O que
catalisa o melhor e pior de nós? Uma sociedade burguesa-capitalista? Ou uma
sociedade proletária-comunista? O que a história nos mostra?
DEFININDO BURGUESIA E
PROLETARIADO
1)-Proletariado (do latim proles, “filho, descendência, progênie”) é
um conceito usado para definir a classe oposta à classe capitalista. O
proletário consiste daquele que não tem nenhum meio de vida exceto sua força de
trabalho (suas aptidões), que ele vende para sobreviver.O proletário se diferencia do simples trabalhador, pois este último pode
vender os produtos de seu trabalho (ou vender o seu próprio trabalho enquanto
serviço), enquanto o proletário só vende sua capacidade de trabalhar (suas
aptidões e habilidades humanas), e, com isso, os produtos de seu trabalho e o
seu próprio trabalho não lhe pertencem, mas àqueles que compram sua força de
trabalho e lhe pagam um salário. A existência de indivíduos privados de
propriedade, privados de meios de vida, permite que os capitalistas (os
proprietários dos meios de produção e de vida) encontrem no mercado um objeto
de consumo que age e pensa (as capacidades humanas oferecidas no mercado de
trabalho), que eles consomem para aumentar seu capital. Ao vender sua força de trabalho, o proletário ajuda a gerar bens para a
população e aumenta suas habilidades como trabalhador, possibilitando que cobre
cada vez mais pela força de seu trabalho. O comprador (o capitalista)
comanda o trabalho do proletário e se apropria de seus produtos para vendê-los
no mercado. A palavra proletariado define o conjunto
dos proletários considerados enquanto formando uma classe social. A
origem da palavra "proletariado" remonta à Roma Antiga, o rei Sérvio Túlio (século VI a.C.) usou o termo proletários
(proletarii) para descrever os cidadãos de classe mais baixa, que não tinham
propriedades e cuja única utilidade para o Estado era gerar proles (prole) para
engrossar as fileiras dos exércitos do império. O termo proletário foi
utilizado num sentido depreciativo até que, no século XIX, socialistas,
anarquistas e comunistas utilizaram-no para identificar a classe dos sem
propriedade de meios de vida do capitalismo industrial. A ideia de proletariado como uma classe antagônica à dos capitalistas
surgiu no século XIX, quando operários conseguiram pela primeira vez organizar
greves de dimensões consideráveis e questionar a situação em que viviam de
maneira que, para muitos, suas exigências eram irreconciliáveis com a sociedade
capitalista. Os proletários desenvolveram ideias comunistas, socialistas e
anarquistas que depois ficaram conhecidas através de autores como Karl Marx,
Mikail Bakunin e Piotr Kropotkin. Essas ideias desenvolveram-se pela
sistematização do objetivo que emergia espontaneamente nas lutas proletárias
que era o de estabelecer uma Livre associação de produtores. Do fim do século
XIX até meados do século XX, mediante a pressão constante das lutas radicais
dos operários, os Estados de diversos países resolveram conceder direitos
trabalhistas e regular os sindicatos, que passaram a ser instituições de
negociação entre o Estado, os empresários e os operários. Em 1917, na Rússia, também mediante a pressão de lutas
radicais dos operários, os bolcheviques tomaram o poder do Estado usando o nome
do proletariado, que, no entanto, foi massacrado por eles e submetido a um regime
de trabalho militarista que, na opinião de anarquistas e comunistas de
conselhos, não tem absolutamente nada a ver com as reivindicações dos proletários,
os quais, em suas lutas, sempre se opuseram à intensificação do trabalho, à
ditadura dos chefes e à própria escravidão assalariada. De meados do
século XX até o presente, o Estado conseguiu administrar o antagonismo
proletário a ponto de aparentemente dissolvê-lo (através de diversas medidas,
tais como: leis trabalhistas, a transformação dos sindicatos em mediadores
entre capitalistas e trabalhadores, repressão, dissolução do internacionalismo
proletário nos nacionalismos e demais conflitos interburgueses), fazendo o
proletariado ser hoje dificilmente reconhecível na superfície da sociedade.
