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A terra é primeiramente nossa irmã como diz São Francisco, ou "apenas mãe", como quer impor a Teologia da Libertação?

Written By Beraká - o blog da família on domingo, 29 de dezembro de 2019 | 19:14






O cântico do irmão sol é o cântico das criaturas, escrito por São Francisco de Assis:




Altíssimo, onipotente, bom Senhor,
Teus são o louvor, a glória, a honra
E toda a bênção
Só a Ti Altíssimo, são devidos;
e homem algum é digno
De te mencionar.


Louvado sejas, meu Senhor,
Com todas as Tuas criaturas,
Especialmente o Senhor irmão Sol,
Que clareia o dia
E com sua luz nos alumia.


E ele é belo e radiante
Com grande esplendor.
De Ti, Altíssimo, é a imagem.
Louvado sejas, meu Senhor,
Pela irmã Lua e as Estrelas,
Que no céu formaste claras
E preciosas e belas.


Louvado sejas, meu Senhor,
Pelo irmão Vento,
Pelo ar, ou nublado
Ou sereno, e todo o tempo,
Pelo qual às Tuas criaturas dás sustento.


Louvado sejas, meu Senhor
Pela irmã Água,
Que é mui útil e humilde
Preciosa e casta.



Louvado sejas, meu Senhor,
Pelo irmão fogo.
Pelo qual iluminas a noite.
E ele é belo e jucundo
E vigoroso e forte.


Louvado sejas, meu Senhor,
Por nossa irmã a mãe Terra,
Que nos sustenta e governa,
E produz frutos diversos
E coloridas flores e ervas.


Louvado sejas, meu Senhor,
Pelos que perdoam por Teu amor,
E suportam enfermidades e tribulações.


Bem aventurados os que sustentam a Paz,
Que por Ti, Altíssimo, serão coroados.


Louvado sejas, meu Senhor,
Por nossa irmã a Morte corporal,
Da qual homem algum pode escapar.


Ai dos que morrerem em pecado mortal!
Felizes os que ela achar
Conformes à Tua santíssima vontade,
Porque a morte segunda não lhes fará mal!


Louvai e bendizei a meu Senhor,
E dai-Lhe graças,
E servi-O com grande humildade.






Caso queira ver o cântico acompanhado de imagens e um belíssimo fundo musical, veja tudo isto no link abaixo:













