Por Reinaldo Azevedo
A parada
do arco-íris vira chapa-branca e atrai ainda menos público. Faz sentido?Faz!
Passeata pró-poder perde o charme da resistência. Ou: Quem beija na boca no
Fantástico não é mais “minoria” sociológica.Pois é… Este ano era para arrebentar.
Até ontem, os jornais falavam que eram esperadas 3,5 milhões de pessoas na
Parada Gay na grande São Paulo.Apareceram,
segundo os critérios técnicos adotados pelo Datafolha para medir concentração
de público, 220 mil — 50 mil a menos do que em 2012.E olhem
que se tentou, de todos os modos, usar a figura do pastor Marcos Feliciano
(PSC-SP), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, como
o espantalho que é chamariz. Sabem como é, estava frio, garoando…A
cobertura da imprensa, inclusive das TVs, fazia crer que o número aloprado
divulgado pela organização do evento estava certo: 5 milhões de pessoas!!! Vale
dizer: a turma multiplicou o público presente por quase… 23 vezes. Terá sido só
o frio? Sei não…
Pode ter sido certo enfaro, não é? Até dos gays não sindicalizados podem estar
um pouco cansados. A imprensa brasileira, a paulistana em especial, vive numa
parada gay permanente. E sempre tratando a questão em tom militante. A “causa”,
hoje, foi adotada pelo establishment. O Supremo, contrariando a Constituição,
reconheceu a união civil. O CNJ, numa decisão escandalosamente
inconstitucional, decidiu obrigar os cartórios a fazer casamento — Luiz Fux
alegou um dito erro formal e recusou uma liminar contra a decisão.
Os gays
estão no horário nobre já são até vilões de novela, numa sacada espertíssima de
Walcyr Carrasco. Daniela Mercury, a lésbica estatizada da Bahia recebeu R$ 120
mil do governo daquele estado para desfilar em São Paulo, anunciou ontem no
Fantástico o casamento com a sua “esposa”, com direito a beijo na boca o
primeiro beijo lésbico da Globo, acho.O último
tabu, o beijo entre gays homens, deve estar por pouco. Estiveram ontem na
parada o governador Geraldo Alckmin (PSDB), o prefeito Fernando Haddad (PT-SP)
e a ministra Marta Suplicy (PT), da Cultura além, claro, do onipresente
deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ). A parada tem dinheiro oficial, do contribuinte.
“Ah, mas traz divisas para a cidade…”
(?)
Sim, é
verdade, o tempo não ajudou muito, mas jamais se fez uma mobilização como a
deste ano em razão da presença de Feliciano na Comissão da Câmara. Nunca houve
tantas convocações, imprecações, protestos etc. E, no entanto, há a chance de a
coisa ter sido contraproducente. Sei não… É possível que o excesso de patrulha
tenha começado a encher o saco.Comentei sobre uma reportagem publicada no Estadão em que supostos “especialistas”
são capazes de estuprar a matemática em nome da militância.A “luta” gay começa a penetrar num
terreno perigoso:Primeiro,
cobrava-se a aceitação o que parece justo. Depois, a igualdade sim, por que
não? Na aludida reportagem, “especialistas” tentavam outra coisa: demonstrar a
superioridade humanista da categoria no cotejo com os heterossexuais. Aí já é
sandice!
Desproporção
Insisto: há uma óbvia desproporção entre a importância desse assunto na
sociedade e a sua presença da imprensa. Volto ao caso da “Marcha para Jesus”
havida no Rio há alguns dias.Pode ter reunido o dobro de pessoas da passeata. E a imprensa
praticamente ignorou o assunto. Nos dois casos subestimar um fato e
superestimar outro, o que se tem é militância.E nem sempre a sociedade faz o que querem os supostos donos da opinião
pública, não é mesmo?
Reinaldo Azevedo – Revista VEJA
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