Alguns afirmam que a luta proletária continua, mas de forma subterrânea e
invisível, enquanto não ocorre o momento histórico-mundial propício para sua
emergência. Atualmente, nos pontos capitalistas mais
avançados do globo (países desenvolvidos ou cidades/bairros/regiões
desenvolvidas de países pouco desenvolvidos), o proletariado tem padrão de vida
muito superior em relação às suas condições do início da Revolução Industrial,
quando jornadas de mais de doze horas e a intensa utilização de mão-de-obra
infantil eram a regra. Em geral, os órgãos de estatística estatais e
privados classificam como "classe média" esse grupo social.
1)-Burguesia é um termo com vários significados históricos, sociais
e culturais. A palavra se origina do latim burgus, significando
"cidade", adaptada para várias línguas europeias. Burgueses, por
extensão, eram os habitantes dos burgos, em diferenciação aos habitantes do
campo. Na Idade Média o conceito se limitou a uma
específica classe social formada nos burgos, conhecida como a burguesia
propriamente dita, que detinha o direito de cidadania, o qual acarretava vários
privilégios sociais, políticos e econômicos. Com o
passar do tempo esta classe tomou o poder nas cidades, excluiu a nobreza feudal
de todas as funções públicas, e em muitas das cidades mais importantes, seu
estrato superior passou a formar uma nova nobreza hereditária. A partir
de fins do século XVIII o conceito de burguesia foi redefinido por sociólogos,
economistas e historiadores, referindo-se a uma classe detentora de uma cultura
particular, meios econômicos baseados em capitais e uma visão materialista do
mundo. Na difundida teoria de Karl Marx, o termo passou
a denotar a classe social que detém os meios de produção de riqueza, e cujas
preocupações são a preservação da propriedade e do capital privados (lucro), a
fim de garantir a sua supremacia econômica na sociedade em detrimento do
proletariado. Na teoria social contemporânea o termo denomina a classe
dominante das sociedades capitalistas. Para muitos
autores a diversidade de significados e atributos ao longo do tempo e nas
várias regiões assinala o caráter polimorfo da burguesia e a controvérsia
acadêmica que a cerca atesta a dificuldade de defini-la com precisão. Na
contemporaneidade o termo é atribuído a um grande espectro de grupos sociais
que nutrem ideologias e interesses muito diversos e se originam de condicionantes
e contextos igualmente diferenciados.
O livro
Leave Me Alone and I'll Make You Rich: How the Bourgeois Deal Enriched the
World (Deixe-me em paz e eu enriquecerei você: como o Acordo da Burguesia
tornou o mundo mais rico), escrito por Deirdre N. McCloskey e Art Carden, é um notável esforço para explicar aquele que é um dos mais
impressionantes e misteriosos fatos da história do mundo. Até o ano
1800, praticamente todos os indivíduos viviam na mais abjeta pobreza. E então, como que por milagre, a partir do ano 1800, começou
a haver um rápido e intenso aumento no padrão de vida médio ao redor do mundo.
Os
autores rotulam esta súbita reviravolta de O Grande Enriquecimento. "O Enriquecimento foi realmente muito muito 'grande':
três mil por cento por pessoa". Os autores apresentam uma tese
original. Segundo eles, "Foi a liberdade humana —
e não a coerção, ou os investimentos ou mesmo a própria ciência — o que
possibilitou o Grande Enriquecimento, de 1800 até hoje". O livro é
um condensado, feito por Carden, de três amplos volumes escritos por McCloskey
(veja o primeiro, o segundo e o terceiro volumes). McCloskey é uma das
principais historiadoras econômicas do mundo, especialmente conhecida por sua
notável obra sobre a economia britânica do século XIX. O
melhor do livro está nas refutações a várias teorias já apresentadas para este
Grande Enriquecimento. De acordo com o marxismo, o capitalismo surgiu e
se expandiu por meio do esbulho e da escravidão. McCloskey e Carden rebatem com
esta devastadora objeção:
"A
exploração imperialista foi a ação menos original que os europeus fizeram após
1492. Escravidão e impérios já eram coisas corriqueiras e comuns à época; no
entanto, nunca haviam produzido nenhum Grande Enriquecimento. O comércio de
escravos ao longo da costa leste da África, que enviava escravos negros para os
mercados do Cairo e de Constantinopla/Istambul, era tão amplo quanto o da costa
oeste. … E, ainda assim, o comércio oriental não tornou o Egito ou os Impérios
Otomano e Bizantino ricos. Não houve nada nem sequer minimamente comparável ao
que ocorreu com o Grande Enriquecimento." (p.85)
Os autores reiteram este ponto
vital em outra passagem essencial:
O que
estamos dizendo, para sermos bem precisos, é que guerras,
escravidão, imperialismo e colonialismo foram, como um todo, medidas
economicamente estúpidas! Suponha que matar pessoas, confiscar suas
propriedades e estabelecer impérios sejam medidas capazes de criar uma
"acumulação de capital original", a qual irá gerar o "modo
capitalista de produção", e consequentemente criar um Grande Enriquecimento.
