*Pe. Anderson Alves
O relativismo é
realmente contraditório porque pretende afirmar que todas as afirmações,
inclusive as contraditórias, são sempre verdadeiras (ou sempre falsas).
Mas quem diz que duas
afirmações contraditórias podem ser verdadeiras, deve aceitar que duas
contraditórias não podem ser verdadeiras.
O relativismo e o
ateísmo absolutos são reciprocamente excludentes; e o relativismo só pode ser
verdadeiro quando é relativo, ou seja, parcial, aplicado ao modo de expressar
ou de conhecer uma verdade, e não à verdade mesma.
De fato, o
conhecimento humano é discursivo e progressivo e até hoje nenhuma ciência pode
dizer que conhece totalmente o objeto estudado. A realidade que está diante de
nós é sempre mais rica do que conhecemos. Por isso ela é como uma janela pela
qual nos chega a luz da verdade e da bondade divinas e infinitas.
As filosofias
relativistas ainda não conseguiram destruir a racionalidade humana e
continuamos pensando a partir da convicção de que é possível conhecer a verdade
e de que afirmações contraditórias não podem ser ao mesmo tempo verdadeiras.
Mesmo assim o relativismo se expande na cultura atual, não através da Lógica,
mas pela força da repetição superficial de afirmações “dogmáticas”. Desse modo,
não há dúvidas de que vivemos em um ambiente onde reina não um relativismo
absoluto, mas sim um absolutismo relativista.
Absolutismo relativista
significa, pois, os esforços para se impôr uma cultura mundial relativista, que
tenta destruir os valores tradicionais. Pretende-se assim convencer aos povos
de que tudo é relativo, pois a verdade não existe (ou tudo é verdade, o que dá
no mesmo) e todos os comportamentos morais são igualmente bons (ou igualmente
maus).
Tudo o que é
contraditório parece ser hoje válido e tolerável. A única coisa que não se
tolera é que se mostre as contradições e a irracionalidade do mesmo
relativismo. O absolutismo relativista exige que toleremos as mentiras como se
fossem verdades, e que não “toleremos” as verdades, como se fossem mentiras.
Na
Ética o absolutismo relativista se manifesta principalmente em dois modos:
No Positivismo e no chamado
“pensamento débil”. Ambos dizem que a Ética só pode ser descritiva.
Embora
esses sistemas sejam opostos, as conclusões a que chegam são semelhantes:
1)-
O Positivismo diz que o método das ciências experimentais deve ser aplicado a
todas as ciências. Ora, as ciências só descrevem a
realidade, sem prescrever nada. Por isso a Ética deve apenas dizer como as
pessoas se comportam. O argumento dado é logicamente válido, mas há uma
premissa que deve ser discutida: por que a Ética deve ter o mesmo método das
ciências experimentais? Essa é uma afirmação filosófica, que só pode ser
imposta pela força, uma vez que não se sustenta racionalmente. De fato, a dita
afirmação não pode ser justificada por métodos experimentais e a conclusão do
raciocínio é autocontraditória: diz que as ciências não devem ser normativas,
mas essa afirmação é já uma norma no âmbito científico.
2)-
Outro sistema importante é o chamado “pensamento débil”.
Diz que o filósofo moral deve descrever os modelos de comportamento para
facilitar o diálogo entre as culturas. Forma-se assim uma mesa redonda,
semelhante à de um jogo de cartas, na qual não se chega a nenhuma conclusão. E
isso se apresenta como uma exigência da “democracia”. E o
argumento dado diz: os homens são todos iguais; quando dois homens possuem
opiniões diversas, ambas devem ser aceitas, pois é antidemocrático ou
politicamente incorreto dizer que uns homens tem razão e outros se equivocam.
Quem pensa assim
deveria antes de tudo esclarecer o que significa a afirmação de que “todos os
homens são todos iguais”.
Se significasse que
possuem uma mesma dignidade, estamos de acordo. Mas se quer dizer que tudo o
que os homens afirmam, em razão da dignidade comum, seja sempre verdadeiro,
isso é um absurdo. Da dignidade da natureza humana não se deduz que o
conhecimento de todos os seres humanos seja sempre verdadeiro.
E
tampouco se deduz que sempre dizemos a verdade, ainda por mais sinceros que
fôssemos, pois a sinceridade não é o único critério da verdade, pois uma pessoa
pode estar sinceramente equivocada.
De fato, o homem pode, não só
se equivocar, mas também mentir, manipular, tentar dominar a quem parece ser
mais fraco. E não se entende como o erro ou a mentira pode sustentar uma
“democracia”. Dito de outro modo: o principal equívoco do “pensamento débil”
está em estabelecer como critério de verdade não a relação do juízo intelectual
com a coisa conhecida, mas sim o juízo com a dignidade de quem o profere. Da
dignidade do ser humano, de fato, não se deduz a verdade de todos os seus
conhecimentos, nem a bondade moral de todos os seus atos.
Portanto,
o Positivismo e o “pensamento débil” expressam bem o atual absolutismo
relativista:
“A tentativa de impor pela
força de repetições afirmações contraditórias, como se fossem verdades
absolutas, negando o que realmente é verdadeiro e bom.”
O dito absolutismo,
última forma de pensamento universal, desrespeita as culturas verdadeiramente
humanas. Pois se a Ética fosse somente descritiva, os filósofos poderiam falar
sobre as diversas culturas, mas não falar com elas. E isso ofende a dignidade e
a racionalidade humana, que como tal está aberta ao diálogo sincero em busca de
uma verdade condivisível por todos os homens[iii].
*Pe.
Anderson Alves, sacerdote da diocese de Petrópolis – Brasil. Doutorando em
Filosofia na Pontificia Università della Santa Croce em Roma.
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