Inverno 1224-1225. Francisco de Assis é um homem de pouco mais de quarenta anos, que viveu de acordo com os preceitos do santo Evangelho. O Senhor havia lhe dado alguns irmãos, aos quais entregou uma regra que a Igreja aprovou, embora tenha continuado a reiterar que a única verdadeira Regra é "observar o santo Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo" (Regula bullata 1). Quando sua comunidade torna-se grande, em 1220 ele deixa a direção aos irmãos, mas não renuncia a ser seu guia espiritual, embora verifique que o projeto que o Senhor tinha revelado agora já não era mais seguido por seus irmãos, e ele havia se tornado objeto de contestação e também de desprezo. Frequentemente, em retiro com algum irmão, vive a "grande tentação", enquanto a saúde física deteriora-se e a doença o torna fraco e tira-lhe a visão. Em sua enfermidade, é acolhido por Clara no jardim do mosteiro, cada vez mais provado e tentado, mas confortado pela presença da mulher que se dizia "plantinha de Francisco."Agora já muito parecido ao seu Senhor humano, depois de uma noite terrível, de trevas até mesmo interiores, na manhã levantou-se e disse aos irmãos que estavam com ele:"Pela graça e bênção tão grande que me foi dada (...) quero, em louvor Dele, para o meu consolo e para a edificação do próximo, compor um novo Louvor ao Senhor por suas criaturas "(Legenda Perusiana [ Compilatio Assisiensis] 43; Fontes franciscanas 1591). E assim, um silêncio, com o rosto voltado para o sol que já não podia mais ver, porque seus olhos estavam vendados depois de ter sidos cauterizados, começou a dizer:Altissimu onnipotente bon Signore, Tue so’ le laude, la gloria e l’honore et onne benedictione. Ad Te solo, Altissimo, se konfane et nullu homo ène dignu Te mentovare (o texto é tirado de Fontes franciscanas 263). Eis como nasceu o Cântico do Irmão Sol ou Cântico das Criaturas: de um homem, um cristão doente, fraco, pobre e em tentação, já cego, impossibilitado de ver o sol e as outras criaturas. Com esse cântico, alimentado pela oração, inspirado pelos salmos bíblicos (e não por um gnosticismo panteísta) e gerado por seu coração capaz de ver e observar com os olhos a beleza de cada criatura animada ou inanimada, Francisco diz primeiramente um "amém", um "sim" à vida e a este mundo, em seguida, louva, agradece ao seu Senhor que chama com intimidade e amor "mi’ Signore', o meu Senhor. Como nos testemunha Tomás de Celano:Francisco “já não era mais um homem que orava, havia se tornado uma oração viva” (non tam orans, quam oratio factus; o texto é de Segunda Vida 95; Fontes franciscanas 682).Ao Altíssimo, ao bom Senhor, ao mi’ Signore - epítetos divinos dispostos em uma escala de decrescente, do céu à terra - Francisco em primeiro lugar confessa que o louvor é devido à glória, à honra e à bênção, em uma doxologia que lhe foi inspirada pelas aclamações das liturgias celestes narradas no Apocalipse (cfr. Apocalipse 4, 11; 5, 9-10.12-13, etc).Deus é aquele que é Altíssimo, porque Francisco sente-se muito baixo (o très-bas de Christian Bobin) e sente que nenhum homem, nem mesmo ele, é digno de "mentovarlo", de nomeá-lo, porque Deus permanece inefável, indizível, de acordo com todos os Escrituras do Antigo e do Novo Testamento: "Deus nunca foi visto" (Jo 1, 18):"Ninguém jamais viu a Deus" (1 Jo 4, 12). Por isso não deve ser nomeado, sendo o seu Nome impronunciável, misterioso, e sendo uma operação arriscada dar nomes a Deus. Nesse primeiro verso do Cântico existe, portanto, apenas uma confissão de louvor a Deus e de humildade-indignidade de quem se atreve a rezar.






Eis aqui a possibilidade do louvor "através" e "com" todas as criaturas!