Se fosse assim,tudo já teria acontecido há muito tempo,
e não ocorreria apenas no noroeste da Europa. Imperialismo não é e nem nunca
foi uma ideia nova. (pp. 118-19) Se o imperialismo não criou o capitalismo,
tampouco ele o sustentou! O economista Lance
Davis e o historiador Robert Huttenbach já demonstraram há muito tempo, e de
maneira decisiva, que mesmo o tão alardeado Império Britânico representou um
fardo sobre a renda britânica. Benjamin Disraeli, antes de sua conversão ao
imperialismo em 1872, havia reclamado, em 1852, que "essas colônias miseráveis e desgraçadas … são uma pedra em
volta de nosso pescoço". Ele estava certo em 1852 e errado em 1872.
(p.85)
O que, então, criou o Grande
Enriquecimento?
McCloskey
e Carden afirmam que foi o surgimento de novas ideias! Estamos
argumentando que os britânicos enriqueceram — e em seguida os Ocidentais e
então boa parte do resto do mundo, e todos os humanos nas gerações seguintes —
por causa de uma mudança na ética, na retórica e na ideologia! Lucros rotineiros ou o contínuo
esbulho de terceiros não podem tornar todo o mundo mais rico! Tem de haver algo diferente! No caso, o surgimento de
uma nova ideia que eleve a recompensa de todos. E tem de haver milhares de
novas ideias.Estamos afirmando que a fonte desta
revolução foi a então inédita "permissão para se ter uma chance", a
qual foi inspirado naquela até então espantosa novidade ética, retórica e
ideológica: o liberalismo. Dê às pessoas comuns o direito à vida, à liberdade e
à busca pela felicidade — contra a antiga e vigente tirania — e elas começarão
a pensar em todos os tipos de novas ideias! Neste
novo liberalismo, as pessoas começaram a conversar entre si de maneira
distinta. Igualdade de iniciativa, de permissão e de direitos legais passou a
ser a nova teoria, em oposição à hierarquia que vigorou em todos os períodos
anteriores (pp.86-87).Em termos simplificados, os
autores argumentam que houve uma mudança radical na mentalidade das pessoas. Houve
uma mudança na atitude das pessoas em relação ao empreendedorismo, ao sucesso
empresarial e à riqueza em geral.
O Acordo da Burguesia
Em
termos sucintos, eis o cerne da teoria do livro: Antes
desta mudança no modo de pensar, havia honra em apenas duas opções: ser soldado
ou ser sacerdote! A honra estava apenas em estar ou no castelo ou na igreja. As
pessoas que meramente compravam e revendiam coisas para sobreviver, ou mesmo as
que inovavam, eram desprezadas e escarnecidas como trapaceiras pecaminosas. E então algo mudou! Primeiro na Holanda, quando a
população se revoltou contra o controle espanhol do país. Depois na Inglaterra, com sua revolução, a qual é considerada
a primeira revolução burguesa da história. As revoluções e reformas da
Europa, de 1517 a 1789, deram voz a pessoas comuns fora das hierarquias de
bispos e aristocratas. As pessoas passaram a admirar empreendedores.
