Laudato si, Povo Católico!
“Laudato si” – “Louvado seja” em
português – é a primeira encíclica totalmente escrita pelo Papa
Francisco (lembremos que a “Lumen Fidei” foi iniciada por Bento XVI) e como
todos esperavam, fala sobre ecologia. Mas, se você acha que todo católico
vai virar vegano e começar a abraçar árvores, pode aproveitar o tema
ecológico e tirar o cavalo da chuva! - “Laudato si” é um dos documentos mais lúcidos e
corajosos dos últimos tempos. Vai fundo no problema e propõe uma nova
ecologia: a Ecologia Integral. Quer saber o que é isso? Então baixe o
texto oficial da encíclica aqui e acompanhe a nossa exploração desse
documento fantástico!
O verso da figura acima é retirado do cântico
de São Francisco que dá nome à encíclica. E aí já temos uma inovação: a origem
do nome não foi o latim, mas o italiano. O santo de Assis foi a grande
inspiração do documento (Papa Francisco não escolheu seu nome a toa)
e ganhou menção especial com uma seção totalmente dedicada a ele. A outra
característica importante da encíclica é que ela não é dedicada somente aos
católicos, mas “a cada pessoa que habita neste planeta” (3).A encíclica começa com citações de outros papas, e
já no início, um discurso de Paulo VI tira a esperança dos
abraçadores de árvores:“…os
progressos científicos mais extraordinários, as invenções técnicas mais
assombrosas, o desenvolvimento econômico mais prodigioso, se não estiverem
unidos a um progresso social e moral, voltam-se necessariamente contra o homem”
- Paulo VI em discurso à FAO, em 1970.Essa é a tônica de todo o documento. O centro da
encíclica é a nova ecologia proposta por Francisco: a “Ecologia Integral, que
inclua claramente as dimensões humanas e sociais” (137). Esse, na verdade,
sempre foi o cerne da luta ecológica da Igreja. O centro deve ser o
humano e o meio-ambiente deve ser entendido como todo o contexto da realidade,
seja ele natural ou produzido pelas mãos do homem. Mas nosso Papa aprofunda bastante
a questão nos 6 capítulos do documento.
Aliás… a gente já sabe que um rascunho da encíclica
vazou e começaram a falar malucamente em “Mãe Terra”, dizer que o Papa ia
salvar as baleias, essas coisas… o povo achava que ia ser uma encíclica sobre
gnomos. Mas se você nunca viu gnomos e está mais
interessando no que nosso argentino mais querido escreveu, vamos lá!
CAPÍTULO 1 – O QUE ESTÁ A
ACONTECER EM NOSSA CASA comum?
*(a tradução está no Português de Portugal)
Esse capítulo faz um diagnóstico bastante preciso
sobre as grandes questões a serem enfrentadas e, repare, sempre ressaltando as
questões sociais envolvidas, sem se desviar de polêmicas.As Mudanças Climáticas: aqui, Francisco afirma que elas
são uma realidade global, cujos impactos inevitavelmente serão maiores entre os
mais pobres, e faz uma denúncia corajosa: “Muitos daqueles que detêm mais
recursos e poder econômico ou político parecem concentrar-se sobretudo em
mascarar os problemas ou ocultar os seus sintomas, procurando apenas reduzir
alguns impactos negativos de mudanças climáticas.”
A Questão da Água: não é só a preocupação com a
escassez, mas com a qualidade. Francisco lembra que muitas vidas são
perdidas todos os anos por conta da contaminação provocada principalmente por
grandes indústrias, e afirma que “o acesso à água potável e segura é um
direito humano essencial, fundamental e universal, porque determina a
sobrevivência das pessoas e, portanto é condição para o exercício dos outros
direitos humanos.” (30);
A Preservação da Biodiversidade: coloca a perda da biodiversidade
como consequência direta de uma intervenção humana a serviço apenas do dinheiro
e consumo. E deixa claro que não se trata apenas de um conceito, ao atentar
contra a diversidade, o homem também vai contra a beleza e perfeição da
Criação de Deus.
