Não é
só o "liberalismo social e moral" a Igreja condena o LIBERALISMO ECONÔMICO também! Achar que o mercado pode agir livremente sem regulação nenhuma é algo anti
católico quem acredita nisso está longe da Fé verdadeira. O Estado deve sim ser
pontual em suas intervenções atuando pra evitar fraudes, carteis , abusos do
empresário etc a economia não pertence ao Estado e sim aos grupos de indivíduos
mas tais grupos precisam de regulação. Quem segue essa linha de " mão
invisível do Estado " está longe da verdadeira e original fé da Igreja.
Vamos as
encíclicas papais
Pio XI
citando os seus predecessores:
"Como
não pode a unidade social basear-se na luta de classes, assim a reta ordem da
economia não pode nascer da livre concorrência de forças. Deste princípio como
de fonte envenenada derivaram para a economia universal todos os erros da
ciência econômica "individualista"; olvidando esta ou ignorando, que
a economia é juntamente social e moral, julgou que a autoridade pública a devia
deixar em plena liberdade, visto que no mercado ou livre concorrência possuía
um princípio diretivo capaz de a reger muito mais perfeitamente, que qualquer
inteligência criada. Ora a livre concorrência, ainda que dentro de certos
limites é justa e vantajosa, não pode de modo nenhum servir de norma reguladora
à vida econômica. Aí estão a comprová-lo os factos desde que se puseram em
prática as teorias de espírito individualista. Urge por tanto sujeitar e
subordinar de novo a economia a um princípio directivo, que seja seguro e
eficaz. A prepotência econômica, que sucedeu à livre concorrência não o pode
ser; tanto mais que, indômita e violenta por natureza, precisa, para ser útil a
humanidade, de ser energicamente enfreada e governada com prudência; ora não
pode enfrear-se nem governar-se a si mesma. Força é portanto recorrer a
princípios mais nobres e elevados: à justiça e caridade sociais. E preciso que
esta justiça penetre completamente as instituições dos povos e toda a vida da
sociedade; é sobre tudo preciso que esse espírito de justiça manifeste a sua
eficácia constituindo uma ordem jurídica e social que informe toda a economia,
e cuja alma seja a caridade. Em defender e reivindicar eficazmente esta ordem
jurídica e social deve insistir a autoridade pública; e fá-lo-á com menos
dificuldade se se desembaraçar daqueles encargos, que já antes declarámos não serem
próprios dela" (Pio XI, Encíclica Quadragesimo Anno, 15 de Maio de 1931).
"16.
Para explicar melhor como o comunismo conseguiu das massas operárias a
aceitação, sem exame, de seus erros, convém recordar que estas massas operárias
estavam já preparadas para ele pelo miserável abandono religioso e moral a que
as havia reduzido, na teoria e na prática, a economia liberal. Com turnos de
trabalho, inclusive dominicais, não se deixava tempo ao operário para cumprir
suas mais elementares deveres religiosos nos dias festivos; não se teve
preocupação alguma para construir Igrejas junto às fábricas nem para facilitar
a missão do sacerdote; ao contrário, se continuava promovendo positivamente o
laicismo. Se recolhem, portanto, agora, os frutos amargos de erros denunciados
tantas vezes por nossos predecessores e por Nós mesmos ...". (Pio XI,
Encíclica Quadragesimo Anno, 15 de Maio de 1931).
“As
exigências da concorrência, que é uma consequência normal da liberdade e
engenhosidade humana, não deve ser a norma final da economia” (Pio XII,
Discurso aos participantes do congresso internacional da fundação técnica, 28
de Setembro de 1954).
"Igualmente
cega é a confiança quase supersticiosa no mecanismo do mercado mundial para
equilibrar a economia, como a de quem a fiam a um Estado providencia
encarregado de procurar a todos seus súditos, e em todas as circunstâncias da
vida, o direito a satisfazer exigências, ao fim das contas, irrealizáveis"
(Discurso ao Congresso Internacional de Estudos Sociais, 3 de junho de 1950).
"Por
outro lado, ganha terreno a concepção que é da economia, e em particular de uma
forma sua específica, que é o livre-comércio, que se deve esperar a solução do
problema da paz. Tivemos
outra vez a ocasião de expor o erro de tal doutrina. E mais ou menos cem anos
atrás os sequazes do sistema de livre comércio esperavam dele coisas
maravilhosas, vendo nisso um poder quase mágico. Um de seus mais ardentes
prosélitos não duvidava em comparar o princípio do livre-comércio, na medida
dos efeitos no mundo moral, ao princípio da gravidade que rege o mundo físico,
assinalando-lhe, como efeito próprio, a aproximação dos homens, o
desaparecimento do antagonismo baseado em raça, fé, língua, e a unidade de
todos os seres humanos numa paz inalterável.O curso
dos eventos demonstrou quanto é enganosa a ilusão de confiar na paz só pelo
livre-comércio. Não será diferente no futuro, se se insiste nesta fé cega que
dá a economia uma forma mística imaginária" (Radiomessaggio a tutto il
mondo in occasione del Natale, 24 dicembre 1954).
Papa São Paulo
VI
26. "Infelizmente, sobre estas novas condições da sociedade, construiu-se um sistema
que considerava o lucro como motor essencial do progresso econômico, a
concorrência como lei suprema da economia, a propriedade privada dos bens de
produção como direito absoluto, sem limite nem obrigações sociais
correspondentes. Este liberalismo sem freio conduziu à ditadura denunciada com
razão por Pio XI, como geradora do "imperialismo internacional do
dinheiro" (Paulo VI, Encíclica Populorum Progressio, no.26).
Papa São João
Paulo II
"40.
