Quanto à origem do termo Pentecostes, o dicionário bíblico
informa:
Em Levítico 23,16, a Septuaginta empregou o termo pentêconta
hêmeras como a tradução do hebraico hªmishshïm yom, “cinqüenta dias”,
referindo-se ao número de dias partindo da oferta do molho de cevada até ao
início da páscoa. Ao qüinquagésimo dia era a festa de pentecostes. Visto que o
tempo assim escoado era de sete semanas, era chamada hagh shabhu’ôth, “festa
das semanas” (Êx 34,22; Dt 16,10). Assinalava o término da colheita da cevada,
que tinha início quando a foice era lançada pela primeira vez na plantação (Dt
16,9) e quando o molho era movido “no dia imediato ao sábado” (Lv 23,11-12a). É
festa igualmente chamada hagh haqqãçïr, “festa da colheita”, de yôm
habbikkürïm, “dia das primícias” (Êx 23,16; Nm 28,26). Essa festa não se
limitava aos tempos do Pentateuco, mas sua observância é indicada nos dias de
Salomão (2Cr 8,13) como o segundo dos três festivais anuais (cf. Dt 16,16).
Para explicar o fenômeno ocorrido em Atos 2:12 e refutar a sugestão de que estivessem embriagados, Pedro cita a profecia de Joel 2,28-32:
“E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão; vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos; até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu espírito naqueles dias, e profetizarão. Mostrarei prodígios em cima no céu e sinais embaixo na terra; sangue, fogo e vapor de fumaça. O sol se converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes que venha o grande e glorioso dia do senhor. E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do senhor será salvo.” - Ao longo da história, o pentecostalismo justifica as manifestações de glossolalia (falar em línguas) e outras relacionadas com fenômenos sobrenaturais citando uma variedade de textos bíblicos (At 2:16-21; 10:44-46; 19:6; 1Co 12:10).A manifestação dos dons espirituais não esteve restrita ao livro de Atos dos Apóstolos.O fenômeno de orar em línguas, por exemplo, tem sido constatado em grupos fora do cristianismo.
A
influência de movimentos "periféricos" em sua origem!
Na história do cristianismo, a busca por um contato mais íntimo com Deus passa pelo misticismo e pelo pietismo, movimentos que correm à margem da igreja oficial. A característica principal desses movimentos é a aversão às normas e doutrinas da igreja, pois entendem que o Espírito Santo revela tudo o que é necessário para a vida do cristão.
O
MONTANISMO (no Oriente): 172 dc.
Foi neste movimento, liderado por Montano, que os fenômenos pentecostais encontraram ampla guarida. O movimento surgiu na Frígia, Ásia Menor romana (Turquia), por volta do ano 172, tendo Tertuliano como um de seus adeptos mais importantes. Montano não tinha cargo eclesiástico e percorria os lugares acompanhado de duas mulheres, Priscila e Maximila. Por meio da voz do parácleto, manifestação profética que falava, na primeira pessoa, através das duas mulheres, promovia o que chamou “nova profecia” e conclamava as pessoas para a volta de Cristo. Os adeptos do montanismo se consideravam porta-vozes do Espírito. Afirmavam que o fim do mundo estava próximo e que a nova Jerusalém seria brevemente estabelecida na Frígia, para onde se dirigiam os fiéis. Como preparo para a próxima consumação, passaram a pregar um asceticismo rigoroso, o celibato, jejuns e abstinência de carne. Preocupados com o avanço do movimento, os bispos da Ásia Menor se reuniram, pouco depois de 180 d.C., e condenaram o movimento. “Jerônimo, com seu estilo habitualmente rude, qualificou Montano como ‘pregador do espírito imundo, [que] com ouro, corrompeu inicialmente muitas igrejas por meio de Priscila e Maximila, duas mulheres nobres e ricas, manchando-as em seguida com a heresia’”. Entretanto, alguns teólogos crêem que ao excluir o montanismo a igreja perdeu, pois um movimento que protestava contra o crescente formalismo e mundanismo na Igreja passou a funcionar na clandestinidade. A igreja cristã excluiu o montanismo do seu seio. Contudo a vitória sobre o montanismo resultou em perda?
