João 11,4: “Ao ouvir isso, Jesus disse: Essa doença não acabará em
morte; é para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por
meio dela!".
Por J. B. Libanio
O sofrimento, o mal é mais que um problema. É um "mistério" (G.
Marcel) irracional, escandaloso, inexplicável, injustificável. Às vezes, assume
formas de "círculos infernais" de pobreza, violência, alienação
racista e cultural, destruição da natureza pela poluição de vários tipos e, por
fim, do círculo do absurdo, na medida em que, aparentemente, estamos fazendo do
mundo um inferno (J. Moltamnn). O médico Rieux do romance de A. CAmus, La
Peste, diante da morte de criança inocente, rejeita a resposta do jesuíta
Paneloux que lhe sugeria "amar o que não podemos compreender".
"Não, Padre", disse ele, "o que penso do amor é bem diferente. E
me recusarei até a morte a amar essa criação em que as crianças são
torturadas". Inelutavelmente o ser humano é defrontado com o binômio radical de sua
experiência. São dois mundos de vivências que lhe atravessam a existência, ora
como duas realidades bem diferentes no momento e lugar, ora dilacerando-o
interiormente em misto difícil de ser separado e até mesmo distinguido. Os nomes do binômio são múltiplos, mas a realidade a que se referem tem
identidade profunda. De um lado, estão a vida, o prazer, a felicidade, o bem, o
gozo, a satisfação, o gosto, a realização, a plenitude, a fruição, o desfrute,
o proveito, o usufruto - o Aurélio poderia ampliar a sinonímia. De outro lado,
situam-se a morte, a dor, o sofrimento, o mal, a insatisfação, a frustração, o
desgosto, o fracasso, a perda, a falta, a carência, etc.Esta experiência persegue o ser humano desde seu berço até o túmulo, desde o
início da humanidade até hoje. As formas de vivenciá-la assumem conotações
culturais próprias. O nível de dramaticidade ou serenidade, de revolta ou
suportabilidade, de sofreguidão ou continência, quer diante do pólo da vida,
quer o da morte, não depende unicamente das atitudes individuais, mas paga
tributo aos contextos históricos e culturais. E no coração da cultura, alguns
saberes se interessaram de modo especial pelo sofrimento.A química, a medicina esmiuçam a constituição orgânica, suporte do prazer e da
dor, da euforia e da depressão, da pulsão de vida e de morte. A psicologia
debruça-se sobre as estruturas anímicas para descobrir o segredo de transformar
o pólo da morte em vida, e, quando inevitável, de saber suportá-lo sem angústia.
A filosofia persegue a racionalidade humana até o extremo para ver se consegue
decifrar o enigma desse binômio. Finalmente, as religiões vão mais longe e
buscam sentido coerente para essa dupla experiência humana.O título do artigo indica a natureza dessa reflexão. Entre as diversas
respostas religiosas, o Cristianismo elaborou a sua, como luz última que faz
aparecer sentido profundo para essa bipolaridade humana.
Dimensão
antropológica do sofrimento
A experiência imediata e ineludível de todo ser humano é o desejo profundo da
felicidade, como satisfação de suas aspirações. Não é bem útil que se busca
como meio para obter outra coisa, mas tem caráter de realidade derradeira,
final, última. A felicidade é buscada por ela mesma e nos envolve quando o bem
desejado é alcançado.O sofrimento, por sua vez, consiste em sensação de perda, de carência, de
morte, seja física como espiritual. O bem almejado escapa-se de nossas mãos.
Mais. Percebemos que o perdemos. No mais profundo de nosso ser, refugamos o
sofrimento. Assim, quando alguém se diz desejoso de sofrer ou fazer os outros
sofrerem, a psicologia suspeita imediatamente de alguma patologia masoquista ou
sádica.
Interrogações
e soluções a respeito do sofrimento
A felicidade pode e deve ser amada. O sofrimento, amado e buscado, revela
faceta doentia do ser humano. Entretanto, o sofrimento é realidade tão humana
que outro poeta pôde dizer:
“Quem passou pela vida em branca nuvem
E em plácido repouso adormeceu.
Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida, não chorou por amor e não sofreu,
Foi espectro de homem, não foi homem.
