O problema da interpretação da
Bíblia não é uma invenção moderna como alguns querem fazer crer!
1)- A Bíblia mesma atesta que sua interpretação
apresenta dificuldades. Ao lado de textos límpidos, ela comporta passagens
obscuras. Lendo certos oráculos de Jeremias, Daniel se interrogava longamente
sobre o sentido deles (Dn 9,2).
2)- Segundo os Atos dos Apóstolos, um etíope do primeiro século
encontrava-se na mesma situação a propósito de uma passagem do livro de Isaías
(Is 53,7-8) e reconhecia ter necessidade de um intérprete (At 8,30-35).
3)- A segunda carta de Pedro declara que « nenhuma profecia da
Escritura resulta de uma interpretação particular » (2 Pd1,20) e ela observa, de outro
lado, que as cartas do apóstolo Paulo contêm « alguns pontos difíceis de entender,
que os ignorantes e vacilantes torcem, como fazem com as demais Escrituras,
para sua própria perdição » (2 Pd 3,16).
O
problema é portanto antigo, mas ele se acentuou com o desenrolar do tempo:
Doravante, para encontrar os fatos e palavras de que fala a
Bíblia, os leitores devem voltar a quase vinte ou trinta séculos atrás, o que
não deixa de levantar dificuldades. De outro lado, as questões de interpretação tornaram-se mais
complexas nos tempos modernos devido aos progressos feitos pelas ciências humanas.
Métodos científicos foram aperfeiçoados no estudo do textos da antiguidade.
Em que proporção esses métodos podem ser considerados apropriados
à interpretação da Sagrada Escritura?
A esta questão a prudência pastoral da Igreja durante muita tempo
respondeu de maneira muito reticente, pois muitas vezes o métodos, apesar de
seus elementos positivos, encontravam-se liga dos a opções opostas à fé cristã.
Mas uma evolução positiva se produziu, marcada por uma série de documentos
pontifícios, desde encíclica Providentissimus
Deus de Leão XIII (18
novembro 1893 até a encíclica Divino
afflante Spiritu de Pio XII
(30 setembro 1943), e ela foi confirmada pela declaração Sancta Mater Ecclesie (21 abril 1964) da Pontifícia Comissão
Bíblica e sobretudo pele Constituição Dogmática Dei Verbum do Concilio Vaticano II (18
novembro 1965).A fecundidade desta atitude construtiva
manifestou-se de uma maneira inegável. Os estudos bíblicos tiveram um progresso
notável na Igreja católica e o valor científico deles foi cada vez mais
reconhecido no mundo dos estudiosos e entre os fiéis.O diálogo ecumênico foi consideravelmente facilitado. A influência
da Bíblia sobre a teologia se aprofundou e contribuiu à renovação teológica.O interesse pela Bíblia aumentou entre os católicos
e favoreceu o progresso da vida cristã. Todos aqueles que adquiriram uma
formação séria nesse campo estimam doravante impossível retornar a um estado de
interpretação pré-crítica, pois o julgam, com razão, claramente insuficiente.
Mas, ao mesmo tempo em que o método
científico mais divulgado — o método « histórico-crítico » — é praticado
correntemente em exegese, inclusive na exegese católica, ele mesmo encontra-se
em discussão:
1)- De um lado, no próprio mundo científico, pela aparição de
outros métodos e abordagens, e, de outro lado, pelas críticas de numerosos
cristãos que o julgam deficiente do ponto de vista da fé. Particularmente
atento, como seu nome o indica, à evolução histórica dos textos ou das
tradições através do tempo — ou diacronia — o método histórico-crítico
encontra-se atualmente em concorrência, em alguns ambientes, com métodos que
insistem na compreensão sincrônica dos
textos, tratando-se da língua, da composição, da trama narrativa ou do esforço
de persuasão deles.
2)- Além disso, o cuidado que os métodos diacrônicos têm em
reconstituir o passado, para muitos é substituído pela tendência de interrogar
os textos colocando-os em perspectivas do tempo presente, seja de ordem
filosófica, psicanalítica, sociológica, política, etc.
3)- Esse pluralismo de métodos e abordagens é apreciado por alguns
como um indício de riqueza, mas a outros ele dá a impressão de uma grande
confusão.