O louvor cósmico não é feito de palavras sonoras, mesmo assim é uma mensagem que um dia fala a outro dia e uma noite a revela a outra noite (cfr. Salmo 19, 2-3), de modo que o cosmos está repleto de louvor que se eleva a Deus. Não convocam, por fim, os salmos as criaturas do céu, da terra e das profundezas a louvar ao Senhor? No livro de Enoque está escrito: "O sol e a lua dão graças e louvam incessantemente. Para eles, de fato, o agradecimento é repouso "(41, 6-7). Então, o cântico de Francisco respira o ritmo de aleluia do convite ao louvor do Senhor, tornando-se voz de cada criatura.Francisco ama todas as criaturas que vê, encontra, com que interage. Ele as vê, não só as olha, contempla-as até exultar e alegrar-se por sua existência ou presença.Francisco busca pela beleza, é um amator pulchritudinis (cfr. Regra de Agostinho 8, 1), um visionário que penetra além da matéria, não negada, não desprezada, mas percebida como reflexo, um sinal do Criador.Gregório Magno afirma em uma homilia:"O homem tem algo de todas as criaturas. Com as pedras têm em comum o fato de ser, com as árvores, a vida, com os animais, os sentidos e com os anjos, a inteligência. Se, portanto, tem algo em comum com todas as criaturas, ele é, em certo sentido, toda criatura "(Homilia 29, 2, Sources Chrétiennes 522.202).O ser humano está, portanto, habilitado não só a ordenar e a subjugar, mas principalmente a tutelar, a ser responsável, a unir a sua voz com àquela das criaturas - cum tucte le tue creature – até tornar-se a sua voz. Depois, então, o cântico prossegue:Laudato sie, mi’ Signore, cum tucte le Tue creature, spetialmente messor lo frate sole, lo quale è iorno, et allumini noi per lui. Et ellu è bellu e radiante cum grande splendore: de Te, Altissimo, porta significatione. Para quem, para o que deve ser "spetialmente" – ou seja, em primeiro lugar, acima de tudo, de uma maneira especial - louvado o Senhor? Para "messor", "o meu senhor," irmão sol. O sol, o sol sem o qual não haveria vida, sem o qual reinaria a escuridão da morte! Foi a primeira criatura adorada pelos homens e leve será a repreensão para aqueles que o transformaram em ídolo, porque seduzidos pela beleza, luz, pelas possibilidades de vida que traz com ele (cfr. Sabedoria. 13, 1-7).Para Francisco, o sol é "significatione", porque no sol ele contempla a ação luminosa e vivificante de Deus. O sol nos dá todas as manhãs o dia, ilumina as nossas vidas e é belo, glorioso no seu irradiar esplendor. Quem entre nós nunca sentiu em si a necessidade de se ajoelhar na frente do Irmão Sol em gratidão a Deus, e não por adoração? Quem entre nós nunca disse para si mesmo, ao acordar pela manhã e ver o sol, que aquele dia era melhor do que um dia nublado, sombrio? Claro, só os puros de coração veem Deus nas criaturas, especialmente no sol, não como aquele gnosticismo panteísta.Francisco também tinha praticado cantar o louvor de Deus ao amanhecer, quando o sol aparece no horizonte, estrela da manhã; ao meio-dia, quando ele reina no céu e aquece a terra e o coração; à noite, quando ele se põe e desaparece, como memória que para cada um de nós há um fim para o seu dia. A sua oração, cadenciada pelos movimentos do sol, levou-o a considerá-lo "messor", "meu senhor", e lê-lo como um grande sinal de Deus, de Cristo, o sol da justiça (cf. Mc 3, 20; Lucas 1, 78; Apocalipse 2, 28; 22, 16). Após o louvor ao sol, Francisco continua:Laudato si’, mi’ Signore, per sora luna e le stelle: in celu l’ài formate clarite et pretiose et belle. Depois do sol, que permite o dia, eis também os luminares da noite, a lua e as estrelas. Foram moldadas pelo Criador “clareadas", claras, com uma luz branca, são preciosas como pérolas que pontilham a noite e também são lindas de se olhar, de contemplar. Olhar para o céu estrelado, observar seu lento movimento, seguir o aparecimento e desaparecimento dos planetas, decifrar as fases da lua em seu crescer e minguar, é operação de reconhecimento da abóbada celeste que os seres humanos sempre fizeram, ouvindo extasiados a aceleração dos próprios batimentos cardíacos. A lua, tão fiel aos seus encontros, a Lua que desde os tempos antigos marca o tempo, a lua em cujo brilho noturno pode-se ouvir o silêncio e a natureza que geme e sofre. Até mesmo Clara, era luminosa como as estrelas na noite de Francisco: luminosa, discreta e fiel! Laudato si’, mi’ Signore, per frate vento et per aere et nubilo et sereno et onne tempo, per lo quale a le Tue creature dài sustentamento. Depois do sol, da lua e das estrelas, o louvor sobe ao Senhor para o vento e para o tempo que está nublado ou sereno, conforme o necessário. O vento é a respiração do mundo, faz cantar as criaturas inanimadas quando as acaricia ou flagela: picos e desfiladeiros das montanhas, vales, árvores, folhas... Como o Espírito, não se sabe de onde vem nem para onde vai: símbolo de liberdade, de força que você não pode segurar, de realidades invisíveis, mas experimentáveis, que não podem ser detidas (cfr. Jo 3, 5-8). Graças ao vento que traz nuvens carregadas de chuva e, depois, as varre trazendo de volta o céu sereno, Deus dá sustento a todas as criaturas, porque assim "derrama chuva sobre justos e injustos" (Mt 5, 45), como Pai misericordioso. "No vento, se você souber ouvi-lo, tem Alguém", dizia Gaston Bachelard. Francisco sabe que Deus "faz seus mensageiros os ventos" (Salmo cf. 104: 4) e que o vento é sinal da presença do Senhor, porque é invisível, mesmo assim pode ser experienciado. Não teve, de fato, vento no início da criação, quando soprava sobre as águas primordiais (cfr. Gn 1, 2)? Não teve vento na saída de Israel do Mar Vermelho (ver Êxodo 15: 8.)? Não teve brisa silenciosa no rosto de Elias no Horebe (cf. 1 Reis 19, 12)? Não teve um vento veemente na descida do Espírito no dia de Pentecostes (cf. At. 2, 1-2)?Portanto, seja louvado o Senhor por esta criatura, o vento, criatura invisível, mas cuja presença é evidente quando chega sobre as criaturas visíveis, que estremecem à sua passagem. Segue o louvor para os outros elementos: água, fogo, terra. Começa pela água:Laudato si’, mi’ Signore, per sor’aqua, la quale è multo utile et humile et pretiosa et casta.





