Liturgia e Apocalipse
Por - Pe. Jair Cardoso Alves Neto
O livro do Apocalipse é um dos mais lidos e
comentados do Novo Testamento, isto porque que este livro causa um certo
impacto e uma certa expectativa no leitor. Estas expectativas acontecem devido: o seu estilo,
as imagens presentes no texto, aspectos catastróficos etc. Por
isso, tem-se num conceito popular uma visão meio que deturpada deste
livro onde a concepção que se sobressai é de um livro que conta as possíveis
catástrofes vindouras na história e também do fim dos tempos. Com isso, sua
leitura gera uma insegurança e um medo no leitor.
Mas afinal,
o que significa apocalipse? Qual a relação entre o Apocalipse e a liturgia?
Apocalipse (em grego, apokálypsis=revelação) é um
gênero literário que se tornou usual entre os judeus após o exílio da Babilônia
(587-583 a.c), é uma literatura de resistência que veio ocupar o espaço deixado
pela literatura profética que tardava a se cumprir no tempo e ameaçava a fé do
povo de Deus.Trata-se sobre o fim dos tempos: descreve o juízo de Deus sobre os
povos, de modo a punir os maus e premiar os bons.Essa intervenção de Deus é acompanhada de sinais
que abalam a natureza (todo o apocalipse descreve sempre cenários cósmicos); é
freqüente o recurso a símbolos e números simbólicos nesse gênero literário.Sobre este pano de fundo o autor do Apocalipse quis
proceder de modo que: descreveu cenas de horríveis calamidades (simbolizando os
males que os cristãos sofrem no cotidiano da sua existência terrestre),
entrecortadas por visões da corte celeste, onde os anjos e os santos cantam
“Aleluia! A vitória compete ao Cordeiro que foi imolado e
está de pé”.Assim, estes
acontecimentos descritos no Apocalipse só podem ser entendidos a luz do “Evento
Cristo” - Jesus Cristo é a chave de leitura para a compreensão do Apocalipse, ou
seja, este trata da celebração dos mistérios de Cristo.E sendo celebração podemos afirmar tendo base em
algumas perícopes que esta é uma grande liturgia. Esta liturgia da celebração
dos mistérios de Cristo fora dada a Igreja que tem a autoridade de
salvaguardá-la e de utiliza-la como caminho de salvação e de contemplação do
“Eterno no tempo”, conduzindo assim por meio destes os seus fiéis até que se
chegue o “Dia do Senhor”.A liturgia é ação do “Cristo total”, os que agora a
celebram, além dos sinais, participam já da liturgia do céu, onde a celebração
é inteiramente Comunhão e Festa.
No livro do
Apocalipse nos deparamos com alguns símbolos de nossa liturgia:
Incenso, altar, oficiantes por vezes designados
como sacerdotes, participantes que se prosternam, adoram, cantam a glória de
Deus e de sua obra em Jesus Cristo por meio de hinos de caráter muito
tradicional.O Aspecto litúrgico de numerosa passagens do
Apocalipse salta aos olhos do leitor menos mentalizado. Por vezes tem-se o
sentimento de assistir a um diálogo litúrgico entre um oficiante e uma
comunidade que lhe responde.Várias destas proclamações, especialmente o Santus,
figuram hoje entre as partes essenciais das grandes liturgias cristãs, ou seja,
a “Santa Missa”.O capítulo
quatro nos apresenta a “Liturgia Celeste”, nela podemos perceber a presença de
“um trono que está colocado no céu e nele sentado alguém cujo aspecto era de
jaspe e cornalina” (Apo.4,2-3).Ao redor deste trono “havia vinte e quatro anciãos,
com veste brancas e coroas de ouro na cabeça” (Ap4,4). Deste trono “saíam
relâmpagos e ouviam-se trovões. Sete tochas de “fogo ardiam diante do trono, os
sete espíritos de Deus”. No centro rodeando o trono estavam quatro seres com
aspecto de: leão, touro, homem e águia. Estes seres de dia e de noite davam
graças àquele que estava sentado no trono e diziam: “Santo, santo, santo,
Senhor Deus Todo-poderoso, aquele que era e é e será” (Ap4,8).O quinto
capítulo traz presente um problema que é encontrar o significado do misterioso
livro que ocupa neste capítulo tão grande lugar.Aparece também a figura de um Cordeiro Imolado que
tem a missão de abrir o rolo e soltar seus selos. Diante disso todas as
criaturas cá no céu ou na terra diziam:Àquele que
está sentado no trono e ao Cordeiro, o louvor, a honra, a glória e o poder
pelos séculos dos séculos.Outro
capítulo importante para esta realidade é o sétimo que traz presente a
realidade daqueles que se salvam:“ouvi o número dos marcados com o selo” (Ap 7,4). Depois foi avistada
uma multidão enorme que ninguém podia contar e estes gritavam: “A vitória ao
nosso Cordeiro” (Ap 7,10). Estes estavam de vestes brancas e saíram da
tribulação e alvejaram suas vestes no sangue do Cordeiro. O capítulo oitavo fala dos sete anjos que estavam
diante de Deus e que a eles foram entregues sete trombetas. Veio assim um outro
anjo que se colocou diante do altar com um turíbulo fumegante e da sua mão
subia a fumaça de incenso com as “orações de todos os santos até à presença de
Deus” (Ap 8,4). O anjo tomou o turíbulo e arremessou à terra.Os capítulos 21-22 do livro do Apocalipse nos
trazem uma visão de uma Igreja que fora descida do céu a “nova Jerusalém”, a
cidade santa que “descendo do céu, de junto de Deus, preparada como noiva que
se apronta para o noivo” (Ap21,2).O Apocalipse
de São João, lido na liturgia da Igreja, revela-nos primeiro que “um trono
estava erguido no céu e Um sentado no trono” (Ap4,2): Este podemos dizer que é
o Senhor Deus.Depois logo revela o Cordeiro, “imolado e de pé”
(Ap 5,6), Este é o Cristo crucificado e ressuscitado, o único Sumo Sacerdote do
santuário verdadeiro, o mesmo “que oferece e que é oferecido, que dá e que é
dado”, isto podemos ouvir nas palavras da Consagração “que será dado por vós e
por muitos para a remissão dos pecados”. E por último, revela “o rio da Vida
que brota do trono de Deus e do Cordeiro” (Ap 22,1), um dos mais belos símbolos
do Espírito Santo.
Recapitulados
em Cristo, participam do serviço do louvor de Deus e na realização de seu
intuito:
“As
Potências Celestiais, toda a criação (os quatro viventes), os servidores da
Antiga e da Nova Aliança (os vinte e quatro anciãos), o novo Povo de Deus (os
cento e quarenta e quatro mil), em particular os mártires “degolados por causa
da Palavra de Deus” (Ap 6,9-11), e a Santíssima Mãe de Deus ( Ap 12) e
finalmente “uma multidão imensa, que ninguém poderia contar, de toda nação,
raças, povos e línguas” (Ap 7,9).Ora, onde na terra encontramos uma Igreja universal que adora de uma
forma fiel à visão de João? Onde encontramos sacerdotes paramentados de pé à
visão diante de um altar? Onde encontramos homens consagrados ao Celibato? Onde
ouvimos anjos serem invocados? Onde a arte exalta a mulher coroada de estrelas,
com a lua debaixo dos pés, que esmaga a cabeça da serpente? Onde os fiéis
suplicam a proteção do arcanjo São Miguel?Onde mais, a
não ser na Igreja Católica e, mais especificamente na Missa?O nosso
Saudoso Papa João Paulo II em sua venerável memória, dizia que: “A Missa é o céu na terra” e ele explicou que “a liturgia que celebramos
na terra é misteriosa participação a liturgia celeste”.Assim, a nossa liturgia participa da liturgia
celeste! Na missa, já estamos no céu. Dessa maneira, precisamos aprender a ver
o Apocalipse como a Igreja o vê, ou seja, se queremos entender o sentido do
Apocalipse, temos que aprender a lê-lo com uma imaginação sacramental.
Podemos
então perceber que os símbolos trazidos pelo Apocalipse estão em nossa
liturgia:
Missa dominical – 1,10
Sumo sacerdote- 1,13
Altar- 8,3-4; 11,1;14,18
Sacerdotes 4,4; 11,15; 14,3; 19,4
Paramentos 1,13; 4,4;6,11; 7,9;15,6;19,13-14
Celibato consagrado 14,4
Candelabros 1,12;2,5
Penitência caps.2 e 3
Incenso 5,8; 8,3-5
O livro 5,1
A hóstia eucarística 2,17
Taças (cálices) 15,7; 16;21,9
O sinal-da-cruz 7,3; 14,1; 22,4
O glória 15,3-4
O Aleluia 19,1.3.4.6
Corações ao alto 11,12
O “Santo, Santo, Santo” 4,8
O Amém 19,4 ; 22,20
O “Cordeiro de Deus” 5,6
Virgem Maria 12,1-6.13-17
Intercessão dos anjos e santos 5,8; 6,9-10; 8,3-4
Devoção a são Miguel 12,7
Antífona 4,8-11;5,9-14; 7,1-12; 18,1-8
Leituras das Escrituras 2-3;5;8,2-11
O Sacerdócio dos fiéis 1,6; 20,6
Catolicidade ou universalidade 7,9
Contemplação silenciosa 8,1
O banquete das núpcias do Cordeiro 19,9.17
Portanto, o Apocalipse trata de uma reflexão sobre
o culto, e este culto é a antecipação do Fim, do Julgamento, do Reino que
acontece na Santa Missa. Contudo, tanto o Apocalipse quanto a liturgia nos
falam sobre o Fim, pois, o fim tem o seu nome: Jesus Cristo. E é a este que a
Igreja clama incessantemente numa única voz; “Maranatá”, ou seja, “ Vem, Senhor
Jesus!”. Nesta grande prece a Igreja clama o nome de Jesus e se prepara para a
parusia - (HANN, 2002,p.107-108).
ESTUDO APROFUNDADO DO APOCALIPSE DE JOÃO:
1.
APOCALIPSE - O VILÃO DO NOVO TESTAMENTO
Por que esse título?
Porque é assim que a maioria de nós vê tal livro. Embora não tendo lido o
Apocalipse, ou lendo pequenos trechos dele, grande parte das pessoas crê que
ele fala do fim do mundo, com estrelas e prédios caindo sobre suas cabeças.Além disso, ele
falaria do grande sofrimento pelo qual os cristãos passarão, e isso não é nada
bom para qualquer pessoa, e além do mais, esse dado estaria em contraste com a
vida vitoriosa da qual o resto do Novo Testamento fala.O Apocalipse também é um vilão
por que ele fala de Dragão, Besta, Falso Profeta, 666 como número da Besta,
dando a impressão que todos eles um dia, de modo inesperado, surgirão correndo
atrás dos cristãos para matá-los, e isso gera pânico em muitas pessoas.A
interpretação popular também ajuda a confundir o entendimento do livro. Uma
interpretação meramente futurista, alienante e de extrema direita é muito
comum.Nesse sentido, o Apocalipse
falaria apenas do futuro, sem se importar com o presente, sendo que a
conseqüência disso seria a alienação profunda gerada naqueles que o lêem.É comum ver esse tipo
de interpretação. O livro também serviu para justificar posturas politicamente corretas(???),
que viam o Apocalipse falando que ex-União Soviética juntamente com a China
(Gogue e Magogue - Ap 20,7-8), como bloco comunista e diabólico, combateriam os
cristãos democráticos e capitalistas, os quais, entretanto, venceriam com a
ajuda de Cristo (obviamente essa visão foi difundida por intérpretes
norte-americanos).Por
essas e outras razões, por quê um cristão leria esse livro?