Só passou pela vida, não viveu...”
(Francisco Otaviano de A. Rosa)
Esta contradição profunda de ser feito para a felicidade, de um lado, e, de
outro, condenado ao sofrimento levantou ao longo da história das religiões
questões e respostas variadas.
Três
grupos fundamentais de questões se fizeram a respeito do sofrimento:
1)- Antes de tudo, quis-se saber sua origem: de onde vem que o ser
humano tenha que sofrer? A origem já podia explicar muito.
2)- O mal, ao pertencer inexoravelmente à experiência humana, como
evitá-lo? Talvez sobre tal núcleo se tenha centrado mais a atenção dos humanos.
3)- E finalmente, não podendo ser totalmente superado, que sentido
encontrar para o inevitável sofrimento?
Questões que se entrelaçam profundamente e que buscam solução
articulada!
O hinduísmo e budismo vêm o sofrimento enraízado no desejo humano de tal modo
que, ao suprir-se ou atenuar-se tal desejo, o sofrimento também é vencido. A
felicidade final, o nirvana, se obterá no momento em que a individualidade,
fonte dos desejos e do sofrimento, se perder dentro duma consciência universal. Os gregos estóicos viam também na "apatia" a vitória sobre o
sofrimento. Sob certo sentido,
o mundo ocidental consumista e hedonista tem, contraditoriamente, buscado tal
solução. O universo da propaganda açula ao máximo os desejos. E, em muitos
casos, eles se concentram na área sexual. Segundo a leitura dos orientais e dos
estóicos, o sofrimento é aumentado por causa do desvario dos desejos. Contudo,
esta mesma sociedade vem trabalhando inúmeras técnicas psíquicas e substâncias
químicas que ajam diretamente sobre os desejos a fim de aplacá-los. Aquece de
um lado e esfria de outro.O uso da droga desnorteia precisamente porque ela cumpre esta dupla função de
levar ao máximo o prazer, a realização dos desejos, especialmente sensoriais
e/ou de produzir situações de concentração, de recolhimento, de meditação.Outros procuraram resolver o problema acreditando em dois princípios últimos,
distintos, separados, que seriam responsáveis, um pelo bem, outro pelo mal. A
origem do mal, do sofrimento remonta, neste caso, ao mundo divino, fora da
responsabilidade humana. E a luta se trava então, antes de tudo, entre esses
dois princípios fundamentais. As criaturas assistem indefesas a este conflito e
drama divino. No máximo, os seres humanos podem combater o mal, o sofrimento,
somando sua presença junto ao princípio do bem contra o princípio do mal.
Visão
bíblico-cristã do Sofrimento Humano:
A revelação bíblica não escapou a esta pergunta básica da vida humana.De onde vêm o mal, os sofrimentos? Como enfrentá-los? Que sentido
têm no projeto de Deus?Já nas primeiras páginas da Escritura, o autor sagrado descarta definitivamente
a origem divina do mal, do sofrimento. Deus só pode estar do lado do bem, do
amor, da felicidade, da vida, do gozo.O verdadeiro mal e sofrimento brotam da liberdade humana que não assume o
projeto divino, que não acolhe suas solicitações, que não corresponde a sua
vontade de bondade.As primeiras páginas da Escritura vão descrevendo terrível crescendo do mal, da
dor, da miséria humana até terminar no dilúvio. No entanto, no meio a esta
escuridão já se tinha acendido bem no início desse drama a chama esperançosa da
vitória do bem sobre o mal, encarnado na serpente enganadora: "Sua
descendência te esmagará a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar" (Gn 3,
15).O livro de Jó transformou-se no símbolo mais vivo da luta interior
do justo para entender o sofrimento. Nas suas diferentes interpretações, a tese
central refere-se ao misterioso desígnio de Deus, que nunca é injusto, mesmo
quando o sofrimento atinge os justos.O Novo Testamento traz a iluminação final para o mistério do sofrimento com o
exemplo de Jesus, o justo por excelência que sofre até o extremo de morrer numa
cruz.