“Louvado sejas, meu Senhor
Pela irmã Água,
Que é mui útil e humilde
E preciosa e casta!”






Para a água sobe a Deus o louvor, porque é muito útil, útil como o sol para a vida. Sem água só é possível uma terra desolada, o deserto, enquanto nos lugares chega a água flui a vida. É por isso que é destinada para todos, não pode submeter-se à lógica do meu e do teu! Além disso, se destina a todos aqueles que vivem na terra, animais, vegetais, mas também minerais que, graças à água, se transformam, e podemos dizer que eles também vivem, não biologicamente, mas mudando ao longo dos séculos.Francisco sente a necessidade de dizer que a água não é apenas útil, mas também humilde, humilde na sua simplicidade, humildade, porque sempre vai para baixo, contorna obstáculos sem dicutir com eles. Também é preciosa porque fecunda a terra; e dessa preciosidade só nos apercebemos quando falta, na seca, mas justamente por isso Francisco lembra sua preciosidade. Por fim, a água é casta, porque transparente, límpida. A castidade, de fato, é a transparência em todas as relações, exclui toda fusionalidade, toda ocultação, toda turbidez e misturas que não condizem com a verdade de Cristo.Laudato si’, mi’ Signore, per frate focu, per lo quale ennallumini la nocte: et ello è bello et iocundo et robustoso et forte.




Louvado sejas, meu Senhor,
Pelo irmão fogo.
Pelo qual iluminas a noite!
E ele é belo e jucundo
E vigoroso e forte.





