Michelangelo e seu contexto histórico
Michelangelo di Lodovico
Buonarroti Simoni (Caprese, 6 de março de 1475 — Roma, 18 de fevereiro de
1564), mais conhecido simplesmente como Michelangelo ou Miguel Ângelo, foi um
pintor, escultor, poeta, anatomista e arquiteto italiano, considerado um dos
maiores criadores da história da arte do ocidente. Ele
desenvolveu o seu trabalho artístico por mais de setenta anos entre Florença e
Roma, onde viveram seus grandes mecenas, a família Medici de Florença, e vários
papas romanos. Iniciou-se como aprendiz dos irmãos Davide e Domenico
Ghirlandaio em Florença. Tendo o seu talento logo reconhecido, tornou-se um
protegido dos Medici, para quem realizou várias obras. Depois fixou-se em Roma,
onde deixou a maior parte de suas obras mais representativas. Sua carreira se desenvolveu na transição do Renascimento para
o Maneirismo, e seu estilo sintetizou influências da arte da Antiguidade
clássica, do primeiro Renascimento, dos ideais do Humanismo e do Neoplatonismo,
centrado na representação da figura humana e em especial no nu masculino, que
retratou com enorme pujança. Várias de suas criações estão entre as mais
célebres da arte do ocidente, destacando-se na escultura o Baco, a Pietà, o
David, as duas tumbas Medici e o Moisés; na pintura o vasto ciclo do teto da
Capela Sistina e o Juízo Final no mesmo local, e dois afrescos na Capela
Paulina; serviu como arquiteto da Basílica de São Pedro implementando grandes
reformas em sua estrutura e desenhando a cúpula, remodelou a praça do Capitólio
romano e projetou diversos edifícios, e escreveu grande número de poesias.Ainda em vida foi considerado o maior artista de seu tempo. Sua
fama era tamanha que, como nenhum artista anterior ou contemporâneo seu,
sobrevivem registros numerosos sobre sua carreira e personalidade, e objetos
que ele usara ou simples esboços para suas obras eram guardados como relíquias
por uma legião de admiradores. Para a posteridade Michelangelo permanece
como um dos poucos artistas que foram capazes de expressar a experiência do
belo, do trágico e do sublime numa dimensão cósmica e universal. Michelangelo
nunca se casou, alguns estudiosos supõem que ele tenha sido homossexual, a
despeito da negação de seus primeiros biógrafos, além
de que, nenhuma prova concludente se encontrou nessa direção, e é bastante
possível que o próprio Michelangelo, refreando seus sentimentos e necessidades,
tenha fugido de uma consumação carnal. Vários fatores podem ser
considerados para tornar a hipótese plausível:
-Em sua juventude em
Florença ficara profundamente impressionado com a pregação da renúncia ao mundo
de Girolamo Savonarola, por quem expressou sua admiração por ele ao longo de
toda sua vida.
-Em segundo lugar se
considere a influência da visão humanista-neoplatônica de sua época sobre o
amor, outro elemento relevante em seu universo pessoal, que falava do corpo
como o cárcere terreno, e ainda que aparentemente aceitasse o amor entre
homens, não aprovava o contato físico, lançando a vivência do sentimento num plano
espiritual.
Embora Michelangelo seja
em geral contado na mais alta estima, pouco consenso sobre pontos específicos
pôde ser conseguido. Entretanto, em sua poesia ele deixou muitas pistas sobre
suas ideias artísticas e sobre a vida, e nela, conforme foi sugerido por escritores
como Erwin Panofsky e Carlo Argan, parece transpirar o Neoplatonismo como uma
influência preponderante, da forma como ele foi interpretado pelos humanistas e
poetas cristãos italianos como Marsilio Ficino, Pico della Mirandola, Dante
Alighieri e Petrarca. Martin Weinberger, de inclinação
formalista, rejeitou a explicação transcendental e assinalou que não se pode
atribuir com certeza a uma escola definida de pensamento ideias que pertenciam
à cultura renascentista como um todo e estiveram sujeitas a uma multiplicidade
de correntes. Também disse que Michelangelo dificilmente teria colocado
sua arte acima da natureza, e que sua obra requer um estudo mais dentro do
domínio da arte pura — seu tratamento dos materiais, a evolução de suas formas
e de sua linguagem plástica. É possível que uma síntese
de ambas as visões seja o caminho mais adequado para se compreender melhor sua
produção. De fato a interpretação de uma peça específica muito
dificilmente pode ser circunscrita a qualquer fonte individual, mas em linhas
gerais a explicação transcendental parece permanecer a tendência mais forte
entre a crítica para interpretar seu estilo e motivações como um todo. Parece bastante claro que para Michelangelo a busca da
transcendência foi uma força propulsora em todo o seu trabalho, como foi
documentada de várias maneiras, mas estava firmemente inspirada na
beleza que ele via no mundo físico, transformada pelo poder do Amor residente
na alma em algo, então sim, divino.Num poema escreveu:
"Vejo em tua bela
face, meu Senhor,
aquilo que não posso
expressar nesta vida.
A alma, ainda vestida de
carne,
com aquilo tantas vezes
é transportada para Deus"(Weinberger, p. 377)
Em outro, disse:
"Meus olhos,
buscando coisas belas,
e minha alma, buscando a
salvação
não têm outro poder de
ascender ao céu
senão contemplando tudo
que é belo" (Weinberger, p. 379)
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Michelangelo
Renascimento: Características e Contexto
Histórico
O Renascimento foi um
movimento cultural, econômico e político, surgido na
Itália no século XIV e se estendeu até o século XVII por toda a Europa. Inspirado
nos valores da Antiguidade Clássica e gerado pelas modificações econômicas, o
Renascimento reformulou a vida medieval, e deu início à Idade Moderna.
Origem do Renascimento
O termo Renascimento foi
criado no séc. XVI para descrever o movimento artístico que surgiu um século
antes. Posteriormente acabou designando as mudanças
econômicas e políticas do período também e é muito contestado hoje em dia.Afinal,
as cidades nunca desapareceram totalmente e os povos não deixaram de
comercializar entre si, nem de usar moeda. Houve, sim, uma diminuição
dessas atividades durante a Idade Média.Observamos, porém, que na Península
Itálica várias cidades como Veneza, Gênova, Florença, Roma, dentre outras, se
beneficiaram do comércio com o Oriente.Estas regiões se enriqueceram com o
desenvolvimento do comércio no Mar Mediterrâneo dando origem a uma rica
burguesia mercantil. A fim de se afirmarem socialmente,
estes comerciantes patrocinavam artistas e escritores, que inauguraram uma nova
forma de fazer arte.A Igreja e nobreza também foram mecenas de artistas
como Michelangelo, Domenico Ghirlandaio, Pietro della Francesa, entre muitos
outros.
Destacamos cinco características marcantes da
cultura renascentista:
1)-Racionalismo
- a razão
era o único caminho para se chegar ao conhecimento, e que tudo podia ser explicado
pela razão e pela ciência.
2)-Cientificismo
- para
eles, todo conhecimento deveria ser demonstrado através da experiência
científica.
3)-Individualismo
– o ser
humano buscava afirmar a sua própria personalidade, mostrar seus talentos,
atingir a fama e satisfazer suas ambições, através da concepção
de que o direito individual estava acima do direito coletivo.
4)-Antropocentrismo
-
colocando o homem como a suprema criação de Deus e
como centro do universo.
5)-Classicismo
– os
artistas buscam sua inspiração na Antiguidade Clássica greco-romana para fazer
suas obras.
O Humanismo renascentista
O humanismo foi um
movimento de glorificação do homem e da natureza humana, que surgiu na nas
cidades da Península Itálica em meados do século XIV.O
homem, a obra mais perfeita do Criador, era capaz de compreender, modificar e
até dominar a natureza. Por isso, os humanistas buscavam interpretar o
cristianismo, utilizando escritos de autores da Antiguidade, como Platão.A
religião não perdeu importância, mas foi questionada e daí surgiram novas
correntes cristãs como o protestantismo.O estudo dos
textos antigos, igualmente, despertou o gosto pela pesquisa histórica e pelo
conhecimento das línguas clássicas como o latim e o grego.Desta forma, o
humanismo se tornou referência para muitos pensadores nos séculos seguintes,
como os filósofos iluministas do século XVII.