O
Sofrimento na vida de Jesus:
À luz da vida de Jesus, o sofrimento adquire novo sentido. Antes de tudo, não é
absurdo. Na sua realidade física, é fruto da condição humana, sujeita à
fragilidade física e envolvida na trama das liberdades humanas. Os sofrimentos
surgem, portanto, dessa nossa condição humana sujeita à dor, ao sofrimento e à
morte, de um lado, e doutro, lançada dentro da história da liberdade dos
homens.Jesus conheceu essa dupla fonte de sofrimento. Padeceu as dores físicas da
flagelação, da coroação de espinhos, da crucifixão e da certeza da morte que se
aproximava. Sofreu-as na agudeza terrível da falta de qualquer alívio físico,
desconhecido então e negado pelos torturadores. Viveu também estes mesmos
sofrimentos e outros, já não somente como condição de sua natureza física, mas
porque entrara em dolorosa história, tecida por decisões humanas boas e/ou
perversas. Assim Jesus sofreu a livre traição de Judas, a fuga covarde dos
apóstolos, o ódio dos inimigos, a trama de sua morte. Jesus participa assim da
dimensão conflituosa da vida.Ao assumir tal condição humana de sofrimento, sendo o próprio Filho de Deus
feito homem, Jesus revelou aspectos divinos desse mistério. A escuridão do
sofrimento é provisória. Terminou no esplendor da ressurreição.
E levanta-se então
a pergunta: e nós como viveremos o sofrimento na nossa vida e história?
Duas palavras resumem nossa atitude diante do sofrimento: usar nossa capacidade
humana para superá-lo e minorá-lo ao extremo, de um lado, e, de outro,
assumi-lo, na sua inexorabilidade, no horizonte do amor, da entrega a Deus e
aos irmãos.A vitória provisória e limitada sobre o sofrimento está entregue à
capacidade e liberdade humana.Cada recurso físico-químico ou psíquico que suprime totalmente ou
minora os sofrimentos, já é parcial vitória sobre eles. Hoje a medicina,
servida pela bioquímica, consegue evitar muitos sofrimentos humanos.A psicologia, com seus métodos terapêuticos, se não debela, ao
menos, atenua sofrimentos psíquicos. Há, porém, sofrimentos físicos e psíquicos
que desafiam definitivamente essas ciências.Nunca será superado o caminhar para a morte com as doenças ou contingências
que o acompanham.Outra fonte de sofrimentos são as liberdades humanas que criam mutuamente
inúmeras situações dolorosas. Em todos os campos da vida humana, a convivência
humana, os acontecimentos históricos, criados pela liberdade humana, geram
situações de sofrimento. Estas aumentarão ou diminuirão conforme educarmos
nossa liberdade para um convívio de justiça, de acolhimento, de bondade, de
misericórdia, de bondade. Há sofrimentos que decorrem de erros próprios e/ou
alheios.Mas, diante da inexorabilidade e inevitabilidade absoluta do
sofrimento, encontramos algumas razões que trazem luzes, sem, porém,
encontrar-lhe plena racionalidade.
O sofrimento
é a autêntica escola de humanidade:
Personalidades duras se abrem e se amaciam no momento em que
experimentam o sofrimento, percebendo melhor sua solidariedade com os que
sofrem em todos os camposHá sofrimentos que revelam a coragem de assumir uma causa, de aventurar-se e
arriscar-se por ela. Temperam o caráter para a luta pela justiça, pela construção
de sociedade nova. Mas essas e outras razões nunca desvenderão o "mistério" do
sofrimento. Ele manterá sempre o sabor amargo da injustiça. Golpeará
violentamente inocentes e poupará, em muitos casos, ou, pelo menos,
aparentemente, a vilões. E o próprio grito diante da injustiça é sofrido. Quem,
há pouco, ouviu o grito inocente de 1.600 crianças diante de 2.000 soldados,
vestidos de guerra, em nome do cumprimento da "justiça" para integrar
as terras ocupadas pelos Sem-terra em Getulina (São Paulo), sofreu da mesma dor
de outra justiça. A justiça dói, sobretudo quando a desumanidade se faz vestir
da legalidade justificada.A última palavra sobre o sofrimento não se encontra nas nossas luzes. Tem-se
que recorrer à dimensão da fé. A revelação nos ensina que, o sofrimento, quando
aceito no realismo de nossa condição humana física e histórica e assumido na
liberdade amorosa pelos irmãos, não se perde na inutilidade de momentos
dolorosos, mas tece a coroa imarcescível de nossa ressurreição. Pelo sofrimento,
unimo-nos redentoramente a Jesus e participamos de seu destino final.Vivendo o momento litúrgico pascal, podemos entender melhor como o
sofrimento-cruz de Jesus, ao terminar na gloriosa ressurreição, aponta para
onde nosso olhar deve dirigir-se em busca de alguma luz. Tudo o que há de bom,
de beleza, de vida, de graça, de sofrimento acolhido e oferecido, de mistério
vivido na dimensão de amor termina na ressurreição. Eis a última palavra!
