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#Fenômenos paranormais: "entre a Parapsicologia e a Fé"

Written By Beraká - o blog da família on quinta-feira, 31 de outubro de 2024 | 13:49


(foto reprodução)

 


Por Vanderlei de Lima 

 

 

Os estudiosos, via de regra, dividem os fenômenos que a Parapsicologia examina em extranormais, paranormais, ou supranormais, e quanto aos seus efeitos, em físicos, psíquicos, ou mistos.





Parapsicologia é um termo formado a partir da junção de duas palavras gregas: para (ao lado de) e psique (alma). Interessa-se, pois, por fenômenos paranormais, isto é, que ocorrem ao lado dos normais e não são, por isso, abarcados pela Psicologia. Surgida no final do século XVIII com o nome de Metapsíquica (além do psíquico), esse tipo de pesquisa foi sendo aperfeiçoado e reformulado até receber, em 1934 – graças a Joseph Banks Rhine, médico, pesquisador e autor da obra Extra-sensory perception, publicada, nos Estados Unidos, naquele mesmo ano –, o nome de Parapsicologia. Ela é, como se vê, uma linha de pesquisa um tanto recente, e, deste modo, se ocupa de todos os tipos de fenômenos tidos como enigmáticos ao longo da História. Logo, os relatos da magia pré-histórica, os cultos ao demônio, a necromancia medieval, a astrologia, as sociedades secretas, os fenômenos do espiritismo atual, etc. interessam a esse novo ramo do saber (cf. Bruno Fantoni. Magia e Parapsicologia. 2ª ed. São Paulo: Loyola, 1981). 









Dito isto, recordemos que, no Brasil, cinco religiosos ficaram muito conhecidos, ainda que com estilos e finalidades um pouco diferentes, no interesse pela Parapsicologia: 




1)-Frei Boaventura Kloppenburg, OFM († 2009) 



2)-Frei Albino Aresi, OFM Cap. († 1988) 



3)-Padre Oscar Quevedo, SJ († 2019)



4)-Pe. Edvino Friderichs, SJ († 1995)



5)-Dom Estêvão Bettencourt, OSB († 2008). 




Ressalte-se que este último não fez pesquisas de campo, mas reuniu, com notas e acréscimos, suas contribuições sobre o assunto na obra "Sobre o ocultismo" (Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, 1990. Relançamento atualizado em 2016). 







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Voltando ao termo em si, o Pe. Quevedo nos dá esta definição: 




“A Parapsicologia é a ciência que tem por objeto a constatação e análise dos fenômenos à primeira vista inexplicáveis, mas possivelmente resultado de faculdades humanas” (A Face oculta da mente. 27ª ed. São Paulo: Loyola, 1979, p. 33). 




Isto é: O parapsicólogo é um pesquisador que analisa ocorrências misteriosas e sem uma explicação plausível à primeira vista, mas que provavelmente (a correta análise o confirmará ou não) são frutos de faculdades humanas. O padre, no entanto, acrescenta: 



“Pode ser que depois das investigações se comprove que tal determinado fenômeno supere as forças humanas... É então sobre-humano” (O que é a Parapsicologia. 32ª ed. São Paulo: Loyola, 2000, p. 22). Por sobre-humano entenda-se, aqui, a ação de Deus, sobretudo por meio dos milagres, muito valorizados por Quevedo, e do demônio, embora sua ação – não a sua existência – seja negada pelo padre jesuíta (cf. O que é a Parapsicologia, p. 99-103 e p. 113-118). Os estudiosos, via de regra, dividem os fenômenos que a Parapsicologia examina em extranormais, paranormais ou supranormais e quanto aos seus efeitos em físicos, psíquicos ou mistos (cf. Sobre o Ocultismo, 2016, p. 34-36). 



São extranormais 




Os que, embora misteriosos e em manifestações extraordinárias, não superam as faculdades e os sentidos já conhecidos pela ciência tradicional. Aí estão os feitos capazes de observações fisiológicas ou materiais: a hiperestesia, a telergia, a telecinesia etc. 




Os paranormais já supõem a existência e a ação da alma humana espiritual no homem e na mulher. Têm-se, aqui, os fenômenos de ordem imaterial: precognição, adivinhação, telepatia etc. 



Os "supranormais" se devem a uma força sobre-humana que não encontra explicação plausível na Parapsicologia. 



Enfim, crendo ter ficado claro os prodígios de efeitos físicos e psíquicos, dizemos que os mistos (psicofísicos) unem a ambos: são estigmas, feitiços etc. 




Dentro da imensidão do assunto, cabe-nos, ainda, frisar dois tópicos práticos: 



1º) a Parapsicologia deve contar com o apoio de outras áreas do saber, sobretudo da Psicologia, da Medicina, da Teologia e da Mágica. Afinal, o primeiro ponto a ser considerado no estudo de um fato misterioso é o do truque (Ilusionismo), especialmente se ocorrer com hora marcada, dado ser o fenômeno parapsicológico humanamente incontrolável. 



