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Tipos de "teólogos" e as várias “teologias” - O que a igreja espera dos teólogos?

Written By Beraká - o blog da família on sábado, 14 de julho de 2018 | 12:47









CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ - INSTRUÇÃO: "DONUM VERITATIS" (O DOM DA VERDADE) SOBRE A VOCAÇÃO ECLESIAL DO TEÓLOGO

 


 

 

INTRODUÇÃO

 




1. A verdade que liberta é um dom de Jesus Cristo (cf. Jo 8, 32). A busca da verdade é inerente à natureza do homem, enquanto a ignorância o mantém em uma condição de escravidão. Com efeito, o homem não pode ser verdadeiramente livre se não é iluminado quanto às questões centrais da sua existência, em particular sobre a questão de saber de onde vem e para onde vai. Torna-se livre quando Deus a ele se doa como um Amigo, segundo a palavra do Senhor: « não vos chamo mais de servos, porque o servo não sabe o que o seu senhor faz; mas eu vos chamo amigos, porque tudo o que ouvi do Pai eu vos dei a conhecer » (Jo 15, 15). A libertação da alienação do pecado e da morte se realiza para o homem quando Cristo, que é a Verdade, se torna para ele também o « caminho » (cf. Jo 14, 6). Na fé cristã, conhecimento e vida, verdade e existência são intrinsecamente unidas. A verdade doada na revelação de Deus ultrapassa, evidentemente, as capacidades de conhecimento do homem, mas não se opõe à razão humana. Pelo contrário, ela a penetra, eleva e apela à responsabilidade de cada um (cf. 1 Pd 3, 15). Por isso, desde os primórdios da Igreja, a « norma da doutrina » (Rm 6, 17) tem sido, com o batismo, vinculada ao ingresso no mistério de Cristo. O serviço à doutrina, que implica a crente busca da compreensão da fé, isto é, a teologia, é portanto uma exigência à qual a Igreja não pode renunciar. Em todas as épocas, a teologia é importante para que a Igreja possa dar uma resposta ao desígnio de Deus, « que quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade » (1 Tim 2, 4). Em tempos de grandes mudanças espirituais e culturais, ela é ainda mais importante, mas também exposta a riscos, devendo esforçar-se para « permanecer » na verdade (cf. Jo 8, 31) e ao mesmo tempo ter em consideração os novos problemas que interpelam o espírito humano. No nosso século, particularmente durante a preparação e a realização do Concílio Vaticano II, a teologia em muito contribuiu para uma mais profunda « compreensão das realidades e das palavras transmitidas »,[1] mas também experimentou, e ainda experimenta, momentos de crise e de tensão. A Congregação para a Doutrina da Fé julga pois, oportuno dirigir aos bispos da Igreja católica e através deles aos teólogos, a presente Instrução, cujo fim é iluminar a missão da teologia na Igreja. Após tomar em consideração a verdade como dom de Deus ao seu povo (I), descreverá a função dos teólogos (II), detendo-se em seguida sobre a missão particular dos Pastores (III), e propondo enfim algumas indicações a respeito da justa relação entre uns e outros (IV). Ela pretende assim servir para o crescimento no conhecimento da verdade (cf. Col 1, 10), que nos introduz naquela liberdade por cuja conquista Cristo morreu e ressuscitou (cf. Gal 5, 1).




 






I. A VERDADE, DOM DE DEUS AO SEU POVO



 

2. Impelido por un amor sem medida, Deus quis fazer-se próximo ao homem que busca a própria identidade, e caminhar com ele (cf. Lc 24, 15). Ele também o libertou das insídias do « pai da mentira » (cf. Jo 8, 44), e abriu-lhe o acesso à sua intimidade para que ali encontrasse, em abundância, a sua plena verdade, e a verdadeira liberdade. Este desígnio de amor, concebido pelo « Pai das luzes » (Tg 1, 17; cf. 1 Pd 2, 9; 1 Jo 1, 5) e realizado pelo Filho vencedor da morte (cf. Jo 8, 36) é atualizado continuamente pelo Espírito que conduz « à verdade plena » (Jo 16, 13).

 



3. A verdade tem em si uma força unificante: liberta os homens do isolamento e das oposições em que estão aprisionados pela ignorância da verdade e, abrindo-lhes o caminho para Deus, os une entre si. Cristo destruiu o muro de separação que havia tornado os homens estranhos à promessa de Deus e à comunhão da aliança (cf. Ef 2, 12-14). Ele envia ao coração dos fiéis o seu Espírito, por meio do qual todos nós, nele, somos « um só » (cf. Rm 5, 5; Gal 3, 28). Assim, graças ao novo nascimento e à unção do Espírito Santo (cf. Jo 3, 5; 1 Jo 2, 20. 27), tornamo-nos o único e novo Povo de Deus, que com vocações e carismas diversos, tem a missão de conservar e transmitir o dom da verdade. Com efeito, a Igreja toda, como « sal da terra » e « luz do mundo » (cf. Mt 5, 13s), deve dar testemunho da verdade de Cristo que liberta.

 



4. A este chamamento o Povo de Deus responde « sobretudo por meio de uma vida de fé e de caridade, e oferecendo a Deus um sacrifício de louvor ». No que toca mais especificamente à « vida de fé », o Concílio Vaticano II precisa que a « totalidade dos fiéis que receberam a unção do Espírito Santo » (cf. 1 Jo 2, 20. 27) não pode enganar-se na fé, e manifesta esta sua peculiar propriedade mediante o senso sobrenatural da fé de todo o povo quando, "desde os bispos até os últimos fiéis leigos", apresenta um consenso universal sobre questões de fé e de costumes ».[2]

 



5. Para exercitar a sua função profética no mundo, o Povo de Deus deve continuamente despertar ou « reavivar » a própria vida de fé (cf. 2 Tm 1, 6), particularmente por meio de uma reflexão sempre mais aprofundada, guiada pelo Espírito Santo, sobre o conteúdo da própria fé e através do esforço de mostrar a sua racionabilidade àqueles que lhe perguntam pelas razões (cf. 1 Pd 3, 15). Em vista desta missão o Espírito de verdade dispensa, entre os fiéis de toda ordem, graças especiais dadas « para a utilidade comum » (1 Cor 12, 7-11).



 

II. A VOCAÇÃO DO TEÓLOGO



 

6. Entre as vocações suscitadas na Igreja pelo Espírito, distingue-se a do teólogo, que em modo particular tem a função de adquirir, em comunhão com o Magistério, uma compreensão sempre mais profunda da Palavra de Deus contida na Escritura inspirada e transmitida pela Tradição viva da Igreja.Por sua natureza a fé se apela à inteligência, porque desvela ao homem a verdade sobre o seu destino e o caminho para o alcançar. Mesmo sendo a verdade revelada superior a todo o nosso falar, e sendo os nossos conceitos imperfeitos frente à sua grandeza, em última análise insondável (cf. Ef 3, 19), ela convida porém a razão — dom de Deus feito para colher a verdade — a entrar na sua luz, tornando-se assim capaz de compreender, em certa medida, aquilo em que crê. A ciência teológica, que respondendo ao convite da verdade, busca a inteligência da fé, auxilia o Povo de Deus, de acordo com o mandamento do Apóstolo (cf. 1 Pd 3, 15), a dar razão da própria esperança, àqueles que a pedem.

 



7. O trabalho do teólogo responde assim ao dinamismo interno da própria fé: por sua natureza a Verdade quer comunicar-se, já que o homem foi criado para perceber a verdade, e deseja no mais profundo de si mesmo conhecê-la para nela se encontrar e para ali encontrar a sua salvação (cf. 1 Tm 2, 4). Por isto o Senhor enviou os seus apóstolos para que fizessem « discípulas » todas as nações e as ensinassem (cf. Mt 28, 19s.). A teologia, que busca a « razão da fé » e que àqueles que procuram oferece esta razão como uma resposta, constitui parte integrante da obediência a este mandamento, porque os homens não podem tornar-se discípulos se a verdade contida na palavra da fé não lhes é apresentada (cf. Rm 10, 14s.). A teologia oferece portanto a sua contribuição para que a fé se torne comunicável, e a inteligência daqueles que não conhecem ainda o Cristo possa procurá-la e encontrá-la. A teologia, que obedece ao impulso da verdade que tende a comunicar-se, nasce também do amor e do seu dinamismo: no ato de fé, o homem conhece a bondade de Deus e começa a amá-lo, mas o amor deseja conhecer sempre melhor aquele a quem ama.[3] Desta dúplice origem da teologia, inscrita na vida interior do Povo de Deus e na sua vocação missionária, deriva o modo pelo qual ela deve ser elaborada para atender às exigências da sua natureza.

 



8. Visto que o objeto da teologia é a Verdade, o Deus vivo e o seu desígnio de salvação revelado em Jesus Cristo, o teólogo é chamado a intensificar a sua vida de fé e a unir sempre pesquisa científica e oração.[4] Será assim mais aberto ao « senso sobrenatural da fé » do qual depende e que se lhe apresentará como uma segura norma para guiar a sua reflexão e verificar e exatidão das suas conclusões.

 



9. No decorrer dos séculos a teologia constituiu-se progressivamente em verdadeiro e próprio saber científico. E portanto necessário que o teólogo esteja atento às exigências epistemológicas da sua disciplina, às exigências do rigor crítico, e consequentemente à verificação racional de todas as etapas da sua pesquisa. Mas a exigência crítica não se identifica com o espírito crítico, que nasce, pelo contrário, de motivações de caráter afetivo ou de preconceito. O teólogo deve discernir em si mesmo a origem e as motivações de sua atitude crítica e permitir que o seu olhar seja purificado pela fé. O empenho teológico exige um esforço espiritual de retidão e de santificação.

 



10. Mesmo transcendendo a razão humana, a verdade revelada se harmoniza profundamente com ela. Isso supõe que a razão seja naturalmente ordenada à verdade, de modo que, iluminada pela fé, ela possa penetrar o significado da Revelação. Contrariando as afirmações de muitas correntes filosóficas, mas em consonância com um reto modo de pensar confirmado pela Escritura, deve-se reconhecer a capacidade da razão humana de atingir a verdade, assim como a sua capacidade metafísica de conhecer a Deus a partir da criação.[5]A tarefa própria à teologia de compreender o sentido da Revelação exige, portanto, o uso de aquisições filosóficas que forneçam « um sólido e harmónico conhecimento do homem, do mundo e de Deus »,[6] e possam ser assumidas na reflexão sobre a doutrina revelada. As ciências históricas são igualmente necessárias aos estudos do teólogo, antes de mais nada pelo caráter histórico da própria revelação, que nos foi comunicada em uma « história de salvação ». Deve-se enfim recorrer, também, às « ciências humanas », para melhor compreender a verdade revelada sobre o homem e sobre as normas morais do seu agir, colocando em relação com ela os resultados válidos destas ciências. Nesta perspectiva, é tarefa do teólogo assumir da cultura do seu ambiente elementos que lhe permitam melhor iluminar um ou outro aspecto dos mistérios da fé. Uma tal tarefa é certamente árdua e comporta riscos, mas é em si mesma legítima e deve ser encorajada. A este respeito, é importante sublinhar que a utilização pela teologia de elementos e instrumentos conceituais oriundos da filosofia ou de outras disciplinas, exige um discernimento cujo princípio normativo último é a doutrina revelada. É ela que deve fornecer os critérios para o discernimento destes elementos e instrumentos conceituais, e não vice-versa.

 



11. O teólogo, não esquecendo jamais que também ele é membro do Povo de Deus, deve nutrir-lhe respeito, e esforçar-se por dispensar-lhe um ensinamento que não venha a lesar, de modo algum, a doutrina da fé. A liberdade própria da pesquisa teológica, é exercitada no interior da fé da Igreja. A ousadia, portanto, que com frequência se impõe à consciência do teólogo, não pode dar frutos e « edificar », se não é acompanhada pela paciência da maturação. As novas propostas avançadas pela compreensão da fé « não são senão uma oferta feita a toda a Igreja. São necessárias muitas correções e alargamentos de perspectiva, em um diálogo fraterno, antes que chegue o momento em que toda a Igreja possa aceitá-las ». Por conseguinte a teologia, enquanto « serviço muito desinteressado à comunidade dos fiéis, comporta essencialmente um debate objetivo, um diálogo fraterno, uma abertura e uma disponibilidade para modificar as próprias opiniões ».[7]



 

12. A liberdade de investigação, que é justamente estimada pela comunidade dos homens de ciência como um dos seus bens mais preciosos, significa disponibilidade para acolher a verdade tal como ela se apresenta ao fim de uma investigação, na qual não tenha interferido qualquer elemento estranho às exigências de um método que corresponda ao objeto estudado.Na teologia esta liberdade de investigação inscreve-se no interior de um saber racional cujo objeto é dado pela Revelação, transmitida e interpretada na Igreja sob a autoridade do Magistério, e acolhida pela fé. Descurar estes dados que têm valor de princípio, seria equivalente a deixar de fazer teologia. Para bem precisar as modalidades desta relação com o Magistério, torna-se agora oportuno refletir sobre o papel deste ultimo na Igreja.

 



III. O MAGISTÉRIO DOS PASTORES

 



13 « Deus dispôs com suma benignidade que aquelas coisas que ele revelara para a salvação de todos os povos permanecessem sempre íntegras e fossem transmitidas a todas as gerações ».[8] Ele deu à sua Igreja, mediante o dom do Espírito Santo, uma participação da própria infalibilidade.[9] O Povo de Deus, graças ao « senso sobrenatural da fé », goza desta prerrogativa, sob a orientação do Magistério vivo da Igreja, que pela autoridade exercida em nome de Cristo é o único intérprete autêntico da palavra de Deus, escrita ou transmitida.[10]

 



14. Como sucessores dos Apóstolos, os Pastores da Igreja « recebem do Senhor... a missão de ensinar a todos os povos e pregar o evangelho a toda criatura, a fim de que todos os homens... alcancem a salvação ».[11] A eles é, portanto, confiada a tarefa de conservar, expor e difundir a Palavra de Deus, da qual são servidores.[12] A missão do Magistério é a de afirmar, em coerência com a natureza « escatológica » própria do evento de Jesus Cristo, o caráter definitivo da aliança instaurada por Deus, através de Cristo, com o seu povo, tutelando este último contra desvios e perdas, e garantindo-lhe a possibilidade objetiva de professar sem erros a fé autêntica, em qualquer tempo e nas diversas situações. Daí segue que o significado do Magistério e o seu valor, são compreensíveis somente em relação com a verdade da doutrina cristã e com a pregação da verdadeira Palavra. Assim, a função do Magistério não é algo de extrínseco à verdade cristã nem de sobreposto à fé; ela emerge diretamente da própria economia da fé, enquanto o Magistério, no seu serviço à Palavra de Deus, é uma instituição positivamente desejada por Cristo, como elemento constitutivo da Igreja. O serviço prestado pelo Magistério à verdade cristã é, por isso, em favor de todo o Povo de Deus, chamado a entrar naquela liberdade da verdade que Deus revelou em Cristo.



 







15 Para que possam cumprir plenamente a tarefa a eles confiada de ensinar o evangelho e de interpretar autenticamente a Revelação, Jesus Cristo prometeu aos Pastores da Igreja a assistência do Espírito Santo. Ele os dotou em particular do carisma de infalibilidade no que concerne a matéria de fé e de costumes. O exercício deste carisma pode apresentar modalidades diversas. Exerce-se particularmente quando os bispos, em união com o seu chefe visível, através de um ato colegial, como no caso dos Concílios ecuménicos, proclamam uma doutrina, ou quando o Pontífice romano, exercendo a sua missão de Pastor e Doutor supremo de todos os cristãos, proclama uma doutrina « ex cathedra ».[13]

 



16 A tarefa de guardar escrupulosamente e de expor fielmente o depósito da divina Revelação implica, por sua natureza, que o Magistério possa propor « de modo definitivo »[14] enunciados que, mesmo não estando contidos nas verdades de fé, são de tal forma ligados a elas que o caráter definitivo de tais afirmações deriva, em última análise, da própria Revelação.[15] Aquilo que se refere à moral pode ser objeto de Magistério autêntico já que o Evangelho, que é Palavra de vida, inspira e dirige todo o âmbito do agir humano. O Magistério tem assim, a tarefa de discernir, mediante juízos normativos para a consciência dos fiéis, os atos que são em si mesmos conformes às exigências da fé e que promovem a sua expressão na vida, e aqueles que, pelo contrário, por sua malícia intrínseca, são incompatíveis com tais exigências. Por causa da ligação que existe entre a ordem da criação e a ordem da redenção, e por causa da necessidade de conhecer e observar toda a lei moral em vista da salvação, a competência do Magistério se estende também ao que diz respeito à lei natural.[16] Por outro lado, a Revelação contém ensinamentos morais que de per si poderiam ser conhecidos pela razão natural, mas aos quais a condição do homem pecador torna difícil o acesso. É doutrina de fé que estas normas morais podem ser infalivelmente ensinadas pelo Magistério.[17]

 



17. A assistência divina é dada, além disso, aos sucessores dos Apóstolos, que ensinam em comunhão com o sucessor de Pedro e, de uma maneira particular, ao Romano Pontífice, Pastor de toda a Igreja, quando sem chegar a uma definição infalível e sem pronunciar-se de « maneira definitiva », no exercício do seu magistério ordinário, propõem um ensinamento que conduz a uma melhor compreensão da Revelação em matéria de fé e de costumes, e diretivas morais derivantes deste ensinamento. Deve-se, pois, ter em consideração qual o caráter próprio de cada uma das intervenções do Magistério e a medida na qual é envolvida a sua autoridade, mas também o fato de que todas derivam da mesma fonte, isto é, de Cristo, que deseja que o seu Povo caminhe na verdade plena. Pelo mesmo motivo, as decisões magisteriais em matéria de disciplina, mesmo não sendo garantidas pelo carisma da infalibilidade, não são desprovidas da assistência divina, e exigem a adesão dos fiéis.

