“Vacinas contra os
pecados não existem, o que pode nos ajudar a superá-los é a graça de Deus
oferecida gratuitamente pelo amor de Cristo”.
Li não faz muito tempo numa revista portuguesa um
artigo que me chamou a atenção pela ousadia dos bispos daquele país em
apresentar para os fiéis novos “pecados sociais” que estão preocupando a mesma
sociedade e a Igreja.
O pecado não é novo e
todos têm o seu desdobramento de uma única realidade: o egoísmo. Toda pessoa
egoísta vai aumentando aos seus pecados uma lista sem fim, e a realidade em que
viemos nos oferece possibilidade de rever a maneira de agir. Não importa a
modernidade, nem se trata de pecados novos, mas de pecados velhos como o mundo
que se envolve com um apelo novo, festivo e até de ousadia que pode parecer
coragem “profética”.
O artigo iniciava com estas palavras “a carta pastoral
divulgada pelos bispos portugueses é um documento radical. O leitor mais
apressado poderá até ser levado a pensar que está perante o manifesto comunista
do séc. XXI”. A Igreja fez um diagnóstico da realidade portuguesa não só
econômica, mas, também, ética, espiritual e moral. Por isso, as orientações que
são dadas oferecem uma visão completa da situação do povo que vive neste
momento histórico. A palavra chave desta carta é “responsabilidade solidária
pelo bem comum”. Hoje, não se pode mais viver pensando em si mesmo.
Não há felicidade
individual, todos somos chamados a nos realizar na felicidade dos outros, a
viver em serviço alegre pelos irmãos como o Senhor Jesus nos tem ensinado com
sua vida.
Mas, quais
são os novos pecados sociais?
Vamos elencá-los em negrito para não esquecê-los e
verificar se eles existem dentro de nós ou se somos vacinados contra este tipo
de pecados. Mas, por enquanto, vacinas contra os pecados não existem, só o que
podem nos ajudar a superá-los é a graça de Deus que nos é oferecida
gratuitamente pelo amor oblativo do mesmo Cristo:
-Egoísmo
-O consumismo
-A corrupção
-A desarmonia do sistema fiscal (com destaque para as
simulações e fraudes fiscais por parte de cidadãos e grupos econômicos, frutos
do seu egoísmo individualista e contrário à solidariedade social indispensável
ao bem comum)
-A irresponsabilidade nas estradas
-A exagerada comercialização do fenômeno esportivo
-A exclusão social, são as novas(velhas) faltas que
exigem penitência e conversão.
Não é suficiente, para receber o perdão, que os novos
pecadores rezem, mas é necessário, como sempre, mostrar com a vida
transformação substancial no agir. Não é aceitável que haja salários injustos e
que não se dê às pessoas as condições de higiene, proteção para poderem
trabalhar com segurança. Todos têm direito a um salário que seja digno do
trabalho exercido e do ser humano. Estas coisas para nós no Brasil faz tempo
que são o grito da Igreja, mas é importante que esta voz venha, também, de
países europeus onde a mão de obra dos estrangeiros é barata e tem pouca
segurança para o futuro. Ninguém pode ter o direito de explorar os outros
porque vêm de outro país ou falam uma língua diferente. A carta
pastoral dá um destaque todo especial aos exageros no trânsito. Sabemos como
nas grandes cidades européias e brasileiras muitas pessoas, especialmente
jovens, morrem nos fins de semana vítimas de velocidade ou por dirigirem
embriagados ou sob os efeitos da droga. Ultrapassagens perigosas, velocidades
abusivas, não observar as regras de trânsito, colocando em perigo a vida de
pedestres, fazem parte das recomendações da carta pastoral. Mas é preciso que
também as autoridades cuidem das estradas e sejam bem conservadas com ótima
sinalização para que os motoristas não sejam levados ao engano e provoquem
acidentes.
A corrupção em todos os
países e governos não é mais um caso isolado mas está se tornando um estilo de
vida, uma procura para se enriquecer ilicitamente. É preciso coragem para
combatê-la e para vencer os políticos que vivem de corrupção explorando os mais
pobres. A sonegação fiscal também se torna pecado porque defrauda o Estado do
que ele tem direito, e não adianta dizer uma frase velha como todos nós:
“também o governo rouba e eu roubo também”. Mal não se vence com o mal, a
consciência profética dos católicos é fazer uso da própria cidadania para
consertar as coisas erradas e não fazer eles mesmos coisas erradas.
Diante desta
situação, no entanto, não devemos pensar
que tudo vai mal
A esperança permanece a grande força que agita o
coração humano na busca do novo que está para surgir e para dar novo entusiasmo
na luta contra o mal. O coração humano não pode fechar-se sobre si
mesmo. Deus tem feito o mundo tão bonito e tão grande que tem espaço para
todos, por isso acolher os “estrangeiros” é desejo também forte do Deus da vida
e do amor. É caminho para todos nós buscarmos a paz, a harmonia e o
amor que se faz vida. Os pecados sociais
não são novos, porque sempre a Igreja, à luz da Palavra de Deus, condenou, por
exemplo, colocar em risco a própria vida, a vida dos outros, roubar, e tudo o que
não pertence aos mandamentos de Deus. Não
faz muita diferença que se roube via internet ou entrando na casa de alguém ou
defraudando o salário justo do empregado. Roubar
será sempre apropriar-se das coisas que não são nossas.
Frei Patrício Sciadini , OCD - Teólogo e escritor
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