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A burguesia e o proletariado no banco dos réus! Qual o julgamento da história? Inocentes ou culpados?

Written By Beraká - o blog da família on quinta-feira, 26 de maio de 2022 | 15:26



 

(foto reprodução - Mises Brasil)



O que catalisa o melhor e pior de nós? Uma sociedade burguesa-capitalista? Ou uma sociedade proletária-comunista? O que a história nos mostra?

 

 

 

 

DEFININDO BURGUESIA E PROLETARIADO

 


 

 

1)-Proletariado (do latim proles, “filho, descendência, progênie”) é um conceito usado para definir a classe oposta à classe capitalista. O proletário consiste daquele que não tem nenhum meio de vida exceto sua força de trabalho (suas aptidões), que ele vende para sobreviver.O proletário se diferencia do simples trabalhador, pois este último pode vender os produtos de seu trabalho (ou vender o seu próprio trabalho enquanto serviço), enquanto o proletário só vende sua capacidade de trabalhar (suas aptidões e habilidades humanas), e, com isso, os produtos de seu trabalho e o seu próprio trabalho não lhe pertencem, mas àqueles que compram sua força de trabalho e lhe pagam um salário. A existência de indivíduos privados de propriedade, privados de meios de vida, permite que os capitalistas (os proprietários dos meios de produção e de vida) encontrem no mercado um objeto de consumo que age e pensa (as capacidades humanas oferecidas no mercado de trabalho), que eles consomem para aumentar seu capital. Ao vender sua força de trabalho, o proletário ajuda a gerar bens para a população e aumenta suas habilidades como trabalhador, possibilitando que cobre cada vez mais pela força de seu trabalho. O comprador (o capitalista) comanda o trabalho do proletário e se apropria de seus produtos para vendê-los no mercado. A palavra proletariado define o conjunto dos proletários considerados enquanto formando uma classe social. A origem da palavra "proletariado" remonta à Roma Antiga, o rei Sérvio Túlio (século VI a.C.) usou o termo proletários (proletarii) para descrever os cidadãos de classe mais baixa, que não tinham propriedades e cuja única utilidade para o Estado era gerar proles (prole) para engrossar as fileiras dos exércitos do império. O termo proletário foi utilizado num sentido depreciativo até que, no século XIX, socialistas, anarquistas e comunistas utilizaram-no para identificar a classe dos sem propriedade de meios de vida do capitalismo industrial. A ideia de proletariado como uma classe antagônica à dos capitalistas surgiu no século XIX, quando operários conseguiram pela primeira vez organizar greves de dimensões consideráveis e questionar a situação em que viviam de maneira que, para muitos, suas exigências eram irreconciliáveis com a sociedade capitalista. Os proletários desenvolveram ideias comunistas, socialistas e anarquistas que depois ficaram conhecidas através de autores como Karl Marx, Mikail Bakunin e Piotr Kropotkin. Essas ideias desenvolveram-se pela sistematização do objetivo que emergia espontaneamente nas lutas proletárias que era o de estabelecer uma Livre associação de produtores. Do fim do século XIX até meados do século XX, mediante a pressão constante das lutas radicais dos operários, os Estados de diversos países resolveram conceder direitos trabalhistas e regular os sindicatos, que passaram a ser instituições de negociação entre o Estado, os empresários e os operários. Em 1917, na Rússia, também mediante a pressão de lutas radicais dos operários, os bolcheviques tomaram o poder do Estado usando o nome do proletariado, que, no entanto, foi massacrado por eles e submetido a um regime de trabalho militarista que, na opinião de anarquistas e comunistas de conselhos, não tem absolutamente nada a ver com as reivindicações dos proletários, os quais, em suas lutas, sempre se opuseram à intensificação do trabalho, à ditadura dos chefes e à própria escravidão assalariada. De meados do século XX até o presente, o Estado conseguiu administrar o antagonismo proletário a ponto de aparentemente dissolvê-lo (através de diversas medidas, tais como: leis trabalhistas, a transformação dos sindicatos em mediadores entre capitalistas e trabalhadores, repressão, dissolução do internacionalismo proletário nos nacionalismos e demais conflitos interburgueses), fazendo o proletariado ser hoje dificilmente reconhecível na superfície da sociedade. Alguns afirmam que a luta proletária continua, mas de forma subterrânea e invisível, enquanto não ocorre o momento histórico-mundial propício para sua emergência. Atualmente, nos pontos capitalistas mais avançados do globo (países desenvolvidos ou cidades/bairros/regiões desenvolvidas de países pouco desenvolvidos), o proletariado tem padrão de vida muito superior em relação às suas condições do início da Revolução Industrial, quando jornadas de mais de doze horas e a intensa utilização de mão-de-obra infantil eram a regra. Em geral, os órgãos de estatística estatais e privados classificam como "classe média" esse grupo social.