2º) A possessão diabólica é – dentro dos limites exigidos – aceita pela Igreja (cf. Catecismo da Igreja Católica n. 1673). Deste modo, enquanto católicos, não seguimos, neste ponto, Quevedo, mas sim, Kloppenburg, Bettencourt e Aresi. Não podemos ignorar os documentos da Igreja para abraçar as teses do Pe. Quevedo.









Faleceu, no dia 9 de janeiro de 2009,  o Padre Oscar Gonzáles Quevedo, religioso jesuíta, psicólogo, parapsicólogo de fama mundial, filósofo e doutor em Teologia com vários livros publicados. Suas exposições, no entanto, têm pontos controversos no confronto entre a Parapsicologia e a Fé, conforme veremos, de modo breve logo abaixo.



A respeito da origem da alma humana, Quevedo ensinava que, "assim como da roseira vem uma roseirinha, do coelho nasce um coelhinho com a mesma natureza de seus genitores, o pai e a mãe geram, no ato sexual, um ser humano completo com corpo e alma". 




Que dizer? – Devemos dizer que há falhas teológicas muito graves aí!





As plantas e os animais irracionais são seres puramente materiais e têm, portanto, a mesma natureza material dos genitores. Só o ser humano tem corpo material e alma espiritual.




Ao tratar do ser humano, a tese de Quevedo é a do monismo (uma só coisa: corpo e alma formam um todo único), funda-se, ao que parece, em um pensamento antigo chamado de traducionismo (do latim, tradux,cis: transmitir), defensor de que os pais transmitem aos filhos, por meio do espermatozoide e do óvulo, não só o corpo, mas também a alma espiritual. Ora – por pura lógica – da matéria não pode provir o espírito. Matéria só gera matéria! A Igreja defende a dualidade, ou seja, o ser humano é formado de corpo material e alma espiritual (corpo + alma = pessoa). 





Duas realidades distintas que se unem, em harmonia, sem se confundirem. Daí, dizer o Catecismo da Igreja Católica, n. 336, que: 




“Cada alma espiritual é diretamente criada por Deus – não é produzida pelos pais – e é imortal” (cf. Pio XII. Encíclica Humani generis, 1950; Denzinger-Schönmetzer (DS) 3896; Credo do Povo de Deus, 8, e V Concílio de Latrão, 1513; DS 1440).




Outro ponto é consequência muito direta do primeiro, pois trata da morte. Dizia Quevedo: 




“À medida que vamos morrendo, vamos ressuscitando. A mesma alma, com o mesmo corpo, embora em outra situação: um corpo ‘espiritual’. Nem por um instante a alma é separada do corpo”. Em outras palavras, nega-se a clássica definição de morte, a sobrevivência da alma sem o corpo e a ressurreição da carne só no fim dos tempos.





Respondemos, com a Igreja, o que segue: 





“Na morte, separação da alma e do corpo, o corpo do homem cai na corrupção, enquanto a sua alma vai ao encontro de Deus, embora ficando à espera de se reunir ao seu corpo glorificado. Deus, na sua onipotência, restituirá definitivamente a vida incorruptível aos nossos corpos, unindo-os às nossas almas pela virtude da ressurreição de Jesus” (Catecismo da Igreja Católica n. 997). Logo se vê que cada afirmação do Catecismo contraria as teses de Quevedo.




Com efeito, diz o parapsicólogo que: 





“nem por um instante a alma é separada do corpo!”




Ao passo que o Catecismo define a morte como a “separação da alma e do corpo”




A ressurreição da carne é verdade de fé (“Deus, na sua onipotência, restituirá definitivamente a vida incorruptível aos nossos corpos, unindo-os às nossas almas pela virtude da ressurreição de Jesus”), mas não ocorre, imediatamente, após à morte, como pensava Quevedo (“À medida que vamos morrendo, vamos ressuscitando”), pois, na morte real, o corpo material se decompõe e a alma espiritual, indestrutível como é, volta para Deus, seu criador. 




O Catecismo Católico ensina que: 





Após a morte, “a alma vai ao encontro de Deus” e entra no céu, no inferno ou se purifica no purgatório a fim de receber o céu. Portanto, é capaz de viver sem corpo, como já afirmou várias vezes a Igreja (cf. Carta da Congregação para a Doutrina da Fé aos Bispos sobre questões referentes à Escatologia, 17/05/1979, n. 3 e 6, em especial).




O Catecismo diz, ainda, que:



Embora só, a alma fica “à espera de se reunir ao seu corpo glorificado”. E quando se dará essa ressurreição? – “Definitivamente, ‘no último dia’ (Jo 6,39-40.44.54;11,24), no fim do mundo”, pois a ressurreição da carne – termo clássico do Credo – está associada à vinda gloriosa de Cristo (cf. Catecismo da Igreja Católica n. 1001; Lumen Gentium, 48; 1Ts 4,16).




