A Igreja Católica
Apostólica Romana (ICAR), tem os bispos e o Papa apenas como guardiões e transmissores, credenciados
por Cristo, do depósito sagrado que receberam dos Apóstolos ( Conf. I Tim 3,15). Portanto, a fé da
Igreja é simplesmente a fé dos Apóstolos; a Palavra que os seus bispos
anunciam, há de ser aquela que os Apóstolos ensinaram por primeiro. Não se
criam novos dogmas mas explicita-se o que está contido no depósito sagrado ou
no tesouro “do qual se tiram coisas novas e velhas” (Mateus 13,52). A
autoridade dos bispos, assim entendida, pode manter viva a Palavra que os
Apóstolos trouxeram à Igreja primitiva, com uma vida tão pujante quanto a tinha
naquele tempo.Ademais, no tocante a Pedro em particular, pode-se observar o
seguinte: se Cristo o constituiu fundamento visível da sua Igreja (Mateus 16,16-19)
e se a Igreja deve perdurar indefinidamente, apesar das investidas adversárias,
é lógico que o fundamento de Pedro deverá perdurar em seus sucessores; em caso
contrário, o edifício, sem fundamento, cairia por terra.Podemos constatar que através de toda a história da Igreja, jamais e em
documento algum aparece a idéia de que a autoridade, após os Apóstolos, passou
a residir unicamente nos Livros Sagrados, até mesmo porque eles só foram
escritos tempos depois de serem vividos. Todos os dizeres dos doutores e
escritores primitivos professam que a verdade do Evangelho continua presente na
Igreja por uma tradição viva, que passou do Pai a Cristo, de Cristo aos
Apóstolos, dos Apóstolos aos seus primeiros sucessores, e depois de bispo para
bispo, iluminando os escritos sagrados que procederam dessa Tradição Oral.
Os católicos observam
que, a partir da própria Sagrada Escritura, tão cara aos protestantes, se pode
demonstrar a necessidade e a existência real da Igreja com seu magistério
assistido por Cristo. E que se os reformadores fossem coerentes consigo mesmos,
não teriam abandonado a Igreja fundada por Cristo para garantir a incolumidade
da Palavra; dizendo “não” à Igreja, expuseram as Escrituras à perda de sua
vitalidade e ao arbítrio dos homens. Em suma, se os reformadores fossem,
segundo a ICAR, conseqüentes consigo mesmos, continuariam católicos. Das páginas de
qualquer cartilhinha de escola dominical, lemos: “Os Sacramentos são os 7 ritos
pelos quais a graça do Pai, feita presente em Cristo e na Igreja, é aplicada a
cada indivíduo desde o nascer até a morte“. Para os católicos, ser cristão não
é apenas ser discípulo de Jesus, mas é ser “ramo do tronco de videira” (João
15,1-5) e membro do Corpo de Cristo (1Cor 12,12-27), isso significa: comungar
com a vida mesma do Tronco ou da Cabeça.Com a vida de Cristo em e por Cristo
Cristo, comungar com a vida do Pai, pela Graça do Espírito Santo.Já no Protestantismo,
a maneira como os católicos entendem os sacramentos é absolutamente rejeitada.
Aliás, os protestantes guardaram apenas o do Batismo e o da Eucaristia e isto
não de forma unânime, ou seja nem todas as denominações os consideram
essenciais. O matrimônio no protestantismo é um contrato que o ministro ou
pastor abençoa sem lhe atribuir o valor de sacramento.Mesmo em relação ao
Batismo e à Santa Ceia os protestantes têm conceitos um tanto vagos: apontam a
ordem explícita do Salvador, conforme dito em Mateus 28,18-20 e João 3, 3-5.O Batismo, por
exemplo, em algumas denominações protestantes, só é ministrado a jovens e
adultos que “se tenham convertido”; é um testemunho da fé e da mudança de vida
já existentes naquele que recebe o Batismo; é, portanto, mais um gesto do homem
para Deus do que um gesto GRATUITO de Deus de eleição (Não fostes vós que me
escolhestes, mas Eu que vos escolhi – João 15,16) de Deus em favor do
homem. Os luteranos e as denominações mais antigas conservaram um conceito mais
tradicional ou mais próximo do Catolicismo com relação a este sacramento.
A Santa Ceia, em caso
nenhum para os protestantes é a perpetuação do sacrifício do Calvário. Lutero
ainda admitiu a empanação ou a presença de Cristo dentro do pão consagrado;
Calvino condicionou essa real presença à fé do comungante. Zwínglio, porém,
rejeitou-a por completo. A Santa Ceia geralmente no Protestantismo é a memória
ou a recordação simbólica da última refeição de Cristo, mediante a qual os
crentes em sua fé e seu amor se unem a Cristo.Contradiz portanto o que Paulo
ensina em I Cor 10,15-18:“Falo isso a pessoas sensatas; julgai vós mesmos o que estou afirmando.
Não é verdade que o cálice da bênção que abençoamos é a comunhão do sangue de
Cristo? Acaso o pão que partimos não é nossa participação no Corpo de Cristo?
Como há somente um pão, nós, que somos muitos, somos um só corpo, pois todos
participamos de um único pão. Observai o povo de Israel: porventura os que
comem dos sacrifícios não são participantes do altar?...”Muitos perguntam por
que o Protestantismo mostra-se muito diferente do Catolicismo. Realmente a
piedade popular do fim da Idade Média se apegara demais às coisas ou aos sinais
concretos: relíquias, medalhas e outros sacramentais eram objeto de estima por
vezes excessiva, ao passo que o sentido da Eucaristia era menos compreendido e
vivido pela piedade popular; as práticas religiosas assumiam caráter mecânico,
desligadas que eram de uma perspectiva teológica mais profunda.Na teologia católica, opus operatum é toda ação sagrada eficaz pela
realização do próprio rito, independentemente dos méritos daquele que a efetua.Assim são os sete
sacramentos: algo de objetivo através deles se processa, desde que os sinais
sagrados (água, pão, vinho, óleo e palavras) sejam aplicados aos fiéis por um
ministro devidamente instituído, mesmo que este NÃO TENHA as qualidades morais
desejáveis; pois, em tais casos, é Cristo quem opera os efeitos de santificação
mediante o ministro, que é mero instrumento. É sempre Cristo quem batiza, quem
consagra o pão e o vinho no seu corpo e no seu sangue, quem absolve os pecados.Por
isto é que num hospital, quando uma criança está para morrer sem Batismo,
qualquer pessoa (mesmo um ateu!) pode batizá-la, desde que tenha a intenção de
fazer o que Cristo e a Igreja fazem no caso, e aplique água natural com as
palavras: “Eu te batizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. Assim,
os sete sacramentos não são obra nossa, mas obra de Deus nas mãos dos homens;
são os mais belos dons da misericórdia divina. Os Reformadores, entretanto, não
aceitam este conceito.
O que
temos então no final das contas de essencial que une Católicos e Protestantes
em uma só fé e esperança Cristã?
Temos duas doutrinas
baseadas no mesmo Princípio Criador: Deus, as mesmas bem-aventuranças e mesmo
emissário de salvação e libertação do Pecado: Jesus Cristo. Mas, as semelhanças
terminam aí. Cada vertente, do Catolicismo Ortodoxo até o Catolicismo
Apostólico, dos Protestantes “Clássicos” aos “Modernos”, estes últimos entre
si, e todos os anteriores, em contraposição um ao outro, NUNCA chegaram a um
denominador comum, onde entram Intrigas, poder, doutrinas, dinheiro, controle
das massas e autoridade legítima. É nisso em que sempre se baseou as divisões
nas vertentes cristãs. Nada mais, nada menos. O que tem sido
confiado nas mãos da igreja é propriedade exclusiva da igreja; este testemunho
e estas coisas não se encontram a não ser na igreja. Fora da igreja, estas
coisas não são compreendidas, e até pior, são atacadas, e às vezes ferozmente,
porque são incompreensíveis para quem não professa a fé Cristã. Por isso, Satanás
combate o que é próprio da igreja; às vezes abertamente – quando o faz pelo
lado do ateísmo, do engano ou da incredulidade. Mas, às vezes se infiltra para
combater o que é essencial, que foi confiado à igreja, de maneira ardilosa, por
meio de heresias, de confusões, para tratar de invalidar o que nos tem sido
confiado de forma Comum e que nos é essencial.As «coisas» essenciais não se
encontram em outros monoteísmos; nem sequer no próprio monoteísmo judaico, se
ficarmos somente no nível do Antigo Testamento. Certamente todo o Antigo
Testamento é revelação de Deus, revelação verdadeira. O que está nele, desde
Gênesis até Malaquias, é tudo de Deus; só que requeria ser cumprido e ser
completado no Novo Testamento.
E por isso, de forma
triste, temos que dizer que, inclusive o povo de Israel, que foi povo de Deus,
realmente escolhido por Deus para um primeiro testemunho, uma primeira parte do
testemunho, ou seja, até o próprio monoteísmo judaico por permissão
providencial de Deus ficou míope para que nós tivéssemos acesso a
UNIVERSALIDADE DA SALVAÇÃO:Romanos 11,13-15.29-32
faz parte de um complexo maior que compreende os caps. 9-11 e trata da
infidelidade de Israel e da misericórdia de Deus. A pergunta que move o apóstolo nesses três capítulos é: diante da
incredulidade de Israel, poderá Deus ainda ser considerado fiel à sua promessa
de libertar e salvar o seu povo? O cap. 11 responde: a incredulidade de
Israel é temporária; quando chegar a plenitude dos gentios, todo o Israel será
salvo (11,26).Dentro dessa temática geral, os dois trechos do texto poderiam
ser assim intitulados:
Rom 11,13-15: O
ministério aos gentios e a salvação de judeus.
Rom 11,29-32: Deus
salva tanto judeus quanto gentios pela sua misericórdia.
Versículos de 13-15: Nestes versículos, o apóstolo
dirige-se diretamente aos gentios da comunidade. O que ele afirma aos mesmos é
que o seu ministério aos gentios na verdade quer ser, simultaneamente, um
ministério aos judeus. De que maneira? Paulo responde afirmando que com a
conversão dos gentios ele procura provocar ciúmes nos judeus, na esperança de
salvar alguns deles. O ciúme provocado pelo ministério de Paulo aos gentios
pode ser explicado da seguinte maneira: os gentios reconhecem em Jesus o
Messias (= Ungido) prometido aos judeus e forniam o povo que o reverencia como
seu Redentor. Nos gentios que aderem à fé cumpre-se, pois, a promessa outrora
feita por Deus a Israel. Os cristãos passam a tomar parte das bênçãos do povo
messiânico. Nesse sentido, podem provocar ciúmes em judeus e levá-los a uma
conversão, a fim de não serem excluídos ou se excluírem da salvação oferecida.
