É muito comum ver e ouvir esse argumento dos ateus e céticos: "Não podemos conceber de forma alguma que DEUS coloque no decálogo
um mandamento dizendo: "Não matarás" e em seguida mande que Moisés
mate todos os povos conquistados...”
Ora, se isto fosse uma
contradição, seria um crime qualquer país manter um exército para defender-se! É preciso sempre
entender o texto e contexto em que o mesmo foi escrito, para não cometer anacronismos, além de que, nesse contexto do antigo testamento, os valores morais ainda não estavam tão evoluídos, não existiam as "convenções de guerra", que só foram criadas durante a primeira e segunda guerra mundial. Não se tinha também, naquele tempo, a cruz vermelha e ajuda humanitária internacional. Os conquistadores ficavam numa situação difícil quando venciam, e tinham que fazer a difícil "ESCOLHA DE SOFIA": manter vivos seus povos e tribos vencedoras, ou perecer por fome e falta de provisões junto com os vencidos? Em alguns casos quando era possível, se escravizavam parte dos povos derrotados, em outras situações, dependendo da cultura que poderia colocar em risco seus povo, se optava por exterminar a todos. Ora, na hora de defender
o país ou a população, o que o soldado vai fazer, atirar flores? Em Gn 9 Deus
dá ao homem a autoridade de matar como forma de exercer juízo. Essa autoridade
é confirmada no NT em Rm 13 e essa é a dificuldade de muitas pessoas não
entenderem que a pena de morte, por exemplo, ou a morte dos adversários na guerra, foram coisas
autorizadas por Deus em Gênesis 9 e nunca revogadas. Obviamente, hoje o cristão, por ser um cidadão do céu, talvez não se
sinta bem em estar na posição de um algoz, embora existam muitos cristãos que
ocupem postos de soldados e policiais, onde eventualmente terão de matar como
forma de proteger a si mesmo ou outras pessoas. Eu também tinha
dificuldade para entender esse modo de proceder de Deus no Antigo Testamento,
até entender a "noção de autoridade", algo a que todos estamos sujeitos. Não cabe
ao subordinado julgar se a autoridade está certa ou errada, cabe a ele se
submeter aos poderes superiores (pais, professores, policiais, prefeitos,
governadores, presidentes, juízes, etc). Quando Deus mandava os
judeus invadirem uma terra, Ele estava exercendo Seu juízo sobre povos cruéis.
Você pode entender isso quando Ele adia seu juízo sobre os Amorreus porque
ainda não tinham enchido a medida de iniquidade:
"Na quarta geração, porém, voltarão para cá; porque a medida da
iniqüidade dos amorreus não está ainda cheia". Gênesis 15,16
Mas Deus não usou apenas judeus como Seu instrumento de
juízo. Ele usou gentios, como Ciro:
"Assim diz o Senhor ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão
direita, para abater nações diante de sua face, e descingir os lombos dos reis;
para abrir diante dele as portas, e as portas não se fecharão" Isaías 45,1
É difícil admirar o
trabalho de um soldado na guerra, de um policial na luta contra o crime, ou de
um carcereiro em trancafiar pessoas, mas eles são instrumentos da justiça
humana (e, por tabela da divina de forma imperfeita). É ingenuidade você pensar em um
mundo sem autoridades superiores, e é ingenuidade maior ainda pensar em um Deus
sem autoridade para julgar e condenar segundo os Seus (e não os nossos)
critérios de justiça. Afinal, de onde você acha que aprendeu as noções de justiça que hoje
traz em sua mente? Da cultura judaico-cristã, da qual quer queiramos ou
não, não podemos fugir. Todavia, se por um lado você se arvora no direito (e
capacidade) de julgar o que é certo e errado nos atos divinos, isso o torna
juiz imperfeito de um Deus perfeito. No oriente antigo, ao
povo vencedor de uma guerra reconhecia-se a faculdade de dispor das posses e da
vida dos vencidos, mesmo de mulheres e crianças; felizes se poderiam considerar
aqueles que, derrotados na batalha, fossem apenas despojados de suas posses e
reduzidos à escravidão. O kyrie Eleison da liturgia Católica (Senhor Piedade), surge deste
contexto, pois os vencidos eram passados em carreata diante dos vencedores, e
imperadores, os quais clamavam pelas