4)- Real ou aparente, essa confusão traz novos argumentos aos
adversários da exegese científica. O conflito das interpretações manifesta,
segundo eles, que não se ganha nada submetendo os textos bíblicos às exigências
dos métodos científicos, mas, ao contrário, perde-se bastante.
5)- Eles sublinham que a exegese científica obtém como resultado o
provocar perplexidade e dúvida sobre inumeráveis pontos que, até então, eram
admitidos pacificamente; que ele força alguns exegetas a tomar posições
contrárias à fé da Igreja sobre questões de grande importância, como a
concepção virginal de Jesus e seus milagres, e até mesmo sua ressurreição e sua
divindade.
6)- Mesmo quando não
finaliza em tais negações, a exegese científica se caracteriza, segundo eles,
pela sua esterilidade no que concerne o progresso da vida cristã. Ao invés de
permitir um acesso mais fácil e mais seguro às fontes vivas da Palavra de Deus,
ela faz da Bíblia um livro fechado, cuja interpretação sempre problemática
exige técnicas refinadas fazendo dela um domínio reservado a alguns
especialistas. A estes, alguns aplicam a frase do Evangelho: «Tomastes a chave da ciência! Vós mesmos não entrastes e impedistes os que
queriam entrar! » (Lc 11,52; cf Mt 23,13).
7)- Em consequência, ao paciente labor do exegeta científico
estima-se necessário substituir abordagens mais simples, como uma ou outra
prática de leitura sincrônica que se considera como suficiente, ou mesmo,
renunciando a todo estudo, preconiza-se uma leitura da Bíblia dita « espiritual
», entendendo-se pela expressão uma leitura unicamente guiada pela inspiração
pessoal subjetiva e destinada a alimentar esta inspiração.
8)- Alguns procuram na Bíblia sobretudo o Cristo da visão pessoal
deles e a satisfação da religiosidade espontânea que têm. Outros pretendem
encontrar nela respostas diretas a toda sorte de questões, pessoais ou
coletivas. Numerosas são as seitas que propõem como única
verdadeira sua interpretação da qual elas afirmam terem tido a revelação.
I - A abordagem através da antropologia cultural:
A abordagem dos textos
bíblicos que utiliza as pesquisas de antropologia cultural está em ligação
estreita com a abordagem sociológica. A distinção dessas duas abordagens
situa-se ao mesmo tempo a nível da sensibilidade, do método e dos aspectos da
realidade que retêm a atenção:
1)- Enquanto que a abordagem sociológica — acabamos de dizê-lo —
estuda sobretudo os aspectos econômicos e institucionais, a abordagem
antropológica interessa-se por um vasto conjunto de outros aspectos que se
refletem na linguagem, arte, religião, mas também nos vestuários, ornamentos,
festas, danças, mitos, lendas e tudo o que concerne a etnografia.
2)- Geralmente a antropologia cultural procura definir as
características dos diferentes tipos de homens no ambiente social deles — como
por exemplo, o homem mediterrânico — com tudo o que isso implica de estudo do
ambiente rural ou urbano e de atenção voltada aos valores reconhecidos pela
sociedade (honra e desonra, segredo, fidelidade, tradição, gênero de educação e
de escolas), à maneira pela qual se exerce o controle social, às idéias que se
tem da família, da casa, do parentesco, à situação da mulher, dos binômios
institucionais (patrão-cliente, proprietário-locatário, benfeitor-beneficiário,
homem livre-escravo), sem esquecer a concepção do sagrado e do profano, os
tabus, o ritual de passagem de uma situação a uma outra, a magia, a origem dos
recursos, do poder, da informação, etc.Tendo-se por base esses diversos
elementos, constitui-se tipologias e « modelos » comuns a várias culturas.
3)- Esse gênero de estudos pode evidentemente ser útil para a
interpretação dos textos bíblicos e ele é efetivamente utilizado para o estudo
das concepções de parentesco no Antigo Testamento, a posição da mulher na
sociedade israelita, a influência dos ritos agrários, etc. Nos textos que
relatam o ensinamento de Jesus, por exemplo as parábolas, muitos detalhes podem
ser esclarecidos graças a essa abordagem. Ocorre o mesmo para as concepções
fundamentais, como aquela do reino de Deus, ou para a maneira de conceber o
tempo na história da salvação, assim como para os processos de aglutinação das
comunidades primitivas.