 

 

 

(o que é mais prudente? Luta ou conciliação de classes?)

 

 

1)-Burguesia é um termo com vários significados históricos, sociais e culturais. A palavra se origina do latim burgus, significando "cidade", adaptada para várias línguas europeias. Burgueses, por extensão, eram os habitantes dos burgos, em diferenciação aos habitantes do campo. Na Idade Média o conceito se limitou a uma específica classe social formada nos burgos, conhecida como a burguesia propriamente dita, que detinha o direito de cidadania, o qual acarretava vários privilégios sociais, políticos e econômicos. Com o passar do tempo esta classe tomou o poder nas cidades, excluiu a nobreza feudal de todas as funções públicas, e em muitas das cidades mais importantes, seu estrato superior passou a formar uma nova nobreza hereditária. A partir de fins do século XVIII o conceito de burguesia foi redefinido por sociólogos, economistas e historiadores, referindo-se a uma classe detentora de uma cultura particular, meios econômicos baseados em capitais e uma visão materialista do mundo. Na difundida teoria de Karl Marx, o termo passou a denotar a classe social que detém os meios de produção de riqueza, e cujas preocupações são a preservação da propriedade e do capital privados (lucro), a fim de garantir a sua supremacia econômica na sociedade em detrimento do proletariado. Na teoria social contemporânea o termo denomina a classe dominante das sociedades capitalistas. Para muitos autores a diversidade de significados e atributos ao longo do tempo e nas várias regiões assinala o caráter polimorfo da burguesia e a controvérsia acadêmica que a cerca atesta a dificuldade de defini-la com precisão. Na contemporaneidade o termo é atribuído a um grande espectro de grupos sociais que nutrem ideologias e interesses muito diversos e se originam de condicionantes e contextos igualmente diferenciados.

 

 

 

 


 

 

 

O livro Leave Me Alone and I'll Make You Rich: How the Bourgeois Deal Enriched the World (Deixe-me em paz e eu enriquecerei você: como o Acordo da Burguesia tornou o mundo mais rico), escrito por Deirdre N. McCloskey e Art Carden, é um notável esforço para explicar aquele que é um dos mais impressionantes e misteriosos fatos da história do mundo. Até o ano 1800, praticamente todos os indivíduos viviam na mais abjeta pobreza. E então, como que por milagre, a partir do ano 1800, começou a haver um rápido e intenso aumento no padrão de vida médio ao redor do mundo.

 

 

 


 

 

 

Os autores rotulam esta súbita reviravolta de O Grande Enriquecimento. "O Enriquecimento foi realmente muito muito 'grande': três mil por cento por pessoa". Os autores apresentam uma tese original. Segundo eles, "Foi a liberdade humana — e não a coerção, ou os investimentos ou mesmo a própria ciência — o que possibilitou o Grande Enriquecimento, de 1800 até hoje". O livro é um condensado, feito por Carden, de três amplos volumes escritos por McCloskey (veja o primeiro, o segundo e o terceiro volumes). McCloskey é uma das principais historiadoras econômicas do mundo, especialmente conhecida por sua notável obra sobre a economia britânica do século XIX. O melhor do livro está nas refutações a várias teorias já apresentadas para este Grande Enriquecimento. De acordo com o marxismo, o capitalismo surgiu e se expandiu por meio do esbulho e da escravidão. McCloskey e Carden rebatem com esta devastadora objeção:

 

 

 

 

"A exploração imperialista foi a ação menos original que os europeus fizeram após 1492. Escravidão e impérios já eram coisas corriqueiras e comuns à época; no entanto, nunca haviam produzido nenhum Grande Enriquecimento. O comércio de escravos ao longo da costa leste da África, que enviava escravos negros para os mercados do Cairo e de Constantinopla/Istambul, era tão amplo quanto o da costa oeste. … E, ainda assim, o comércio oriental não tornou o Egito ou os Impérios Otomano e Bizantino ricos. Não houve nada nem sequer minimamente comparável ao que ocorreu com o Grande Enriquecimento." (p.85)