 



18. O Pontífice romano cumpre a sua missão universal ajudado pelos organismos da Cúria romana e em particular pela Congregação para a Doutrina da Fé, no que se refere à doutrina sobre a fé e sobre a moral. Consequentemente, os documentos desta Congregação, aprovados expressamente pelo Papa, participam do magistério ordinário do sucessor de Pedro.[18]

 



19. Nas Igrejas particulares compete ao bispo guardar e interpretar a palavra de Deus e julgar com autoridade aquilo que seja ou não de acordo com ela. O ensinamento de cada bispo, tomado em particular, se exercita em comunhão com o do Pontífice romano, Pastor da Igreja universal, e com os outros bispos, dispersos pelo mundo ou reunidos em Concílio ecuménico. Esta comunhão é condição da sua autenticidade.Membro do Colégio episcopal graças à sua ordenação sacramental e à comunhão hierárquica, o bispo representa a sua Igreja, assim como todos os bispos em comunhão com o Papa, representam a Igreja universal no vínculo da paz, do amor, da unidade e da verdade. Convergindo na unidade, as Igrejas locais, com o seu património próprio, manifestam a catolicidade da Igreja. Por sua vez, as Conferências episcopais contribuem para a realização concreta do espírito (« affectus ») colegial.[19]

 



20. A tarefa pastoral do Magistério, cujo escopo é vigiar para que o Povo de Deus permaneça na verdade que liberta, é portanto uma realidade complexa e diversificada. O teólogo, na sua dedicação ao serviço da verdade, deverá, para permanecer fiel à sua função, levar em conta a missão própria do Magistério e colaborar com ele. Como se deve entender esta colaboração? Como se realiza concretamente, e que obstáculos pode encontrar? É o que agora se deverá examinar mais de perto.

 



IV. MAGISTÉRIO E TEOLOGIA

 



A. AS RELAÇÕES DE COLABORAÇÃO

 



21. O Magistério vivo da Igreja e a teologia, mesmo tendo dons e funções diferentes, têm em última análise o mesmo fim: conservar o Povo de Deus na verdade que liberta fazendo dele, assim, a « luz das nações ». Este serviço à comunidade eclesial põe em relação recíproca o teólogo com o Magistério. Este último ensina autenticamente a doutrina dos Apóstolos, e beneficiando-se do trabalho teológico, refuta as objeções e as deformações da fé, propondo além disso, com autoridade recebida de Jesus Cristo, novos aprofundamentos, explicitações e aplicações da doutrina revelada. A teologia por sua vez adquire, reflexivamente, uma compreensão sempre mais profunda da Palavra de Deus, contida na Sagrada Escritura e transmitida fielmente pela Tradição viva da Igreja sob a guia do Magistério, procura esclarecer o ensinamento da Revelação diante das instâncias da razão, e enfim lhes confere uma forma orgânica e sistemática.[20]

 



22. A colaboração entre o teólogo e o Magistério se realiza de maneira especial quando o teólogo recebe a missão canónica ou o mandato de ensinar. Essa se torna então, em certo sentido, uma participação da obra do Magistério, ao qual um vínculo jurídico a une. As normas de deontologia que derivam por si mesmas e com evidência do serviço à Palavra de Deus são corroboradas pelo compromisso contraído pelo teólogo aceitando o seu trabalho e emitindo a Profissão de fé e o Juramento de fidelidade.[21] Desde aquele momento ele é investido oficialmente do dever de apresentar e ilustrar, com toda a exatidão e na sua integridade, a doutrina da fé.

 



23. Quando o Magistério da Igreja se pronuncia infalivelmente, declarando solenemente que uma doutrina está contida na Revelação, a adesão exigida é a de fé teologal. Esta adesão se estende ao ensinamento do Magistério ordinário e universal quando propõe que se creia uma doutrina de fé como sendo divinamente revelada. Quando ele propõe « em modo definitivo » verdades que tocam questões de fé ou de costumes que, mesmo não sendo divinamente reveladas, são porém estreita e intimamente conexas com a Revelação, estas devem ser firmemente aceitas e conservadas.[22] Quando o Magistério, mesmo sem a intenção de emitir um ato « definitivo », ensina uma doutrina para ajudar a uma compreensão mais profunda da Revelação e daquilo que melhor explicita o seu conteúdo, ou para evocar a conformidade de uma doutrina com as verdades de fé, ou enfim para prevenir contra concepções incompatíveis com estas mesmas verdades, é exigida uma religiosa submissão da vontade e da inteligência.[23] Esta não pode ser puramente exterior e disciplinar, mas deve colocar-se na lógica e sob o estímulo da obediência da fé.

 



24. Enfim o Magistério, para servir da melhor forma possível o Povo de Deus, particularmente alertando-o contra opiniões perigosas que podem conduzir ao erro, pode intervir em questões debatidas nas quais estão implicados, ao lado de princípios firmes, elementos conjecturais e contingentes. E com frequência, somente depois de um certo tempo se torna possível distinguir entre aquilo que é necessário e aquilo que é contingente. A vontade de submissão leal a este ensinamento do Magistério em matéria em si não irreformável, deve ser a regra. Pode acontecer porém, que o teólogo se coloque interrogações concernentes, de acordo com os casos, à oportunidade, à forma, ou também ao conteúdo de uma intervenção. Tal conduzi-lo-á, antes de mais nada, a verificar acuradamente qual seja a autoridade destas intervenções, assim como ela emerge da índole dos documentos, da frequente proposição de uma mesma doutrina, ou da própria maneira de se exprimir.[24] Neste âmbito, de intervenções de tipo prudencial, aconteceu que alguns documentos magisteriais não fossem isentos de carências. Os Pastores nem sempre colheram prontamente todos os aspectos ou toda a complexidade de uma questão. Mas seria contrário à verdade se, a partir de alguns casos determinados, se inferisse que o Magistério da Igreja possa enganar-se habitualmente nos seus juízos prudenciais, ou não goze da assistência divina no exercício integral da sua missão. De fato o teólogo, que não pode exercitar bem a sua disciplina sem uma certa competência histórica, é consciente da decantação que acontece com o tempo. Isso não deve ser entendido no sentido de uma relativização dos enunciados da fé. Ele sabe que alguns juízos do Magistério podiam ser justificados na época em que foram pronunciados, porque as afirmações tomadas em consideração continham em modo inextrincável asserções verdadeiras e outras que não eram seguras. Somente o tempo fez com que fosse possível efetuar um discernimento e, depois de aprofundados estudos, chegar a um verdadeiro progresso doutrinal.

 



25. Ainda quando a colaboração se desenvolve nas mais propícias condições, não é impossível que nasçam entre o teólogo e o Magistério certas tensões. O significado que a elas é dado e o espírito com que são encaradas não são indiferentes: se as tensões não nascem de um sentimento de hostilidade e de oposição, podem representar um fator de dinamismo e um estímulo que impele o Magistério e os teólogos a cumprir as suas respectivas funções praticando o diálogo.

 



26. No diálogo deve dominar uma dupla regra: quando está em questão a comunhão de fé vale o princípio da « unitas veritatis »; quando persistem eventuais divergências que não põem em risco esta comunhão, salvaguardar-se-á a « unitas caritatis ».

 



27. Ainda que a doutrina da fé não esteja em questão, o teólogo não apresentará as suas opiniões ou as suas hipóteses como se se tratasse de conclusões indiscutíveis. Esta discrição é exigida pelo respeito à verdade, assim como pelo respeito pelo Povo de Deus (cf. Rm 14, 1-15; 1 Cor 8, 10. 23-33). Pelos mesmos motivos ele renunciará a uma expressão pública e intempestiva delas.

 



28. O ponto que precede tem uma aplicação particular no caso do teólogo que encontrasse sérias dificuldades, por razões que lhe parecessem fundadas, em acolher um ensinamento magisterial não irreformável. Um tal desacordo não poderia ser justificado se fosse fundado somente sobre o fato que a validez do ensinamento dado não é evidente, ou sobre a opinião que a posição contrária seja mais provável. Assim também não seria suficiente o juízo da consciência subjetiva do teólogo, porque a mesma não constitui uma instância autónoma e exclusiva para julgar a validade de uma doutrina.

 



29. De qualquer maneira, jamais poderá arrefecer uma atitude de fundo de disponibilidade para acolher lealmente o ensinamento do Magistério, como convém a todo fiel, em nome da obediência da fé. O teólogo se esforçará, portanto, para compreender este ensinamento no seu conteúdo, nas suas razões e nos seus motivos. A este fim ele consagrará uma reflexão aprofundada e paciente, pronto a rever as suas próprias opiniões e a examinar as objeções que lhe fossem feitas pelos seus colegas.

 



30. Se, apesar de um leal esforço, as dificuldades persistem, é dever do teólogo fazer saber às autoridades magisteriais os problemas suscitados pelo ensinamento em si mesmo, pelas justificações que lhe são propostas, ou ainda pela maneira com a qual é apresentado. Ele o fará com um espírito evangélico, com un profundo desejo de resolver as dificuldades. As suas objeções poderão contribuir, então, para um real progresso, estimulando o Magistério a propor o ensinamento da Igreja de uma maneira mais aprofundada e melhor argumentada. Nestes casos o teólogo evitará recorrer aos « mass-media » ao invés de dirigir-se à autoridade responsável, porque não é exercendo, dessa maneira, pressão sobre a opinião pública, que se pode contribuir para o esclarecimento dos problemas doutrinais e servir a Verdade.

 



31. Pode ainda ocorrer que, ao final de um exame sério do ensinamento do Magistério, e conduzido com uma vontade de escuta sem reticências, a dificuldade permaneça, porque os argumentos em sentido oposto parecem ao teólogo prevalecer. Diante de uma afirmação, à qual sinta não poder dar a sua adesão intelectual, o seu dever é de permanecer disponível para um exame mais aprofundado da questão. Para um espírito leal e animado pelo amor à Igreja, uma tal situação pode certamente representar uma prova difícil. Pode ser um convite a sofrer, no silêncio e na oração, com a certeza de que, se a verdade está de fato em questão, ela terminará necessariamente por impôr-se.



 

B. O PROBLEMA DA DISSENSÃO



 

32. Em várias oportunidades o Magistério tem chamado a atenção sobre os graves inconvenientes trazidos para a comunhão da Igreja por aqueles comportamentos de oposição sistemática, que chegam até mesmo a constituir-se em grupos organizados.[25] Na Exortação apostólica Paterna cum benevolentia Paulo VI propôs um diagnostico que ainda conserva toda a sua pertinência. Trata-se aqui em particular daquele comportamento público de oposição ao magistério da Igreja, chamado também « dissensão », e que é necessário distinguir claramente da situação de dificuldade pessoal, já tratada mais acima. O fenómeno da dissensão pode ter diversas formas, e as suas causas remotas ou próximas são múltiplas. Entre os fatores que podem influir remota ou indiretamente, deve-se recordar a ideologia do liberalismo filosófico, do qual está impregnada também a mentalidade da nossa época. Daqui provém a tendência a considerar que um juízo tem valor tanto maior quanto mais provenha do indivíduo que se apoia sobre as suas próprias forças. Assim se opõe a liberdade de pensamento à autoridade da tradição, considerada causa de escravidão. Uma doutrina transmitida e aceita de um modo geral, é « a priori » suspeita e a sua veracidade é contestada. Em última análise, a liberdade de juízo entendida desta forma seria mais importante que a própria verdade. Trata-se, portanto, de algo totalmente diverso da exigência legítima da liberdade, no sentido de uma ausência de constrições, como condição exigida para uma leal investigação da verdade. Em virtude desta exigência a Igreja sempre defendeu que « ninguém pode ser obrigado a abraçar a fé contra a sua vontade ».[26] O peso de uma opinião pública artificiosamente orientada e dos seus conformismos, exerce também a sua influência. Com frequência os modelos sociais difundidos pelos « mass-media » tendem a assumir um valor normativo; se difunde, em particular, a convicção de que a Igreja não deveria se pronunciar, a não ser sobre problemas considerados importantes pela opinião pública, e no sentido que convenha a esta. O Magistério, por exemplo, poderia intervir nas questões económicas e sociais, mas deveria deixar para o juízo individual aquelas que dizem respeito à moral conjugal e familiar. Enfim, também a pluralidade das culturas e das línguas, que em si mesma é uma riqueza, indiretamente pode conduzir a mal-entendidos, motivo de sucessivos desacordos. Neste contexto um discernimento crítico bem ponderado e um real domínio dos problemas são necessários ao teólogo, se ele quiser cumprir a sua missão eclesial e não perder, conformando-se ao mundo presente (cf. Rm 12, 2; Ef 4, 23), a independência de juízo que deve ser a dos discípulos de Cristo.

 



33. A dissensão pode revestir-se de diversos aspectos. Na sua forma mais radical, ela tem em mira a transformação da Igreja de acordo com um modelo de contestação inspirado naquilo que se faz na sociedade política. Com maior frequência se sustenta que o teólogo seria obrigado a aderir ao ensinamento infalível do Magistério enquanto, pelo contrário, adotando a perspectiva de um certo positivismo teológico, as doutrinas propostas sem que intervenha o carisma da infalibilidade não teriam caráter obrigatório algum, sendo deixada ao indivíduo plena liberdade de aderir a elas ou não. O teólogo seria dessa forma totalmente livre para pôr em dúvida ou refutar o ensinamento não infalível do Magistério, particularmente em matéria de normas morais particulares. E mais, com esta oposição crítica ele contribuiria para o progresso da doutrina.

 




34. A justificação da dissensão se apoia, em geral, sobre diversos argumentos, dos quais dois têm caráter mais fundamental. O primeiro é de ordem hermenêutica: os documentos do Magistério não seriam nada mais que o reflexo de uma teologia opinável. O segundo invoca o pluralismo teológico, levado às vezes até um relativismo que coloca em questão a integridade da fé: as intervenções magisteriais teriam a sua origem em uma teologia entre muitas outras, enquanto nenhuma teologia particular pode ter a pretensão de impôr-se universalmente. Em oposição e em concorrência com o magistério autêntico surge assim uma espécie de « magistério paralelo » dos teólogos.[27] Uma das tarefas do teólogo, é certamente a de interpretar corretamente os textos do Magistério, e para isso ele dispõe de regras hermenêuticas, entre as quais figura o princípio segundo o qual o ensinamento do Magistério — graças à assistência divina — vale mais que a argumentação, que às vezes é tomada de uma teologia particular, da qual ele se serve. Quanto ao pluralismo teológico, este não é legítimo a não ser na medida em que é salvaguardada a unidade da fé, no seu significado objetivo.[28] Os diversos níveis, que são a unidade da fé, a unidade-pluralidade das expressões da fé e a pluralidade das teologias estão, com efeito, essencialmente ligados entre si. A razão última da pluralidade é o insondável mistério de Cristo, que transcende toda a sistematização objetiva. Isto não pode significar que sejam aceitáveis conclusões que lhe sejam contrárias, e nem põe em questão, de forma alguma, a verdade das asserções por meio das quais o Magistério se pronunciou.[29] Quanto ao « magistério paralelo », ele pode causar graves danos espirituais, opondo-se ao dos Pastores. Quando, de fato, a dissensão consegue estender a sua influência até inspirar uma opinião comum, ela tende a se tornar regra de ação, o que não pode deixar de perturbar gravemente o Povo de Deus e levar a um menosprezo da verdadeira autoridade.[30]

 



35. Às vezes a dissensão recorre também a uma argumentação sociológica, segundo a qual a opinião de um grande número de cristãos seria uma expressão direta e adequada do « senso sobrenatural da fé ». Na realidade as opiniões dos fiéis não podem ser pura e simplesmente identificadas com o « sensus fidei ».[31] Este é uma propriedade da fé teologal, a qual sendo um dom de Deus, que faz aderir pessoalmente à Verdade, não pode enganar-se. Esta fé pessoal é também fé da Igreja, porque Deus confiou à Igreja a guarda da Palavra, e, consequentemente, o que deve crer o fiel é aquilo que a Igreja crê. O « sensus fidei » implica, portanto, por sua natureza, a conformação profunda do espírito e do coração com a Igreja, o « sentire cum Ecclesia ». Se, portanto, a fé teologal enquanto tal não se pode enganar, o fiel pode, ao contrário, ter opiniões erróneas, porque nem todos os seus pensamentos procedem da fé.[32] Nem todas as ideias que circulam entre o Povo de Deus são coerentes com a fé, tanto mais que podem facilmente sofrer a influência de uma opinião pública veiculada pelos modernos meios de comunicação. Não é sem motivo que o Concílio Vaticano II sublinha a relação indissolúvel entre o « sensus fidei » e a orientação do Povo de Deus por parte do magistério dos Pastores; as duas realidades não podem ser separadas uma da outra.[33] As intervenções do Magistério servem para garantir a unidade da Igreja na verdade do Senhor. Ajudam a « permanecer na verdade », frente ao caráter arbitrário das opiniões mutáveis, e são a expressão da obediência à Palavra de Deus.[34] Mesmo quando pode parecer que limitem a liberdade dos teólogos, elas instauram, por meio da fidelidade à fé que foi transmitida, uma liberdade mais profunda, que não pode provir senão da unidade na verdade.