Enquanto que no v. 14
o apóstolo vislumbra a possibilidade de provocar ciúmes e salvar alguns para a
fé em Cristo, o v. 15 é escrito a partir de uma perspectiva mais abrangente.
Agora se contrapõe a incredulidade dos judeus como povo à sua reintegração aos
que crêem. Para o apóstolo, a rejeição do Messias pelo povo judeu foi
providencial, uma vez que oportunizou o acesso dos pagãos à salvação. A
rejeição de Cristo pelos judeus, no entanto, não é definitiva para Paulo.
Ele acredita numa futura reintegração dos judeus ao povo messiânico. Esse
evento representará uma novidade tão grandiosa que equivale à vida dentre os
mortos. O sentido é que, como descrentes, os judeus podem ser comparados a
mortos para a fé em Cristo. A passagem da incredulidade para a fé equivale à
passagem de um estado de morte para outro de vida.
Versículos de 29-32: Paulo perguntara em 3.3, referindo-se
aos judeus: E daí? Se alguns não creram, a incredulidade deles virá desfazer a
fidelidade de Deus? Agora, em 11,29, ele reitera sua convicção: Porque
os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis. O apóstolo não pode
imaginar Deus sendo infiel às suas próprias promessas. A consequência é que os
judeus, mesmo que temporariamente desobedientes, não podem ser rejeitados por
Deus para sempre. A convicção de Paulo é, pois, que os mesmos serão salvos. O
motivo dado é o mesmo que justificara a salvação dos gentios: Deus usa e usará
de misericórdia para com todos. Dados um pouco mais
concretos sobre essa salvação reservada aos judeus encontram-se em Rom 11,12-25.
Paulo refere-se a uma salvação destinada à plenitude dos judeus (11,12), ou a
todo o Israel, como se expressa em 11,25. Ambas as expressões significam a
totalidade do povo eleito e sinalizam que a salvação de Deus não constitui uma
grandeza meramente individual, mas sim corporativa e social, que, a partir da
fé em Jesus, visa sanar e purificar tudo o que destrói a vivência da
solidariedade entre a humanidade. Para Paulo, essa salvação só virá depois que
haja entrado a plenitude dos gentios (11,25).
Versículos de 29-32 afirmam o que, com outras palavras, já
havia sido dito em 1.18-3.20, ou seja, que tanto judeus quanto gentios foram
desobedientes, tendo sido agraciados com a misericórdia divina. Como, porém, a
misericórdia de Deus é mediada através da fé e a maioria dos judeus permanece
incrédula, o apóstolo afirma que a misericórdia de Deus para os judeus haverá
de manifestar-se unicamente no futuro. Paulo não vê nisto nenhuma tragédia, mas
crê que o próprio Deus aproveita a incredulidade momentânea dos judeus para uma
finalidade positiva, qual seja, a de oportunizar aos gentios o acesso à
salvação.
Interessante notar que o demônio foi tão ardiloso com o Islã, que lhes
deixou o mais que pode a respeito de Jesus Cristo no Alcorão, mas lhes tirou o coração.
Eles chegaram a crer inclusive que Jesus é o filho, não o Filho de Deus, mas
nascido da virgem Maria. Os muçulmanos chegam a reconhecer certos títulos a
Jesus, embora lastimosamente sem entender o que significam. E por isso, por
outro lado, negam o conteúdo desses títulos.A ascensão de Jesus é reconhecida
pelo Islã; mas eles pensam em sua ascensão como nós podemos pensar no
desaparecimento de Enoque, que caminhou com Deus e Deus o levou, ou Elias, que
foi arrebatado ao céu em um carro de fogo. Assim, eles falam de Jesus como um
profeta que foi para o céu, da mesma maneira que foi Enoque e Elias. Mas,
segundo eles, devem retornar para morrer, porque não aceitam que Jesus é o
Filho de Deus que morreu por nossos pecados na cruz. O inimigo lhes deixou quase
tudo o que servia para que eles cressem que estavam com Deus, mas tirou-lhes a
essência, a identidade do Senhor Jesus e o essencial da obra do Senhor e do
evangelho. Para eles, a pior blasfêmia que os seus ouvidos podem ouvir é que
Jesus é o Filho de Deus.Mas para todos aquele
que carregam o nome de Cristãos, tanto Católicos, protestantes e Ortodoxos, ao
contrário, a grandeza é que Deus tem um Filho unigênito, que é o Filho de Deus,
o Senhor Jesus. E o essencial da obra do Senhor Jesus não são os seus milagres.O que a igreja
possui, nem o meio acadêmico, nem a filosofia possuem. O que foi confiado à
igreja é exclusivo; não está nas mãos do judaísmo nem do Islã, nem das outras
religiões panteístas ou politeístas, nem nas mãos da ciência, nem da filosofia,
nem da academia, nem de nenhuma ideologia. É testemunho exclusivo da igreja.
Por isso, a igreja precisa conhecer esses elementos vitais do depósito de Deus,
do testemunho da igreja, que Deus quer dar através da igreja e sua Palavra, a
todo mundo.
O que são estas “Coisas” essenciais e coisas periféricas
na Igreja ?
O que Deus revela à
igreja, ele quer que todo mundo o tenha. Deus, com toda sinceridade, quer que
todos os homens sejam salvos e venham ao pleno conhecimento da verdade. Mas os
homens não querem. Muitos foram enganados, não crêem e se opõem. A igreja deve
identificar os itens fundamentais do depósito que lhe foi confiado; porque às
vezes nos perdemos em debates, acusações e excomunhões mútuas em assuntos
periféricos e não distinguimos as coisas essenciais. E nisso, também o diabo
tem ganho uma partida para os cristãos, em nos pôr a brigar uns com os outros a
respeito das coisas periféricas, questões menores, que não são as essenciais à
nossa Salvação.Agora, a própria palavra do Senhor nos ensina que, a respeito
das coisas essenciais, devemos ser muito sérios e cuidadosos, e que devemos ser
tolerantes a respeito das coisas periféricas.O mesmo verbo «contender», pelo menos na tradução Reina-Valera, é usado
de duas maneiras. Em Romanos, capítulo 14, o apóstolo Paulo diz: «…para não
contender a respeito de opiniões porque um crê que de tudo se pode comer; outro
que é fraco só come legumes; um faz caso do dia, outro julga iguais todos os
dias». E o apóstolo nos diz que devemos receber inclusive o fraco na fé. Mas já
está na fé, no essencial da fé. «Recebamos ao fraco na fé, sem contender sobre
opiniões, porque Deus vai julgar a cada um». Deus conhece as intenções de cada
um.Mas o mesmo verbo
«contender» é utilizado de maneira contrária, mas pelo mesmo Espírito Santo, o
apóstolo Judas, parente de nosso Senhor Jesus e de Tiago. E assim como Paulo
diz: «...para não contender sobre opiniões», Judas diz: «...contendais
ardentemente pela fé que uma vez por todas foi dada aos santos». Então,
anteriormente nos detivemos um pouquinho em enfatizar a existência daquilo que
se chama «a fé que uma vez por todas foi dada aos santos», pela qual o Espírito
Santo, através do apóstolo Judas, diz-nos para contender ardentemente, enquanto
o apóstolo Paulo nos diz «quanto a opiniões, para não contender». Não contender
a respeito de opiniões; mas, contender abertamente pela fé.Ou seja, há uma diferença entre o que são coisas fundamentais, e vamos
dizer, correspondem à essência da revelação divina e do evangelho, e as coisas
que já dentro da fé permite pela amplitude de liberdade que têm os filhos de
Deus, de pesquisar, de investigar, já dentro do fundamental, algumas coisas, e
se formam escolas de opinião, mas estando todos na mesma base comum.Então, temos que
aprender a fazer diferença entre o que é fundamental, aquilo no qual os
apóstolos nos chamam a atenção. Por um lado, Paulo nos diz, para receber aquele
que o Senhor recebeu. E por outro lado, João nos diz, para não receber nem
chamar bem-vindas a determinadas pessoas que estão dizendo determinadas coisas
a respeito de Deus e de Jesus.
Não podemos confundir o que é essencial a Salvação com o que é
periférico!
E o inimigo é muito
ardiloso; ele quer chamar periférico e irrelevante ao que é extremamente sério,
e por outro lado, quer que nós coemos os mosquitos, e quer que nós engulamos os
camelos. Então, o Senhor tem que corrigir a ordem de prioridades em nossas
consciências, nos ajudar a distinguir os assuntos fundamentais; porque esses
não são só assuntos; são as palavras ensinadas pelo Espírito a respeito da
administração de Deus.
As verdades fundamentais, ou dogmas essenciais
da fé Cristã!
A palavra DOGMA possivelmente
em nossa tradução da Bíblia não a encontramos, e por isso não nos parece bíblica.