2.
QUE LIVRO É ESSE?
O ponto de vista
acima encontra sua razão na falta de entendimento do gênero literário ao qual o
Apocalipse pertence. Na realidade, Apocalipse é um gênero literário.O livro faz parte de
um conjunto de obras chamado de APOCALÍPTICA. Apocalipse
(em grego, apokálypsis=revelação) é um gênero literário que se tornou usual
entre os judeus após o exílio da Babilônia (587-583 a.c), é uma literatura de
resistência que veio ocupar o espaço deixado pela literatura profética que
tardava a se cumprir no tempo e ameaçava a fé do povo de Deus.
Vários
outros livros apocalípticos, semelhantes ao que estamos estudando foram
escritos(Antes, durante e depois do Apocalípse de João):
• I Enoque, escrito
cerca de 200 a.C.
• Livro do Jubileu,
por volta do 2o. século a.C.
• Testamento de
Moisés, começo do 1o. século d.C.
• 4 Esdras, final do
1o. século d.C.
• Apocalipse de
Abraão, 1o. ou 2o. século d.C.
• Daniel 7-12.
• Marcos 13
(paralelos em Mt 24 e Lc 21).
• 2 Tss 2.
Todos
esses livros compõem a literatura apocalíptica. Ela procura transmitir uma
mensagem de fé e esperança para aqueles que estão sofrendo(Pois é uma
literatura de resistência, e convida os fieis a resistirem diante dos desafios,
e lançar o olhar confiante em Deus para o futuro).O próprio termo
apocalipse, que significa revelação, indica isso. Através desses livros, seus
autores querem revelar o propósito de Deus àqueles que são perseguidos por sua
fé. O objetivo dos livros é mostrar a verdadeira realidade a fim de fornecer
forças para continuar na luta. Isso se dá através de imagens muito coloridas e
simbólicas.Por exemplo, a simbologia
dos números: três, sete, doze, mil anos, cento e quarenta e quatro mil. A
figura de animais: dragão, besta, leão, urso, cordeiro.Na realidade, parece uma
linguagem secreta, em código. De fato, era isso mesmo. Para aqueles que
perseguiam, esses livros não tinham sentido. Mas para aqueles que escreviam ou
liam, eram cheios de significado.Nosso
problema hoje, é que nos sentimos como aqueles que perseguiam os cristãos. Não
conseguimos entender a mensagem do Apocalipse.Para que o
compreendamos, é necessário conhecer um pouco do contexto em que o livro
surgiu, e, principalmente, conhecer o Velho Testamento, de onde a grande
maioria das imagens é tirada.Mas também é
importante saber que o livro interpreta vários de seus símbolos. Ex: 1,12 com
1,20; 12,3 com 12,9; 17,3 com 17,9.
3.
PARA QUEM O LIVRO FOI ESCRITO E QUANDO?
O Apocalipse é um livro
pastoral escrito às sete igrejas da Ásia Menor (região ocidental da atual
Turquia) - 1,4. Esse dado é importante, pois mostra-nos que o livro não é um
documento caído do céu, atemporal.Para entendê-lo,
precisamos compreender primeiramente a mensagem que tinha para seus
destinatários.Os capítulos 2 e 3
mostram-nos os problemas que essas comunidades passavam, o que justifica o
envio do livro para elas.Até algum tempo atrás
havia um consenso quanto a afirmação de que os cristãos na Ásia estavam
passando por perseguições e que o livro foi enviado nesse contexto. De fato, o
livro fala de perseguição: o próprio João está exilado numa colônia penal em
Patmos devido a perseguição religiosa - 1,9; os cristãos estão passando por
tribulações: 2,9-10; morte - 2,13; 6,9.Porém hoje questiona-se que
houvesse uma perseguição de caráter geral aos cristãos. O que existiria seriam
problemas localizados.(Ou seja, em alguns lugares era a perseguição mesmo que
acontecia, em outros era a fé que corria o risco de desaparecer em virtude do
não cumprimento das promessas da vinda iminente de Cristo e seu reino e que
precisavam continuar a viver e dar respostas aos problemas existentes).Seguindo este ponto
de vista, o escritor veria nesses problemas esporádicos sinais de um grande
confronto que estava para se dar: Império Romano x Igreja nascente.O Apocalipse teria,
então, a função de servir como um alerta para despertar os cristãos para a
realidade de que esse confronto estava começando, embora alguns não
concordassem com tal postura.Dentro dessa perspectiva este
livro é altamente relevante para nós. Pode ser que convivamos bem com a
sociedade, com as estruturas, etc. Mas isso não revelará um certo conformismo
de nossa parte? O Apocalipse serve para nos questionar em nossas posturas.O
livro surgiu quando o imperador Domiciano , que reinou de 81 a 96 d.C., começou
a exigir que todos os súditos dentro do império o adorassem como deus.Isso não constituiu
problema para a população, visto que estavam acostumados com um culto
politeísta, e adorar um deus a mais não seria problema.Para os cristãos não foi assim.
Até então a tradição cristã era de interceder pelas autoridades - 1 Tm 2,1-2;
submeter-se às autoridades - Rm 13,1-7; honrar ao rei - 1 Pe 2,17. Mas agora a
situação mudara. Os cristãos não podiam dividir sua lealdade a Jesus Cristo.
Portanto, ao não prestar culto ao imperador, eles estariam sendo acusados de
impatriotismo.Isso foi mais intenso
principalmente na Ásia Menor, onde o culto ao imperador desenvolveu-se de modo
mais acentuado. O confronto estava apenas começando.Para alguns, por outro lado,
ele não existia. Esses cristãos achavam que podiam adorar a Jesus e ao
imperador. Eles são criticados duramente no Apocalipse.Aqui podemos ver a
ligação entre o Estado e a religião. Será que hoje os dias são diferentes? Não
estaremos “adorando” religiosamente nosso mundo moderno, secular, tecnológico,
consumista e ateísta?
4.
EXISTE UMA ESTRUTURA NO APOCALIPSE?
Um comentador já disse que
existem tantas estruturas e
interpretações para o Apocalipse quanto o número de seus comentadores e
intérpretes.Obviamente exagerada,
a afirmação procura realçar a dificuldade em se buscar a estrutura desse livro.Embora seja muito
difícil de se chegar a um consenso, há alguns dados que podem ser observados.
Todos
os estudiosos admitem que o livro tem uma forte ênfase sobre o número sete, pois há:
• sete igrejas:
capítulos 2 e 3.
• sete selos:
capítulo 6 e 8,1-6.
• sete trombetas:
8,7-9,21 e 11,15-19.
• sete taças:
capítulo 16.
• sete espíritos:
1,4; 4,5.
• sete
bem-aventuranças: 1,3; 14,13; 16,15; 19,9; 20,6; 22,7.14.
Por enquanto podemos
dizer que o livro desenvolve-se, em termos estruturais, em torno do número
sete. Obviamente esta é uma visão simplista, e onde ela não puder ser considerada,
outras explicações podem ser fornecidas.
DESTINATÁRIOS: AS SETE IGREJAS
1.
AS SETE IGREJAS DA ÁSIA MENOR
As sete igrejas
representam uma seleção dentre as igrejas existentes na região.Existiam outras, como
por exemplo, a de Colossos. Isso nos leva a pensar sobre o porquê dessa escolha
?Um princípio seria o
fato de todas estarem conectadas por estradas romanas e distarem cerca de 55
quilômetros umas das outras. Esse aspecto era importante para as visitas
apostólicas e para a troca de correspondência.Outro aspecto era o
fato de que cada uma dessas cidades possuía uma corte romana, onde, por serem
cristãos, os membros das igrejas poderiam enfrentar problemas.Nas três primeiras cidades
(Éfeso, Esmirna e Pérgamo) havia também templos dedicados a César onde a
população lhe oferecia sacrifícios como deus.Além disso, o número
sete, é muito significativo, indicando totalidade. Cartas para “sete igrejas”
poderia representar uma correspondência que visava atingir todas as igrejas
existentes.
2.
QUEM SÃO OS “ANJOS” DAS IGREJAS?
Este é um problema
difícil de ser resolvido. As cartas são endereçadas ao “anjo” de cada igreja
(2,1.8.12.18; 3,1.7.14). Quem são eles?Se entendermos anjo
como “ser celestial”, teremos algumas dificuldades para compreendermos alguns
dados das cartas.O primeiro diz
respeito ao fato de que o Apocalipse é enviado por Deus, através de Jesus, por
intermédio do anjo para João (1,1).É
o anjo que traz a revelação ao profeta. Já nas cartas as posições se invertem:
nelas, Jesus manda João escrever para o anjo (1,19 e 2,1, etc).Mas como entender que João
envie cartas para anjos? Por que eles precisam de cartas contendo orientações,
se estão na presença de Deus (5,11)? Outro problema é o
fato de que as cartas são escritas “para os anjos”, e somente através deles
para as igrejas. Nota-se isso quando são citados adjetivos no “masculino” que,
portanto, dizem respeito ao “anjo” e não à “igreja” (que é feminino).Por exemplo: “rico”
(2,9), “morto” (3,1), “frio” e “morno” (3,15). Isso que dizer que as palavras
de louvor e as advertências de Jesus dirigem-se a eles.Mas, então, como podemos
compreender que os anjos devam “arrepender-se” (2,1-16; 3,3-19)? Ou então que
tenham “abandonado o primeiro amor” (2,4)?
Creio
que a resposta está em outra direção:
A palavra “anjo”
significa literalmente “mensageiro” (ángelos), podendo ser um mensageiro
celeste, ou seja, um anjo, ou não.O mensageiro pode ser
uma pessoa (Mc 1,2; Lc 9,52), um profeta (Ag 1,13). Portanto, penso que os
“anjos” das igrejas seriam profetas líderes nas comunidades (Ap 22,6) que
receberiam de Deus a mensagem e que deveriam transmiti-la às suas igrejas.
Nesse sentido, eles eram responsáveis pelo andamento de suas comunidades, tanto
positiva, quanto negativamente.
3.
A ESTRUTURA DAS SETE CARTAS
Todas
as cartas têm a mesma estrutura que se apresenta em sete pontos:
1. Todas elas são
dirigidas ao “anjo da igreja” (2,1.8.12.18; 3,1.7.14).
2. Todas se
apresentam como palavra de Jesus: “Estas coisas diz...” (2,1.8.12.18;
3,1.7.14).
3. Em cada carta,
Jesus recebe um título (2,1.8.12.18; 3,1.7.14). Quase todos os títulos vêm da
visão que João teve de Jesus (1,12-20).
4. Em todas as
cartas, Jesus começa dizendo: “Conheço...”, e descreve as qualidades positivas
da comunidade (2,2-3.9.13.19; 3,8). A comunidade de Laodicéia não têm nada de
positivo. Ela “não é fria nem quente” (3,15).
5. Jesus descreve o
que cada comunidade tem de negativo e dá advertências (2,4-6.14-16.20-25;
3,2-3.15-19). Duas comunidades não têm nada de negativo: Esmirna e Filadélfia.
A estas Jesus dá conselhos de perseverança (2,10; 3,11). Na comunidade de
Sardes, o negativo é mais forte do que o positivo (3,4). Por isso, lá se
inverte a ordem.
6. Todas elas têm o
aviso final: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas”
(2,7.11.17.29; 3,6.13.22).
7. Todas elas
terminam com uma promessa ao vencedor (2,7.11.17.26-28; 3,5.12.21).
