(Cardeal
Odilo Pedro Scherer - Arcebispo de São Paulo)
O ano eleitoral oferece uma ocasião privilegiada
para participar, de forma democrática, da definição dos rumos do Brasil. A
mobilização popular já levou à aprovação da “lei da ficha limpa”, que afasta de
candidaturas a cargos eletivos quem deu provas de falta de confiabilidade para
assumir cargos de responsabilidade pública. Isso representa um avanço, mas não
é suficiente. Desde junho de 2013, o Brasil assiste a uma série
de manifestações de rua, que clamam por uma política de melhor qualidade; o
“discurso das ruas” pede a atenção prioritária de governantes e legisladores
para as verdadeiras necessidades da população; aponta para a superação de certo
modo de fazer política, feita de conchavos em função de interesses de parte, ou
orientadas à perpetuação no poder – um poder que abandona o bem dos cidadãos e
se torna fim em si mesmo.
Os cristãos não podem eximir-se
de participar consciente e responsavelmente da promoção do bem do País:
O povo gosta de esportes, mas está sinalizando que
deseja mais que isso: quer ser tratado com respeito e viver com dignidade.
Apesar dos esforços já feitos, ainda há muita precariedade em serviços públicos
essenciais e desperdício, quando não o sumiço nos mecanismos da corrupção, de
recursos que deveriam ser destinados a dar melhores condições de vida ao povo. As condições de sofrimento, exclusão social,
violência e injustiça em que vivem ainda muitos brasileiros, não condizem com a
dignidade humana nem dão glória ao nome de Deus. Os cristãos, eleitores e
candidatos, precisam sentir-se profundamente interpelados a desempenhar uma
cidadania ativa para a definição dos rumos que o Brasil deverá trilhar,
orientados, certamente, pelos princípios da justiça, da dignidade humana e da
solidariedade social. Algumas pessoas sentem reações alérgicas ao ouvirem
falar em política; bem ou mal, aprenderam a identificar a política como “coisa
ruim”, na qual as pessoas decentes não se metem... É grave que se tenha chegado
a um descrédito popular tamanho em relação à política! E quando a palavra sobre
questões políticas vem de representantes da hierarquia da Igreja, inflamam-se
ânimos, sempre prontos a reivindicar que o Estado é laico e que religião e
política devem permanecer separadas. A estes últimos, vale lembrar que uma boa
interpretação da laicidade do Estado resolve essa polêmica; a Igreja Católica
não quer tomar o poder do Estado e também entende que o Estado seja laico, não
imponha a religião a ninguém e assegure a todos a liberdade de não crer, ou de
crer e de expressar publicamente as próprias convicções. Mas não se pode pretender que os cristãos,
como quaisquer outras pessoas de fé, sejam alheios à política e às causas do
bem comum. Como cidadãos, e na diversidade de convicções que movem a cidadania,
também eles têm o direito de falar e de agir conforme suas convicções,
respeitada ordem pública válida para todos. O “Estado laico” não pode ser
invocado como pretexto para a discriminação religiosa, nem para a imposição,
sobre a sociedade, de um pensamento oficial e único. O papa Francisco, na sua Exortação Apostólica
Evangelii Gaudium (A Alegria do Evangelho, 2013), fala de maneira incisiva da
dimensão social da ação da Igreja (capítulo 4º). E isso não significa apenas
promover obras de assistência social em favor dos desvalidos, sem dúvida
necessárias:trata-se de ir às implicações comunitárias e
sociais da fé cristã: “no próprio coração do Evangelho aparece a vida
comunitária e o compromisso com os outros” (nº 177).O Evangelho de Cristo, base para a fé dos cristãos,
propõe uma relação pessoal com Deus, mas também pede relações novas e coerentes
com o próximo.A resposta de fé e amor a Deus, da parte do homem, “não deveria ser
entendida como a mera soma de pequenos gestos pessoais em favor de alguns
indivíduos necessitados, uma espécie de ‘caridade por receita’, nem também como
uma série de ações destinadas apenas a apaziguar a consciência.A proposta cristã é o Reino de Deus (cf Lc 4,43);
trata-se de amar a Deus, que reina no mundo. Na medida em que ele reinar entre
nós, a vida social será um espaço de fraternidade, de justiça, de paz e
dignidade para todos. Por isso, tanto o anúncio como a experiência cristã
tendem a provocar consequências sociais” (nº 180).
Após afirmar que não se pode
limitar a religião ao âmbito privado, “apenas para preparar as almas para o
céu”, o Papa conclui:
“ninguém pode nos exigir que releguemos a religião
para a intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social e
nacional, sem nos preocupar com a saúde das instituições da sociedade civil,
sem nos pronunciar sobre acontecimentos que interessam aos cidadãos” (n 182). - Os cristãos têm muito a contribuir para o convívio social e não devem
omitir-se, nem ser impedidos de participar generosamente dessa tarefa.
Fonte:
http://www.cnbb.org.br/outros/cardeal-odilo-pedro-scherer/14207-os-cristaos-e-a-politica
------------------------------------------------------
APOSTOLADO BERAKASH: Como você pode ver, ao contrário de outros meios midiáticos, decidimos por manter a nossa página livre de anúncios, porque geralmente, estes querem determinar os conteúdos a serem publicados. Infelizmente, os algoritmos definem quem vai ler o quê. Não buscamos aplausos, queremos é que nossos leitores estejam bem informados, vendo sempre os TRÊS LADOS da moeda para emitir seu juízo. Acreditamos que cada um de nós no Brasil, e nos demais países que nos leem, merece o acesso a conteúdo verdadeiro e com profundidade. É o que praticamos desde o início deste blog a mais de 20 anos atrás. Isso nos dá essa credibilidade que orgulhosamente a preservamos, inclusive nestes tempos tumultuados, de narrativas polarizadas e de muita Fake News. O apoio e a propaganda de vocês nossos leitores é o que garante nossa linha de conduta. A mera veiculação, ou reprodução de matérias e entrevistas deste blog não significa, necessariamente, adesão às ideias neles contidas. Tal material deve ser considerado à luz do objetivo informativo deste blog. Os comentários devem ser respeitosos e relacionados estritamente ao assunto do post. Toda polêmica desnecessária será prontamente banida. Todos as postagens e comentários são de inteira responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente, a posição do blog. A edição deste blog se reserva o direito de excluir qualquer artigo ou comentário que julgar oportuno, sem demais explicações. Todo material produzido por este blog é de livre difusão, contanto que se remeta nossa fonte. Não somos bancados por nenhum tipo de recurso ou patrocinadores internos, ou externo ao Brasil. Este blog é independente e representamos uma alternativa concreta de comunicação. Se você gosta de nossas publicações, junte-se a nós com sua propaganda, ou doação, para que possamos crescer e fazer a comunicação dos fatos, doa a quem doer. Entre em contato conosco pelo nosso e-mail abaixo, caso queira colaborar:
filhodedeusshalom@gmail.com
Postar um comentário
Todos os comentários publicados não significam a adesão às ideias nelas contidas por parte deste apostolado, nem a garantia da ortodoxia de seus conteúdos. Conforme a lei o blog oferece o DIREITO DE RESPOSTA a quem se sentir ofendido(a), desde que a resposta não contenha palavrões e ofensas de cunho pessoal e generalizados. Os comentários serão analisados criteriosamente e poderão ser ignorados e ou, excluídos.