Podemos
analisar os prováveis resultados destas perdas da seguinte maneira:
1) O cânon venceu sobre a possibilidade de novas revelações. A solução do quarto
evangelho de que sempre haveria novas percepções da verdade, sob a crítica do
Cristo, foi, pelo menos, reduzida em poder e sentido.
2) A hierarquia tradicional triunfou contra o espírito profético.
Com isto excluía-se, mais ou menos, o espírito profético da igreja organizada,
levando-o a se abrigar em movimentos sectários.
3) A escatologia perdeu grande parte da importância visível na era
apostólica. A organização eclesiástica passou a ocupar o primeiro lugar. A
expectativa do fim reduziu-se ao apelo aos indivíduos para que se preparassem
para o seu fim pessoal, que poderia vir a qualquer momento. Depois desse
período, a idéia do fim da história deixou de ter importância.
4) a rígida disciplina dos montanistas foi abandonada, substituída
pelo afrouxamento crescente dos costumes. O que se passou nesta época tem-se
repetido freqüentemente na história da igreja. Surgem pequenos grupos com rigorosa
disciplina; tornam-se suspeitos dentro da igreja; separam-se e formam grandes
igrejas; em seguida, perdem o poder disciplinar original.
5)- Com a condenação do montanismo, a expectativa da volta de
Cristo foi, até certo ponto, reduzida e a operação dos dons espirituais perdeu
considerável espaço na comunidade cristã.
6)- Ao invés de condenar a prática dos dons espirituais, a Igreja
teria lucrado se a regulasse à luz das Escrituras.
7)- Todo segmento pentecostal equilibrado e preocupado em promover
a sã doutrina procurará também regular e estabelecer parâmetros bíblicos e
apóstólicos tradicionais para a operação dos dons espirituais.
8)- Uma das maiores razões por que a operação dos dons de
enunciação inspirada é impedida, ou mesmo inteiramente suprimida, está no
receio constante de errar, ou na forma de fanatismo ou de falsa inspiração. É
bem fácil fazer uma lista dos vários movimentos de inspiração nas igrejas,
desde o tempo do montanismo, os quais se iniciaram com a pretensão de
restabelecer o dom de profecia no seu próprio lugar na Igreja, mas findaram em
fracasso vergonhoso por causa dos excessos de entusiasmo, ou gradualmente
cederam de novo à frieza e à incredulidade das igrejas.
Onde
tantos já fracassaram, ousaremos esperar bom êxito?
A resposta só pode ser: “Somente pela graça de Deus”. Há uma coisa ao menos em nosso favor: podemos aproveitar os erros
de nossos antepassados, para não errar, pois o desconhecimento do passado é
risco de repetir-se no presente e no futuro.
Todas as
manifestações ditas "sobrenaturais" tem valor e autoridade por si mesmas?
Sonhos, visões, revelações, experiências pessoais ou coletivas, não têm a mesma autoridade que a Bíblia Sagrada. Esses fenômenos devem ser avaliados à luz das Escrituras, e da Sagrada Tradição da Igreja, fiel intérprete dos Carismas.Nos capítulos 12 e 14 de 1Coríntios, a Palavra de Deus fornece as instruções necessárias para a operação dos dons espirituais com o propósito de edificar o Corpo de Cristo.As manifestações do dom de profecia devem ser julgadas pela congregação (1Co 14:29) e tudo deve ser feito com ordem e decência (1Co 14:40). Assim, se em nome do avivamento e do fervor espiritual não se pode conceder espaço para a anarquia na liturgia do culto, tampouco se pode, em nome da ordem, extinguir o Espírito.A busca de uma prática equilibrada para o funcionamento dos dons espirituais, a fidelidade à Palavra de Deus e à Sagrada Tradição, são essenciais para o desenvolvimento do ministério cristão.