É tarefa do Estado prover à defesa e tutela de certos bens coletivos como o
ambiente natural e o ambiente humano, cuja salvaguarda não pode ser garantida
nos simples mecanismos de mercado. Como nos tempos do antigo capitalismo, o
Estado tinha o dever de defender os direitos fundamentais do trabalho, assim
diante do novo capitalismo, ele e toda sociedade têm a obrigação de defender os
bens coletivos que, entre outras coisas, constituem o enquadramento dentro do
qual cada um poderá conseguir legitimamente os seus fins individuais.Acha-se
aqui um novo limite do mercado: há necessidades coletivas e qualitativas, que
não podem ser satisfeitas através dos seus mecanismos; existem exigências
humanas importantes, que escapam à sua lógica; há bens que, devido à sua
natureza, não se podem nem se devem vender e comprar. Certamente os mecanismos
de mercado oferecem seguras vantagens: ajudam, entre outras coisas, a utilizar
melhor os recursos, favorecem o intercâmbio dos produtos e, sobretudo, põem no
centro a vontade e as preferências da pessoa que, no contrato, se encontram com
as de outrem. Todavia eles comportam o risco de uma "idolatria" do
mercado, que ignora a existência de bens que, pela sua natureza, não são nem
podem ser simples mercadoria" (João Paulo II, Centesimus Annus, 1 de Maio
de 1991)
O antiliberalismo econômico Católico não faz o
menor sentido
Por Carlos Junior,
publicado pelo Instituto Liberal
Parece uma tentação entre
o círculo de católicos tradicionalistas condenar o livre mercado como um
sistema econômico imoral, materialista e fundado no egoísmo humano. Na
mente deles, a liberdade dos mercados e das trocas é indesejável e incompatível
com a fé católica. Sem parecer panfletário ou algo do tipo, mas tenho a certeza
de que tais indivíduos estão redondamente enganados. Por uma série de razões, o
liberalismo econômico é perfeitamente compatível com a moral católica – dela
mesma surgiram vários conceitos aproveitados pela Escola Austríaca. Uma prova
disso é o surgimento de diversos escolásticos espanhóis defensores de
determinados conceitos aproveitados pelos austríacos. Juan de
Mariana, padre jesuíta espanhol, alertou
para as consequências desastrosas da intervenção estatal nos preços e na oferta
das mercadorias.É como um moralista que ele concorda com os outros escolásticos que:
"Um
“preço justo” deve servir de base nas transações comerciais. Este preço foi
fixado em tempos medievais pelo governo e foi considerado por ele errado exigir
mais do que o montante legalmente fixado. Juan
Mariana vê, no entanto, que, na prática, nem sempre é possível determinar os
preços de forma satisfatória e que se não estão de acordo com a estimativa
popular comum (ou seja, com o mercado), eles não podem ser impostos. Para ser justo um
preço não deve ser fixado uma vez e para sempre, deve levar em conta várias
condições que mudam com a demanda e a oferta dos artigos em questão. Os
preços devem, portanto, serem revistos de tempos em tempos’’.
Diversos outros escolásticos da mesma época entenderam os
mesmos alertas de Juan de Mariana:
Qualquer imposição ou
controle de preços ou demanda resultaria em consequências ruins para
consumidores e até mesmo produtores. Suas lições formaram partes dos princípios
usados pela Escola Austríaca de economia. A praxeologia estuda
as ações humanas e como elas se desenvolvem. Ao agir, o homem
busca melhorar seu atual estado de coisas em busca de um outro mais
satisfatório.
São Tomás de Aquino, o grande teólogo católico, já tinha
falado algo a respeito:
“O
homem age com vistas a um bem’’
Que as raízes da
economia tal como os austríacos pensaram são inegavelmente encontradas na
própria Igreja, isso é fato; mas aqui teríamos um problema: Ao
mesmo tempo em que clérigos defendem a liberdade econômica, alguns a condenam. Os apologistas do distributismo usam a Rerum Novarum como
justificativa de uma busca por outra via, uma vez que comunismo e liberalismo
foram condenados por Leão XIII (que não é uma encíclica dogmática, ela revela um corte de uma análise
temporal de um período histórico). E é
aqui que há outro engano a respeito do tema.
Se o mercado tal como é teorizado pelos liberais é abolido,
temos no mínimo três consequências dessa ação:
1)-Os preços não serão
os reais, já que a lei da oferta e da procura seria impossível.
2)-Vivendo apenas da
autossuficiência, diversas famílias ficariam sem produtos essenciais para suas
vidas, uma vez que seriam obrigadas a produzir e quase ninguém teria
especialização para tal.
3)-Sem preços exatos e
produtos essenciais, o mercado seria impossível e a qualidade de vida da imensa
maioria da sociedade cairia drasticamente – e por que não dizer dramaticamente.
Na
mesma Rerum Novarum, Leão XIII fala da necessidade de os trabalhadores
receberem um salário justo para sustentarem suas famílias, mas não fala como
isso seria alcançado. Muitos apologistas da doutrina social católica argumentam
a favor da intervenção estatal para a garantia desse salário justo. Mais um
equívoco: a intervenção do Estado na economia é péssima e iria piorar a
situação.
Se o Estado força ou determina aumento de salário para os
empregadores cumprirem, três coisas virão por consequência:
1)-Os custos aumentarão
sem necessariamente um aumento na produtividade, acarretando aumento dos
preços.
2)-Com maiores salários a pagar, os
empregadores contratarão menos, aumentando o número de trabalhadores
desempregados.
3)-Sem capital para
investir em melhorias e inovação, a empresa irá continuar no mesmo lugar,
acarretando a estagnação dos salários de todos os empregados.
Muitos católicos falam
em justiça e em proporcionar melhores condições aos trabalhadores ao condenarem
o liberalismo econômico. Nada mais equivocado. O capitalismo proporcionou um
aumento na qualidade e na expectativa de vida como nunca na humanidade. Ignorar
tal fato para fazer uma análise justa do mercado é desonestidade pura. O
antiliberalismo econômico católico neste caso, não faz o menor sentido.