*(Este
sete pontos foram extraídos do livro: “Esperança de um povo que luta. O
Apocalipse de São João. Uma chave de leitura”. 7a. ed. Carlos Mesters, São
Paulo, Paulus. p. 43 e 44).
4.
PROBLEMAS NAS IGREJAS
São
basicamente de três tipos:
a)- Pressões, tanto
de pagãos (1,9; 2,13) quanto de judeus (2,9; 3,9). Tal problema se dava em
virtude dos cristãos pertencerem a uma religião minoritária com costumes
estranhos (Santa Ceia, por exemplo) e acusada de ser atéia (por não ter deuses
e nem imagem deles).As dificuldades com
os judeus vinham do fato de que, após a destruição do templo em Jerusalém (70
d.C.) os cristãos foram expulsos das sinagogas. Nelas, a partir desse momento,
eram pronunciadas maldições contra os cristãos. Para o Cristo, essa é uma
“blasfêmia” que se faz contra seu povo (2,9). As sinagogas onde tais práticas
aconteciam eram, na realidade, “sinagoga de Satanás” (2,9).Os judeus não apenas
expulsavam os cristãos da sinagogas como denunciavam-nos às autoridades
romanas. Estas, por sua vez, acatando as acusações (possivelmente dizendo que
eles eram “contra o imperador”), começavam a prendê-los (2,10), e até a matar
alguns (2,13). A morte de Antipas, em particular, é interessante por ter
acontecido em Pérgamo, cidade onde estava o “trono de Satanás” (2,13). Essa
cidade era a sede do governo imperial na Ásia e o centro do culto ao imperador,
possuindo o mais antigo templo dedicado a essa prática na região. É importante
observar que a prisão e morte de cristãos não era um fenômeno amplo, mas
limitado a algumas cidades da Ásia.
b)- Problemas
internos com falsos mestres (2,2 - apóstolos; 2,6.15 - nicolaítas; 2,14 - os
que seguiam os ensinos de Balaão; 2,20-23 - a profetiza Jezabel). Os “falsos
apóstolos” (2,2) eram pregadores itinerantes que viajavam pregando nas igrejas
falsos ensinos. Os “nicolaítas” (2,6.15) estão associados com os “seguidores de
Balaão” (2,14.15) e estes, por sua vez, com a “profetiza Jezabel” (3,20), visto
que todos eles “comiam coisas sacrificadas aos ídolos e praticavam a
prostituição”.Os “nicolaítas”eram
partidários de um pensamento gnóstico que enfatizava as coisas espirituais em
detrimento das materiais. A conseqüência disso era uma permissividade no
comportamento. Para eles, não havia problema em participar das ceias oferecidas
aos deuses ou então na prostituição, visto que com isso somente o “corpo” era
atingido. “Balaão” era lembrado por ter levado o povo de Israel a cultuar
deuses estranhos (ver Nm 31,16 e 25,1-2), enquanto “Jezabel” ficara famosa por
ter introduzido o culto de outros deuses em Israel (1Rs 18,19). Os dois últimos
certamente são referências simbólicas a pessoas que, juntamente com os
nicolaítas, estavam introduzindo nas igrejas um baixo padrão moral que não via
problemas em comer coisas sacrificadas a ídolos ou no culto ao imperador, nem
na prática da prostituição. Na realidade, estava havendo uma acomodação aos
padrões morais e culturais dos pagãos. Essa não era uma questão apenas
“religiosa”, mas “econômica”, visto que a carne sacrificada a ídolos era
servida em jantares de negócios e em recepções particulares que compunham a
vida profissional e social das pessoas da época. Participar ou não desses
eventos poderia decidir se a vida profissional seria bem ou mal sucedida.Para estas pessoas,
João era “radical” ao exigir o abandono dessas práticas. Como podemos ver essa
questão nos dias de hoje? Estaremos sendo radicais ou permissivos? Temos
enfrentado o problema da assimilação de valores não-cristãos? Até onde isso é
correto ou prejudicial?
c)- Problema com a
frieza espiritual (2,4 - abandono do primeiro amor; 3,4 - contaminação; 3,15 -
perda de zelo). Esta questão relaciona-se diretamente com a pessoa de Jesus
Cristo. Mesmo que uma igreja combata as heresias, como a de Éfeso (2,2.6), isso
não substitui sua ligação com seu Senhor, apenas o complementa. Essa relação,
expressa pelo “conservar o nome de Jesus” é que dá coragem para que se morra
por Ele (2,13). É preciso ter um amor apegado a Jesus que nos leve à comunhão
com Ele e à prática de uma vida realmente transformada. Quando isso não
acontece, toma o seu lugar a frieza, e a auto-suficiência que coloca Jesus à
parte da vida (3,15-17.20). Para que a situação mude é necessário que se ouça o
chamado ao “arrependimento” (2,5.16; 3,3.19).Talvez, mais do que
nunca, nós, como igreja, devamos analisar nossas vidas dentro dessa
radicalidade do amor integral a Jesus. Devemos também refletir se estamos
constantemente avaliando a vida e vendo a necessidade de arrependimento.Analisar as sete
igrejas e seus problemas é muito importante para que possamos ter um quadro
correto do porquê o Apocalipse foi escrito. Nelas temos um misto de igrejas que
tem passado por dificuldades mas que estão se mantendo fiéis, e igrejas que não
tem conseguido discernir as exigências da vida cristã. Tal situação não é
diferente hoje. O problema principal para nós, semelhante ao das igrejas da
Ásia, é o da assimilação. Cada geração é chamada a refletir sobre sua conduta
diante desse desafio. Assimilaremos elementos, correndo o risco de sincretismo,
ou nos fecharemos totalmente, podendo nos tornarmos alienados?
ABERTURA
DOS SELOS
Apoc.4,1-7.17
Após analisarmos as
cartas remetidas às sete igrejas da Ásia, que apresentam os problemas pelos
quais aquelas comunidades estavam passando, a partir do capítulo 04 temos as
seis visões que desenvolvem um paralelismo progressivo. A primeira destas
visões está nos capítulos 4 a 7.
Estes
capítulos dividem-se em duas partes:
capítulos 4 e 5 -
cena de abertura no céu.
capítulos 6 e 7 -
abertura dos sete selos.
1.
CENA DE ABERTURA NO CÉU - cp. 4 e 5
Estes dois capítulos
falam sobre Deus (cp. 4) e Jesus Cristo (cp. 5), e têm a mesma estrutura:
Apocalipse
4 - Deus
a. Glória de Deus
(4,2-8a)
b. Adoração a Deus
(8b-11)
b.1. Primeiro hino
(8b)
b.2. Narrativa (9-10)
b.3. Segundo hino
(11)
Apocalipse
5 - Jesus
a. Glória do Cordeiro
(5,5-7)
b. Adoração ao
Cordeiro (8-12)
b.1. Primeiro hino
(9-10)
b.2. Narrativa
(11-12a)
b.3. Segundo hino
(12b).
Esta
seção termina com a adoração tanto a Deus quanto a Jesus Cristo (5,13-14).Temos, nestes
capítulos, aquilo que é chamado de “Conselho do Senhor”. Ele é apresentado
segundo o modelo das cortes orientais da Antigüidade, e, no nosso caso, é
composto da Trindade, dos seres celestiais que estão diante dela (outros
exemplos: 1R 22,19; Jó 1,6-7), e dos 24 anciãos. Quem são eles?Comecemos com os 24
anciãos (4,4). Eles não são anjos, mas homens. Isso pode ser verificado porque
estão sentados em tronos (ver Mt 19,28), têm coroas (a coroa é recebida pelo
crente fiel - 2,10) e estão vestidos de branco (outra característica dos cristãos
- 3,4-5). Mas então, como identificá-los? Não há muita certeza quanto a isso.
Talvez, através do título anciãos, possamos pensar nos líderes da sinagoga e
das comunidades primitivas (presbítero significa “ancião”). Nesse sentido,
tem-se suposto que o número 24 representaria 12 tribos de Israel (= povo da
Antiga Aliança) mais 12 apóstolos (= povo da Nova Aliança), simbolizando o povo
de Deus de todas as épocas. Outra possibilidade seria a de que o número 24
representaria os escritores dos livros do Velho Testamento (em algumas listas
do cânon judaico apresenta-se 24 livros). Estes escritores, por sua
importância, estariam ao redor do trono de Deus. Mas não como chegar a uma
definição concreta.Os seres viventes
(4,6-8a) são apresentados tendo como pano de fundo Ez 1,5.10 e 10,20. Eles são
descritos ali como “querubins”. Isaías também fornece uma parte da imagem onde
diz que os “serafins” têm seis asas (Is 6,2 // Ap 4,8a) e apresenta o cântico
deles (Is 6,3 // Ap 4,8b). Esses seres, pela proximidade com Ezequiel, estão
mais próximos de querubins do que serafins. Eles representam a criação visto
que um é semelhante ao “leão” (=os animais selvagens), outro ao “novilho” (=
animais domésticos), o terceiro ao “homem” (= raça humana), e o último a
“águia” (= pássaros). Estes seres, como representantes da criação louvam a Deus
(v.8). Além disso, os querubins eram responsáveis por guardar as coisas mais
santas e próximas de Deus (ver Gn 3,24 e Ex 25,20).Por último, nesta
visão do Conselho do Senhor temos a presença do “trono”, e de “Deus” sentado
nele (4,2). João não descreve Deus em termos antropomórficos, mas usa pedras
preciosas (v.3). “Jaspe” é uma pedra transparente, e o “sardônio” é vermelho,
faiscante. Possivelmente esta descrição quer enfatizar o aspecto precioso e
glorioso de Deus em seu trono. Já o “arco-íris” mostra que neste trono não há
apenas poder, mas misericórdia. Ele é símbolo do pacto de Deus com o homem (Gn
9,8-15). Temos, portanto, no trono, um Deus que é glorioso e misericordioso ao
mesmo tempo.O capítulo 5 começa
falando de um “livro” selado com sete selos, que está nas mãos de Deus (v.1).
Que livro é esse? É o livro que contém o domínio de Deus sobre todas as coisas,
bem como a definição da libertação do seu povo e a punição daqueles que se voltam
contra a igreja e seu Senhor. Portanto, tudo o que acontece no Apocalipse é a
revelação do conteúdo do livro.Os “sete selos” que
mantém o livro fechado (possivelmente um pergaminho ou papiro) e que são
abertos no capítulo 6 e 8 não fazem parte do conteúdo do livro, mas formam uma
preliminar à abertura do mesmo.João chora muito
porque ninguém pode abrir o livro e, sendo assim, não há nenhuma certeza quanto
ao futuro (v.4). Porém um dos anciãos apresenta Jesus no v.5 como “leão da
tribo de Judá” (Gn 49,9-10 que fala do reinado provindo da tribo de Judá) e
“raiz de Davi” (Is 11,1 indicando que o Messias viria da família de Davi).
Essas duas descrições mostram Jesus em seu caráter real e vencedor. Por outro
lado, no v.6 Ele é apresentado como “Cordeiro como tinha sido morto”, que
demonstra o caráter sacrificial da obra de Jesus. Esse aspecto é enfatizado nos
dois cânticos que citam a morte de dEle (v.9 e 12). Há aqui, possivelmente, a
apresentação de Jesus como aquele que vence através da morte como modelo para
os crentes (2,10).Finalmente, Jesus
toma o livro (v.8) e no capítulo 6 ele começa a abrir os selos. É importante
notarmos aqui que a visão do trono de Deus e de Jesus representa o passado, o
momento da exaltação de Jesus à direita de Deus através da ressurreição e a
posse de seu domínio sobre todo o universo.O objetivo da visão
nos capítulos 4 e 5 é fornecer confiança e força para os crentes diante dos
problemas que virão. Eles, por serem cristãos, não estariam livres de pagar o
preço pela sua fé. Mas era importante saber que, no final de tudo, Deus estava
controlando a situação e que Jesus traria o consolo a eles e a punição aos seus
perseguidores.