A Dívida Ecológica: um dos grandes momentos da
encíclica. O Papa denuncia corajosamente a “fraqueza das reações” falando
principalmente dos países desenvolvidos, ávidos consumidores que já cometeram
grandes crimes contra seus próprios ecossistemas, e que pressionam os países em
desenvolvimento por recursos, enquanto discursam sobre preservação.
Francisco sinaliza que “ao mesmo tempo cresce uma ecologia superficial ou
aparente que consolida um certo torpor e uma alegre irresponsabilidade.” (59).
CAPÍTULO 2 – O EVANGELHO DA CRIAÇÃO
Papa Francisco apresenta as bases
bíblicas da visão ecológica da Igreja, lembrando que o fato de sermos feitos à
imagem e semelhança de Deus não quer dizer que sejamos donos do universo e
possamos avacalhar toda a Criação. E explica a nossa inclinação para
isso: “a existência humana se baseia em três relações fundamentais
estreitamente coligadas: a relação com Deus, com o próximo e com a terra.
Segundo a Bíblia, essas três relações vitais romperam-se não só exteriormente,
mas também dentro de nós. Essa ruptura é o pecado” (66).
Mas se engana quem pensa que, falando essas coisas,
Francisco está colocando o homem apenas como mais uma parte da Criação. O
documento deixa clara a diferença de valor do ser humano e sua missão de
“cultivar e guardar o jardim do mundo” (67).
CAPÍTULO 3 – A RAIZ HUMANA DA CRISE
ECOLÓGICA
Este capítulo é uma crítica ao mundo tecnocrata. A
tecnologia avança, e o que o homem faz com isso? Produz mais, consome mais,
explora mais… e isso não se traduz em qualidade de vida. Ao
contrário, provoca uma cultura do descarte, do imediatismo, que dá origem
à muitas das mazelas que vemos hoje, como o abandono de idosos,
tráfico e aborto. A aposta da sociedade deve sempre ser nas pessoas:
“renunciar a investir nas pessoas para se obter maior receita imediata é um
péssimo negócio para a sociedade” (128).
Repare que aqui a crítica é muito mais voltada para
o meio social em que as pessoas vivem. Isso faz parte do conceito de
“Ecologia Integral”, que será aprofundado no próximo capítulo.
CAPÍTULO 4 – UMA ECOLOGIA INTEGRAL
Esse é o centro da novidade que o Papa Francisco
deseja que a Igreja traga à discussão ecológica. Nesse capítulo a “Ecologia
Integral” é definida como uma ecologia “que integre o lugar específico que o
ser humano ocupa neste mundo e as suas relações com a realidade que o circunda”
(15). Ou seja, não se trata apenas de natureza, mas do homem, inserido em
toda a realidade.
Francisco vai além neste conceito e fala de uma
Ecologia das Instituições, chamando atenção para como a sociedade se organiza
para garantir que todos tenham condições dignas para viver. “Se tudo
está relacionado, também o estado de saúde das instituições de uma sociedade
tem consequencias no ambiente e na qualidade de vida humana: ‘toda a lesão da
solidariedade e da amizade cívica provoca danos ambientais'” (142)- Papa Francisco – Laudato si - E, aprofundando mais ainda o conceito, Francisco
chega ao nosso cotidiano e à nossa própria relação com a realidade
que nos cerca. Afirma que precisamos entender que nós mesmos somos feitos
por Deus para podermos entender a Criação como Dom e não como posse.“A
aceitação do próprio corpo como dom de Deus é necessária para acolher e aceitar
o mundo inteiro como dom do Pai e casa comum; pelo contrário, uma lógica de domínio
sobre o próprio corpo transforma-se numa lógica, por vezes sutil, de domínio
sobre a criação”- Papa Francisco –
Laudato si
CAPÍTULO 5 – ALGUMAS LINHAS DE
ORIENTAÇÃO E AÇÃO
Esse é o momento “tiro, porrada e bomba” da
encíclica! Depois de um grande diagnóstico e aprofundamento das causas do
problema ecológico, Francisco propõe ação. E bate muito forte na forma de
discussão atual, que gera muito falatório e pouca efetividade.“As
