O que é Evangelizar para a Igreja?
“Evangelizar,
para a Igreja, é levar a Boa Nova a todas as parcelas da humanidade, mas
para a Igreja não se trata tanto de pregar o Evangelho a espaços geográficos
cada vez mais vastos ou populações maiores em dimensões de massa, mas de chegar
a atingir e como que a modificar pela força do Evangelho os critérios de
julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de
pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade, que se
apresentam em contraste com a Palavra de Deus e com o desígnio da
salvação.” (Evangelii Nuntiandi Nº 18-19. Papa Paulo VI)
Falar sobre a responsabilidade social da igreja nos leva a falar primeiramente sobre a missão da igreja. Você já parou para pensar por quê e para quê existe a igreja? Esta é uma das perguntas mais importantes que você pode fazer a si mesmo(a). A sua resposta levará a responder outras perguntas também importantes: Por que ser membro de uma igreja? Por que trabalhar na igreja? Em que devo investir meu tempo, bens e recursos?
Geralmente, a missão da igreja é entendida como sendo a de “ganhar almas” e promover o seu próprio crescimento, buscar a multiplicação de crentes e igrejas. E nesta perspectiva, o envolvimento social é visto como um “desvio” da tarefa principal da igreja, que é a evangelização. O que você pensa sobre isto? O que dizem as escrituras, a tradição e o sagrado magistério da Igreja? O Reino é o governo soberano de Deus sobre todas as coisas – O Reino de Deus não se refere tanto a uma região ou local onde Deus reina, mas à sua autoridade soberana sobre “todas as coisas”, tanto no céu como na terra, visíveis e invisíveis; as coisas do presente e as coisas que hão de vir. No A.T., Israel concebia Deus não só como o Criador de todas as coisas (Gn.1,1; Sl.29,10; 97,1; 103,19), mas também como o Rei soberano sobre todas as nações (Sl.47; 93; 96-99; 145,13). Ele é o Senhor da História, cujo domínio está acima do domínio de todos os homens (Dn 4,17-25.32; 5,21).
Jesus Cristo é a entrada decisiva do
Reino na história humana – O Reino de Deus é o Reino “de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (Ap.11,15). As Boas Novas são de que, em Jesus Cristo, o Reino de Deus
se tornou visível e presente, em amor e poder, embora ainda não em sua
plenitude (Mt.11,5). O Reino é o poder de Deus atuando para salvar e libertar as pessoas
do poder de Satanás (Mt.12,28; Lc.11,20), para curar (Mc.10,46-52), para
perdoar pecados (Mc.2,1-12), para desmascarar e expulsar o maligno (Lucas 11,20). Seu poder é mostrado decisivamente na morte e
ressurreição de Jesus (Cl.1,19,20).
O Reino de Deus promove uma nova ordem social e moral
Uma humanidade reconciliada e um meio ambiente baseados no amor, na justiça, na santidade, na paz (Is.32,17). Ele promete nada menos que a renovação radical da sociedade, “novos céus e nova terra, nos quais habita a justiça”(II Pe.3,13). Como Paulo diz repetidas vezes (Ef. 1,9-10; Cl.1,20; II Cor.5,19), o plano de Deus é “unir”, “reconciliar” ou “encabeçar” todas as coisas em Cristo Jesus (Efes. 1,10).Basicamente, o Reino refere-se à reconciliação em todas as esferas da existência humana. O Plano de Deus, então, inclui a redenção da vida em todas as suas dimensões. A missão integral da igreja comporta portanto, a dimensão sociológica, existencial e soteriológica.
Dentro desta visão, a igreja tem um chamado duplo:
1) Como agente do Reino, a igreja é chamada a proclamar o Senhor Jesus, o seu evangelho e os valores do Reino, e não ideologias ou lideranças, por mais bem intencionadas que sejam. O cerne da sua proclamação é o anúncio de que, por meio da cruz, há possibilidade de reconciliação com Deus, consigo mesmo e com o próximo.
2) A igreja é chamada também para realizar as “boas obras que Deus preparou de antemão para que as realize” (Ef. 2,10), pois para isso foram criada. Fomos salvos para as boas obras! Sem elas pereceremos (Mateus 25,42). Por meio delas, o Reino se torna historicamente visível como uma realidade presente. A esta dimensão tem se chamado de responsabilidade social dos Cristãos e da Igreja. Nesta perspectiva do Reino, a justiça e o testemunho evangelístico estão necessariamente ligados, não podendo desvincular-se um do outro sem sérios prejuízos para o cumprimento da missão. E elas só podem entender-se à luz do fato de que Deus entrou na história, na Pessoa de Cristo, e de que o poder de Deus está atuando para restaurar a totalidade da vida humana.
O que vem primeiro: evangelização ou responsabilidade social?