2.
ABERTURA DOS SETE SELOS - Cap 6 e 7.
Como dissemos acima,
os selos não apresentam o conteúdo do livro, mas são antecipações a ele. Os
quatro primeiros selos devem ser vistos formando um bloco pela unidade da
estrutura que gira em torno dos cavaleiros, enquanto o quinto fala
especificamente da igreja, o sexto sobre a segunda vinda, e o sétimo vem
somente no capítulo 8.
O primeiro cavaleiro
(6,2), que leva um “arco” representa soldados “partos” que eram os únicos
arqueiros montados na época. A Pártia era um reino situado a leste da Palestina
e que significava constante fonte de ameaça ao domínio romano no oriente. Aqui
este cavaleiro simboliza guerras e conquistas que ameaçavam o império romano.
O segundo cavaleiro
(v.3-4) simboliza o conflito e a guerra entre os povos em geral.
O terceiro cavaleiro
(v.5-6) traz a imagem da escassez. “Uma medida de trigo” era o consumo de uma
pessoa durante um dia. “Um denário” era o salário de um dia de trabalho.
Portanto, mostra-se aqui que os tempos são difíceis, visto que gasta-se todo o
dinheiro para a alimentação de uma única pessoa. A cevada, mais barata, era o
alimento dos pobres. Somente com ela poderia-se alimentar a família. A questão
aqui é a crise econômica.
O quarto cavaleiro
(v. 7-8) parece sintetizar o segundo e o terceiro. Ele traz a morte pela
“espada” que pode ser referência à guerra, mas também a todo o tipo de morte
violenta, p.ex. assassinato. A morte pela “fome” é uma derivação mais intensa
da escassez do v.6.
O quinto selo
(v.9-11) apresenta os cristãos que têm sido mortos. Eles estão diante de Deus
(v.9). O Apocalipse até aqui fez menção apenas a uma morte (2,13) e à
possibilidade de se morrer (2,10). Possivelmente João vê as coisas de modo
presente e também futuro, ou seja, estaria vendo aqueles que “seriam” mortos.
Eles pedem vingança a Deus, mas não especificam seus assassinos. Isso será
mostrado mais adiante no livro.
O sexto selo
(v.12-17) expressa a segunda vinda de Jesus. Pode-se notar através dos sinais
no v. 12 e pela referência ao “dia da ira” (v.17), termo vétero-testamentário
que significa o dia da vinda de Deus para julgamento.
Mas, qual o sentido
desses selos? Eles simbolizam a presença do mal, pecado e sofrimento no mundo,
durante todas as épocas, atingindo todas as pessoas, sejam cristãs ou não. Isso
pode ser visto através da comparação com Mt 24. O segundo, terceiro e quarto
selos estariam relacionados com Mt 24,6-8; o quinto selo com Mt 24,9-13; e o
sexto selo com Mt 24,29-31. É importante frisar que Mt 24 não apresenta
“sinais” antecipatórios para a vinda de Jesus, pelo contrário, seu objetivo é
mostrar que tais acontecimentos não representam o fim (24,6b e 8). O mesmo se
dá com os selos do Apocalipse. Eles mostram que os cristãos estão sujeitos a
sofrimentos dentro do mundo como qualquer ser humano e que tais tribulações não
evidenciam a chegada do juízo de Deus ao mundo, elas não são o “conteúdo” do
livro, são apenas um dado preliminar.Nesse contexto
tornam-se muito importantes as visões dos capítulos 4 e 5. Se os cristãos devem
passar por sofrimentos, é necessário que saibam que, apesar dessas lutas, Jesus
está dirigindo os destinos do mundo e dará forças a eles para vencer.
Antes que o sétimo
selo seja aberto, temos o capítulo 7. Ele expressa um interlúdio para a
abertura do último selo. Isso fornece uma caráter dramático ao texto. Deve-se
esperar mais um pouco para que o sétimo selo seja aberto e, finalmente,
possa-se conhecer o conteúdo do livro.O capítulo 7 não
segue uma ordem cronológica com o capítulo 6, como se, depois da segunda vinda
de Jesus, acontecessem os fatos descritos nele. Pelo contrário, fala-se para
que não se danifique o planeta até que os servos de Deus sejam selados (v.3). É
impossível falar em dano sobre a terra após a segunda vinda de Cristo!Temos, no capítulo 7,
duas cenas: uma na terra (v.1-8), e outra no céu (v.9-17). Na primeira, temos
os cristãos sendo selados (v.3), o que significa que eles recebem a marca de
Deus, são possessão dEle. Isso lhes dá garantia de que Deus os guardará durante
os períodos de sofrimento. O número de “cento e quarenta e quatro mil de todas
as tribos de Israel” (v.4) significa, por um lado, um recenseamento que Deus
faz, mostrando que conhece exatamente quantos são os seus. Por outro lado, o
número indica que são doze mil de cada uma das 12 tribos. Isso é simbólico, e
quer mostrar a totalidade do povo de Deus. Não falta ninguém! Esse Israel é o
“Israel espiritual” (Gl 6,16; Tg 1,1), a Igreja. Mesmo que ela sofra, Deus a
guarda.Na segunda cena
(v.9-17), temos a igreja no céu. Os crentes estão “diante do trono e do
Cordeiro” (v.9). São, especialmente, aqueles que têm morrido por seu testemunho
(v.14 com 6,9). Para eles é apresentado o término do sofrimento como acontecerá
na segunda vinda (v.16-17 com 21,4). Esta imagem é importante para as igrejas
da Ásia Menor, onde alguns haviam morrido e outros estariam para morrer,
demonstrando o seu destino e sua bem-aventurança ao lado do Senhor. CONCLUSÃO:Deus está
no controle de todas as coisas! Jesus tem o domínio sobre a história. Mesmo que
passemos por tribulações, o Senhor nos conhece um a um. Isso deve fazer
diferença para nós!
O TOQUE DAS SETE TROMBETAS
Apoc.8,1-11.19
Na abertura dos
selos, quando esperamos que o sétimo seja aberto, o escritor apresenta um
interlúdio (capítulo 7) para somente depois dele abrir o último selo. Mas, para
nossa surpresa, esse selo não introduz a abertura do livro com a revelação do
seu conteúdo e conseqüentemente a vinda de Jesus; pelo contrário, ele traz uma
nova série de sete. Agora são sete trombetas que serão tocadas! Elas compõe o
conteúdo do sétimo selo. Temos um novo bloco do livro que volta a apresentar o
paralelismo progressivo.Em termos
cronológicos, o texto começa novamente a falar do presente (8,3 - os cristãos
das igrejas que estavam orando), e do futuro (11,17-18 - julgamento dos mortos
e galardão). Além disso, não existe seqüência cronológica entre os selos e as
trombetas, visto que em 6,12 fala-se do “sol que se tornou negro”, e em 8,12 há
a menção de que “um terço do sol se tornou escuro”. Se no capítulo 6 o sol já
estava escuro, como, no capítulo 8, ele teve apenas uma terça parte sem luz?
Isso mostra que não há sucessão de tempo entre as duas seções.
À
semelhança do bloco anterior, estes capítulos também são divididos em duas
partes:
8,1-6 : cena de
abertura no céu.
8,7-11,19 : toque das
trombetas.
1.
CENA DE ABERTURA NO CÉU - 8,1-6.
A abertura do sétimo
selo introduz uma cena celestial (v.1-2). Um anjo queima incenso para oferecer
com as orações dos santos (v.3-4). Os sacrifícios no V.T. eram apresentados com
incenso (Lv 16,12), e a oração, vista como um sacrifício a Deus passou a ser
comparada ao incenso que sobe diante de Deus (Sl 141,2). Esta cena fornece a
garantia de que as orações dos fiéis têm chegado a Deus e que Ele as responde.
Essa resposta se manifesta quando o anjo pega o fogo do altar e joga sobre a
terra (v.5). Isso indica o julgamento de Deus que se dará através do toque das
trombetas. Talvez fosse isso que os cristãos pediam em suas orações.
2.
O TOQUE DAS TROMBETAS - 8,7-11.19
Trombetas foram
usadas para sublinhar os grandes momentos na história de Israel (foram usadas:
para anunciar o combate - Jr 4,5; nas festas - 2Sm 15,10; na cerimônias
cultuais - Nm 10,10; nas teofanias - Ex 19,16ss). São elas que anunciarão a
vinda de Jesus (Mt 24,31; 1Co15,52; 1Tss 4,16). Somos tentados a identificar as
trombetas do Apocalipse com este último sentido. Porém, a análise do texto
mostra que essa relação não é correta. Elas não anunciam o fim, mas sim o juízo
de Deus que se manifesta na terra e sobre os homens no decorrer da história.
Parece que o uso delas é justamente para quebrar essa expectativa iminente,
mostrando que ainda não é o fim.Dentro do paralelismo
progressivo, as trombetas apresentam basicamente o mesmo tema dos selos: as
catástrofes que vêm sobre a humanidade. Enquanto nos selos esses sofrimentos
acontecem de modo generalizado, para cristãos e não-cristãos, nas trombetas
eles visam os homens que não crêem (8,13 - os “que moram na terra” são os
homens que têm perseguido os cristãos [ver 6,10]; 9,4). Elas mostram que, para
estes homens, o sofrimento é especialmente duro. Nele, os cristãos são chamados
à perseverança, e os incrédulos recebem uma advertência de Deus para que se
arrependam (9,20-21). Por isso a destruição não é total, ela visa apenas a
“terça parte” (8,7.8-9.10.11.12; 9,18). Porém os homens não se voltam para o
Senhor, e por isso serão destruídos na manifestação de Jesus (11,18b). Isso se
dará na sétima trombeta, que marca o fim (11,15-19).As pragas que vêm por
intermédio das trombetas devem ser entendidas como conseqüência e retribuição
aos pecados dos homens. Somente nesse sentido é que pode-se entender que a
terra e a natureza sofram (8,9.11. Ver Rm 8,20-22). Além disso, o pano-de-fundo
das trombetas se encontra nas pragas do Egito (Ex 7-11) que mostram o juízo de
Deus sobre um povo que oprimiu os israelitas e não quis ouvir a voz de Deus.
Primeira trombeta
(8,7). Representa qualquer tipo de destruição que causa dano à terra (ver a
relação com a sétima praga em Ex 9,24-25).
Segunda trombeta
(8,8-9). Indica, na linguagem apocalíptica, os danos ocorridos no mar. Os seres
aquáticos são atingidos, bem como o comércio marítimo, que era muito importante
para Roma, através da destruição das embarcações. Esta catástrofe é mais séria
que a primeira, porque atinge, mesmo que indiretamente, os seres humanos (ver a
primeira praga em Ex 7,20-21).
Terceira trombeta
(8,10-11). Se a terra e o mar já foram atingidos, agora a destruição atinge a
água potável. As águas se tornam em “absinto”, uma planta que, por ser muito
amarga, passou a ser usada como sinônimo de “veneno”. Nesta trombeta os homens
são atingidos diretamente. Muitos deles morrem. Uma depois da outra, os
segmentos mais necessários à vida humana na terra são atingidos.
Quarta trombeta
(8,12-13). Se o sol tornando-se negro, e as estrelas caindo são sinais da vinda
de Jesus (6,12-13), o escurecimento da terça parte do sol, da lua e das
estrelas é um sinal antecipatório de que o fim está próximo. É essa a mensagem
que a águia traz no versículo 13.