suas vidas e de suas famílias dizendo encurvados: "Senhor piedade!" Além disso, aqueles
povos (e também, os de outras partes da terra) julgavam que na guerra a honra de
seus deuses estava em jogo. Uma derrota militar seria escárnio para as
divindades da nação vencida, assim como a vitória e triunfo dos deuses dos vencedores. Por conseguinte,
aos deuses do vencedor deviam ser religiosamente imolados, por um ato de
extermínio total, os homens, as famílias, as cidades, os haveres. Ora, tal praxe, familiar aos antigos, foi também respeitada pela Lei de
Moisés; porém esta mentalidade rude seria paulatinamente corrigida. Deve-se
dizer que, para os hebreus essa prática (chamada herém) se tornava
particularmente necessária e imperiosa: este povo possuía a verdadeira fé, para
um dia transmiti-la ao mundo, e por conseguinte, era de sumo
interesse que Israel não corrompesse sua religião com outras culturas e costumes. Todavia, a fim de manter
incontaminada sua crença, não havia outra alternativa aos hebreus que a
separação absoluta dos demais povos; a experiência mais de uma vez, comprovou
que, ao habitar pacificamente com tribos subjugadas em guerra, os judeus se
deixaram seduzir pelas suas pompas religiosas. Em consequência, era
absolutamente necessário que a legislação de Israel apelasse para o hérem e o
sancionasse (repita-se: a fidelidade dos filhos de Abraão ao verdadeiro Deus
era, na história, um valor insubstituível, que não podia ficar exposto a risco
nenhum).
Apoiando-se nestas idéias, eis como o legislador sagrado
incutia o hérem a Israel (Deuteronômio 20, 16-18):
"Quanto àquelas cidades porém, que
te hão-de ser dadas, nenhum absolutamente deixarás com vida. Mas
passá-los-as todos ao fio de espada;
convém a saber, aos heteus e aos amorreus, e aos cananeus, aos fereseus, e aos
heveus, e aos jesubeus, assim como o Senhor teu Deus te mandou: para que não
suceda que vos ensinem a cometer todas as abominações, que eles mesmos fizeram
a seus deuses, e venhais a pecar contra o Senhor vosso Deus. "
O fato de que os
hebreus possuíam a verdadeira religião num mundo idólatra, fazia que a sorte
desse povo viesse a ser nada menos que a do Reino de Deus em meio ao reino do
erro e do pecado. Noutros termos
(Estamos explicando, não justificando): Já que o Senhor decretaria realizar o seu plano salvífico através das
vicissitudes de Israel, os hebreus não podiam evitar a conclusão de que os seus
sucessos militares seriam vitórias do Reino de Deus. Dentro da mentalidade do
Antigo Testamento, portanto, podia-se com toda razão dizer que o reino das
trevas triunfava sobre o Reino da Luz cada vez que Israel sucumbia na guerra;
nessas ocasiões parecia estar em perigo a causa messiânica, a salvação do
gênero humano. Eis por que os judeus diziam que os inimigos de Israel eram
inimigos de Javé e vice-versa; que as suas guerras eram “as guerras de Javé”
(Êxodo XVII, 16) ou que “Javé combatia em favor de Israel” (Josué X, 14 e 42). Eis igualmente por
que se afirmava, segundo um modo típico, que Deus mesmo inculcava o hérem
(Josué X, 40) e, caso não fosse devidamente executado (o que geralmente se dava
por desejo ganancioso que os israelitas tinham de se aproveitar dos bens
alheios), puniria os próprios judeus. É de notar, como já
foi dito, que o extermínio dos homens e mulheres em guerra não implicava na
condenação póstuma deles; podiam estar inocentes em sua consciência e merecerem
o agrado divino. Mais uma observação
se impõe: embora a legislação de Israel reconhecesse o hérem, ela o abrandava
assaz, em confronto do que faziam as outras.Os monumentos e os textos assírios
dão testemunho da maneira realmente bárbara como os soldados pagãos tratavam
seus prisioneiros de guerra: crivavam-lhes os olhos, tomavam-nos como
supedâneos para os pés dos monarcas, etc.Na Sagrada Escritura mesma, o profeta Amós repreende os amonitas porque,
entre outros crimes cometidos, abriram os ventres das mulheres israelitas
grávidas (Amós I, 13). O simples fato de que
o extermínio dos inimigos figurava no catálogo das leis religiosas, devia
concorrer para coibir a eventual tendência dos chefes hebreus ao seu abuso.
