Por: MARCEL HARTMANN -
10/02/2019
Debate sobre melhor
método de alfabetização foi reacendido por declarações de secretário do Ministério
da Educação. Um dos grandes problemas da educação brasileira, o analfabetismo
funcional será foco de atenção da gestão do presidente Jair Bolsonaro. O
problema é grande: hoje, o Brasil está na 59ª posição
em leitura entre 70 nações avaliadas pelo Programa Internacional de Avaliação
de Estudantes de 2015 (Pisa) – o último divulgado – e só 35% dos alunos
do 5º ano do Ensino Fundamental têm o desempenho esperado em leitura.
A forma de combater o problema, no entanto, está sendo alvo
de debate entre pesquisadores
O governo federal diz
que é preciso mudar o método usado por professores brasileiros para ensinar
crianças a ler e a escrever. A
metodologia, porém, não é consenso entre a comunidade acadêmica (e nunca
vai ser).A
Base Nacional Comum Curricular (BNCC) estabelece que
crianças até o 2º ano do Fundamental estejam alfabetizadas. Uma das
metas prioritárias para os primeiros 100 dias de governo é a criação do
programa "Alfabetização Acima de Tudo". O Programa, buscará
reduzir as taxas de analfabetismo. Para isso, o
Ministério da Educação (MEC) irá apresentar um método pedagógico "a partir
de evidências científicas". Nenhuma
mudança deve ocorrer já para este início de ano letivo, uma vez que o processo
de elaboração de livros e cartilhas é demorado. Em mensagem ao Congresso, Bolsonaro afirmou que vai promover a formação e a valorização
do professor alfabetizador, "assim como a integração da família e do
município na tarefa da alfabetização". A ideia seria facilitar o acesso dos professores às
melhores práticas de como ensinar a ler e a escrever e desenvolver programas de
leitura na família. O MEC também criou uma Secretaria
de Alfabetização, comandada por Carlos Nadalim, ex-coordenador pedagógico na
escola Mundo do Balão Mágico, em Londrina (PR), defensor da educação domiciliar
e discípulo do filósofo Olavo de Carvalho. Em vídeo publicado no seu
canal no YouTube chamado "Letramento: o vilão do analfabetismo no
país", Nadalim afirma que:Um
dos principais problemas nas políticas de alfabetização
do Brasil é a perspectiva construtivista (segundo a qual o contexto da criança
deve ser levado em conta) aliada ao letramento (estudo de como textos têm
gêneros diferentes, aplicados em diferentes contextos). Para ele, o foco
inicial deveria ser no estudo da relação entre as letras e os sons (o método
fônico). GaúchaZH tentou contato
com Carlos Nadalim na sexta-feira (1º), mas a assessoria do MEC afirmou que ele
ainda não está atendendo a pedidos de entrevista. Seu posicionamento cristaliza
mais um ponto no qual a gestão Bolsonaro pretende ser contra o establishment
acadêmico (em voga na era Ptista). O debate entre técnicas de
alfabetização existe há ao menos um século, mas estava de lado há alguns anos.
Método fônico x métodos globais
De um lado, defensores do método fônico afirmam que há estudos
científicos apontando que o método é o mais adequado para o cérebro infantil
– seria também mais organizado porque permite cartilhas com instruções a serem
seguidas. Do outro, defensores de métodos globais (envolvendo várias técnicas)
dizem que a discussão sobre qual a melhor técnica é ultrapassada – que o melhor
é aplicar várias metodologias e construir a aula conforme o desempenho da
turma.
A briga para descobrir qual a melhor forma de alfabetizar
também está presente em outros países, como:
1)-Estados Unidos (veja entrevista com a professora Catherine
Snow, da Universidade de Harvard).
2)-Reino Unido, onde o conflito recebeu o nome de
"reading wars" (guerra de leituras).
3)-Na Finlândia, a escola primária alfabetiza com as duas
estratégias: focando em fonética, mas também
utilizando compreensão textual do primeiro para o segundo ano.
4)- Na Austrália, os
currículos são elaborados pelos Estados, mas a alfabetização
é trabalhada ao lado de interpretação textual, sob a perspectiva do letramento,
conforme informou o Ministério da Educação do país a GaúchaZH.
Em um país continental como o Brasil, a alfabetização não
segue regra
Às
vezes envolve apenas uma técnica, às vezes envolve várias (método global). No
passado, métodos sintéticos – focados na relação entre sons e grafia, incluindo
o fônico, mas também o silábico e o alfabético – eram os mais comuns. Contudo,
a partir da década de 1980, a perspectiva mudou com a aplicação aos estudos
brasileiros em alfabetização das pesquisas do psicólogo Jean Piaget.