 



36. A liberdade do ato de fé não pode justificar o direito à dissensão. Na realidade esta não significa, de forma alguma, a liberdade em relação à verdade, mas o livre autodeterminar-se da pessoa em conformidade com o seu dever moral de acolher a verdade. O ato de fé é um ato voluntário, porque o homem, resgatado por Cristo Redentor e chamado por ele à adoção filial (cf. Rm 8, 15; Gal 4, 5; Ef 1, 5; Jo 1, 12), não pode aderir a Deus a não ser que, « atraído pelo Pai » (Jo 6, 44), lhe faça a oferta racional da sua fé (cf. Rm 12, 1). Como recordou a Declaração Dignitatis humanae, [35] autoridade humana alguma tem o direito de interferir, com coações ou pressões nesta opção, que supera os limites da sua competência. O respeito do direito à liberdade religiosa é o fundamento do respeito à totalidade dos direitos humanos. Não se pode, portanto, recorrer a estes direitos humanos, para opôr-se às intervenções do Magistério. Um tal comportamento desconhece a natureza e a missão da Igreja, que recebeu do seu Senhor o dever de anunciar a todos os homens a verdade da salvação, e o realiza caminhando sobre as pegadas do Cristo, sabendo que « a verdade não se impõe senão pela força da própria verdade, que penetra nas mentes suavemente e, ao mesmo tempo, com vigor ».[36]

 



37. Em razão do mandato divino que lhe foi dado na Igreja, o Magistério tem a missão de propor o ensinamento do Evangelho, velar sobre a sua integridade, e proteger assim a fé do Povo de Deus. Para isto, às vezes pode ser levado a tomar graves providências, como por exemplo quando retira a um teólogo que se afasta da doutrina da fé, a missão canónica, ou o mandato do ensinamento que lhe havia confiado, ou ainda quando declara que alguns escritos não estão de acordo com esta doutrina. Agindo dessa forma, o Magistério entende ser fiel à sua missão, porque defende o direi to do Povo de Deus a receber a mensagem da Igreja na sua pureza e na sua integridade, e assim, a não ser perturbado por uma perigosa opinião particular. O juízo expresso pelo Magistério em tais circunstâncias, ao final de um acurado exame, conduzido em conformidade com os procedimentos estabelecidos, e depois de ter sido concedida ao interessado a possibilidade de dissipar eventuais mal-entendidos sobre o seu pensamento, não toca a pessoa do teólogo, mas as suas posições intelectuais expressas publicamente. O fato que estes procedimentos possam ser aperfeiçoados, não significa que eles sejam contrários à justiça e ao direito. Falar neste caso de violação dos direitos humanos não tem sentido, porque se estaria desconhecendo a exata hierarquia desses direitos, como também a natureza da comunidade eclesial e do seu bem comum. Além disso, o teólogo que não está em sintonia com o « sentire cum Ecclesia », se põe em contradição com o compromisso livre e conscientemente assumido por ele, de ensinar em nome da Igreja.[37]

 



38. Enfim, a argumentação que alude ao dever de seguir a própria consciência não pode legitimar a dissensão. Antes de tudo, porque este dever se exerce quando a consciência ilumina o juízo prático em vista de uma decisão a ser tomada, enquanto aqui se trata da verdade de um enunciado doutrinal. Além disso, porque, se o teólogo deve, como qualquer fiel, seguir a sua consciência, ele é também obrigado a formá-la. A consciência não é uma faculdade independente e infalível, ela é um ato de juízo moral que se refere a uma opção responsável. A reta consciência é uma consciência devidamente iluminada pela fé e pela lei moral objetiva, e supõe também a retidão da vontade na busca do verdadeiro bem. A reta consciência do teólogo católico supõe, portanto, a fé na Palavra de Deus, cujas riquezas ele deve penetrar, mas também o amor à Igreja, da qual ele recebe a sua missão e o respeito pelo Magistério divinamente assistido. Opor ao magistério da Igreja um magistério supremo de consciência, é admitir o princípio do livre exame, incompatível com a economia da Revelação e da sua transmissão na Igreja, assim como com uma concepção correta da teologia e da função do teólogo. Os enunciados da fé não resultam de uma investigação puramente individual e de um livre exame da Palavra de Deus, mas constituem uma herança eclesial. Se alguém se separa dos Pastores que velam por manter viva a tradição apostólica, é a ligação com Cristo que se encontra irreparavelmente comprometida.[38]

 



39. A Igreja, derivando a sua origem da unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo,[39] é um mistério de comunhão, organizada segundo a vontade do seu fundador, em torno de uma hierarquia estabelecida para o serviço do Evangelho e do Povo de Deus, que o vive. A imagem dos membros da primeira comunidade, todos os batizados, com os carismas que lhes são próprios, devem tender de coração sincero a uma harmoniosa unidade de doutrina, de vida e de culto (cf. At 2, 42). Esta é uma regra que brota do próprio ser da Igreja. Portanto, não se podem aplicar a ela, pura e simplesmente, critérios de conduta que têm a sua razão de ser na sociedade civil ou nas regras de funcionamento de uma democracia. Menos ainda se podem inspirar as relações no interior da Igreja à mentalidade do mundo circunstante (cf. Rm 12, 2). Indagar à opinião da maioria, o que convém pensar e fazer, recorrer à revelia do Magistério à pressão, exercida pela opinião pública, aduzir como pretexto um « consenso » dos teólogos, sustentar que o teólogo seja o porta-voz profético de uma « base » ou comunidade autónoma que seria, assim, a única fonte de verdade, tudo isto revela uma grave perda do sentido da verdade e do sentido da Igreja.

 



40. A Igreja é « como que o sacramento ou o sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano ».[40] Por conseguinte, buscar a concórdia e a comunhão é aumentar a força do seu testemunho e da sua credibilidade; ao contrário, ceder à tentação da dissensão, é deixar que se desenvolvam « fermentos de infidelidade ao Espírito Santo ».[41] Mesmo sendo a teologia e o Magistério de natureza diversa, e ainda tendo missões diversas, que não podem ser confundidas, trata-se contudo de duas funções vitais na Igreja, que devem compenetrar-se e enriquecer -se reciprocamente para o serviço do Povo de Deus. Compete aos Pastores, em razão da autoridade que lhes deriva do próprio Cristo, vigiar sobre esta unidade, e impedir que as tensões que nascem da vida, degenerem em divisões. A sua autoridade, indo além das posições particulares e das oposições, deve unificá-las todas na integridade do Evangelho que é « a palavra da reconciliação » (cf. 2 Cor 5, 18-20). Quanto aos teólogos, em razão do seu próprio carisma, cabe também a eles participar da edificação do Corpo de Cristo na unidade e na verdade, e a sua contribuição, mais do que nunca, é necessária para uma evangelização a nível mundial, que exige esforços do inteiro Povo de Deus.[42] Se, como pode acontecer, encontrarem dificuldades por causa do caráter de sua investigação, eles devem procurar solucioná-las mediante o diálogo confiante com os pastores, no espírito de verdade e de caridade, que é o da comunhão da Igreja.

 



41. Ambos terão sempre presente que Cristo é a Palavra definitiva do Pai (cf. Heb 1, 2) no qual, como observa São João da Cruz, « Deus nos disse tudo junto, e de uma só vez »,[43] e que, como tal, ele é a Verdade que liberta (cf. Jo 8, 36; 14, 6). Os atos de adesão e submissão à palavra confiada à Igreja sob a guia do Magistério, em última instância se referem a Ele, e introduzem no âmbito da verdadeira liberdade.

 



CONCLUSÃO





 






42. Mãe e perfeito ícone da Igreja, a Virgem Maria foi proclamada bem-aventurada desde os primórdios do Novo Testamento, em razão de sua adesão de fé imediata e sem incertezas à Palavra de Deus (cf. Lc 1, 38. 45), que continuamente conservava e meditava no seu coração (cf. Lc 2, 19. 51). Ela tornou-se assim, para todo o Povo de Deus, confiado à sua materna solicitude, um modelo e um apoio. Ela lhe indica o caminho do acolhimento e do serviço da Palavra, e ao mesmo tempo o fim último que jamais se pode perder de vista: o anúncio para todos os homens, e a realização da salvação trazida ao mundo pelo seu Filho, Jesus Cristo. Concluindo esta Instrução, a Congregação para a Doutrina da Fé convida calorosamente os bispos a manter e a desenvolver com os teólogos relações confiantes, na condivisão de um espírito de acolhimento e de serviço à Palavra, e em uma comunhão de caridade, em cujo contexto poderão mais facilmente ser superados alguns obstáculos inerentes à condição humana sobre a terra. Deste modo, todos poderão ser sempre mais servidores da Palavra e servidores do Povo de Deus, para que este, perseverando na doutrina de verdade e de liberdade, ouvida desde o início, permaneça também no Filho e no Pai, e alcance a vida eterna, realização da Promessa (cf. 1 Jo 2, 24-25).

 



O Sumo Pontífice João Paulo II, no decorrer de uma Audiência concedida ao Cardeal Prefeito que subscreve este documento, aprovou a presente Instrução, deliberada em reunião plenária da Congregação para a Doutrina da Fé, e ordenou que a mesma fosse publicada.

 



Roma, Sede da Congregação para a Doutrina da Fé, 24 de maio de 1990, na solenidade da Ascensão do Senhor.

 

 

 

Joseph Card. Ratzinger

Prefeito

 

+ Alberto Bovone

Arcebispo tit. de Cesaréia de Numidia

Secretário

 



Notas



 

[1] Constit. dogm. Dei Verbum, n. 8.

 

[2] Constit. dogm. Lumen gentium, n. 12.

 

[3] S. Boaventura, Prooem. in I Sent., q. 2, ad 6: « quando fides non assentit propter rationem, sed propter amorem eius cui assentit, desiderat habere rationes ».

 

[4] Cf. João Paulo II, Discurso por ocasião da entrega do « Prémio Internacional Paulo VI » a Hans Urs von Balthasar, 23 de junho de 1984: Insegnamenti di Giovanni Paolo II, VII, 1 (1984) 1911-1917.

 

[5] Cf. Conc. Vaticano I, Constit. dogm. De fide catholica, De revelatione, can. 1: DS 3026.

 

[6] Decreto Optatam totius, n. 15.

 

[7]  João Paulo II, Discurso aos teólogos em Altötting, 18 de novembro de 1980: AAS 73 (1981) 104; cf. também Paulo VI, Discurso aos membros da Comissão Teológica Internacional, 11 de outubro de 1972: AAS 64 (1972) 682-683;  João Paulo II, Discurso aos membros da Comissão Teológica Internacional, 26 de outubro de 1979: AAS 71 (1979) 1428-1433.

 

[8] Constit. dogm. Dei Verbum, n. 7.

 

[9] Cf. Congregação para a Doutrina da Fé, Decl. Mysterium Ecclesiae, n. 2: AAS 65 (1973) 398s.

 

[10] Cf. Constit. dogm. Dei Verbum, n. 10.

 

[11] Constit. dogm. Lumen gentium, n. 24.

 

[12] Cf. Constit. dogm. Dei Verbum, n. 10.

 

[13] Cf. Constit. dogm. Lumen gentium, n. 25; Congregação para a Doutrina da Fé, Decl. Mysterium Ecclesiae, n. 3: AAS 65 (1973) 400s.

 

[14] Cf. Professio fideiet lusiurandum fidelitatis: AAS 81 (1989) 104s: « omnia et singula quae circa doc-trinam de fide vel moribus ab eadem definitive proponuntur ».

 

[15] Cf. Constit. dogm. Lumen gentium, n. 25; Congregação para a Doutrina da Fé, Decl. Mysterium Ecclesiae, nn. 3-5: AAS 65 (1973) 400-404; Professio fidei et lusiurandum fidelitatis: AAS 81 (1989) 104s.

 

[16] Cf. Paulo VI, Encicl. Humanae vitae, n. 4: AAS 60 (1968) 483.

 

[17] Cf. Conc. Vaticano I, Constit. dogm. Dei Filius, cap. 2: DS 3005.

 

[18] Cf. C.I.C. can. 360-361; Paulo VI, Constit. apost. Regimini Ecclesiae universae, 15 de agosto de 1967 nn. 29-40: AAS 59 (1967) 897-899;  João Paulo II, Constit. apost. Pastor bonus, 28 de junho de 1988, art. 48-55: AAS 80 (1988) 873-874.

 

[19] Cf. Constit. dogm. Lumen gentium, n. 22-23. Como se sabe, após a segunda Assembleia geral extraordinária do Sínodo dos Bispos, o Santo Padre confiou à Congregação para os Bispos a missão de aprofundar o « status teológico-jurídico das Conferências episcopais ».

 

[20] Cf. Paulo VI, Discurso aos participantes do Congresso internacional sobre a Teologia do Concilio, 1º de outubro de 1966: AAS 58 (1966) 892s.

 

[21] Cf. C.I.C can. 833; Professio fidei et lusiurandum fidelitatis: AAS 81 (1989) 104s.

 

[22] O texto da nova Profissão de fé (cf. nota 15) precisa a adesão a estes ensinamentos nestes termos: « Firmiter etiam amplector et retineo... ».

 

[23] Cf. Constit. dogm. Lumen gentium, n. 25; C.I.C can. 752.

 

[24] Cf. Constit. dogm. Lumen gentium, n. 25 par. 1.

 

[25] Cf. Paulo VI, Exort. apost. Paterna cum henevolentia, 8 de dezembro de 1974: AAS 67 (1975) 5-23. Veja-se também Congregação para a Doutrina da Fé, Declar. Mysterium Ecclesiae: AAS 65 (1973) 396-408.

 

[26] Declar. Dignitatis humanae, n. 10.

 

[27] A ideia de um « magistério paralelo » dos teólogos em oposição e em concorrência com o magistério dos Pastores se apoia, às vezes, em alguns textos em que Santo Tomás de Aquino distingue entre « magisterium cathedrae magisterialis » e « magisterium cathedrae pastoralis » (Contra impugnantes, c. 2; Quodlib. III, q. 4, a. 1 (9); In IV Sent. 19, 2, 2, q. 3 sol. 2 ad 4). Na realidade, estes textos não oferecem fundamento algum a esta posição, porque Santo Tomás é absolutamente convicto de que o direito de julgar em matéria de doutrina compete somente ao « officium praelationis ».

 

[28] Cf. Paulo VI, Esort. apost. Paterna cum henevolentia, n. 4: AAS 67 (1975) 14-15.

 

[29] Cf. Paulo VI, Discurso aos membros da Comissão Teológica Internacional, 11 de outubro de 1973: AAS 65 (1973) 555-559.

 

[30] Cf.  João Paulo II, Encicl. Redemptor hominis, n. 19: AAS 71 (1979) 308; Discurso aos fiéis de Manágua, 4 de março de 1983, n. 7: AAS 75 (1983) 723; Discurso aos religiosos da Guatemala, 8 de março de 1983, n. 3: AAS 75 (1983) 746; Discurso aos bispos em Lima, 2 de fevereiro de 1985, n. 5: AAS 11 (1985) 874; Discurso à Conferência dos Bispos belgas em Malines, 18 de maio de 1985, n. 5: Insegnamenti di Giovanni Paolo II, VIII, 1 (1985) 1481; Discurso a alguns Bispos americanos em visita « ad limina », 15 de outubro de 1988, n. 6: L’Osservatore Romano, 16 de outubro de 1988, p. 4.

 

[31] Cf.  João Paulo II, Exort. apost. Familiaris consortio, n. 5: AAS 74 (1982) 85-86.

 

[32] Cf. a fórmula do Concílio de Trento, sess. VI, cap. 9: fides « cui non potest subesse falsum »: DS 1534; cf. Santo Tomás de Aquino, Summa Theologiae, II-II, q. 1, a. 3, ad 3: « Possibile est enim ho minem fidelem ex coniectura humana falsum aliquid aestimare. Sed quod ex fide falsum aestimet, hoc impossibile ».

 

[33] Cf. Constit. dogm. Lumen gentium, n. 12.

 

[34] Cf. Constit. dogm. Dei Verbum, n. 10.

 

[35] Cf. Declar. Dignitatis humanae, nn. 9-10.

 

[36] Ibid., n. 1.