*Carlos Junior é jornalista, colunista dos portais Renova Mídia e A Tocha (Republicado por Rodrigo Constantino - 30/08/2019)
Referências:
1.https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=688
2.https://pt.scribd.com/document/163807732/Capitalismo-e-Cristianismo-Olavo-de-Carvalho
3.https://medium.com/sociedade-chesterton-brasil/o-mínimo-que-você-precisa-saber-sobre-distributismo-77129312004a
Liberalismo e cristianismo (compatível ou incompatível)?
As origens do
liberalismo estão, como Chafuen e Woods demonstraram, nos pós-escolásticos, ou
seja, na tradição católica.A
liberdade que o liberalismo propugna é uma das liberdades que integram o
conceito católico de liberdade. É a "liberdade de" ou liberdade
exterior, enquanto a doutrina da Igreja defende a "liberdade
interior". Não há qualquer
conflito entre liberalismo e catolicismo, pelo contrário. Inclusive, as ideias
corporativas tiveram grande aceitação e receberam apoio da Encíclica Papal Quadragésimo
Anno, de 1931. Religião e liberdade — poucos assuntos são mais
controversos entre os libertários da atualidade.
Pelo menos quatro posições podem ser distinguidas:
1)-Uma posição bem
conhecida diz que religião e liberdade são esferas distintas, separadas e hermeticamente
fechadas uma para a outra, sendo que qualquer ponto de contato que
porventura tenha havido entre elas ao longo da história foi algo puramente
acidental.
2)-Uma segunda posição,
também bastante difundida, afirma que religião e liberdade
são absolutamente antagônicas. Os
defensores dessa tese veem na religião o inimigo mais implacável da liberdade individual, um inimigo da humanidade pior até mesmo
do que o estado.
3)-Uma terceira posição
sustenta que religião e liberdade são complementares — de um lado, homens
devotos facilitam o funcionamento de uma sociedade com um governo mínimo ou até
mesmo sem governo; e, de outro, a liberdade política facilita a vida religiosa que cada um
decidiu seguir.
4)-Finalmente, alguns pensadores defendem uma quarta posição: que a
religião — e, em particular, a fé cristã — é fundamental para a liberdade
individual, tanto em termos
históricos quanto em nível conceitual.
Em
nossa cultura inteiramente secularizada, a terceira posição é tida como ousada
e a quarta, como insolente. Entretanto,
sou da crença de que, hoje, ambas são verdadeiras, e que, enquanto a terceira é
uma declaração superficial da verdade, a quarta vai à raiz da questão.Quando ainda era um
pagão intervencionista, descobri as verdades da teoria política libertária
e, com o tempo, comecei a compreender que a luz dessas verdades era apenas um
reflexo da luz abrangente e eterna que irradia de Deus através de Seu Filho e
do Espírito Santo. Essa
compreensão tem sido um processo lento, e eu não saberia hoje dizer quando e
onde tudo vai terminar. Mas eu posso
apontar precisamente as circunstâncias de seu início. Eu posso apontar o escritor que me mostrou
essa luz: No início de minha carreira acadêmica, tive a
boa sorte e o privilégio de traduzir, para meu idioma pátrio, o magnífico
ensaio de Ralph Raico sobre a história do liberalismo alemão. Esse livro mostra brilhantemente as virtudes
de seu autor — sua erudição, sua perspicácia, sua retidão e sua coragem. Para mim, foi algo surpreendentemente
revelador. O livro acabava com os
mal-entendidos em relação aos principais protagonistas. Em particular, Friedrich Naumann, um homem de
imerecida fama libertária, foi expelido do panteão dos defensores da liberdade,
ao passo que Eugen Richter, hoje praticamente desconhecido, foi elevado ao seu
lugar de direito como o mais notável líder do decadente partido da liberdade
alemão. Ralph
Raico explica que os liberais alemães fracassaram principalmente porque, em
algum momento, eles começaram a errar o alvo de seus ataques. Ao invés de se opor ao estado, eles começaram
a ver a religião organizada como o principal inimigo. Eles apoiaram as repressivas leis criadas
pelo chanceler Bismarck para travar uma guerra cultural contra a Igreja
Católica. Um exemplo característico foi o de Rudolf Virchow, um cirurgião,
professor e líder do partido liberal, que demonstrava em relação à religião
exatamente a mesma atitude arrogante e ignorante demonstrada pela cultura
intelectual moderna, e particularmente pelo movimento libertário moderno. O livro de Ralph Raico realçou as linhas de
continuidade entre os Virchows de todas as épocas e o Iluminismo francês. Os
escritos completamente anticlericais de Voltaire, Rousseau, Didérot,
d'Alembert, Helvétius e de vários outros aparentes defensores da liberdade
individual e oponentes da opressão criaram uma cultura liberal no continente
europeu na qual o antagonismo entre fé e liberdade era algo admitido como certo
e inquestionável.
Como consequência, as pessoas religiosas tornaram-se
perpetuamente receosas quanto ao liberalismo
Parecia
que o indivíduo tinha obrigatoriamente de fazer uma escolha entre duas opções
mutuamente excludentes: ou religião ou liberdade.Entretanto, o professor
Raico também, enfatiza que havia uma outra tradição dentro do
pensamento liberal clássico, uma que reconhecia a interdependência entre
religião e liberdade. Essa tradição incluía mais
notavelmente os três grandes pensadores sobre os quais o professor Raico
escreveu em sua tese de doutorado de 1970:Na
qual ele explicava como o pensamento político do protestante Benjamin Constant
e dos católicos Alexis de Tocqueville e Lord Acton advinha de suas convicções
religiosas.Essa obra foi
reimpressa pelo Ludwig von Mises Institute para todas as pessoas de boa
vontade. No início do século XXI, ela não
perdeu sua atualidade e importância como ferramenta para um reentendimento da
história do liberalismo. Saúdo
sua publicação e prevejo que ela vá abrir muitos outros olhos para essa
importante questão.
Fonte:https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=781
INTERNAUTA QUER SABER SE O LIBERALISMO É ANTICRISTÃO?
Prezado Prof. Orlando Fedeli,
Salve Maria!