Segundo o suíço Jean Piaget:
O
foco de atenção de qualquer indivíduo começa do maior para o menor – ou seja,
primeiro, focamos no todo e depois nos detalhes. Em sala de aula,
alfabetizadores começaram a defender, por consequência, que o aprendizado da
leitura e da escrita deveria começar do significado de palavras ou frases, para
depois partir aos "detalhes" – os sons de cada letra. A partir daí,
os métodos analíticos começaram a ganhar popularidade defendendo que a leitura
é um ato global. O letramento (ensino dos vários contextos de uso de um texto)
ganhou força.
Relação entre fonemas e letras
Um dos maiores
defensores do método fônico no Brasil, o ex-secretário-executivo do MEC
(1995) e presidente do Instituto Alfa e Beto, João Batista Oliveira, afirma no livro Alfabetização no Brasil que: Misturar texto com letra é um
equívoco! Em entrevista por telefone, ele
concorda com a importância de ensinar interpretação textual, mas sustenta que o
foco inicial da alfabetização deve ser a relação entre fonemas e letras –
trabalhar tudo ao mesmo tempo, diz, confunde as crianças — Construtivistas
dizem que você não pode ensinar fora de contexto. Isso ofende uma
característica humana que é a limitação da capacidade cognitiva. Há evidências mostrando que, se você mistura dois
objetivos, há uma sobrecarga cognitiva
da criança e ela não aprende nenhuma coisa. Ela deve, sim, ter aula de
leitura e interpretação de texto, mas em outro momento, separadamente. A maior parte do
primeiro ano da escola tem que ser para a alfabetização, focando na relação
entre grafema (letra) e fonema, e depois trabalhar interpretação. Ao
mesmo tempo, é claro que o método sozinho não vai salvar a educação brasileira,
há questões estruturais — defende o
pesquisador, também doutor em Educação pela
Universidade da Flórida. Para a Associação
Brasileira de Alfabetismo (Abalf), o governo não deve tratar um método como
"milagroso". Presidente da entidade, a professora Isabel Frade diz
que o letramento, criticado por Nadalim, não é um método de alfabetização, mas
uma perspectiva teórica que constata que a escrita é usada em diferentes
contextos. O resultado prático é que as crianças sejam expostas a vários textos
para aprenderem que, de um jornal, não há ficção e, de um romance, há histórias
de mentira. — O método fônico traz exercícios de pronunciar isoladamente cada
fonema, o que é cansativo e repetitivo. Soletrar cada letra da palavra
"bola" tira o sentido da aprendizagem. Há outros jeitos, como usar
textos que as crianças conhecem e pedir para elas observarem as palavras que
começam ou terminam da mesma forma: ver, por exemplo, que "cabelo" e
"carinho" começam com a mesma sílaba, então têm uma semelhança na
grafia e no som. Dá para aprender sem treinar apenas o fonema isoladamente —
afirma a educadora, que ajudou a elaborar a BNCC, documento criticado por
João Batista Oliveira.
Professora Patrícia Camini defende que outros aspectos
merecem atenção
Professora de Pedagogia
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e autora do livro Práticas
pedagógicas em alfabetização: espaço, tempo e corporeidade, finalista do prêmio
Jabuti de 2013, Patrícia Camini diz que o secretário Carlos Nadalim confunde
teorias "da forma esperada de um aluno de graduação, não de um secretário
nacional de Alfabetização". Ela também sustenta que o problema do
analfabetismo funcional brasileiro não é o método, mas uma série de condições
como a falta de estrutura de escolas e de valorização da carreira docente (esta
é sempre a narrativa da esquerda). — De fato, a alfabetização depende
que a criança aprenda quais são os sons que se relacionam aos grafemas da
língua portuguesa. Isso é fato para todos os métodos. A questão é que o método
fônico coloca uma ênfase bastante grande nos fonemas. O problema é que isso
nega o acesso a textos para crianças sem estímulos culturais da língua escrita
em casa. As crianças de contextos vulneráveis terão um ensino extremamente
restrito só com doses diárias de extratos fônicos da língua — critica. — Esse
debate está funcionando como uma cortina de fumaça que tira o foco dos
principais problemas da alfabetização nas escolas públicas, que são de diversas
ordens, como infraestrutura precária das salas de aula, formação linguística
com carga horária ainda muito pequena nos cursos de licenciatura em pedagogia e
baixa atratividade da carreira docente (não se consegue manter profissionais
motivados por muito tempo) — acrescenta.