Renascimento literário
O Renascimento deu origem a grandes gênios da literatura,
entre eles:
•Dante
Alighieri: escritor italiano autor do grande poema "Divina
Comédia".
•Maquiavel: autor de "O
Príncipe", obra precursora da ciência política onde o autor dá conselhos
aos governadores da época.
•Shakespeare: considerado um dos
maiores dramaturgos de todos os tempos. Abordou em sua obra os conflitos
humanos nas mais diversas dimensões: pessoais, sociais, políticas. Escreveu
comédias e tragédias, como "Romeu e Julieta", "Macbeth",
"A Megera Domada", "Otelo" e várias outras.
•Miguel de
Cervantes: autor espanhol da obra "Dom Quixote", uma crítica
contundente da cavalaria medieval.
•Luís de
Camões: teve destaque na literatura renascentista em Portugal, sendo
autor do grande poema épico "Os Lusíadas".
Renascimento artístico
Os principais artistas do renascimento foram:
-Leonardo da
Vinci: Matemático, físico, anatomista, inventor, arquiteto,
escultor e pintor, ele foi o esteriótipo do homem renascentista que domina
várias ciências. Por isso, é considerado um gênio absoluto. A Mona Lisa e A
Última Ceia são suas obras primas.
-Rafael
Sanzio: foi um mestre da pintura e famoso por saber transmitir
sentimentos delicados através de suas imagens de Nossa Senhora. Uma de suas
obras mais perfeitas é a Madona do Prado.
-Michelangelo:
artista
italiano cuja obra foi marcada pelo humanismo. Além de pintor foi um dos
maiores escultores do Renascimento. Entre suas obras destacam-se a Pietá,
David, A Criação de Adão e O Juízo Final. Também foi o responsável por pintar o
teto da Capela Sistina.
Renascimento científico
O Renascimento foi
marcado por importantes descobertas científicas, notadamente nos campos da
astronomia, da física, da medicina, da matemática e da geografia.O polonês
Nicolau Copérnico, que negou a teoria geocêntrica defendida pela Igreja, ao
afirmar que "a Terra não é o centro do universo, mas simplesmente um planeta
que gira em torno do Sol".Galileu Galilei descobriu os anéis de Saturno,
as manchas solares, os satélites de Júpiter. Na medicina os conhecimentos avançaram
com trabalhos e experiências sobre circulação sanguínea, métodos de
cauterização e princípios gerais de anatomia.
Renascimento comercial
Todas essas inovações só
foram possíveis graças ao crescimento comercial que houve na Idade Média.Quando
as colheitas eram boas e sobravam alimentos estes eram vendidos em feiras
itinerantes. Com o incremento comercial, os vendedores
passaram a se fixar em determinados locais que ficou conhecido como burgo.
Assim, quem morava no burgo foi chamado de burguês.Nas feiras era mais
fácil usar moedas do que o sistema de trocas. No entanto, como cada feudo tinha
sua própria moeda ficava difícil saber qual seria o valor correto. Dessa forma,
surgiram pessoas especializadas na troca de moeda (câmbio), outras em fazer
empréstimos e garantir pagamentos e que é a origem dos bancos.O dinheiro, então, passou a ser mais valorizado do que a
terra e isso inaugurou uma nova forma de pensar e se relacionar em
sociedade onde tudo seria medido pela quantidade de dinheiro que custava.
*Juliana Bezerra - Bacharelada
e Licenciada em História, pela PUC-RJ. Especialista em Relações Internacionais,
pelo Unilasalle-RJ. Mestre em História da América Latina e União Europeia pela
Universidade de Alcalá, Espanha.
Fonte: https://www.todamateria.com.br/renascimento-caracteristicas-e-contexto-historico/#:~:text=O%20Renascimento%20foi%20um%20movimento,deu%20in%C3%ADcio%20%C3%A0%20Idade%20Moderna.
Críticas ao Humanismo Renascentista
O Humanismo Renascentista
é uma forma de idolatria, pois coloca o Homem, e já não mais a Deus como medida
de todas as coisas, coloca o homem como princípio e fim de tudo, fazendo do
Homem um deus. O Humanismo é a grande apostasia realizada no
Renascimento. Frances A. Yates, em seu livro
"Giordano Bruno e a Tradição Hermética", afirma que: "foi a magia,
com o auxílio da Gnose, que começou a imprimir à vontade uma nova
direção". (p. 180). Noutras
palavras, a Modernidade humanista foi Gnose misturada com a magia. O antropocentrismo do Renascimento ainda
triunfa nos dias de hoje, pois o Homem é o grande ídolo. Humanistas renascentistas
como Erasmo e São Tomás Morus foram péssimos em seus escritos morais! Tomás
Mouros só foi santo por sua morte como mártir, mas não por sua vida e nem por
suas obras. Sua obra Utopia é péssima moralmente falando. Graças a Deus Tomás
Mouro se converteu como o bom ladrão, morrendo por Cristo e se tornou santo por
seu martírio, não por suas obras que são más.
Foi o Renascimento que,
no campo da arte, pôs fim à "doce primavera". Seu antropocentrismo rebelou-se contra a cosmovisão teológica medieval.
Enquanto a Idade Média Cristã via tudo em função de Deus - princípio, centro e
fim de todas as coisas - o Renascimento pagão colocou o homem no lugar de Deus,
o ser contingente no lugar do Ser Absoluto. O Renascimento renegou todos os valores da
estética medieval e quis reviver a arte greco-romana. É
claro que isto não era senão o fruto da aceitação da cosmovisão pagã que o
renascimento considerava a única verdadeira. O
Renascimento foi, portanto, uma apostasia.
A doutrina do humanismo renascentista era panteísta e gnóstica. Ela não
aceitava a existência de um Deus transcendente e criador do universo a partir
do nada. Nos escritos dos grandes teóricos renascentistas - Marsílio
Ficino, Pico de Mirandola, Leornardo, etc. - a idéia de que Deus se identifica
com o mundo está prudentemente subjacente em todos os pensamentos, e mesmo, por
vezes, aflora aqui e acolá de modo mais claro. Os
pensadores e artistas do Renascimento repetiam as fábulas e mitos do paganismo
e procuravam conciliá-los com os dogmas do Cristianismo. Nas obras de arte,
elaborou-se um verdadeiro código, que permitia representar com temas cristãos
os mitos pagãos, e vice-versa. A cabala seria a "ciência"
secreta que permitia conciliar o neo-platonismo pagão, o judaísmo e o
catolicismo. Numa concepção
gnóstico-cabalística, o simbolismo religioso foi substituído pelo simbolismo
hermético. O véu da matéria não cobriria um símbolo teofânico, mas ocultaria a
própria divindade, imanente em cada criatura, transformada assim em ídolo. Em vez da
"escada de Jacó" dos símbolos e alegorias sacrais, que o homem
deveria subir pela contemplação, para chegar até Deus, haveria uma sucessão de
véus e camadas de segredo que encobririam o Deus oculto. Daí, a iniciação. O
hermetismo era a substituição e a caricatura da sacralidade. Ela era uma
anti-escada de Jacó, pela qual o homem baixaria, como Orfeu, ao ignoto
infernal. A arte se tornou esotérica. O panteísmo imanentista do Renascimento tinha
como resultado um naturalismo absoluto, negador de toda a sacralidade do
universo. Não existia o Bonum absoluto
e, conseqüentemente, nenhum bonum era símbolo sacral de uma realidade, e nem
transcendente. O bonum dos seres seria somente um valor
natural, despojado de qualquer sacralidade. Daí, a identificação do bonum com o
prazer, a beleza física, o poder, a glória humana, etc. Os bens supremos seriam
os valores naturais divinizados.