A classe média, a burguesia, passou a ser vista como boa e ganhou status e a
autorização para enriquecer! De certa forma, as pessoas assinaram o
'Acordo da Burguesia', o qual se tornou uma característica dos lugares que hoje
são ricos, como a Inglaterra, a Suécia ou Hong Kong: "Deixe-me
inovar e ganhar dinheiro no curto prazo como resultado dessa inovação; e então,
eu o tornarei rico no longo prazo".
E foi
isso que aconteceu. Começou no século XVIII com o pára-raios de Franklin e a
máquina a vapor de James Watt. Isso foi expandido, nos anos 1820 (século XIX),
para uma nova invenção: as ferrovias com locomotivas a vapor. E então vieram as
estradas macadamizadas criadas pelo engenheiro escocês John Loudon McAdam.
Depois surgiram as ceifadeiras, criadas por Cyrus McCormick, e as siderúrgicas,
criadas por Andrew Carnegie. Tudo se intensificaria
ainda mais no restante do século XIX e aceleraria fortemente no início do
século XX. Consequentemente, o Ocidente, que durante séculos havia ficado atrás
da China e da civilização islâmica, se tornou incrivelmente inovador. As
pessoas simplesmente passaram a ver com bons olhos a economia de mercado e a
destruição criativa gerada por suas lucrativas e rápidas inovações. Deu-se
dignidade e liberdade à classe média pela primeira vez na história da
humanidade e esse foi o resultado: o motor a vapor, o tear têxtil automático, a
linha de montagem, a orquestra sinfônica, a ferrovia, a empresa, o
abolicionismo, a imprensa a vapor, o papel barato, a alfabetização universal, o
aço barato, a placa de vidro barata, a universidade moderna, o jornal moderno,
a água limpa, o concreto armado, os direitos das mulheres, a luz elétrica, o
elevador, o automóvel, o petróleo, as férias, o plástico, meio milhão de novos
livros em inglês por ano, o milho híbrido, a penicilina, o avião, o ar urbano
limpo, direitos civis, o transplante cardíaco e o computador.O resultado foi que, pela primeira vez na história, as
pessoas comuns e, especialmente os mais pobres, tiveram sua vida melhorada.Nada
disso pode ser explicado pela exploração de escravos ou de trabalhadores!
Tampouco pelo imperialismo! Os números são
grandes demais para ser explicados por um roubo de soma zero. Também não foram, argumentam os autores, os
investimentos ou mesmo as instituições já existentes. Os
autores reconhecem que é necessário ter capital e instituições para implantar e
incorporar as idéias; mas capital e instituições são causas intermediárias e
dependentes, e não a raiz. Idéias sobre a dignidade humana e a liberdade foram
as grandes responsáveis. O mundo moderno surgiu quando se começou a
tratar as pessoas com mais respeito, concedendo a elas mais liberdade.O que causou o Grande Enriquecimento, portanto, foi uma mera
mudança de mentalidade, uma mera mudança de atitude. Em uma palavra, foi o
liberalismo. Dê às massas de pessoas comuns igualdade perante a lei e igualdade
de dignidade social, e então deixe-as em paz. Faça isso e elas se tornam
extraordinariamente criativas e energéticas. A ideia liberal, segundo os
autores, foi gerada por uma feliz coincidência de acontecimentos no noroeste
europeu de 1517 a 1789: a Reforma, a Revolta Holandesa, as revoluções na
Inglaterra e na França, e a proliferação da leitura. Estes acontecimentos,
conjuntamente, libertaram as pessoas comuns, dentre elas a burguesia e sua
livre iniciativa.
Em termos sucintos, segundo os
autores, o Acordo da Burguesia é este:
Primeiramente,
deixe-me tentar este ou aquele aprimoramento. Ficarei
com os lucros. Em um segundo ato, no entanto, estes lucros servirão de chamariz
para aqueles importunos concorrentes, os quais irão também entrar no mercado,
aumentar a oferta de bens e serviços, pegar parte da minha clientela e,
consequentemente, erodir esses meus lucros. Já no terceiro ato, após
todos os aprimoramentos e melhorias que criei terem se espalhado, eles farão
com que você melhore de vida substantivamente e fique rico.