Parabenizo-o uma vez mais pelo
excelente trabalho desenvolvido pelo
site da Montfort em divulgar a fé católica e em solucionar as muitas dúvidas
que costumam perturbar a nós, integrantes do corpo da Igreja. A pena da
Montfort é como a espada das Cruzadas, sempre corajosa. E a sabedoria nos
textos presente é manifestação inegável de mentes abençoadas. Endereço a este
site e ao Professor Orlando Fedeli meu reverente respeito e minha incontida
admiração. Deus os ilumine sempre nesta missão!Minha dúvida é (desta vez) a
seguinte: tenho lido atentamente os textos publicados no site que enfocam a
crítica ao liberalismo. Tenho notado também que essa crítica se dirige mais
especificamente ao aspecto humanista e à permissividade religiosa da doutrina
liberal. Conheço
e estudei as origens filosóficas do liberalismo como um movimento único, mas
gostaria de conhecer mais especificamente a posição da Montfort sobre o
liberalismo econômico. Sei que
doutrinas como fascismo e socialismo são incompatíveis com a fé católica. Mas
minha dúvida é:
se somos favoráveis à propriedade privada, isso importaria necessariamente em
sermos favoráveis ao direito de livre gestão dos indivíduos sobre seus bens e
propriedade? Note bem o ilustre Professor que nem estou falando na
escravidão do homem pelo dinheiro, que, aliás, parece atingir muitas mentes
viciadas em nossa sociedade. Gostaria apenas de saber o que o Sr. pensa quanto ao
liberalismo enquanto modelo macroeconômico de governo, em contrapartida a
formas coletivistas e marxistas de gestão do Estado. Seria ele anti-cristão?
Não sei se me faço entender bem: seria, por exemplo, anti-cristão, um regime
que adotasse características privatistas no campo econômico, mas que fosse conservador
nos campos moral e político? E mais,
se não abuso da paciência do nobre Professor, o Sr. acredita que existe algum modelo
econômico compatível com o Cristianismo? Agradeço-lhe
antecipadamente. É sempre uma dádiva contar com as lições e com a sapiência de
um verdadeiro Professor.
Que Deus o abençoe!
Cordialmente,
Felipe Cola.
RESPOSTA DO PROF. ORLANDO FEDELI
Muito prezado Felipe,
Salve Maria!
Pio XI também declarou
que "Ninguém pode ser, ao mesmo tempo, bom católico e verdadeiro
socialista" (Pio XI, Encíclca Quadragesimo Anno).Isso não significa que a Igreja
aprove o capitalismo, sem restrição ou condenação, como se fosse uma escolha
excelente. A Igreja sempre fez crítica ao capitalismo. Sua pergunta
coloca um dilema - que não existe - entre socialismo e
capitalismo, como se fôssemos obrigados a escolher ente esses dois sistemas
econômicos, considerando um ótimo, e o outro péssimo. O capitalismo é ruim. O socialismo é péssimo. Na
realidade, o capitalismo é pai do socialismo e do comunismo, assim como a
democracia liberal é mãe da tirania comunista.Tudo isso requer uma explicação um tanto mais longa:No crepúsculo
da Idade Média, por se ter colocado o bem estar na vida terrena acima da
salvação da alma, por se ter colocado o Reino da Terra acima do Reino dos Céus,
começou-se a buscar, antes de qualquer coisa, a riqueza material. Esse desejo, aliado ao Absolutismo Monárquico, levou
os Reis a favorecerem um novo sistema econômico, que foi o Mercantilismo, o
precursor do Capitalismo atual, uma espécie de Capitalismo embrionário.
O
Mercantilismo colocou o fim do homem na busca do ouro. O capitalismo é filho do
mercantilismo e da Reforma protestante, especialmente de Calvino, como foi
demonstrado por estudiosos do tema. Não é preciso dizer, vários
autores o salientaram, como, por exemplo Max Weber (Ética Protestante e
Capitalismo) - a relação profunda entre a Teologia
protestante, particularmente a calvinista, e a busca de lucro acima de tudo.A
"santificação" calvinista pelo trabalho, ia colocar o dinheiro como
sinal da salvação, o êxito econômico como sinal de eleição divina. Como se o homem tivesse sido criado para trabalhar e não para
servir a Deus em tudo o que faz.Foi do Mercantilismo
que nasceu o sistema capitalista, triunfante com a Revolução Francesa e com a
chamada Revolução Industrial. E com o fim de toda ordem feudal, na Revolução
Francesa, os antigos artesãos perderam seus meios de defesa, quando a Revolução
extinguiu o seu feudo econômico, as Corporações, que eram bem diversas dos
atuais sindicatos. O artesão foi transformado em operário, em proletário.A
Revolução Francesa instituiu o reino do Número, isto é o da Quantidade. Foi o
fim da Qualidade artesanal, e o triunfo da produção em quantidade, de onde vai
nascer a produção em série. A Revolução Francesa
instaurou o regime liberal na política e o capitalismo na economia.O
capitalismo é o liberalismo na economia. Portanto,
assim como o liberalismo político gera o comunismo, assim o capitalismo gera o
socialismo na economia.Para o capitalismo, "time is money".
Traduzindo isso, dever-se-ia melhor dizer que, para o capitalismo, "life
is money". A vida, não o tempo, é dinheiro.Com o capitalismo,
vive-se para ter dinheiro.Politicamente, esse
triunfo do número vai significar o governo da maioria, que se aufere pela
contagem de votos, e pelo sufrágio universal, isto é, pelo sistema democrático
liberal, que muito pouco tem a ver com a democracia, tal
como a entende a Igreja Católica.Economicamente,
a instituição do número como supremo valor, não só vai causar a Revolução
Industrial e a produção em série, como significará a busca do lucro acima de
tudo.E, do mesmo modo que o
sistema liberal separou a Igreja do Estado, pela Liberdade de Religião, assim
também se separou a Economia da Moral:Desde
que se obtivesse lucro, pouco importava, para o Capitalismo, triunfante com a
Revolução Francesa, que meios eram usados. Dai, nasceu
a tendência a reduzir, o quanto possível, o salário dos que trabalhavam, e a
fazer produção de objetos em série, pouco importando a decadência de sua
qualidade. Importava só o lucro, e o quanto antes.Dai a velocidade das
coisas modernas: velocidade de produção (Taylorismo), velocidade de consumo,
velocidade de uso. Disto
resultando a velocidade da vida atual, e a ideia dela decorrente de que tudo
tem que mudar sempre. Assim nasceu a Moda.