Os anjos do sorriso da catedral gótica, nos quais tudo falava do céu,
passaram a ser, no Renascimento, moleques de rosto acanalhado, como nas telas
de Fra Filippo Lippi; seres de rosto vazio e misterioso, como nas obras de
Piero de la Francesca, ou, então, travessos e gorduchos cupidos nus, como no
quadro Madona di San Sisto, de Rafael. Para o renascentista, a palavra "virtù" não
significava virtude sobrenatural, mas sim poder, força, riqueza, beleza,
talento e qualquer outro bem natural. César Bórgia, assassino, tinha
virtu. Deixou-se de aspirar às belezas
celestiais e passou-se a viver somente para "questo bel mondo". No
dizer de Etienne Gilson, o Renascimento foi a primeira época da história em que
o homem se mostrou não só conformado, mas até contente com sua expulsão do
Paraíso. O Renascimento, como
toda doutrina gnóstica, está cheio de contradições dialéticas. Ao mesmo tempo
que se divinizava a natureza, dizia-se que o criador do mundo era o demiurgo, o
deus do mal. Fôra ele quem dera sua lei a Moisés no Sinai. Portanto, essa lei
era má e não se deveria obedecer aos dez mandamentos. Toda a moral católica
passou a ser atacada, e os que a praticavam passaram a ser considerados ou
hipócritas ou tolos simplórios. O
Renascimento foi um movimento imoral por negar a moral verdadeira. Ele, por
isso, separou a arte da moral. Daí o nudismo e o deboche de certas obras
renascentistas. Muitos artistas do tempo, além disso, se ufanavam de crimes
contra a natureza e faziam a apologia da sodomia. Outros foram
criminosos, mas nem por isso deixaram de ser idolatrados. Benevenuto Cellini
era assassino, mas um Papa o declarou acima da lei, por causa do seu
extraordinário talento artístico. (Cfr. Lavisse, E. et Rambaud, A., Histoire
Générale du IV Siècle à nos jours - tomo IV, pag.3). Não era pela virtude
e pela ascese que o homem se salvaria, mas pela gnose e pela magia. As leis naturais que governam o mundo físico
teriam sido feitas pelo demiurgo. Outras leis mais poderosas e verdadeiras
governariam o mundo real e oculto das partículas divinas imersas na matéria.
Tais leis ocultas é que seriam manipuladas pela magia. Quase todos os grandes
mestres do renascimento praticaram a magia. Ficino praticava a magia
órfica e fazia aparecerem os espíritos dos planetas. Pico de Mirandola,
Leornardo, Lazarelli, Agripa de Netelsheim e Campanella praticaram a
bruxaria. Edgar Wind mostra como os
símbolos mágicos pululam nas grandes pinturas e esculturas renascentistas, e
que elas têm um significado oculto, impossível de ser compreendido pelo vulgo
não iniciado na gnose (Cfr. Edgar Wind, Los Misterios Paganos del
Renascimiento, Barral, Barcelona, 1972).
Com isso tudo, a arte renascentista negou à alma
o bonum que a ela apetece. Como compensação, procurou-se hipertrofiar o valor
do conhecimento, isto é, do verum. O Renascimento divinizou a razão humana e
procurou criar na terra um paraíso racionalista. O racionalismo e o
imoralismo da obra de arte. A técnica artística passou a ser louvada e admirada
como um valor em si mesmo, pouco importando se o conteúdo expresso era santo ou
blasfemo. Nunca as leis estéticas foram tão idolatradas e respeitadas. A
exclamação de Paulo Uccello, que acordava sua esposa para lhe dizer: "Se
tu sapessi... quanto è bella la perspectiva!", pode ser tomada como típica
de toda a mentalidade estética do classicismo: não é a
beleza que é amável sobretudo, mas sim a técnica para alcançá-la. Daí resultou
o tecnicismo do Renascimento. O Concílio
de Trento e a Contra-Reforma católica puseram freio à devassidão renascentista,
mas não conseguiram destruir totalmente seu espírito pagão. O barroco vestiu as
‘Vênus’, mas não lhes mudou a alma. "Il lupo perse il pelo, ma non
il vizio". De modo geral o Barroco não foi tão imoral como o Renascimento,
mas foi, entretanto, tão humanista e naturalista quanto ele. Não houve uma Contra-Reforma na arte como houve na Religião,
e, por isso, a revolução na arte foi adiante, após um recuo temporário e
estratégico. Repetindo: em síntese, o Renascimento,
negando a existência de um Deus Criador, negou o Bonum absoluto, e, como
conseqüência, o bonum da obra de arte renascentista era sempre um valor
puramente natural, despojada de sacralidade, incapaz de dar verdadeira
satisfação à vontade, deixando a alma humana sedenta do Absoluto. Como compensação, o Renascimento
supervalorizou o verum criando uma arte racionalista e técnica, em que a forma
era o valor fundamental e quase único, pouco importando o bem do conteúdo. Procurou-se, ainda, satisfazer a inteligência pela rígida
obediência às leis estéticas. A obra de
arte renascentista satisfaz parcialmente a sensibilidade graças ao agrado pela
beleza material. Porém, na obra de arte clássica não havia Deus presente pelo
sacral. E a ausência de Infinito frustrava o anseio da alma pelo Absoluto. Na arte renascentista é possível distinguir
duas correntes que se entrelaçam como as duas serpentes no caduceu de Hermes: uma é a corrente materialista, racionalista e panteísta; a
outra é a corrente gnóstica , anti racional, e mágica. Ambas são
naturalistas, pois o panteísmo só reconhece a natureza visível como existente e
divina, enquanto a Gnose põe a realidade divina no espírito enclausurado no
fundo de toda criatura. Por isso, o Humanismo renascentista, quer em sua forma
panteísta, quer em sua forma gnóstica, adorou o Homem.
O Humanismo Gnóstico do Renascimento
Marsilio Ficino, o
mestre da Academia Platônica de Florença, fez o
humanismo renascentista seguir as trilhas gnósticas do hermetismo. Não só traduziu
o Hermes Trimegisto, mas propagou a tese do Pimandro, segundo a qual "a
grandeza do homem reside em sua essência diversa. Sua natureza íntima participa
da divindade; trata-se de um deus decaído, mas que, sobre esta terra, será
sempre um exilado guardando a lembrança da pátria longínqua, para a qual ele
deve, e não pode deixar de voltar" (E. Garin Moyen âge et Renaissance,
Gallimard, Paris, 1969, p. 226). "No
Asclepius os humanistas tinham lido com emoção a célebre exaltação do poder
humano que eles adoravam: "O homem é um ser admirável, digno de estima e
de respeito, que assume a natureza de um deus como se fosse ele mesmo um
deus" (E. Garin, op. cit., p. 225).
Segundo Ficino, a beleza de Deus se reflete em espelhos: o anjo, o
espírito humano e a matéria... O brilho e a perfeição desse rosto [de Deus]
qualquer que seja o espelho em que Ele se reflita, deve ser chamado beleza
universal, e o desejo que impele para essa beleza tem o nome Amor" (E.
Garin, op. cit., p. 229).
O Humanismo Panteísta do Renascimento
A corrente panteísta do
Renascimento, por vezes, via no homem o ápice e o rei do universo. A Natureza era o corpo de Deus que se manifestaria através da
razão humana. Tanto para a gnose quanto
para o Panteísmo naturalista, sendo o homem deus, não deveria obedecer a
ninguém a não ser a si mesmo. Nenhum mandamento poderia ser-lhe imposto. Em
conseqüência, o Renascimento caiu na mais completa imoralidade. Os
costumes tornaram-se tão imorais que o próprio Machaiavel - ele mesmo, mestre
do imoralismo mais cínico - criticou os costumes degenerados de seu tempo (Cfr.
Jacob Burckhardt - La cultura de Renascimento en Italia, edic. Obras Maestras,
Barcelona, 1959, pp. 328, 329, 2a edição).
Destas cosmovisões - a gnóstica e a panteísta -
tinha que nascer, então, uma arte em que o belo era separado do Ser absoluto e
transcendente de Deus. Beleza e Ser foram divorciados. A beleza e, portanto,
também a arte, perderam seu fundamento metafísico. A arte foi separada da
moral. Ela deixou de ser um meio para fazer amar o Bem em si, e a virtude.
