A vida é bela em Schopenhauer!
"A história nos mostra a vida dos povos, e nada encontra a não ser guerras e rebeliões para nos relatar; os anos de paz nos parecem apenas curtas pausas, entreatos, uma vez aqui e ali, e de igual maneira a vida do indivíduo é uma luta contínua, porém não somente metafórica, com a necessidade ou o tédio, mas também realmente com outros. Por toda parte ele encontra opositor, vive em constante luta e morre de armas em punho"?
O que temos aí: extremo pessimismo ou puro realismo?
Quem dentre nós poderá ser tão otimista ao ponto de negar a realidade que perpassa a história da humanidade e que pode ser encontrada, sem grandes dificuldades, em qualquer cena urbana ou privada, veiculada pelos meios da comunicação ou testemunhada na porta de nossas casas? O nome Schopenhauer tornou-se quase sinônimo de "pessimismo" ao longo da história da filosofia. A tendência didática de rotular ou categorizar pensadores e correntes de pensamento estigmatizou um filósofo que teve como único e máximo pecado ser honesto para com sua filosofia, que concebe a vida, assim com todos os eventos da existência, como expressões diferentes da Vontade - uma força que apenas quer existir, se evidenciar num mundo que não passa de sua representação. Os quase dois séculos que nos separam de Arthur Schopenhauer, entretanto, talvez ainda não se constituam um obstáculo para uma defesa justa de suas ideias e para o vislumbramento de aspectos extremamente positivos de sua filosofia.A época em que Schopenhauer viveu, na Europa do final do século 18 e início do século 19, tem algumas características peculiares, que podem muito bem dizer do Zeitgeist de então.Will Durant, em seu A história da filosofia, tenta encontrar razões para uma espécie de pessimismo comum àquele período. Diz ele: "Por que será que a primeira metade do século 19 levantou, como vozes da época, um grupo de poetas pessimistas - Byron na Inglaterra, De Musset na França, Heine na Alemanha, Leopardi na Itália [...] e, acima de tudo, um filósofo profundamente pessimista, Arthur Schopenhauer?", e acrescenta como resposta: "[...] Era bem difícil acreditar que um planeta tão lamentável quanto aquele que os homens viam em 1818 estivesse seguro nas mãos de um Deus inteligente e benevolente. Mefistófeles havia triunfado e todos os Faustos estavam desesperados". Durant também é loquaz ao dizer que "o pessimismo é o dia seguinte do otimismo". Todo homem, ilustre ou não, é fruto de seu tempo, e também vê o mundo à sua volta como a representação de si mesmo, assim como sentenciado por um antigo filósofo grego:
"O homem é a medida de todas as coisas"?
Schopenhauer vê as coisas do seu tempo, mas, acima de tudo, abrange com seu olhar filosófico, quiçá com sua intuição (como talvez ele próprio preferisse dizer), o passado (constituído de suas incursões pelas escrituras hindus e budistas), o presente (imposto a ele frente a frente) e o futuro (projetado por sua invejável capacidade intelectual). Assim, sua filosofia traz, evidentemente, a sabedoria oriental, que inspira aqueles que buscam respostas para seu sofrimento nos ensinamentos religiosos; a compreensão do aqui-agora existencial, que une todos os povos e todos os indivíduos como uma única nação de aflitos; e a visão profética, que, relendo os eventos da vida, vaticina para todos, sem exceção, uma espécie de eterno retorno - um retorno ao nada existencial, como último consolo à existência sofrida.
Arthur Schopenhauer teve como pai, Heinrich Schopenhauer, um rico comerciante que, além de ser um homem rígido, era um marido rude, e que tem ainda contra si a forte suspeita de ter cometido suicídio atirando-se no canal de Hamburgo. A mãe, Johanna Troisener, era uma romântica, oprimida pelo marido, que só conheceu o bom da vida após a morte dele. Apesar do pai ter feito tudo para que o jovem Arthur se interessasse pelos negócios da família, não viveu o suficiente para decepcionar-se com o filho filósofo, enquanto a relação deste com a mãe foi uma das piores. Schopenhauer viveu grande parte de sua vida viajando pela Europa à custa do dinheiro herdado do pai. Foi um solitário, tinha um cachorro, ao qual deu o nome de Atman (termo hindu para alma), e pouquíssimos amigos. Para si mesmo, considerava sua vida como a ideal - a relação com os humanos não era nada fácil, portanto, preferia a solidão. No entanto, essa vida reclusa é rotulada por alguns autores como "uma vida infeliz", o que fornece um ótimo ingrediente para fomentar a denominação que darão a ele de "filósofo do pessimismo".Sua obra prima, "O mundo como vontade e representação" (1819), só conquistou leitores após sua morte, e Parerga e Paralipomena (1851) trouxe- lhe o tão desejado reconhecimento, mas ele não viveu o suficiente para usufruir dele, pois morreu nove anos depois, no dia 21 de setembro de 1860, solitário como viveu.
