Diversas vezes, nos
últimos meses, o papa Francisco defendeu explicitamente a doutrina da Igreja
que rejeita a contracepção artificial. Muitos
liberais se disseram “decepcionados”, porque esperavam que Francisco fosse mais
“progressista”.
Também recentemente,
o mesmo papa Francisco defendeu o controle natural e responsável da natalidade,
afirmando: “Alguns acham que, para ser bons católicos, precisam ser como
coelhos. Não! Paternidade responsável!”. Neste caso, foram os conservadores que se
escandalizaram, porque esperavam que Francisco fosse mais “tradicionalista”.
Francisco não falou absolutamente nada que já não fosse
bem claro na doutrina da Igreja:
Afinal, para a
Igreja, o planejamento familiar pode e deve ser usado para manter o tamanho da
família dentro das reais possibilidades dos pais de oferecerem boas condições
de vida e formação aos filhos; e esse planejamento deve se basear em métodos naturais
e não artificiais de controle da natalidade, para manter o casamento e a
intimidade sexual dos cônjuges sempre abertos à vida, sem dissociar o prazer da
capacidade pessoal e conjugal de autodomínio e sem antepor a paixão ao amor
maduro, integral e sublime, capaz de transcender a corporeidade.
Se os católicos (e os não católicos) depositam as suas expectativas
“ideológicas” no papa, eles o fazem por sua própria conta e risco, porque não é
para satisfazer preferências humanas que um papa é papa.
De qualquer forma, é
compreensível que o tom informal usado por Francisco em sua declaração sobre os
“coelhos” tenha magoado os católicos que têm famílias numerosas.Acontece que
este fato pode ser uma excelente oportunidade de amadurecimento para os
católicos!
Francisco mesmo já
declarou que se sente desconfortável com a visão idealizada que muita gente
criou a respeito dele. O papa, disse o próprio, não é uma espécie de
super-homem ou de astro pop.
“O papa é um homem que ri, que
chora, que dorme serenamente e que tem amigos, como todo mundo. Uma pessoa
normal”.
E, como toda pessoa
normal, o papa é naturalmente sujeito a cometer deslizes tipicamente humanos na
sua forma de ser e de comunicar-se, o que em nada afeta o conteúdo e a verdade
do seu magistério que, para os crentes católicos, é iluminado pelo Espírito
Santo (se é que os católicos que se dizem crentes acreditam mesmo naquilo que
dizem).
Não se trata de novidade alguma. O primeiro papa, assim
como os demais apóstolos escolhidos por Jesus, não era um homem particularmente
“impressionante” aos olhos do mundo:
Pedro era um pescador rude, grosso, ignorante, impulsivo, inconstante,
com arroubos de medo e de covardia. Nada disso, porém, era um obstáculo para a
graça de Deus, que já tinha chamado um Moisés gago e conflituoso, um Jonas
assustadiço, um Davi mulherengo e mentiroso, um Noé que se embriagava e tantas
outras pessoas que, por si mesmas, não tinham grandes condições de guiar um
povo e, muito menos, de “salvar o mundo”. É que não são esses eleitos que guiam
o povo de Deus. É o Espírito Santo através deles. Não são esses eleitos que
salvam o mundo. É Deus, e Deus parece escolher reiteradamente homens e mulheres
normais, cheios de virtudes e defeitos, para agir através deles e apesar deles.
João Paulo II, em
seus últimos anos de pontificado, era tratado pela mídia como um idoso fraco,
inchado, curvado, que babava e sofria para balbuciar as palavras. E tudo isso
era verdade. Mas era também uma maneira de dizer:
"Eu não sou um super-homem. A minha imagem não é planejada por uma
equipe de marqueteiros. Eu sou apenas um instrumento frágil da graça de
Deus".
Bento XVI teve a
coragem de se expor a um bombardeio de críticas quando reconheceu a sua
fragilidade física diante das exigências de guiar o rebanho católico e
renunciou ao papado. Para quem tivesse a boa vontade e a humanidade de entender
os seus motivos sem quatro pedras na mão, porém, ele transmitiu a mesma
mensagem de João Batista: "É necessário que Ele cresça e eu
diminua".
No fim das contas,
estes seres humanos são tão expostos quanto quaisquer outros às fraquezas
próprias da nossa condição e deixam ainda mais claro que é Deus quem age
através deles. Eles encarnam, na sua fragilidade, uma prova de fé para os que
se dizem crentes:
“Creio realmente que, por trás deste homem, existe um desígnio divino
que a razão não explica?”.
A fragilidade desses escolhidos por Deus para missões
muito maiores do que eles mesmos torna ainda mais inspiradora a sua fidelidade
a Deus apesar de tudo:
1)-O inconstante
Pedro se tornou forte a ponto de sofrer o martírio na cruz.
2)- O atlético João
Paulo II aceitou perseverante a humilhação de definhar ao vivo, diante de um
mundo incapaz de aceitar o envelhecimento, a doença e a dependência dos
cuidados do próximo.
3- Bento XVI não
fraquejou ao ceder o trono a outro pontífice, perante um mundo obcecado por
poder e ego, status e vaidade.
4)- O singelo
Francisco não deixa a sua simplicidade se amoldar aos julgamentos mundanos de
uma sociedade que não sabe lidar com a autenticidade e com a própria condição
de humanidade imperfeita.
São oportunidades adicionais para percebermos que a genuína proposta
cristã não é apenas mais espiritual e transcendente que do
mundo. A genuína proposta cristã é mais humana, também. Ou não é genuína.
Fonte: Aleteia
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