Desde que a obra de arte fosse bem executada, ela poderia representar ou
incitar ao vício. A arte passou a manifestar uma mentalidade naturalista
e hedonista que buscava o prazer como bem supremo do homem, e que pretendia reconstruir,
na terra, o paraíso perdido. A ciência e a técnica
seriam as ferramentas do Homem para fazer do vale de lágrimas o Éden dos
prazeres sensuais. A Razão redimiria a Humanidade. Para os herméticos gnósticos, seguidores de
Ficino, atingia-se a divinização, não pela obediência aos mandamentos de um
Deus transcendente, e sim por uma "visão interior que dá o número e o
ritmo, isto é, a alma dos seres." (Garin, op. cit., p. 228). "Todas
as coisas criadas têm uma parte de verdade, isto é, uma alma, quer sejam
plantas, rochedos ou estrelas do céu. É lá que reside sua vida secreta, que é
ritmo, forma, luz e beleza. Porque a verdade não é jamais um termo de lógica,
uma abstração, um conceito, mas um sopro divino, um princípio de vida, uma
harmonia, uma graça (...) Toda a filosofia de Ficino - se se pode dar-lhe ainda
esse nome - se resume nessa intuição da realidade percebida como vida, ordem e
beleza" (E. Garin, op. cit. p. 228). "
Filosofar é amar a Deus e retornar para Ele. Filosofia e religião se confundem,
e seu fim é este momento da vida espiritual no qual a contemplação suprema
conduz à comunhão com o divino " (E. Garin, op. cit., p. 230). Assim, a arte seria um dos meios de
entrar em comunhão substancial com a divindade. Compreensão puramente racionalista
e naturalista da beleza, ou intuição mágica do Belo para a divinização do homem
seriam arte.
A separação da Beleza e do Bem
A arte do Renascimento
voltara as costas à beleza do mundo enquanto meio para conhecer as perfeições
infinitas de Deus. Ela não fornecia à alma sequiosa de infinito a água
refrescante da beleza. Não oferecia à vontade do homem
o Bem pelo qual aspira. Em compensação procurava dar plena satisfação à
inteligência, fazendo obras, ou inteiramente racionais e inteligíveis, ou obras
esotéricas, que só se compreendiam com a posse de um código de sinais. Nos dois casos, era especialmente a inteligência que era
satisfeita. Ao mesmo tempo, procurava-se fazer obras de arte que
agradassem à sensibilidade e mesmo à sensualidade.
A incompatibilidade da arte imoral do
Renascimento com a Fé Cristã
Que a arte renascentista
foi imoral e, por isso, anti-religiosa, é confirmado de modo indireto por
Symonds. Ele constata uma oposição radical e inconciliável entre a arte e a
religião. Erroneamente, ele estende a oposição da religião para com a arte do
renascimento, para a arte em si mesma. O que é um
absurdo. Mas, se aplicarmos seus argumentos apenas à arte renascentista,
Symonds tem plena razão no que diz, porque demonstra a impossibilidade de
conciliação entre Catolicismo e Renascimento.
(Os textos a seguir, entre colchetes, são
nossos):
"O espírito do
Cristianismo e o espírito das artes figurativas [do Renascimento, diríamos nós]
são incompatíveis entre si, não porque estas sejam imorais, mas porque elas não
podem subtrair-se às associações sensuais. As artes
plásticas [do Renascimento] lutam sempre para levar-nos à amável vida da terra,
da qual a fé trata de salvar-nos. Elas nos recordam constantemente a existência
de corpo, que a devoção quer que esqueçamos. Os pintores e escultores
glorificam o que os santos e os ascetas sempre mortificaram. As obras
primas de um Ticiano ou de um Corregio, por exemplo, afastam a alma da
compunção, da penitência e até da adoração, para fazê-la recrear-se nos
deleites de um rosto juvenil, de uma cor resplandecente, de um movimento
gracioso, de uma delicada emoção. Mais ainda, o artista pode abusar dos motivos
religiosos para algo ainda pior do que sugerir noções puramente sensuais (...)
Quando o adorador suspira para voar nas asas do êxtase até Deus, até o
infinito, ou o inefável e nunca realizado, como vai tolerar o contacto com
essas formas esplêndidas, nas quais o prazer da vista e o orgulho da vida,
ainda que pretendam servir a religião, lhe recordam toscamente a bondade da
vida sensual? (...) A sublimação e a elevação que a
arte confere aos encantos carnais são inimigos do espírito que não dá trégua
aos impulsos da carne, nem entra em acordo com eles. A arte, tal como se
desenvolve em suas fases mais perfeitas na escultura grega e na pintura
veneziana, dignifica a vida mundana do homem, enquanto Cristo, numa linguagem
religiosa que não admite composições, prega o mais alheio a esse modo de vida:
a mortificação, a abstinência dos prazeres carnais, a fé na bem-aventurança eterna
no além, a renúncia a todos os laços sociais e familiares (...). Esta
história [um caso de pintura de um S. Sebastião de Fra Bartolommeo, discípulo
de Savonarola, que escandalizava e tentava as devotas] é um exemplo cru do
divórcio entre a devoção e as artes plásticas. A dificuldade de uni-los, de tal
modo que estas fortaleçam aquela, não está ao alcance da capacidade ilustrativa
da arte. A verdadeira meta da religião reside na contemplação e na conduta. A
arte, pelo contrário, aspira a uma encarnação sensitiva dos pensamentos e
sentimentos que dêem ao homem um gozo espiritual. Há, sem dúvida, muitos
pensamentos que escapam à possibilidade de ser expressos desse modo: só se
revelam como abstrações ao intelecto filosófico, ou como dogmas para a
consciência teológica. A aliança entre a arte e a
filosofia, ou a arte e a teologia, no campo específico da religião ou de
especulação, é, portanto, irrealizável. Existem, apesar disso, muitos
sentimentos que não podem chegar a reverter, em rigor, uma forma sensível; tais
são, precisamente, os sentimentos religiosos, nos quais a alma abandona a
esfera dos sentidos e se levanta acima do mundo real, para buscar a liberdade
da religião do espírito. Entretanto, mesmo reconhecendo a verdade desse
raciocínio, carece de base científica sustentar que existe uma hostilidade
aberta entre a religião e a arte só porque esses dois mundos não podem entrar
em perfeito contato. O que acontece é que eles se movem em órbitas separadas;
suas metas são distintas e cada uma delas deve ser deixada em liberdade para
que se aperfeiçoem por sua conta e modo" (John Addington Symonds, El
Renascimiento en Italia, Fondo de Cultura Economica, Mexico, Buenos Aires,
1957, 2o. vol., 1o. vol. pp. 674 a 677; original: Renaissance in Italy, 1875 a 1886).
O Renascimento: primeiro passo da emancipação
do homem moderno
"O primeiro passo na emancipação do espírito moderno foi dado,
pois, pela arte, ao proclamar ante o homem a alegre nova de sua bondade e de
sua grandeza, num mundo cheio de gozos variados, criados precisamente para ele.
" (J.A. Symonds, op. cit. vol. 1, p. 678).
O renascimento foi, então, a primeira revolução na arte ocidental, visando
dar ao homem um fim puramente sensual, terreno, num mundo novo. Havia,
então, na arte renascentista, um repúdio ao cristianismo e à sua moral e fé.
Porém, havia ainda mais, e havia pior: havia a tentativa de obrigar o
cristianismo a reconciliar-se com o paganismo, numa síntese apóstata.
"Somente o método
científico pôde, a longo termo, permitir que chegassem àquele ponto superior,
situado já fora do cristianismo e do paganismo, no qual o ideal clássico de uma
vida natural moderna e gozosa é restaurado na consciência educada pelo Evangelho.
Era esta, seguramente, a religião ainda inata ou germinal, que vagamente
profetizou Joaquim de Flora quando dizia que o reino do Pai tinha passado, o
reino do Filho estava passando e o reino do Espírito Santo haveria de vir. A
essência dessa religião vai implícita em todo o processo ascendente da mente
humana; e, ainda que um credo tão altamente intelectualizado como este não
possa encontrar nunca expressão adequada nas artes figurativas, não há dúvida
de que a pintura do século XVI constitui um passo importante para ele. Aqueles pintores foram os primeiros que lograram humanizar a
religião da Idade Média, proclamar o verdadeiro valor do paganismo antigo que
traz o espírito moderno e fazer com que ambos revissem aos fins de uma arte
livre e sem estorvos" (J.A. Symonds, op. cit., p. 680).
Nesses textos de Symonds
vem confirmado o plano que levou o Ocidente a apostatar do cristianismo e, pior, tentar fazer uma fusão monstruosa entre paganismo e
cristianismo.Entretanto, o que se conseguiu com a Revolução Renascentista
foi frustrar a arte, impedindo que ela atingisse seu
fim último: levar o homem a amar a Beleza-Bondade-Verdade, isto é, o Deus
trino, transcendente, eterno e imutável.A arte naturalista, sensual,
hedonista levou o homem ao egoísmo, que só produziria ódio, guerra e morte. Do
casamento do racionalismo com o hedonismo só nasceram monstros (Goya: "O
sonho da razão gera monstros" apud H. Sedlmayr, La Perdita del Centro, p.