Assim, tolerando o hérem, mas um hérem mitigado, o Senhor dava a entender que
imperfeito era tal procedimento. Eis alguns testemunhos:
a) O Deuteronômio
(Deuteronômio XX, 10-18) muito insiste na humanização do código militar de
Israel; recomenda, por exemplo, que na campanha de conquista da terra
prometida, ao defrontar uma cidade inimiga, não-cananéia, o povo eleito procure
reduzir os seus habitantes a tributo e serviço temperados pela benevolência,
evitando o derramamento de sangue; caso, porém, o adversário obrigue a uma
campanha militar e seja derrotado, Israel vitorioso é exortado a poupar
mulheres e crianças. O modo de tratar as
cidades cananéias seria outro, pois, estando localizadas na terra que os
hebreus deviam habitar, a coexistência oferecia grave perigo de contaminação.
Não era, portanto, permitido aos judeus abster-se do hérem ao vencer os
cananeus, como inculda Deuteronômio VII, 2-5; XX, 15s. Isto vem confirmar a
observação de que em Israel o preceito em análise era ditado principalmente
pelo ideal religioso; era em vista da fidelidade de homens rudes ao verdadeiro
Deus que ele fora sancionado.
b) A mulher
não-cananéia feita prisioneira de guerra, podia ser tomada como esposa de um
judeu, que a trataria com todo carinho; abusar de tal prisioneira era
estritamente vedado (Deuteronômio XXI, 10-14).
c) Dois episódios da
História Sagrada, um do período dos Juízes (Juízes XXI, 13) e o outro do
reinado de Davi (II Samuel XX, 14-22), dão a ver que as exortações à brandura
não ficaram sendo letra morta: em ambos os casos, os chefes israelitas entram
em acordo com inimigos não-cananeus.
d) Houve também varões do povo de Deus que
espontaneamente se mostraram humanitários para com os adversários. Por exemplo: Conforme II Samuel
VIII, 2, Davi, animado de louvável compaixão, não hesitou em romper o costume
de matar todos os prisioneiros; resolveu exterminar “apenas” a metade dos
cativos moabitas, metade designada pela sorte...Para os padrões da época isso é
o que se explica em I Reis XX, 31, os Sírios
reconheçam a clemência rara de que dão provas os reis de Israel; com efeito,
diziam os soldados a seu monarca Ben-Hadad, vencido por Acab:"Ouve: nós temos ouvido dizer que os reis de Israel são clementes.
Ponhamos sacos sobre nossos rins e cordas ao nosso pescoço, e vamos ter com o
rei de Israel; talvez ele te poupe a vida." Acontecia também que os israelitas, ao aplicarem a lei do
hérem, por vezes deixavam-se levar não pelo zelo de Deus, mas por paixão
humana. É o que se verifica, entre outros casos, na história de Jeú: Este general foi, por
mandado divino, ungido rei de Israel e recebeu a incumbência de exterminar a
Casa de Acab, mas, embora intencionasse zelar pelo interesses de Javé, cedeu a
crueldade horrorosa (II Reis X, 1-17)... Ora, o feito de Jeú foi, um século
mais tarde, explicitamente repreendido pelo Senhor mesmo, mediante o profeta
Oséias (Oséias I, 4s). Este episódio permite concluir que nem tudo que a Sagrada Escritura
refere ter sido mandado por Deus foi executado de maneira correspondente à
vontade divina.