Quinta trombeta
(9,1-12). O versículo 13 marcou uma transição entre as quatro primeiras
trombetas e as três últimas. As últimas são mais intensas e piores que as
anteriores. A citação da “estrela que cai do céu” (v.1) é usada para descrever
seres vivos que atuam arrogantemente (Is 14,12) e aqui pode referir-se a Satanás
(Lc 10,18; Ap 12,9). O “abismo” é o inferno antes do juízo final (Ap 20,1.3).
Os gafanhotos como “escorpiões” (v.3, 10) lembram seres subordinados ao diabo
(Lc10,19), portanto, “demônios”. A imagem, portanto, está clara. Enquanto as
trombetas anteriores falavam de males físicos, aqui a ameaça é espiritual. É o
sofrimento que o diabo e seus demônios impõe aos homens que “não têm o selo de
Deus” (v.4).
Sexta trombeta
(9,13-21). Esta última trombeta, antes do final, apresenta um último aviso e
mais grave: a morte (v.15, 18). De fato, ela nos faz pensar na nossa situação
diante de Deus. Mas mesmo diante dela, os homens não se arrependem (v.20-21).
Agora, à semelhança
do que aconteceu com os selos, há um interlúdio (capítulo 10-11,14). Ele serve
para aumentar a expectativa antes da última trombeta.Um anjo vem e afirma
através de um juramento que não haverá demora para o fim (10,1-7). Ordena-se a
João que coma o livro que está com o anjo (v.8-10), sinal e símbolo de vocação
profética (ver Ez 2,8-3,3). Comer o livro significa encher-se da revelação
profética. Isso acontece porque João tem muito o que profetizar (v.11).No capítulo 11 João
deve medir o santuário e o altar do templo (v.1). Logicamente o templo aqui não
é uma realidade física, visto que ele já havia sido destruído no ano 70 d.C.
Possivelmente se refere à Igreja, enquanto santuário de Deus (1Co 3,16; 2Co 6,16;
Ef 2,21). A medição significa “preservação”. O que não é medido é entregue aos
gentios para destruição (v.2). Temos, portanto, a reafirmação daquilo que
dissemos anteriormente, que os cristãos são guardados por Deus durante o toque
das trombetas.Essa mesma igreja que
é protegida por Deus, é mandada testemunhar através do símbolo dos dois
profetas (11,3). Eles são Elias (v.6a) e Moisés (v.6b), que eram tidos como os
maiores profetas de Israel. Em termos proféticos, representam muito bem a
Igreja. Eles são guardados por Deus (v.5). Devem profetizar 1.260 dias, período
esse entendido como compreendendo o tempo entre a primeira e segunda vindas de
Jesus (ver 12,4-5.14). A besta, que surgirá no capítulo 13, os mata (v.7-8). Os
povos alegram-se com isso (v.10), possivelmente porque eles pregavam contra
seus pecados. Mas três dias e meio depois da morte das duas testemunhas elas
ressuscitam (v.11), como o Senhor Jesus, e vão para junto do Pai (v.12). Esse é
o destino da Igreja. Embora receba forças para suportar os tormentos que se
abatem sobre a terra, sua pregação aos homens desperta ira, e ela é perseguida.
Isso tem acontecido na história da Igreja e acontecerá até a vinda de Jesus.Por fim, temos a
sétima trombeta (11,15-19). Ela marca a chegada do fim. Jesus julga os mortos,
dá galardão aos santos e destrói os ímpios (v.18-19). Aqui Jesus é visto em
toda a sua justiça que trará alegria àqueles que sofreram em seu nome e punição
para os que o rejeitaram.Nas trombetas temos
novamente o paralelismo progressivo. Pela segunda vez são apresentadas
catástrofes que se manifestam na história da humanidade. O objetivo delas agora
é atingir os descrentes a fim de despertar arrependimento e fé neles. A Igreja
é enviada ao mundo para testemunhar o evangelho de Jesus (cp. 11). Porém,
apesar dos sinais de Deus e da pregação da Igreja, o mundo não crê e mantém-se
endurecido em seu pecado. Nesse contexto, a sétima trombeta vem para dar o
pagamento que cada um merece.
A IDENTIDADE DO IMPÉRIO ROMANO E A PERSEGUIÇÃO DOS CRISTÃOS POR ELE:
Capítulos
12 a 14
Neste estudo
começamos um novo ciclo dentro do Apocalipse. Nele, as coisas vão ficando mais
claras e explicadas. Aqui, fora as referências indiretas nas cartas às igrejas,
é a primeira vez que o império romano aparece de modo claro. Ele é citado
devido a sua relação com os cristãos. Todo o resto do livro será um
desenvolvimento do que for mostrado neste texto.Estes capítulos se
dividem da seguinte maneira:
12 e 13: a
hostilidade do dragão e das duas bestas.
14: anúncios do
julgamento divino.
1.
A HOSTILIDADE DO DRAGÃO E DAS DUAS BESTAS - cp. 12 e 13
Estamos novamente no
passado, na encarnação de Jesus (12,5). A “mulher” é símbolo de Israel, de onde
vem Jesus (ver Is 66,7-8 para a imagem de Israel dando a luz filhos), e da
igreja, cuja descendência é perseguida pelo dragão (12,17). O “dragão” é
Satanás (12,9), e a “criança” que nasce é Jesus Cristo (12,5 - referência ao
Salmo 2 que fala do Messias).O dragão quer
“devorar o filho da mulher” (v.4). Ou seja, ele queria matar Jesus Cristo antes
que Ele consumasse sua obra na cruz (Ver, nesse sentido, a intenção demoníaca
de Herodes em Mt 2,16-18). Porém não consegue. A criança é arrebatada aos céus
por Deus (v.6), o que significa sua ascensão após a ressurreição. O objetivo
destes primeiros seis versículos, portanto, é mostrar como o diabo foi
malsucedido ao tentar destruir o Senhor Jesus Cristo.Como conseqüência do
que foi dito acima, os versículos 7-12 mostram a expulsão do diabo do céu que
se deu com a encarnação, vida (o que pode ser visto através da vitória sobre o
diabo no deserto - Mt 4, e nos diversos exorcismos), morte e ressurreição de Jesus
(Jo 12,31-32; 16,11). Essa expulsão é apresentada através de uma luta celestial
(vs.6-9). A vitória de Jesus é assumida pelos cristãos (v.11).A expulsão do diabo
já foi mencionada na quinta trombeta (9,1-11) que falava da sua ação sobre os
homens descrentes. Agora sua ira (v.12) se manifesta contra a igreja (v.13). A
mulher (= igreja) foge com “asas de águia” (símbolo de ajuda divina - Ex 19,4)
para o “deserto” (referência à saída do povo do Egito, em direção ao deserto,
onde Deus os dirigiu e protegeu contra o faraó). Como já foi mencionado, esse
“um tempo, tempos, e metade de um tempo” significa todo o período entre a
primeira e a segunda vindas de Jesus Cristo. A “água” que sai da boca do diabo
(v.15) significa maldade, tribulação lançados contra a igreja (Ver sobre o
símbolo da água - Sl 32,6; 124,4). Mas a igreja é salva (v.16). Isto só torna o
diabo mais irado, e sua próxima investida será através da duas bestas (cp.13).A primeira, a “besta
que surge do mar” (13,1) é o império romano (ver 17,3 e 9, onde menciona-se os
“sete montes”, referência explícita à cidade de Roma). O “mar” representa os
poderes que se opõe ao domínio de Deus (Sl 74,13-14; 89,10-11) ou então
significa o “mar Mediterrâneo”, lugar de domínio romano. Em ambos sentidos, mar,
aqui, significa oposição a Deus. A besta que vem do mar é o império romano que
se opõe a Deus e ao seu povo. Estamos agora falando do presente, dos problemas
da comunidade em seus dias diante de Roma.Por trás deste
domínio político, diz João, está o diabo (v.2b). Fica claro que a questão da
oposição de Roma que surge, ou surgirá, não é uma questão política apenas, mas
sim religiosa. É nesse sentido que os cristãos devem entender a situação e se
posicionar diante dela. Se em Rm 13 o imperador é instrumento de Deus, neste
capítulo ele é instrumento do diabo. Como o cristão deve se comportar diante
dessas realidades?A “cabeça ferida de
morte que é curada” (v.3), no texto grego é muito parecida com a afirmação
sobre Jesus, que é o “Cordeiro como tinha sido morto” (5,6). A “cabeça”
significa um imperador romano (ver 17,9b). Portanto, há um imperador que arroga
o direito de ocupar a mesma posição de Jesus como ressurreto. Na época havia
uma lenda que dizia que o imperador Nero, morto em 68 d.C., voltaria à vida, e,
cria-se, isso estaria acontecendo. Domiciano era, para o povo, o Nero redivivo!
Isso maravilhava “toda a terra” (v.3b) e trazia “adoração ao dragão e à besta”
(v.4). Temos, nestes versículos, um princípio importante para a manutenção de
todo poder político: criar uma “aura de divinização” em torno de si. Ou seja,
apresentar-se como representando Deus, ou então, divinizando seus heróis. É o
que acontece com os Estados Unidos, que dizem cuidar da democracia de todo o
mundo, como país escolhido por Deus, sendo que, na realidade, trazem opressão.
De modo semelhante, o Brasil apresentava o golpe de estado de 1964 como
orientado por Deus para preservar a democracia contra o “comunismo diabólico”.
O Apocalipse nos ajuda a ver por “detrás” dessa máscara. Ver o quem realmente
está agindo. E o que se esconde por detrás dessa fachada é o poder diabólico
que gera violência, sofrimento e derramamento de sangue.A besta profere
blasfêmias, persegue a igreja e a vence, dominando sobre os povos que a cultuam
(v. 6-8). É um tempo de opressão. Nessa hora, é importante crer que, apesar do
sofrimento e da morte, os cristãos já venceram o diabo (12,11-12).A segunda besta, a
que “surge da terra” (13,11-18), representa o poder religioso do império. Ela
“parece cordeiro”, referência a Jesus Cristo, mas fala como “dragão” (v.11). É
a máquina estatal a serviço da adoração do imperador. Possivelmente fala-se
aqui dos sacerdotes dos templos que cultuavam ao imperador e dos altos
funcionários provinciais responsáveis pelo desenvolvimento desse culto (v.12).
Mas essa prática só desenvolveu-se porque havia uma desejo e aspiração do
próprio povo. A sociedade o estimulava (a Ásia Menor foi a região onde tal
culto mais desenvolveu-se), e aceitava de bom grado a idéia de fazer imagens em
homenagem ao imperador para cultuá-lo (v.14). Os cristãos por não adorarem a
imagem do imperador, declarando-o Senhor, eram mortos (v.15).Esta segunda besta,
enquanto manifestação religiosa, opera “sinais”, visto que Satanás está por
trás dela (2Tss 2,9). Ela desenvolve uma identidade profética poderosa,
semelhante a Elias (v.13. Ver 1Rs 18,30-38). Também torna viva a imagem da
besta (v.15a), possível referência aos oráculos que eram proferidos por ela.