 

[37] Cf.  João Paulo II, Constit. apost. Sapientia christiana, 15 de abril de 1979, n. 27, 1: AAS 71 (1979) 483; C.I.C can. 812.

 

[38] Cf. Paulo VI, Exort. apost. Paterna cum henevolentia, n. 4: AAS 67 (1975) 15.

 

[39] Cf. Constit. dogm. Lumen gentium, n. 4.

 

[40] Ibid., n. 1.

 

[41] Paulo VI, Exort. apost. Paterna cum henevolentia, nn. 2-3: AAS 67 (1975) 10-11.

 

[42] Cf.  João Paulo II, Exort. apost. pós-sinodal Christifideles laici, nn. 32-35: AAS 81 (1989) 451-459.

 

[43] São João da Cruz, Subida do Monte Carmelo, II, 22, 3.

 

 




Fonte: Vatican.va






O QUE A TEOLOGIA?













Teologia é o estudo de Deus e da religião, sua expressão e influência na sociedade moderna. O que se estuda em Teologia nos ajuda a entender como algumas leis, códigos jurídicos, e Constituições surgiram a  partir do decálogo (espinha dorsal das escrituras) nossas tradições, tendências morais, e principalmente, a revelação dos desígnios de Deus na "Economia da Salvação" Universal.Confesso que como admirador da boa filosofia (apesar de nesta área ser um autodidata, pois minha formação acadêmica é realmente em Teologia), demorei a aceitar que a Teologia fosse mãe da Filosofia. Tentei até colocá-la como irmã ou quem sabe, sua prima legítima! A Filosofia me parecia grande demais para não conter até mesmo a própria Teologia! Entendo que a Teologia é o estudo da lógica e economia divina. O dilema me ocorria porque a Filosofia estuda a realidade em si mesma. Nesse contexto o próprio divino faria parte da realidade. Logo, um campo do saber como a Teologia que estuda apenas Deus e tudo que se relaciona a Ele, não poderia ser maior do que o estudo da estrutura da realidade em si, como faz a filosofia, que incluiria também, a Deus. Acontece que a Teologia Cristã, que é a boa teologia por excelência, baseia-se na Economia da Revelação. E daí, usando da racionalidade, é possível averiguar, analisar e discernir a realidade partindo do sentido anterior e análogo à filosofia, que como veremos historicamente a seguir, descobrimos que é a Teologia (não como a vemos hoje, claro!) anterior, e portanto, mãe de todas as ciências! Teologia e Filosofia estudam a verdade sistemática e nossa relação com ela (a busca da verdade é a busca direta, ou indireta, pelo próprio Deus, pois Deus é a verdade! Quem encontra a verdade, ou se deixa encontrar por ela, está em relação com o próprio Deus). A Teologia parte da Verdade, e tem como meio e fim a própria verdade de si mesmo e de tudo que nos cerca! A Verdade está expressa no logos (para Heráclito de Éfeso - Sec.V a.C. -  é o conjunto harmônico de leis que comandam o universo, formando uma inteligência cósmica onisciente, onipotente, onipresente, lógica e ordenada, que se plenifica compreensivamente no pensamento humano). Só agora entendo mais claramente como a Teologia é superior e anterior a Filosofia! Embora por vezes se amalgamem, por buscarem o mesmo fim, a verdade, como seu objeto de estudo. Quando observamos as ciências naturais e as estudamos, percebemos que elas são regidas por leis perfeitas, imutáveis e eternas. Ora, se através da razão, o homem, único ser racional que chega a esse conhecimento, ele também percebe que essas leis não depende dele para acontecer, logo as leis naturais são de origens sobrenaturais e refletem a perfeição de quem as elaborou: uma inteligência lógica e superior, que denominamos Deus.














De forma genérica e pedagógica para melhor fixação, percebemos que existem basicamente "três tipos de teólogos": o formiga, o abelha e o aranha:





1)- O Teólogo Formiga: É aquele teólogo que sempre pega a "comida" pronta, igual a formiga. Este tipo de teólogo está sempre catando a busca de  opiniões prontas, independentes de serem conservadoras, ou progressistas, não se preocupando em ter o mínimo de esforço na elaboração de um estudo e aprofundamento  próprio. É o teólogo da corte, ele quer servir a uma corte específica: Um tipo de público, simpatizantes, e até uma diocese, porque é dali que ele tira muitas vezes seu sustento e manutenção, bem como os aplausos e reconhecimentos de seu trabalho. Ele enfim, devido a estas circunstâncias, limita sua produção teológica a um território, ou seguimento.






2)- O Teólogo Aranha: Em contraponto à formiga, a aranha produz demais e não se preocupa em "digerir" as opiniões coletadas, nem confronta-las com outras, sendo que somente a sua é a certa. Assim como a aranha: produz demais (um verdadeiro emaranhado) mas, não sabe se suas teias têm uma boa base para aguentar o peso dos ventos, é a teologia de escritório, não é testada na história. É o teólogo independente, sem nervo, mutante, sem certezas, que se deixa levar por todo e qualquer vento de doutrina que acha interessante (Efes 4,14). Não tem muita simpatia com a palavra tradição. Se considera independente, e segue as correntes, ou ondas do momento. Vive em busca de uma verdade que nunca alcança (ou não se deixa ser alcançado por ela), mesmo ela estando tão perto dele, como dizia Santo Agostinho:





“Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova!
Tarde demais eu te amei!
Eis que habitavas dentro de mim e eu te procurava fora!
Eu, disforme, lançava-me sobre as belas formas das tuas criaturas.
Estavas comigo, mas eu não estava contigo. Retinham-me longe de ti as tuas criaturas, que não existiriam se em ti não existissem.
Tu me chamaste, e teu grito rompeu a minha surdez.
Fulguraste e brilhaste e tua luz afugentou minha cegueira.
Espargiste tua fragrância e, respirando-a, suspirei por ti.
Eu te saboreei, e agora tenho fome e sede de ti.
Tu me tocaste, e agora ardo no desejo de tua paz.

(Santo Agostinho - Confissões)







3)- O Teólogo Abelha: Aquele teólogo que procura produzir suas teses com base bíblica, e que se importa sim com a opinião dos outros, desde que esteja ancorada na sagrada tradição (II Tessa 2,15), e assim como a abelha, produz seu próprio mel, mas utiliza-se de várias fontes (as belas flores do imenso jardim da Igreja).É o teólogo da Eclésia, pensa  com a Igreja e para a construção do projeto de Deus revelado por seu filho Jesus. Observa tudo e fica apenas com aquilo que é bom (I Tessa 5,21), e oferece a igreja os frutos não envenenados de sua reflexão, para que produzam frutos 100 x 1 (Mateus 13,8).





Leia o texto abaixo, tome conhecimento dos vários tipos de teólogos e suas “teologias”, e a partir deste conhecimento, ficará apto para discernir entre a verdadeira doutrina e a falsa doutrina, e dessa forma tenha os elementos necessários para decidir: Qual teologia e qual teólogo quer seguir, ou até mesmo ser.






DEFINIÇÃO DO TERMO DOUTRINA






A palavra doutrina vem do latim doctrina, que significa “ensino”. Pode ser qualquer tipo de ensino ou doutrina especifico. Segundo o dicionário Aurélio, “doutrina é o conjunto de princípios que servem de base a um sistema religioso”. No Antigo Testamento, a palavra doutrina ocorre como tradução do hebraico Ieqah, que significa “o que é recebido” (Dt 32,2; Jo 11,4; Pv 4,2; e Is 29,24). No Novo Testamento temos dois termos da língua grega representam a palavra doutrina. Um termo é Didaskalia e o outro, didachê. Ambos os termos referem-se ao ensino como instrução dada àqueles que recebiam de bom grado a boa nova do “caminho” dado por Cristo (Mt 7,28; Jo 7.16-17).No Novo Testamento, alguém que ensina a respeito das coisas de Deus, e dos deveres do homem; como os mestres da religião judaica, que pelo seu imenso poder como mestres atraem multidões, como João Batista (1Tm 4,6.16; 1Tm 6,1; Tt 2,1.10).Jesus, pela sua autoridade, refere-se a si mesmo como aquele que mostrou aos homens o caminho da salvação e como os apóstolos e Paulo, que, nas assembleias religiosas dos cristãos, encarregavam-se de ensinar, assistidos pelo Santo Espírito contra os falsos mestres entre os cristãos.






O sentido teológico - A palavra “teologia” deriva-se dois substantivos:




Teo = Deus

Logia = Estudo ou tratado sobre Deus.















Embora não possamos estudar  Deus na plenitude de seu mistério, mas por Ele se revelar e ser o autor (inspirador) das Santas Escrituras, podemos aprender Dele através das Escrituras Sagradas, naquilo que Ele mesmo quis revelar-nos como necessários e essenciais a nós.O sentido teológico é a mesma palavra usada pelos apóstolos em Atos 2.42, que parece ser uma indicação das crenças dos apóstolos. A segunda tem o mesmo sentido e aparece em Mateus 15,9 e Marcos 7,7. É, portanto, nas epístolas pastorais que elas aparecem com o sentido mais rígido de crença ou corpo doutrinal da igreja, a Teologia propriamente dita.



















ATENÇÃO! Não podemos ser ingênuos em não achar que existam demônios (adversários ao projeto de Deus), cuja atividade não é espalhar violência e outros males ostensivos, mas ocupar-se com o ensino maléfico, falso, errôneo e enganoso da própria revelação de Deus, nas sagradas escrituras. 













Religiões e seitas pagãs podem ser analisas facilmente. Contudo, uma religião ou uma seita que se apresenta como cristã, mas têm doutrinas contrárias às Escrituras, merecem toda a nossa atenção. Por isso devemos conhecer os meios adequados em Deus, através da revelação coletada pela tradição e magistério oficial da Igreja, em sentido teológico, a verdadeira adição, subtração, divisão e multiplicação para se identificar uma seita e um falso ensinador. O modo como as escrituras atuais, principalmente o Novo Testamento foi confirmado, foi muito simples, e teve o peso das “testemunhas” oculares. Muitos líderes (presbíteros e epíscopos) por onde circulavam escritos ditos de Cristo e dos apóstolos nas comunidades Cristãs primitivas, era até iletrados e analfabetos, mas tinha um detalhe inegável: Eram  “TESTEMUNHAS” contemporâneas de Cristo, ou dos apóstolos, quando ainda em vida, e tinha a autoridade, para negar ou confirmar estes escritos, por serem conhecedores e portadores da sã doutrina. Quando começava a circular estes escritos, os mesmos pediam para que trouxessem a sua presença e fossem lidos nas celebrações litúrgicas, e ali publicamente era confirmado, ou negado estes escritos por essas testemunhas, os quais após confirmados, iam sendo catalogados e confiados a guarda, para posterior multiplicação por pessoas de confiança destes mesmo líderes e comunidades, aos quais eram endereçados estes escritos.














Atualmente a dificuldade que se tem para entender o que é doutrina, é proveniente da imaturidade espiritual das lideranças e dos fieis devido a uma vivencia espiritual superficial (baseada apenas em arrepios emotivos, e troca de benesses com Deus). Muitos líderes infelizmente, confundem doutrina bíblica com práticas, tradições, usos e costumes humanos locais e temporais. Muitos destes líderes não conseguem se aprofundar no estudo e compreensão da sã doutrina (Tito 2,1), porque o estudam sem organização, método, ordem e propósito, e acabam descambando já não mais para a teologia autêntica, mas numa pura ACHOLOGIA. A admoestação bíblica em II Timóteo 2,15 é “que se maneje bem a palavra da verdade”.





CLASSIFICAÇÃO DAS DOUTRINAS DA BÍBLIA





Há pelo menos três diferenças básicas entre doutrina bíblica e costume puramente humano. Há costumes bons e maus. A sã doutrina conduz a uma vida de retidão e santidade!





1ª)-Quanto à origem:



        A doutrina é divina?

        O costume é humano?




2ª)- Quanto ao alcance:



         A doutrina é geral?

         O costume é local?



3ª)- Quanto ao tempo:



    A doutrina é imutável?

  O costume ou doutrina é temporário? (Ex.: uso do véu, e mulheres ficarem caladas na assembleia, conforme: I Cor 11,5-6; I Coríntios 14,33-35).






Para fins pedagógicos de estudo, "as doutrinas da Bíblia podem situar-se em três grandes grupos ou classes", de assuntos doutrinários, a saber:





1º)- Doutrinas da Salvação (Soteriologia): A doutrina da graça de Deus, da redenção, da encarnação; da ressurreição e glorificação; da expiação e propiciação pelo sangue; a salvação universal, a justificação pela fé através das boas obras da fé (não da lei);  a regeneração pelo Espírito Santo; do arrependimento e da confissão dos pecados; da necessidade do batismo, das efusões do Espírito; da santificação, da eleição gratuita; da Igreja e reino de Deus; das missões e discipulado cristão, como sal da terra, luz no mundo e fermento na massa, pelo testemunho de vida e anuncio da palavra (visando não o proselitismo, mas a salvação das almas – A IGREJA CRESCE POR ATRAÇÃO E NÃO PROSELITISMO). Desde a patrística, aos santos doutores (principalmente Agostinho e Tomás de Aquino: Tomismo e Neo Tomismo), passando pelos teólogos pré conciliares (Balthasar, Bernard Sesboué, Henri de Lubac...) culminando no magno Bento XVI.










2º)- Doutrinas antropológicas: Doutrinas sobre a natureza do homem, origem e fins, bem como  as ações teândricas (divino humanas) de Jesus. Seu precursionismo vem desde filósofo Ludwig Feuerbach, desenvolvida por Karl Rahner, que influenciaram o Vaticano II: Rahner estava convencido de que a fé não decorre da imposição arbitrária de uma lista de verdades reveladas, mas sim do assentimento livre de quem, porventura, vê-se capaz de admitir tais verdades, sem violência à sua consciência, a partir de uma experiência concreta do “Mistério Santo” . Por isso, embora Rahner sustente que a oferta da autocomunicação de Deus se dirija indistintamente a todo homem, ele questiona quais são as reais condições de possibilidade que permitem a esse homem o acolhimento da automanifestação divina em sua vida. Para Rahner, a existência se lhe torna problemática e se resume a  uma pergunta pelo sentido (LOGOS). No Brasil temos entre outros, Clodovis Boff que se dedica a esse tema do logos. Até o momento, o ápice da Antropologia Católica se deu nas obras de São João Paulo II iniciada em sua primeira encíclica “Redemptor hominis”, de 4 de março de 1979, onde ele afirma: “o homem é o primeiro e fundamental caminho da Igreja”, e concluída nas suas catequeses sobre a Teologia do Corpo.





3º)- Por último, e mais recente, temos as Doutrinas sociológicas: Doutrinas sobre as relações dos Cristãos com os outros, com a criação, visando o bem comum e a unidade na diversidade. Exemplos: Teologia e teólogos da libertação: Gustavo Gutierrez, Juan Luis Segundo, Hugo Assmann, Jon Sobrino, Leonardo Boff, Carlos Meister e Frei Betto, etc.

 






A VERDADEIRA IGREJA É AQUELA QUE "PRIMA PELA ORTODOXIA" (Não necessariamente da Igreja Ortodoxa de rito oriental):








(Unidade na diversidade)








A doutrina bíblica pode ser Ortodoxa ou Liberal:






1)- Ortodoxa: Ortodoxia deriva do vocábulo “ortodoxo”, palavra grega que significa “opinião correta” ou “doutrina correta”, é a doutrina conservadora (imutável). É a qualidade de uma declaração doutrinária que se acha de acordo com a Palavra de Deus e com os cânones e concílios estabelecidos pela Igreja Apostólica. No nosso contexto ela diz respeito aos cristãos conservadores. Fugir à ortodoxia pode significar aberração doutrinária ou até mesmo heresias. Todo ensino bíblico-doutrinário deve ser estritamente de acordo com a mensagem divina revelada na Sua Palavra e confirmada pela tradição e magistério da Igreja. Tal ortodoxia cristã tem nas Escrituras a única fonte do verdadeiro conhecimento de Deus, de suas doutrinas e da maravilhosa salvação em Cristo Jesus. Tendo a Bíblia como a base da fé e prática. Acha-se comprometida com a evangelização do mundo, conformando-se plenamente com a ordenança de Cristo: Ide por todo o mundo e anunciai o evangelho a todas as nações (Marcos 16,15).





2)- Liberal:  A ênfase do erudito liberal se focaliza na descoberta que o homem faz de Deus. Seu ponto de vista é a razão meramente humanista, isto é, centrado no homem. O liberal se acha o representante legal de Deus aqui na terra. Usa de autoridade como se fosse delegada por Deus. Aqueles que ensinam sem dogmatismo muitas vezes são taxados de liberais, ou de ensinamento mundano. Porém pelas lentes da Palavra, podemos considerar liberais aqueles que estão fora da Palavra e servindo a uma tradição arcaica, não fundamentada nas escrituras (sem porém, querendo aqui justificar o fundamentalismo), de caráter achológico.






“Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará. Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (Jo 8,32-36).