Também Davi parece ter-se deixado arrastar a excessos no
episódio relatado em I Samuel XXVII, 8-11:
Certa vez, perseguido
por Saul, o futuro monarca se refugiou nas terras do rei filisteu Aquis, que o
recebeu benevolamente; de sua nova mansão, porém, Davi fazia incursões contra
populações vizinhas: os amalecitas, que Samuel condenara ao anátema (I Samuel
XV, 3); os gessuruianos e os gezrianos, que eram provavelmente tribos
amalecitas. O grande guerreiro tudo devastava, matando homens e mulheres,
roubando gado e vestes. A seguir, voltava à presença do rei Aquis e, temendo o
controle ou represálias da parte deste, dizia-lhe ter feito expedições nas
regiões do Negeb, regiões que pertenciam à tribo de Judá e seus aliados. Tais
depredações procediam realmente zelo religioso? E a mentira subseqüente que as
encobria, poderia ser justificada?De resto, a Bíblia fornece indícios de que os constantes
derramamentos de sangue cometidos por Davi nem sempre corresponderam ao Plano
Divino; antes, desagradaram ao Senhor: Isto é fato:quando o rei de Israel desejou edificar o Templo de Javé em
Jerusalém, recebeu formal recusa de Deus, pois, como reconheceu o próprio
monarca, não convinha que o Templo, santuário da paz, fosse erguido por mãos
que haviam feito correr tanto sangue (I Crônicas XXII, 8-10; XXVIII, 3). Era igualmente a
necessidade de manter pura a religião de Israel que fazia que o hérem fosse
praticado entre os próprios hebreus, caso um ou mais indivíduos caíssem na
idolatria ou em outro pecado grave. Tal sanção é prescrita por Moisés em
Deuteronômio XIII, 13-19; foi a aplicação da mesma que motivou a guerra
fraticida contra a tribo de Benjamim (Juízes XX, 1-48; XXI, 1-14).À medida, porém, que ia se elevando o nível cultural e moral dos
hebreus, abrandava-se a praxe do hérem entre conacionais; assim na época de
Esdras (século V/VI), implicava não já a morte do réu, mas a confiscação dos
seus bens e sua exclusão das assembléias do povo (Esdras X, 8).
O hérem infelizmente existe até hoje:
No passado nosso país foi abalado pela notícia de um ataque
contra 80 compatriotas (alguns foram mortos e muitos ficaram feridos) no
interior do Suriname, como vingança coletiva pelo fato de um nativo daquele
país ter sido assassinado por um imigrante brasileiro. Ainda outro elemento que deve ser levado em conta para se
entenderem devidamente as façanhas bélicas do Antigo Testamento é a mentalidade
do clã: Entre os antigos, de
modo geral, o indivíduo costumava ser prezado não somente como tal, mas também
(e, não raro, preponderantemente) como membro de uma coletividade; dava-se
muita importância à solidariedade natural que une todo homem à família, tribo
ou nação. Isso se explica, em grande parte, pelo gênero de vida nômade que
levavam os primitivos. De fato, os nômades
vivem da grei, dos rebanhos que os acompanham, e isto (dizem os psicólogos) não
pode deixar de imprimir um caráter coletivista à vida do clã, fazendo com que o
indivíduo como tal desapareça na engrenagem do todo. Ademais, nesse modo de
vida é mais difícil que na vida sedentária descobrir o autor de um crime (fora
os casos de delito flagrante); por conseguinte, julgava-se muitas vezes na
antigüidade que os fatores da história não são “este” e “aquele indivíduo”, mas
“este” e “aquele clã”. Este modo de ver
implicava que, ao se cometer um crime contra determinado sujeito, todo o grupo
respectivo se julgava atingido. Por conseguinte, era a tribo inteira que se
levantava para reagir, e reagir não contra o agressor isolado, mas contra a
coletividade de que fazia parte o ofensor. É o que explica(mas não justifica), os freqüentes choques de grupo
contra grupo, choques em que nem as mulheres, nem as crianças eram poupadas; é
também este o motivo por que muitas vezes filhos, netos e ulteriores
descendentes da geração criminosa eram por um legislador condenados à maldição.
A História Sagrada apresenta disto um exemplo
significativo em I Samuel XV, 1-3:
Samuel manda a Saul
que extermine os amalecitas – homens, mulheres e crianças – e todo o seu gado,
pois em três ocasiões durante a travessia do deserto, havia mais de dois
séculos, se tinham oposto à passagem do povo de Deus (Êxodo XVII, 8-13; Números
XIV, 45; Juízes III, 13; VI, 3); Moisés, em conseqüência, os tinha condenado a
completo extermínio (Deuteronômio XXV, 17-19; Números XXIV, 20). Segundo a ordem
de Samuel, pois, uma geração bem posterior pagaria pela culpa de antepassados
longínquos! Vale notar que resquícios desse tipo de mentalidade existem até hoje no
nosso país, em especial nas regiões
rurais (quem nunca ouviu falar de "guerras de famílias" no
Nordeste?).