Sonhos, visões, revelações, experiências pessoais ou coletivas, não têm a mesma autoridade que a Bíblia Sagrada. Esses fenômenos devem ser avaliados à luz das Escrituras, e da Sagrada Tradição da Igreja, fiel intérprete dos Carismas.Nos capítulos 12 e 14 de 1Coríntios, a Palavra de Deus fornece as instruções necessárias para a operação dos dons espirituais com o propósito de edificar o Corpo de Cristo.As manifestações do dom de profecia devem ser julgadas pela congregação (1Co 14:29) e tudo deve ser feito com ordem e decência (1Co 14:40). Assim, se em nome do avivamento e do fervor espiritual não se pode conceder espaço para a anarquia na liturgia do culto, tampouco se pode, em nome da ordem, extinguir o Espírito.A busca de uma prática equilibrada para o funcionamento dos dons espirituais, a fidelidade à Palavra de Deus e à Sagrada Tradição, são essenciais para o desenvolvimento do ministério cristão.
O
PIETISMO – 1.700 dc.
Este movimento nasceu na Alemanha protestante do século XVII e estendeu-se por toda a Europa, promovendo a fé pessoal em protesto contra a secularização da igreja. O movimento abraçou a “teologia do coração”, baseada nos escritos de Johann Arndt, na leitura e na meditação da Bíblia e nos hinos Cristãos. O nome que mais se destacou no movimento pietista foi o de Phillip Jacob Spener (1635-1705).Ao ver a vida decadente da cidade de Frankfurt, Spener organizou os primeiros collegia pietatis, que reuniam leigos cristãos para troca de experiências e leitura espiritual.
Escreveu
um clássico do cristianismo: “Pia desideria”, em que apresentou seis propostas
de reforma da igreja:
1)- Divulgação da palavra de Deus entre o povo com maior abundância. Era, para ele, o melhor
meio de melhorar a situação da
igreja.
2)- Restabelecimento e prática assíduos do sacerdócio universal de todos os crentes. Na igreja, o pastor não detém o monopólio de falar e agir. Para poder cumprir sua missão, precisa da colaboração ativa de todos e todas.
3)- Pregação insistente de que o cristianismo não consiste em conhecimentos sobre a fé, mas na prática do amor que nasce da fé.
4. Moderação nas controvérsias confessionais.
5. Reforma da formação teológica. Os futuros pastores devem ser orientados para a vivência da fé.
6. Uma nova maneira de pregar o Evangelho. Os pastores devem acentuar o “cerne do cristianismo”, os frutos da fé, mais do que a doutrina.
CRÍTICAS
AO PIETISMO PROTESTANTE:
Devido às "várias correntes pietistas presentes na Alemanha", os
historiadores encontram dificuldade para identificar as origens do movimento. O nome pietismo vem não só dos "Collegia
Pietatis", fundados por Spenner, como também dos seus "Pia
desideria", ou ainda, porque os seus sectários usavam continuamente a
palavra ‘pietas’(Cfr. L. Mittner, op. cit. p. 40).
O pietismo, assim como a anabatismo, os Irmãos do Livre Espírito, e
tantas outras seitas místicas, não tem limites definidos! Ele é impreciso como
nevoeiro!
1º) Porque ele não admitia estruturas e institucionalizações.
2º)Porque recusava qualquer dogmatismo. Assim, ele se misturava
ecumenicamente com outras seitas protestantes. Mittner compara o pietismo ao
afloramento de um rio cársico. Como no Carso, onde os rios afloram e
desaparecem na terra, para reaparecer depois quilômetros além, assim também o
Pietismo seria um afloramento de um único grande movimento místico que percorre
a história (Cfr. L. Mitter, op. cit., p. 40).Por nosso lado, acrescentaríamos que esse grande rio cársico, que ora
aparece com um nome, ora volta a ser subterrâneo, para reaparecer com outro
nome, mas sempre com as mesmas águas, chama-se Gnose. O único dogma de que os pietistas faziam questão era o da Redenção por
Cristo.