Resumo:
Em vão se busca explicação racional e lógica para o sofrimento. Faz
parte dos mistérios que envolvem a vida humana. Permanecerá sempre dolorosa
pergunta do homem a Deus.A única resposta da Revelação é afirmar, apesar do sofrimento e do
mal, a solidariedade infinita de Deus conosco a ponto de assumir na pessoa de
seu filho Jesus essa realidade e mostrar com a sua ressurreição que a vida
triunfará sobre toda dor, toda lágrima, todo sofrimento, todo mal.
Cuidadores de doentes
terminais:
A morte chega de muitas maneiras. Ora sem nenhum aviso prévio, em
terrível surpresa por acidente, por infarto fulminante ou por algum AVC fatal.
Ora ela avisa lentamente a proximidade pelos anos prolongados, por
doenças degenerativas, pelo câncer incurável e em avanço até o momento em que
se divisa a reta final.No primeiro caso, os cuidados voltam-se para os familiares golpeados
abruptamente pela partida de ente querida. Nada a fazer com quem nos deixou, já
que não nos se abriu nenhuma brecha entre o golpe final e a morte. O consolo
aos parentes e amigos apela a diversas visões humanas e de fé em face da morte. No caso da morte anunciada, o enfermo carece de ajuda especial para
preparar-se para a passagem. Todas as experiências humanas podem ter alguma
companhia física, exceto a morte. Cada um a faz por ele mesmo e sozinho. Mesmo
duas pessoas morrendo no mesmo acidente, não morrem juntas, mas na distância
intransponível da solidão absoluta da morte. Na fé, porém, sabemos que ninguém
faz a última passagem sem companhia. Na oração dos agonizantes pedimos que os
anjos assistam o moribundo. O termo anjo se estende a toda a Igreja da glória,
começando pela presença da própria Trindade, da Virgem Maria e dos santos.Entreguemos aos céus o encaminhamento último e perguntemo-nos como
cuidar do doente terminal enquanto estiver entre nós, seja ainda no tempo de
lucidez, seja mesmo quando se lhe apaguem os últimos neurônios da consciência.No momento em que o enfermo se depara com a proximidade certa da morte,
corta-lhe o coração terrível dor. Sou eu mesmo e por quê? Não, não pode ser
verdade. Tempo da negação, do isolamento. Momento difícil para acompanhar o
enfermo. Rói-lhe o interior o sentimento de injustiça. Por que ele está nesse
estado terminal? Tal percepção vem-lhe de uma intuição que nasce do próprio
corpo e das circunstâncias. Embora não se fale da gravidade da doença e ele
mesmo conscientemente a silencie, no fundo tudo em volta respira tal situação
de fatalidade. Trava-se-lhe dentro a batalha da verdade e da aceitação da
verdade a respeito da própria situação. Ele corre atrás de algum médico que lhe
diga palavra, ainda que não verdadeira, do consolo da cura. Visita os lugares
de milagres. Pessoas que estavam longe da religião, entregam-se a devoções na
esperança de vencer a doença. E com a atual abundância de pastores e de grupos
carismáticos pregando e semeando curas, o paciente corre atrás deles.
Mas o verdadeiro cuidado não nasce de promessas que nos escapam. Porque
da desilusão de não se curar brota a revolta!