Esta é uma discussão polêmica. Não vamos entrar aqui no mérito da questão colocando-a de forma antagônica, mas afirmar algumas questões: Primeiro, reconhecemos que a necessidade mais ampla e mais profunda de todo ser humano é um encontro pessoal com Jesus Cristo. O serviço da evangelização abnegado figura como a tarefa mais urgente da igreja. No entanto, o evangelho é boa nova do Reino, e o Reino é domínio de Deus sobre a totalidade da vida humana. Cada necessidade humana, portanto, pode ser usada pelo Espírito Santo como ponto de partida para a manifestação do poder do Reino. Onde há necessidade de perdão, de palavras de consolo; onde há problema de alcoolismo, de drogas, de violência contra a criança, de desumanização da mulher, de falta de trabalho, de abuso dos direitos humanos, de exploração dos mais fracos, enfim, onde há necessidade humana, aí a igreja tem que atuar. Na prática, é irrelevante perguntar o que vem primeiro. Em cada situação concreta, as próprias necessidades provém a definição das prioridades. Se evangelização e responsabilidade social são consideradas essenciais em determinada missão, não necessitaremos de um manual que nos diga o que vem primeiro e o que vem depois.
Vale a pena ressaltar aqui que nem as boas
obras e nem a proclamação são, por si só, persuasivas aos não-crentes acerca da
verdade do evangelho. Mesmo as obras realizadas por Jesus foram rejeitadas,
muitas vezes. Na verdade, nem o ver nem o ouvir necessariamente produzem fé.
Tanto a palavra como a ação apontam para o Reino, mas ninguém pode dizer:
“Senhor Jesus!” senão pelo Espírito de Deus (I Co.12,13).
A igreja AINDA não é o Reino, mas UMA SEMENTE E SETA QUE aponta para o
Reino, dá sinais da sua presença - É interessante atentar como a
igreja dá esses sinais do Reino de Deus:
-Por permear a sociedade não-cristã, progressivamente, com a verdade de Cristo e os valores morais da revelação cristã.
-Por sustentar a esperança e a visão de uma ordem justa, baseada na paz, no amor e no respeito mútuo, pela terra e por todos os seres humanos.
Quando a igreja, efetiva e autenticamente,
combina seu testemunho evangelístico e profético, com uma visão ampla do Reino,
sua vida e ministério passam a apontar para a realidade do Reino de Deus. E não
só isso. A igreja passa a despertar a esperança pela vinda plena do Reino, numa
sociedade cada vez mais desesperançada e que geme por libertação.
Anunciar o Evangelho a todos
“Enviada por Deus às nações, para ser como que sacramento universal da salvação, a Igreja, em virtude das exigências íntimas
da sua própria catolicidade e em obediência ao mandamento do seu fundador,
procura, incansavelmente, anunciar o Evangelho a todos os homens. “Ide, pois,
fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo quanto vos mandei. E eis que Eu
estou convosco todos os dias, até ao fim do mundo.” (Mt 28,19-20 - cf. CIC p.
849)
Chamados a imitar Cristo
Como membros do corpo místico da Igreja, devemos assumir a missão como o motivo principal da nossa existência. Somos chamados, a partir do nosso batismo, a imitarmos Cristo, fazendo parte da redenção no mistério da Cruz vivido pelo Crucificado, levando a salvação a todos, como diz São Paulo aos Colossenses 1,24: “Completo o que falta às tribulações de Cristo em minha carne pelo seu Corpo, que é a Igreja.” Salvar almas! Essa foi a missão que os santos assumiram em suas vidas, cada um conforme o carisma e vocação que eram chamados, mas com o mesmo objetivo: salvar almas! Seja na penitência, na oração, no anúncio do Evangelho ou na caridade, tudo isso é para a salvação dos filhos de Deus.
O amor é o combustível da missão
“É ao amor de Deus por todos os homens que, desde sempre, a Igreja vai buscar a obrigação e o vigor do seu ardor missionário: ‘Porque o amor de Cristo nos impele’ (2Cor 5,14). E é por acreditar no desígnio universal da salvação que a Igreja deve ser missionária.” (cf. CIC p.851). É por amor que renovamos nossas forças e nos colocamos a caminho de outros corações, onde Jesus deseja fazer morada. Àqueles que já experimentaram desse encontro pessoal com o Senhor, também se revestem desse ardor de querer fazer Jesus conhecido a todos. Podemos até fazer uma analogia. Os missionários são como “navios”, movidos pelo combustível do amor, que precisam chegar à terras a serem conquistadas, que são os corações humanos.Mas a missão só é possível de ser realizada pela condução do Espírito Santo, que nos capacita. Por isso, em cada missão, peçamos o auxílio d’Ele. Somente movidos pelo Espírito de Deus chegaremos onde precisamos evangelizar! Em um mundo cada vez mais relativista e paganizado, com uma agenda de preocupações materialista e fútil, muitos podem questionar se a Igreja ainda tem alguma Missão nesta terra. Sim, pois às vezes pode parecer que não adianta querer melhorar este mundo, que ele não tem mais jeito. Ou então de nenhum esforço será suficiente.Para chegarmos à resposta, primeiro devemos considerar que a Missão da Igreja é cumprir as ordens de seu Fundador: IDE POR TODO MUNDO E PREGAI O EVANGELHO! Há mais de dois