Possíveis objeções
Há
muita coisa condensada em tudo isso, mas a teoria de McCloskey parece ainda
aberta a objeções. Ou, no mínimo, a qualificações.Como
os autores corretamente observam, o Grande Enriquecimento se espalhou por todo
o mundo, inclusive para a China, mas o alto crescimento econômico naquele país
não foi acompanhado de liberalismo político. E isto não é meramente uma questão
de a inércia do passado ser incapaz de acompanhar a teoria professada naquele
país pelos defensores de reformas pró-mercado. Ao contrário: aqueles que
abriram a economia chinesa jamais renunciaram à ditadura do Partido Comunista.Mesmo
quando aplicada ao exemplo-modelo da Grã-Bretanha, a teoria de McCloskey tem de
ser modificada. Será que os liberais clássicos britânicos reivindicaram ter o
mesmo status legal da Coroa e da aristocracia? É fato que eles afirmaram
possuir direitos legais que a Coroa não poderia abolir, mas, com algumas
exceções, eles não foram tão longe ao ponto de reivindicar a posição que
McCloskey atribui a eles. Se, no entanto, não podemos aceitar completamente a teoria de
McCloskey, temos de reconhecer seus consideráveis méritos, os quais são
baseados em seu profundo conhecimento de história econômica. Infelizmente,
isso não é o bastante para ela, de modo que ela se aventura em disciplinas como
a história do pensamento político, na qual ela demonstra uma postura menos
segura do que a que exibe na história econômica! Ela afirma que a visão, em
1651, do filósofo inglês Thomas Hobbes era a de que sem um rei todo-poderoso,
haveria uma guerra de "todos contra todos". Falso! Não mesmo. Hobbes suponha que, quando as pessoas são deixadas em paz,
tendo de se virar por conta própria, elas se tornam cruéis, egoístas e
incapazes de se auto-organizarem voluntariamente. Para domá-las, seria
necessário haver um 'Leviatã', como ele o rotulou no título de sua obra de 1651
— ou seja, uma grande besta chamada governo. Somente um rei com mãos de
ferro seria capaz de manter a paz e proteger a civilização. (pp. 3-4) Contrariamente
ao que ela aqui sugere, o estado da natureza, para Hobbes, é o de uma sociedade
sem governo nenhum, e não o de uma sociedade sem um monarca absolutista.Pessoas vivendo sob as monarquias limitadas da Idade Média —
embora sua situação fosse insatisfatória para Hobbes — não estavam no estado da
natureza.Adicionalmente, embora realmente seja verdade que Hobbes preferisse
uma monarquia às outras formas de governo, ele reconhecia outros tipos de
governo como legítimos. E, embora isso ainda seja motivo de debate, ele
parece ter aceitado o reinado de Cromwell após ter retornado à Inglaterra.Sua abordagem sobre Rousseau é igualmente falha. Ela afirma
que Rousseau "imaginava que o direito de um indivíduo livre e digno de
dizer 'não' pode ser sobrepujado por uma misteriosa 'vontade geral', a qual
Rousseau, especialistas similares e burocratas do Partido Comunista seriam
facilmente capazes de distinguir e impor a terceiros por meio de medidas
coercitivas" (p. 180). Embora McCloskey esteja correta em afirmar
que Rousseau se opunha aos direitos individuais nos moldes defendidos pelos
liberais clássicos, ela gravemente deturpou a 'vontade geral', a qual é
estabelecida pelo voto popular sob determinadas condições, e não imposta por
especialistas.Em uma valiosa discussão, McCloskey
afirma que "a palavra 'honesto' foi transferida de honra aristocrática
para honra burguesa" (p. 149). Em seu sentido aristocrático, "honesto
tinha o intuito de significar uma pessoa 'digna e apta para estar no topo', e a
honestidade era uma questão de posição social. A moderna acepção da
palavra honestidade para alguém 'que diz a verdade e que mantém sua palavra'
aparece no inglês pela primeira vez em 1500, mas o significado "honorável
por virtude de seu alto status social" domina seu uso até o século
XVIII" (p. 150).Este, repetindo, é um ponto
válido, mas se a intenção era sugerir, como parece ser o caso, que os
aristocratas de antes da era burguesa teriam se sentido livres para mentir em
suas negociações diárias, já que fazê-lo não macularia sua honra, tal afirmação
é extremamente dúbia. Os ensinamentos da Igreja, explicados por Santo
Agostinho e Santo Tomás de Aquino, eram o de que mentir era absolutamente
proibido.