Com base no ensino de Jesus eu posso afirmar que somos livres para servir o Senhor Deus, não ao pecado como antes. Porém, não temos o direito de propagar idéias próprias, dizendo que é doutrina de Deus. Não confundamos porém, liberal com libertinagem, pois libertinagem é uma pessoa que se encontra na liberdade do mundo e do pecado, ou seja, nas concupiscências da carne, dos olhos e na soberba da vida (conf I Jo 2,16).É por isso que Paulo diz aos Gálatas: “não useis da liberdade para dar ocasião à carne” (Gl 5,13). As idéias, deduções e princípios teológicos liberais, humanistas e corrompidos, tiveram seu início na primeira parte do século XIX. Possuíam como objetivo a racionalização da fé sob influência do movimento filosófico e igualmente humanista denominado iluminismo. Foi uma tentativa de adaptar a fé cristã às corrente do pensamento moderno sobre Deus.Mas a verdadeira teologia bíblica proveniente da doutrina do Senhor não perdeu o espaço. Ao contrário, ela continua firme e crescente através do empenho de homens comprometidos com Deus e com a defesa da fé mediante a exposição correta das Escrituras. Ainda há em nossos dias cristãos que, graças a Deus, procedem como a mãe e avó de Timóteo, ensinando aos mais jovens os verdadeiros fundamentos da fé cristã: “Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste, e que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus” (II Tm 3,14-15; II Tm 1,3-5). Alguns líderes estão se equivocando e transformando certos costumes em doutrinas, como se a sã doutrina da Bíblia não fosse suficiente para um viver cristão digno. É claro que os bons costumes e boas ações, são louváveis e até necessários, tais como: agradecer um favor, cumprimentar e respeitar as pessoas, ter asseio pessoal, cuidar da natureza, promover o saneamento básico, construção de esgotos, etc. Essas ações e atitudes são os frutos produzidos pelos cristãos, e devem ser incentivados, mas não são um fim em si mesmos, pois não foi tão somente para isto que Cristo se encarnou e sacrificou-se por nós. Seu projeto é muito maior e muito mais que isso. Estão colocando paridade entre certas atitudes e a doutrina bíblica. Será que existe alguma diferença do legalismo do passado para o de hoje? O espírito do farisaísmo é o mesmo. O que muda é o que se dita para ser seguido. Paulo recomenda a Timóteo dizendo: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres: porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes” (I Tm 4,16). A Sã doutrina responde às perguntas sobre Deus, a Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo), a natureza humana, a vontade de Deus e o nosso destino final. Conhecendo estas coisas, o cristão sabe o que é o Evangelho e como recebê-lo, e isto é de fundamental importância para a unidade e missão maior da igreja: “Todo aquele que ultrapassa a doutrina de Cristo e nela não permanece não tem Deus; o que permanece na doutrina, esse tem tanto o Pai como o Filho. Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem lhe deis as boas-vindas. Porquanto aquele que lhe dá boas-vindas faz-se cúmplice das suas obras más” (II Jo 19-11). O verdadeiro cristão deve conservar as doutrinas confirmadas pela sagrada tradição e magistério, não ultrapassando os fundamentos da verdade e do ensino de Jesus e seus apóstolos. João adverte contra o perigo de apoiar os falsos mestres bem como a seus erros. Não se trata aqui de simples indivíduos, mas de líderes espirituais com aparente autoridade e muita inteligência. Paulo enfatiza a Timóteo a cuidar de si, a vivência no amor na fé na longanimidade e na perseverança da verdadeira doutrina. Devemos tomar cuidado com os falsos mestres que estão surgindo em nossos dias. Atentemo-nos para a advertência do apostolo Paulo:“Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos” (II Tm 4,3). Eu acredito que já estamos vivendo este tempo. Pouco se ouve ensinos sobre as sãs doutrinas bíblicas. Os púlpitos se tornaram palcos de propagar mentiras e ilusões. As pregações estão voltadas para as meras emoções, arrecadações, e até pregações místicas (não profecias, mas adivinhações do tipo: se colar colou). Podemos ver que pouco se prega a sã doutrina bíblica, mas estes falsos ensinos sempre estão em destaque. É por isso que o apóstolo São Judas nos admoesta a batalhar diligentemente, isto é, lutar intensamente pela fé:“Amados, quando empregava toda a diligência em escrever-vos acerca da nossa comum salvação, foi que me senti obrigado a corresponder-me convosco, exortando-vos a batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez foi entregue aos santos. Porque se introduziram alguns homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de Deus e negam a Deus, único Dominador e Senhor Nosso, Jesus Cristo” (Jd 3, 4). O apostolo são Judas, através do Espírito Santo, recebeu o mandamento quanto a preservação da fé e lutar por ela, que consistia dos ensinos dos apóstolos e o conteúdo dos quatro Evangelhos. Para Judas a importância máxima da sã doutrina não era algo superficial e infantil. Tratava-se de assuntos vitais em jogo, tendo o caminho falso de um lado, e do outro o caminho da verdade. O escritor nos mostra que assim como a verdadeira sabedoria e a viva esperança caminham inseparavelmente, do mesmo modo estão a falsa doutrina e a destruição final. A igreja morrerá espiritualmente se as heresias prevalecerem em seu meio. O Espírito Santo, ante tantas controvérsias, está procurando homens que, por amor do Evangelho, assumam a responsabilidade de lutarem em defesa da “verdadeira fé”, e sã doutrina da salvação. O inimigo, na pessoa de falsos pregadores, está atacando a fé, as verdades centrais que são a âncora da salvação, as quais não devem sofrer alterações. Judas adverte os cristãos contra os falsos ensinos, que estavam levando os cristãos para um evangelho com dissolução, com imoralidade e engano, bem como uma salvação gnóstica, somente acessível para os iniciados, ou “entendidos”. Os tais que mudam as Verdades de Cristo em mentiras, são impostores na igreja, que perverteram o Evangelho segundo o Novo Testamento; repudiando ou rejeitando algumas das suas verdades fundamentais; acrescentando-lhe regras, leis e idéias imorais de homens. O falso evangelho leva o homem à pobreza e miséria, embora fale até no nome de Cristo. É assim que o maior perigo que enfrenta a igreja vem da infiltração dos “agentes secretos”, ou seja, quando na comunidade do povo de Deus penetram, se infiltraram certas pessoas cuja mente está inteiramente distorcida de qualquer profundo compromisso com Cristo. E pior, muitas vezes tais pessoas assumem posição de influência, tornam-se líderes e mestres da comunidade, vestem-se de ministros da verdade, falam como teólogos, ensinam como mestres insinuam-se profetas. Esses são os dissimuladores dos quais os apóstolos nos alertam. A graça de Deus sempre foi o tema teológico mais atacado pelo “diabolôs” (adversário). No caso em questão, tentam “transformar em libertinagem a graça de nosso Deus”. Dessa forma o pecado passa a ser um aliado da graça de Deus, na medida em que, quanto mais o prosélito pecasse, mais Deus teria ocasião de mostrar-se misericordioso para com ele. Esse é o atual pretexto do liberalismo comportamental de algumas seitas cristãs:






Crer no Senhor Jesus e podeis pecar à vontade, pois foi para a liberdade que Deus nos criou, e uma vez salvo pela fé, está salvo para sempre, independentemente de suas obras boas, ou más, pois pela graça sois salvos, independente das obras. Além disso, essa perspectiva de barateamento da graça de Deus, passa também, pela ideia de que Deus é gracioso e sublime demais para ocupar-se com os banais deslizes morais humanos. Ou seja, usa-se a graça de Deus contra o próprio Deus. Desse modo, a graça de nosso Deus é “transformada em libertinagem”, na medida em que é usada para interesses imorais, carnais e passageiros dos seres humanos. É a graça conveniente, evocada para justificar agora o pecado, e não mais o pecador.





Outro caminho para se “transformar a graça do nosso Deus em libertinagem” é a via indireta do legalismo:







O fim do legalismo é a sensualidade, a neurose ou a psicose. Isso porque o legalismo concebe a vida santa e reta, como dependendo unicamente do próprio homem e de seus recursos de auto santificação (um pelagianismo remanescente), sem o auxílio da graça de Deus. Paulo diz que a lei é boa, mas ela por si só, sem a graça de Deus, não tem poder para nos transformar, mas também sem ela, não saberíamos o que é errado (I Tim 1,7-9;II Tim 2,5;Rom7,11-12).Mas no fundo, como é Rom7,11, seria o mesmo que nos pedir para não pensar em uma maçã.O legalismo começa independente da graça e termina em desgraça.O triste é que tudo isso é feito em nome da graça do nosso Deus. É por isso que o legalismo também “transforma em libertinagem a graça de nosso Deus”. O legalismo já é equivocado desde o princípio, pela sua presunção arrogante, quando a conceber-se capaz de auto-financiar o sucesso moral. É interessante observar que toda nova doutrina se desenvolve em um ambiente de pessoas que são supostamente iluminadas e com novas revelações, desfazendo completamente a base bíblica doutrinária existente. Esta é praticante a característica de todas as seitas que no decorrer dos anos vão se avolumando e se organizando. No comando das seitas está o espírito do erro e do engano. Por isso as Escrituras nos alertam, dizendo: “Todo aquele que prevarica, e não persevera na doutrina de Cristo, não tem a Deus...” (II Jo 9).O Apostolo Paulo é muito claro e direto ao demonstrar esta verdade, a sua ação é decisiva na promoção de informações que desmascaram esta classe de falsificadores da mensagem santa, deixando claro que são desrespeitadores da Palavra de Deus e do evangelho eterno. Na sua epístola aos romanos, Paulo assim se reportou:“E rogo-vos irmãos, que noteis os que promovem e escândalos dissensões contra a doutrina que aprendeste; desviai-vos deles. Por que os tais não servem a nosso Senhor Jesus Cristo. Mas ao seu próprio ventre; e com suaves palavras e lisonjas enganam os corações dos simples” (Rm 16,17-18). De forma resumida, existem as teologias fora da fé Judaico – Cristã: Islâmica, budista, hindu e gnóstica. Dentro do Cristianismo em suas principiais subdivisões, temos a teologia da Igreja Católica, apostólica Romana; da Igreja Ortodoxa, da Igreja protestante reformada, e da Igreja protestante Pentecostal, e neo pentecostal.





PERSPECTIVAS TEOLÓGICAS





Quando se diz que um livro trata de teologia, isso implica mostrar sua extensão, ênfase e limitações. A teologia significa “a interpretação racional da fé religiosa”. A teologia cristã, portanto, é “a interpretação racional da fé cristã”. 







Existem pelo menos três elementos incluídos no conceito geral de teologia:




1. Teologia é inteligível. Ela pode ser compreendida pela mente humana de maneira ordenada e racional.




2. Teologia requer explicação ( A pergunta teológica de Maria ao anjo na anunciação, foi teológica, para ela poder dar uma melhor resposta a Deus: Como isso se dará, se não conheço homem algum?...) Isso, por sua vez, envolve a exegese (análise dos textos no original) e a sistematização das ideias.




3. A base da fé cristã é a Bíblia, por isso a teologia cristã é um estudo baseado na Bíblia. Logo, teologia é a descoberta, a sistematização e a apresentação das verdades a respeito de Deus, por aquilo que Ele revelou nas escrituras vero e neotestamentárias.





Os diferentes tipos de teologia podem ser catalogados de várias maneiras:





1. Por época: por exemplo, teologia patrística, teologia medieval, teologia reformada e teologia contemporânea.




2. Por ponto de vista: por exemplo, teologia arminiana (defendida por Armínio), teologia calvinista (defendida por João Calvino),teologia barthiana (defendida por Karl Barth), teologia da libertação (defendida por Gustavo Gutierrez, Boff e outros), etc.




3. Por ênfase: por exemplo, teologia histórica, teologia bíblica, teologia sistemática, teologia apologética, teologia exegética etc. Todos esses diferentes enquadramentos, são muito importantes para todo aquele que estuda, ou deseja iniciar estudos teológicos.






Teologia histórica







A teologia histórica versa sobre o que os estudiosos, individual ou coletivamente, pensam a respeito dos ensinos da Bíblia, conforme os pronunciamentos dos concílios realizados pela Igreja. Mostra como a Igreja estabeleceu tanto o que é verdadeiro quanto o que é errado e serve para guiar a teologia em seu próprio entendimento e declarações doutrinárias. Um estudante é capaz de chegar, de maneira mais eficiente, a suas próprias conclusões a respeito da verdade quando conhece as contribuições e os erros históricos da história da Igreja.






Teologia do logos (sentido)





“O termo logos é uma palavra grega que significa sentido. Assim, a Logoterapia concentra-se no sentido da existência humana, bem como na busca da pessoa por este sentido. Para a Logoterapia, a busca de sentido na vida da pessoa é a principal força motivadora no ser humano. A Logoterapia é considerada e desenhada como terapia centrada no sentido. Vê o homem como um ser orientado para o sentido". (Frankl).A razão das nossas Bíblias traduzirem logos como word [palavra] é que São Jerônimo, um monge do século V, traduziu-a imprecisamente como verbum. A Vulgata de Jerônimo, como é chamada, tornou-se a Bíblia oficial da Igreja Católica, e os textos que Jerônimo usou têm se tornado a base das versões bíblicas contemporâneas. O termo latim Verbum tornou-se Word [Palavra] em inglês, embora eu não saiba o motivo de não ter se tornado verb [verbo], como acontece numa nova versão católica francesa, La Bible de Jerusalém. De qualquer forma, Logosdificilmente significa uma única palavra, mas ela tem quarenta ou mais significados. Não listei todos os significados, mas apenas alguns:Cálculo, razão, relatos, medidas, soma, total, estima, consideração, valor, reputação, relação, forma, proporção, regra, pretexto, raciocínio, casuística, teoria, argumento, princípio, lei, tese, hipótese, fórmula, definição, debate, reflexão, narrativa, história, discurso, oração, frase, mensagem, tradição, diálogo, oráculo, provérbio, linguagem, sentido, sentença e a Sabedoria de Deus. O interesse particular no Logos como usado no primeiro versículo de João deriva-se de seu pano de fundo filosófico. Heráclito, um filósofo grego de aproximadamente 500 a.C., usou o termo para designar a Suprema Inteligência que governa o universo. Nem Platão nem Aristóteles tinham uma doutrina do Logos, mas os estóicos, a mais vigorosa de todas as escolas de 300 a.C. a 200 a.C., adotaram a visão de Heráclito. Então Filo, um judeu contemporâneo de Cristo, usou a doutrina estóica do Logos para interpretar o Antigo Testamento. Alguns cristãos no terceiro século, e alguns outros no século XIX, pensavam que Filo tinha antecipado a doutrina da Trindade. Isso estava longe da intenção de Filo, embora ninguém possa negar que ele influenciou a igreja primitiva nessa direção.Em adição aos estóicos gregos e ao judeu Filo, há outra fonte que parece ter influenciado João ainda mais diretamente. Numa data desconhecida, possivelmente no começo do segundo século, um autor desconhecido escreveu um tratado chamado Poimander. Esse se tornou o primeiro de uma série de dezoito que foram reunidos e publicados, talvez no quarto século, sob o nome Hermes Trismegistus. A obra completa era suposta ser uma revelação do deus egípcio Tehuti ouThoth. Os tratados não são consistentes entre si, e um ou mais deles parece ser uma forma de Cristianismo. Agora, Poimander, pelo qual Reizenstein tentou explicar a doutrina da redenção de Paulo, traz uma semelhança impressionante, ou melhor, uma não-semelhança impressionante, com o Prólogo do Evangelho de João. Poimander diz que o Logos não era no princípio, o Logos não era Deus,nem todas as coisas foram feitas por ele e, portanto, as trevas não puderam compreendê-lo. O contraste é tão definido que dificilmente alguém pode se refrear de concluir que João escreveu seu Prólogo com o expresso propósito de refutar Poimander.Isso pode parecer conflitar com uma data do segundo século para Poimander. Contudo, duas considerações preservam a possibilidade. Primeiro,os tratados foram escritos em diferentes épocas e reunidos mais tarde.Segundo, mesmo quePoimander não tenha sido escrito antes de 125 a.C., sua religião era mais antiga e poderia ter tido um efeito nocivo sobre a evangelização do primeiro século. Hoje não estamos muito interessados na religião dePoimander, mas deveríamos estar interessados em Cristo como o Logos, a despeito do fato que mesmo os membros de igrejas conservadores reagem negativamente a isso.Um relato da Pessoa de Cristo dificilmente poderia começar mais apropriadamente do que com João 1,1. Ecoando a Septuaginta, João usa Gênesis 1,1, “no princípio”. Não somente a divindade é afirmada nessas palavras, mas João repete a idéia no final do versículo: “O Logos era Deus”. Os gnósticos fizeram da sabedoria ou Sophia o éon mais inferior na mente de Deus, e por seu pecado o mundo inferior veio à existência. O Novo Testamento menciona sophia ou sabedoria cinqüenta e uma vezes, mas essa não é a Sophia dos gnósticos. Tiago 1,5 nos admoesta que “se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus… e ser-lhe-á dada”. Suplicamos a Deus freqüentemente por saúde, e isso não é impróprio, mas com que frequência oramos por conhecimento e sabedoria? Cristo é a sabedoria de Deus. Todavia, Cristo é algo mais, algo mais básico e fundamental que a própria sabedoria. O Novo Testamento usa a palavra verdade 110 vezes, das quais 25 ocorrem no Evangelho de João. Os eruditos Existencialistas ou Neo-ortodoxos, tais como Barth e Brunner, e os totalmente não-eruditos Pentecostais, unem-se no compartilhamento de emoção e experiência extática. Mas em nenhum lugar Cristo diz, “Eu sou a emoção”. Muitos bons cristãos, na verdade todos os bons cristãos, dizem que Deus é amor; e ele realmente é. Mas se isso não fosse verdade, ele não seria amor.