A palavra «dogma» é uma palavra bíblica; só que aparece traduzida de outras
maneiras nas Escrituras, e por isso diante de uma tradução às vezes
inadvertida, corremos o risco de tirar-lhe a importância. Quando houve, em
Jerusalém, o concílio apostólico, em Atos 15, não estava tratando somente de
questões judaicas, não estava tratando somente de assuntos periféricos, embora
eles estavessem implicados. O que estava sendo tratado era nada menos que a
essência do evangelho. Somos salvos por fé, por graça, ou a salvação depende
das obras da lei e ou da fé? e da circuncisão? Não era só se podíamos comer
galinha ou gavião não. Às vezes pensamos que
o concílio de Jerusalém se ocupou tão somente de banalidades. Não, o tema era
outro; o assunto era nada menos que a essência do evangelho. Quando eles
chegaram a uma conclusão, vocês recordam o que diz ali? «Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não lhes impor nenhuma outra
coisa necessária…». E escreveram aquela carta, e a enviaram junto a alguns
delegados deles os apóstolos Barnabé e Paulo, e acrescentaram a Silvano e a
Judas Barsabás, para que também eles, com palavras, explicassem nas igrejas o
sentido daquela carta. E então a tradução
literal é que os apóstolos foram pelas igrejas e lhes entregavam as ordenanças
que os apóstolos tinham acordado, e as igrejas eram edificadas, etc. Essa
palavra, que ali foi traduzida por «ordenanças», no contexto dos decretos de
Augusto César foi chamada «edito»; essa palavra, no original grego, é «DOGMA».Às vezes nós, em nossa
atitude anti-religiosa, nos excedemos. Está bem ser anti-religioso, ser
anti-fariseu nesse sentido; mas ser antidogmático é mais delicado, diferente. A
palavra de Deus fala de verdades fundamentais; nela não podemos tomar algumas
coisas e as deixar, como se diz, à vontade de Deus. A palavra de Deus
identifica de maneira clara e profunda algumas coisas. Por exemplo, a Palavra
diz que o que não honra ao Filho como se honra ao Pai, não tem a Deus. Isso é
uma coisa séria. «Quem não tem ao Filho, não tem ao Pai; quem nega o Filho,
nega também o Pai». Então, todo o relativo à relação do Pai e o Filho, e quem é
o Filho, são assuntos fundamentais. Quando se tratava
sobre o Filho, os apóstolos eram extremamente rigorosos. Não contemporizavam ou
se acomodavam à cultura, porque isso tem que haver com o essencial da fé. Que
Jesus Cristo é Deus com o Pai, isto é um dogma. Que Jesus Cristo é também Deus
e homem verdadeiro é um dogma. Que a morte do Senhor Jesus na cruz é
expiatória, e só na base dessa morte podemos ser salvos, é um dogma. Que a
justificação é pela fé, somente por graça e não por obras da lei, é um dogma.
São verdades fundamentais, que a igreja tem que aprender a distinguir e realçar
e insistir constantemente nelas.
1)- A Trindade
Então, queria começar
dizendo que uma primeira palavra, digamos, chave, inclusive não está na Bíblia;
mas, ao que se refere, ela sim está na Bíblia, é a palavra Trindade. A primeira
coisa da qual Deus falou, o tema central de Deus, junto com o restante, de onde
brotam e aonde retornam todas as coisas, que lhe dá o começo e o sentido de
Alfa e Ômega a todo o restante da revelação divina, é o que Deus revelou a
respeito de Si mesmo. E, por isso, estamos resumindo toda essa revelação divina
de Deus a respeito de Si mesmo, na palavra Trindade.Deus é um só Deus,
trino – Pai, Filho e Espírito Santo. O que tem relação com à Trindade de Deus é
muito fundamental. Às vezes, nós podemos pensar que essa questão da Trindade
não tem nada de prático; mas, se realmente víssemos o que significa conhecer a
Deus em Trindade, aí descobriríamos que o mais prático que existe para tudo
–para a vida da igreja, para a vida da família, para a saúde da sociedade–, o
mais prático é conhecer a Deus em Trindade, no Espírito. É quando conhecemos a
Deus, que Deus é um Deus que é amor, que o Pai é um Pai que tem um Filho e que
deu ao Filho toda a plenitude, e como o Pai tem vida em si mesmo, quis que no
Filho habitasse toda a plenitude, e que o Filho também tivesse vida em si
mesmo, como o Pai. E quando vemos que tudo o que é do Pai é do Filho e tudo o
que é do Filho é do Pai, e quando o Senhor estabelece a relação intratrinitaria
como modelo e como conteúdo da igreja, aí podemos notar que este assunto da
Trindade não é só uma indagação teológica de alguns medievais, ou do passado.O Senhor Jesus disse,
e claro que isso requer o maior desafio a todas as capacidades do homem, que
sempre ficarão limitadas; por isso necessitamos de revelação, o Senhor Jesus
disse:«…como tu, Oh Pai, em mim e eu em ti, que eles sejam um em nós». Que
frase tremenda! Sabemos de cor; mas, quando a entenderemos? «…como…» . Esse é o
modelo, «…como tu em mim e eu em ti». O que significa isso? Necessitamos da
revelação do Espírito Santo, para entender espiritualmente esse «como».Como é que o Pai é no
Filho, e o Filho é no Pai? «Que também eles», ou seja, a igreja, «sejam um».
Fala da unidade da igreja, um tema precioso nestes tempos de divisão de
igrejas; mas diz: «sejam um em nós». Esse nós da Trindade, esse nós do Pai, do
Filho e do Espírito Santo. Nada mais prático, de resultados mais práticos para
a vida da igreja, que ter uma revelação de Deus em Trindade, conhecer a Deus em
sua Trindade.O conceito Trinitário, mais que meramente teológico é extremamente
prático também para a família. De onde o marido vai aprender? De onde se
aprendem as relações fiéis, as relações justas, as relações suaves, cheias de
amor, realizadoras do outro? Onde vamos aprendê-las, se não conhecermos a Deus
em Trindade? Como uma sociedade vai aprender justiça, vai aprender
solidariedade, vai aprender misericórdia, se não tiver cristãos que conheçam a
Deus na Trindade?Então, amados, o
‘assunto’ da Trindade não é um assunto medieval ou bizantino, ou somente
teológico. Os apóstolos falaram disso. Muita porção da Palavra de Deus se
dedica a nos dizer o que Deus é e como ele é. Deus é um Deus que quis
revelar-se, como já enfatizamos, e que quis dar-se.E nesse revelar-se é que nos damos conta –a igreja– que Deus é trino,
depois que o irmão Tertuliano do século II cunhou a palavra trinitas. Isso não
quer dizer que Tertuliano inventou a trindade. Não, a palavra trinitas ele
aplicou à Trindade, à Trindade da Bíblia.( O mesmo vale para os dogmas, sobre o
Céu, inferno e Purgatório, etc...Eles não passaram a existir, ou foram criados
pelos dogmas, mas já existiam, a Igreja apenas os esclareceu a toda Igreja de
forma definitiva e irrevogável).Há outro irmão que
falou maravilhas da Trindade na igreja primitiva, e nunca mencionou a palavra
Trindade. Hoje, no seu livro puseram o título A Trindade, mas quando ele
escreveu não o chamou assim. Era um irmão chamado Novaciano, também entre o
século II e o III, um dos livros da igreja primitiva mais preciosos a respeito
da Trindade.Mas Tertuliano quando
o seguimos atentamente, está falando o que a Bíblia fala de Deus. Então, na
divindade, o Pai é Deus. Bem, isso foi muito difícil dento do contexto
Monoteísta Judaico, assim como aplicar a Deus a palavra Pai foi muito difícil
para o Islã. Israel, pelo menos, a aplica em um sentido mais suave, porque o
próprio Deus se apresentava como um pai a Israel; às vezes, também como um
marido. Assim, quanto à divindade do Pai, não houve maior problema dentro do
contexto monoteísta.Mas a própria
confissão da igreja é a divindade do Filho junto com a do Pai. O Filho é Deus
com o Pai. Que, antes da fundação do mundo, o Verbo estava com Deus e era Deus,
e todas as coisas foram feitas por meio dele e que sem ele nada do que foi
feito se fez. Que o Filho é Deus com o Pai - essa é a própria confissão da
igreja. É a igreja que sustenta a confissão da divindade do Filho de Deus.Houve
épocas onde isto foi combatido terrivelmente. Antes, durante e depois do
concílio de Nicéia, onde se proclamou abertamente a divindade do Filho, houve
ataques imperiais, teológicos, confusões de dentro, repressões de fora.Nosso irmão Atanásio de Alexandria, que foi um baluarte na época para
confessar o que a igreja confessa a respeito da divindade do Filho, teve que
sair cinco vezes exilado, teve que esconder-se entre os monges do deserto e
escrever cartas escondidas aos irmãos, porque Satanás estava tratando de apagar
essa grande verdade do coração da igreja: o Filho de Deus é Deus com o Pai, e
aquele que não honra o Filho como o Pai, também não tem o Pai.Em tempos de ambigüidade e astúcia, Satanás se esconde, mas o Espírito
Santo discerne; o Espírito Santo foi chamado para que abra os olhos da igreja.
E a serpente apresenta outro Jesus, outro evangelho e outro espírito. E Paulo
diz aos santos, lá em Corinto: «Mas temo que vocês estejam tolerando em
demasia. Vem alguém apresentando a outro Jesus, outro espírito, outro evangelho
e vocês o toleram».Como vocês vão
tolerar se lhes falam de outro Jesus, se a serpente quer distorcer a verdade
sobre o Senhor Jesus? Primeiro, quanto a Sua divindade ou a Sua humanidade, ou
quanto à relação de Sua divindade e Sua humanidade, ou na relação do Filho com
o Pai ou a Sua relação conosco, Satanás sempre procurou apresentar outro Jesus,
e hoje as livrarias estão cheias de apócrifos. Hoje em dia os apócrifos estão
em moda. Há pessoas que não lêem a Bíblia, mas leem toda literatura apócrifa e
pagã como se fosse o verdadeiro evangelho de Cristo.Então, tudo o que é
relacionado com à Trindade, o que a Palavra diz a respeito dela, é item fundamental
do testemunho da igreja.A igreja tem que confessar a divindade do Filho junto
com o Pai, tem que confessar a divindade do Espírito Santo junto com a do Filho
e do Pai. São Pedro diz que mentir ao Espírito Santo é mentir a Deus. Como o
Espírito de Deus não vai ser divino? Como Deus pode ter um Espírito que seja
algo menos que divino? Como que o próprio Espírito de Deus também não vai ser
Deus?
2)- A Encarnação do Verbo: Deus se fez Carne no puro e virgem útero de Maria!