Para concluir
Uma
realidade que é frequentemente por nós ignorada: a
ética que fortalece a nossa cultura, algo que muitas vezes tomamos como um fato
consumado, é essencial para o funcionamento daquilo que chamamos de "boa
sociedade", baseada na dignidade do indivíduo, bem como para a
possibilidade do progresso, da liberdade e da prosperidade.E uma
economia produtiva, baseada no livre mercado e sustentada por um forte senso de
responsabilidade individual e por um compromisso moral para com o respeito aos
direitos de propriedade, é justamente o arranjo que
pode permitir progresso, liberdade e prosperidade. No entanto, esse arranjo possui um grande
inimigo: o estado intervencionista. É
ele quem tributa, regulamenta e inflaciona a quantidade de dinheiro na
economia, distorcendo desta forma um sistema que caso contrário iria funcionar
harmoniosamente, produtivamente e para o grande benefício de todos, gerando
riqueza, segurança e paz, e criando as condições necessárias para o
florescimento de tudo aquilo que chamamos de civilização. O nome que
Karl Marx deu a esse sistema foi 'capitalismo', pois ele acreditava que o livre
mercado era o sistema que fortalecia e dava plenos poderes aos proprietários do
capital — a burguesia — em detrimento dos trabalhadores e camponeses da classe
proletária.O nome 'capitalismo' é um tanto capcioso
porque a livre iniciativa não é, de fato, um sistema econômico organizado para
beneficiar unicamente as classes detentoras do capital. Ainda assim, os defensores do livre
mercado não se mostram desconfortáveis em utilizar o termo capitalismo
precisamente porque a propriedade do capital e sua acumulação é de fato a
força-motriz que impulsiona o funcionamento de um produtivo livre mercado. Como explicou Mises,
o capitalismo serve aos interesses materiais e ao proveito próprio de todas as
pessoas, inclusive os não-capitalistas — os proletários. Em uma sociedade capitalista, os meios
de produção em mãos privadas servem exclusivamente ao mercado. Quem se beneficia
fisicamente das fábricas e indústrias são todas aquelas pessoas que compram
seus produtos. Em conjunto com os
incentivos gerados pelo sistema de lucros e prejuízos, bem como toda a
liberdade de concorrência que tal sistema implica, a existência da propriedade
privada dos meios de produção garante uma sempre crescente oferta de bens e
serviços para todos (a roda da economia).Portanto, embora esse sistema
funcione não apenas para o benefício dos capitalistas, é certamente verdade que
a propriedade privada dos meios de produção, bem como a criação dessa classe de
cidadãos empreendedores, é algo crucial para que todos nós desfrutemos todas as
glórias de uma economia produtiva.Em conjunto com a
criação desta classe vem também a formação daquilo que se convencionou chamar
de 'ética burguesa' — um termo utilizado sarcasticamente para escarnecer o
comportamento habitual da classe empreendedorial. Marxistas empedernidos ainda utilizam
essa frase como se ela descrevesse a classe exploradora. Mais comumente, ela é
utilizada por intelectuais para identificar um tipo de comportamento monótono e
previsível que, na concepção deles, não mostra um devido respeito por coisas
vanguardistas e progressistas. Normalmente ela é utilizada para
descrever aquelas pessoas que possuem afeições à sua comunidade (ou à pequena
cidade em que nasceu), à religião e à família, e que se mostram um tanto
avessas a modismos e comportamentos progressistas que ultrapassam as normas
culturais comumente aceitas. Porém,
aqueles que utilizam esse termo pejorativamente não costumam ser gratos ao fato
de que foi justamente a ética burguesa quem tornou possível o estilo de vida de
todas as classes, inclusive da classe intelectual.A
burguesia, na acepção original do termo, sempre foi formada por uma classe de
poupadores, de pessoas que honravam suas palavras e respeitavam seus contratos,
de pessoas que tinham uma profunda ligação à família. Essa classe de pessoas se importava mais com
o bem-estar de seus filhos, com o trabalho e com a produtividade do que com o
lazer e o deleite pessoal.As virtudes da burguesia são as tradicionais
virtudes da prudência, da justiça, da temperança e da fortaleza (ou
força). Cada uma delas possui um
componente econômico — vários componentes econômicos, na verdade. A prudência dá sustento à instituição da poupança, ao
desejo de adquirir uma boa educação para se preparar para o futuro, e à
esperança de poder legar uma herança aos nossos filhos.