Assim nasceu o macaco de Darwin. Pois o Darwinismo, muitos o demonstraram, é
uma aplicação do pensamento liberal e capitalista na biologia:A
livre concorrência entre as espécies, como se fez a livre concorrência entre os
produtores. Hitler despontava já do darwinismo, imaginando a criminosa
"livre concorrência" das raças, com os fornos assassinos de
Auschwitz. Que agiam visando a produção de crimes em série. Em linha de destruição
criminosa em massa.Portanto, esse foi, e
é, o principal ponto negativo do Capitalismo, que a Igreja sempre condenou: a
separação entre Economia e Moral, que foi uma conseqüência da separação entre
Igreja e Estado.Um segundo ponto negativo do Capitalismo, que a Igreja
sempre condenou também, foi a Livre Concorrência Absoluta na Economia:Assim
como na Democracia Liberal, nascida da Revolução Francesa, se deu a liberdade
religiosa completa, acabando-se com a distinção entre verdade e mentira, assim
como se deu livre concorrência ao erro e à verdade, assim também, na Economia,
se dava a livre concorrência absoluta, com o falso raciocínio de que sempre
venceria o melhor produto.Ora, a livre concorrência entre a verdade e a mentira
só pode favorecer a mentira, porque a mentira não traz obrigações, enquanto a
verdade traz duros deveres.Assim também, a livre
concorrência absoluta vai favorecer o produto que dá mais lucro ao fabricante,
isto é, o de pior qualidade. Prova é a difusão de bebidas de certo refrigerante
americano, e de alimentos fast food, bebida e comidas tipicamente capitalistas,
de produção em massa, e de baixo valor. A livre concorrência
absoluta vai fazer triunfar não o melhor produtor, mas sim aquele que tem mais
dinheiro, aquele que tiver supremacia no número, na propaganda, na quantidade.
A livre concorrência absoluta, junto com o amoralismo do Capitalismo, vão fazer
triunfar o grande produtor, o grande comerciante, que vai eliminando todos os
concorrentes menores. O Super
Mercado devora o empório do seu Manoel da esquina.A
livre concorrência absoluta, separada da Moral, a longo prazo, extingue toda a
concorrência e cria os grandes trusts e os grandes monopólios. A Livre
Concorrência Absoluta concentra todo o poder econômico nas mãos de alguns
apenas, e assim prepara o socialismo, que concentra tudo nas mãos do Estado.
Portanto, os dois pontos negativos do capitalismo são:
1) a separação entre
Economia e Moral.
2) a Livre Concorrência
Absoluta.
Esses dois erros na
economia, ambos, foram frutos amargos e péssimos da Liberdade de Religião, como
foram, a seguir, as duas causas econômicas do Socialismo:
1)-Nova York preparou
Leningrado.
2)-Wall Street
financiou o Stalinismo e o Nazismo (as duas mais importantes formas de
socialismo do século XX)
3)-Roosevelt deu o
triunfo a Stalin, em 1945.
4)-E indiretamente
algumas ideias progressistas e modernistas que prevaleceram no Concílio Vaticano
II, favoreceram o surgimento da Teologia da Libertação, que se diz filha de alguns
textos tirados do contexto do Vaticano II, como a aberrante contradição entre
letra e espírito do Concílio. O TL prioriza o espírito subjetivo do Concílio, e
não a letra, eis ai o resultado: Libertinagem e relativismo moral e social,
onde a TL justifica meios até armados para atingir seus fins: O paraíso
socialista na terra (um milenarismo estatal paternalista, pior que o milenarismo do protestantismo, que é
meritocrático).
Se o Capitalismo tem esses dois pontos negativos, ele
manteve, entretanto, dois pontos positivos:
1)-Ele continuou a admitir o direito de propriedade particular,
que é um direito natural, direito que a Igreja sempre defendeu, já o
Comunismo não.
2)-O capitalismo permite a livre iniciativa. Cada um
trabalha no que quer, onde quer e quanto quiser, coisa impossível no Comunismo.
Muitos pensam, erradamente, que o capitalismo se opõe ao
comunismo. Isso
só é verdade em parte, porque o comunismo leva ao
extremo o que deseja o capitalismo: a igualdade social e econômica. Repito: o
capitalismo é o pai do comunismo. A oposição entre eles é apenas de
grau, mas a doença, os princípios deles, são os mesmos.O Socialismo, nascido
dos erros do Capitalismo, vai atacar exatamente os dois pontos positivos que
ainda restam no Capitalismo. O Socialismo vai combater:
1)-O direito de propriedade particular,
o que faz do socialismo um sistema anti natural, essencialmente mau.
2)-Vai combater também a livre
iniciativa, ao fazer do Estado o controlador da economia, e, do
operário, apenas uma peça do sistema econômico.