O segundo segundo
DOGMA essencial, assim como o primeira que é A Trindade, o segundo grande dogma
que tem sido confiado à igreja, a verdade fundamental da revelação guardada
pela Igreja, é a encarnação do Verbo de Deus.O primeiro grande espetáculo
–porque não existe no universo outro maior é a Trindade. O segundo grande
capítulo, a segunda cena, o segundo grande espetáculo, é a encarnação.O Verbo de Deus, o
Verbo que estava com o Pai e era com Deus e era Deus, por meio de quem Deus fez
todas as coisas, que estava com o Pai antes da fundação do mundo, que compartilhava
com o Pai a glória, sendo o próprio resplendor dela, o Filho, que disse: «Pai
glorifica-me tu, ao teu lado, com aquela glória que tinha contigo antes que o
mundo existisse»; o que disse: «Antes que Abraão existisse, eu sou»; ele,
aquele Verbo, se fez carne, se fez um homem semelhante a nós, tentado em tudo
conforme a nossa semelhança, com espírito humano, com alma humana, com corpo
humano, perfeitamente humano, um homem verdadeiro como você e eu (exceto no pecado). Porque, se
não fosse um homem, como iria te redimir, como iria pagar o preço pelos homens
e como iria realizar a nossa humanidade, se ele não a assumiu?Mas ele disse: «Pai
por eles, a mim mesmo me santifico». Ou seja, ele se vestiu de nossa
humanidade, para conduzir a nossa humanidade à estatura de varão perfeito,
realizar as possibilidades da humanidade em sua própria encarnação, para em
seguida converter-se no pão da vida. «O pão que eu darei é a minha carne. Quem
come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e eu lhe ressuscitarei
no último dia». Mas, se ele não se fez homem, se foi só um fantasma, como
diziam os docetistas, ou alguma lenda ou mito, como estão dizendo hoje os
modernos, ou estão querendo fazer diferenças entre o Jesus histórico e o Cristo
da fé, sem confessar que Jesus é o Cristo; irmãos, sem essa grande verdade,se
destrói a fé Cristã em seu fundamento essencial.A segunda grande verdade da igreja, pela qual a igreja é igreja, e pela
qual e para a qual a igreja vive, é que o Filho de Deus, o Verbo que estava com
o Pai, fez-se homem, semelhante a nós em tudo. Cresceu como crescem os homens,
porque ele, como Deus, não tem que crescer; ele, como Deus não tem nada que
aprender. Mas, como homem, ele cresceu em estatura, cresceu em graça, cresceu
em sabedoria diante de Deus e dos homens, e pelo que padeceu, aprendeu a
obediência, e foi tentado em tudo conforme a nossa semelhança, mas sem pecado.«Quem não confessa
que Jesus Cristo é vindo em carne», diz João, «esse é o espírito do anticristo,
do qual vós ouvistes que vem, e já tem saído muitos anticristos». O anticristo
final é um personagem; mas anticristos, no plural, diz João que há muitos
espíritos de anticristo, que não confessam que Jesus Cristo é vindo em carne.Os
falsos cristos de hoje, desencarnam o Senhor Jesus, despacham a encarnação,
porque eles pretendem dizer: ‘Bom, aquele Verbo, aquele Cristo, só é chamado de
Cristo a unção que estava nesse homem, Jesus’, sem confessar que Jesus é o
próprio Cristo, mas eles dizem: ‘Não, não! Porque é como um AVATAR’, eles
dizem, ‘veio sobre um e agora vem sobre outro; mas é o mesmo’.O Senhor Jesus
ressuscitou como homem. «Um espírito não tem carne nem ossos, como vêem que eu
tenho. Têm algo de comer? Venham, comamos juntos». E comeu. «Tomam, vêem, ponha
aqui o seu dedo, ponha aqui a sua mão».«O que os nossos olhos viram, e os
nossos ouvidos ouviram, e as nossas mãos apalparam referente ao Verbo da vida».
Eles deram testemunho do Senhor Jesus Cristo em carne, como homem, depois da
ressurreição. Não só espírito. E subiu à vista deles, e os anjos disseram:
«Este mesmo Jesus…».Por que são
enganados? Muitos serão enganados, porque não conhecem a verdade. Dizem que os
maiores especialistas nos dólares falsos são os que conhecem os dólares
verdadeiros. Eles conhecem os verdadeiros, e quando vem um meio estranho,
embora nunca tenha estudado a respeito desses outros, ao compará-lo com o
verdadeiro, se dão conta que o outro é falso.Jesus Cristo como
homem, foi provado em tudo; como homem, ele venceu as provações; como homem,
ele venceu a Satanás. Por isso, Satanás, quando aparecia nas
sinagogas, estava disposto a confessar que Jesus era o Santo de Deus, o Filho
de Deus. Mas não queria dizer que veio em carne, porque foi em carne que Jesus
o venceu; em sua carne, o Senhor condenou o pecado; em sua carne, como homem,
foi que Jesus venceu a Satanás. Essa é a grande verdade da igreja. Não
há outra vida que viveu como a vida do Senhor Jesus. Esse é o testemunho da
igreja. A encarnação é um segundo ponto essencial da fé Cristã.
3) - A Expiação dos nossos pecados pelo seu sacrifício voluntário na Cruz por todos (passado, presente e os ainda não nascidos)!
Um terceiro dogma
essencial é a expiação. No coração do testemunho da igreja está a morte
expiatória por nossos pecados, do Filho de Deus, que chegou também a ser o
Filho do Homem. Deus quando Verbo, homem quando se encarnou, assumindo
integralmente a nossa natureza humana, só que sem pecado. E, logo depois de ser
seriamente provado, e tendo vencido, tendo recebido do Pai a aprovação, no
batismo, no monte da transfiguração e na ressurreição, Deus demonstrou que esse
é seu Filho amado. «Este é meu Filho amado no qual tenho contentamento, a ele
ouvi».Deus o vindicou como
Filho de Deus na ressurreição, depois de morrer uma morte expiatória. A
expiação é grande tema central das escrituras velho e neotestamentárias, portanto, é matéria relevante e essencial à Salvação. Quando você vê o
tabernáculo, o que estava no Lugar Santíssimo, no centro do Lugar Santíssimo,
era a arca do testemunho, e ainda por cima, o propiciatório. Do que ela nos
fala? Da pessoa e obra fundamental do Senhor Jesus. O ouro por dentro e por
fora da arca, e a madeira da arca, fala-nos da pessoa divina e humana do Senhor
Jesus. O ouro, por dentro, fala-nos de sua identidade eterna como Filho de
Deus; porque o ouro representa a natureza divina. E ele, antes da fundação do
mundo, estava com o Pai, e portanto, dentro da arca. A sua identidade mais
íntima é a de Filho de Deus.Há um homem, um só
mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem; que viveu, morreu,
ressuscitou e ao mesmo tempo glorificado para nossa Salvação. Em cima da arca,
estava o propiciatório, onde se fazia propiciação ou expiação, onde se derramava
o sangue do cordeiro.
Essas são as três primeiras grandes "verdades
dogmáticas" (imutáveis) da igreja!
1)- Jesus como Filho
de Deus, divino como o Pai, segunda pessoa da Trindade divina.
2)-Feito homem,
provado em tudo, mas sem pecado.
3)- Glorioso, e morto
na cruz por nossos pecados.
Quando o apóstolo
Paulo recordava à igreja em Corinto, os primórdios do evangelho, ele lhes diz:
«Declaro-vos, irmãos, o evangelho que vos preguei, no qual recebestes, e no
qual também permaneceis. Pelo qual também sois salvos se o retiverdes tal como
vo-lo tenho anunciado, se é que não crestes em vão». Então, Paulo lhes diz:
«Declaro-vos este evangelho…». E começa a declarar a essência do evangelho.
Fundamento; não há outro fundamento. E a primeira palavra que diz é: «Cristo».
E a segunda palavra diz: «morreu por nossos pecados, conforme as Escrituras e
foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia conforme as Escrituras e
apareceu…».Paulo diz que essa é a essência do evangelho; a primeira coisa que
ele ensinou. Esse era o fundamento que ele, como perito arquiteto, colocava na
igreja. Cada irmão deve estar fundamentado sobre esse fundamento: Quem é o
Filho de Deus, a sua pessoa divina e humana, e primeiramente a sua morte
expiatória. Então, agora sim vem a ressurreição, agora sim vem a ascensão.
4)- A justificação pela fé e já não mais pelas
OBRAS DA LEI (aqueles 613 mandamentos da lei de Moisés)! Mas não se salvará aquele(a) que não pratica as OBRAS DA FÉ (conf. Mateus 25,35-45)!
Então, de sua morte e da
expiação, deriva-se outra grande verdade que é a justificação pela fé e obras
da fé as quais Deus preparou de antemão para que andássemos nela, conforme foi
assinado acordo entre Católicos e Luteranos baseados na passagem abaixo depois
de séculos de embates teológicos: “Mas Deus, que é riquíssimo em
misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, Estando nós ainda mortos em
nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos),E
nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais,
em Cristo Jesus; Para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da
sua graça pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus. Porque pela graça
sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das
obras, para que ninguém se glorie; Porque
somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus
preparou para que andássemos nelas.”(Efésios 2,4-10).Expiação e
justificação pela fé e obras da fé são as grandes verdades dogmáticas da
igreja. Claro que também, junto com a morte, está a ressurreição. A
ressurreição integral, com espírito, alma e corpo, do Senhor Jesus. Ele não
ressuscitou só em espírito. Hoje em dia, alguns enfatizam que ele se tornou
espírito, como se ele tivesse desaparecido como homem. Mas ele é homem, ele
ressuscitou como homem. Inclusive quis conservar as cicatrizes, para que não
houvesse dúvida. «De onde tem estas feridas? Com elas fui ferido na casa dos
meus amigos». Ele conservou as suas cicatrizes. Ele já sabia que Tomé ia dizer
isto: «Se não colocar o meu dedo em suas chagas, não vou crer». Então,
conservou-as, como uma grande honra.Aí está a essência: Você
tem ressurreição, ascensão, derramamento do Espírito. Essas são grandes
verdades dogmáticas essenciais, e de cada uma dessas verdades, a igreja obtém
imensos benefícios.
As Sete festas de Israel, como diz Paulo aos Colossenses,
eram sombras de Cristo, mostravam algum aspecto fundamental de Cristo:
1)- A páscoa mostrava
a Cristo crucificado;
2)- Os ázimos, a
Cristo repartido;
3)- As primícias, a
Cristo ressuscitado;
4)- Pentecostes, ao
Espírito de Cristo derramado;
5)- As trombetas, a Cristo
anunciado, pregado aos gentios, crido no mundo, o testemunho da igreja,
6)- A festa da
expiação, Cristo advogado, à mão direita do Pai, intercedendo por nós.
7)- E então, a festa
final, a do reino, a das cabanas ou tabernáculos, Sucote, Cristo voltando,
estabelecendo o reino do Pai.