A tudo o mais se poderia renunciar em proveito da união dos cristãos:
1)- Os pietistas faziam mesmo questão de proclamar o seu espírito de
renúncia e de concessão em matéria de fé, porque desejavam veementemente a
união de todos os cristãos no amor. Eram absolutamente relativistas e
tolerantes.
2)- O ecumenismo era a sua felicidade. Se o único dogma de que faziam
questão era o da Redenção por Cristo, não se julgue porém que eles o entendiam
no sentido comum. Cristo era o Redentor, mas não era Deus. Cristo era, para
eles, sobretudo um homem, um irmão, um amigo. No máximo, ele seria o homem
ideal, como dizia o pietista Zinzendorf (L. Mittner, op. cit. p.43).
3)- Religião da amizade, o pietismo se preocupava em estabelecer entre o
membro da seita e Cristo uma relação de amizade sentimental e igualitária. Uma
amizade joânica. Nesse amor por Cristo-homem, Zinzendorf planejava realizar a
união não só dos cristãos, como também dos pagãos, respeitando a fé de cada um.
Para ele, um único dogma bastava: o da humanidade de Cristo: a Santíssima
Trindade seria formada por "Papai Deus", "Mamãe-Pomba" e
"Irmão-Cordeiro" (Cfr. L. Mittner - op. cit., p. 43).
4)- O Espírito Santo, chamado de Mamãe Pomba, era considerado por Zinzendorf
como a divina Sofia, ou divina Sabedoria, e a segunda Eva, mãe de todos os
crentes (Cfr. L. Mittner - op. cit., p. 41). Ora, é curiosa essa confusão do
Espírito Santo com a divina Sabedoria, pois que a Sabedoria é a Segunda Pessoa
da Santíssima Trindade e não a Terceira. Estas denominações do Espírito Santo
como a Divina Sofia, Segunda Eva, ou Mamãe Pomba insinuam uma interpretação
sexual da Trindade Divina, própria dos movimentos gnósticos. Na Gnose
Valentiniana e na Cabala é que se fala numa Sofia inferior apresentada como
elemento feminino em Deus (Cfr. G. Scholem - A mística judaica,
Perspectiva, São Paulo,1972; Hans Leisegang - La Gnose, Payot,
Paris, 1951).
5)- Para o pietismo, seguidor de Boehme, o mundo era uma emanação da
divindade, e o espírito de Deus se achava espalhado em todos os seres do
universo. Esse imanentismo levava o pietismo a ter um culto religioso da
natureza, a buscar fundir-se no Todo universal, a procurar estabelecer um
contato com os outros homens, e mesmo com as coisas, por meio de uma simpatia
universal. O pietista vivia dialeticamente, sentindo Deus distante e, ao mesmo
tempo, próximo; Deus "absconditus" e Deus manifesto; e vendo o infinito
imanente nas coisas finitas.
6)- Como todos os movimentos místicos gnósticos, o pietismo desprezava a
matéria, o corpo, considerando-os como prisão do espírito - O homem deveria buscar a Deus no íntimo de seu
coração. Deus falaria a cada pessoa através de seus sentimentos. A razão e a
vontade deveriam ser combatidas, pois seriam causas de individualização, e
empecilhos, portanto, à fusão no Todo Universal.
7)- Era preciso "reentrar" em si mesmo, e, para isto, era
necessário combater as qualidades pessoais, egoísticas; resistir às imagens
ilusórias dos sentidos, fruto da multiplicidade ilusória da vida real concreta
(Cfr. L. Mittner- op. cit. p. 47).
8)- A razão, especialmente, impediria o retorno ao Uno divino, pois ela,
definindo as coisas, as separa. Também era preciso renunciar à vontade
individual, considerada egoísta, para alcançar uma atitude de indiferença,
semelhante à dos budistas e dos esotéricos.