milênios a Igreja vem cumprindo sua tarefa. Os críticos, como sempre, argumentarão negativamente citando as falhas católicas ao longo dos tempos. Este anti-catolicismo barato, com argumentos de boteco, faz questão proposital de esquecer que não há instituição humana perfeita. Cristo é divino, mas seus discípulos são humanos.Um segundo aspecto a considerar é que a Igreja já se provou atemporal, pois atravessa os séculos, bem como sobrenatural, pois mesmo os céticos de má vontade abismal hão de reconhecer o legado místico e espiritual da Igreja, que deu sim valiosas contribuições à humanidade. Outra coisa a refletir, já que mencionamos contribuições, são os valores humanos, baseados no Evangelho, que a partir da Igreja foram propagados pelo mundo inteiro, principalmente em relação à sacralidade da vida humana e ao cuidado dos pobres, dos encarcerados, dos enfermos, dos abandonados, dos marginalizados, etc. Esta sempre foi a opção preferencial de Cristo e da Igreja, desde sempre.Enfim é necessário reconhecer, com o mínimo de boa vontade e honestidade intelectual, que se hoje existem hospitais e universidades, orfanatos e asilos, clínicas de recuperação e outras estruturas voltadas ao bem dos seres humanos, isto e muito mais deve ser creditado, com o devido mérito, ao trabalho de milhões de católicos que deram a vida, muitas vezes o próprio sangue, para cumprir a vontade de Cristo. Pelas considerações acima expostas, torna-se cristalino que a Igreja tem, sim, sua Missão no mundo: ontem, hoje e sempre. Ela continua envolvida e solidária às grandes preocupações da humanidade, constantemente oferecendo como alternativa soluções baseadas na doutrina de Cristo, nos ensinamentos da Sagrada Escritura e na sua experiência prática bimilenar contida em seu Magistério.Portanto, quem pensa que a Igreja não tem mais serventia no mundo atual está possuído por uma ignorância quase invencível. Vive uma utopia quem pretende varrer a Igreja para debaixo do tapete da História. Revela-se desconectado da realidade quem deseja a extinção da Igreja, dos católicos e do Cristianismo.Responsável por tantas formas de colaboração com a humanidade, a Igreja tem, entretanto, uma Missão que é a maior entre todas: salvar almas! Toda boa ação, toda iniciativa positiva e toda obra louvável, realizadas pela Igreja ultrapassam a mera questão social e humanitária. Toda caridade incentivada visa à evolução do espírito humano e sua comunhão mais perfeita, no amor-caridade, com o espírito do Cristo Ressuscitado.A Missão da Igreja, portanto, é levar almas para a eternidade no Céu. Esta é a vontade suprema de Jesus e foi por essa causa que ele aceitou livremente sacrificar-se na cruz. O Nazareno veio para nos salvar da morte eterna, da danação infernal e do pecado!Como já alertou certa vez o Papa Francisco, não é Missão da Igreja ser uma grande ONG da fé. O bem que fazemos é por genuíno amor ao próximo. É certo que ninguém, nenhum grupo, pode reivindicar o monopólio da caridade. Mas também não se pode falsear a realidade, pois contra fatos não existem argumentos: a Igreja Católica Apostólica Romana é a instituição humana que há mais tempo e com mais obras pratica a caridade neste planeta, gostem ou não. Assim a Igreja segue cumprindo a sua Missão: com os pés no chão da realidade terrena, mas a alma voltada para a realidade celeste naquela saudável tensão escatológica entre a igreja real e ideal, entre o já e o não ainda.
QUAL O MAIOR DESAFIO DA IGREJA HOJE ?
“Certamente, a Igreja já fez, está fazendo muito no campo
social, e precisará fazer mais ainda. Mas, é preciso que fique claro: não é
essa a missão originária, "própria” da Igreja, como repete expressamente o
Vaticano II (cf. GS 42,2; e ainda 40,2-3 e 45,1). A missão social é,
antes, uma missão segunda, embora derivada, necessariamente, da primeira, que é
de natureza "religiosa”. Essa lição nunca foi bem compreendida pelo
pensamento laico. Foram os Iluministas que queriam reduzir a missão da Igreja à mera função social. Daí terem
cometido o crime, inclusive cultural, de destruírem celebres mosteiros e
proibido a existência de ordens religiosas, por acharem tudo isso coisa
completamente inútil, mentalidade essa ainda forte na sociedade e até mesmo
dentro da Igreja. Agora, se
perguntamos: Qual é o maior desafio da Igreja?, Devemos responder: É
o maior desafio do homem: o sentido de sua vida. Essa é uma questão que
transcende tanto as sociedades como os tempos. É uma questão eterna, que,
porém, hoje, nos pós-moderno, tornou-se, particularmente angustiante e
generalizada. É, em primeiríssimo lugar, a essa questão, profundamente
existencial e hoje caracterizadamente cultural, que a Igreja precisa responder,
como, aliás, todas as religiões, pois são elas, a partir de sua essência, as
"especialistas do sentido”. Quem não viu a gravidade desse desafio,
ao mesmo tempo existencial e histórico, e insiste em ver na questão social
"a grande questão”, está "desantenado” não só da teologia, mas também
da história.”- (Frei Clodovis M. Boff).
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