Aos poucos, porém, Deus quis corrigir também essa postura
imperfeita:
Acontecia no século
VI que os judeus, punidos por guerras de deportações, se queixavam de que seus
pais haviam “comido uvas amargas e os dentes dos filhos sofriam em decorrência”
(um provérbio que os exilados aplicavam a si mesmos, lançando sobre os pais a
falta cujo castigo suportavam - Ezequiel XVIII, 2; Jeremias XXXI, 29); apoiados
em tal tese, dispensavam-se hipocritamente de qualquer propósito de penitência,
pois se apregoavam inocentes. Foi então que o Senhor se dignou explicitamente
negar a veracidade do pressuposto (Ezequiel XVIII, 4; cf, Jeremias XXXI, 30):"Eis que todas as almas Me pertencem: a alma do filho como a alma
dói pai é minha; a alma que pecar, essa morrerá." Ainda mais uma vez se
manifestava a paciência divina em lenta tarefa educacional.Os dizeres de
Ezequiel e Jeremias indicam bem que a mentalidade do clã está abolida. Não se
diga, pois, que alguém está pagando pelos pecados de seus antepassados.Sendo
assim, podemos afirmar que a mensagem revelada tinha de ser passada segundo o
grau de civilização em que estavam os ouvintes ou não seria entendida.
Consideremos uma criança
A sua consciência é
rudimentar, poucos deveres indica e poucas restrições impõe. O pequeno conhece,
sem dúvida, o preceito fundamental da lei moral: "Faze o bem, evita o
mal." Todavia, em que consiste exatamente o bem a praticar e o mal a
evitar ele não sabe dizer com clareza; poucas são as conclusões práticas que
ele deduz daqueles mandamento básico; assim o bem, para ele, vem a ser
primeiramente o que os mais velhos lhe indicam como tal; o mal será desobedecer
a estes. Só aos poucos é que o adolescente vai percebendo as conseqüências do
princípio "Faze o bem, evita o mal."Pois bem, Deus quis que se desse com o gênero humano inteiro algo
semelhante ao que se verifica com toda criança: nos primórdios da história, os
homens tinham uma consciência moral pouco desenvolvida, a qual através dos
séculos foi se tornando mais apurada, minuciosa.Também os membros do Povo de
Deus, que o Criador se dignou tornar portadores da verdadeira fé, possuíam,
apesar da sua sublime vocação, uma consciência moral ainda embrionária.
Percebiam bem que é preciso "fazer o bem e evitar o mal", obedecer a
tudo que vissem ser a Vontade de Deus; mas a maioria das aplicações concretas
deste princípio escapavam à sua percepção. Não há dúvida, o Senhor poderia ter
revelado tudo que a Lei Natural nos incute; preferiu, porém, um lento
desabrochar que, de resto, mais condizia com a maneira como Ele criou e rege o
mundo. Ao chamar Abraão,
Deus não quis cortar bruscamente todas as suas tradições de família (isso seria
antipedagógico); eliminou em termos severos o que era estritamente politeísta;
quanto às outras observâncias, preferiu ir contemporanizando, tomando o
israelita como era; permitiu, pois, que o povo vivesse, em parte, à semelhança
dos demais povos orientais; às práticas antigas não politeístas, o Mestre
Divino apenas quis insuflar novo espírito, comunicando nobres idéias e
aspirações.
Assim fazia com que o povo se fosse elevando
espiritualmente, até um dia poder ouvir a mensagem do Evangelho (João XV, 12):
"Este é o meu preceito: que vos ameis uns aos outros, como Eu vos
amei."
É muito importante
frisar, ainda, que uma consciência moral ora mais, ora menos embrionária, como
tinham os homens do Antigo Testamento, não é incompatível com a santidade, e
elevada santidade, pois esta consiste em cumprir generosamente a vontade de
Deus manifestada através da consciência reta e sincera. Notemos o caso de
Abraão, que não hesitou em deixar sua terra e sua parentela para ir à região à
qual Deus o chamava (Gênesis 12, 1-4). Também não vacilou quando o Senhor lhe
pediu que oferecesse seu filhos em sacrifício (Gêneses 22, 1-18).