 

 

 

 

Os autores reiteram este ponto vital em outra passagem essencial:

 

 

 

O que estamos dizendo, para sermos bem precisos, é que guerras, escravidão, imperialismo e colonialismo foram, como um todo, medidas economicamente estúpidas! Suponha que matar pessoas, confiscar suas propriedades e estabelecer impérios sejam medidas capazes de criar uma "acumulação de capital original", a qual irá gerar o "modo capitalista de produção", e consequentemente criar um Grande Enriquecimento. Se fosse assim,tudo já teria acontecido há muito tempo, e não ocorreria apenas no noroeste da Europa. Imperialismo não é e nem nunca foi uma ideia nova. (pp. 118-19) Se o imperialismo não criou o capitalismo, tampouco ele o sustentou! O economista Lance Davis e o historiador Robert Huttenbach já demonstraram há muito tempo, e de maneira decisiva, que mesmo o tão alardeado Império Britânico representou um fardo sobre a renda britânica. Benjamin Disraeli, antes de sua conversão ao imperialismo em 1872, havia reclamado, em 1852, que "essas colônias  miseráveis e desgraçadas … são uma pedra em volta de nosso pescoço". Ele estava certo em 1852 e errado em 1872. (p.85) 

 

 

 

 

O que, então, criou o Grande Enriquecimento?

 

 

 

 

McCloskey e Carden afirmam que foi o surgimento de novas ideias! Estamos argumentando que os britânicos enriqueceram — e em seguida os Ocidentais e então boa parte do resto do mundo, e todos os humanos nas gerações seguintes — por causa de uma mudança na ética, na retórica e na ideologia!  Lucros rotineiros ou o contínuo esbulho de terceiros não podem tornar todo o mundo mais rico! Tem de haver algo diferente! No caso, o surgimento de uma nova ideia que eleve a recompensa de todos. E tem de haver milhares de novas ideias.Estamos afirmando que a fonte desta revolução foi a então inédita "permissão para se ter uma chance", a qual foi inspirado naquela até então espantosa novidade ética, retórica e ideológica: o liberalismo. Dê às pessoas comuns o direito à vida, à liberdade e à busca pela felicidade — contra a antiga e vigente tirania — e elas começarão a pensar em todos os tipos de novas ideias! Neste novo liberalismo, as pessoas começaram a conversar entre si de maneira distinta. Igualdade de iniciativa, de permissão e de direitos legais passou a ser a nova teoria, em oposição à hierarquia que vigorou em todos os períodos anteriores (pp.86-87).Em termos simplificados, os autores argumentam que houve uma mudança radical na mentalidade das pessoas. Houve uma mudança na atitude das pessoas em relação ao empreendedorismo, ao sucesso empresarial e à riqueza em geral.

 

 

 

 

O Acordo da Burguesia

 

 

 

 

Em termos sucintos, eis o cerne da teoria do livro: Antes desta mudança no modo de pensar, havia honra em apenas duas opções: ser soldado ou ser sacerdote! A honra estava apenas em estar ou no castelo ou na igreja. As pessoas que meramente compravam e revendiam coisas para sobreviver, ou mesmo as que inovavam, eram desprezadas e escarnecidas como trapaceiras pecaminosas. E então algo mudou! Primeiro na Holanda, quando a população se revoltou contra o controle espanhol do país. Depois na Inglaterra, com sua revolução, a qual é considerada a primeira revolução burguesa da história. As revoluções e reformas da Europa, de 1517 a 1789, deram voz a pessoas comuns fora das hierarquias de bispos e aristocratas. As pessoas passaram a admirar empreendedores. A classe média, a burguesia, passou a ser vista como boa e ganhou status e a autorização para enriquecer! De certa forma, as pessoas assinaram o 'Acordo da Burguesia', o qual se tornou uma característica dos lugares que hoje são ricos, como a Inglaterra, a Suécia ou Hong Kong: "Deixe-me inovar e ganhar dinheiro no curto prazo como resultado dessa inovação; e então, eu o tornarei rico no longo prazo".