4)- Esta abordagem permite distinguir melhor os elementos
permanentes da mensagem bíblica cujo fundamento está na natureza humana, e as
determinações contingentes segundo culturas particulares.
5)- Todavia, não mais que outras abordagens
particulares, esta não está em si à altura de levar em conta as contribuições
específicas da plenitude da revelação. Convém estar ciente disso no momento de apreciar o
alcance de seus resultados.
II -
Abordagens contextuais:
A interpretação de um
texto é sempre dependente da mentalidade e das preocupações de seus leitores.
Estes últimos dão uma atenção privilegiada a certos aspectos e, sem mesmo
pensar, negligenciam outros. É então inevitável que exegetas adotem, em seus trabalhos, novos
pontos de vista que correspondam a correntes de pensamento contemporâneas que
não obtiveram, até aqui, uma importância suficiente. Convém que eles o façam com discernimento crítico.
Atualmente os movimentos de libertação e o feminismo retêm particularmente a
atenção.
Abordagem na "perspectiva Libertadora"
A teologia
da libertação é um fenômeno complexo que é preciso não simplificar
indevidamente. Como movimento teológico ele se consolida no início dos anos 70. Seu
ponto de partida, além das circunstâncias econômicas, sociais e politicas dos
países da América Latina, encontra-se em dois grandes acontecimentos eclesiais:O
Concilio Vaticano II, com sua vontade declarada deaggiornamento e de
orientação do trabalho pastoral da Igreja em direção às necessidades do mundo
atual, e a 2ª Assembléia plenária do CELAM (Conselho Episcopal
Latino-americano) em Medellin em 1968, que aplicou os ensinamentos do Concilio
às necessidades da América Latina. O movimento se propagou também em outras
partes do mundo (África, Ásia, população negra dos Estados Unidos).
É
difícil discernir se existe apenas « uma » teologia da libertação e definir seu método!
É tão difícil quanto determinar adequadamente sua maneira de ler a
Bíblia para indicar em seguida as contribuições e os limites. Pode-se dizer que ela não adota um método especial. Mas, partindo
de pontos de vista sócio-culturais e políticos próprios, ela pratica uma
leitura bíblica orientada em função das necessidades do povo, que procura na
Bíblia o alimento da sua fé e da sua vida.A o invés de se contentar com uma interpretação objetivante, que se
concentra sobre aquilo que diz o texto em seu contexto de origem, procura-se
uma leitura que nasça da situação vivida pelo povo. Se este último vive em
circunstâncias de opressão, é preciso recorrer à Bíblia para nela procurar o
alimento capaz de sustentá-lo em suas lutas e suas esperanças.A realidade presente não deve ser ignorada, mas, ao contrário,
afrontada em vista de iluminá-la à luz da Palavra. Desta luz resultará a práxis
cristã autêntica, tendendo à transformação da sociedade por meio da justiça e
do amor. Na fé, a Escritura se transforma em fator de dinamismo de libertação
integral.
Os princípios são os seguintes:
1)- Deus está presente na
história de seu povo para salvá-lo. Ele é o Deus dos pobres, (e não para "TODOS OS PECADORES" sejam estes POBRES, MÉDIOS E RICOS), que não pode
tolerar a opressão nem a injustiça.
2)- É por isso que a
exegese não pode ser neutra, mas deve tomar partido pelos pobres no seguimento
de Deus, e engajar-se no combate pela libertação(MERAMENTE MATERIAL, ou SOCIAL) dos oprimidos.
3)- A participação a esse
combate permite, precisamente, de fazer aparecer sentidos que se descobrem
somente quando os textos bíblicos são lidos em um contexto de solidariedade
efetiva com os oprimidos.