177).Já no próprio seio do renascimento nasceu uma
corrente que, não querendo o cristianismo, mas recusando o racionalismo,
lançou-se no abismo oposto ao do racionalismo naturalista: caiu na gnose
intuicionista e irracional. Essa corrente manifestou-se naquilo que se costuma
chamar de Maneirismo, e que H. Read diz que melhor teria sido denominada
de Contra-Renascença.Os princípios dessa corrente, explicitados por H. Read no
pensamento de Montaigne, são claramente gnósticos, embora Read não os
classifique como tais.
Contra-Renascimento Maneirista
As caracteristicas desse
Contra Renascimento, filho do classicismo hermético, são, entre outras , as
seguintes:
-Rejeição da
Realidade Objetiva: "O maneirismo assinalou uma revolução na história da
arte (...) pela primeira vez a arte divergia deliberadamente da natureza"
(A. Hauser, Maneirismo, Ed. Perspectiva, São Paulo, 1993, p. 16).
-Dualismo
metafísico e conseqüente pensamento dialético: Para o pensamento
maneirista "nada neste mundo existe de maneira absoluta, e o oposto de
toda realidade é também real e verdadeiro. Tudo se expressa em extremos opostos
a outros extremos, e é através desse pareamento paradoxal de opostos que a afirmação
significativa é possível..." (A. Hauser, op. cit.,pp. 21-22). Daí o paradoxo ser uma típica figura do maneirismo. " O
paradoxo em geral implica uma vinculação de coisas inconciliáveis, portanto,
paradoxais - Esta assenta não apenas na natureza conflitante de uma experiência
ocasional, mas na ambigüidade permanente de todas as coisas, grandes e
pequenas, e na impossibilidade de alcançar a certeza a respeito de qualquer
coisa". (A. Hauser, op. cit. p. 21).
-Negação do
conhecimento racional e de certezas é, portanto, a terceira característica do
pensamento maneirista.
-Negação do
ser; só
existe o devir.Como escreveu Montaigne: “Não há nenhuma existência constante,
nem de nosso ser, nem dos objetos. E nós, como nosso
julgamento, e como todas as coisas mortais, vamos nos escoando e rolando sem
cessar. Assim, não se pode estabelecer nada de certo quer de um quer de
outro, estando o julgador e o julgado em contínua mutação e instabilidade” (Montaigne,
Essais, Pléiade, Paris, p. 679, apud A. Hauser, op. cit. pp. 46-47).
-Negação da
identidade do ser: "Não somente a natureza da realidade externa e objetiva
se modifica de acordo com o ponto de vista subjetivo, não somente tudo o que
percebemos é 'alterado e falsificado por nossos sentidos', mas o ‘eu’ também
muda tão acentuadamente de caso para caso que não há possibilidade de captar
sua verdadeira natureza (...) motivo pelo qual a dúvida é lançada sobre a
própria natureza e permanência do eu. Este foi o golpe
demolidor contra a fé na identidade do ser humano, do qual a cultura da
Renascença nunca se recuperou; sem isso não pode haver explicação para o
maneirismo, seja como visão de vida, seja como estilo artístico. A distorção
nas artes visuais, o uso exagerado e impaciente da metáfora na literatura, a
freqüência com que os caracteres no drama como outrem e questionam sua própria
identidade, são apenas meios de expressar o fato de que, enquanto o mundo
objetivo se tornou ininteligível, a identidade do ser humano foi abalada e se
tornou vaga e fluida. Nada era o que parecia ser, e tudo era diferente
do que denotava ser. A vida era disfarce e dissimulação e a própria arte
ajudava não só a mascarar a vida como a discernir sua máscara" (A. Hauser,
op. cit., p. 49).
Se vemos algo de
coincidente em nossos dias nestas citações, é porque tudo isto tem profunda
relação com o pensamento e a arte desse nosso tempo. O
racionalismo renascentista teve sua expressão maior na figura de Descartes
(1596-1650). O século XVIII assistiu o triunfo do racionalismo com os chamados
filósofos iluministas. Conforme Herbert Read, o racionalismo foi fatal
para a arte que "murcha e morre nos (...) excessos da razão. E foi porque,
não pela primeira vez na história do homem, a razão se tornou predominante na
filosofia da arte, que a arte do século XVIII sofreu um eclipse tão
completo" (H. Read, A arte de agora, Perspectiva, S. Paulo, 1972, p. 15 -
Original, Art now).Entretanto, se coube ao racionalismo
cartesiano a explicitação de várias das leis da arte e o revigoramento da lei
das três unidades no teatro, foi também Descartes que salientou que o belo é o
que agrada pela proporção entre o objeto belo e aquele que o contempla. Deste
modo, ele ajudou a levantar o problema do subjetivismo na arte, questão típica
da corrente irracionalista. Em contraposição à estética
racionalista se acha Giam Batista Vico. Em sua obra Scienza Nuova, ele sustenta
a teoria da sociedade como organismo e procura qual o lugar que nela cabe à
arte. Defende uma teoria estética totalmente oposta à do ideal clássico
racionalista. Para Vico, a poesia foi a primeira forma de metafísica do homem
primitivo, anterior ao aparecimento da razão e da formação dos conceitos
universais. A poesia depende, segundo Vico, apenas da imaginação e não da
inteligência discursiva e abstrativa. "Em épocas civilizadas a
poesia só pode ser escrita por aqueles que possuem a capacidade de suspender a
operação do intelecto, de colocar a mente em grilhões e de voltar ao modo
irrefletido de pensamento, característico da infância da raça" (H. Read,
op.cit., p. 17).
Comentando a obra de
Vico, Read expõe aí o ressurgimento de um pensamento irracionalista que vai se
alternar, de modo pendular, com o mais extremo racionalismo, no processo histórico
da sociedade ocidental.(H. Read, op. cit., p. 18). Expressão maior desse
irracionalismo na arte foi então o Romantismo.
Da Renascença ao Romantismo
“Do penso logo existo,
para o sinto, logo é verdadeiro” - É patente a relação
entre estes princípios do maneirismo e o pensamento romântico. Não é tão
clara a relação entre Ficino e o idealismo romântico alemão que Garin põe em
relevo ao dizer: "O grande mérito de Ficino é o de ter sido o tradutor e o
ilustrador das obras de Platão e Plotino, e dos escritos mais importantes do
platonismo até Psellos. Foi uma obra insigne a de ter
imposto a toda a Europa esta filosofia, ou antes esta atitude espiritual e este
horizonte especulativo cujos ecos se farão sentir em pleno idealismo romântico.
Após Ficino, não há uma obra que não traga a marca direta ou indireta de
sua influência. Sem ele, esta redescoberta de interioridade e estes aspectos
novos que caracterizam a vida moral e religiosa dos séculos XVII e XVIII seriam
incompreensíveis. Herdeiro da corrente mais sutil da filologia humanista, ele
foi um dos mestres da consciência moderna" (E. Garin, op. cit., p. 233.) -
O período posterior ao Barroco e ao Maneirismo, revela uma retomada do
movimento revolucionário na arte, causada quer pelas modificações tendenciais
na alma do homem do século XVIII, quer pelos sofismas dos filósofos e
enciclopedistas racionalistas, quer pela "filosofia irracional de
Rousseau. Tais tendências e sofismas corroeram
lentamente os princípios do classicismo e prepararam uma segunda revolução
política e estética: a Revolução Francesa e o Romantismo.