Por esta breve exposição, vê-se que não podemos ignorar os documentos da Igreja para abraçar as teses do Pe. Quevedo, exímio parapsicólogo, mas falho enquanto teólogo. É triste que o Pe. Quevedo, afamado parapsicólogo, tenha se deixado levar por opiniões subjetivas. O Padre Oscar Gonzáles Quevedo, religioso jesuíta, psicólogo, parapsicólogo de fama mundial, filósofo e doutor em Teologia com vários livros publicados, faleceu no dia 9 de janeiro de 2019. Suas exposições, no entanto, têm pontos controversos no confronto entre a Parapsicologia e a Fé, conforme vimos no último artigo sobre a origem e o fim da vida humana.





 


 




Trataremos agora, de modo sucinto, dos anjos e, em especial, dos demônios aos quais Quevedo negava a atuação no mundo, mas não a existência, que é claríssima verdade de fé (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 328). 




Ao negar, no entanto, a ação dos anjos bons, aqui, Quevedo se opõe a tudo o que o Catecismo propõe, a partir da Escritura e da Tradição, sobre esses seres espirituais, nos parágrafos n. 325-336. No 336, ensina sobre os anjos bons que:



“desde o seu começo até à morte, a vida humana é acompanhada pela sua assistência e intercessão. Cada fiel tem a seu lado um anjo como protetor e pastor para o guiar na vida (S. Basílio. Ad Eunomium 3,1: PG 29,656B). Desde este mundo, a vida cristã participa, pela fé, na sociedade bem-aventurada dos anjos e dos homens, unidos em Deus. Portanto, os anjos bons agem neste mundo”.




Sobre a "ação do diabo" o Catecismo também é muito claro! Ensina em seu n. 394 que:




“a Escritura atesta a influência nefasta daquele que Jesus chama ‘o assassino desde o princípio’ (Jo 8,44), e que chegou ao ponto de tentar desviar Jesus da missão recebida do Pai. ‘Foi para destruir as obras do Diabo que apareceu o Filho de Deus’ (1Jo 3,8). 




Dessas obras, a mais grave em consequências foi a mentirosa sedução que induziu o homem a desobedecer a Deus” - Mais: 




“No entanto, o poder de Satanás não é infinito. Satanás é uma simples criatura, poderosa pelo fato de ser puro espírito, mas, de qualquer modo, criatura: impotente para impedir a edificação do Reino de Deus. Embora Satanás exerça no mundo a sua ação, por ódio contra Deus e o seu reinado em Jesus Cristo, e embora a sua ação cause graves prejuízos – de natureza espiritual e indiretamente, também, de natureza física – a cada homem e à sociedade, essa ação é permitida pela divina Providência, que com força e suavidade dirige a história do homem e do mundo. A permissão divina da atividade diabólica é um grande mistério. Mas ‘nós sabemos que tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus’ (Rm 8,28)”. Portanto, os anjos maus – e não só um deles (cf. Mt 25,41) – agem no mundo.




Cristo, Nosso Senhor, realizou exorcismos a fim de enfrentar o poder diabólico (cf. Mt 9,32-34; 12,22-24; 15,21-28; Mc 1,23-28; Lc 8,28-29; 13,10.17; ver Catecismo da Igreja Católica n. 517 e 550) e vencê-lo, nunca para adaptar-se, de modo falso, a uma mentalidade errônea da época. 



Afinal, o Senhor Jesus é a própria Verdade (cf. Jo 14,6), não um palhaço de circo que buscava apenas louvores da plateia. Esse poder de exorcizar foi dado por Cristo também, à Sua Igreja, e ela tem até hoje, nunca abolido – como dizia Quevedo – Ritual de Exorcismo, publicado em edição revista no ano de 1999.









Que diz o Catecismo sobre o Exorcismo? 




Diz que “quando a Igreja pede publicamente e com autoridade, em nome de Jesus Cristo, que uma pessoa ou objeto seja protegido contra a ação do Maligno e subtraído ao seu domínio, fala-se de exorcismo. Jesus praticou-o e é d’Ele que a Igreja obtém o poder e encargo de exorcizar. Sob uma forma simples, faz-se o exorcismo na celebração do Batismo. 



O exorcismo solene, chamado ‘grande exorcismo’, só pode ser feito por um presbítero e com licença do bispo! 



Deve proceder-se a ele com prudência, observando estritamente as regras estabelecidas pela Igreja. O exorcismo tem por fim expulsar os demônios ou libertar do poder diabólico, e isto em virtude da autoridade espiritual que Jesus confiou à sua Igreja. Muito diferente é o caso das doenças, sobretudo psíquicas, cujo tratamento depende da ciência médica. Por isso, antes de se proceder ao exorcismo, é importante ter a certeza de que se trata de uma presença diabólica e não duma doença” (n. 1673).




É triste que o Pe. Quevedo, afamado parapsicólogo, tenha se deixado levar por opiniões subjetivas e, portanto, destoantes da Igreja, enquanto teólogo.




Fonte - https://pt.aleteia.org/2019/01/22/padre-quevedo-entre-a-parapsicologia-e-a-fe-ii









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