Cimeiras (reuniões) mundiais sobre o meio ambiente dos últimos anos não corresponderam
às expectativas, porque não alcançaram, por falta de decisão política, acordos
ambientais globais realmente significativos e eficazes” (166) - Papa Francisco – Laudato si. Mas o capítulo não é apenas uma crítica à “alegre
irresponsabilidade” da comunidade internacional. A encíclica deixa claro que
estes assuntos não devem ser deixados à mercê dos interesses de mercado e
propõe um “acordo sobre os regimes de governança para toda a gama dos chamados
bens comuns globais” (174). E apela para a pressão do povo e instituições sobre
os governos, já que tantas mudanças precisam de um processo longo e claramente
não poderiam ser feitas no tempo de um mandato. Deve ser o objetivo de um
povo e não de um político.Mesmo assim, Francisco chama os políticos à
responsabilidade e à sair da lógica da eficiência e do imediatismo. Praticamente
um chamado à conversão:“Para um
político, assumir estas responsabilidades com os custos que implicam não
corresponde à lógica eficientista e imediatista atual da economia e da
política, mas, se ele tiver a coragem de o fazer, poderá novamente reconhecer a
dignidade que Deus lhe deu como pessoa e deixará, depois da sua passagem por
esta história, um testemunho de generosa responsabilidade.”- Papa Francisco – Laudato si. Mas Francisco não pára! Utilizando todo o seu
conhecimento sul-americano, critica duramente os “esquemas” utilizados hoje em
dia para “garantir” que os projetos respeitem o meio-ambiente.“A
previsão do impacto ambiental dos empreendimento e projetos requer processos
políticos transparentes e sujeitos a diálogo, enquanto a corrupção, que esconde
o verdadeiro impacto ambiental dum projeto em troca de favores, frequentemente
leva a acordos ambíguos que fogem ao dever de informar e a um debate profundo”-
Papa Francisco – Laudato si. E como se a sapatada não fosse
suficiente, lembra que a discussão sobre a ecologia não pode ser pensada
apenas como tema científico e ideológico, lembrando a todos que “a realidade é
superior à ideia”.
CAPITULO 6 – EDUCAÇÃO E
ESPIRITUALIDADE ECOLÓGICAS
Neste último capítulo, todos são convidados à uma
“Conversão Ecológica”, que faça com que nos empenhemos na solução não apenas de
questões relativas à natureza, mas principalmente às que se relacionam com
o homem e sua qualidade de vida. Além disso, deixa claro qual é o caminho
a ser seguido: a educação através da “escola, família, meios de comunicação e
catequese” (213).E, por último, chama a cada um de nós a contribuir
com a sua parte. Não por uma questão ideológica, mas entendendo que cada
pequeno passo faz parte de uma grande conversão, a exemplo do que nos ensinava
Santa Teresinha, porque “uma ecologia integral é feita também de simples gestos
cotidianos, pelos quais quebramos a lógica da violência, da exploração e do
egoísmo” (230).
FINALIZANDO
Ao final, Francisco pede que coloquemos todo esse
“mundo ferido” nas mãos de Nossa Senhora e sugere que incluamos esta nova
dimensão da “Ecologia Integral” ao nosso exame de consciência. A
encíclica, que começa com o Cântico do Irmão Sol, termina com duas
orações. Uma para para os que creem em Deus e outra para os Cristãos,
conservando o caráter universal do documento.Enfim, Povo Católico, o Papa nos pede agora uma
nova conversão e tem a inteligência de falar de ecologia envolvendo tudo o
que tem a ver com o ser humano e não apenas a questão da natureza, como todos
costumam olhar. Tem a coragem de dizer claramente que todos os países continuam
enxugando gelo por questões econômicas e de chamar atenção para os impactos que
isso traz aos mais pobres.E mais uma vez, a Igreja se coloca como ponto de
lucidez e coragem, em meio a imensa bagunça de interesses e ideologias
mundanas.