9)- Essa renúncia à vontade levava o pietista à passividade.
10)- Condenava-se a ação, especialmente a ação política.
11)- Deste modo, desprezando a razão e aniquilando a vontade, só restavam os
sentimentos. A relação do homem com os seus semelhantes, ou com a natureza,
fazia-se apenas através dos sentimentos.
12)- Quanto menos precisos e definidos esses sentimentos melhor seria, pois
seriam sentimentos vagos, sem razão, sem base lógica. Daí a preferência
pietista pela música, a mais vaga e menos explícita das artes.
EM QUE
ACREDITAVAM OS hereges PIETISTAS?
1)- Acreditando que o mundo seria uma emanação divina, uma degradação
misteriosa da própria divindade, que o espírito divino estaria aprisionado no
corpo humano material, era normal que o pietista se sentisse
"exilado" e triste neste mundo. Daí sua melancolia e tristeza.
2)- O pietista, como o futuro romântico, se comprazia na tristeza. "Sou
tão mísero, débil e doente", confessa melancolicamente Tersteegen, que ama
a tristeza do entardecer:"Doce, obscura, suave e silenciosa é a bela hora do crepúsculo" (Cfr. L.
Mittner, op. cit. p. 42). O pietista gostava também de padecer, sofrer
pacientemente as doces amarguras da vida. Ele não buscava o prazer e a alegria.
3)- Não amava os jogos e as diversões, nem a boa
comida. Gostava do que é simples. Era um introvertido em contínua auto-análise,
buscada como fim em si mesma.
4)- Uma simpatia universal, por outro lado, punha em comunicação o espírito
divino encarcerado em todos os seres concretos. A amizade era a manifestação
dessa simpatia, veículo para a fusão cósmica.Como diz Mittner, o pietismo é a religião do
sentimento íntimo e individual, a religião das amizades místicas. Essa amizade
mística, sentimental e lânguida, principiava na relação da alma com Cristo.O pietista deveria ter para com Cristo uma amizade pessoal, igualitária,
sentimental. Dessa primeira amizade deveriam decorrer todas as outras.
A
ORGANIZAÇÃO PIETISTA:
1)- O pietismo era então organizado em células de três pessoas que deviam
ter entre si uma amizade "particular", sentimental e mística. Era o
que eles chamavam "o trevo". Os três participantes do trevo deviam
estabelecer um pacto de amizade, confirmado, muitas vezes, por uma comunhão.
2)- O trevo era o primeiro núcleo, ou célula, de um conventículo pietista. O
próprio matrimônio era visto como "amizade conjugal", amizade de
almas, de fundo religioso. No matrimônio também se formava, muitas vezes, um
trevo ou um triângulo filadélfico entre os dois cônjuges e um terceiro elemento
que patrocinara ou favorecera o casamento, renunciando o seu amor por um dos
cônjuges. Esse terceiro elemento, que sacrificava o seu amor, era como um
substituto de Cristo, um vice-Redentor.Esse amor, entre os pietistas, era chamado amor filadélfico, e se opunha
ao amor filantrópico preconizado pelos racionalistas, que mandavam amar
igualmente todos os homens.Em consonância com essa concepção, O Pietista Zinzendorf renunciou a
duas noivas, oferecendo-as a outros pietistas, para convertê-los. Casou-se,
depois, e sua mulher lhe deu filhos. Então, ele a deixou para um amigo,
enquanto partia para os Estados Unidos com uma "irmã" jovem que ia
auxiliá-lo na fundação de uma colônia pietista na América. Quando sua mulher
morreu, ele se casou com essa jovem.
3)- A mística pietista, como toda mística gnóstica, incluía elementos
sexuais. O processo teosófico exposto por Boehme, originado da Cabala, tem
conotações desse tipo. Para Boehme, Adão teria sido um ser andrógino que não se
conformando em ser o que era, quis ser o que não era, e, como castigo, Deus
teria separado os sexos, criando a mulher do flanco de Adão. Zinzendorf e
outros pietistas relacionavam a criação de Eva com a chaga do peito de Cristo.