As grandes verdades a
respeito de Cristo; esse é o tema da igreja, é o gozo da igreja, é a comida da
igreja. Agora sim podemos falar da igreja. Mas antes, ainda não. Até não chegar
ao século XVI, o Espírito Santo não tinha enfatizado o assunto da igreja. Se
você olhar para a história dos temas que o Espírito Santo enfatizou, vai notar
que ele seguiu uma ordem sistemática.
O que os Cristãos dos três ou quatro primeiros séculos acreditavam e pregavam?
De muitas coisas, mas
o assunto principal que o Espírito Santo os tinha embebido era: Quem é Jesus?
Que relação tem Jesus com o Pai? É de outra substância ou é da mesma
substância? É consubstancial ou é parecido? Isso era o que eles queriam saber,
e pesquisavam as Escrituras em oração. E de repente saltavam das Escrituras as
palavras do próprio Deus a respeito de seu Filho e do próprio Filho a respeito
de si mesmo, e do Espírito pelos profetas e apóstolos sobre o Filho. Quem era o
Filho? Esse era o tema da igreja nos primeiros quatro séculos. Depois que já
tinha ficado claro que o Filho era tão Deus como o Pai, então agora o assunto
era: É também homem? Como se relaciona a sua divindade e a sua humanidade? São
duas naturezas na mesma pessoa, ou são duas pessoas? Ou é metade Deus e metade homem?
Esses eram os assuntos deles. E se atrasaram vários séculos, até o final da
época patrística. O último dos patrísticos foi João Damasceno. A cristologia
era ainda o seu tema, até o século VIII.Depois, na Idade
Média, no século X, começou o assunto da expiação a ser trazido outra vez pelo
Espírito Santo. Os apóstolos tinham falado de maneira clara, mas no início da
Idade Média não estava bem esclarecido pela teologia por que Jesus Cristo tinha
morrido. Quando lemos o Novo Testamento, é claro. Mas depois de dez anos de
história da igreja, ainda um grande teólogo chamado Pedro Abelardo declarava que
o Senhor Jesus morreu na cruz para nos dar exemplo de martírio, para nos dar
exemplo que nós também temos que nos deixar ser morto por Deus. Será que é para
isso que o Senhor Jesus morreu na cruz? Claro que isso também está incluído,
mas, seria esse o ponto principal ? Hoje, há coisas que nos parecem uma
loucura, tais como quando os teólogos espanhóis discutiam se os indígenas e os
negros tinham alma, apesar de não esquecermos que tivemos grandes testemunhos
de Santos Negros na história da Igreja. Alguém poderia pensar: meu Deus, era
isto que discutíamos teólogos? Exatamente, claro que não era somente isto, mas
perdia-se muito tempo nestas discussões irrelevantes. Pior ainda eram os
bizantinos discutindo quantos anjos cabiam na ponta de uma agulha, ou de que cor
eram os olhos da virgem Maria? Paralelo a isto esfriava-se a fé das massas. Os
muçulmanos aproveitaram-se desta oportunidade histórica oferecida a eles, e acabaram por tomar e impor pela força sua religião em todo o império oriental e parte do ocidente com muita facilidade. Realmente satanás nos
distrai com as coisas desnecessárias e nos tira o essencial. Então, na Idade
Média, por fim o Senhor levanta o grande Anselmo de Canterbury, que escreveu a
obra por que Cristo morreu. E aí começa a trazer luz outra vez do que sempre esteve
na Bíblia, mas que lhes tinha desaparecido.Por fim, começaram a pensar que ele
tinha morrido para expiar os nossos pecados, e procuraram entender a expiação.
Agora sim, veio a tona o grande tema da expiação, verdade fundamental da Carta
de São Paulo aos Romanos. E qui vale a pena colocar o acordo Teológico entre
Católicos e os Luteranos sobre este tema de natureza essencial para os Cristãos
que na realidade é um desdobramento mais detalhado sobre as decisões do grande
Concílio de Trento!
5)- A Igreja (da fé pessoal para a fé eclesial: Creio, porque antes nós cremos)!
Agora sim, depois da época da Reforma, quando já ficou claro quem é salvo e quem está a caminho da condenação, agora sim se pode falar da igreja, agora sim o Espírito Santo pode-se começar a falar da natureza da igreja, da inclusividade da igreja, do corpo de Cristo. E o movimento da visão da igreja foi introduzido na história da igreja pelo Espírito Santo. Nos século XVIII e XIX, XX e XXI, o Espírito Santo está levando a igreja a compreender-se a si mesma, mas à luz da salvação, à luz de Cristo. Ou seja, a eclesiologia não é o primeiro capítulo, é o penúltimo. O último é a escatologia, as últimas coisas.Novo céu, nova terra, essa síntese que começa por: «Cristo em vós, a esperança da glória». Aí sim, chegamos à escatologia, a esperança, a bendita esperança, uma mesma esperança, «a esperança de glória».Agora sim, depois do reino, temos a eternidade, o propósito eterno de Deus. Essas são palavras chaves que não devemos esquecer dentro do depósito de Deus. Dentro do conselho de Deus, há assuntos essenciais que têm uma ordem lógica, uma ordem espiritual, que um é o que te leva ao outro. E assim, o Espírito Santo, conforme a promessa de Jesus, conduziu à igreja. Porque ele disse:«O Espírito vos guiará a toda verdade». E o Espírito Santo, como em um parto, dirigiu esse parto da igreja que é como aquela mulher em trabalho de parto para dar a luz esse menino, esse filho varão – Cristo formando-se na igreja.O Espírito Santo foi revelando à igreja, com a mesma Palavra de sempre, a mesma Bíblia de sempre. Mas, cada vez, ele vai abrindo mais, primeiro a respeito do próprio Deus e a respeito de Cristo, porque é por meio de Cristo que conhecemos a Deus, é por meio de Cristo que conhecemos o homem, é por meio de Cristo que conhecemos a salvação e é por meio de Cristo que conhecemos a igreja e o reino e o propósito eterno de Deus.Todas estas coisas estão integradas em uma ordem lógica que vem da eternidade e que vai até a eternidade, e que assim foram ensinadas pelo Espírito Santo conforme o seu ministério, ao longo de vinte e um séculos de história eclesiástica. O Espírito Santo enfatizando estas coisas, porque era necessário que primeiro houvesse algumas coisas que fossem clareadas, para que sobre elas o Espírito pudesse nos ajudar a dar um passo mais à frente (marcha ascendente da revelação e interpretação).Então, irmãos, digamos que a história da igreja se recapitula na revelação final que a igreja do fim tem que levar. Porque diz a palavra de Deus que o melhor estar por vir pois como nas bodas de Caná Deus sempre serve o melhor vinho nofinal e não no começo.Porque os patriarcas trabalharam para nós, Moisés trabalhou para nós; Josué, os juízes, os reis, os profetas, todo o Israel trabalhou para nós. Os apóstolos trabalharam para nós.Nós estamos em cima da patrística, sobre os ombros dos escolásticos, sobre os ombros dos grandes missionários, e se enxergamos hoje mais que nossos irmãos do passado é porque estamos nos ombros de gigantes da fé.Todo o trabalho do Espírito ao longo de vinte e um séculos, era para nos passar isso. Todo esse depósito. Somos herdeiros dele. Foi mastigado por longos séculos. Às vezes, um assunto necessitava de quatro séculos de mastigação para ficar decantado no coração da igreja para poder o Espírito Santo passar a um ponto seguinte.Somos os herdeiros de toda essa riqueza, de todo esse processo. Se o depósito de Deus era grande no princípio, quando não tinha sido digerido, imagine agora que foi digerido por vinte e um séculos de história da igreja! Quantos irmãos tratando de mastigar por um lado e pelo outro, e clarear e conversar, para que fosse chegando a nós algo mais definido, mais decantado, mais claro, mais lúcido. Estamos nos ombros deles; devemos a eles gratidão e respeito, mas cada geração tem que ser fiel a sua própria missão. Nós devemos, sobre os ombros dos nossos irmãos, dar um testemunho autêntico da fé às próximas gerações também, para que elas sejam gratas a nós sabendo que tudo é graça, pois assim nos revela as escrituras:
“Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o devido crescimento...” (1Co 3,6)
Declaração
conjunta entre Católicos e Protestantes Luteranos Reformados sobre a DOUTRINA
DA JUSTIFICAÇÃO:
Preâmbulo
1. A doutrina da justificação teve importância
central para a Reforma luterana do século XVI. Era considerada o "primeiro
e principal artigo" [1] e simultaneamente "regente e juiz sobre todas
as partes da doutrina cristã" [2].A doutrina da justificação foi particularmente sustentada e defendida em sua
expressão reformatória e sua relevância especial face à teologia e à Igreja
católica romana de então as quais, por sua vez, sustentavam e defendiam uma
doutrina da justificação com características diferentes.Aqui, segundo a prospectiva reformatória, residia o cerne de todas as
confrontações. Elas resultaram em condenações doutrinais nos escritos
confessionais luteranos [3] e no Concílio de Trento da Igreja católica romana.
Essas condenações vigoram até hoje e têm efeito divisor entre as Igrejas.
2. Para a tradição luterana a doutrina da
justificação conservou essa relevância especial. Por isso, desde o início, ela
também ocupou um lugar importante no diálogo oficial luterano-católico.
3. Remetemos em especial aos relatórios "O
evangelho e a Igreja" (1972) [4] e "Igreja e justificação"
(1994) [5], da Comissão Mista católica romana/evangélica luterana
internacional, ao relatório "Justificação pela fé" (1983) [6], do
diálogo católico-luterano nos Estados Unidos, e ao estudo "Condenações
doutrinais - divisoras das Igrejas?" (1986) [7], do Grupo de Trabalho
Ecumênico de teólogos evangélicos e católicos na Alemanha. Alguns destes
relatórios de diálogo obtiveram recepção oficial. Exemplo importante constitui
o posicionamento compromissivo emitido pela Igreja Evangélico-Luterana Unida da
Alemanha, juntamente com as outras Igrejas pertencentes à Igreja Evangélica na
Alemanha, com o máximo grau possível de reconhecimento eclesiástico do estudo
sobre as condenações doutrinais (1994) [8].
4. Todos os relatórios de diálogo citados, bem como
os posicionamentos a seu respeito, revelam em seu tratamento da doutrina da
justificação, alto grau de orientação e juízos comuns. Por isso está
na hora de fazer um balanço e de resumir os resultados dos diálogos sobre a
justificação, de modo a informar nossas Igrejas, com a devida precisão e
brevidade, sobre o resultado geral desse diálogo e de dar-lhes, ao mesmo tempo,
condições de se posicionarem de modo compromissivo a respeito.
