O conceito de
modernidade líquida foi desenvolvido pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman e diz
respeito a uma nova época em que as relações sociais, econômicas e de produção
são frágeis, fugazes e maleáveis, como os líquidos. O conceito opõe-se,
na obra de Bauman, ao conceito de modernidade sólida, quando as relações eram
solidamente estabelecidas, tendendo a serem mais fortes e duradouras.
Bauman nasceu na
Polônia, em 1925, em uma família judia. Em 1939, a sua família fugiu da Polônia
para a União Soviética por causa da invasão e anexação do território polonês
pelos nazistas. Durante todo o período da Segunda Guerra Mundial, Bauman viveu na
Polônia e chegou a trabalhar para o serviço secreto polonês, controlado pelo
exército soviético. Continuou como membro do exército polonês até 1954, quando
foi demitido em razão de uma aproximação de seu pai com a embaixada israelense
com vistas a conseguir um visto para Israel. Como havia uma restrição
dos comunistas com o sionismo judeu, o exército polonês demitiu Bauman. O
governo polonês era de orientação socialista soviética após o fim da guerra. Em
1954, Bauman resolveu cursar seu mestrado em Sociologia, dando continuidade à
sua graduação. No mesmo ano, tornou-se professor assistente na Universidade de
Varsóvia. Nessa instituição, o sociólogo iniciou uma carreira que seria, mais
tarde, promissora no campo da produção intelectual contemporânea.Em 1968,
pressões políticas conduzidas por um ato chamado de “expurgo” levaram à saída
de vários judeus comunistas da Polônia. Nessa época, Bauman foi demitido da
Universidade de Varsóvia e foi exilado da Polônia. Durante um tempo, o
sociólogo viveu em Israel e lecionou na Universidade de Tel Aviv.Em 1971, a sua
carreira acadêmica cresceu exponencialmente, pois Bauman recebeu um convite
para lecionar na Universidade de Leeds, na Inglaterra. Sua pesquisa social e
política começou a produzir grandes frutos, que resultaram em livros que
passaram a ser difundidos no mundo todo. Foi nesse período também que Bauman começou
a analisar os efeitos da globalização e da modificação das relações sociais e
políticas após o fim da Segunda Guerra Mundial. Estava aqui plantado o
gérmen do que viria a ser o conceito de modernidade líquida, que surgiria com
força e distinção na obra de Bauman em 1990.Bauman era um estudioso da chamada
pós-modernidade. A Filosofia e a Sociologia contemporâneas convencionaram
chamar o período contemporâneo, que se iniciou na década de 1960, de pós-modernidade
ou pós-modernismo.Um grupo de pensadores e filósofos intelectualmente filiados
a uma corrente intelectual chamada de pós-estruturalismo enxergavam o
pensamento de uma maneira diferente das tradicionais filosofias de tradição
moderna. Entre esses pensadores, estavam os filósofos franceses Michel
Foucault, Gilles Deleuze, Guy Debord e Jean-François Lyiotard. O grande público
e os círculos intelectuais europeus tradicionais começaram a ver o trabalho de
Bauman como uma obra “pós-moderna”, sendo que o que Bauman fazia era apresentar
uma perspectiva crítica à pós-modernidade.Em primeiro lugar, Bauman percebeu
que a nova época vivida não era uma cisão com a modernidade, portanto não era
algo que vinha após a modernidade, mas uma continuação da modernidade traçada
de maneira diferente. Por isso, o sociólogo deu a esse tempo o título de
modernidade líquida. Em segundo lugar, o termo surgiu para que Bauman não fosse
associado a algo que ele queria criticar, ou seja, para que ele não fosse mais
chamado de pós-moderno, mas fosse reconhecido como um crítico da
pós-modernidade.
O que é modernidade líquida?
Bauman
definiu como modernidade líquida um período que se iniciou após a Segunda
Guerra Mundial e ficou mais perceptível a partir da década de 1960.
Esse sociólogo chamou
de modernidade sólida o período anterior. A modernidade sólida era
caracterizada pela rigidez e solidificação das relações humanas, das relações
sociais, da ciência e do pensamento. A busca pela verdade
era um compromisso sério para os pensadores da modernidade sólida. As relações
sociais e familiares eram rígidas e duradouras, e o que se queria era um
cuidado com a tradição. Apesar dos aspectos negativos
reconhecidos por Bauman da modernidade sólida, o aspecto positivo era a
confiança na rigidez das instituições e na solidificação das relações humanas.