Nas cerimônias nupciais organizadas por Zinzendorf, havia símbolos obscenos
relacionados com essa chaga.
4)- Caracteristicamente, Susana Von Klettenberg, que iniciou Goethe na
Alquimia, desenvolveu toda uma teoria mística do sangue que ela perdia em suas
hemoptises de tuberculosa.Aliás, alquimia e
pietismo eram estreitamente ligados! - "Há um aspecto religioso da alquimia que a tornou especialmente
aceitável para certos membros do movimento pietista. Jacob Boehme, de quem o
movimento pietista derivou muito de sua doutrina, fez largo uso da linguagem
alquímica em seus escritos, e um de seus derradeiros e mais fantásticos
seguidores, Gottfried Arnold, fez extensas citações de trabalhos alquímicos em
sua volumosa "História da Igreja e dos hereges".É possível dizer, pois, que onde quer que o movimento pietista foi forte,
como em Frankfurt, por exemplo, havia igualmente também alguma crença na
validade da alquimia" (Ronald D. Gray - op. cit. p. 4).
5)- A célula pietista funcionava como um microcosmo. Atuar nela, seria atuar
no macrocosmo. Qualquer modificação na célula acarretaria uma modificação no
todo universal, conforme as regras da alquimia."O pietismo havia ensinado que coisas muito grandes podiam ser
feitas operando em pequena escala; as suas células eram pequenas e imensas,
porque tendiam a se tornar auto-suficientes e pareciam encarnar muito
concretamente a concepção mística do 'Uno-Todo', que na Alemanha fundava-se
numa tradição plurisecular freqüentemente subterrânea, mas sempre eficaz" (L. Mittner- op. cit. p. 61).
6)- Mittner afirma ainda que o papel dirigente, assumido em outros países
pelas grandes capitais, em matéria de tonus, cultura, organização, foi
desempenhado na Alemanha pela célula pietista.A mística pietista obrigava o adepto a passar por
uma fase de auto-análise, que levava a pessoa a um profundo sentimento de dor,
de ser nada, até atingir uma "morte" mística. Nesse momento, a graça
irrompia na alma, que então renascia para uma nova vida. A pessoa então
sentia-se jovem, convertida. Daí, as poesias que falam da aurora e da primavera
em que a vida renasce. Essa passagem de uma fase de angústia e de morte para
uma nova vida era denominada "superação".
7)- A vida espiritual pietista procurava também analisar continuamente as
manifestações do Deus oculto na natureza e na alma. Procurava-se, então,
interpretar os "sinais de Deus" nos fenômenos naturais ou nos
movimentos da alma. Por isso, os pietistas produziram uma grande quantidade de
diários íntimos e cartas edificantes.Procurava-se também vaticinar o futuro, abrindo a
Bíblia a esmo e lendo um versículo que manifestaria o futuro, ou a vontade de
Deus.
8)- Cabe um paralelo. Enquanto para o iluminismo o mundo era uma grande
máquina que a luz da razão podia compreender, para o pietismo, em contraste, o
universo era um grande ser vivo, cuja alma era o próprio Deus. A luz não seria
a razão, e sim a beleza do universo, definida como esplendor da alma universal. O misticismo anti-racionalista do pietismo produzia uma aversão a todo
formalismo dogmático e litúrgico. Levava a rejeitar toda igreja constituída,
toda institucionalização e hierarquia.Por isso, os pietistas preferiam reunir-se nas casas, a fazê-lo nas
igrejas. Em suas reuniões, lia-se a Bíblia, cantavam-se hinos sacros,
incentivavam-se as pessoas mutuamente com discursos piedosos. Nessas reuniões
não havia chefes ou presidentes, mas sim um círculo de elementos iguais, no
qual o Espírito se manifestava livremente: Estas células constituíam pequenas
igrejas na Igreja, "ecclesiolae in Ecclesia". Igualitarismo e
ecumenismo eram notas características do pietismo.