 

 

 


 

 

E foi isso que aconteceu. Começou no século XVIII com o pára-raios de Franklin e a máquina a vapor de James Watt. Isso foi expandido, nos anos 1820 (século XIX), para uma nova invenção: as ferrovias com locomotivas a vapor. E então vieram as estradas macadamizadas criadas pelo engenheiro escocês John Loudon McAdam. Depois surgiram as ceifadeiras, criadas por Cyrus McCormick, e as siderúrgicas, criadas por Andrew Carnegie. Tudo se intensificaria ainda mais no restante do século XIX e aceleraria fortemente no início do século XX. Consequentemente, o Ocidente, que durante séculos havia ficado atrás da China e da civilização islâmica, se tornou incrivelmente inovador. As pessoas simplesmente passaram a ver com bons olhos a economia de mercado e a destruição criativa gerada por suas lucrativas e rápidas inovações. Deu-se dignidade e liberdade à classe média pela primeira vez na história da humanidade e esse foi o resultado: o motor a vapor, o tear têxtil automático, a linha de montagem, a orquestra sinfônica, a ferrovia, a empresa, o abolicionismo, a imprensa a vapor, o papel barato, a alfabetização universal, o aço barato, a placa de vidro barata, a universidade moderna, o jornal moderno, a água limpa, o concreto armado, os direitos das mulheres, a luz elétrica, o elevador, o automóvel, o petróleo, as férias, o plástico, meio milhão de novos livros em inglês por ano, o milho híbrido, a penicilina, o avião, o ar urbano limpo, direitos civis, o transplante cardíaco e o computador.O resultado foi que, pela primeira vez na história, as pessoas comuns e, especialmente os mais pobres, tiveram sua vida melhorada.Nada disso pode ser explicado pela exploração de escravos ou de trabalhadores! Tampouco pelo imperialismo! Os números são grandes demais para ser explicados por um roubo de soma zero. Também não foram, argumentam os autores, os investimentos ou mesmo as instituições já existentes. Os autores reconhecem que é necessário ter capital e instituições para implantar e incorporar as idéias; mas capital e instituições são causas intermediárias e dependentes, e não a raiz. Idéias sobre a dignidade humana e a liberdade foram as grandes responsáveis. O mundo moderno surgiu quando se começou a tratar as pessoas com mais respeito, concedendo a elas mais liberdade.O que causou o Grande Enriquecimento, portanto, foi uma mera mudança de mentalidade, uma mera mudança de atitude. Em uma palavra, foi o liberalismo. Dê às massas de pessoas comuns igualdade perante a lei e igualdade de dignidade social, e então deixe-as em paz. Faça isso e elas se tornam extraordinariamente criativas e energéticas. A ideia liberal, segundo os autores, foi gerada por uma feliz coincidência de acontecimentos no noroeste europeu de 1517 a 1789: a Reforma, a Revolta Holandesa, as revoluções na Inglaterra e na França, e a proliferação da leitura. Estes acontecimentos, conjuntamente, libertaram as pessoas comuns, dentre elas a burguesia e sua livre iniciativa.

 

 

 

 

Em termos sucintos, segundo os autores, o Acordo da Burguesia é este:

 

 

 

 

Primeiramente, deixe-me tentar este ou aquele aprimoramento. Ficarei com os lucros. Em um segundo ato, no entanto, estes lucros servirão de chamariz para aqueles importunos concorrentes, os quais irão também entrar no mercado, aumentar a oferta de bens e serviços, pegar parte da minha clientela e, consequentemente, erodir esses meus lucros. Já no terceiro ato, após todos os aprimoramentos e melhorias que criei terem se espalhado, eles farão com que você melhore de vida substantivamente e fique rico.

 

 

 

 

Possíveis objeções

 

 

 