4)- Como a libertação dos oprimidos é um processo coletivo, a
comunidade dos pobres é a melhor destinatária para receber a Bíblia como
palavra de libertação (UMA TEOLOGIA PORTANTO, EXCLUSIVA E EXCLUDENTE E NÃO PREFERENCIAL). Além disso, os textos bíblicos tendo sido escritos para
comunidades, é a comunidades que em primeiro lugar a leitura da Bíblia é
confiada. A Palavra de Deus é plenamente atual, graças sobretudo à capacidade
que possuem os « acontecimentos fundadores » (a saída do Egito, a paixão e a
ressurreição de Jesus) de suscitar novas LIBERTAÇÕES no curso da história (INCLUINDO A LIBERTAÇÃO NÃO DO PECADO, MAS DA CULPA).
5)- A teologia da
libertação compreende elementos cujo valor é indubitável: o sentido profundo da
presença de Deus que salva; a insistência sobre a dimensão comunitária da fé; a
urgência de uma práxis libertadora enraizada na justiça e no amor; uma
releitura da Bíblia que procura fazer da Palavra de Deus a luz e o alimento do
povo de Deus em meio a suas lutas e suas esperanças. Assim é sublinhada a plena
atualidade do texto inspirado.
OS RISCOS DE UMA INTERPRETAÇÃO MERAMENTE "SOCIAL-LIBERTÁRIA, OU DE RESISTÊNCIA"?
Mas, a leitura engajada da Bíblia comporta riscos! Como ela é
ligada a um movimento recente, e em plena evolução, portanto, não acabado, as observações que seguem são pertinentes e oportunas:
1)- Essa leitura se
concentra sobre textos narrativos e proféticos que iluminam situações de
opressão e que inspiram uma práxis tendendo a uma mudança meramente social: aqui ou lá
ela pôde ser parcial, não dando muita tanta atenção a outros textos e contextos da Bíblia.
2)- É certo que a exegese não pode ser neutra, mas ela deve também
evitar de ser unilateral. Aliás, o engajamento social e politico não é a tarefa
direta do exegeta.
3)- Querendo inserir a mensagem bíblica no contexto sócio-político,
teólogos e exegetas foram levados ao recurso de instrumentos de análise da
realidade social. Nesta perspectiva, algumas correntes da teologia da
libertação fizeram uma análise inspirada em doutrinas materialistas e é nesse
quadro também que elas leram a Bíblia, o que não deixou de provocar questões,
notadamente no que concerne o princípio marxista da luta e ódio de classes.
4)- Sob a pressão de enormes problemas sociais, o acento foi
colocado principalmente sobre uma escatologia terrestre, muitas vezes em
detrimento da dimensão escatológica transcendente da Escritura.
5)- As mudanças sociais e
políticas conduzem esta abordagem a se propor novas questões e a procurar novas
orientações de libertações, contrárias até, à revelação e magistério da Igreja.
6)- Para seu desenvolvimento ulterior e sua fecundidade na Igreja,
um fator decisivo será o esclarecimento de seus pressupostos hermenêuticos de forma clara, sem ambiguidades, de
seus métodos e de sua coerência com a fé e a Tradição do conjunto da Igreja.
Do que foi dito no
decorrer desta longa exposição — que no entanto continua breve demais sobre
vários pontos — a primeira conclusão que se salienta é que a exegese bíblica
preenche, na Igreja e no mundo, uma tarefa
indispensável. Querer se dispensar dela para compreender a
Bíblia seria ilusão e manifestaria uma falta de respeito para com a Escritura
inspirada. Pretendendo reduzir os
exegetas ao papel de tradutores (ou ignorando que traduzir a Bíblia já é fazer
obra de exegese) e recusando de segui-los em seus estudos, os fundamentalistas
não se dão conta de que, por um louvável cuidado de inteira fidelidade à
Palavra de Deus, em realidade eles entram em caminhos que os afastam do sentido
exato dos textos bíblicos assim como da plena aceitação das consequências da
Encarnação. A Palavra eterna encarnou-se em uma época precisa da história,
em um ambiente social e cultural bem determinado. Quem deseja entendê-la deve
humildemente procurá-la lá onde ela se tornou perceptível, aceitando a ajuda
necessária do saber humano. Para falar aos homens e às mulheres, desde a época
do Antigo Testamento, Deus explorou todas as possibilidades da linguagem
humana, mas ao mesmo tempo Ele teve também, que submeter sua palavra a todos os
condicionamentos dessa linguagem. O verdadeiro respeito pela Escritura
inspirada exige que sejam realizados todos os esforços necessários para que se
possa compreender bem seu sentido. Seguramente não é possível que cada cristão
faça pessoalmente as pesquisas de todos os gêneros que permitam compreender
melhor os textos bíblicos. Esta tarefa é confiada aos exegetas, responsáveis
nesse setor pelo bem de todos.