9)- Como muitos outros movimentos gnósticos, o pietismo
era milenarista. Já Boehme havia anunciado um reino milenarista que ele chamava
de "tempo dos lírios", "Lilienzeit". Todavia, foi o conde
Zinzendorf o principal "utópico" do pietismo. Ele organizou inúmeras
colônias pietistas chamadas Herrnhut (Proteção de Senhor) na Alemanha, na Rússia
e nos Estados Unidos.
10)- Muitas vezes essas células pietistas se
transformavam em núcleos sociais e econômicos, que punham todos os bens em
comum. Nestes núcleos, tudo era regulado: horários, roupas, orações, trabalho,
refeições, modo de falar. Zinzendorf queria que em suas colônias os móveis não
apresentassem arestas, mas fossem sempre arredondados.Esse "utopismo" pietista vai se prolongar por meio de
Oettinger até os românticos, e, através deles, até Marx.
Se o pietismo era vago e indefinido em sua estrutura e em suas crenças,
isto não significa que ele não tivesse uma organização que era fluída, mas
também secreta. Diz Mittner a esse respeito:"Também os pietistas constituíam uma organização em parte secreta,
não sem um certo gosto, tirânico em Zizendorf, pelo cerimonial de iniciados,
com misteriosos sinais de reconhecimento, complicadas hierarquias com símbolos
conexos, gestos e distintivos" (L. Mittner, op. cit. p. 65)A influência pietista foi imensa na religião, na filosofia e na
literatura alemãs, como também na França, através do Quietismo, seu irmão
gêmeo, e na Rússia, através dos eslavófilos.Se se considerar que o idealismo e o Romantismo
nasceram do pietismo, não se pode deixar de reconhecer sua influência
universal.
Fonte:
Montfort
PRINCIPAIS "DESVIOS VISÍVEIS" DO PENTECOSTALISMO MONTANISTA E PIETISTA?
1)- O enclausuramento do crente com a sua Bíblia e a busca e o
cultivo incessantes da experiência e da comunhão com Jesus levam-no à negação
do mundo de caráter alienante e egoista, voltada unicamente para o benefício
pessoal.Uma relação apenas vertical com Deus, sem a horisontalidade
comunitária.
2)- O espírito pietista, ao desenvolver uma antiteologia, fecha as
portas da reflexão, não permite que as inquietações sociais agitem a
instituição. Desse modo, a instituição, assim como a vivência religiosa do
cotidiano, pode pairar acima das contradições sociais.
3)- Por influência do movimento pietista, experiência e emoção se
tornaram elementos vitais para a existência da fé pentecostal. O sucesso de um culto pentecostal ainda
depende de lágrimas, de alegria ou não, de fortes exclamações de júbilo, de
louvores e de muito barulho.
4)- O silêncio sagrado, qualquer que seja a duração, incomoda
muito num culto pentecostal, em que é freqüente ouvir a expressão: “lugar de
silêncio é no cemitério”. Esta última sem dúvidas, foi uma das maiores perdas do fundamentalismo pentecostal!
1 Reis 19,11-13: "O Senhor lhe disse: "Saia e fique no monte, na presença do Senhor, pois o Senhor vai passar". Então veio um vento fortíssimo que separou os montes e esmigalhou as rochas diante do Senhor, mas o Senhor não estava no vento. Depois do vento houve um terremoto, mas o Senhor não estava no terremoto. Depois do terremoto houve um fogo, mas o Senhor não estava nele. E depois do fogo houve o murmúrio de uma brisa suave. Quando Elias ouviu, puxou a capa para cobrir o rosto, saiu e ficou à entrada da caverna. E uma voz lhe perguntou: O que você está fazendo aqui, Elias?... "
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