Em vez de bem espiritual, ao
acenar aos doentes impossíveis curas, quando o caso já chega ao fim, geramos,
não raro, ressentimento. Toca-nos ajudar a pessoa a aceitar a morte na
esperança da vida eterna. Aí está a grande mensagem do Cristianismo! Uma segunda explicação para o sentido cristão do sofrimento humano:“Caríssimos,
alegrai-vos por participar dos sofrimentos de Cristo, para que possais também
exultar de alegria na revelação da sua glória” (1Pd 4,13).
Uma questão que sempre se nos coloca:
“Mas por
que Deus não criou um mundo tão perfeito que nele não possa existir mal algum?
Segundo seu poder infinito, Deus sempre poderia criar algo melhor. Todavia, em
sua sabedoria e bondade infinitas, Deus quis livremente criar um mundo “em estado de caminhada” para sua perfeição
última. Juntamente com o bem físico existe, portanto, o mal físico,
enquanto a criação não houver atingido sua perfeição."O sofrimento é essencial e inseparável
da natureza humana e da existência terrena do homem. O homem sofre de diversas
maneiras.É
algo mais amplo e mais complexo do que a doença, e mais profundamente enraizado
na própria humanidade. Estamos falando do sofrimento físico e sofrimento moral,
considerando a dupla dimensão do ser humano, quais sejam, o elemento corporal e
espiritual. Ao
explicar o sentido cristão do sofrimento humano, o Beato João Paulo II, em sua
Carta Apostólica “Salvifici Dolores” – O Sentido Cristão do Sofrimento Humano,
já no início cita a frase de São Paulo, em Cl 1,24:
“Completo na minha carne o que falta aos
sofrimentos de Cristo pelo seu Corpo, que é a Igreja”.
O
Beato vai buscar sua inspiração na Sagrada Escritura, que é um grande livro
sobre o sofrimento, e conclui que o homem sofre quando experimenta um mal qualquer.O homem
sofre por causa do mal, que é a falta do bem. Ou seja, o homem sofre por causa
de um bem do qual não participa.Assim vem inevitavelmente a pergunta:
por que? Por que o mal? O
homem, ao sofrer, sabe que sofre e se pergunta o porque. É bem sabido que
quando se percorre o terreno desta pergunta, chega-se não só a múltiplas
frustrações e conflitos nas relações do homem com Deus, mas sucede até
chegar-se a negação de Deus. Mas, por outro lado, também pode tornar a pessoa
mais madura, ajudá-la a discernir em sua vida o que não é essencial, para
voltar-se aquilo que é essencial. Não raro, a doença provoca uma busca de Deus,
uma conversão e um retorno a Deus.
João Paulo II inicia sua explicação a
partir do Livro de Jó.
É
conhecida a história desse homem justo que, sem culpa nenhuma de sua parte, é
provado com inúmeros sofrimentos. Perde os seus bens, os filhos e filhas e, por
fim, ele próprio é atingido por uma grave doença. O Livro de Jó demonstra que o
sofrimento não é um castigo de Deus pelo pecado.O
sofrimento de Jó é o de um inocente, devendo ser aceito como um mistério que o
homem não está em condições de entender totalmente com a sua inteligência, no
entanto, no caso específico, o sofrimento tem caráter de prova.O
sofrimento tem um caráter salvífico. Salvação significa libertação do mal, e
por isso mesmo, está em relação íntima com o problema do sofrimento. Jesus
Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, que viveu em tudo a condição
humana, menos o pecado, tornou-se incessantemente próximo do mundo do
sofrimento humano. No centro de seu ensino, propôs as oito bem-aventuranças, dirigidas
aos homens provados por diversos sofrimentos na vida temporal. São os pobres em
espírito, os aflitos, os que têm fome e sede de justiça, os perseguidos por
causa da justiça. Cristo aproximou-se do mundo do sofrimento humano, sobretudo
pelo fato de ter ele assumido sobre si este sofrimento, em cumprimento à
profecia de Isaias, em especial o Quarto Canto do Servo sofredor (Is 53,2-6).Deste
modo, todo homem tem sua participação na Redenção, e cada um dos homens é
também chamado a participar daquele sofrimento, por meio do qual se realizou a
Redenção. Por isso, todos os homens, com o seu sofrimento, se podem tornar
também participantes do sofrimento redentor de Cristo.Paulo irá
também dizer: “É preciso passar por muitas tribulações para entrar no Reino de
Deus” (At 14,22).Portanto,
a participação nos sofrimentos de Cristo é, ao mesmo tempo, sofrimento pelo
reino de Deus. Aqueles que participam dos sofrimentos de Cristo estão também
chamados, mediante os seus próprios sofrimentos, para tomar parte da glória.Nesta
concepção, sofrer significa tornar-se particularmente receptivo,
particularmente aberto à ação das forças salvíficas de Deus, oferecidas em
Cristo à humanidade. No sofrimento está como que contido um particular apelo à
virtude que o homem deve exercitar. É a virtude da perseverança em suportar
tudo aquilo que incomoda e faz doer.Cristo
não escondia aos seus discípulos a necessidade de sofrer. Pelo contrário, dizia
claramente: “Se alguém quer vir após mim, tome sua cruz todos os dias” (Lc 9,23).