Raramente agora vemos o fogo e quase nunca o acendemos. No entanto, até um século atrás, todas as noites, os homens e as mulheres acendiam o fogo para iluminar a noite, mas também, para se aquecer e cozinhar seus alimentos. Cada casa tinha uma lareira, a ponto de usar sua presença para indicar o número de famílias: "Essa aldeia tem tantas lareiras, tantos fogos". Acender o fogo foi considerado uma ação sagrada, e quando o fogo ardia, a alegria enchia o coração. Para Francisco o fogo, como o sol, a lua e as estrelas, é lindo de se olhar, contemplar. Parece robusto, forte, porque queima qualquer coisa, coloca em brasa e torna dúctil o ferro, discerne e purifica o ouro.É preciso ser capaz de ler o fogo para apreciá-lo devidamente: as cores brilhantes de sua chama que dependem da madeira seca ou ainda verde com que é alimentado, das diferentes árvores de onde é tirada a madeira; o seu crepitar que desprende faíscas, que parecem estrelas e que, em vez de descer, sobem e dançam para o alto; o calor que sabe emanar a brasa coberta pelas cinzas para manter o fogo para o dia seguinte. O fogo é um sinal daquilo que Jesus queria trazer para a terra e ver arder (cf. Lucas 12, 49), é sinal de paixão, de amor, de ardor dos nossos corações (cf. Cântico dos Cânticos 8: 6). Como o fogo, também o amor se acende, se inflama, queima, aquece, deve ser alimentado, conservado e às vezes se apaga. E, por fim, a irmã e mãe terra:Laudato si’, mi’ Signore, per sora nostra matre terra, la quale ne sustenta et governa, et produce diversi fructi con coloriti flori et herba. Se o sol era chamado, "messor", "meu Senhor," a terra é a chamada irmã e mãe, porque nós, humanos, de acordo com a Bíblia somos "terrosos", extraídos da terra (adam tirado da 'adamah: cfr Gênesis 2, 7 ), que é uma criatura como nós, portanto, irmã. Mas tendo sido tirados da terra, voltamos à terra (cfr. Gn 3, 19), para os braços da mãe terra, em suas vísceras. A terra, essa terra que nós amamos, essa terra que nos acolheu e que nos sustenta dando-nos alimentos, essa terra que habitamos e sobre a qual nos movemos, essa terra à qual nos apegamos até sofrer no momento de deixá-la. Essa é a mesma terra que também Deus quis habitar através de seu Filho, Jesus, que a amava: amava a Galileia, terra de seus pais; amava os campos onde se semeia o trigo, as figueiras nas quais procurava os frutos, as parreiras das quais bebia o vinho, as flores dos campos que contemplava vestidos mais gloriosamente que Salomão (cfr Mt 6, 29;Lc 12, 27); amava aquela terra que seus pés pisaram, cobrindo-se de poeira. Francisco canta-a como mãe que nos dá o alimento como sustento, uma terra que como uma mãe, mana de suas entranhas leite e mel (Êx 3,8) como também os frutos da terra que chegam até nossas mesas, mas também as flores tão gratuitas, que com a sua beleza alegram nossos olhos e olfato.Sobre esta terra Francisco, agonizante, quis estender-se nu, para morrer em contato e comunhão com ela como filho, irmão e mãe.Este é o Cântico do Irmão Sol que Francisco compôs e quis que fosse cantado. Mas em 1225-1226 nasceu um dissídio entre o podestà e o bispo de Assis. Francisco, doente, quis intervir para trazer a paz e, adicionando um verso ao Cântico, envia um de seus frades para cantá-lo diante dos dois contendores (cfr. Legenda Perusina [Compilatio Assisiensis] 44; Fontes franciscanas 1593), mostrando como, para ele, a atenção para as criaturas não poderia ser separada da atenção aos assuntos humanos, da cidade e da história. Este é o verso que ele compôs e fez cantar:Laudato si’, mi’ Signore, per quelli ke perdonano per lo Tuo amore, et sostengo infirmitate et tribulatione. Beati quelli che ‘l sosterrano in pace, ka da Te, Altissimo, sirano incoronati... Francisco sabe louvar a Deus com as criaturas do céu e da terra, mas também sabe que o louvor sobe para Deus quando os seres humanos na terra entram em acordo, perdoam-se, reconciliam-se e celebram a paz. São o perdão e a misericórdia que, acima de tudo, louvam a Deus, porque é principalmente essa a vontade do Senhor: que os seres humanos se sintam irmãos e amem-se uns aos outros, como Cristo os amou (cfr. Jo 13, 34; 15, 12). A paz é o bem supremo para a humanidade e, ao mesmo tempo é o mais verdadeiro louvor, glorificação, bênção que se eleva a Deus.Outono de 1226, na véspera da morte de Francisco. Sua vida já foi transcorrida e o que a caracterizou foi a fraternidade e a irmandade. Sim, a vida de Francisco foi fraternidade com os pobres, os ricos cheios de bens e vazios na alma, os doentes, os pecadores, os rejeitados pela sociedade como ladrões e leprosos, e também a fraternidade com todas as criaturas do céu e da terra. Nunca desprezou qualquer criatura, nunca procurou nos outros o mal, mas tentou ler o seu sofrimento e desejo. Não foi um monge ascético que desprezava o mundo, mas também não foi tentado a aderir aos cátaros, angustiados pelas realidades desse mundo frágil e pecador e dedicados a um ascetismo sem medida. Disse "amém" à vida, julgou boas e belas as obras da criação. Havia rezado com a Bíblia, mas ao ser inspirado por ela foi ainda mais longe, encontrou um vínculo de fraternidade e irmandade entre as criaturas e o homem que a Bíblia não havia explicitado.Sim, existe um vínculo universal entre todas as criaturas, uma irmandade que Francisco revela e canta em seu cântico. Se Adão deu nome às criaturas (cfr. Gn. 2: 19-20), Francisco as convoca a um Conventum (de cum-vir) porque convento e claustro era para ele o mundo, não o mosteiro fortaleza e claustrum da Idade Média! À imitação de Jesus nu na cruz na hora da morte, Francisco pede para ser colocado nu sobre a terra nua, porque na nudez viveu a comunhão com todas as criaturas, por ele amadas em sua nudez, naquela sua simplicidade que ele sabia ler como beleza. E assim, fazendo uma anamnese da própria vida, e encontrando nela a irmandade e a fraternidade que ele sempre viveu, com tudo e todos, até mesmo a morte que chega pode ser chamada de irmã:Laudato si’ mi’ Signore per sora nostra morte corporale, da la quale nullu homo vivente pò scappare: guai a quelli che morrano ne le peccata mortali; beati quelli che trovarà ne le Tue sanctissime voluntati, ka la morte secunda no ‘l farrà male.Mesmo a morte para Francisco é irmã. E que a nossa irmã morte seja bem acolhida depois de um dia bem dedicado. E nós aqui olhamos para ele e não comentamos porque somos incapacitados de dizer uma palavra a mais. De fato, ainda não somos capazes de chamar a morte de irmã! Então, em silêncio, com todas as criaturas, louvamos e bendizemos o Senhor, agradecendo-o e permanecemos diante dele no serviço e na humildade, como Francisco conclui em seu Cântico:Laudate et benedicete mi’ Signore’ et rengratiate et serviateli cum grande humilitate.