Esses
dois erros essenciais do Socialismo é que vão gerar a ditadura do partido
comunista, porque o socialismo é o HIV da AIDS comunista.Da mentalidade capitalista se originou, como abortivo
monstruoso, o marxismo, ensinando que:Se a vida é para ter
riquezas, "o homem é um animal que trabalha", na estúpida definição
de homem, feita por Engels.E
se os homens são animais que trabalham, as formigas, já que elas são animais
que trabalham, as formigas seriam então humanas? Os homens poderiam então ser tratados como
animais de carga?Da mesma forma que o capitalismo normalmente gera o
socialismo, a democracia liberal gera a ditadura socialista e comunista:Porque, se todos são iguais e todos
tem que ter as mesmas oportunidades, como
se explica que uns sejam mais ricos que os outros? E se na democracia
liberal deve haver livre concorrência política, nas eleições, essa livre
concorrência política é impedida pela propaganda maciça dos candidatos mais
ricos, propaganda que afoga os candidatos mais pobres. Nas eleições
capitalistas vence quem tem mais propaganda, isto é, quem tem mais dinheiro (Bolsonaro quebrou este paradigma).Por
isso, na democracia liberal, normalmente vencem os mais ricos. No liberalismo,
político ou é rico, ou vai ficar rico.Se a democracia liberal
quer fazer a igualdade política, só se conseguirá essa igualdade política,
fazendo-se a igualdade econômica: do liberalismo nasce o comunismo.Foi
o que se constatou já na Revolução Francesa, quando os "enrajés" de
Hébert e Chaumette defenderam a igualdade econômica e social, para que fosse
realmente possível a igualdade política. E o desejo de igualdade a todo custo,
levou ao Terror. A Igualdade guilhotinou a Liberdade.
O MAL MENOR COMO SOLUÇÃO DA QUESTÃO PROPOSTA PELO INTERNAUTA FELIPE:
Como você vê, meu caro
Felipe, não se trata de escolher entre Capitalismo e Socialismo. Nem se trata
de escolher entre Liberalismo e Comunismo:
1)-Um
é causa do outro, do mesmo modo como a gripe causa a pneumonia, e um câncer de
pele, ou seja, um carcinoma não cuidado, poderá causar um câncer interno.
Nenhum câncer é bom. Entre dois males, entretanto,
havendo que escolher, deve-se "escolher o mal menor", aquele que dê mais
possibilidade de cura, o mal que permite ainda a existência de uma certa ordem
e de um certo bem.
2)-Assim, entre a
democracia liberal e a tirania comunista, é preferível a democracia liberal,
como menos má. O que não significa a aprovação de seus erros profundos, como o
ideal igualitário, a liberdade de religião, a idéia de que o poder vem do povo,
e etc.
3)-Do mesmo modo, entre
Socialismo e Capitalismo, é preferível o Capitalismo, porque permite ainda que
se tenha propriedade particular, e que se tenha liberdade econômica. Sem
esquecer os males profundos do capitalismo que vão gerar o câncer mais profundo
do socialismo. É o que explica que tantos "milionários" capitalistas
e tantos “burgueses" abastados apóiem o comunismo. Veja como sempre os
Estados Unidos apoiaram, desde o princípio, "os grandes acontecimentos que
se deram na Rússia", em 1917, como disse um presidente capitalista dos
"States".Repare a política seguida por Roosevelt, na Segunda Guerra
Mundial.
4)-O liberalismo econômico mantém
ainda alguns valores que o socialismo vai destruir, como o direito à
propriedade particular, que, como explica Leão XIII, é um direito natural, e o
direito natural à livre iniciativa, cada um trabalhando no que quiser, como
quiser e quanto quiser. Por isso, no capitalismo, a Igreja aprova o
reconhecimento do direito natural a ter propriedade particular, assim como o
direito de livre iniciativa, contra o coletivismo e o dirigismo socialista.
Entretanto, a Igreja condena, e sempre condenou, no capitalismo, a
separação entre economia e moral, típico principio liberal, como condena também
a livre concorrência absoluta e sem freio, que, de fato, acaba
com a própria concorrência, criando monopólios preparadores da socialização da
economia. Limito-me a citar um texto de Pio XI na encíclica
Quadragesimo Anno: "Católico e socialista são
termos antitéticos...Socialismo religioso, socialismo cristão, são termos
contraditórios. Ninguém pode ser, ao
mesmo tempo, bom católico e verdadeiro socialista" (Pio XI, Quadragesimo
Anno, Denzinger, 2270).Erram então os que
pensam que a Igreja apóia o socialismo, em que pesem as idéias heréticas de
Frei Betto e do ex Frei Leonardo Boff. Erram os que pensam também que a Igreja
apóia o capitalismo sem nenhuma restrição. Se a Igreja condenou o
comunismo ao ensinar que "Intrinsecamente mau é o comunismo" (Pio
XI, encíclica Divini Redemptoris), ela também sempre fez críticas ao
capitalismo.O capitalismo, como todo liberalismo, tem o grave erro de
separar a economia da moral objetiva e natural:O lucro passa a ser um
fim a ser obtido de qualquer forma. Assim como o liberalismo separou o Estado
da Igreja, assim também o capitalismo, aplicação do liberalismo à política, separou
a economia da moral. Isto é o que produz todas as injustiças do capitalismo que
os marxistas, a ala da CNBB sovietizada, e os demagogos políticos exploram para
propulsionar o socialismo.O segundo ponto
negativo do capitalismo liberal, a que aludi mais acima, é a livre concorrência
absoluta, que, ao final, elimina toda concorrência, criando oligopólios
controladores totais do mercado.O que facilita, afinal, o triunfo do
socialismo.O socialismo tem a mesma filosofia materialista e evolucionista do
comunismo: o materialismo histórico de Karl Marx.
Esperando tê-lo
atendido, me subscrevo atenciosamente,
in Corde Jesu, semper,
Orlando Fedeli.
Igreja Católica de Caráter Liberal (?)
POR *PROF. FELIPE
AQUINO - 18 DE OUTUBRO DE 2010
Pontos essenciais sobre uma Igreja Católica Liberal:
Na Declaração de Princípios da Igreja Católica Liberal,
cita-se a seguinte declaração de São Vicente de Lerins:
“Afirmemos aquilo em que se tem
acreditado em todas as partes, sempre e por todos, porque isso é verdadeiro e propriamente Católico”.
E também outra de Santo Agostinho que diz:
“A idêntica coisa que agora chamamos Religião Cristã,
existiu entre os antigos e nunca faltou desde os começos da raça
humana até à vinda de Cristo em carne, desde cujo momento a verdadeira religião
que já existia, começou a chamar-se Fé Cristã”.