É o caminho da porta estreita, que contrapõe-se ao caminho largo e espaçoso
que, porém, leva a perdição (Mt 7,13-14). Assim como essas, há inúmeras outras
citações ao longo dos Evangelhos, nas quais Jesus adverte sobre os sofrimentos.No
sofrimento se esconde uma força particular que aproxima interiormente o homem
de Cristo. O fruto de semelhante conversão é não apenas o fato de que o homem
descobre o sentido salvífico do sofrimento, mas sobretudo que no sofrimento ele
se torna um homem novo.Assim,
no programa messiânico de Cristo, que é o programa do reino de Deus, o
sofrimento está presente no mundo para desencadear o amor, para fazer nascer
obras de amor para com o próximo, para transformar toda a civilização humana na
“civilização do amor”, conforme ensina a parábola do Bom Samaritano. Cristo
ensinou o homem a fazer o bem com o sofrimento e, ao mesmo tempo, a fazer o bem
a quem sofre.
O Papa Bento XVI, em sua Encíclica Spe
Salvi (Somos salvos na esperança) lança uma luz sobre o tema ao afirmar:
“Tal como o agir, também o sofrimento faz parte da
existência humana. Este deriva, por um lado, da nossa finitude e, por outro, do
volume de culpa que se acumulou ao longo da história e, mesmo atualmente,
cresce de modo irreprimível. Devemos – é verdade – fazer tudo para superar o
sofrimento, mas eliminá-lo completamente do mundo não entra nas nossas
possibilidades, simplesmente porque não podemos desfazer-nos da nossa finitude
e porque nenhum de nós é capaz de eliminar o poder do mal, da culpa que – como
constatamos – é fonte contínua de sofrimento. Isto só Deus o poderia fazer: só
um Deus que pessoalmente entra na história fazendo-Se homem e sofre nela. Nós
sabemos que este Deus existe e que por isso este poder que « tira os pecados do
mundo » (Jo 1,29) está presente no mundo. Com a fé na existência deste poder,
surgiu na história a esperança da cura do mundo. Mas, trata-se precisamente de
esperança, e não ainda de cumprimento; esperança que nos dá a coragem de nos
colocarmos da parte do bem, inclusive onde a realidade parece sem esperança,
cientes de que, olhando o desenrolar da história tal como nos aparece
exteriormente, o poder da culpa vai continuar uma presença terrível ainda no
futuro.Não é o evitar o sofrimento, a
fuga diante da dor, que cura o homem, mas a capacidade de aceitar a tribulação
e nela amadurecer, de encontrar o seu sentido através da união com Cristo, que
sofreu com infinito amor”.
Devemos unir nosso sofrimento com o sofrimento
de Cristo, conforme Col 1, 24:
“Agora regozijo-me nos meus sofrimentos por vós, e completo
o que falta às tribulações de Cristo em minha carne pelo seu Corpo, que é a
Igreja”, e ainda em Rm 8,17: “E se somos filhos, somos também herdeiros; herdeiros
de Deus e co-herdeiros de Cristo, pois sofremos com Ele para também com Ele
sermos glorificados”.
Finalmente
convém destacar que o sofrimento experimentado por todos os seres humanos de
todos os tempos não é a vontade de Deus para a criação.No entanto,
Deus permite o mal, respeitando a liberdade de sua criatura, e misteriosamente,
sabe auferir dele o bem: “Onde foi grande o mal, foi bem maior a graça” (Rm
5,20).