Carlos María Galli, da Universidade Católica da Argentina e membro da Comissão Teológica Internacional, comentou na edição do jornal L’Osservatore Romano, o terceiro capítulo do Documento de Aparecida de 2007, redigido pela Comissão presidida pelo então cardeal Jorge Mário Bergoglio, em cujo texto se encontram os ensinamentos do Papa Francisco contidos na encíclica Laudato sì e muitas questões tratadas no último Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia.Em 2007, realizou-se no Santuário de Aparecida, Brasil, a V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe sobre o tema "Discípulos e Missionários de Jesus Cristo, para que nele nossos povos tenham vida".Tive a graça de ser um dos peritos teólogos daquela assembleia e de colaborar com a Comissão para a redação do Documento conclusivo presidida pelo cardeal Jorge Mario Bergoglio, SJ. O seu terceiro capítulo ilustra a alegria de ser discípulos missionários que anunciam o Evangelho e, entre as boas novas nascidas da Boa Nova, anuncia "o destino universal dos bens e da ecologia". Um parágrafo significativo pertence a esta seção. "Com os povos originários da América, louvemos ao Senhor que criou o universo como um espaço para a vida e a convivência de todos os seus filhos e filhas, deixando-nos como sinal de sua bondade e da sua beleza. A criação é também uma manifestação do amor providente de Deus; foi-nos dada para que a cuidemos e a transformemos numa fonte digna de vida para todos. Embora hoje uma cultura de maior respeito pela natureza tenha se espalhado, percebemos claramente de quantas maneiras o homem ainda ameaça e destrói o seu habitat. ‘Sora nostra matre terra’ é a nossa casa comum e o lugar da aliança de Deus com os seres humanos e com toda a criação. Não levar em consideração as mútuas relações e o equilíbrio que o próprio Deus estabeleceu entre as coisas criadas, constitui uma ofensa ao Criador, um atentado contra a biodiversidade e, em última análise, contra a vida. O discípulo missionário a quem Deus deu a criação deve contemplá-la, conservá-la e utilizá-la, respeitando sempre a ordem que lhe foi dada pelo Criador" (Documento de Aparecida, n. 125). 