Há muita coisa condensada em tudo isso, mas a teoria de McCloskey parece ainda aberta a objeções. Ou, no mínimo, a qualificações.Como os autores corretamente observam, o Grande Enriquecimento se espalhou por todo o mundo, inclusive para a China, mas o alto crescimento econômico naquele país não foi acompanhado de liberalismo político. E isto não é meramente uma questão de a inércia do passado ser incapaz de acompanhar a teoria professada naquele país pelos defensores de reformas pró-mercado. Ao contrário: aqueles que abriram a economia chinesa jamais renunciaram à ditadura do Partido Comunista.Mesmo quando aplicada ao exemplo-modelo da Grã-Bretanha, a teoria de McCloskey tem de ser modificada. Será que os liberais clássicos britânicos reivindicaram ter o mesmo status legal da Coroa e da aristocracia? É fato que eles afirmaram possuir direitos legais que a Coroa não poderia abolir, mas, com algumas exceções, eles não foram tão longe ao ponto de reivindicar a posição que McCloskey atribui a eles.  Se, no entanto, não podemos aceitar completamente a teoria de McCloskey, temos de reconhecer seus consideráveis méritos, os quais são baseados em seu profundo conhecimento de história econômica. Infelizmente, isso não é o bastante para ela, de modo que ela se aventura em disciplinas como a história do pensamento político, na qual ela demonstra uma postura menos segura do que a que exibe na história econômica! Ela afirma que a visão, em 1651, do filósofo inglês Thomas Hobbes era a de que sem um rei todo-poderoso, haveria uma guerra de "todos contra todos". Falso! Não mesmo. Hobbes suponha que, quando as pessoas são deixadas em paz, tendo de se virar por conta própria, elas se tornam cruéis, egoístas e incapazes de se auto-organizarem voluntariamente. Para domá-las, seria necessário haver um 'Leviatã', como ele o rotulou no título de sua obra de 1651 — ou seja, uma grande besta chamada governo. Somente um rei com mãos de ferro seria capaz de manter a paz e proteger a civilização. (pp. 3-4) Contrariamente ao que ela aqui sugere, o estado da natureza, para Hobbes, é o de uma sociedade sem governo nenhum, e não o de uma sociedade sem um monarca absolutista.Pessoas vivendo sob as monarquias limitadas da Idade Média — embora sua situação fosse insatisfatória para Hobbes — não estavam no estado da natureza.Adicionalmente, embora realmente seja verdade que Hobbes preferisse uma monarquia às outras formas de governo, ele reconhecia outros tipos de governo como legítimos. E, embora isso ainda seja motivo de debate, ele parece ter aceitado o reinado de Cromwell após ter retornado à Inglaterra.Sua abordagem sobre Rousseau é igualmente falha. Ela afirma que Rousseau "imaginava que o direito de um indivíduo livre e digno de dizer 'não' pode ser sobrepujado por uma misteriosa 'vontade geral', a qual Rousseau, especialistas similares e burocratas do Partido Comunista seriam facilmente capazes de distinguir e impor a terceiros por meio de medidas coercitivas" (p. 180). Embora McCloskey esteja correta em afirmar que Rousseau se opunha aos direitos individuais nos moldes defendidos pelos liberais clássicos, ela gravemente deturpou a 'vontade geral', a qual é estabelecida pelo voto popular sob determinadas condições, e não imposta por especialistas.Em uma valiosa discussão, McCloskey afirma que "a palavra 'honesto' foi transferida de honra aristocrática para honra burguesa" (p. 149). Em seu sentido aristocrático, "honesto tinha o intuito de significar uma pessoa 'digna e apta para estar no topo', e a honestidade era uma questão de posição social. A moderna acepção da palavra honestidade para alguém 'que diz a verdade e que mantém sua palavra' aparece no inglês pela primeira vez em 1500, mas o significado "honorável por virtude de seu alto status social" domina seu uso até o século XVIII" (p. 150).Este, repetindo, é um ponto válido, mas se a intenção era sugerir, como parece ser o caso, que os aristocratas de antes da era burguesa teriam se sentido livres para mentir em suas negociações diárias, já que fazê-lo não macularia sua honra, tal afirmação é extremamente dúbia. Os ensinamentos da Igreja, explicados por Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino, eram o de que mentir era absolutamente proibido.

 

 

 

 