5. É isso o que pretende a presente Declaração
Conjunta. Ela quer mostrar que, com base no diálogo, as Igrejas luteranas
signatárias e a Igreja católica romana [9] estão agora em condições de
articular uma compreensão comum de nossa justificação pela graça de Deus na
féem Cristo. Esta Declaração Comum (DC) não contém tudo o que é ensinado
sobre justificação em cada uma das Igrejas, mas abarca um consenso em verdades
básicas da doutrina da justificação e mostra que os desdobramentos distintos
ainda existentes não constituem mais motivo de condenações doutrinais.
6. Nossa DC não é uma
exposição nova e independente, ao lado dos relatórios de diálogo e documentos
já existentes, nem pretende, muito menos, substitui-los. Ela se reporta, antes,
a esses textos e sua argumentação.
7. Assim como os próprios diálogos, também esta DC
se baseia na convicção de que uma superação de questões controversas e de
condenações doutrinárias até agora vigentes não minimiza as divisões e
condenações nem desautoriza o passado da própria Igreja. Repousa, porém, sobre
a convicção de que no decorrer da história nossas Igrejas chegam a novas
percepções e de que ocorrem desdobramentos que não só lhes permitem, mas ao
mesmo tempo também exigem, que as questões e condenações divisoras sejam
examinadas e vistas sob uma nova luz.
I. A mensagem bíblica da justificação
8. Fomos levados a essas novas percepções por nossa
maneira conjunta de escutar a palavra de Deus nas Escrituras Sagradas. Juntos
ouvimos o evangelho de que "Deus amou o mundo de tal maneira que deu Seu
Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida
eterna" (Jo 3, 16). Esta Boa Nova é exposta de diferentes maneiras nas
Escrituras Sagradas. No Antigo Testamento ouvimos a palavra de Deus sobre a
pecaminosidade humana (cf. Sl 51, 1-5; Dn9, 5 s.; Ecl 8, 9 s.; Esd 9, 6 s.) e
sobre a desobediência humana (cf. Gn 3, 1-19; Ne 9, 16 s.26), bem como sobre a
justiça (cf. Is 46, 13; 51, 5-8; 56, 1 [cf. 53, 11]; Jr 9, 24) e o juízo de
Deus (cf.Ecl 12, 14; Sl 9, 5 s.; 76, 7-9).
9. No Novo Testamento os temas "justiça"
e "justificação" são abordados de maneira diferenciada em Mateus (cf.
5, 10; 6, 33; 21, 32), em João (cf. 16, 8-11), na Epístola aos Hebreus (cf. 5,
13; 10, 37 s.) e na Epístola de Tiago (cf. 2, 14-26). [10] Também nas cartas
paulinas o dom da salvação é descrito de diferentes modos, entre outros como
"libertação para a liberdade" (Gl 5, 1-13; cf. Rm 6, 7), como
"reconciliação com Deus" (2 Cor 5, 18-21; cf. Rm 5, 11), como
"paz com Deus" (Rm 5, 1), como "nova criação" (2 Cor 5,
17), como "vida para Deus em Cristo Jesus" (Rm 6, 11-23) ou como
"santificação em Cristo Jesus" (cf.
1 Cor 1, 2; 1, 30; 2 Cor 1, 1). Salienta-se entre esses conceitos a
descrição como "justificação" do pecador pela graça de Deus na fé
(cf. Rm 3, 23-25), que foi destacada de maneira especial no tempo da Reforma.
10. Paulo descreve o evangelho como poder de Deus
para a salvação do ser humano caído sob o poder do pecado: como mensagem
que proclama a "justiça de Deus de fé em fé" (Rm 1, 16 s.) e que
presenteia a "justificação" (Rm 3, 21-31). Ele anuncia Cristo como "nossa
justiça" (1 Cor 1, 30) ao aplicar ao Senhor ressuscitado o que Jeremias
disse acerca do próprio Deus (cf. 23, 6). Na morte e na ressurreição de Cristo
estão enraizadas todas as dimensões de sua obra redentora, porque "nosso
Senhor foi entregue por causa de nossas transgressões e ressuscitou por causa
de nossa justificação" (Rm 4, 25). Todos os seres humanos necessitam da
justiça de Deus, "pois todos pecaram e carecem da glória de Deus" (Rm
3, 23; cf. Rm 1, 18-3.22; 11, 32; Gl 3, 22). Nas cartas aos Gálatas (cf. 3, 6)
e aos Romanos (cf. 4, 3-9) Paulo entende a fé de Abraão (cf. Gn 15, 6) como fé
no Deus que justifica o pecador (cf. Rm 4, 5) e invoca o testemunho do Antigo
Testamento para sublinhar seu evangelho de que aquela justiça será imputada a
todos os que, como Abraão, confiam na promessa de Deus. "O justo viverá
pela fé" (Hab 2, 4; cf. Gl 3, 11; Rm 1, 17). Nas cartas paulinas a justiça
de Deus é simultaneamente o poder de Deus para cada crente (cf. Rm 1, 16 s.).
Em Cristo ele faz com que ela seja nossa justiça (cf. 2 Cor 5, 21). Recebemos a
justificação por Cristo Jesus, "a quem Deus propôs, em seu sangue, como
propiciação [eficaz] mediante a fé" (Rm 3, 25; cf. 3, 21-28). "Porque
pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não
de obras" (Ef 2, 8 s.).
11. Justificação é perdão dos pecados (cf. Rm 3,
23-25; At 13, 39; Lc 18, 14), libertação do poder dominante do pecado e da
morte (cf. Rm 5, 12-21) e da maldição da lei (cf. Gl 3, 10-14). Ela significa
acolhida na comunhão com Deus, já agora, mas de forma plena no reino vindouro
de Deus (cf. Rm 5, 1 s.). Une com Cristo e sua morte e ressurreição (cf. Rm 6,
5). Acontece no recebimento do Espírito Santo no batismo como incorporação no
corpo uno (cf. Rm 8, 1 s., 9 s.; 1 Cor 12, 12 s.). Tudo isso provém somente de
Deus, por amor de Cristo, por graça, pela fé no "evangelho de Deus com
respeito a seu Filho" (cf. Rm 1, 1-3).
12. As pessoas justificadas vivem a partir da fé
que provém da palavra de Cristo (cf. Rm 10, 17) e que atua no amor (cf. Gl 5,
6), o qual é fruto do Espírito (cf. Gl 5, 22 s.). Mas, visto que poderes e
ambições atribulam as pessoas crentes por fora e por dentro (cf. Rm 8, 35-39;
Gl 5, 16-21) e elas caem em pecado (cf. 1 Jo 1, 8.10), precisam repetidamente
ouvir as promissões de Deus, confessar seus pecados (cf. 1 Jo 1, 9), participar
do corpo e do sangue de Cristo e ser exortadas a viver uma vida justa em
conformidade com a vontade de Deus. Por isso o apóstolo diz às pessoas
justificadas: "Desenvolvei vossa salvação com temor e tremor; porque
Deus é quem efetua em vós tanto o querer quanto o realizar, segundo a sua
vontade" (Fl 2, 12 s.). Permanece, porém, a Boa Nova:
"Já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus" (Rm
8, 1) e nos quais Cristo vive (cf.Gl 2, 20). Por intermédio da obra justa de
Cristo haverá justificação que dá vida para todos os seres humanos (cf. Rm 5,
18).
II. A doutrina da justificação como problema
ecumênico
13. No século XVI, a interpretação e aplicação
contrastantes da mensagem bíblica da justificação constituíram uma das causas
principais da divisão da Igreja ocidental, o que também se expressou em
condenações doutrinais. Por isso, para superar a divisão na Igreja, uma
compreensão comum da justificação é fundamental e indispensável. Acolhendo
resultados da pesquisa bíblica e percepções da história da teologia e dos
dogmas, desenvolveu-se no diálogo ecumênico desde o Concílio Vaticano II uma
nítida aproximação no que diz respeito à doutrina da justificação, de modo que
a presente DC pode formular um consenso em verdades básicas da doutrina da
justificação a cuja luz as correspondentes condenações doutrinais do século XVI
não mais se aplicam ao parceiro de hoje.
III. A compreensão comum da justificação
14. O ouvir comum da Boa Nova proclamada nas
Sagradas Escrituras e, não por último, os diálogos teológicos de anos recentes
entre as Igrejas luteranas e a Igreja católica romana levaram a uma
concordância na compreensão da justificação. Ela abarca um consenso nas
verdades básicas; os desdobramentos distintos nas afirmações específicas são
compatíveis com ela.
15. É nossa fé comum que
a justificação é obra do Deus uno e trino. O Pai enviou seu Filho ao mundo para
a salvação dos pecadores. A encarnação, a morte e a ressurreição de Cristo são fundamento
e pressuposto da justificação. Por isso justificação significa que o próprio
Cristo é nossa justiça, da qual nos tornamos participantes através do Espírito
Santo segundo a vontade do Pai. Confessamos juntos: somente por graça, na
fé na obra salvífica de Cristo, e não por causa de nosso mérito, somos aceitos
por Deus e recebemos o Espírito Santo, que nos renova os corações e nos
capacita e chama para a prática das boas obras [11].
16. Todas as pessoas são chamadas por Deus para a
salvação em Cristo. Somos justificados somente por Cristo ao
recebermos essa salvação na fé. A própria fé, por sua vez, é presente de Deus
através do Espírito Santo, que atua na palavra e nos sacramentos na comunhão
dos crentes e que, ao mesmo tempo, conduz os crentes àquela renovação de sua
vida que Deus consuma na vida eterna.
17. Compartilhamos a convicção de que a mensagem da
justificação nos remete de forma especial ao centro de testemunho
neotestamentário da ação salvífica de Deus em Cristo: ela nos diz que como
pecadores devemos nossa vida nova unicamente à misericórdia perdoadora e
renovadora de Deus, misericórdia esta com a qual só podemos ser presenteados e
que só podemos receber na fé, mas que nunca - de qualquer forma que seja -
podemos fazer por merecer.
18. Por isso a doutrina da justificação, que assume
e desdobra essa mensagem, não é apenas um aspecto parcial da doutrina cristã.
