrir na pessoa de tal
ou tal «taumaturgo»; várias curas maravilhosas lhe são relatadas... A impressão
é tal que, pondo de lado o senso crítico, o enfermo facilmente conclui: «Porque
não tentaria, também eu, uma consulta ao homem portentoso? Afinal de contas,
nada perderei com isso!». Enceta então uma viagem que por vezes é longa e
penosa, apta a acumular impressões na mente do enfermo; no lugar de chegada,
junto ao consultório do «taumaturgo», tem muitas vezes que esperar em condições
incômodas, entre dezenas de doentes febris, uns desfigurados, outros quiçá
transfigurados pela esperança; enquanto aguardam, vão narrando uns aos outros
as maravilhas efetuadas pelo terapeuta; a atmosfera fervilha; o sonho de
recuperarem a saúde se torna cada vez mais vivaz e impressionante; dir-se-ia
que pouco falta para que se torne realidade!...
Chegado finalmente à presença do «taumaturgo», o enfermo, por seu olhar
suplicante, por sua voz emocionada, por suas mãos trêmulas, parece exprimir
duas coisas apenas: extraordinária confiança no médico e o pedido de que este ponha
em ação o seu poder milagroso...
3. O benéfico encontro
O encontro com a personalidade do paciente não pode deixar de abalar, de
certo modo, também a personalidade do terapeuta ocultista; este, estimulado
pela atitude confiante de quem assim o interpela, julga-se, ainda mais do que
antes, capacitado para socorrer ao infeliz; a fé «na missão que Deus lhe deu»
torna-se nele ainda mais dinâmica.
Curandeiro
e doente assim entram em acordo tácito (acordo que é o efeito da sugestão
recíproca):
«Não há dúvida, a cura há de ser obtida, não poderá deixar de ser eficaz
o recurso aplicado (prece, bênção, água lustral, chá,ramos de arruda,etc...); o
poder do Alto há de corresponder maravilhosamente».
O curandeiro põe então em prática a sua arte, com todo o aparato de que
ela se costuma revestir. — Tal arte por si é certamente inadequada para resolver
a situação; acontece, porém, que ela pode produzir — e de fato muitas vezes
produz — o efeito desejado, não por seu valor intrínseco, mas por exercer a
função que se poderia dizer de «catalisar», isto é, de acelerar um processo
psíquico já iniciado no paciente. Este processo psíquico é que provocará
finalmente a cura (real ou aparente, duradoura ou transitória...; isto depende
das circunstâncias de cada caso) da moléstia que acabrunha o consulente.
Assim se explica que, em não poucos casos, o encontro do enfermo com o
curandeiro acarrete realmente a restauração (ao menos aparente) da saúde. O
tratamento então é psíquico, e não somático, como se depreende da análise acima
(já verificamos, na resposta anterior a esta, que grande número de moléstias somáticas
são, pela medicina moderna, intimamente relacionadas com o psiquismo do
paciente).
Observe-se ainda que, no encontro do enfermo com o seu curandeiro,
aquele não é somente passivo nem este somente ativo, mas há entre ambos
influência recíproca; talvez mesmo o paciente dê mais do que o próprio
curandeiro.
Sim; «o doente... reforça no curandeiro a ação da sugestão coletiva...
sem a qual o curandeiro nada conseguiria... O doente oferece ao mago aquilo de
que este precisa: a sua fé, o seu ato de fé (no poder taumatúrgico do
terapeuta). Então estabelece-se o contato... entre dois inconscientes gêmeos,
igualmente fracos, igualmente sugestivos, como se um dissesse ao outro...: 'Eu
te torno curandeiro', e o outro respondesse: 'E eu, eu te curo'... Muito chama
a atenção o fato de que a maioria dos curandeiros não tem confiança em seu
próprio poder senão na medida em que essa confiança lhes é imposta pelos
doentes mesmos» (Colinon, Les Guérisseurs 111).
4. Pesquisas científicas comprovam...
A explicação do processo de cura que acabamos de dar, supõe sejam o
curandeiro e seu cliente personalidades em alto grau capazes de receber
sugestões; ambos se deixam, sim, afetar profundamente pela «onda do momento» e
comunicam um ao outro, de maneira extraordinariamente forte, a impressão que
tal onda possa causar.