Neste texto, e em outros parágrafos do documento (nn. 83-87, 470-475), há uma antecipação dos ensinamentos do Papa Francisco contidos em sua encíclica sócio-ambiental Laudato si e dos temas tratados na Assembleia especial do Sínodo dos Bispos para a região amazônica sobre o tema "Amazônia: Novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral". No cuidado da casa comum vemos que Bergoglio cooperou com Aparecida e que Aparecida coopera com Francisco.No precioso parágrafo acima mencionado, gostaria de chamar a atenção apenas para a frase "Sora nostra madre terra". Estava já presente no projeto do segundo esboço desse documento. Uma dos mais de 2.400 modos ou propostas de modificação que chegaram à Comissão pediam que a frase fosse eliminada, porque, dizia, continha uma ideologia indígena ecologista, hostil à Igreja Católica, que idolatrava a mãe terra na figura da Pachamama. A comissão rejeitou o modus apresentado por um prelado latino-americano e decidiu colocar em nota a fonte da frase entre aspas. Portanto, a nota de rodapé 58 do documento diz: "Francisco de Assis, Cântico do Irmão Sol, versículo 20".Lembro-me deste episódio pouco conhecido, que aconteceu há doze anos, porque na fase de preparação do sínodo sobre a Amazônia, foram ditas e lidas afirmações semelhantes às do modus citado pelos prelados que questionavam os parágrafos do Instrumentum laboris sobre a mãe terra (nn. 17 e 84). Então me perguntei se esses detratores, devido a uma inexplicável falta de cultura cristã, ignoraram o Cântico ou o iludiam em sua dialética ofensiva. Durante o sínodo, no qual participei como perito, pensei muito sobre o conteúdo dessa expressão franciscana.O documento final não menciona o Cântico e se refere a São Francisco somente no número 17 como "exemplo de conversão integral vivida com alegria e alegria cristã", sem mencionar que foi nomeado patrono da assembléia. Em vez disso, ele faz duas referências à mãe terra na busca de uma ecologia integral (nn. 25 e 101).Desejo recordar aqui a bonita estrofe (original), porque ilustra a sabedoria cristã no que diz respeito à terra:





"Louvado sejas, meu Senhor, 
pela nossa irmã, a mãe Terra,
que nos apoia e governa,
e produz diversos frutos 
com coloridas flores e ervas."





A oitava estrofe do Cântico é mencionada pelo Papa Francisco no início da Laudato si porque liga familiarmente o ser humano à terra. A nossa casa comum é como uma irmã, com quem partilhamos a nossa existência, e como uma bela mãe que nos acolhe nos seus braços. Na poesia do Pobrezinho ouvimos o eco do canto dos três jovens mártires que louvavam a Deus pelas suas maravilhas, narrado em um fragmento do livro de Daniel, conservado em traduções gregas (cf. Dn 3, 53-90). Este hino de bênção é fonte de inspiração para o cântico de São Francisco.  Em dois versículos desse texto bíblico lemos:"Abençoa a terra, o Senhor, louvai-o e exaltai-o ao longo dos séculos" (v. 74). A terra participa no coro de todas as criaturas que, através da voz humana, louvam o Criador. Ela contém todos os seus frutos: "Abençoai, todas as criaturas que germinam na terra, o Senhor" (v. 76).






Neste horizonte sapiencial podemos identificar três relações do ser humano com a terra, duas das quais são expressas em ambos os cantos de louvor. A estes acrescento um terceiro, o filial:





1)- A terra é como uma irmã, porque nós, criaturas, viemos do único Deus, Pai Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis. A criação é um livro aberto - o clássico liber  creaturae - que comunica ou revela, à sua maneira, a Verdade, a Bondade e a Beleza de Deus. Contemplando a obra de arte conhecemos um pouco do Artista, o seu Autor (cf. Sabedoria 13,5). O Pobrezinho de Assis dava a todas as criaturas o doce nome de irmãs e as convidava a louvar a Deus.





2)- A Terra é como uma mãe, porque alimenta nós seres que nascemos e crescemos neste mundo e, em particular, aqueles que dela germinam. A terra recebe a luz, o calor e o carinho do irmão sol, da irmã lua e do irmão fogo. É fecundada pela irmã água e, por sua vez, fecunda o irmão vento, ar em movimento. A sabedoria da Palavra de Deus e de todos os povos abençoa o Senhor, dizendo-lhes: "com o fruto das tuas obras enche a terra" (Sal 103, 13).





3)- A terra nos precede e nos é confiada. É também como uma filha para o ser humano, que é o único a ter sido criado na terra à imagem e semelhança de Deus, a quem o Senhor ama de modo pessoal e a quem entrega a obra das suas mãos (cf. Sl 8, 4-7). O irmão mais velho tem a missão de cultivar e conservar a natureza (cf. Gn 2, 15), de a cultivar sem a abandonar e de a salvaguardar sem a destruir.O Papa recorda a nossa responsabilidade diante de Deus pela terra: "Isto implica uma relação responsável de reciprocidade entre os seres humanos e a natureza" (Laudato si, n. 67).