Assim como os que adoram a Deus foram marcados (7,3), os adoradores da besta
também o são (v.16). Tal procedimento significa a identificação daqueles que
são leais, tanto a Deus, quanto à besta. Esta caracterização irá definir o
destino de cada pessoa no desenrolar do livro. Assim como a marca de Deus, a
marca da besta também era simbólica. Não existe dado histórico indicando que
todos que adoravam ao imperador recebiam uma marca. A marca consistia na
própria lealdade, fosse a Deus ou ao diabo. Portanto, adorar ao imperador
inclinando-se diante de sua estátua, maravilhando-se com seus sinais
prodigiosos, e seguindo suas orientações como se fosse um deus, já constituía
um sinal que haveria de identificar seus praticantes.Do mesmo modo, o
“número da besta” (v.18) não introduz um nome específico, visto que já sabemos
que a besta é o império romano, representado por seu imperador, Domiciano, mas
sim um simbolismo. O número seis, por ser inferior ao sete, número da
perfeição, simboliza exatamente seu oposto, a “imperfeição”. Dizer que o número
da besta é 666, significa dizer que, apesar de toda sua arrogância e poder, o
império romano é imperfeito, até mesmo frágil e que, portanto, é sábio aquele
que se mantém ao lado de Deus.A imagem das duas
bestas é altamente relevante para nós. Muitas vezes, de modo infantil, temos
nos preocupado com o “significado” do número da besta e do seu sinal, não
compreendendo o real sentido disso. Na verdade, tem o sinal da besta aquele que
sente-se fascinado pelo estilo de vida da sociedade; aquele que idolatra uma
ideologia, seja comunista ou capitalista; aquele que coloca um propósito de
vida materialista para si; aquele que se deixa guiar por um Estado totalitário,
ou pseudo-democrático, etc. Todas essas expressões de vida e, na realidade, de
fé, quando se tornam senhoras de nossa vida, nos marcam com o sinal do
verdadeiro dirigente de nossos destinos: o diabo. É por isso que devemos
lembrar sempre: a característica deles é 666, ou seja, eles são imperfeitos!
Temos tido discernimento para entender isso?
2.
ANÚNCIOS DO JULGAMENTO DIVINO - cp. 14
Assim como os dois
blocos anteriores mostram, depois da descrição das catástrofes, a segurança do
povo de Deus antes do juízo final (cp. 7; 11,1-2), aqui também o mesmo
acontece. Após apresentar o império romano como o instrumento usado pelo diabo
para perseguir os cristãos, é mostrada uma cena onde Deus guarda aqueles que
são seus (14,1-5). Os crentes entoam um cântico que somente eles podem cantar
(v.3). Não é dito nada sobre a letra do cântico. Mas com certeza era semelhante
aos anteriores (4,11; 5,9; 7,12 etc) que falavam da soberania de Deus, e da
obra redentora de Jesus. Somente eles, como salvos, podem cantar. Mesmo diante
da perseguição e do sofrimento (cp. 13) há louvor em seus lábios. A consciência
da soberania de Deus sobre nossas vidas conseqüentemente nos leva a louvar Seu
nome.A partir de agora vem
o anúncio do julgamento de Deus. Passamos a falar do futuro. Um anjo traz um
“evangelho” (= boa notícia) anunciando que é chegado o “seu juízo” (v.6-7). O
anúncio do evangelho não consiste somente de salvação, mas de juízo também (ver
Lc 3,17[linguagem apocalíptica de juízo] e 18).O juízo que tem
chegado é definido em relação a Roma. O anjo anuncia a queda da “Babilônia” (=
Roma. Ver 1Pe 5,13). Este é um julgamento “na história”. Toda manifestação do
juízo divino que acontece na história humana é antecipação do juízo vindouro.Outro anjo anuncia o
juízo de Deus sobre os que “adoram a besta”. Se anteriormente Deus havia,
através das catástrofes na história, chamado tais homens ao arrependimento (cp.
8 e 9), agora define seu destino futuro (vs.9-11).Há, em seguida, uma
bem-aventurança sobre os que tem morrido no Senhor (v.13). Isso mostra que Deus
nunca esquece daqueles que lhe são fiéis.Por fim, há a
descrição do juízo final (vs.14-20). Ele é visto como uma “ceifa” (v.15-16. Ver
Mt 13,30) que objetiva aqueles que “adoram a besta”, os quais serão atirados no
“grande lagar da cólera de Deus”.O capítulo quatorze
fala, portanto, do juízo de Deus, que é mais específico do que os já
apresentados, e que enfoca aqueles que não o temem. Traz, de certa forma,
consolo para os que sofrem, e já é uma resposta à oração dos fiéis que pediam
justiça (6,10). Esta justiça será mais desenvolvida nos capítulos seguintes.CONCLUSÃO:Os
capítulos 12 a 14 cobrem, como as seções anteriores, o passado, presente e
futuro. O passado, é lembrado em função da incapacidade do diabo para matar
Jesus o que, conseqüentemente, introduz o presente, ao apresentá-lo perseguindo
a igreja, tendo como instrumento o império romano. Já o futuro mostra o outro
lado da realidade ao declarar que aqueles que hoje perseguem, no futuro,
através do juízo de Deus, serão perseguidos. Devemos lembrar através destes
capítulos que, diante dessas realidades, é impossível ficar passivo. Ou se tem
a marca de Deus, ou da besta. Novamente João é radical.
AS SETE TAÇAS
Capítulos 15 e 16
Após termos visto nos
capítulos 12 a 14 a identidade do perseguidor dos cristãos: o império romano, e
o poder por trás dele: Satanás, veremos hoje o derramar da “cólera de Deus”
sobre o mundo (15,1; 16,1) e especificamente sobre a besta, os que tem a sua
marca, e a Babilônia.Novamente, neste
ciclo, vemos repetir-se o período que cobre toda a história humana. Devemos
repetir que estes capítulos não estão em “seqüência cronológica” com os
anteriores. Evidência disso é a afirmação em 14,8 de que Babilônia (Roma)
“caiu”. Porém em 16,19 fala-se novamente de sua destruição e no capítulo 17 ela
é descrita de modo detalhado antes de perecer.Os três capítulos
estudados hoje estruturam-se assim:
Capítulo 15. Cena
de abertura no céu.
Capítulo 16. As
sete taças da ira de Deus.
1.
CENA DE ABERTURA NO CÉU - cp. 15
João vê sete anjos
com sete flagelos pois com eles se “consumou (consumará) a ira de Deus”. Temos
visto a ação de Deus sobre a terra (natureza e homens) nos selos e trombetas.
Agora sua manifestação é mais enfática. Ele está irado contra aqueles que tem
perseguido sua Igreja e irá agir contra eles. Esse é o alvo das sete taças.João introduz uma
visão que manifesta o tempo presente ao mostrar no céu aqueles que “venceram a
besta”. Isto é importante, pois assegura que aqueles que foram aparentemente
“derrotados” e “mortos” pela besta (13,7.15), na realidade, foram “vitoriosos”
sobre ela. Eles não estão tristes por terem morrido, pelo contrário, tem
cânticos de louvor a Deus e ao Cordeiro em seus lábios (15,3-4).Em seguida sete anjos
recebem sete taças de ouro contendo a cólera de Deus (15,7). Isso significa que
o que está para acontecer na terra não é obra do acaso, mas obra de Deus. O que
acontece na terra é definido no céu.
2.
AS SETE TAÇAS DA IRA DE DEUS - cp. 16.
Levítico 26,21 afirma
que aqueles que não querem andar segundo a vontade de Deus recebem “pragas” da
Sua parte. É o que acontece aqui. Devemos notar uma progressão nas ações de
juízo de Deus sobre a terra. Nos selos, toda a terra é atingida pelas catástrofes
que acontecem no decorrer da história, incluindo cristãos e não-cristãos. Nas
trombetas, o alvo são aqueles que não crêem em Cristo, os quais, diante do
sofrimento, deveriam se arrepender e voltar para Deus (9,21). Porém isso não
acontece. Já nas taças, temos uma especificação maior. A cólera de Deus, que se
manifesta na história, visa os seguidores da besta (16,2) e a cidade de Roma
(16,19). O objetivo agora já não é gerar arrependimento, mas punir. Quanto a
isso, enquanto as trombetas atingiam uma “terça parte” (8,7.8.10.12; 9,15), as
taças agem sobre tudo e todos. É o juízo de Deus que cai sobre aqueles que não
o temem, pelo contrário, perseguem sua Igreja.Para corroborar com o
que foi dito acima, ou seja, que tanto trombetas quanto taças cobrem o mesmo
período da história, basta que coloquemos em colunas paralelas os temas das
trombetas e das taças para vermos a incrível semelhança:
As
Sete Trombetas - cp.8-9 As Sete Taças - cp. 16
1. Terra (8,7) 1.
Terra (v.2)
2. Mar (8,9) 2. Mar
(v.3)
3. Rios e fontes
(8,10) 3. Rios e fontes (v.4)
4. Sol, lua, estrelas
(8,12) 4. Sol (v.8)
5. Escuridão, tortura
(9,2.5) 5. Escuridão, angústia (v.10)
6. Rio Eufrates
(9,14) 6. Rio Eufrates (v.12)
7. Voz no céu (9,13)
7. Voz no trono (v.17).
Não deve ser surpresa
para nós que o juízo de Deus se manifeste na história. Ele já agiu assim em
Babel (Gn 11,1-9) e em Sodoma e Gomorra (Gn 19,24-25). Tais manifestações são
apenas um prelúdio do grande ato de punição que será levado a cabo no dia do
juízo final.O capítulo 16, então,
expressa a ação de Deus contra Roma e seus seguidores, dentro daquilo que seria
o futuro em relação ao tempo de João e que culminará com a volta de Jesus
Cristo (16,17-21). Isso deve ser entendido por nós como a manifestação do juízo
de Deus na história e no final da história contra todo poder que se levante
contra Ele e sua Igreja. Você pode identificar algum fato desse na história da
humanidade?
A primeira taça
(16,2) lembra a sexta praga do Egito (Ex 9,8ss). Quando as pessoas se
manifestam impenitentes e contrárias `a vontade de Deus, sua própria saúde pode
ser atingida.
A segunda taça (16,3)
relaciona-se com a primeira praga do Egito (Ex 7,17-21). Ela atinge o ser
humano indiretamente, visto que ele depende do mar para viver.
A terceira taça
(16,4-7), assim como a segunda, relaciona-se com a primeira praga do Egito (Ex
7,17-20). Aqui fala-se da água enquanto necessária para a vida humana.
Possivelmente sua poluição deve-se à pecaminosidade do homem. Até com uma certa
ironia, o anjo explica o por quê dessa praga (v.6). Também ouve-se, vindo do
altar de Deus, vozes que louvam a justiça de Deus ao exercer juízo. É provável
que essas vozes sejam dos cristãos que clamavam por justiça em 6,10.
A quarta taça
(16,8-9) lembra a maldição de Deus sobre os que não o temem (Dt 28,22). Como
não pensar, em termos contemporâneos, ao câncer de pele, devido a poluição da
atmosfera?
A quinta taça
(16,10-11) atinge diretamente a besta (império romano - cp. 13). É a ação
direta de Deus sobre os poderes políticos, religiosos etc que se levantam
contra Ele. A história tem mostrado como povos que não deram ouvidos a Deus
foram retiradas do cenário internacional, como o Egito, Assíria, Babilônia,
Grécia, Roma, e, mais recentemente, a União Soviética (com muita certeza porque
perseguiu os cristãos).
A sexta taça
(16,12-16) manifesta a oposição do diabo (dragão), de Roma (besta) e da máquina
religiosa romana (falso profeta - em 19,20 ele é visto como aquele que faz com
que as pessoas adorem a besta, mesmo papel da segunda besta em 13,12.15) contra
Deus. Eles procuram unir aqueles que lhes dão apoio para lutar contra Ele
(v.14). O lugar em que eles vão lutar chama-se “Armagedom”. Não há concordância
quanto ao lugar e seu sentido. O certo é que ele representa a mesma batalha que
virá mais tarde em 19,11-21 e 20,7-10. Porém aqui ela não é descrita.