A Revolução Romântica: “A Beleza separada da
Verdade”
Assim como o Renascimento negou o bonum na obra de arte, o Romantismo
negou o verum. Porque se o Belo é o bem claramente conhecido, não
havendo bem, nada há para ser conhecido! O Renascimento separou a arte da
moral, mas respeitou muito as leis da estética, pois super exaltou a relação
entre beleza e a razão. Ora, se o decálogo não devia
ser respeitado na obra de arte, por que se deveriam respeitar as leis
estéticas, muito menos importantes do que os dez mandamentos? Deste
modo, o Romantismo nada fez mais do que tirar as conseqüências lógicas dos
princípios estéticos do Renascimento. Ele é uma conseqüência do Renascimento e,
além dessa relação lógica com ele, ele tem também as mesmas fontes e princípios
doutrinários: tanto quanto a Renascença, o Romantismo é
gnóstico e panteísta. Nele também se podem encontrar as duas serpentes as duas
serpentes enroscadas do caduceu de Hermes. No romantismo lírico e
simbolista se oculta a serpente gnóstica irracional e mágica. No Romantismo
racionalista do Naturalismo e do Realismo se encontra a serpente do Panteísmo. O Romantismo vai levar mais adiante o processo revolucionário
na estética, declarando que a beleza nada tem a ver com a verdade. A beleza não
deveria ser nem moral nem lógica, mas apenas agradável, satisfazendo então
apenas à sensibilidade e não à inteligência (pela verdade) e à vontade (pelo
bem). E era lógico que o romantismo recusasse a união da beleza com a
verdade, dado que para a filosofia que o gerou - o
idealismo - a verdade objetiva não existe. Para os idealistas, assim
como para os românticos, na correspondência da idéia do sujeito ao objeto
conhecido, o elemento determinante era a idéia do sujeito. Era a idéia que criava o objeto. Portanto, a verdade era
subjetiva. Cada um tinha a sua verdade particular, não existindo verdade
objetiva. Conseqüentemente, a beleza nada tinha que ver com a verdade.
Belo era o que agradava, ainda que fosse objetivamente feio. O artista deveria pois se deixar levar por seu agrado pessoal
e não pela razão. A arte não teria que obedecer a nenhuma lei racional e
objetiva. A estética caía no subjetivismo e no relativismo.Como já dissemos, se a arte não devia sujeitar-se aos dez
mandamentos, porque deveria acatar as leis da estética? Negadas as leis morais,
porque se obedeceriam as regras lógicas na arte?São conhecidas as raízes
esotéricas, cabalísticas e pietistas do Romantismo. As três raízes do
Romantismo - o esoterismo, o pietismo, o idealismo filosófico - eram
irracionalistas.Os esotéricos do século XVIII tinham
uma doutrina tipicamente gnóstica. Eles condenavam a razão e defendiam o sonho
como meio de apreensão do real. O mundo concreto seria falso. Ele era o produto
do pensamento - sonho da razão. O universo real só podia ser atingido pela
anulação da razão através do sonho, da hipnose magnética, do sonambulismo, do
"êxtase" ou das drogas. A anulação e a destruição da razão
acabariam com a dualidade sujeito-objeto, permitindo a unificação do eu com o
mundo. E, nesta união, seria reconstituída a própria divindade.Os pietistas - seita protestante de caráter pentecostal e
místico - fundada por Spenner - inspiraram-se nas doutrinas cabalísticas de
Jacob Boehme. Eles praticavam a alquimia tendo em vista mais a
transmutação do homem em Deus, do que a do chumbo em ouro. Admitiam a dialética
do ser, isto é, cada coisa seria resultante de princípios opostos e iguais. Daí
sua defesa da androginia de Adão. Esperavam para breve
um reino de Deus na terra - que Boehme denominava o "tempo dos
lírios", Lilienzeit - reino do Amor, no qual a Lei seria abolida. Esse
messianismo cabalista repercutiu no sonho romântico de um futuro Reino do Amor,
no qual ressoavam ecos das teorias milenaristas do abade Joaquim de Fiore. Todos
os filósofos idealistas alemães foram seguidores dos ideais gnósticos de
Boehme, dos esotéricos e dos pietistas. Quando eles descobriram as obras de
Mestre Eckhart, viram nelas a expressão de seu pensamento mais profundo. A
visão dialética do ser da gnose, de Eckhart e Boehme, será adotada por
Schelling, por Hegel e, depois, pelo próprio Marx.De
todo modo, esotéricos, pietistas, idealistas repudiavam a razão e levantavam
contra ela a intuição - espécie de capacidade mágica e não discursiva de que o
homem seria dotado, e que lhe permitiria alcançar o mundo invisível, passando
por cima dos dados dos sentidos e dos raciocínios lógicos. Georges
Lefebvre, em sua obra sobre a Revolução Francesa, diz que nenhum país foi tão dominado pelo misticismo quanto a
Alemanha, pátria de origem do Romantismo. Diz ele que o misticismo
"anima o luteranismo, e, pelo pietismo e pelos irmãos morávios, há
filiação entre Jacob Boehme, o sapateiro teósofo do século XVII, e os
românticos" (Cfr. Geoges Lefebvre, L Révolution Francaise - p. 613 -
Paris, P.U.F. 1951). Eles esboçaram uma filosofia que
jamais tomou forma coerente e sistemática.Fizemos questão de colocar
esta longa citação de um autor que nada tem de católico, muito pelo contrário,
para mostrar, por meio de uma fonte insuspeita, que o romantismo tem uma
doutrina gnóstica e mágica que provém de Jacob Boehme. Ora, desse autor, afirma
Gershon Scholem: "A doutrina de Boehme sobre as origens do mal tem
características do pensamento cabalístico (...) Boehme, mais do que qualquer
outro místico cristão, mostra a mais estreita afinidade com o cabalismo (...) a
conexão entre suas idéias e as da cabala teosófica era bem evidente para seus
seguidores, desde Avrahan von Frackenberg (m. 1652) a Frauz von Baader (m.
1841), e ficou a cargo da literatura moderna a tarefa de obscurecê-la"
(Cfr. Gershom Scholem, A Mística Judaica - p. 238-239, Ed. Perspectiva, São Paulo,
1972).G. Gusdorf, em sua importante obra a respito do
Romantismo afirma explicitamente que "O Romantismo é uma renascença
gnóstica” (G. Gusdorf, Le Romantisme, Payot, Paris, 1111993, I vol. p.
512). Gnose e cabala, tais são as fontes religiosas e doutrinárias do
Romantismo, que Victor Hugo definiu como o
"liberalismo na arte". Com efeito, o que a Revolução Francesa
foi para a política, o Romantismo foi para a arte, porque ambos, o Romantismo e a Revolução, são filhos do liberalismo. Ora,
para o liberalismo não existe verdade objetiva. Em
criteriologia o liberalismo é subjetivista: verdade é o que o sujeito considera
como tal. A idéia que o homem tem de um objeto variaria de sujeito para
sujeito.Não havendo verdade objetiva, o certo e o
errado, o bem e o mal, o belo e o feio passam a ser conceitos subjetivos. Belo
é o que a pessoa considera tal. Belo é o que agrada a um sujeito. Não
haveria, portanto, beleza objetiva e nem regras de beleza.O Romantismo foi o triunfo da imaginação sobre a razão, do
subjetivo sobre o objetivo, do sensível sobre o abstrato. Belo era o agradável,
o que causasse emoções sentimentais profundas. Devia-se apenas sentir a
beleza, e não tentar compreendê-la. Havia nisso uma negação de qualquer valor
transcendental e sacral ainda maior do que no Renascimento. Não só o sacral foi
negado, como também todo o arquétipo. Por isso, o Romantismo tinha como heróis
os homens comuns, prefiria os burgueses aos nobres, e as palavras corriqueiras
ao vocabulário mais elevado. O Romantismo, como a Revolução de 1789, foi
anti-aristocrático, burguês e igualitário. O Romantismo
é o mundo da ilusão. É a imaginação tentando negar a realidade e os sacrifícios
que a vida traz consigo.O romântico sonha que na natureza não há nem
espinhos nem lama. Seus heróis - filhos de Rousseau -
não têm pecado original, nem defeitos, nem tentações.O Romantismo é uma
tentativa de negar que o homem foi expulso do Paraíso terrestre, ou de voltar a
ele clandestinamente pela porta do sonho.O romântico é
sentimental. Ele busca sentir de modo exacerbado. Ora, nossos sentimentos mais
profundos são de tristeza e não de alegria. Daí o gosto romântico pela dor e
pela derrota, continuamente ruminadas para sentir novamente o que já foi
sentido. Por isso, os diários íntimos, os heróis fracassados, os poetas
tuberculosos, os amores perdidos, as folhas mortas, etc. Numa primeira fase,
durante a Revolução Francesa e o Império Napoleônico, o Romantismo foi heróico.