Uma segunda conclusão, é que a natureza mesma dos textos bíblicos exige que, para interpretá-los,
continue-se o emprego do método
histórico-crítico, ao menos em suas operações principais.
A Bíblia, efetivamente, não se apresenta como uma revelação
direta de verdades atemporais, mas como a atestação escrita de uma série de
intervenções pelas quais Deus se revela na história humana. A diferença de doutrinas
sagradas de outras religiões, a mensagem bíblica é solidamente enraizada na
história. Conclui-se que os escritos bíblicos não podem ser corretamente
compreendidos sem um exame de seu condicionamento histórico. As pesquisas «
diacrônicas » serão sempre indispensáveis à exegese. Qualquer que seja o
interesse das abordagens « sincrônicas », elas não estão à altura de
substitui-las. Para funcionar de maneira fecunda, estas devem primeiramente
aceitar as conclusões das outras, pelo menos em suas grandes linhas.Mas, uma
vez preenchida esta condição, as abordagens sincrônicas (retórica, narrativa,
semiótica e outras) são suscetíveis de renovar em parte a exegese e de dar uma
contribuição muito útil. O método histórico-crítico, efetivamente, não pode pretender o
monopólio. Ele deve ser consciente de seus
limites, assim como dos perigos que o espreitam. Os desenvolvimentos
recentes das hermenêuticas filosóficas e, de outro lado, as observações que
pudemos fazer sobre a interpretação na Tradição Bíblica e na Tradição da Igreja
colocaram em evidência vários aspectos do problema da interpretação que o
método histórico-crítico tinha tendência a ignorar. Preocupado, efetivamente, em bem fixar o sentido dos textos,
situando-os no contexto histórico original deles, este método mostra-se algumas
vezes insuficientemente atento ao aspecto dinâmico do significado e às
possibilidades de desenvolvimento do sentido. Quando ele não vai até o estudo
da redação, mas se absorve unicamente nos problemas de fontes e de estratificação
dos textos, ele não preenche completamente a tarefa exegética. Por fidelidade à
grande Tradição, da qual a própria Bíblia é testemunha, a exegese católica deve
evitar tanto quanto possível esse gênero de deformação profissional e manter
sua identidade de disciplina teológica, cuja finalidade principal é o
aprofundamento da fé. Isso não significa ter um compromisso menor com uma
pesquisa científica mais rigorosa, nem a deformação dos métodos por
preocupações apologéticas. Cada setor da pesquisa (crítica textual, estudos
linguísticos, análises literárias, etc.) tem suas próprias regras, que é
preciso seguir com toda autonomia. Mas nenhuma dessas especialidades é uma
finalidade em si mesma. Na organização de conjunto da tarefa exegética, a
orientação em direção à finalidade principal deve permanecer efetiva e evitar
os desperdícios de energia. A exegese católica não tem o direito de se
parecer com um curso d'água que se perde nas areias de uma análise
hiper-crítica. Ela deve preencher na Igreja e no mundo uma função vital, isto
é, de contribuir a uma transmissão mais autêntica do conteúdo da Escritura
inspirada (gerar certezas e não dúvidas).É bem a esta finalidade
que tendem desde já seus esforços, em ligação com a renovação das outras
disciplinas teológicas e com o trabalho pastoral de atualização e de
inculturação da Palavra de Deus. Examinando a problemática atual e exprimindo
algumas reflexões a esse respeito, a presente exposição espera ter facilitado a
todos uma tomada de consciência mais clara do papel dos exegetas católicos.
*Conteúdo adaptado da Comissão
bíblica teológica Internacional - Roma, 15 de Abril de 1993
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