A verdade é básica! Vejam o que o apóstolo disse: João 1,14: “A Palavra [Logos] era… cheia de graça e de verdade” 














Três versículos abaixo, “a graça e a verdade vierem por Jesus Cristo”. O terceiro capítulo de João, cujo 16º versículo é tão bem conhecido, nos versículos 20-21 ensina que a moralidade depende da verdade. Em sua profunda conversa teológica com a mulher samaritana, que tinha tido cinco maridos e estava vivendo com um homem que não era o seu marido, Cristo insistiu que uma pessoa deve adorar a Deus em espírito e em verdade. Para alguns judeus crentes Jesus prometeu “e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”(8,32). Mais tarde no mesmo capítulo, negativamente, Jesus denuncia o diabo porque não há verdade nele (8,44). Os dois próximos versículos continuam a ênfase. Então há o bem-conhecido versículo: “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida” (14,6); e alguém pode comentar que se não é verdade que Cristo é o caminho, não haveria nenhuma necessidade de falar dessa forma. O Espírito Santo, algumas vezes chamado o Espírito de Cristo, é três vezes chamado o Espírito de verdade (João 14:17, 15:26, e 16:13) em versículos que envolvem diretamente a doutrina da Trindade. Cristo também diz que ele mesmo é santificado por meio da verdade, assim como nós somos santificados por meio da verdade (17:17, 19). Se qualquer cristão deseja crescer em santidade,ele deve aprender mais a verdade. Os versículos citados são em sua maioria versículos de João que identificam Cristo como a Verdade. Qualquer um interessado pode pesquisar o restante dos 110 versículos no Novo Testamento e meditar sobre a verdade deles.Ninguém deveria ficar surpreso que o Logos, a Lógica, a Razão, a Sabedoria, a Mensagem, a Linguagem, a Reflexão de Deus, é a verdade. O que é surpreendente e deprimente é o fato que as igrejas chamadas evangélicas têm eliminado quase totalmente o intelectualismo do seu pensamento. Se não se tornaram Pentecostais estáticos, falando algaravias carismáticas, e se não se tornaram Existencialistas, que acham pouca ou nenhuma verdade na Bíblia,eles repudiam a teologia em favor de uma mente confortavelmente branca.O Logos era cheio de graça e verdade. Ele disse, conhecereis a verdade e a verdade vos libertará. Cristo foi santificado, e se somos também, somos santificados pela verdade. Desde que João escreveu “e o Verbo [Lógos/Palavra] era Deus” (Jo 1,1c) , não têm sido poucos os que se levantaram em protesto ao longo da história da igreja. As “Controvérsias Cristológicas” dos primeiros séculos realçam o peso dessa afirmação, a qual ganha ainda mais destaque quando aliada a declaração do evangelista de que este Verbo/Deus “se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14) na pessoa de Jesus. Assim, a chocante doutrina do Deus/homem Jesus Cristo apresentada por João, ora tem sido atacada de um lado, por grupos que buscam enfraquecer ou negar a plena humanidade do Verbo (estabelecida na encarnação), como nos casos do docetismo, do apolinarianismo e do eutiquinianismo; ora tem sido agredida em seu outro flanco, por grupos que buscam minimizar ou suprimir a plena divindade do Verbo (“e o Verbo era Deus”), como nos casos do ebionismo, do adocionismo e do arianismo. Embora o Credo cunhado no Concílio de Calcedônia (451 d.C.) figure como o postulado oficial da igreja cristã, cerrando assim as fronteiras da ortodoxia, facções continuaram a surgir ao longo de todas as épocas, seja para reverberar o grito de Ário, condenado como herege em Nicéia (325 d.C.) e Constantinopla (381 d.C.) por negar a plena divindade do Lógos Jesus, afirmando que houve um tempo em que o Verbo não era (não existia), como o fizeram no séc. XVI Servetus e os italianos Lélio Socínio (1525-1562) e seu sobrinho Fausto Socínio (1539-1604) , e ainda o fazem em nossos dias a seita Testemunhas de Jeová; seja para reassumir velhas heresias como o sabelianismo, criado por Sabélio, presbítero de Ptolemaida, e o modalismo, desenvolvido por Paulo de Samosata, bispo de Antioquia, que negam a pessoalidade distinta entre o Verbo, o Pai e o Espírito, apontando para uma espécie de Deus em máscaras, que ora apresenta-se na máscara do Filho, ora na máscara do Espírito ou do Pai. “Esta posição tem reaparecido na atualidade no ensino dos pentecostais unidos” conforme declaram Ferreira e Myatt (2007, p. 488). Nos propomos doravante a focar nas implicações concernentes a divindade do Lógos, a qual consideramos como a mais atacada na atualidade, principalmente depois do surgimento do liberalismo teológico, onde Cristo passou a ser apresentado como alguém que não está muito além de um grande mestre da moral. Iniciaremos, portanto, analisando o desenvolvimento anterior a João de uma doutrina do Lógos, nos pensamentos helenista e judaico, findando com o desenvolvimento do próprio evangelista e suas peculiaridades. Em seguida, nos deteremos na consideração da declaração “e o Verbo era Deus” (Jo 1:1), buscando estabelecer exegeticamente como esta deve ser compreendida.





A DOUTRINA DO LÓGOS ATRAVÉS DA HISTÓRIA



1)-O Lógos no helenismo





Ladd observa que “os estudiosos, com freqüência, tentaram encontrar a fonte do conceito de João a respeito do Logos no pensamento helenístico” (2009, p.357). Falando a este respeito, Cullmann (2008, p. 330) destaca que “o título Logos ocorre já na mais antiga filosofia grega, a de Heráclito, e, mais tarde, especialmente no estoicismo”. A partir destas referências analisaremos a ocorrência do termo Lógos e seus variados conceitos no pensamento helenístico.






2)-Logos em Heráclito





Para Heráclito de Éfeso (530-470 a.C.) “[...] todas as coisas estavam em um determinado curso, e [...] nada permanece da mesma maneira. Entretanto, a ordem e o padrão podem ser percebidos em meio ao fluxo e ao refluxo eternos e incessantes das coisas no Logos – o princípio eterno de ordem no universo.” Ele mantinha ainda que “o Logos, por trás de qualquer mudança duradoura, é que faz com que o mundo se torne um cosmos e um todo ordenado” (LADD, 2009, p. 357).Heráclito é o criador da famosa ilustração, a qual “[...] contende que um homem não pode parar no mesmo rio duas vezes, visto que a água e o leito do rio estão constantemente se movendo e mudando”. Em acréscimo a isto, é postulado que “o próprio homem está constantemente mudando também, de forma que quando ele parar num rio pela segunda vez, ele já será diferente do homem que era quando parou no rio pela primeira vez” (CHEUNG, 2008, p. 65).Cheung argumenta que “o conhecimento depende da imutabilidade”, visto que se um objeto muda o tempo todo, torna-se impossível traçar qualquer definição a seu respeito, o que findará reduzindo-o a nada, “e se é nada, então não pode ser conhecido”. Sendo assim, o Lógos, no entendimento de Heráclito, seria “[...] uma lei ou princípio, que não muda. [...] ‘um agente racional e bom, cuja atividade parece como a ordem na Natureza’. Sem isso tudo seria um caos, e a natureza seria ininteligível” (2008, p. 65).






3)-O logos no estoicismo





Para o estoicismo, que “por sua vez, teve origem com Zenão de Cício (263 a.C.) [...] Sua doutrina do Logos o concebia como a razão impressa na estrutura do universo e também como a fonte de energia de todas as coisas” (GRANCONATO, 2010, p. 51), ou, como o expressou Cullmann (2008, p. 330), “O Logos aí é a lei suprema do mundo, que rege o universo e que, ao mesmo tempo, está presente na razão humana. Trata-se pois de uma abstração e não de uma hipóstase”. Uma espécie de “alma impessoal e panteísta do mundo”. É, portanto, muito natural a declaração de Ladd (2009, p. 357) de que “o Logos era um dos elementos mais importantes na teologia estóica”. Foi esta idéia doLógos que “os estóicos usaram [...] para prover a base para uma vida moral e racional” (LADD, 2009, p. 357). Ladd explica que este conceito de Lógos surgiu da confrontação “[...] com o dualismo comum dos gregos, a respeito de Deus e do mundo”, e destaca que, “a fim de resolver o problema da dualidade”, passou-se a empregar “o conceito do Logos como uma idéia unitária” (2009, p. 357).Neste sistema de pensamento, portanto, todo o universo passou a ser “[...] concebido como formando um conjunto vivo singular, que era permeado em todas as suas partes por um poder primitivo”, o qual era idealizado “[...] como um poder que nunca precisava de repouso, um fogo capaz de penetrar todas as coisas, ou um vapor abrasador [...], um tipo difuso e firme de ar flamejante que possuía a propriedade de pensar”, uma “substância ultra refinada [...] imanente em todo o mundo e aparecendo nos seres vivos como a alma”. Assim, este “poder Divino [Logos ou Deus] de caráter mundial, contendo dentro de si mesmo as condições e os processos de todas as coisas”, era visto como um poder produtivo, sendo “[...] denominado de spermatikos logos, o Logosseminal ou princípio gerador do mundo”, o qual, permeando o universo, revelava-se em “[...] inumeráveis logoi spermatikoi, ou forças formativas, que energizavam o fenômeno múltiplo da natureza e da vida”. Desta forma, o Lógos forneceria “[...] a ordem racional do universo e providenciaria o padrão para a conduta e para a adequada ordenação da vida para o homem racional” (LADD, 2009, pp. 357, 358). Por esta razão, Granconato escreve que a conclusão dos estóicos era a de que “o homem sábio é aquele que ajusta sua vida à ordem natural que existe no universo, suprimindo suas paixões, abandonando desregramentos e obedecendo à lei natural que existe no mundo e que está impressa no ser de cada pessoa” (2010, p. 51).






4)-O Logos no platonismo                                                                  





Cullmann (2008, p. 330) afirma que o platonismo também alimentava um conceito referente ao Lógos. Granconato diz que “de acordo com as noções do médio-platonismo (Sécs. I a.C. – II AD), Deus era concebido como absolutamente transcendente e impassível. Esse Deus mantinha ligação com o mundo sensível através do Logos, a razão universal” (2010, p. 51). Para Cullmann, “aqui já nos aproximamos mais da idéia de um ser real [o demiurgo]; ‘real’ no sentido do idealismo platônico. Porém, ainda assim, não estamos diante de uma hipóstase, e a idéia de uma encarnação do Logos é absolutamente inconcebível” (2008, p. 330). É digno de nota que, embora não devamos permitir que a analogia da terminologia nos induza “[...] a identificar a concepção de Logos atestada no judaísmo tardio, ou mesmo a do Evangelho de João, com a da filosofia grega” (CULLMANN, 2008, p. 330), segundo proposto por Cullmann, “esta concepção filosófica do Logos ocupa um lugar essencial na história longa e complicada deste termo, pois influenciou ao menos na forma, as idéias judaicas e pagãs tardias de um Logos mais ou menos personificado” (2008, p. 330).Embora seja provável que “temas mitológicos tenham influenciado mais profundamente”, Cullmann está convencido de que “a doutrina filosófica do Logos, incontestavelmente, é uma das fontes destas concepções tardias” (2008, pp. 330, 331). Para Cullmann um exemplo claro de alguém sob tal influência pode ser visto em Fílon [ou Filo, como é mais comum] de Alexandria (2008, p. 331).






5)-O Logos em Filo de Alexandria





Nascido em Alexandria (20-25 a.C.), de acordo com Lopes (2007, p. 83), “Filo era um judeu praticante, da Diáspora”, que teria morrido entre 42 e 50 d.C. Ele foi [...] contemporâneo de Herodes, o Grande, dos sábios rabínicos como Gamaliel, Hilel e Shamai, e ainda de Jesus e de Paulo” (LOPES, 2007, pp. 83, 84). Bem versado na Septuaginta e nas tradições do Judaísmo, Lopez declara ainda que “Filo teve um treinamento completo em filosofia grega” e, “Filosoficamente falando, ele era uma mistura de platonista e estóico, com a predominância do pensamento de Platão” (2007, p. 84).Filo ficou conhecido por seu método hermenêutico, ao que Ladd (2009, p. 358) chama de “[...] interpretação alegórica extremada”. Tal método influenciou profundamente a “[...] academia cristão patrística”, tornando-se “[...] o método de interpretação predominante em uma das mais importantes escolas de catequese nos primórdios da Igreja cristã, a escola de Alexandria, no Egito”, sendo posteriormente adotado como “[...] o método dominante durante a Idade Média, após passar por algumas modificações” (LOPES, 2007, p.83).Relevante para nossos objetivos é o empreendimento de Filo na “[...] extraordinária tarefa de casar a religião judaica com a filosofia helenística” (LADD, 2009, p. 358).Filo defendia “[...] a perspectiva grega de um Deus completamente transcendente e separado do mundo; e utilizou o conceito do Logos para prover uma forma de mediação entre o Deus transcendente e a criação” (LADD, 2009, p. 358).Segundo Champlin, “Algumas vezes Filo se referia à impessoalidade do <<Logos>>, como se fosse a essência imaterial da mente de Deus, de onde teria procedido o plano e o padrão da criação.” Em outras ocasiões, “[...] entretanto, ele falou pessoalmente sobre o <<Logos>>, como o anjodo Senhor” (2008, p. 899).O que se pode, de fato, falar e saber acerca do Deus de Filo, em virtude de seu caráter transcendental, é que ele existe. Nada mais nos é dito a seu respeito, nem qualquer detalhe nos é oferecido sobre ele, com exceção da afirmação de sua existência.






Como Ladd bem expressa o logos em Filo de Alexandria:






Deus é absoluto e encontra-se fora do universo material. Ele abrange todas as coisas e, no entanto, Ele próprio não pode ser abrangido. Está fora do tempo e do espaço e não pode ser conhecido em seu próprio ser. O único nome pelo qual Deus pode ser designado é ‘ser puro’, to on, um ser sem atributos em si mesmo (2009, p. 358).Sendo assim, visto que Deus não se mistura ao mundo material, ele “[...] precisa contar com agentes, tanto na criação como nos seus contatos com o mundo” (CHAMPLIN, 2008, p. 900).O Lógos, ou Razão, conforme concebido por Filo é, portanto, “[...] o mesmo que o <<demiurgo>> de Platão”, ou seja, “O princípio de mediação entre Deus e a matéria [...], no qual estariam comprimidas todas as idéias das coisas finitas, e que teria criado o mundo material, fazendo estas idéias penetrarem na matéria”, ou ainda, “[...] é a razão divina e universal, a razão imanente, que contém dentro de si mesmo o ideal universal, mas que ao mesmo tempo, é a palavra expressa, que procede da parte de Deus e que se manifesta neste mundo em tudo quanto aqui existe” (CHAMPLIN, 2008, p. 900). Por esta razão, Ferreira e Myatt (2007, p. 509) resumem o pensamento de Filo acerca do Lógos como “[...] a emanação divina que intermediou a criação do universo”. Assim sendo, vendo o Lógos como “[...] a manifestação que Deus faz de si mesmo neste mundo”, Filo entendia que “ao revelar a si mesmo, Deus poderia ser chamado de Logos”, e “[...] o Logos, na qualidade de agente revelador de Deus, poderia ser chamado de Deus” (CHAMPLIN, 2008, p. 900).





O Lógos no judaísmo





No pensamento judaico encontramos duas concepções acerca doLógos:





a)- A concepção judaico-helenística, onde temos seu maior representante em Filo, como já apresentado acima;





b)- E aquilo que Cullmann chama de “[...] a concepção veterotestamentário, autenticamente bíblica”, a qual remontaria “[...] a Gn 1, segundo a qual o Verbo de Deus, o debar Iahweh, é entendido em seu sentido primitivo e torna-se, às vezes, em virtude de um desenvolvimento imanente do pensamento, uma hipóstase divina” (2008, p. 333).