No decorrer da História do Cristianismo, encontramos sempre duas
tendências:
1)-Uma atitude mais estreita,
limitada e ortodoxa, que sustenta somente certas crenças e doutrinas
estreitamente definidas, derivadas geralmente das escrituras ou de
opiniões de algum Padre da igreja ou teólogo particular. Esta primeira atitude costuma vir
acompanhada de intolerância, condenação e perseguição aos que pensam de forma
diferente. Tem a tendência a converter-se em dogmatismo estreito e em uma
interpretação literal e materialista que gradualmente
impede toda a nova visão e amplitude da verdade, que conforme
Tomás de Aquino, é maior que nossa inteligência condicionada.
2)-Uma tendência “Liberal”, mais
aberta, disposta a aceitar o que concorde com o sentido comum e a intuição,
incluindo os ensinamentos de outras religiões e filosofias. A
segunda atitude é de tolerância e de apreciação de outros pontos de vista e com
frequência tende a extrair de diversas fontes uma visão global que apela ao
coração humano e à razão. Esta é a que podemos chamar de uma atitude “Liberal”.
As vezes se inclina a ser sincretista, ou eclética, quer dizer, combinar diferentes doutrinas, atitude
esta que é anatematizada pela mente dogmática que não pode aceitar senão uma só
verdade ou revelação.
Estas duas tendências são manifestações de qualidades
inerentes à mente humana, e não à divina!
Uma
ensina, como diríamos, a nível terreno, para baixo, pois só percebe o que crê que é sólido e realidade na matéria e em
todas as coisas terrenas. O outro ensinamento instintivamente indica
para cima, até ao céu, percebendo uma visão ideal da unidade divina na
diversidade de toda a criação. A melhor e mais bela representação simbólica destas duas
atitudes nos é dada pelo famoso quadro de Rafael, existente na biblioteca do
Vaticano, que nos mostra em sua pintura, a Academia de Atenas: “No centro do célebre quadro, aparecem Platão e
Aristóteles, os dois grandes filósofos da antiguidade, um assinalando com o
dedo para cima, e o outro para baixo. Nos gestos simbólicos desses
Filósofos percebemos uma verdade que o grande artista quis revelar-nos: que estas qualidades são características
dadas por Deus ao homem, ambas como partes iguais para sua missão divina na
terra. Uma para explorar o mundo criado até suas últimas profundidades e a
outra para alçar-se em contemplação e devoção até Deus nas alturas como meta
final de sua peregrinação”.
Em nossa Declaração de Princípios, encontramos a seguinte
referência às escolas de pensamento com as quais a Igreja Católica liberal
pretende ter afinidade: “Ao formular este corpo de doutrina
e ética, a Igreja Católica Liberal
assume uma posição que por certos aspectos é distinta entre as Igrejas da
Cristandade. A Igreja Cristã sempre conteve dentro de
si diferentes escolas de pensamentos. Os
escolásticas medievais que sistematizaram a Teologia na Igreja do Ocidente,
seguiam os métodos de Aristóteles. Porém, os primeiros Padres da Igreja, de tendências
filosóficas, foram Platonistas. E a
Igreja Católica Liberal, sem menosprezar a claridade e precisão dos sistemas
escolásticos, tem muito em comum com as Escolas Platônica e Neo-Platônica de
tradição Cristã”.
É, pois, entre os representantes das Escolas Platônica e
Neo-Platônica de tradição Cristã, que teremos que ir buscar a nossos
precursores espirituais. Vejamos então, alguns de seus ensinamentos:
1)-Clemente de
Alexandra (150 a 215 D.C.) foi por algum tempo chefe da Escola Catequista de
Alexandria. Ensinou uma síntese da filosofia grega e as doutrinas éticas da
Cristandade.
“O
Caminho e a Verdade são portanto unos, porém, dele como a um rio permanente,
afluem correntes de todas as direções”.
Clemente falava muito
da existência de mistérios na Cristandade e de uma tradição secreta ou Gnosis
(conhecimento) transmitida desde os apóstolos: a Tiago e a Pedro lhes foi entregue a Gnosis pelo Senhor, depois da ressurreição.
Eles a entregaram ao resto dos Apóstolos e estes aos
Setenta. Os mistérios se transmitem misticamente e o que se diz, pode estar na
boca do que fala, mas não em sua voz, mas sim no seu íntimo. Cristo é o
Mestre dos Mistérios Divinos e a Igreja ensina que os “Mistérios Menores” e a
Gnosis, ou conhecimento interno, são o caminho para os “Mistérios Maiores”. Clemente foi
contemporâneo das grandes escolas Gnósticas e tal os mais modernos Doutores
Gnósticos, susteve que a Gnosis, (um conhecimento interno ou iluminação) era um
elemento essencial para a perfeição do indivíduo. Todo Cristão deveria
esforçar-se até esta meta. Seu ideal gnóstico Cristão é um dos mais nobres
Ideais que se apresentam ao homem: “Vive
uma vida de pureza, amor e beleza, como ensinou Cristo”.
2)-Orígenes, (185 – 257
D.C.) sucedeu a Clemente como chefe da Escola de Alexandria. Foi considerado como o
primeiro grande teólogo da Igreja. Ensinou doutrinas bem familiares para os
Católicos Liberais. Orígenes foi mais conhecido por seus
ensinamentos sobre a pré-existência. Pensava-se
geralmente que ele não ensinava a reencarnação como se entende agora. Porém, as
seguintes citações de seu “DE PRINCIPIS” parecem implicar que a ensinava, pelo
menos em parte:
“A
alma não tem princípio nem fim… Toda a alma entra neste mundo fortalecida pelas
vitórias ou debilitada pelas derrotas da vida anterior… seu trabalho neste
mundo, determina seu comportamento no mundo que se há de seguir a este…”
Orígenes foi também um
UNIVERSALISTA, quer dizer, acreditava que todos os homens serão “SALVOS”,
porque são divinos em essência: “Todos,
em sua devida hora e por sua própria vontade, regressarão a Deus; incluindo o
diabo e os “Anjos Caídos”, regressarão finalmente salvos e então “Deus estará
todo e em Todos” (Doutrina condenada pela igreja).