Para concluir







Uma realidade que é frequentemente por nós ignorada: a ética que fortalece a nossa cultura, algo que muitas vezes tomamos como um fato consumado, é essencial para o funcionamento daquilo que chamamos de "boa sociedade", baseada na dignidade do indivíduo, bem como para a possibilidade do progresso, da liberdade e da prosperidade.E uma economia produtiva, baseada no livre mercado e sustentada por um forte senso de responsabilidade individual e por um compromisso moral para com o respeito aos direitos de propriedade, é justamente o arranjo que pode permitir progresso, liberdade e prosperidade.  No entanto, esse arranjo possui um grande inimigo: o estado intervencionista.  É ele quem tributa, regulamenta e inflaciona a quantidade de dinheiro na economia, distorcendo desta forma um sistema que caso contrário iria funcionar harmoniosamente, produtivamente e para o grande benefício de todos, gerando riqueza, segurança e paz, e criando as condições necessárias para o florescimento de tudo aquilo que chamamos de civilização. O nome que Karl Marx deu a esse sistema foi 'capitalismo', pois ele acreditava que o livre mercado era o sistema que fortalecia e dava plenos poderes aos proprietários do capital — a burguesia — em detrimento dos trabalhadores e camponeses da classe proletária.O nome 'capitalismo' é um tanto capcioso porque a livre iniciativa não é, de fato, um sistema econômico organizado para beneficiar unicamente as classes detentoras do capital.  Ainda assim, os defensores do livre mercado não se mostram desconfortáveis em utilizar o termo capitalismo precisamente porque a propriedade do capital e sua acumulação é de fato a força-motriz que impulsiona o funcionamento de um produtivo livre mercado.  Como explicou Mises, o capitalismo serve aos interesses materiais e ao proveito próprio de todas as pessoas, inclusive os não-capitalistas — os proletários.  Em uma sociedade capitalista, os meios de produção em mãos privadas servem exclusivamente ao mercado.  Quem se beneficia fisicamente das fábricas e indústrias são todas aquelas pessoas que compram seus produtos.  Em conjunto com os incentivos gerados pelo sistema de lucros e prejuízos, bem como toda a liberdade de concorrência que tal sistema implica, a existência da propriedade privada dos meios de produção garante uma sempre crescente oferta de bens e serviços para todos (a roda da economia).Portanto, embora esse sistema funcione não apenas para o benefício dos capitalistas, é certamente verdade que a propriedade privada dos meios de produção, bem como a criação dessa classe de cidadãos empreendedores, é algo crucial para que todos nós desfrutemos todas as glórias de uma economia produtiva.Em conjunto com a criação desta classe vem também a formação daquilo que se convencionou chamar de 'ética burguesa' — um termo utilizado sarcasticamente para escarnecer o comportamento habitual da classe empreendedorial.  Marxistas empedernidos ainda utilizam essa frase como se ela descrevesse a classe exploradora.  Mais comumente, ela é utilizada por intelectuais para identificar um tipo de comportamento monótono e previsível que, na concepção deles, não mostra um devido respeito por coisas vanguardistas e progressistas. Normalmente ela é utilizada para descrever aquelas pessoas que possuem afeições à sua comunidade (ou à pequena cidade em que nasceu), à religião e à família, e que se mostram um tanto avessas a modismos e comportamentos progressistas que ultrapassam as normas culturais comumente aceitas.  Porém, aqueles que utilizam esse termo pejorativamente não costumam ser gratos ao fato de que foi justamente a ética burguesa quem tornou possível o estilo de vida de todas as classes, inclusive da classe intelectual.A burguesia, na acepção original do termo, sempre foi formada por uma classe de poupadores, de pessoas que honravam suas palavras e respeitavam seus contratos, de pessoas que tinham uma profunda ligação à família.  Essa classe de pessoas se importava mais com o bem-estar de seus filhos, com o trabalho e com a produtividade do que com o lazer e o deleite pessoal.As virtudes da burguesia são as tradicionais virtudes da prudência, da justiça, da temperança e da fortaleza (ou força).  Cada uma delas possui um componente econômico — vários componentes econômicos, na verdade. A prudência dá sustento à instituição da poupança, ao desejo de adquirir uma boa educação para se preparar para o futuro, e à esperança de poder legar uma herança aos nossos filhos. Com a justiça vem o desejo de honrar os contratos, de dizer a verdade nos negócios e de fornecer uma compensação para aqueles que foram injuriados. Com a temperança vem o desejo de se controlar e se restringir a si próprio, de trabalhar antes de folgar, o que mostra que a prosperidade e a liberdade são, em última instância, sustentadas por uma disciplina interna.Com a fortaleza vem a coragem e o impulso empreendedorial de se deixar de lado o temor desmedido e de seguir adiante quando confrontado pelas incertezas da vida. Essas virtudes são os fundamentos tradicionais da burguesia, bem como a base das grandes civilizações.

 



 Fonte: Misesbrasil.org

 


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