A - concepção judaico-helenística






Quanto à primeira concepção, embora já tenhamos discorrido sobre a influência do platonismo e do estoicismo aliados à hermenêutica alegórica no trato com a Bíblia judaica (o Antigo Testamento) em Filo, Cullmann (2008, p. 331), seguindo Bultmann, aponta para uma possível influência do paganismo, e/ou da doutrina gnóstica, na formulação destes conceitos no pensamento judaico-helenístico. Ele escreve:“Aqui o Logos é um ser mitológico, intermediário entre Deus e o homem. Não é tido só por criador do mundo é, em primeiro lugar, o portador da revelação e a este título, Salvador; pode também, transitoriamente, revestir-se da forma humana, porém, sempre dentro de um quadro mítico e doceta; jamais no quadro histórico de uma verdadeira encarnação.”Cullmann (2008, p. 331) faz questão de frisar que o próprio Bultmann deixa claro que este ser mitológico “[...] está somente ‘disfarçado’ de homem”, reforçando a rejeição de qualquer idéia de encarnação real.Exemplos da prefiguração deste Lógos personificado nas religiões antigas podem ser vistos em Hermes e no deus egípcio Thot, os quais “[...] ostentam o título de Logos” (CULLMANN, 2008, p. 332).Embora endossando o pensamento de Bultmann a este respeito,Cullmann (2008, p. 332) o critica por considerar “[...] esta doutrina gnóstica acerca do Logos como a única fonte da doutrina judaico-alexandrina do Logos e da sabedoria, tal como a encontramos em Fílon, nos livros da sabedoria e nos textos rabínicos e, também, como a única fonte de noção joanina do Logos”.





A concepção veterotestamentário




Na visão judaica mais preocupada em deter-se sobre a revelação bíblica, em detrimento das considerações filosóficas e pagãs correntes, três são os conceitos sobre os quais uma doutrina do Lógos foi erigida: o debar Iahweh, o memra déjahvé e a sabedoria.







1º) O debar Iahweh                                






O debar Iahweh, ou a Palavra de Deus, “[...] foi um importante conceito para os judeus” (LADD, 2009, p. 358). Conforme Cullmann, “Há no Antigo Testamento, toda uma série de passagens nas quais a ‘Palavra de Deus’, se não está personificada é, ao menos, considerada como uma entidade independente e que passa a ser objeto de reflexão teológica em razão do enorme poder de sua ação” (2008, p. 335).Champlin nos diz que “a Palavra, que corporifica a vontade divina, é personalizada na poesia hebraica”. Deste modo, sendo-lhe conferidos atributos divinos, a Palavra nos é apresentada como “[...] um curador (ver Sal. 107:27); um mensageiro (ver Sal. 147:15), e o agente dos decretos divinos (ver Is. 55:11). (Ver também Sal. 32:4; Is. 40:8 e Sal. 119:105)” (2008, p. 899).Ladd (2009, p. 358), ainda apontando para esta realidade, nos relembra que “a criação veio a existir e foi preservada pela palavra de Deus (Gn. 1:3, ‘e disse Deus’, veja Sl. 33:6, 9; 47: 15-18); e a palavra de Deus é a portadora da salvação e da nova vida (Sl. 107:20; Is. 4:8; Ez. 37:4-5).” Ele arremata ao declarar que “no Antigo Testamento, a palavra não é meramente uma forma de expressão; é uma existência semi-hipostática, de forma que pode mover-se e cumprir o propósito divino (Is. 55:10-11)”. Assim, “A palavra de Deus proferida na criação, expressa por intermédio dos lábios dos profetas (cf. Jr. 1:14, 11; 2:1) e na Lei (Sl. 119:38, 41, 105), tem um certo número de funções que podem muito bem ser comparadas com aquelas atribuídas ao Logos em João.Interessantíssimo, enquanto delineando um exemplo muito claro da Palavra como um ser hipostasiado, é a descrição encontrada na “[...]Sabedoria de Salomão (submetida já à influência alexandrina), onde lemos no capítulo 18:15: ‘Tua Palavra onipotente sai do trono real como um guerreiro implacável...’” (CULLMANN, 2008, p. 335). A nível de paralelo, acerca deste trecho de Sb. 18,15, Jeremias (2006, p. 397) declara: “Isto nos lembra imediatamente Ap 19.11ss, onde Cristo é descrito como o herói que chega num cavalo branco com uma espada na boca, e onde é chamado ‘o Lógos de Deus’ (19,13)”.






2º)- O memra déjahvé





Memra déjahvé, ou simplesmente Menra, “[...] é a designação aramaica da Palavra de Iahweh” (CULLMANN, 2008, p. 335). Este é um conceito posterior no pensamento judaico e parece expressar uma reflexão mais acurada acerca do conceito da Palavra de Deus, elevada ao nível em que pode ser usada até mesmo para substituir o próprio nome de Deus.Champlin nos informa que devido à personalização do conceito da Palavra de Deus nos “[...] comentários e [...] exposições do A.T.”, assim como na “[...] teologia judaica”, “[...] um agente de Deus, como se fora a união de seus atributos, segundo eles são revelados aos homens”, foi criado, e a este (tomado como uma espécie de princípio todo inclusivo) fora dado o nome “[...] Menra (Palavra ou <<Logos>>) de Javé” (2008, p. 899).Esta idéia, conforme nos explica Champlin (2008, p. 899), fora, então, introduzida pelos eruditos judaicos nos Targuns, “[...] ou seja, nas paráfrases inseridas no V.T., escritas no idioma aramaico”. Um exemplo de tais paráfrases nos é fornecido por ele (2008, p. 899) acerca de Gên. 39:21: “<<A Menra estava com José, na prisão>>”. No trecho em questão, a palavra substituída por Menra é, na verdade, “o Senhor”. Nesta concepção, portanto, “A <<Menra>> também teria sido o anjo que destruiu os primogênitos do Egito, e também teria sido a Menra quem conduziu Israel, na nuvem de fogo” (CHAMPLIN, 2008, p. 899). Isto nos revela uma clara personificação da Palavra (Lógos) de Jeová sendo intercambiável com o próprio Jeová ou Suas teofanias.





3º)-A sabedoria





De acordo com Ladd (2009, p. 359), “O conceito de sabedoria personificada também fornece um contexto judaico para o conceito deLogos”. Para Cullmann (2008, pp. 336, 337), “[...] foram as especulações do judaísmo tardio acerca da Sabedoria [...] as que mais influenciaram a noção de Logos no cristianismo primitivo”.







Nas palavras de Goppelt (1983, p. 551):





Já na porção mais recente dos Provérbios (século III AC), confere-se à Sabedoria uma função cosmológica. Ela é primícia das obras de Deus e participa da obra da criação (Pv 8,22-36). Ao mesmo tempo, tem função soteriológica: quem ouve suas admoestações e observa seus caminhos “encontra a vida”, quem, todavia, a odeia, “encontra a morte” (Pv 8,36; cf. sir Bar 3,9-4,4).Digna de atenção é a noção de Sabedoria desenvolvida no livro de Provérbios. “Em Provérbios 8:22-31, a sabedoria é semi-hipostática. A Sabedoria foi a primeira de todas as coisas criadas e, depois, por ocasião da criação do mundo, diz de si mesma: ‘Eu estava com ele e era seu aluno’” (LADD, 2009, p. 359). Na verdade, este capítulo 8 de Provérbios constitui-se num discurso feito pela própria Sabedoria em primeira pessoa. Cullmann (2008, p. 337) diz que esta mesma idéia pode ser encontrada “[...] em Eclo. 1.1 ss.; 24.1 ss., e ainda em diversos outros lugares”. Em Sir. 24:8 lê-se que “[...] a Sabedoria emanou de Deus para habitar em Israel e torná-lo o povo de Deus” (LADD, 2009, p.359). “Na Sabedoria de Salomão se diz que a Sabedoria é um ‘reflexo da luz eterna de Deus’ (7.26)” (CULLMANN, 2008, p. 337). Tudo isto demonstra uma íntima relação entre o conceito de Lógos e aSophia, que para Cullmann “[...] são palavras quase intercambiáveis” (2008, p. 337). Conquanto tenhamos distinguido nestas seções, 2.2.1 e 2.2.2, entre duas linhas diretivas no judaísmo; a que adota o conceito de “Palavra” simplesmente, desenvolvida a partir de influências exteriores, e a linha especificamente bíblica acerca da Palavra de Deus, do debar Iahweh, deve-se destacar que “ambas têm em comum o expressarem a obra pela qual Deus se revela. Porém, a idéia desta obra, esta Palavra dirigida por Deus ao mundo, poder finalmente encarnar-se no quadro histórico de uma vida humana e terrena, é coisa tão estranha a uma como a outra” (CULLMANN, 2008, p. 338).






O LÓGOS NO PENSAMENTO JOANINO






Conforme Schreiner e Dautzengerg (1977, p. 48), “A aplicação do título de Logos a Cristo é específica da apresentação Joanina.” Ainda que no Evangelho o título seja empregado somente no prólogo (Jo 1:1, 14), João faz uso deste também em uma de suas cartas (1 Jo 1:1 – “Verbo da vida”) e em Apocalipse 19:13 (“Verbo de Deus”). Não significa dizer com isto que a idéia do Lógos empregada por João não encontre paralelos em outros escritos do próprio Novo Testamento. Exemplo claro disso pode ser visto em Hebreus 1,1-3. De acordo com Cullmann, “É verdade que o termo mesmo λόγος não aparece aí; porém, o falar de Deus em seu Filho está associado com a criação do mundo e ligado a uma definição da relação eterna entre o Filho e Deus o Pai” (2008, p. 342).O Verbo apresentado como Deus em João (1,1c), é descrito pelo autor aos Hebreus como “o esplendor da glória e a expressão exata do seu [de Deus] Ser.” O Verbo por intermédio do qual foram feitas todas as coisas e, sem o qual, “nada do que foi feito se fez” (Jo 1,3), encontra mais um claro paralelo no Filho retratado em Hebreus, sobre o qual lemos que “fez o universo” (Hb 1,2) e sustenta “todas as coisas pela palavra do seu poder” (Hb 1,3).Procurou-se por muito tempo compreender o Lógos joanino apenas com base no uso helenístico do termo, ou ainda, mais recentemente, como uma mera extensão do pensamento judaico, seja no conceito bíblico da Palavra de Deus ou da Sabedoria, seja no conceito filosófico apresentado por Filo. Embora paralelos existam, pois como diz Champlin (p. 900), “[...] essa doutrina não foi criada no vácuo”, Ladd destaca que “[...] a despeito de certas semelhanças, nem a idéia do Logos nem a de sabedoria se aproxima da verdade que João enuncia por meio de sua doutrina do Logos: a preexistência pessoal e a encarnação do Logos” (2009, p. 359). Como já vimos anteriormente, mesmo que o conceito deLógos fosse por vezes apresentado como hipostasiado, ou mesmo personificado, jamais era concebido como personalizado, nem se aceitava qualquer idéia relativa à encarnação real.Para Ladd (2009, p. 360), portanto, “A questão importante é o uso teológico que João faz do conceito do Logos, e esse uso, por ser peculiar, não encontra paralelos, quer na filosofia helenística quer no pensamento judaico.” Acerca deste uso teológico, destacam-se dois conceitos:





1) A preexistência de Jesus (o Lógos).



2) Sua divindade.






Em primeiro lugar, digno de nota é a alusão deliberada feita por João a Gênesis 1,1, onde lemos o relato da criação; criação esta que, tanto ali como em João (1,3), vem à existência por meio da palavra de Deus (“Disse Deus” – Gn 1,3), o próprio Lógos. Se compararmos Έν ρχᾖ (“No princípio”) em Jo 1,1 com a tradução feita pela Septuaginta de Gn 1,1, perceberemos que não há qualquer diferença. As palavras são exatamente as mesmas. A única distinção aqui se deve ao fato de que “‘No princípio’, em Jo 1,1, refere-se a um período anterior a Gênesis 1,1 [...] pois o Logos foi o agente da criação.” Assim, “O Verbo já existia na eternidade, que não tem início e nem fim” (LADD, 2009, p. 360).A este respeito, Hendriksen (2004, p. 99) declara: “A maneira como este Evangelho começa é magnificente. Ele começa retratando a vida de Cristo na eternidade, antes que o mundo existisse.” Nas palavras de Ladd, “A preexistência de Jesus é refletida em várias passagens de seu próprio ensino.” Exemplo disto pode ser visto na declaração: “‘Antes que Abraão existisse, eu sou’ (8,58). Essa surpreendente afirmação é uma alusão ao uso do Antigo Testamento. Deus Revelou-se a Moisés como ‘EU SOU O QUE SOU’ (Êx. 3,14)” (2009, p. 360).Ou ainda, “Vede, agora, que eu, eu o sou, e mais nenhum deus comigo” (Dt. 32,39). Jesus também interrogou: “Que será, pois, se virdes o Filho do Homem subir para o lugar onde primeiro estava?” (Jo 6,62). Embora a expressão “o lugar onde primeiro estava” não aponte diretamente para Sua preexistência na própria eternidade, se compararmos esta passagem com Sua oração final, poderemos encontrar, então, uma clara afirmação desta preexistência: “e, agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo” (Jo 17,5). Está, pois, evidente que “o lugar onde primeiro estava”, é, portanto, junto ao Pai, “antes que houvesse mundo”. “Assim, quando céu e terra foram criados, havia a Palavra [ou Verbo] de Deus, já existindo na mais próxima associação com Deus e compartilhando da essência de Deus” (BRUCE, 1983, p. 31) .Desta forma, Bruce (1983, p. 31) nos alerta: “Não importa para quão distante possamos tentar empurrar nossa imaginação, não podemos nunca buscar um ponto no qual poderíamos dizer da Divina Palavra [ou Verbo], como Ário o fez, ‘Houve um tempo quando ele não existia’”. Como dito previamente, “Em segundo lugar, João utiliza a idéia do Logospara afirmar a divindade de Jesus Cristo. O Logos estava com (pros) Deus, e o Verbo era Deus (theos ēn ho logos)” (LADD, 2009, p. 360). Conforme supramencionado, Deus apresenta a Si mesmo como o “EU SOU”. Cristo faz uso da mesma expressão para representar sua divindade, e, no Evangelho de João este uso do ἐγώ εμί é profícuo (ex: 6,35. 41. 48. 51. 8,12; 10,11. 14. 11,25; 14, 6; 15,1. 5) e está sempre conectado ao uso do Antigo Testamento, mesmo quando tratado de maneira figurada (ex. Jo 4,14; 7,38, comparar com Jr 2,13 – Jesus é “água viva”; Deus é manancial de água viva”. A promessa aos que serão salvos, segundo escreve João em Ap 7,17; 21,6. 22, é a de que serão conduzidos à “água da vida”).A apropriação que Jesus fazia de Deus como Seu Pai também apontava para Sua divindade, desde que este o fazia de forma toda particular. Isto fica muito evidente em Jo 5,17-18, onde os judeus procuravam matá-lo, “não somente por violar o sábado”, mas porque dizia também “que Deus era seu próprio Pai”. No pensamento joanino, Jesus não é a criatura agarrando-se ao Criador como a um Pai, mas antes “o unigênito [não criado, mas eternamente gerado] do Pai” (Jo 1,14). Ainda em João 5,18, devemos ressaltar que é o evangelista, inspirado pelo Espírito Santo, e não os judeus, quem declara abertamente que outro motivo pelo qual buscavam assassinar Jesus se devia ao fato de Ele fazer-se “igual a Deus” (Jo 5,18). Mais adiante, os próprios judeus indicam este fato quando, após a declaração de Jesus (“Eu e o Pai somos um” – Jo 10,30), pegam em pedras para o apedrejar acusando-o de blasfêmia, pois Ele [Jesus] sendo homem, fazia-se Deus a Si mesmo. Destarte, no pensamento joanino, Jesus é Deus (Jo 1,1c; 5,18). Como a segunda pessoa da Trindade Ele não é o Pai, mas está em íntima e eterna relação com Este, sendo um com o próprio Deus Pai (Jo 10,30), de tal forma que Ele está no Pai e o Pai nEle (Jo 10,38; 14,10), pelo que quem O vê, vê o Pai (Jo 14,9). Assim, podemos resumir este ponto com a afirmação que encontramos nos Catecismos, Maior e Breve, de Westminster, os quais declaram que Jesus é “[...] o eterno Filho de Deus, da mesma substância e igual ao Pai”, o qual “[...] no cumprimento do tempo fez-se homem, e assim foi e continua a ser Deus e homem em duas naturezas perfeitas e distintas e uma só pessoa para sempre”.