3)-Giordano Bruno (1548
– 1600) foi um monge Dominicano que teve de fugir da Itália por suas opiniões
ortodoxas, porém, finalmente foi aprisionado pela Inquisição e queimado vivo na
fogueira em 1600.
Aparece um grande lapso de tempo entre Orígenes e Bruno, porém isto não
significa que durante esse tempo não houve homens e mulheres com ideais
similares em certos aspectos, com que agora têm os membros da Igreja Católica
Liberal. Bruno foi um defensor do sistema Copérnico, porém, também ensinou que a
natureza vive e é divina. Deus é a onipenetrante da alma das coisas, o
pequeno e o grande e por sua vez imanente e transcendente:
“Sustento
que o universo é infinito… Mundos infinitos existem ao lado de nossa Terra.
Sustento, com Pitágoras, que a Terra é uma estrela como todas as demais… Que
todos estes inumeráveis mundos são um conjunto no espaço infinito…”
Ao nos aproximarmos do
Século XX encontramos que se usa a palavra “LIBERAL” para descrever certas
opiniões e doutrinas que apareceram no século XIX entre católicos e
protestantes.Tem-se
definido esta palavra como “Sustentar opiniões liberais em política e teologia”
como significando mente aberta, sem prejudicar ou se opor ao pensamento
conservador, literal ou ortodoxo.Neste sentido, tem havido e todavia há “Católicos Liberais”
dentro do rebanho Católico Romano e “Protestantes Liberais” e “Evangélicos
Liberais”, dentro das Igrejas Protestantes:Tudo quanto possa
dizer-se que há em comum entre eles é uma tendência geral a favorecer a
liberdade e o progresso. Com um sentido mais
amplo, é que nossa Igreja adotou o nome de “Católica Liberal”, sendo um
movimento de um tipo diferente ao “Catolicismo Liberal” que floresceu dentro da
Igreja Romana no século XIX. Durante o século XIX houve grupos
liberais, principalmente entre os intelectuais, na Igreja Católica Romana na
França, Itália, Alemanha e Inglaterra. Em cada país eram
algo diferentes as suas opiniões e propósitos a miúdo mesclados com diferentes
fins políticos.Todos
estes grupos e tendências liberais foram condenados pelo Papa Pio IX na
SYLLABUS ERRORUM de 1864. O “cemitério” para o movimento liberal na Igreja
Católica Romana veio com o pronunciamento da INFABILIDADE do Papa no 1.º
Concílio Vaticano em 1870.
Um movimento posterior
de índole algo diferente e mais radical, o MODERNISMO, surgiu na virada do
século e foi condenado pelo Papa em 1907. Mencionemos um grupo de teólogos
Anglo-Católicos que sob a liderança do Bispo Charles Gore tratou de entrar em
entendimentos com o pensamento moderno em princípios deste século. O Livro LUX MUNDI (LUZ DO MUNDO) de muitos autores, foi
editado pelo Bispo Gore, que gostava de apelidar este movimento da Igreja
Anglicana como “Catolicismo Liberal”. Ao
repassar a história da Cristandade, vemos que os Católicos Liberais podem
pretender e sentir pelo menos uma afinidade parcial com alguns Padres da
Igreja, místicos, filósofos, letrados e também com movimentos que têm
caracterizado a Religião Cristã através das idades, desde Platão até alguns dos
grandes Instrutores Gnósticos, tais como Clemente de Alexandria, Orígenes e
outros e até mesmo Santo Agostinho.
*Sobre Prof. Felipe Aquino: O Prof. Felipe Aquino
é doutor em Engenharia Mecânica pela UNESP e mestre na mesma área pela UNIFEI.
Foi diretor geral da FAENQUIL (atual EEL-USP) durante 20 anos e atualmente é
Professor de História da Igreja do “Instituto de Teologia Bento XVI” da Diocese
de Lorena e da Canção Nova. Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno, título
concedido pelo Papa Bento XVI, em 06/02/2012. Foi casado durante 40 anos e é
pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e
“Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da
Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil
e no exterior. Já escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas,
Loyola e Canção Nova.
Fonte:https://cleofas.com.br/igreja-catolica-liberal/
Cnbb
responde: “PODE EXISTIR SOCIALISMO CRISTÃO?”
Felizmente,
já temos no mundo uma vasta experiência socialista, de duzentos anos, que se
instalou em vários países, e deixou rastos de sangue e de atraso. Assim
conhecemos sua face. Vejamos as características de tal linha
econômico-política. Ela é invencivelmente de alma atéia. E como não consegue
convencer a população, via raciocínio, então lança mão do cerceamento da
liberdade. Esvazia tudo o que é de ordem
particular, para destinar todos os bens para a administração da sociedade.
Como, no seu entender, a livre iniciativa só visa o lucro pessoal e o egoísmo,
então o Estado é que deve planejar a produção e a distribuição dos bens.
Cabe-lhe ditar regras para a imprensa, selecionar a linha ideológica da escola,
e impor a revolução violenta, para implantar o regime dos miseráveis. Para o
triunfo do socialismo, a via democrática se mostrou um caminho inviável. Só a
coação, para eles, é que resolve. É claro que existem vários tipos de
socialismo, mas suas semelhanças são enormes. Com essa descrição também não
posso aprovar o capitalismo grosseiro. Mas este admite reformulações, deixa
espaço para os partidos de tônica social, e aceita (às vezes constrangido), em
aperfeiçoar-se pela Doutrina Social da Igreja. Gente, vamos encurtar caminhos:
a via socialista, definitivamente, não é solução. Quem é socialista propõe uma via,
comprovadamente retrógrada.
Fonte -
https://www.cnbb.org.br/pode-existir-socialismo-cristao/)
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