Essa afirmação, mormente no tocante aos curandeiros, tem sido comprovada
por pesquisas, cujos resultados principais vão aqui brevemente consignados.
4.1. Em
abril de 1954, realizou-se em Saint-Paul-de-Vence (França) um Colóquio
Internacional de Parapsicologia (estudo de fenômenos que ocorrem ao lado —
pará, em grego — dos normais, não, porém, contraditoriamente aos normais).
Participaram do certame cientistas de renome, como Adlous Huxley e os
professores de Universidade Bender (Friburgo), Ducasse (Brown, EE.UU. da
América), Eisenbud (Denver), van Lennep (Utrecht), Meng (Basiléia), Meier
(Zürich), Servadio (Roma), Thouless (Cambridge), Nrban (Innsbruck), assim como
o Dr. Leuret, presidente do «Bureau des Constatations Médicales» (Comissão de
Exames Médicos) de Lourdes. Entre os principais pontos do programa de estudos
estavam consignadas as «curas paranormais» (sua origem e seu desenvolvimento).
Pois bem; sem dificuldade os estudiosos se mostraram de acordo em reconhecer «a
importância essencial, única, da personalidade do curandeiro» em tais
processos. Em consequência, o Prof. van Lennep propôs a análise aprofundada
da psicologia do curandeiro, da psicologia do paciente, assim como das
relações que entre eles se estabelecem por ocasião da terapêutica.
Van Lennep pessoalmente submeteu curandeiros holandeses ao teste das
«quatro imagens»; o Prof. Heiss fez que outros passassem pelo teste das
«pirâmides de cor». Em conclusão, ambos verificaram que tais taumaturgos
apresentam entre si profundas semelhanças de ânimo, a ponto de se poder dizer
que constituem quase um grupo psicológico caracterizado.
Pesquisas ainda mais significativas foram efetuadas pelo Dr. Moser, de
Zürich, o qual recorreu aos testes de Szondi, cujo desenrolar é o seguinte:
apresentam-se ao cliente seis séries de fotografias, cada uma das quais
representa pessoas de tipos psicológicos muito diversos; em cada série, o
«sujeito» deve indicar os dois semblantes que mais lhe agradam e os dois que
menos o atraem; a escolha há de ser rápida e espontânea, como um reflexo.
O Prof. Szondi, ao conceber tal teste, baseava-se na tese de que as
escolhas que o homem faz na vida, dependem de genes próprios, responsáveis pela
atração ou pela repulsa que tal ou tal pessoa experimenta em relação a tais e
tais outras pessoas. Existe, portanto, conforme Szondi, um «genotropismo»,
tropismo este que vai mover, por exemplo, tal doente a escolher tal médico ou
tal curandeiro; os mesmos genotropismos existentes em pessoas diversas provocam
análogos comportamentos na vida e fundam uma espécie de comunhão de sortes
entre essas pessoas.
Pois bem;
os testes de Szondi aplicados pelo Dr. Moser a curandeiros suíços levaram às
duas conclusões seguintes:
1)- as curas "paranormais" (no nosso caso:... ocultistas)
verificam-se com frequência toda especial entre pessoas associadas entre si por
afinidade psicológica da qual elas geralmente não têm consciência).
2) «Personalidade fraca» é condição necessária para que se deem tais
curas.
Por «personalidade fraca» entende-se aqui «temperamento profundamente
influenciável ou sugestionável». Em uma palavra, as duas conclusões acima
confirmam o que dizíamos: a terapêutica curandeirista supõe entre o «médico» e
seu cliente afinidade baseada em elevada tendência a se deixarem empolgar por
misticismo, e misticismo cego ou descontrolado.
«Poder-se-ia crer que esse tipo de personalidade (fraca, sugestionável)
é nocivo ao prestigio dos curandeiros. De modo nenhum. É, ao contrário, a
condição necessária ao seu êxito. Pois o curandeiro por si nada é; ele só é
tal, mesmo aos seus próprios olhos, por influência dos doentes que o vão
procurar e por influência da fama que estes lhe proporcionam. O ambiente
místico é indispensável ao curandeiro. Caso se atenue ou desapareça, o 'dom'
desaparece com o ambiente» (Colinon, ob. cit. 105s).