Para entender melhor a discussão
a)-O que é o método fônico?
É um tipo de método
sintético, cujo foco é partir das menores unidades da escrita (letra, sílaba,
palavra) para depois chegar ao texto. Há outros métodos sintéticos, como o
alfabético e o silábico. Exercícios fônicos com as crianças envolvem pedir que
elas falem os sons correspondentes às letras de uma palavra. Se o
exemplo for "bala", a criança deve tentar falar cada letra
separadamente: "b", "a", "l" e "a". É
usado na alfabetização de cegos e surdos.
b)-Existe método construtivista?
Não! Essa
é uma teoria segundo a qual o indivíduo tem uma memória de vida que o
influencia ao aprender um conteúdo e que o professor deve descobrir como o
conhecimento "velho" pode ajudar a aprender o "novo". Sob
essa perspectiva, erros são indícios de um jeito de pensar, ao que o alfabetizador deve prestar atenção para saber onde
intervir.
c)-O que é letramento?
É uma teoria segundo a qual a língua é usada em diferentes
contextos. Na prática, o
aluno deve ser exposto a diferentes textos (poema, carta, jornal, ficção) para
aprender a diferenciar o sentido de cada um. Ao fim, saberá usar a
língua escrita em diferentes casos.
d)-O que são métodos analíticos?
A ideia é que é preciso
partir da estrutura para chegar à unidade – ou seja, trabalha a alfabetização
ao lado da interpretação de texto e da compreensão de cada gênero textual, para
que a criança visualize porque está aprendendo o alfabeto. Neste caso, um exemplo
de exercício é usar uma história já contada às crianças e
pedir que elas procurem, no texto, palavras que comecem com a mesma sílaba. A partir daí, elas devem assinalar a sílaba e ver a
pronúncia em comum. Se encontrem a palavra "casa" e "capa",
a professora destacará que o "ca" é semelhante nas duas palavras.
FONTE:
gauchazh.clicrbs.com.br
CONCLUSÃO
No meu entendimento, no
entanto, não se trata bem da querela método global x método fônico, como a
mídia vem colocando a questão, pois assim estaríamos assumindo que o que
temos hoje é precisamente o método global. Reduzir o letramento e a
teoria construtivista ao método global é um equívoco que precisamos não
reforçar. Precisamos desmistificar, primeiro, esse equívoco que se apresenta
como premissa, e sair dessa linha argumentativa. Precisamos argumentar em
outras bases, e não voltando a velhas querelas como se a querela atual fosse
uma versão requentada da mesma de antigamente. Não é bem assim. Está certo que a didática de cunho construtivista terminou
por reforçar esse equívoco ao negligenciar o ensino sistemático e explícito do
funcionamento alfabético da notação da língua. Mas não podemos
confundir nem aceitar que confundam, espertamente, letramento e construtivismo
com método global. Nem acatar que seja isso o que temos hoje. Magda Soares já
desmistificou essa questão em um artigo de 2003,e estamos em 2019 ainda colocando
as coisas em termos de Fônico x Global? Não vamos entrar nessa de deixar que naturalizem
esse modo de colocar a questão, que torna simplórias as coisas que são
complexas, reproduzindo nós também esse binarismo. Ensinar o sistema
alfabético no contexto das práticas sociais de leitura e escrita não é o mesmo
que adotar método global. Nem usar procedimentos vários, silábicos, fônicos,
etc, significa "misturar métodos". A questão
é mais complexa que isso. Do mesmo modo, o ensino explícito do sistema de
escrita e sua base fonológica não é exclusividade do método fônico, bem como
abordar procedimentos fônicos não significa adotar um método fônico. Estamos muito distantes de uma solução eficaz dentro desse
modo simplório de ver os conflitos de concepções do campo da alfabetização
hoje. Precisamos combater essas premissas simplistas e equivocadas. Se a técnica
usada nos colégios particulares e nos públicos é a mesma, e funciona com uns e
outros não, o problema não é a técnica. E detalhe, a média salaria dos
professores da rede Privada é bem abaixo dos da rede Pública. A discussão é
realmente necessária, oportuna e precisa sim ser motivada para que seja
construtiva e os nosso brasileirinhos saiam beneficiados.
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