Com a justiça vem o desejo de honrar os contratos, de dizer a verdade nos
negócios e de fornecer uma compensação para aqueles que foram injuriados. Com
a temperança vem o desejo de se controlar e se restringir a si próprio, de
trabalhar antes de folgar, o que mostra que a prosperidade e a liberdade são,
em última instância, sustentadas por uma disciplina interna.Com a fortaleza vem a coragem e o impulso empreendedorial de
se deixar de lado o temor desmedido e de seguir adiante quando confrontado
pelas incertezas da vida. Essas virtudes são os fundamentos tradicionais
da burguesia, bem como a base das grandes civilizações.
------------------------------------------------------
APOSTOLADO BERAKASH: Como você pode ver, ao contrário de outros meios
midiáticos, decidimos por manter a nossa página livre de anúncios, porque
geralmente, estes querem determinar os conteúdos a serem
publicados. Infelizmente, os algoritmos definem quem vai ler o quê. Não
buscamos aplausos, queremos é que nossos leitores estejam bem informados, vendo
sempre os TRÊS LADOS da moeda para emitir seu juízo. Acreditamos que cada um de nós no Brasil, e nos
demais países que nos leem, merece o acesso a conteúdo verdadeiro e com profundidade.
É o que praticamos desde o início deste blog a mais de 20 anos atrás. Isso nos
dá essa credibilidade que orgulhosamente a preservamos, inclusive nestes tempos
tumultuados, de narrativas polarizadas e de muita Fake News. O apoio e a
propaganda de vocês nossos leitores é o que garante nossa linha de
conduta. A mera veiculação, ou reprodução de
matérias e entrevistas deste blog não significa, necessariamente, adesão às
ideias neles contidas. Tal material deve ser considerado à luz do objetivo
informativo deste blog. Os
comentários devem ser respeitosos e relacionados estritamente ao assunto do
post. Toda polêmica desnecessária será prontamente banida. Todos as
postagens e comentários são de inteira responsabilidade de seus autores e não
representam necessariamente, a posição do blog. A edição deste blog se reserva
o direito de excluir qualquer artigo ou comentário que julgar oportuno, sem
demais explicações. Todo material produzido por este blog é de livre difusão,
contanto que se remeta nossa fonte. Não somos bancados por nenhum tipo de recurso ou
patrocinadores internos, ou externo ao Brasil. Este blog é independente e
representamos uma alternativa concreta de comunicação. Se
você gosta de nossas publicações, junte-se a nós com sua propaganda, ou doação,
para que possamos crescer e fazer a comunicação dos fatos, doa a quem
doer. Entre em contato conosco pelo nosso e-mail abaixo, caso queira
colaborar:
filhodedeusshalom@gmail.com
Postar um comentário
Todos os comentários publicados não significam a adesão às ideias nelas contidas por parte deste apostolado, nem a garantia da ortodoxia de seus conteúdos. Conforme a lei o blog oferece o DIREITO DE RESPOSTA a quem se sentir ofendido(a), desde que a resposta não contenha palavrões e ofensas de cunho pessoal e generalizados. Os comentários serão analisados criteriosamente e poderão ser ignorados e ou, excluídos.