Oração por um enfermo:
“Onipotente e benigníssimo Deus, que sois a salvação eterna de todos os
que crêem em Vós, escutai as orações que Vos dirigimos por este enfermo, Vosso
servo. Afastai dele tudo quanto o aflige e fazei, em Vossa misericórdia, que
todos os remédios aplicados ao seu mal lhe sejam salutares. Em Vós, ó, único
autor e conservador da vida e árbitro supremo da nossa sorte, pomos toda a
nossa confiança; e, embora nos esforcemos por todos os meios possíveis para lhe
restabelecera saúde, todavia é de Vós só que tudo esperamos. Ouvi, Senhor,
nossas preces e as deste enfermo, para que alegres possamos com ele prestar-Vos
a homenagem do nosso reconhecimento. Tu és o Médico divino. Tu dás a Vida e a
Vida em plenitude àqueles que Te buscam. Por isso, Senhor, de um modo especial,
te pedimos a cura de todo tipo para todo mal, principalmente daquilo que o aflige
neste momento. Sabemos que não queres a ausência da saúde, porque és de Todo
Sumo Bem. Opera Senhor (em nome de Jesus sobre mim e/ou citar o nome...), uma
profunda cura física e espiritual conforme a Tua Santa Vontade.Que seja operada
diretamente pela ação poderosa de Teu Espírito Santo ou através do médico
(citar o nome do médico) e dos remédios! Senhor, aumenta a nossa Fé no Teu
Poder e no infinito Amor que tens (por mim e/ou em nome de Jesus: citar o
nome). Aumenta a nossa Fé, Senhor, que às vezes nestes momentos de angustia e
dor se fragiliza.Acreditamos no Teu poder curador, meu Deus, desde já agradeço
humildemente por toda obra que estás realizando neste corpo (citar o seu órgão em
nome de Jesus no órgão de...) neste momento.Além de mim, Senhor, quero pedir
proteção a todos que estejam na mesma situação e pediram orações para Cura.Peço
pelos familiares deste enfermo e por todos que o ajudam a carregar sua Cruz.Tu
conheces a cada um deles, sabes as provações pelas quais estão passando!
Misericórdia, e socorro para todas pessoas que suas enfermidades sejam amenizadas.Eu
Te bendigo, porque clamei a Ti e Tu me ouviste.”Está nas Tuas mãos ensanguentadas
e benditas, Senhor. Graças ao teu Santo Nome, porque só Tu Senhor, sois digno
de eterno louvor...”
Amém!
PASSAGENS BÍBLICAS DE CONFIANÇA:
1)- Se você está doente:
"Está alguém
entre vocês doente? Chame os presbíteros da igreja e orem sobre ele, ungindo-o
com azeite em nome do Senhor. E a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o
levantará e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados." (Tiago 5,14-15).
"Bendito seja o Senhor, que de dia em dia nos carrega de
benefícios, o Deus que é a nossa salvação. O nosso Deus é o Deus da salvação. A
Deus, o Senhor, pertencem os livramentos da morte." (Salmo 68, 19-20).
2)- Se você está angustiado:
"Por isso nunca ficamos desanimados. Mesmo que nosso corpo vá
se gastando, o nosso espírito se renova a cada dia. Essa pequena e passageira
aflição que vivemos vai nos trazer uma glória enorme e eterna, muito maior que
o sofrimento..." (2 Coríntios 4,16).
3)-Se
você está se sentindo sozinho:
"Olha para mim, e tem piedade de mim, porque estou solitário e
aflito. As ânsias do meu coração se têm multiplicado, tira-me dos meus apertos.
Olha para minha aflição e para minha dor, e perdoa todos os meus pecados."
(Salmo 25,16-18).
4)- Se
você está desanimado:
"Ele dá força ao cansado, e multiplica as forças aos que não
têm nenhum vigor. Os jovens se cansarão e se fatigarão, e os moços certamente
cairão.Mas os que esperam no Senhor renovarão as forças, subirão com asas como
águias, correrão, e não se cansarão." (Isaías 40,29-31).
“LOUVADO SEJA
NOSSO SENHOR JESUS CRISTO”
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