É o tempo da Marselhesa e de Beethoven. Esta fase heróica foi necessária para
servir de transição gradual da concepção grandiosa do homem, típica do barroco,
para a concepção sentimental.Numa segunda fase, o
Romantismo se mostrou em toda a sua natureza. Foi o romantismo lírico das
mocinhas feitas de açúcar e mel, impolutamente virtuosas, dos mancebos
perfeitos, dos amores piegas e chorosos. É o triunfo do homem bom de Rousseau. É
o império do sentimentalismo. Não é mais a inteligência que dirige o homem, mas
o coração.A exacerbação dos sentimentos devia
naturalmente redundar em sensualismo e, por isso, do lirismo pseudo-angelical,
se caiu no sexualismo do realismo e do naturalismo. "Qui fait l’ange, fait
la bête"... Quem quer bancar o anjo, acaba se mostrando animal.O
próprio exagero do Romantismo lírico, que sonhava com uma natureza sem
defeitos, levou a cair num exagero oposto. O realismo e o naturalismo tinham
uma visão pessimista do homem e da natureza. Para essas
escolas o homem é sempre baixo, e a mulher é sempre desonesta. A vida só tem
amarguras ou sexo, e a natureza só tem lama e espinhos.Essas duas
escolas tinham pretensões a serem "científicas" procurando no
organismo ou na sociedade as raízes dos males humanos. O naturalismo chegava
agora ao materialismo. Uma nova revolução se preparava, a qual se diria
científica e materialista.Se o Romantismo lírico só
dava satisfação à sensibilidade, deixou um grande vazio na alma pela negação do
bem e da verdade, o realismo e o naturalismo, materialistas, só visavam
satisfazer a sensualidade e o corpo. A alma ficou inteiramente vazia, e o
desespero a conduziu ao abismo da gnose declarada. Ela começou a buscar
no mistério, na simbologia subjetiva, um substitutivo do teológico e teofânico.
As correntes estéticas que se sucederam, haja visto o Simbolismo, procuraram
nos símbolos esotéricos e herméticos a saída para o mundo criado pelo Deus que
odiavam. Seria de surprender que o Simbolismo romântico
não desaguasse no satanismo de Baudelaire e Carducci.Por isso o
Simbolista e Rosa Cruz Guaïta escreveu em seu Hino a Lúcifer:"Anjo da dor, que não se pode consolar, ele tinha no céu
duas asas estendidas.De seu corpo escorria o eflúvio das luxurias, e raros
desejos insatisfeitos sempre".(In Alain Mercier, Les Sources
Ésotériques et Occultes de la Poésie Symboliste" - Le Symbolisme
Français", Nizet, Paris, 1969, vol. I , p. 218). São
estas doutrinas que levarão às teorias do subconsciente de Freud e de Jung,
assim como ao intuicionismo de Bergson, que são algumas das principais fontes
da Arte Moderna.
A Arte Moderna: negação da própria Beleza
O Renascimento separara
a beleza do bem. O romantismo foi além, separando a beleza da verdade. A arte moderna fará a última negação, ao repudiar a própria
Beleza. Chegava-se ao fim do processo anti-metafísico. A recusa de aceitar o
bonum levou ao repúdio do verum e do pulchrum. Mas, de fato, o que se
fez foi repudiar o próprio ens, o próprio ser. A arte moderna é a suprema
manifestação de uma revolta metafísica. Ora, a essência da revolta
anti-metafísica é a gnose. A arte moderna é uma arte
que, repudiando o ser, renega a Deus e o próprio homem, que é a sua imagem.No
caos das múltiplas correntes da arte moderna, constata-se um denominador comum
a todas elas: uma revolta anti-metafísica que, no
fundo, é satanismo. Pierre Francastel demonstra que a arte abstrata
deriva de Novalis por Amiel e Kirkgaard, sendo a arte moderna um dos aspectos
da luta da intuição contra a razão (cfr. P. Francastel, Art et Techniques -
Formes de l'Art au XIXème et XXème siècles, Ed. Gonthier, Suíça, 1956, p. 200).Aniela Jaffé mostra que a arte moderna se constitui como uma
recusa ou fuga da Realidade. Paradoxalmente, a arte moderna que recusa os dados
racionais pretende se apoiar nas descobertas da ciência moderna.Diz A.
Jaffé que freudismo, física nuclear e biologia celular revelaram que o mundo
que vemos não é real. Assim como nosso verdadeiro eu estaria submerso nas
profundidades misteriosas do inconsciente, assim também o mundo material,
analisado atomicamente, se desfaz em partículas que são quase nada ou nada.Levada
por esse mesmo espírito desintegrador - negador - da realidade, a Ate Moderna, nega a realidade objetiva, buscando uma
"outra’ Realidade superior e oposta àquela em vivemos.Busca uma
super realidade, desprovida de matéria, exatamente como a que é proposta pela
Gnose. Por isso, os artistas modernos, em geral,
consideram o universo criado como a obra de um Deus malvado, e que seu inimigo,
que a Bíblia chama de Serpente e Lúcifer, esse sim , seria o deus bom.São
abundantes os textos de artistas modernos que confirmam o que dizemos. Em
estudo que editaremos em breve, trataremos disso. Por enquanto, basta-nos
mostrar que a Arte Moderna visa o falso, o mal e o feio, que são como que
"imagens "do inimigo do Criador, isto é, do demônio.
A Arte Moderna é diabólica!
Não somos nós apenas que
o dizemos! Os próprios artistas modernos o afirmam de modo indireto ao fazer
declarações pouco veladas.André Breton, diz que a "intuição poética"
condutora da arte surrealista é a Gnose: "Só ela [a Intuição poética] nos
provê o fio que remete ao caminho da Gnose, enquanto conhecimento da Realidade
supra sensível, "invisivelmente visível num eterno mistério." (André
Breton, Do Surrealismoem sua obras vivas) (1955) , in "Manifestos do
Surrealismo" ed. Brasiliense, São Paulo, 1985, p. 231).Hans Sedlmayr
afirmou que a Arte Moderna revela’Um pensamento que renunciou
totalmente à lógica, uma arte que renunciou à estrutura, uma ética que
renunciou ao pudor, um homem que renunciou a Deus" (Hans Sedlmayr,
La Rivoluzone dell’ Arte Moderna", Garzanti , Milano, 19710 p. 111). Façamos
corajosamente o "feio" em literatura, e matemos de qualquer maneira a
solenidade (...) É preciso cuspir cada dia no Altar da
Arte ! (...) Eu vos ensinei a odiar as bibliotecas e os museus, preparando-vos
para odiar a inteligência, despertando em vós a divina intuição...(F.T.
Marinetti, Manifesto do Futurismo, Milano, 1912, apud G. M. Teles , op cit. p.
93). Está aí explicitamente dito por uma autora que não é católica: “o espírito
da Arte Moderna é o diabo. A Arte Moderna é diabólica”.
Para citar este
texto:"As três revoluções na Arte" - MONTFORT Associação Cultural
A criação de Adão: análise da obra Renascentista
de Michelangelo
Por *Laura Aidar
A obra renascentista intitulada
“A criação de Adão” foi feita por volta de 1511 pelo famoso artista italiano
Michelangelo.Esse é um trabalho realizado com a técnica
do afresco e integra o conjunto de pinturas feitas no Teto da Capela Sistina,
produzidas entre 1508 e 1512 por encomenda do papa Júlio II (todos os
papas são filhos de seus tempos e recebem direta e indiretamente suas
influências). A criação de Adão é a representação da passagem bíblica em que o
criador do mundo, Deus, dá origem à humanidade, simbolizada na figura do
primeiro homem, Adão.Essa foi a primeira obra em que um artista consegue
expressar todo o mistério, espontaneidade e, ao mesmo tempo, força divina no
ato da criação.