Conclusão:
Elias conhecia a Lei de Deus e, por isso mesmo, ele condenou à morte 800 sacerdotes e cantores de Baal e os executou. Com efeito, no Antigo Testamento, você encontra que Deus probiu matar: "Tu não matarás". Mas, logo depois, Moisés mandou massacrar 23.000 adoradores do bezerro de ouro, e Deus o aprovou por isso, não porque era um Deus mau e injusto, pelo contrário. Vemos também que logo depois de ter dado a Moisés os Dez mandamentos, Deus dá a lista dos crimes que deveriam ser punidos com a morte. (Cfr. Ex. 21, 12-17). Como se explica isso? Mas é muito fácil! Veja a explicação de São Tomás de Aquino: O sujeito do quinto mandamento: "Não matarás", é "Tu". E "tu" é uma pessoa particular. Ensina São Tomás que a parte é inferior ao todo. O Todo é superior à qualquer de suas partes (por exemplo, meu computador é mais valioso e superior à tecla que estou digitando agora).
Se a parte prejudica o todo, ela precisa ser eliminada para que não destrua o todo. (Exemplo: Minha mão é parte de meu corpo e vale menos que ele. Se tenho câncer na mão, o médico amputa essa mão, para salvar meu corpo todo). Ora, o homem é parte da sociedade. A sociedade, então, é mais que qualquer dos homens que a compõem. Se um homem, ou um grupo menor, agride a sociedade com seu crime, pode ser preciso eliminá-lo para salvar a sociedade. A Sagrada Escritura diz que, por falta de punição, multiplicam-se os crimes.
Jesus Cristo, Deus de Amor, era Ele favorável à pena de morte? Mas é claro que sim! E só poderia ser! Como contrariaria Ele a Lei de Deus e o bom senso? Por isso Cristo disse no Apocalipse: "Aquele que matar a espada, importa que seja morto a espada" (Apoc. XIII, 10).Cristo defendeu a pena de morte também diante de Pilatos. Quando o governador romano disse a Jesus que tinha poder de condená-lo à morte, Cristo lhe respondeu: "Não terias esse poder, se não te fosse dado do alto" (Cfr. Jo. 19, 11) Também quando Pedro cortou a orelha do servo do templo, quando da prisão de Cristo, este disse ao chefe dos Apóstolos. "Pedro, mete a espada na bainha, porque quem com o ferro fere com o ferro será ferido" (Mt 26, 52). Se fosse proibido usar a espada, Cristo teria mandado jogá-la fora. Ele mandou guardá-la na bainha, porque ela seria necessária para punir quem ferisse outros com o ferro. E porque Cristo, naquela hora, proibiu que Pedro usasse a espada? Porque, naquela hora, Pedro ainda não era o representante de Cristo, pois ninguém representa quem está presente. Pedro seria a autoridade governante da Igreja, Vigário de Cristo, depois que Cristo subisse aos céus. Então Pedro, como toda autoridade soberana, pode condenar à morte, porque o poder do governante vem de Deus e não do povo. (Prov. 8, 15; Sab. 6, 4). Há muitas outras passagens da Sagrada Escritura que confirmam a legitimidade da pena de morte. Consulte as seguintes: Gen. 9, 6; Luc. 22, 36; Mt 10, 34"Mt 11, 12; Rom. 13, 4; Atos 24, 1; Jer. 48, 10. Concluímos dizendo que o NÃO MATARÁS NAS ESCRITURAS NÃO É ABSOLUTO, MAS RELATIVO, ou seja, não matarás apenas o justo e o inocente (confr. Exo 23,7). A História Sagrada é,
sim, apesar de todos os escândalos e vicissitudes que os homens nela
disseminaram, um "movimento ascendente contínuo", que tem por fundamento e fim Jesus Cristo, o Alfa e o Ômega. Infelizmente, a má vontade para se entender essas coisas é muito grande;
para tudo se tem condescendência, menos para se entender a Palavra de Deus.
Façamos a nossa parte, "expliquemos a verdade para quem tem um coração aberto",
os outros que assumam a responsabilidade de sua falta de zelo no estudo da
Revelação no dia de prestarem conta a Deus.
Por: Francisco José
Barros Araújo – Bacharel em Teologia pela Faculdade Católica do RN, conforme
diploma Nº 31.636 do Processo Nº 003/17
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Muito Bom, claro e esclarecedor
E qual foi a conclusão, eles falaram tanto mas n falaram nada, porque Deus mandava matar? Se ele proprio manda nós n matar
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