A sugestionabilidade dos que se acham envolvidos no curandeirismo,
explica que muitos e muitos deles possam estar agindo de boa fé: totalmente
empolgados pela situação que se cria em torno deles, não conseguiriam sequer
suspeitar algum erro no seu procedimento pessoal.
3) Também a grafia dos curandeiros foi submetida a exame... Um grafólogo
de autoridade, membro do Conselho da Sociedade de Grafologia de França, tendo
analisado a escrita de bom número desses terapeutas, averiguou entre as notas
mais comuns as seguintes:
a)- temperamento pouco dado à intelectualidade e ao raciocínio,
b)- desequilíbrio de glândulas endócrinas (hipófise e suprarrenais),
c)- nervosismo acentuado.
(Notícia colhida na citada obra de Colinon, pág. 113s).
Estes dados fazem eco aos dos testes psicológicos atrás mencionados: a
peculiaridade do curandeiro reside no seu psíquico; nada tem que ver nem com
ciência pròpriamente dita nem com a intervenção de forças superiores ocultas.
2.3. Instituíram-se
outrossim estatísticas a respeito das moléstias que mais frequentemente são
curadas por via paranormal, verificando-se que em média 83% dos casos bem
sucedidos têm por objetivo uma das seguintes doenças: certos fibromas,
hipertireoidismo, úlceras do estômago, asma, infecções cutâneas e moléstias
ditas «sem causa».
Ora a medicina tem averiguado que sobre tais enfermidades a sugestão
exerce influência por vezes decisiva.
O assunto já foi abordado na resposta à questão precedente; seguem-se
aqui apenas algumas notas complementares.
É Colinon
quem observa:
«Milhões de seres humanos vivem numa atmosfera saturada de bacilos;
contudo somente alguns dentre eles caem doentes, e muitas vezes não são os
menos resistentes do ponto de vista puramente fisiológico. Um dos grandes
mistérios da vida humana é justamente o de saber porque somos atingidos em tal
momento por tal infecção à qual escapamos em outras circunstâncias análogas ou
mais propicias à contaminação. Verifica-se assim que não há ‘doenças físicas’ e
‘doenças imaginárias’; há, sim, seres humanos em desequilíbrio, nos quais a
moléstia equivale a um brado de alarme» (ob. cit. 117).
Ilustrando
com uma imagem as idéias acima, o Dr. Hutschnecker escrevia:
«O agente físico que chamamos 'causa da doença' — o micróbio da gripe ou
a célula maligna — se relaciona com a doença como o tiro do revólver de
Saravejo se relacionou com a primeira guerra mundial» (La volonté de vivre 13).
O que quer dizer: a ação do bacilo mórbido é por vezes mera ocasião para
que um processo de desordem psíquica latente no íntimo de uma personalidade
prorrompa finalmente num distúrbio somático. Se não fôra essa desordem
psíquica, o bacilo não lograria efeito.
Quanto às moléstias cutâneas em particular (urticária, verrugas,
eczemas, etc.), Colinon (que, como notamos no inicio desta resposta, praticou a
medicina conforme as normas do magnetismo) assevera que constituem o setor de
triunfo de todo curandeiro principiante:
«Lembro-me da minha primeira paciente... a qual, já havia dez anos,
sofria de eczema crônico. Em duas sessões obteve a cura. Foi o que deu
fundamento à minha fama de taumaturgo... Não me lembro de ter alguma vez
fracassado em caso de eczema ou de verruga... Basta soprar sobre as verrugas.
Era o que eu fazia conscientemente. O enfermo executava o resto, isto é, em
horas marcadas efetuava uma série de gestos complicados que eu inventava
conforme o caso. O essencial era que tais gestos exigissem muita atenção e
muito tempo. — Não se diz, aliás, que o segredo da eficácia dos cataplasmas
consiste no fato de exigirem meia-hora de preparativos?» (ob. cit. 119s).