A filosofia de Schopenhauer explica que "a natureza interessa-se
menos pelo indivíduo e mais pela sua espécie"
Portanto, tenta preservar essa personalidade que chamamos de "eu" será sempre perda de tempo e acréscimo de sofrimento, pois esse "eu" não pertence a si mesmo, mas é parte de algo bem maior, um "nós", que é sua espécie. Se não há consolo em saber que essa personalidade desaparece no oceano existencial - para só então retornar infinitas vezes, como milhões de outras personalidades inconscientes de quantas pessoas já foram, quantas vidas viveram, o quanto amaram, foram amadas ou sofreram - não é culpa do filósofo que assim seja, ele é apenas o decifrador de um código da natureza, que a despeito de nosso apego e romantismo pela vida, do alto de sua sabedoria não racional, não enxerga aqui na Terra homens, mulheres, crianças, pais, filhos, amantes ou rivais, como fomos condicionados a ver aqui embaixo. Ele enxerga apenas a família, a espécie humana, que, num ato de pura vontade e necessidade, mantém a roda existencial girando indefinidamente. É Will Durant que nos vai lembrar que a filosofia de Schopenhauer semelha muito os ensinamentos do Cristo (e, é claro, os de Buda). Diz o historiador:
"O cristianismo é uma profunda filosofia do pessimismo. O
poder através do qual o cristianismo conseguiu vencer primeiro o judaísmo e
depois o paganismo da Grécia e de Roma está unicamente no seu pessimismo, na
confissão de que nosso estado é excessivamente deplorável e pecaminoso,
enquanto o judaísmo e o paganismo eram otimistas".
Nós, com facilidade, podemos encontrar passagens bíblicas que levam a considerações desse tipo, mas que, vistas por um outro prisma, apresentam a morte como uma valorização da vida. Vale lembrar que, proferidas por Jesus, essas considerações em favor da morte tomam ares de inspiradora fé no verdadeiro significado da própria vida:
"Aquele que tentar salvar sua vida, perdê-la-á. Aquele que a perder, por minha causa, reencontrála- á", disse o Nazareno.
"Agora terei de ouvir
novamente que minha filosofia é desesperada somente porque me expresso conforme
a verdade, mas as pessoas querem que se
lhes diga que o Senhor Deus tenha feito tudo do melhor modo. Dirijam-se à
igreja, e deixem em paz os filósofos. Ao menos não exijam que estes exponham
suas doutrinas conforme seus ensinamentos: isto, fazem-no os trapaceiros; os
filosofastros: a estes, podem encomendar doutrinas à vontade".
Durant tece seus elogios ao filósofo
de Danzig da seguinte forma:
"Devemos a Schopenhauer o
fato de nos ter revelado nossos corações secretos, de nos ter mostrado que
nossos desejos são os axiomas de nossas filosofias e de ter aberto caminho para
uma compreensão do pensamento não como um simples cálculo abstrato de eventos
impessoais, mas como um inflexível instrumento de ação e de desejo".
CONCLUSÃO
O filósofo do pessimismo, como ficou conhecido Arthur Schopenhauer, tem muitas coisas positivas a ensinar tanto aos miseráveis quanto aos prósperos, tanto aos bípedes sem instrução quanto aos bípedes bem-instruídos, tanto aos pessimistas quanto aos otimistas. A beleza de sua filosofia não é óbvia e vulgar como alguns gostariam que fosse, ela é como o véu de Maya dos hindus, que impõe ao comum dos homens uma ilusão multicolorida, enquanto esconde por trás de si o esplendor da eternidade. O próprio filósofo pode nos dizer algo sobre isso, para que tudo o que aqui foi dito não fique como não dito:
"Mas certamente a verdade será sempre "paucorum
hominum" ("algumas pessoas") - e portanto deve
esperar, tranquila e comodamente, pelos poucos que, por terem um modo de pensar
fora do comum, possam achá-la. A vida é curta, mas a verdade vai longe e tem
vida longa; falemos a verdade".
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Lido. E talvez eu seja um dos dois ou três que vai concordar com esse texto. Ok
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