A modernidade líquida é
totalmente oposta à modernidade sólida e ficou evidente na década de 1960, mas
a sua semente estava no início do capitalismo industrial, durante a Revolução
Industrial. As relações econômicas ficaram sobrepostas às relações sociais e
humanas, e isso abriu espaço para que cada vez mais houvesse uma fragilidade de
laço entre pessoas e de pessoas com instituições. A lógica do consumo
entrou no lugar da lógica da moral. A ideia de compra também adentrou nas
relações sociais, e as pessoas passaram a comprar afeto, atenção e felicidade
química.
As instituições ficaram estremecidas
Assim sendo, a
modernidade líquida tem instituições líquidas, pois cada pessoa é uma
instituição. A modernidade líquida é ágil, pois ela acompanha a moda e o
pensamento de época.
Modernidade líquida e relações humanas
As relações humanas
ficaram extremamente abaladas com o surgimento da modernidade líquida. Bauman
usa o termo “conexão” para nomear as relações na modernidade líquida no lugar
de relacionamento, pois o que se passa a desejar a partir de então é algo que
possa ser acumulado em maior número, mas com superficialidade suficiente para
se desligar a qualquer momento. A amizade e os relacionamentos amorosos
são substituídos por conexões, que, a qualquer momento, podem ser desfeitas (a cultura do supérfluo e descartável: aquilo que não presta,
tá ultrapassado? Não se concerta, troca por outro mais evoluído). As redes sociais e a internet serviram de instrumento
para a intensificação do que Bauman chamou de amor líquido: a relação
pseudoamorosa da modernidade líquida.
Não
se procura, como na modernidade sólida, uma companhia afetiva e amorosa duradoura
como era na modernidade sólida, mas se procura uma conexão (que pode ser sexual
ou não, sendo que a não sexual substitui o que era a amizade) que resulte em
prazer para o indivíduo. O imperativo da modernidade líquida é a busca por
prazer a qualquer custo, mesmo que utilizando pessoas como objetos. Aliás, na
modernidade líquida, o sujeito torna-se objeto.
As conexões estabelecidas entre pessoas são laços banais e
eventuais
As pessoas buscam um
número grande de conexões (não relações) pois isso se tornou motivo de ostentação.
Mais parceiros e parceiras sexuais, mais “amigos” (que, na verdade, não passam,
na maioria dos casos, de colegas, conhecidos, ficantes), pois quanto mais conexões, mais
célebre a pessoa é considerada. Basta fazer uma breve análise das
relações sociais em redes sociais como o Facebook: quanto mais “amigos” (que,
na verdade, são apenas contatos virtuais) a pessoa tem, mais requisitada ela se
torna.
O sexo também se
reduziu a mero objeto de prazer. É verdade que, enquanto impulso fisiológico do
corpo, o lado animal do ser humano busca o sexo pelo prazer, e não pela
reprodução em si. O prazer é uma isca da natureza para atrair o animal para a
relação sexual, pois, assim, a natureza consegue que os animais se reproduzam e
as espécies sejam mantidas. O sexo, para as sociedades humanas e na
modernidade sólida, deixou de ser somente instrumento de prazer e foi
considerado mais que somente meio de reprodução. O sexo passou a ser visto como
compartilhamento de emoções, de amor, símbolo de confiança entre duas pessoas.
Na modernidade líquida, o sexo é mero instrumento de prazer e não deve ser
medido qualitativamente, mas quantitativamente: quanto mais frequente e com o
maior número de pessoas possíveis, melhor. Quanto menor o vínculo entre
parceiros sexuais, melhor. Associa-se então o prazer momentâneo
oferecido pelo consumo à felicidade. Como esse prazer é rapidamente
passageiro, o sujeito sente a necessidade de buscá-lo constantemente, na tentativa
de alcançar a felicidade, que é buscada por ela mesma, ou seja, pelas sensações
de felicidade.
Publicado por: Francisco Porfírio - Mundoeducacao.uol.com.br/sociologia
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