Existe
toda uma ciência teológica chamada Exegese pela qual se esclarecem os textos
bíblicos, com a qual há de se entender como devem ser lidos e qual o seu
objetivo profundo da narrativa. A mensagem da Escritura é essencialmente
religiosa e não científica, e dependendo do gênero literário, as narrativas são
muitas vezes expressas sob metáforas. O próprio Jesus Cristo fez uso frequente
de parábolas, como se pode ver nos Evangelhos. Vejamos então o que diz no primeiro
livro da Bíblia, o Gênesis, sobre a serpente, conforme lemos em Gen 3, 1-5:
“A
serpente era o mais astuto de todos os animais dos campos que o Senhor Deus
tinha formado. Ela disse à mulher: É
verdade que Deus vos proibiu de comer do fruto de toda árvore do jardim? A
mulher respondeu-lhe: Podemos comer do fruto das árvores do jardim. Mas do
fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus disse: Vós não comereis dele,
nem o tocareis, para que não morrais. Não,
tornou a serpente, vós não morrereis! Mas Deus bem sabe que, no dia em que dele
comerdes, vossos olhos se abrirão, e sereis como deuses, conhecedores do
bem e do mal...”
Ora, o texto em questão é metafórico e se refere ao pecado dos primeiros pais da humanidade, que cedendo à tentação diabólica cometeram um ato voluntário de soberba, por invejarem a condição divina. O ato de desobediência de Adão e Eva (é delírio dizer que tenha sido pecado sexual, já que eram esposos, e foram ordenados por Deus a se multiplicarem) foi, como já estudado pelos exegetas, direta rebelião contra Deus.
Mas por que o símbolo da serpente?
O
último livro da Bíblia, o Apocalipse (Revelação) escrito por São João Evangelista,
explica claramente quem é a serpente do Gênesis:
“Houve uma batalha no Céu. Miguel e seus anjos tiveram de combater o Dragão. O Dragão e seus anjos travaram combate, mas não prevaleceram. E já não houve lugar no Céu para eles. Foi então precipitado o grande Dragão, a primitiva Serpente, chamado Demônio e Satanás, o sedutor do mundo inteiro. Foi precipitado na Terra e com ele os seus anjos.” (Ap 12, 7-9)
Por aí se vê que a identidade da serpente do Paraíso está claramente definida como sendo Lúcifer, o anjo caído, também conhecido como Satanás, isto é, o Adversário. Longe portanto de ser um animal falante, era um anjo, um ser espiritual e portanto, sobre-humano, ou sobre natural.
Todo aquele que tem contato com a doutrina Cristã, desde criança já sabe que a cobra que tentou Adão e Eva era o demônio. Já adultos podemos entender que manifestar-se em forma de cobra, trata-se de uma metáfora textual, uma forma poética utilizada pelo autor inspirado do Gênesis, que se crê ter sido Moisés. Lúcifer pode ter se materializado diante de Eva numa forma atraente, afinal anjos não têm corpo e podem se materializar na forma que quiserem.Todo símbolo, embora objetivo, é ambíguo. A serpente é símbolo do demônio, mas foi também, símbolo de Cristo quando Moisés ergueu sua imagem de serpente de bronze num madeiro para curar os judeus picados também, por cobras no deserto. Ela é ao mesmo tempo o símbolo da astúcia maligna e da prudência:
"Sede mansos como as pombas e prudentes como as
serpentes" (Mateus 10,16)
A
pomba é símbolo de mansidão e também da estupidez, assim nos diz a Escritura em
Sofonias 3,1:
“Ai da
cidade provocadora, que depois de ter sido resgatada, fica estúpida como uma
pomba!”
A serpente
tem a língua bifurcada, simbolizando ser a personificação do pai da mentira,
que sempre apresenta-se com meias verdades. A serpente também é sorrateira,
rápida e venenosa, em fim, é o animal que mais se assemelha com a personalidade
traiçoeira do diabo. Pela cultura que eles tinham na época pela peçonha perigosa
e mortal das serpentes, os faziam acreditar que cobras eram do mal, assim como ainda
nos dias de hoje, por superstição, muitos acham que o “gato preto” é um animal
supostamente maligno, simples assim!
Mas como acreditar numa Cobra Falante?
Não preciso repetir que
não sou a favor de uma interpretação literal da maioria dos relatos de Gênesis
sobre a criação. Grande parte dos
relatos bíblicos, foram narrados pedagogicamente de maneira simbólica, para
formular o conceito de transgressão da ordem divina na criação. E como
todos sabemos umas das formas de se ensinar sabiamente é com alegorias.
Porém as alegorias, os “não iniciados” não
entendem, porque não dispõem das chaves de interpretações.
A Bíblia não foi feita
para se interpretar ao pé da letra (modalidade conhecida como
fundamentalismo).É preciso descobrir o que se esconde por detrás das
narrativas, e qual era a intenção do autor, ou autores sagrados. Com relação a
COBRA FALANTE, como os ateus gostam de se referir, seria difícil determinar
qual teria sido a verdadeira aparência (lembrando que o demônio era um ser
espiritual) e o sentido alegórico da tal serpente, já que não se diz muito
deste animal no antigo testamento. É preciso contextualizar para melhor
entender, que o homem da antiguidade não tinha nenhuma preocupação científica
ao fazer as narrativas, e estas, eram adaptadas a esse homem, filho de seu
tempo, para que ele entendesse a mensagem.