Ela se encontra numa relação essencial com todas as verdades da fé, as quais
devem ser vistas numa conexão interna entre si. Ela é um critério indispensável
que visa orientar toda a doutrina e prática da Igreja incessantemente para
Cristo. Quando luteranos acentuam a importância singular desse critério, não
negam a conexão e a importância de todas as verdades da fé. Quando católicos se
sentem comprometidos com vários critérios, não negam a função especial da
mensagem da justificação. Luteranos e católicos compartilham o alvo comum de
confessar em tudo a Cristo, ao qual unicamente importa confiar, acima de todas
as coisas, como mediador uno (cf. 1 Tm2, 5 s.) pelo qual Deus, no Espírito
Santo, dá a si mesmo e derrama seus dons renovadores.
IV. O desdobramento da compreensão comum da
justificação
4.1. Incapacidade e pecado humanos face à
justificação
19. Confessamos juntos que o ser humano, no
concernente à sua salvação, depende completamente da graça salvadora de Deus. A
liberdade que ele possui para com as pessoas e coisas do mundo não é liberdade
com relação à salvação. Isto quer dizer que, como pecador, ele se encontra sob
o juízo de Deus, sendo por si só incapaz de se voltar a Deus em busca de
salvamento, ou de merecer sua justificação perante Deus, ou de alcançar a
salvação pela própria força. Justificação acontece somente por graça. Porque
católicos e luteranos confessam isso conjuntamente, deve-se dizer:
20. Quando católicos
dizem que o ser humano "coopera" no preparo e na aceitação da
justificação por assentir à ação justificadora de Deus, eles vêem mesmo nesse
assentimento pessoal um efeito da graça, e não uma ação humana a partir de
forças próprias.
21. Segundo a concepção luterana o ser humano é
incapaz de cooperar em sua salvação, porque como pecador ele resiste ativamente
a Deus e à sua ação salvadora. Luteranos não negam que o ser humano possa
rejeitar a atuação da graça. Quando sublinham que o ser humano pode tão-somente
receber (mere passive) a justificação, rejeitam com isso qualquer possibilidade
de uma contribuição própria do ser humano para sua justificação, mas não negam
sua plena participação pessoal na fé, que é operada pela própria palavra de
Deus.
4.2. Justificação como perdão de pecados e ato de
tornar justo
22. Confessamos juntos que Deus, por graça, perdoa
ao ser humano o pecado, e o liberta ao mesmo tempo do poder escravizador do
pecado em sua vida e lhe presenteia a nova vida em Cristo. Quando o
ser humano tem parte em Cristo na fé, Deus não lhe imputa seu pecado e, pelo
Espírito Santo, opera nele um amor ativo. Ambos os aspectos da ação graciosa de
Deus não devem ser separados. Eles estão correlacionados de tal maneira que o
ser humano, na fé, é unido com Cristo que em sua pessoa é nossa justiça (cf. 1
Cor 1, 30): tanto o perdão dos pecados quanto a presença santificadora de
Deus. Porque católicos e luteranos confessam isso conjuntamente, deve-se dizer:
23. Quando luteranos enfatizam que a justiça de
Cristo é nossa justiça, querem sobretudo assegurar que ao pecador, pelo anúncio
do perdão, é representada a justiça perante Deus em Cristo e que sua vida é
renovada somente em união com Cristo. Quando dizem que a graça de Deus é amor
que perdoa ("favor de Deus") [12], não negam com isso a renovação da
vida do cristão, mas querem expressar que a justificação permanece livre de
cooperação humana, tampouco dependendo do efeito renovador de vida que a graça
produz no ser humano.
24. Quando católicos enfatizam que ao crente é
presenteada a renovação da pessoa interior pelo recebimento da graça, [13]
querem assegurar que a graça perdoadora de Deus sempre está ligada ao presente
de uma nova vida, que no Espírito Santo se torna efetiva em amor ativo; mas não
negam com isso que o dom da graça divina na justificação permanece independente
de cooperação humana.
4.3. Justificação por fé e por graça
25. Confessamos juntos que o pecador é
justificado pela fé na ação salvífica de Deus em Cristo; essa salvação lhe é
presenteada pelo Espírito Santo no batismo como fundamento de toda a sua vida
cristã. Na fé justificadora o ser humano confia na promessa graciosa de Deus;
nessa fé estão compreendidos a esperança em Deus e o amor a Ele. Essa fé atua
pelo amor; por isso o cristão não pode e não deve ficar sem obras. Mas
tudo o que, no ser humano, precede ou se segue ao livre presente da fé não é
fundamento da justificação nem a faz merecer.
26. Segundo a compreensão luterana, Deus justifica
o pecador somente na fé (sola fide). Na fé o ser humano confia
inteiramente em seu Criador e Redentor e está assim em comunhão com
ele. Deus mesmo é quem opera a fé ao produzir tal confiança por sua palavra criadora.
Porque essa ação divina constitui uma nova criação, afeta todas as dimensões da
pessoa e conduz a uma vida em esperança e amor. Assim, na doutrina da
"justificação somente pela fé", a renovação da conduta de vida que
necessariamente se segue à justificação, e sem a qual não pode haver fé, é
distinguida da justificação, mas não é separada dela. Com isso é indicado,
antes, o fundamento do qual provém tal renovação. Do amor de Deus, que é
presenteado ao ser humano na justificação, provém a renovação da vida. A justificação
e a renovação estão ligadas pelo Cristo presente na fé.
27. Também segundo a compreensão católica a fé é
fundamental para a justificação, pois sem fé não pode haver justificação. Como
ouvinte da palavra e crente o ser humano é justificado por meio do batismo. A
justificação do pecador é perdão dos pecados e ato que torna justo através da
graça justificadora, que nos torna filhos e filhas de Deus. Na justificação as
pessoas justificadas recebem de Cristo fé, esperança e amor e são assim acolhidas
na comunhão com Ele. [14] Essa nova relação pessoal com Deus se baseia
inteiramente na graciosidade divina e fica sempre dependente da atuação
criadora de salvação do Deus gracioso, que permanece fiel a si mesmo e no qual
o ser humano pode por isso confiar. Por esta razão a graça justificadora nunca
se converte em posse do ser humano, à qual ele pudesse apelar diante de Deus.
Quando, segundo a compreensão católica, se acentua a renovação da vida através
da graça justificadora, essa renovação em fé, esperança e amor sempre depende
da graça inescrutável de Deus e não representa qualquer contribuição para a
justificação da qual pudéssemos orgulhar-nos diante de Deus (cf. Rm 3, 27).
4.4. A pessoa justificada
como pecadora
28. Confessamos juntos que no batismo o Espírito
Santo une a pessoa com Cristo, a justifica e realmente a renova. Não obstante,
a pessoa justificada durante toda a vida permanece incessantemente dependente
da graça de Deus que justifica de modo incondicional. Também ela está continuamente
exposta ao poder do pecado e suas investidas (cf. Rm 6, 12-14), não estando
isenta da luta vitalícia contra a oposição a Deus em termos de cobiça egoísta
do velho Adão (cf. Gl 5, 16;Rm 7, 7.10). Também a pessoa justificada precisa
pedir, como no Pai Nosso, a cada dia, o perdão de Deus (cf. Mt 6, 12; 1 Jo 1,
9), é chamada constantemente à conversão e ao arrependimento e recebe
continuamente o perdão.
29. Luteranos entendem isso no sentido de que a
pessoa cristã é "ao mesmo tempo justa e pecadora": ela é
totalmente justa porque Deus, por palavra e sacramento, lhe perdoa o pecado e
lhe concede a justiça de Cristo, da qual ela se apropria pela fé e a qual em
Cristo a torna justa diante de Deus. Olhando, porém, para si mesma através da
lei, ela reconhece que continua ao mesmo tempo totalmente pecadora, que o
pecado ainda habita nela (cf. 1 Jo 1, 8; Rm 7, 17.20): porque
reiteradamente confia em falsos deuses e não ama a Deus com aquele amor
indiviso que Deus como seu criador dela exige (cf. Dt 6, 5; Mt 22, 36-40). Essa
oposição a Deus é, como tal, verdadeiramente pecado. Não obstante, graças ao
mérito de Cristo, o poder escravizante do pecado está rompido: já não é
pecado que "domina" a pessoa cristã por estar "dominado"
por Cristo, com o qual a pessoa justificada está unida na fé; assim a pessoa
cristã, enquanto vive na terra, pode ao menos em parte viver uma vida em
justiça. E, a despeito do pecado, não está mais separada de Deus, porque no
retorno diário ao batismo ela, que renasceu pelo batismo e pelo Espírito Santo,
tem seu pecado perdoado, de sorte que seu pecado já não lhe acarreta condenação
e morte eterna. [15] Portanto, quando luteranos dizem que a pessoa justificada
é também pecadora e que sua oposição a Deus é verdadeiramente pecado, não negam
que, a despeito do pecado, ela está inseparada de Deus em Cristo e que seu
pecado é pecado dominado. Neste último aspecto estão em concordância com os
católicos romanos, apesar das diferenças na compreensão do pecado da pessoa
justificada.
30. Segundo a concepção católica, a graça de Jesus
Cristo concedida no batismo apaga tudo o que é "realmente" pecado, o
que é "digno de condenação" (Rm 8, 1),[16] mas que permanece na
pessoa uma inclinação (concupiscência) proveniente do pecado e tendente ao pecado. Uma vez que, conforme a
convicção católica, o surgimento dos pecados humanos sempre implica um elemento
pessoal, e como este elemento falta naquela inclinação contrária a Deus,
católicos não vêem nela pecado em sentido autêntico. Com isso não querem negar
que essa inclinação não corresponde ao desígnio original de Deus para a
humanidade nem que é objetivamente oposição a Deus e que permanece objeto de
luta vitalícia; em gratidão pela redenção por intermédio de Cristo querem
destacar que a inclinação contrária a Deus não merece o castigo de morte eterna
[17] e não separa a pessoa justificada de Deus. Quando, porém, a pessoa
justificada se separa voluntariamente de Deus, não basta voltar a observar os
mandamentos, mas ela precisa receber, no sacramento da reconciliação, perdão e
paz pela palavra do perdão que lhe é conferida por força da obra reconciliadora
de Deus em Cristo.