Escrevendo sobre João 1,1, Cullmann (2008, 348) afirma:






É, deveras, a opinião do evangelista a que se expressa aqui, quando chama ao Logos “Deus”. Isto é o que a parte final de seu Evangelho mostra quando Tomé, convencido, exclama diante do Ressuscitado: “Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20.28). Com este último e decisivo “testemunho”, fecha-se o círculo: o evangelista retorna ao prólogo.Acerca deste prólogo, embora não objetivemos nos deter neste quesito, a saber, de se o prólogo joanino consiste num hino primitivo ou não, é interessante destacar o pensamento de Jeremias (2006, p. 382). Para ele, “[...] Jo 1,1-18 é uma passagem poética”. A partir daqui ele procura fazer uma análise literária da passagem em questão apontando para um paralelismo semelhante às construções encontradas nos Salmos.Jeremias argumenta que “no Oriente Próximo, o paralelismo tem a mesma função que a rima entre nós: com a métrica, diferencia a poesia da prosa”. Sua argumentação desemboca na afirmação de que o prólogo joanino trata-se, na verdade, de “[...] um cântico vigorosamente construído, um poema religioso dos inícios do cristianismo, um salmo, um hino ao Lógos Jesus Cristo” (2006, p. 382). Ele aponta também para Fl 2,6-11 como “[...] a citação de um hino pré-paulino a Cristo, no qual Paulo inseriu comentários” (2006, p. 384). Com isto ele busca corroborar a sua tese de que o que vemos em João é a mesma coisa, ou seja, um hino composto em forma de paralelismo em série ascendente, entremeado por comentários do autor do, assim chamado, Quarto Evangelho. Se Jeremias está correto ou não ao tomar esta passagem como um “[...] gênero literário, em que a história da salvação é cantada em forma de salmodia”, a “[...] Heilsgeschichte in Hymnenform (história da salvação em forma de hino)” (2006, p. 386), não é matéria na qual devamos nos deter aqui, porém, tal discussão unida ao registro histórico encontrado na carta de Plínio à Trajano (Carta X 96), onde lemos que os cristãos perseguidos, em sua liturgia cantavam “[...] hinos a Cristo, [adorando-o] como a um Deus” (in BETTENSON, 2007, pp. 29, 30), nos fornece uma boa base para afirmarmos que ao Lógos [Jesus] era atribuída a mesma devoção, glória e louvor devida à Theós [Deus o Pai], conduzindo-nos, assim, à evidente constatação de que a divindade de Jesus era amplamente sustentada pela igreja primitiva.Por fim, Hörster expressa bem a idéia apresentada no prólogo joanino afirmando: “Esse Logos, que era um com Deus, tornou-se um homem de carne e osso e viveu com os homens. Alguns que confiaram nele chegaram a ver seu poder e majestade, reconheceram nele o Filho de Deus e admiraram-se com a bondade e fidelidade de Deus que encontraram nele” (2009, p. 55). “Isto mostra claramente que o infinito pode entrar em relações finitas, e de fato entra, e que, de algum modo, o sobrenatural pode entrar na vida histórica do mundo” (BERKHOF, 2002, p. 307). Sem dúvida, esta concepção sustentada por João é absolutamente singular e distinta de qualquer outra idéia preconcebida acerca do Lógos. A conclusão a que chegamos é a de que, embora o conceito de Lógosfosse comum e já bem definido no período em que João o empregou, o apóstolo o desenvolve de modo inteiramente novo, atribuindo-o a uma existência divina que se encarna e vive como um homem neste mundo. Sua doutrina do Lógos trabalha para revelar a natureza excepcional de Jesus, o Deus preexistente que se faz homem e apresenta-se numa cruz como sacrifício ao Pai no lugar de pecadores, demonstrando assim o seu amor e garantindo-lhes salvação.Na exegese de João 1,1 esforçou-se para estabelecer o real sentido aplicado pelo apóstolo ao chamar o Lógos de  θεóς. Esta análise demonstrou-se consistente com o restante do ensino de João, apoiando o conceito do, assim chamado, “quarto evangelista” de que, tomandoθεóς como qualitativo, o Lógos compartilha da mesma essência do Pai, sendo, todavia, distinto da primeira Pessoa da Trindade quanto a Sua hipóstase (pessoa). Assim, desde o prólogo de seu Evangelho, João apresenta Jesus como Deus, o Filho, co-eterno e co-igual ao Pai.  






Vale à pena relembrar as palavras de Lewis:





Estou tentando impedir que alguém repita a rematada tolice dita por muitos a seu respeito: “estou disposto a aceitar Jesus como um grande mestre da moral, mas não aceito a sua afirmação de ser Deus.” Essa é a única coisa que não devemos dizer. Um homem que fosse somente um homem e dissesse as coisas que Jesus disse não seria um grande mestre da moral. Seria um lunático – no mesmo grau de alguém que pretendesse ser um ovo cozido – ou então o diabo em pessoa. Faça a sua escolha. Ou esse homem era, e é, o Filho de Deus, ou não passa de um louco ou coisa pior. Você pode querer calá-lo por ser um louco, pode cuspir nele e matá-lo como a um demônio; ou pode prosternar-se a seus pés e chamá-lo de Senhor e Deus. Mas que ninguém venha, com paternal condescendência, dizer que ele não passava de um grande mestre humano. Ele não nos deixou esta opção, e não quis deixá-la. (LEWIS, p. 69, 70)






Teologia bíblica






Apesar de a expressão “teologia bíblica” ter sido usada de várias maneiras, ela serve para rotular uma ênfase específica no estudo da teologia. De maneira não técnica, pode referir-se à teologia pietista (em contraste com a teologia filosófica), ou a uma teologia baseada na Bíblia (em contraste com uma que interage com os pensadores contemporâneos), ou ainda à teologia exegética (em contraste com a teologia especulativa). Algumas teologias bíblicas contemporâneas, de perspectiva liberal, enquadram-se nesta última categoria, exegética, mesmo que sua exegese não represente fielmente o ensino bíblico. Muitas vezes, seus escritos são apenas comentários a respeito de tudo o que a Bíblia diz sobre assuntos como o Reino de Deus, as alianças, Deus (se for teologia bíblica do Antigo Testamento) ou questões como os ensinamentos de Jesus, de Paulo e do cristianismo primitivo (quando se trata de teologia bíblica do Novo Testamento).Tecnicamente, a teologia bíblica tem um enfoque bem mais penetrante do que esse. Ela lida de modo sistemático com o progresso historicamente condicionado da autorrevelação de Deus na Bíblia. Quatro características surgem dessa definição:





a)- Os resultados do estudo da teologia bíblica devem ser apresentados de maneira sistemática. Nesse aspecto, ela é como as outras áreas dos estudos bíblicos e teológicos. O sistema ou maneira por meio da qual a teologia bíblica é apresentada não utiliza, necessariamente, as mesmas divisões que a teologia sistemática. Não tem de usá-las, tampouco precisa evitá-las.




b)- A teologia bíblica é centrada no contexto histórico e geográfico no qual ocorreu a revelação de Deus. Investiga a vida dos escritores da Bíblia, as circunstâncias que os motivaram a escrever e a situação histórica dos destinatários de seus escritos.




c)- A teologia bíblica estuda a revelação na sequência progressiva em que ela foi dada. Essa teologia reconhece que a revelação não foi completada por Deus de uma só vez, mas foi apresentada aos poucos, numa série de estágios sucessivos e utilizando diversos grupos de pessoas. A Bíblia é um registro do progresso dessa revelação, e a teologia bíblica concentra-se nela. A teologia sistemática, em contraste, considera a revelação como algo completo e fechado.




d)- A fonte da teologia bíblica é a Bíblia. Na verdade, as teologias sistemáticas ortodoxas fazem o mesmo. Isso não quer dizer que a teologia bíblica ou a sistemática não possam ou não retirem material de outras fontes, mas a teologia ou a doutrina, por si só, não provém de outra fonte que não seja a Bíblia e a sagrada tradição apostólica.






Teologia sistemática





A teologia sistemática correlaciona os dados da revelação bíblica como um todo, para exibir sistematicamente a imagem completa da autorrevelação de Deus. A teologia sistemática pode incluir o contexto histórico, a apologética (defesa da fé) e o trabalho exegético, mas concentra-se na estrutura total da doutrina bíblica. Teologia é descobrir, sistematizar e apresentar as verdades a respeito de Deus. A teologia histórica faz isso ao concentrar-se no que outros têm dito a respeito dessas verdades ao longo da história. A teologia bíblica faz isso ao considerar a revelação progressiva das verdades de Deus. A teologia sistemática apresenta sua estrutura total.






UMA PALAVRA OFICIAL DA IGREJA:











Em 2006, falando aos membros da Comissão Teológica Internacional, o  Papa Bento XVI advertiu que os teólogos devem “procurar a obediência à verdade” e não desvirtuar a palavra e a alma “ao falar obedecendo à ditadura das opiniões comuns”. O Santo Padre lembrou que “falar para encontrar aplausos, falar orientando-se ao que os homens querem escutar, falar obedecendo à ditadura das opiniões comuns, considera-se como uma espécie de prostituição da palavra e da alma”. (ACI, Vaticano, 06 out 06), disse o Papa que:




“o teólogo deve seguir a disciplina dura da obediência à verdade, que nos faz colaboradores” e “bocas da verdade”.





O teólogo é um pesquisador que procura aprofundar o sentido das verdades da fé reveladas por Deus através dos Patriarcas, dos Profetas e da pregação de Jesus Cristo. Estas verdades estão na Tradição (= transmissão) oral e nas Sagradas Escrituras. Por isso o teólogo estuda a Bíblia Sagrada e suas ciências auxiliares (a lingüística, a arqueologia, a história…) assim como os documentos emanados da Igreja através dos séculos e a Filosofia, a fim de ilustrar e transmitir ao Povo de Deus o conteúdo dos artigos  da fé. No prólogo à Summa Teológica, S. Tomás de Aquino afirma que a Teologia consiste no estudo de Deus considerado em si mesmo, do homem na medida em que se ordena a Deus, e do caminho pelo qual o homem pode alcançar a Deus, que é Cristo. Sabemos que os teólogos católicos têm a liberdade de estudar a doutrina católica, mas sem nunca se voltar contra um ensinamento claro e permanente do Magistério da Igreja.Em 24 de maio de 1990 a Congregação para a Doutrina da Fé, quando o seu Prefeito era o Papa Bento XVI, publicou uma Instrução “Sobre a Vocação Eclesial do Teólogo”, onde chama a atenção dos teólogos para vários pontos importantes, como:





“O teólogo, de modo particular, tem a função de adquirir, em comunhão com o Magistério, uma compreensão sempre mais profunda da Palavra de Deus contida na Escritura inspirada e transmitida pela Tradição viva da Igreja” (N.º 6).





“O objeto da teologia é dado pela Revelação, transmitida e interpretada na Igreja sob a autoridade do Magistério, e acolhida pela fé. Descurar estes dados, que têm valor de princípio, seria equivalente a deixar de fazer teologia”. (n.12)










Portanto, não é lícito a um teólogo opor-se tenazmente ao Magistério da Igreja, pois isto significaria esquecer as premissas da sua profissão. O teólogo é um homem de fé, e a fé professa a assistência do Senhor ao Magistério da Igreja (cf. Jo 14, 15.25; 16,12-13), assistência de que ele, teólogo, pessoalmente não goza.Se um teólogo tem dificuldades para aceitar algum ensinamento da Igreja, deve expor as suas razões à autoridade competente.Nestes casos, o teólogo evitará recorrer aos mass-media, ao invés de dirigir-se à autoridade responsável, porque:






“não é exercendo, dessa maneira, pressão sobre a opinião pública, que se pode contribuir para o esclarecimento dos problemas doutrinais e servir à Verdade”(n.º 30).












A Instrução alerta que a Igreja não é uma simples democracia onde tudo se resolve pelo voto e pelo gosto da maioria:






“Não se podem aplicar à Igreja, pura e simplesmente, critérios de conduta que têm a sua razão de ser na sociedade civil ou nas regras de funcionamento de uma democracia. Menos ainda se podem inspirar as relações no interior da Igreja à  mentalidade do mundo circunstante (cf. Rm 12,2). Indagar da opinião da maioria o que convém pensar e fazer, recorrer, à revelia do Magistério, à pressão exercida pela opinião pública, aduzir como pretexto um consenso dos teólogos, sustentar que o teólogo é o porta-voz profético de uma base ou comunidade autônoma que seria assim a única fonte da verdade, tudo isto revela uma grave perda do sentido da verdade e do sentido da Igreja” (n.º 39).




“O pluralismo não é legitimo a não ser na medida em que é salvaguardada a unidade da fé no seu significado objetivo” (n.º 34).




“Não se pode recorrer aos direitos humanos para fazer oposição às intervenções do Magistério. Um tal comportamento desconhece a natureza e a missão da Igreja” (n.º 36).




“Falarneste caso de violação dos direitos humanos não têm sentido, porque se estaria desconhecendo a exata hierarquia desses direitos, como também a natureza da comunidade eclesial e do seu bem comum. Além disso, o teólogo que não está em sintonia com o “sentire cum Ecclesia” se põe em contradição com o compromisso, livre e conscientemente assumido por ele, de ensinar em nome da Igreja” (n.º 37).




“A argumentação que alude ao dever de seguir a própria  consciência, não pode legitimar a dissensão. Antes de tudo, porque este dever se exerce quando a consciência ilumina o juízo prático em vista de uma decisão a ser tomada, enquanto aqui se trata da verdade de um enunciado doutrinal. Além disso, se o teólogo deve, como qualquer fiel, seguir a sua consciência, ele é também obrigado a formá-la. A consciência não é uma faculdade independente e infalível… A reta consciência do teólogo católico supõe, portanto, a fé na Palavra de Deus, cujas riquezas ele deve  penetrar, mas também o amor à Igreja, da qual ele recebe sua missão, e o respeito pelo Magistério divinamente assistido” (n.º 38).





“Às vezes, o Magistério pode ser levado a tomar graves providências, como, por exemplo, quando retira a um teólogo que se afasta da doutrina da fé, a missão canônica ou o mandato do ensinamento que lhe havia confiado, ou ainda quando declara que alguns escritos não estão de acordo com esta doutrina. Agindo dessa forma, o Magistério entende ser fiel à sua missão, porque defende o direito do Povo de Deus a receber a mensagem da Igreja na sua pureza e na sua integridade, e assim, a não ser perturbado por uma perigosa opinião particular”  (n.º 37).




“Às vezes a dissensão recorre também a uma argumentação sociológica, segundo a qual a opinião de um grande número de cristãos seria uma expressão direta e adequada do senso sobrenatural da fé… O fiel pode ter opiniões errôneas, porque nem todos os seus pensamentos procedem da fé. Nem todas as idéias que circulam entre o Povo de Deus são coerentes com a fé, tanto mais que podem facilmente sofrer a influência de uma opinião pública veiculada pelos modernos meios de comunicação” (n.º 35).






CONCLUSÃO:















Enfim, a missão do teólogo não é contestar as verdades de fé confirmadas pela Igreja e seu Magistério, assistido permanentemente pelo Espírito Santo, mas ajudar a Igreja a entendê-las cada vez melhor!






BIBLIOGRAFIA CONSULTADA E RECOMENDADA:

 

 



-BOFF, C. “Teoria do método teológico”. Petrópolis: Vozes, 1998.

 

-COMBY, J. “História da Igreja II”: do século XV ao século XIX. São Paulo: Loyola, 1994.

 

-DEJEAN, J. “Antigos contra modernos”. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005

 

-GIBELLINI, R. “A teologia do século XX”. São Paulo: Loyola, 2002.

 

-GUIMARÃES, M. L. S. “Usos da história: refletindo sobre identidade e sentido”. História em Revista. Dossiê: historiografia. Pelotas, 2000.

 

-LACOSTE, Y. (Dir.). “Dicionário crítico de teologia”. São Paulo: Paulinas / Loyola, 2004.

 

-SESBOUÉ, B. (Dir.). “História dos dogmas. Os sinais da salvação”: séculos XII-XX. v. 3. São Paulo: Loyola, 2005.

 

SESBOUÉ, B., THEOBALD, C. “História dos dogmas. Palavra da salvação”: séculos XVIII- XX. v. 4. São Paulo: Loyola, 2006.







*Francisco José Barros Araújo – Bacharel em Teologia pela Faculdade Católica do RN, conforme diploma Nº 31.636 do Processo Nº  003/17






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Anônimo
7 de setembro de 2023 às 10:06

Isso mesmo: "a missão do teólogo não é contestar as verdades de fé confirmadas pela Igreja e seu Magistério, assistido permanentemente pelo Espírito Santo, mas ajudar a Igreja a entendê-las cada vez melhor."

Vanderlúcio - Fortaleza -CE

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Neste Apostolado APOLOGÉTICO (de defesa da fé, conforme 1 Ped.3,15) promovemos a “EVANGELIZAÇÃO ANÔNIMA", pois neste serviço somos apenas o Jumentinho que leva Jesus e sua verdade aos Povos. Portanto toda honra e Glória é para Ele.Cristo disse-nos:Eu sou o caminho, a verdade e a vida e “ NINGUEM” vem ao Pai senão por mim" (João14, 6).Defendemos as verdade da fé contra os erros que, de fato, são sempre contra Deus.Cristo não tinha opiniões, tinha a verdade, a qual confiou a sua Igreja, ( Coluna e sustentáculo da verdade – Conf. I Tim 3,15) que deve zelar por ela até que Ele volte(1Tim 6,14).Deus é amor, e quem ama corrige, e a verdade é um exercício da caridade. Este Deus adocicado, meloso, ingênuo, e sentimentalóide, é invenção dos homens tementes da verdade, não é o Deus revelado por seu filho: Jesus Cristo.Por fim: “Não se opor ao erro é aprová-lo, não defender a verdade é nega-la” - ( Sto. Tomás de Aquino).Este apostolado tem interesse especial em Teologia, Política e Economia. A Economia e a Política são filhas da Filosofia que por sua vez é filha da Teologia que é a mãe de todas as ciências. “Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao vosso nome dai glória...” (Salmo 115,1)

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