A bíblia, portanto, é um
livro de religião, não de ciências, e não pretendia falar cientificamente como
o mundo foi criado, mas apenas afirmar que Deus é quem criou o universo e tudo
que existe. Isso não impede a ciência de estudar e descobrir o
"como", e o quando? de forma mais precisa. Já o porquê? ou
seja, o sentido da criação, é uma questão mais filosófica e religiosa, que
científica.
Ora, para a Igreja
Católica evolução
e criação não são conceitos que se excluem, mas muito pelo contrário, pois se
completam. Este também, é o
estilo dos escritos semíticos em atribuir a Deus características humanas: ira,
vingança, necessidade de descanso (Ora
Deus que é puro espírito, precisa descansar?). Deus, sendo espírito, precisaria
moldar um homem de barro para dar origem ao ser humano? É preciso entender que
o texto é poético, composto de belas metáforas. É o estilo semita que atribui a
Deus atitudes humanas. O "barro" significa que o homem tem
sua origem terrena.
O narrador está mais
preocupado com a mensagem de fé, que com os dados de um “método científico”,
que refere-se a um aglomerado de regras básicas dos procedimentos que produzem
o conhecimento científico, quer um novo conhecimento, quer uma correção
(evolução) ou um aumento na área de incidência de conhecimentos anteriormente
existentes. Na maioria das disciplinas científicas, este método consiste em juntar
evidências empíricas verificáveis, baseadas na observação sistemática e
controlada, geralmente resultantes de experiências ou pesquisa de campo, e
analisá-las com o uso da lógica.
Para muitos autores, o
método científico nada mais é do que a lógica aplicada à ciência. Os
métodos que fornecem as bases lógicas ao conhecimento científico são: método
indutivo, método dedutivo, método hipotético-dedutivo, método dialético, método
fenomenológico, etc. Descrições embriões de métodos científicos são
encontrados em civilizações antigas, como no Antigo Egito e na Grécia Antiga,
mas só foi na sociedade islâmica, há cerca de mil anos, ou seja, bem posterior
aos escritos do livro do Gênesis, que as bases do que seria o método
científico atual foram sendo construídas, com o trabalho do cientista Ibn Al-
Haytham nos seus estudos sobre ótica, fazendo ele ser considerado por muitos
"o primeiro cientista". O método utilizado por ele já
contava com similaridades com o método de Descartes e o atual método científico
em voga, como: a observação e a pesquisa teórica anterior ao fazer o
experimento, a separação em categorias e comparar a hipótese construída de
acordo com os resultados.
A metodologia científica
se recebe o arremate final no pensamento de René Descartes, que foi posteriormente
desenvolvido empiricamente pelo físico inglês Isaac Newton. Descartes propôs
chegar à verdade através da dúvida sistemática e da decomposição do problema em
pequenas partes, características que definiram a base da atual pesquisa
científica. Desta forma, compreendendo-se os sistemas mais simples, e
gradualmente se incorporam mais variáveis, em busca da descrição do todo.O
autor sagrado, portanto, quer expressar a nossa fragilidade nas mãos de Deus
como o barro nas mãos do oleiro, que era um trabalhado de importância
fundamental na cultura judaica. Assim, sem contar com dados científicos, o
homem foi direto ao ponto: Deus, é a explicação e origem de tudo. Imagine se o
autor sagrado escrevesse:
"Deus fez o
universo através da grande explosão primordial do big-bang, e logo após através
de um processo evolutivo, surgiu o sistema solar com uma estrela de quinta
grandeza, que através de um sistema gravitacional de rotação e translação,
podemos perceber o dia e a noite. Posteriormente após o período jurássico,
aconteceu o processo evolutivo do homem, e de toda criação, até aquilo que
somos e vemos hoje...”
Ora, com uma explicação
desta natureza, para o homem daquele tempo, não teria sentido algum. Em primeiro lugar,
o povo a que se destinava naquele momento a narrativa, não iria entender
patavinas. Em segundo lugar o
objetivo da mensagem se perderia. Ficaria sua abrangência menor e
insignificante para o propósito da narração.
Apostolado Berakash – Se você
gosta de nossas publicações e caso queira saber mais sobre determinado
tema, tirar dúvidas, ou até mesmo agendar palestras e cursos em sua paróquia,
cidade, pastoral, e ou, movimento da Igreja, entre em contato conosco
pelo e-mail:
filhodedeusshalom@gmail.com
Postar um comentário
Todos os comentários publicados não significam a adesão às ideias nelas contidas por parte deste apostolado, nem a garantia da ortodoxia de seus conteúdos. Conforme a lei o blog oferece o DIREITO DE RESPOSTA a quem se sentir ofendido(a), desde que a resposta não contenha palavrões e ofensas de cunho pessoal e generalizados. Os comentários serão analisados criteriosamente e poderão ser ignorados e ou, excluídos.