Por fim, a propósito das doenças cuja origem não é imediatamente
perceptível (doenças ditas «sem causa», como acontece com certas enxaquecas,
nevralgias, palpitações cardíacas, insuficiências hepáticas, paralisias
parciais), verifica-se muitas vezes que estão profundamente associadas a um
estado psíquico perturbado; fígado, coração, estômago se acham, do ponto de vista
fisiológico, em condições totalmente normais; de nada adiantaria aplicar-lhes
drogas e tratamentos; o que deve ser reformado em tais casos, é o estado de
ânimo do paciente; ora é justamente isto o que uma visita ao curandeiro pode
muitas vezes provocar (recurso contudo precário, pois, como veremos adiante,
não soluciona o problema pela raiz).
«O homem que é causa da sua própria doença (sem ter consciência disso, é
claro; muitas vezes mesmo, recusando-se a admitir tal hipótese), pode ser causa
da sua própria cura. Basta, para isto, que o processo psicológico tome o
sentido oposto» (Colinon, ob. cit. 120).
Os dados acima corroboram bem o que anteriormente dissemos sobre a
importância capital do fator psíquico nas curas dai chamada «medicina livre ou
ocultista». Resta-nos agora rematar a explanação propondo breve.
5. Reflexão final
É inegável que, por arte dos curandeiros, se podem debelar certas
moléstias. Contudo a análise de tais curas dá a ver que não se trata de efeitos
sobrenaturais, mas, sim, do desencadeamento de forças psíquicas latentes no
próprio enfermo e «catalisadas» no momento oportuno pela presença e pela ação
do curandeiro. Os progressos da medicina moderna, principalmente a descoberta
do caráter psicossomático das doenças humanas, fornecem assim a explicação dos
fenômenos do curandeirismo (um ou outro caso talvez leve a supor direta
intervenção do demônio).
Ninguém negará que a medicina ocultista é muitas vezes praticada por
pessoas (terapeutas e pacientes) dotadas de sinceridade. Contudo essa técnica
não pode deixar de provocar a repulsa de quem tenha o espírito um pouco
esclarecido, mormente de quem tenha o espírito cristão.
E por que? - Por dois
motivos:
1)- Do ponto de vista meramente humano ou psicológico, verifica-se que o
curandeirismo, longe de extinguir o mal do paciente, apenas o desloca. Sim; o enfermo que sofria de um estado psíquico manifestado por tais
sintomas ou por tal doença do corpo, após a cura ocultista passa a sofrer de
outro estado psíquico pouco regular; este não se patenteia pelos mesmos
sintomas que o anterior, mas tende a se revelar cedo ou tarde mediante nova
doença do corpo.
De resto, deve-se frisar que o adepto do curandeirismo padece como que
um recuo do seu psiquismo, tornando-se semelhante a uma criancinha amedrontada,
a braços com suas angústias e à espera das... «fadas» que a libertarão!
Ora está claro que não vale a pena iludir-se com o recurso a tal
terapêutica!
2) Do ponto de vista cristão, o curandeirismo representa evidentemente
um abuso da fé e dos valores religiosos. A fé não é algo que Deus dê ao homem
para que se imunize dos males do corpo e da vida presente; ao contrário, Cristo
prometeu aos seus fiéis a cruz como instrumento de purificação interior — o que
não pode deixar de ser doloroso (cf. Mt 16,24); acontece mesmo que, quanto mais
elevado é o grau de perfeição a que alguém se destina, tanto mais também deve
contar com a ação da cruz em sua vida (cf. Apc 3, 19).
O cristão doente, longe de pretender fazer da Religião o instrumento de
sua cura somática, procurará, à luz da fé, rever o seu estado de alma e
corrigir os defeitos morais, grandes ou pequenos, que aí possa haver.
A fé ensina, sim, que toda enfermidade se prende ao pecado, ao menos ao
primeiro pecado (o pecado de Adão), cuja herança todos nós trazemos. Consciente
disto, o discípulo de Cristo verá na sua doença um sinal providencial de Deus,
que o desperta para um exame de consciência e para a emenda de sua vida, vida
quiçá tíbia e sempre suscetível de perfeição maior.
A fé, iluminando desse modo o sentido da doença de um cristão,
concorrerá eficazmente para tornar a enfermidade profícua, embora a fé não
sempre contribua para restaurar a saúde do corpo (valor este que é secundário
em comparação com o vigor sobrenatural da alma).
Ulteriores esclarecimentos sobre os assuntos aqui explanados se podem
encontrar em:
Por Don Estevão Bittencurt
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