4.5. Lei e evangelho
31. Confessamos juntos que o ser humano é
justificado na fé no evangelho "independentemente de obras da
lei" (Rm 3, 28). Cristo cumpriu a lei e, por sua morte e
ressurreição, a superou como caminho para a salvação. Confessamos ao mesmo
tempo que os mandamentos de Deus permanecem em vigor para a pessoa justificada
e que Cristo, em sua palavra e sua vida, expressa a vontade de Deus, que
constitui padrão de conduta também para a pessoa justificada.
32. Os luteranos sustentam que a distinção e a
correta correlação de lei e evangelho é essencial para a compreensão da
justificação. A lei, em seu uso teológico, é exigência e acusação às quais está
sujeita durante a vida inteira toda pessoa, também pessoa cristã, na medida em
que é pecadora; e a lei põe a descoberto seu pecado para que na fé no
evangelho, ela se volte inteiramente para a misericórdia de Deus em Cristo, a
qual unicamente a justifica.
33. Uma vez que a lei como caminho de salvação foi
cumprida e superada pelo evangelho, católicos podem dizer que Cristo não é um
legislador à maneira de Moisés. Quando católicos acentuam que a pessoa
justificada é obrigada a observar os mandamentos de Deus, não negam com isso
que a graça da vida eterna é misericordiosamente prometida aos filhos e filhas
de Deus por Jesus Cristo [18].
4.6. Certeza de salvação
34. Confessamos juntos que as
pessoas crentes podem confiar na misericórdia e
nas promissões de Deus. Também em face de sua própria fraqueza e de muitas
ameaças para sua fé, podem basear-se - graças à morte e ressurreição de Cristo
- na promessa eficaz da graça de Deus em palavra e sacramento e, assim, ter
certeza desta graça.
35. Isto foi acentuado
de maneira especial pelos reformadores: em meio à tribulação a pessoa
crente não deve olhar para si mesma, mas inteiramente para Cristo e confiar
somente nele. Assim, na confiança na promissão de Deus, ela tem certeza de sua
salvação, mesmo que, olhando para si mesma, nunca esteja segura.
36. Católicos podem compartilhar da preocupação dos
reformadores de basear a fé na realidade objetiva da promessa de Cristo,
desconsiderando a própria experiência e confiando somente na palavra promitente
de Cristo (cf. Mt 16, 19; 18, 18). Com o Concílio Vaticano II os católicos
sustentam: crer significa confiar-se inteiramente a Deus, [19] que nos
liberta das trevas do pecado e da morte e nos desperta para a vida eterna. [20]
Neste sentido não se pode crer em Deus e, ao mesmo tempo, não considerar
confiável a promessa divina. Ninguém deve duvidar da misericórdia de Deus e do
mérito de Cristo. Mas toda pessoa pode estar preocupada com sua salvação quando
olha para suas próprias fraquezas e insuficiências. Mesmo inteiramente
consciente de seu próprio fracasso, contudo, a pessoa crente pode ter certeza
de que Deus quer sua salvação.
4.7. As boas obras da pessoa justificada
37. Confessamos juntos que boas obras - uma vida
cristã em fé, esperança e amor - se seguem à justificação e são frutos da
justificação. Quando a pessoa justificada vive em Cristo e atua na graça
recebida produz, biblicamente falando, bom fruto. Essa conseqüência da
justificação é ao mesmo tempo uma obrigação a ser cumprida pelo cristão, na
medida em que luta contra o pecado durante a vida toda; por isso Jesus e os
escritos apostólicos admoestam os cristãos a realizar obras de amor.
38. De acordo com a concepção católica, as boas obras,
tornadas possíveis pela graça e pela ação do Espírito Santo, contribuem para um
crescimento na graça de tal modo que a justiça recebida de Deus é conservada e
a comunhão com Cristo, aprofundada. Quando católicos sustentam o caráter
"meritório" das boas obras, querem dizer que, segundo o testemunho
bíblico, essas obras têm a promessa de recompensa no céu. Querem destacar a
responsabilidade do ser humano por seus atos, mas não contestar com isso o
caráter de presente das boas obras nem, muito menos, negar que a justificação
como tal permanece sendo sempre presente imerecido da graça.
39. Também entre os luteranos existe a idéia de uma
preservação da graça e de um crescimento em graça e fé. Acentuam, contudo, que
a justiça como aceitação da parte de Deus e participação na justiça de Cristo,
sempre é perfeita; mas dizem ao mesmo tempo que seu efeito na vida cristã pode
crescer. Quando vêem as boas obras da pessoa cristã como "frutos" e
"sinais" da justificação, não como "méritos" próprios, não
deixam, no entanto, de entender a vida eterna, conforme o Novo Testamento, como
"galardão" imerecido no sentido do cumprimento da promessa divina aos
crentes.
V. O significado e o alcance do consenso obtido
40. A compreensão da doutrina da justificação
exposta nesta DC mostra que entre luteranos e católicos existe um consenso em
verdades básicas da doutrina da justificação. À luz desse consenso as
diferenças remanescentes na terminologia, na articulação teológica e na ênfase
da compreensão da justificação descritas nos parágrafos 18 a 39 são
aceitáveis. Por isso as formas distintas pelas quais luteranos e católicos
articulam a fé na justificação estão abertas uma para a outra e não anulam o
consenso nas verdades básicas.
41. Com isso também as condenações doutrinais do
século XVI, na medida em que dizem respeito à doutrina da justificação,
aparecem sob uma nova luz: a doutrina das Igrejas luteranas apresentada
nesta Declaração não é atingida pelas condenações do Concílio de Trento. As
condenações contidas nos escritos confessionais luteranos não atingem a
doutrina da Igreja católica romana exposta nesta Declaração.
42. Com isso não se tira nada da seriedade das
condenações doutrinais referentes à doutrina da justificação. Algumas delas não
eram simplesmente infundadas; elas conservam para nós "o significado de
advertências salutares", que devemos observar na doutrina e na prática
[21].
43. Nosso consenso em verdades básicas da doutrina
da justificação precisa surtir efeitos e comprovar-se na vida e na doutrina das
Igrejas. A respeito existem ainda questões de importância diversificada que
exigem ulteriores esclarecimentos. Entre outras, por exemplo, a relação entre a
palavra de Deus e doutrina eclesiástica, bem como a doutrina a respeito da
Igreja, da autoridade na Igreja, de sua unidade, do ministério e dos
sacramentos, e finalmente a doutrina da relação entre justificação e ética
social. Temos a convicção de que a compreensão comum obtida oferece uma base
sólida para esse esclarecimento. As Igrejas luteranas e a Igreja católica
romana continuarão se empenhando por aprofundar a compreensão comum e fazê-la
frutificar na doutrina e na vida eclesiais.
44. Damos
graças ao Senhor por este passo decisivo rumo à superação da divisão da Igreja.
Rogamos ao Espírito Santo que nos conduza adiante para aquela unidade visível
que é a vontade de Cristo.
Notas
1) Os artigos de Esmalcalde II,
1 (Livro de concórdia: as confissões da Igreja Evangélica Luterana, 3ª
ed., São Leopoldo, Sinodal, Porto Alegre: Concórdia, 1983, pág. 312).
2) "Rector et iudex omnia
genera doctrinarum" (Edição de Weimar das obras de Lutero, 39/I, 205).
3) Note-se que uma série de
Igrejas luteranas adotaram como base doutrinária compromissiva somente a
Confissão de Ausburgo e o Catecismo Menor de Lutero. Estes escritos
confessionais não contêm condenações doutrinais referentes à doutrina da
justificação em relação à Igreja católica romana.
4) COMISSÃO MISTA NACIONAL
CATÓLICO-LUTERANA, O evangelho e a Igreja, s.d.
5) GEMEINSAME
RÖMISCH-KATHOLISCHE/EVANGELISCH-LUTHERISCHE KOMMISSION (ed.), Kirche und
rechtfertigung: Das Verständnis der Kirche im Licht der
Rechtfertigungslehre, Paderborn/Frankfurt, 1994.
6) Lutherish/Römisch-Katholischer Dialog in den USA:
Rechtfertigung durch den Glauben (1983), in: Harding MEYER, Günther
GASSMAN (eds.), Rechtfertigung im ökumenischen Dialog: Dokumente und
Einführung, Frankfurt, 1987, pp. 107-200. Em ingles: Lutherans and
Catholics in Dialogue, Minneapolis, 1985, vol. VIII.
7)
Lehrverurteilungen - Kirchentrennend?: vol. I: Karl LEHMANN,
Wolfhart PANNENBERG (eds.), Rechtfertigung, Sakramente und Amt im Zeitalter der
Reformation und heute, Friburgo/Göttingen, 1986.
8) Gemeinsame
Stellungnahme der Arnolshainer Konferenz, der Vereinigten Kirche und des
Deutschen Nationalkomitees des Lutherischen Weltbundes zum Dokument
"Lehrverteilungen - kirchentrennend?", Ökumenische Rundschau, v. 44,
pp. 99-102, 1995; incluindo os posicionamentos que servem de base a essa
resoluçao, cf. Lehrveruteilungen im Gespräch: Die ersten ofiziellen
Stellungnahmen aus den evangelischen Kirchen in Deustschland, Göttingen, 1983.
9) Na presente DC a palavra
"Igreja" reproduz a respectiva autocompreensao das Igrejas
participantes, sem que com isso se queira considerar resolvidas todas as
questoes eclesiológicas a ela associadas.
10) Cf. Relatório de Malta nn. 26-30;
Rechtfertigung durch den Glauben, nn. 122-147. Por incumbencia do diálogo sobre
a justificaçao nos EUA, os testemunhos neotestamentários nao-paulinos foram
examinados por John REUMANN, Righteousness in the New Testament, com reaçoes de
Joseph A. FITZMEYER e Jerome D. QUINN (Filadélfia/Nova Iorque, 1982), pp.
124-180. Os resultados deste estudo estao compilados no relatório de diálogo
Justification by Faith[em alemao: Rechtfertigung durch den Glauben], nos
nn. 139-142.
11) Cf.
"Alle unter einem Christus", n. 14, in: Dokumente wachsender
Übereinstimmung, vol.I, pp. 323-328.
12) Cf. WA 8,
106.
13) Cf. DS
1528.
14) Cf. DS
1530.
15) Cf. Apologia da Confissao de
Ausburgo II, 38-45.
16) Cf. DS
1515.
17) Cf. DS
1515.
18) Cf. DS
1545.
19) Cf. DV 5.
20) Cf. DV 4.
21)
Lehrverurteilungen - Kirchentrennend?, 32.
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