A sétima taça
(16,17-21) apresenta a vinda de Cristo (ver o paralelo entre o v.20 e 6,14),
relacionada com a destruição de Babilônia (= Roma. Ver 17,5.9). O juízo sobre
Roma na história é somente uma antecipação do juízo final que virá sobre ela.
As taças introduzem a
ação direta de Deus contra os inimigos de seu povo. Nos capítulos 17 a 20 eles
serão destruídos um por um. Depois virá a recompensa para aqueles que são
fiéis.
A
DERROTA DO IMPÉRIO ROMANO, DA BESTA E DO
FALSO PROFETA:
Capítulos
17 a 19
No último estudo
observamos como as taças da cólera de Deus caíram sobre os que têm o sinal da
besta (16,2) e sobre Babilônia (=Roma - 16,17-21). No texto de hoje estudaremos
com mais detalhes a derrota de Roma, da besta e do falso profeta. Com isso,
notamos como os inimigos de Deus e da igreja vão sendo derrotados um por um.
Nas “taças” a ênfase estava sobre os que “têm a marca da besta”. No texto de
hoje vemos a vitória sobre Roma, a besta e o falso profeta (= a besta que sobe
do mar no capítulo 13). Finalmente, no próximo estudo, é apresentada a derrota
do diabo.Também nesta seção se
apresenta um período que cobre toda a história. A descrição de Roma no capítulo
17 se dá dentro do momento em que João vivia, sendo o seu “presente”. Já o
capítulo 18, que descreve a queda de Roma, apresenta o “futuro”, quando Deus
realizará um juízo “na história” sobre essa cidade. No capítulo 19, vemos o
“futuro” dentro de uma perspectiva escatológica, no contexto da segunda vinda
de Jesus, quando Ele aprisionará a besta e o falso profeta e os lançará no
“lago de fogo” (19,20), lugar onde passarão a eternidade em tormentos (20,10).
É importante notar que a partir deste ponto a ênfase recai sobre o “futuro”.Estes capítulos têm a
seguinte estrutura:
Descrição de Roma,
a Grande Meretriz - cp. 17.
A queda de Roma e
suas conseqüências - cp. 18.
Louvor no céu pela
destruição de Roma - 19,1-10.
O aprisionamento da
besta e do falso profeta - 19,11-21.
1. DESCRIÇÃO DA CAPITAL DO IMPÉRIO ROMANO OPRESSOR E PERSEGUIDOR DOS CRISTÃOS COMO A GRANDE MERETRIZ - cp. 17.
O objetivo dessa
descrição é mostrar com detalhes o por quê tal cidade é destruída. Um anjo traz
tal revelação para João (17,1).Primeiramente vem uma
visão de Roma, a meretriz (vs. 3-6). Através das indicações do texto torna-se
claro concluir que essa mulher é a cidade de Roma (Ver vs.9a e v.18). Suas
vestes e adornos enfatizam sua “realeza e riqueza” (v.4). Ela está “assentada sobre
a besta” (v.3), que é o império romano (ver cp. 13), mostrando assim que
governa-o e é o seu centro. Ela é descrita como a “mãe das meretrizes e das
abominações da terra” (v.5), sendo, portanto, o centro de todo o mal que havia
no mundo de então. Sua última e principal característica é “estar embriagada
com o sangue dos santos” (v.6. Ver 13,7.15).Em seguida é
apresentada a interpretação da visão (v. 7-18). Primeiramente a “besta” é
identificada. Ela “era e não é, está para emergir do abismo” (v.8). Tais
palavras lembram a lenda sobre o “Nero redivivo”, que voltaria. Ele “era”, isto
é, exerceu seu reinado; “não é”, desapareceu; e “está para emergir”, surgirá no
futuro para governar o império. Para os cristãos, ele representava o poder
demoníaco do império romano. O v.9a nos diz que o império (a besta), se
identifica com a cidade de Roma, visto que as sete cabeças da besta são “sete
montes” (referência à cidade de Roma). Mas as sete cabeças são também “sete
reis” (v.9b). Isto pode nos causar estranheza, mas numa linguagem simbólica, o
mesmo símbolo pode ter mais de um sentido. O v. 10 tenta apresentar mais
detalhes sobre esses reis. “Cinco caíram, um existe, e o outro ainda não
chegou”. O que isso significa? Alguns tentam fazer um levantamento histórico sobre
quem eram esses reis. Mas isso não leva a lugar nenhum. Para João e suas
igrejas, não era importante saber quem foi o primeiro ou o quinto rei, mas sim
definir, através do “número” desses reis, a figura do império. É provável que o
número sete seja “simbólico”, como o foi na descrição das “sete” igrejas da
Ásia (cp. 2 e 3) que simbolizam “todas as igrejas” daquela região. O objetivo
seria, então, dizer que através dos sete imperadores, o império estaria
representando em sua totalidade a besta. Assim como o sexto imperador, o que
governa no momento em que João escreve - Domiciano, representava a besta, os
anteriores também a representaram e o seguinte também a representará. João quer
mostrar, assim, que o império em toda a sua extensão tem sido representante da
besta. Mas ele é “mais besta” em alguns momentos. Isso nos leva de volta à
besta que “era, não é, e está para emergir” (v.8 e 11). Nessa descrição, a
besta é um imperador específico. Estamos falando novamente da lenda do Nero
redivivo. Ele foi a encarnação mais clara da besta quando governou, e
esperava-se que um próximo imperador desenvolvesse novamente seu estilo de
governo: trazendo perseguição aos cristãos. Portanto, se com Domiciano as
coisas estavam “começando” a tornar-se difíceis, João nos diz que virá um outro
que trará tempos mais duros à igreja. Essa perspectiva contribui para pensarmos
que a perseguição ainda estava por vir. Esse imperador é o “oitavo”. Mas isso
não quebraria o simbolismo do número sete? Não, visto que, na realidade, ele não
é um imperador que deve-se “somar” aos outros sete, pelo contrário, ele “é um
dos sete” (expectativa do aparecimento de Nero). Teríamos, então, uma oitava
aparição de um dos sete imperadores.Continuando a
descrição da besta, ela tem “dez chifres” que são dez reis (v.12) aliados a ela
e que têm poder por um período curto de tempo (“uma hora”). São submissos à
besta (v.13). Formam uma frente para combater o Cordeiro, que os vence (v.14.
Essa batalha é apresentada em 19,11-21).
2.
A QUEDA DO IMPÉRIO ROMANO E SUAS
CONSEQÜÊNCIAS - cp. 18.
Assim como o primeiro
anjo introduziu a visão de Roma (17,1-3), um outro faz o anúncio de sua queda
(18,1-3). Embora essa destruição se apresente como já tendo acontecido (“caiu,
caiu” - v.2), ela, na realidade, será efetuada no futuro. Tal modo de falar é
para enfatizar que sua ruína “já está determinada”.Diante da condenação
de Roma, os cristãos são chamados a “abandoná-la” (vs. 4 e 5). Essa ordem, para
vários membros das igrejas da Ásia Menor, era difícil de ser cumprida. Eles
viviam sem problemas diante do império, usufruindo das riquezas da prostituta
(17,4). Mas para João, ou eles se afastam dessa cidade pecaminosa, ou se tornam
“cúmplices de seus pecados” (18,4).
A queda de Roma não é
um fato isolado na história. Ela tem conseqüências. E elas se manifestam para
aqueles que se relacionavam com a capital do império:
Primeiramente os reis da
terra se lamentam com a destruição da cidade (vs.3 e 9). Eles participavam de
seu poder e agora sentem a perda dele.
Em segundo lugar, temos os mercadores da
terra (vs. 3. 11-16) que se enriqueceram através do comércio com ela. Terão que
buscar lucro em outro lugar.
E, em terceiro lugar, vem os mercadores do mar, a
marinha mercante (vs. 17-19) que também se enriqueceu por transportar as mercadorias
de e para Roma no oceano Mediterrâneo. Todas essas pessoas sofreram com a
destruição de sua parceira.
Deixaram de auferir lucros com a ausência dela.
Pode ser que entre elas se encontrassem cristãos. Isso mostra como é perigoso
viver uma religiosidade superficial, que esconde uma vida essencialmente
profana, e que se vende ao sistema de influências, ao lucro com negócios
escusos. Hoje não será assim também?Em 19,21-24 novamente
aparece uma declaração da condenação de Roma, agora introduzindo os motivos
pelos quais Deus agiu assim. Primeiramente, devido a sedução de sua feitiçaria
(v. 23b) sobre as nações da terra. Essa feitiçaria não é necessariamente
religiosa, mas sim uma sedução exercida por Roma e seu poder, sua glória e
riqueza sobre o mundo. Ela é culpada porque usou desses atributos para levar os
homens à corrupção, à sensualidade e à opressão. O segundo motivo pelo qual é
punida é porque nela se achou sangue de profetas e santos (v. 24). Deus não se
esquece daqueles que perseguem Seu povo. Estes dois motivos fornecem o critério
para avaliarmos a ação de Deus diante de qualquer nação em qualquer época da
história.
3. LOUVOR NO CÉU PELA DESTRUIÇÃO DO IMPÉRIO ROMANO 19,1-10.
Há louvor no céu
porque Roma foi julgada (19,1-2). São os santos, apóstolos e profetas que estão
exaltando a Deus (18,20), pois Ele exerceu justiça sobre aquela que tinha
sangue dos seus servos em suas mãos (v. 2b). Os seres celestiais também O
louvam (v.4), e, por fim, uma voz do trono exorta todos os servos de Deus a Louvá-lO
(v.5).Em seguida o louvor
continua, agora em função do aparecimento da “esposa” do Cordeiro (v. 7). Esta
imagem da igreja fala de seu encontro final com o noivo, Jesus Cristo, em sua
segunda vinda (21,2). Tal figura é usada em outras partes do Novo Testamento
(Mt 25,1-13; Mc 2,19-20; 2Co 11,2; Ef 5,25-27). Há um contraste evidente aqui
entre a noiva e a prostituta. Aqueles que não se deixaram levar pela sedução de
Roma, a prostituta, mas mantiveram-se fiéis a Jesus, constituem a igreja pura,
sem mácula, noiva de Seu Senhor. Esses serão recebidos com amor pelo noivo e
viverão com Ele. São bem-aventurados (v.9). Aqueles que têm se deixado levar
pela prostituta estarão com ela no inferno para sempre.
4.
O APRISIONAMENTO DA BESTA E DO FALSO PROFETA - 19,11-21
Dentro da cena que
fala da segunda vinda do Senhor Jesus que começou em 19,6, temos sua
continuação com o aprisionamento da besta e do falso profeta, que são,
respectivamente, o império romano e a máquina estatal de promoção da adoração
do imperador descritos no capítulo 13. O cavaleiro (v. 11) é Jesus Cristo.
Podemos constatar isso a partir de sua descrição. “Olhos como chama de fogo”
(v.12) já apareceu em 1,14 referindo-se a Ele. Sai de sua boca uma “espada
afiada” (v. 15. Comparar com 1,16). Seu nome é “Verbo de Deus” (v. 13),
linguagem joanina para falar de Jesus (Jo 1) e “Rei dos Reis e Senhor dos
Senhores” (v. 16). Seu exército é formado por seus servos, os cristãos que
vestem “vestiduras de linho finíssimo branco e puro” (v. 14. Comparar com o v.