A Igreja invoca São Francisco de Assis, o irmão universal, para encontrar uma ecologia integral na qual se aprende e se ensina a amar e cuidar da terra como irmã, mãe, e filha!















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APOSTOLADO BERAKASH - A serviço da Verdade: Este blog não segue o padrão comum, tem opinião própria, não querendo ser o dono da verdade, mas, mostrando outras perspectivas racionais para ver assuntos que interessam a todos. Trata basicamente de pessoas com opiniões e ideias inteligentes, para pessoas inteligentes. Ocupa-se de ideias aplicadas à política, a religião, economia, a filosofia, educação, e a ética. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre literatura,  questões culturais, e em geral, focando numa discussão bem fundamentada sobre temas os mais relevantes em destaques no Brasil e no mundo. A mera veiculação, ou reprodução de matérias e entrevistas deste blog não significa, necessariamente, adesão às ideias neles contidas. Tal material deve ser considerado à luz do objetivo informativo deste blog, não sendo a simples indicação, ou reprodução a garantia da ortodoxia de seus conteúdos. As notícias publicadas nesta página são repostadas a partir de fontes diferentes, e transcritas tal qual apresentadas em sua origem. Este blog não se responsabiliza e nem compactua com opiniões ou erros publicados nos textos originais. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com as fontes originais para as devidas correções, ou faça suas observações (com fontes) nos comentários abaixo para o devido esclarecimento aos internautas. Os comentários devem ser respeitosos e relacionados estritamente ao assunto do post. Toda polêmica desnecessária será prontamente banida. Todos os comentários são de inteira responsabilidade de seus autores e não representam, de maneira alguma, a posição do blog. Não serão aprovados os comentários escritos integralmente em letras maiúsculas, ou CAIXA ALTA. A edição deste blog se reserva o direito de excluir qualquer artigo ou comentário que julgar oportuno, sem demais explicações. Todo material produzido por este blog é de livre difusão, contanto que se remeta nossa fonte.Não somos bancados por nenhum tipo de recurso ou patrocinadores internos, ou externo ao Brasil. Este blog é independente e representamos uma alternativa concreta de comunicação. Se você gosta de nossas publicações, junte-se a nós com sua propaganda para que possamos crescer e fazer a comunicação dos fatos, doa a quem doer. Entre em contato conosco pelo nosso e-mail abaixo, caso queira colaborar de alguma forma:

 

 

 

 

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CIDADÃO DO MUNDO, NORDESTINO COM ORGULHO, Brazil
Neste Apostolado APOLOGÉTICO (de defesa da fé, conforme 1 Ped.3,15) promovemos a “EVANGELIZAÇÃO ANÔNIMA", pois neste serviço somos apenas o Jumentinho que leva Jesus e sua verdade aos Povos. Portanto toda honra e Glória é para Ele.Cristo disse-nos:Eu sou o caminho, a verdade e a vida e “ NINGUEM” vem ao Pai senão por mim" (João14, 6).Defendemos as verdade da fé contra os erros que, de fato, são sempre contra Deus.Cristo não tinha opiniões, tinha a verdade, a qual confiou a sua Igreja, ( Coluna e sustentáculo da verdade – Conf. I Tim 3,15) que deve zelar por ela até que Ele volte(1Tim 6,14).Deus é amor, e quem ama corrige, e a verdade é um exercício da caridade. Este Deus adocicado, meloso, ingênuo, e sentimentalóide, é invenção dos homens tementes da verdade, não é o Deus revelado por seu filho: Jesus Cristo.Por fim: “Não se opor ao erro é aprová-lo, não defender a verdade é nega-la” - ( Sto. Tomás de Aquino).Este apostolado tem interesse especial em Teologia, Política e Economia. A Economia e a Política são filhas da Filosofia que por sua vez é filha da Teologia que é a mãe de todas as ciências. “Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao vosso nome dai glória...” (Salmo 115,1)

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