Análise detalhada da obra
A composição transmite
harmonia ao criar dois planos que o expectador percorre visualmente a partir do
chão.Adão, segundo o livro bíblico, foi criado à semelhança
de Deus. Na pintura, podemos constatar tal paridade e simetria.Os corpos
de ambos são exibidos deitados de frente, com o mortal no ambiente terrestre,
inicialmente sozinho; já o ser divino está envolto em um manto e rodeado de
anjos.Selecionamos algumas áreas dessa grandiosa obra para uma análise mais
detalhada. Veja:
1. O gesto de Deus
Os dedos das
personagens, quase se tocando, são o ponto alto da composição.A mão de Adão ainda denota falta de vitalidade, que será
conferida a ele através do toque de Deus. O criador exibe o dedo
indicador esticado, em um gesto simples e direto, agraciando o homem com a
vida.Segundo o historiador Ernst Gombrich, essa é considerada uma das maiores
obras de arte já produzidas. Nas palavras dele:Michelangelo
conseguiu fazer do toque da mão divina o centro e o ponto culminante da pintura,
e nos fez enxergar a ideia da onipotência por meio do poder de seu gesto
criador.
2. Adão despertando
Adão é
apresentado como um homem que, preguiçosamente, desperta (a representação do episódio: "a criação", é anterior a queda do homem, portanto, não se pode falar de oferecimento da graça e misericórdia neste contexto, desde que não se faça uma releitura tratando-a como recriação, dentro do conceito de ambiguidade paradoxal, próprio do Renascimento) - Ele levanta o tronco na
direção de Deus e apoia o cotovelo em seu joelho, a fim de aproximar-se do
gesto divino. É como se ele acabasse de acordar de um
sono profundo, pois podemos perceber seu corpo relaxado e sua feição
acomodada. A propósito, a figura humana é muito bem representada anatomicamente
em Adão, que está completamente nu e tem os músculos à mostra (características da expressão renascentista).
3. A magnitude do criador
A figura de Deus é
manifestada de forma vigorosa. Os longos cabelos
grisalhos e barba volumosa transmite a ideia de sabedoria.Sua vestimenta
é representada de maneira fluida, o que permite a observação do corpo jovem e
musculoso, como o de Adão. Essa maneira de
representação do ser humano, valorizando a corporeidade, é característica da
arte renascentista.Aqui, o criador tem o corpo envolvido por um manto
vermelho, que é inflado pelo vento. Muitas figuras
angelicais o acompanham, e pode-se dizer que a mulher ao seu lado vem a ser
Eva, companheira de Adão, que ainda espera nos céus pelo momento de descer à
Terra.
*ATENÇÃO! Na década de 90, o
pesquisador americano Frank Lynn Meshberger encontrou em A criação de Adão enorme semelhança entre o desenho da anatomia cerebral e
a figura de Deus com anjos envoltos no manto vermelho.
As imagens são realmente
muito similares e, segundo os estudos, Michelangelo representou inclusive
algumas partes internas do órgão, como o lobo frontal, nervo ótico, glândula
pituitária e o cerebelo.Essa teoria faz sentido, tendo em vista que
Michelangelo era profundo conhecedor de anatomia.O pensamento que imperava na
época, alicerçado pela ideologia humanista e antropocêntrica, também contribui
para que essa hipótese seja verdadeira. Nesse período, o homem passa a ser visto
como o centro do universo.Michelangelo parece ter feito uma espécie de
"homenagem" à racionalidade humana, representada pelo órgão cerebral.
*Laura Aidar: Arte-educadora,
artista visual e fotógrafa. Licenciada em Educação Artística pela Universidade
Estadual Paulista (Unesp) e formada em Fotografia pela Escola Panamericana de
Arte e Design.
*Acréscimos sobre a Similaridade anatômica
Existem várias teorias sobre o significado da composição original de
"A Criação de Adão", levantadas principalmente por causa do
amplo conhecimento que Michelangelo possuía em Anatomia. Em 1990, um médico
chamado Frank Lynn Meshberger, em artigo no Journal of the American Medical
Association, afirma que a figura em que Deus está apoiado tem o formato
anatómico de um cérebro, incluindo o lobo frontal, nervo ótico, glândula
pituitária e o cerebelo. Também observou que o manto branco de Deus tem o
formato de um útero, e que a écharpe verde que sai de seu ventre poderia ser um
cordão umbilical. O braço de Deus representa também, o "terceiro
olho" também chamado de "olho Divino". Deus é representado como
um ancião barbudo, envolto em um manto que divide com alguns anjos. Seu braço
esquerdo está abraçado a uma figura feminina, normalmente interpretada como Eva
– que ainda não foi criada e, figuradamente, espera no céu para ganhar uma
forma humana. O braço direito de Deus está esticado para criar o poder da vida
de seu próprio dedo para Adão, o qual está com o braço esquerdo estendido em
contraposição ao do criador. Os dedos de Adão e de Deus estão separados por uma
pequena distância.A composição é obviamente artística e
não literal, já que Adão é capaz de alcançar Deus mesmo antes de ter ganho
vida. Pela mesma razão, Eva é vista representada antes de sua própria criação.
Esse motivo levou algumas pessoas a acreditar que a figura feminina fosse a
primeira esposa mística de Adão, Lilith; Entretanto, essa interpretação não faz
o menor sentido por Lilith também ter sido criada depois de Adão.As posições de Deus e Adão, a pintura do braço direito de
Deus e esquerdo de Adão são quase idênticas e representam o fato de que, como
diz o Gênesis 1,27, "Deus criou o homem à sua imagem e semelhança".O
dedo indicador de Adão, a mais famosa representação do fresco, não é de facto um trabalho de Michelangelo. Ele foi
danificado durante reparos de um desabamento em meados do século XVI e
foi reprimido e repintado por um restaurador do Vaticano. Por outra perspectiva, alguns estudiosos das artes dizem que
uma mensagem é imposta subliminarmente. Quando, olhado de forma
diferente, Deus estaria representado dentro de um cérebro (ou de um coração,
devido a cor vermelha e do lado superior direito parecem cortes das artérias coronárias
principais) e, com o seu toque à Adão, o racionalismo seria representado de
forma escondida.
Fonte:
https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Cria%C3%A7%C3%A3o_de_Ad%C3%A3o
------------------------------------------------------
APOSTOLADO BERAKASH: Como você pode ver, ao contrário de outros meios
midiáticos, decidimos por manter a nossa página livre de anúncios, porque
geralmente, estes querem determinar os conteúdos a serem publicados. Infelizmente, os algoritmos definem quem vai ler
o quê. Não buscamos aplausos, queremos é que nossos leitores estejam bem
informados, vendo sempre os TRÊS LADOS da moeda para emitir seu
juízo. Acreditamos que cada um de nós no Brasil, e nos demais países que
nos leem, merece o acesso a conteúdo verdadeiro e com profundidade. É o que
praticamos desde o início deste blog a mais de 20 anos atrás. Isso nos dá essa
credibilidade que orgulhosamente a preservamos, inclusive nestes tempos
tumultuados, de narrativas polarizadas e de muita Fake News. O apoio e a
propaganda de vocês nossos leitores é o que garante nossa linha de
conduta. A mera veiculação, ou reprodução de
matérias e entrevistas deste blog não significa, necessariamente, adesão às
ideias neles contidas. Tal material deve ser considerado à luz do objetivo
informativo deste blog. Os
comentários devem ser respeitosos e relacionados estritamente ao assunto do
post. Toda polêmica desnecessária será prontamente banida. Todos as
postagens e comentários são de inteira responsabilidade de seus autores e não
representam necessariamente, a posição do blog. A edição deste blog se reserva
o direito de excluir qualquer artigo ou comentário que julgar oportuno, sem
demais explicações. Todo material produzido por este blog é de livre difusão,
contanto que se remeta nossa fonte. Não
somos bancados por nenhum tipo de recurso ou patrocinadores internos, ou
externo ao Brasil. Este blog é independente, e representamos uma
alternativa concreta de comunicação. Se
você gosta de nossas publicações, junte-se a nós com sua propaganda, ou doação,
para que possamos crescer e fazer a comunicação dos fatos, doa a quem
doer. Entre em contato conosco pelo nosso e-mail abaixo, caso queira
colaborar:
filhodedeusshalom@gmail.com
Postar um comentário
Todos os comentários publicados não significam a adesão às ideias nelas contidas por parte deste apostolado, nem a garantia da ortodoxia de seus conteúdos. Conforme a lei o blog oferece o DIREITO DE RESPOSTA a quem se sentir ofendido(a), desde que a resposta não contenha palavrões e ofensas de cunho pessoal e generalizados. Os comentários serão analisados criteriosamente e poderão ser ignorados e ou, excluídos.