Fonte: O catequista
----------------------------------------------------------
APOSTOLADO BERAKASH: Como você pode ver, ao contrário de outros meios midiáticos, decidimos por manter a nossa página livre de anúncios, porque geralmente, estes querem determinar os conteúdos a serem publicados. Infelizmente, os algoritmos definem quem vai ler o quê. Não buscamos aplausos, queremos é que nossos leitores estejam bem informados, vendo sempre os TRÊS LADOS da moeda para emitir seu juízo. Acreditamos que cada um de nós no Brasil, e nos demais países que nos leem, merece o acesso a conteúdo verdadeiro e com profundidade. É o que praticamos desde o início deste blog a mais de 20 anos atrás. Isso nos dá essa credibilidade que orgulhosamente a preservamos, inclusive nestes tempos tumultuados, de narrativas polarizadas e de muita Fake News. O apoio e a propaganda de vocês nossos leitores é o que garante nossa linha de conduta. Sempre nos preocupamos com as questões de direito autoral e de dar o crédito a quem lhe é devido. Se por acaso alguém se sentir ferido(a) em seus direitos autorais quanto a textos completos, ou parciais, publicados ou traduzidos aqui (já que não consegui identificar e contatar alguns autores(as), embora tenha tentado), por favor, não hesite em nos escrever para que possamos fazer o devido registro de seus créditos, sejam de textos, fontes, ou imagens. Para alguns, erros de ortografia e de digitação valem mais que o conteúdo, e já invalida “todes” o texto? A falta de um “a”, de alguma vírgula, ou alguns trocadilhos, já são suficientes para não se ater a essência do conteúdo? Esclareço que levo mais tempo para escrever, ou repostar um conteúdo do que corrigi-lo, em virtude do tempo e falta de assessoria para isto. A maioria aqui de nossos(as) leitores(as) preferem focar no conteúdo e não na superficialidade da forma (não quero com isto menosprezar as regras gramaticais, mas aqui, não é o essencial). Agradeço as correções pontuais, não aquelas genéricas, tipo: “seu texto está cheio de erros de português” - Nas próximas pontuem esses erros (se puderem e souberem) para que eu faça as devidas correções. Semanalmente faço postagens sobre os mais diversos assuntos: política, religião, família, filosofia, sociologia, moral Cristã, etc. Há quem goste e quem não gosta de minhas postagens! Faz parte do processo, pois nem todos pensamos igual. Isso também aconteceu com Jesus e com os apóstolos e com a maioria daqueles(as) que assim se expõem. Jesus não disse que só devemos pregar o que agrada aos outros, mas o que precisamos para nossa salvação! Paulo disse o mesmo ao jovem bispo Timóteo (2Tm 4,1-4). Padre, seminarista, leigo católico e catequista não devem ter medo de serem contestados! Seja fiel ao Magistério Integral da igreja! Quem disse que seria fácil anunciar Jesus e seus valores? A mera veiculação, ou reprodução de matérias e entrevistas deste blog não significa, necessariamente, adesão às ideias neles contidas. Tal material deve ser considerado à luz do objetivo informativo deste blog. Os comentários devem ser respeitosos e relacionados estritamente ao assunto do post. Toda polêmica desnecessária será prontamente banida. Todos as postagens e comentários são de inteira responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente, a posição do blog. A edição deste blog se reserva o direito de excluir qualquer artigo ou comentário que julgar oportuno, sem demais explicações. Todo material produzido por este blog é de livre difusão, contanto que se remeta nossa fonte. Não somos bancados por nenhum tipo de recurso ou patrocinadores internos, ou externo ao Brasil. Este blog é independente e representamos uma alternativa concreta de comunicação. Se você gosta de nossas publicações, junte-se a nós com sua propaganda, ou doação, para que possamos crescer e fazer a comunicação dos fatos, doa a quem doer. Entre em contato conosco pelo nosso e-mail abaixo, caso queira colaborar:
filhodedeusshalom@gmail.com
+ Comentário. Deixe o seu! + 1 Comentário. Deixe o seu!
confesso que fiquei encantada com essa encíclica, achava que falava só da Amazônia e poluição...
Postar um comentário
Todos os comentários publicados não significam a adesão às ideias nelas contidas por parte deste apostolado, nem a garantia da ortodoxia de seus conteúdos. Conforme a lei o blog oferece o DIREITO DE RESPOSTA a quem se sentir ofendido(a), desde que a resposta não contenha palavrões e ofensas de cunho pessoal e generalizados. Os comentários serão analisados criteriosamente e poderão ser ignorados e ou, excluídos.