8).A besta com os reis
da terra se reúnem para lutarem com Jesus (v. 19). Esta cena foi antecipada em
16,14-16. Embora essa batalha não seja descrita, seu resultado é apresentado. A
besta com o falso profeta (que é a segunda besta do cp. 13. Ela opera “sinais”
- 19,20. Comparar com 13,13) são aprisionados e lançados no “lago do fogo que
arde com enxofre” (v. 20b), lugar de sofrimento eterno (20,10b), chamado de
“segunda morte” (20,14), para onde irão os que não estão inscritos no livro da
vida (20,15). Mais dois inimigos do Senhor Jesus são destruídos! Essa será a
punição final do império romano e de todo império ou nação que se levante
contra Deus.Temos aqui uma
descrição da segunda vinda de Jesus em termos de uma “batalha”. Essa mesma
segunda vinda já foi vista como uma “ceifa” (14,14-20). O Apocalipse usa várias
imagens para descrever o mesmo fato.Nestes três capítulos
vimos a punição de três inimigos do Senhor Jesus e de sua Igreja: a prostituta
(Roma), a besta (império romano), e o falso profeta (máquina estatal de
promoção da adoração do imperador). Os seguidores da besta já haviam sido
punidos no capítulo 16. Essa imagens são importantes para, primeiramente,
fortalecer aqueles que sofrem e são perseguidos, a fim de permanecerem fiéis a
seu Senhor. Em segundo lugar, elas nos lembram que um dia aqueles que nos têm
trazido “lágrimas aos olhos e a morte” (21,4) serão punidos pelo Senhor Jesus na
manifestação de sua justiça. Mas há um último inimigo a ser vencido - o dragão,
Satanás. Isso acontecerá no capítulo 20.
O
APRISIONAMENTO DO DRAGÃO (SATANÁS) E A VITÓRIA DA IGREJA - Parte I
Capítulos 20 a 22,5
No estudo anterior
(capítulos 17 a 19) vimos como o Senhor Jesus venceu três de seus inimigos:
Roma, a besta (império romano) e o falso profeta (máquina estatal romana a
serviço da divinização do imperador). Hoje vemos sua vitória sobre o último e
maior adversário: o dragão (diabo). Ele é o último a ser vencido por ser o mais
importante e por que estava por trás dos outros motivando-os para que
perseguissem a Igreja. Portanto, após sua derrota João poderá falar da igreja
vitoriosa vivendo com seu Deus e seu Senhor (capítulos 21 e 22).Neste bloco temos
pela última vez o aparecimento do paralelismo progressivo, isto é, o modo pelo
qual o Apocalipse conta a história começando com o passado e caminhando até o
futuro. Constatamos isso através do “aprisionamento de Satanás” (20,2) que se
deu na encarnação, morte e ressurreição de Jesus (Lc 11,20-22), referindo-se,
portanto, ao passado; por intermédio da apresentação dos cristãos que se
“opuseram a besta” (20,4), que diz respeito ao presente; e na descrição do
“juízo final” (20,11-15), que manifesta o futuro. Vemos, novamente, a
apresentação da história da humanidade desde a primeira até a segunda vinda de
Jesus Cristo.
Podemos, de modo
geral, dividir estes capítulos em dois grandes blocos:
Vitória sobre o
último inimigo, o dragão (diabo) e juízo final - cp. 20.
Vida da igreja com
seu Senhor na Nova Jerusalém - cp. 21-22,5.
1.
VITÓRIA SOBRE O ÚLTIMO INIMIGO - O DRAGÃO (DIABO) E JUÍZO FINAL - cp. 20.
Este capítulo tem
como centro a vitória sobre o diabo e sua prisão por “mil anos”. Estes mil anos,
conhecidos como “milênio”, tem despertado muitas interpretações no decorrer da
história. O objetivo aqui não é fazer uma avaliação delas, mas propor uma
análise do texto que seja coerente com o resto do livro.O milênio pode ser
visto a partir de duas ênfases diferentes no texto: numa perspectiva “terrena”
(vs. 1-3), relacionada com a prisão de Satanás, e numa abordagem “celestial”
(vs.4-6), enfocando a presença dos cristãos mortos no céu juntamente com
Cristo.O diabo é “preso” por
mil anos. Como dissemos acima, isso se relaciona com a vitória de Jesus sobre
ele (Ver Lc 11,20-22; Jo 12,31; 16,11; 1Jo 3,8b). Esta mensagem já foi
apresentada no capítulo 12,7-12. Esta prisão significa que ele não tem mais
poder para “enganar as nações” (v.3). Antes da manifestação de Jesus Cristo, o
diabo exercia domínio (não absoluto, é claro) sobre os povos, guiando-os para a
distância de Deus. Mas com a presença de Jesus e posteriormente da Igreja, os
homens começam a ser arrancados do reino do diabo e transportados para o reino
de Jesus (Cl 1,13). Agora as trevas não podem mais se opor à luz (Jo 1,5).
Através da pregação do evangelho os homens são chamados à salvação.O período de “mil
anos” durante o qual o diabo está preso deve ser entendido simbolicamente, do
mesmo modo como foram entendidos os “quarenta e dois meses” (11,2), os “mil
duzentos e sessenta dias” (11,3; 12,6), o “um tempo, tempos e metade de um
tempo” (12,14), e “uma hora” (17,12). Este período representa um tempo que se
estenderá “da encarnação até um pouco antes da segunda vinda de Cristo”. Logo
após os mil anos o diabo “será solto por pouco tempo” (v.3).Dentro de uma
perspectiva “celeste”, os mil anos relacionam-se com o destino daqueles que tem
sido mortos em nome de Jesus (v. 4-6). Eles são descritos como “sentados em
tronos para julgar” (v. 4). Esta visão é conhecida do resto do Novo Testamento
(Ver Mt 19,28; Lc 22,30; 1Co 6,2). Eles “reinam” (v.4) e são “sacerdotes” (v.6)
junto a Cristo. Isto já foi dito daqueles que crêem em Jesus (1,6; 3,21; 5,10).
Se anteriormente eles foram apresentados “sofrendo”em nome de Jesus, agora eles
são vistos “reinando” com Ele. Isso era muito importante para as comunidades
para quem João escrevia. Mesmo que para o mundo os cristãos fossem perdedores,
na realidade eles eram vencedores. Estavam na presença de seu Senhor reinando
juntamente com Ele.A “primeira
ressurreição” da qual falam os versículos 5 e 6 é o modo pelo qual João vê a
morte dos servos de Deus. Para ele, quando um cristão morre, ele experimenta a
“primeira ressurreição”. Ele vai para junto de Jesus Cristo. Vive como
ressuscitado, com a única diferença de que ele ainda não está de posse de seu
corpo (o que se dará na ressurreição geral dos mortos na segunda vinda de
Jesus). É o que marcará a diferença entre essa primeira ressurreição, e a
ressurreição geral de todos os mortos. É por isso que João pode dizer que quem
experimenta a primeira ressurreição não sofre a “segunda morte”, ou seja, a
morte eterna. Nesse sentido, pode parecer estranho que o escritor diga que “os
restantes dos mortos não reviveram até que se completassem os mil anos”. Mas a
questão aqui é que João não está preocupado com a morte dos ímpios. Para ele,
basta saber que na ressurreição geral, que se seguirá após os mil anos, eles
serão julgados (20,12-15). Não lhe interessa o “estado intermediário” da alma
dessas pessoas. O importante é dizer que os “crentes”, aqueles que foram
“fiéis” a Jesus Cristo já estão em Sua presença.Nos versículos 7 a 10
é descrita a vitória sobre o diabo. Após os mil anos, o diabo é solto (v.7) por
“um pouco de tempo” (v.3b). Será um período curto de tempo no qual ele fará uma
oposição feroz a Deus. Paulo já falou dessa manifestação satânica dos últimos
tempos (2Tss 2,1-4; 7-12). Essa oposição é descrita no Apocalipse como uma
sedução das nações que há “nos quatro cantos da terra” (v. 8a = todas as nações
do mundo), que são chamadas de “Gogue e Magogue”. Tais nomes vêm de Ez 38,2 e,
qualquer que seja o sentido que desenvolvem nesse texto, aqui eles simbolizam a
reuniam de todos os povos ao lado do diabo para lutar contra Jesus Cristo. O
texto não descreve a luta, dando porém o resultado: “desce fogo do céu e os
consome” (v.9). Tal batalha já foi descrita como acontecendo num lugar
desconhecido ou ignorado chamado “Armagedom” (16,13-16); ou como a reunião de
dez reis com a besta para lutar contra o Cordeiro (17,12-14); ou mesmo como a
batalha de Jesus contra a besta e os reis da terra (19,19-20). São maneiras
diferentes de descrever a mesma cena. Por fim, o diabo é vencido. Ele é lançado
no lago de fogo e enxofre onde estão a besta e o falso profeta (v.10). O último
inimigo do Senhor Jesus e da Igreja é derrotado!O final do capítulo
(vs. 11-15) apresenta a segunda vinda de Jesus Cristo como o dia de julgamento
para os homens. Esta cena é vista de outras duas perspectivas no livro: como
uma ceifa (14,14-20), e como uma batalha (19,11-21). Embora não se diga quem é
o juiz, deve ser o próprio Deus, que é várias vezes designado como aquele que
está sentado no trono (4,2; 5,1.7.13; 6,16; 17,10.15; 19,4; 21,5). Os mortos de
todos os tempos e épocas se apresentam diante do dEle (vs. 12-13). Esses, que
até aqui receberam juízos “na história”, serão julgados segundo suas “obras”.
Não devemos estranhar tal afirmação visto que aparece em outros lugares como Mt
25,31-46; e 2Co 5,10. Os cristãos foram criados para “boas obras” (Ef 2,10) e
pelos seus “frutos” é que podem ser conhecidos (Mt 7,16-18). O destino das
pessoas será decidido em função de sua postura: se foram seduzidos e seguiram a
besta, serão condenados. Se foram fiéis a Jesus Cristo, e colocaram sua
lealdade a Ele acima do amor a suas próprias vidas, terão seus nomes inscritos
no livro da vida (vs. 12 e 15). A partir desse momento, o livro descreverá a
vida dos cristãos em comunhão com Deus e Jesus Cristo (cp. 21 e 22).O capítulo 20 é a
conclusão das lutas e batalhas pelas quais a igreja passa neste mundo. Os
cristãos mortos são vistos no céu reinando com Jesus. O diabo, em sua última
oposição é derrotado. E o destino final dos homens é manifestado. A partir daí
só haverá gozo (cp. 21 e 22).
O
APRISIONAMENTO DO DRAGÃO (SATANÁS) E A VITÓRIA DA IGREJA
Parte II - Capítulos
20 a 22,5
Neste segundo estudo
desta seção que intitulamos Vida da Igreja com seu Senhor na Nova Jerusalém
(ver estudo anterior), abordaremos o capítulo 21:1 até 22:5. Vimos anteriormente
a derrota do diabo e o juízo final (capítulo 20). Agora veremos o povo de Deus
em Sua presença na eternidade gozando da recompensa da fidelidade à Ele.
1.
VIDA DA IGREJA COM SEU SENHOR NA NOVA JERUSALÉM - cp. 21:1-22:5.
Este texto pode ser
dividido em duas partes, onde cada uma delas começa fazendo referência à
“cidade Santa, a nova Jerusalém, que desce do céu” (vs. 2 e 10) e à “noiva”
(vs. 2 e 9):
Visão Geral sobre a
Nova Era inaugurada por Cristo - 21:1-8.
Descrição da Nova
Jerusalém - 21:9-22:5.
1.1. Visão Geral
sobre a Nova Era inaugurada por Cristo - 21:1-8.
Esta
Nova Era é apresenta em três aspectos:
1)-
O que estará ou não estará presente - vs.1-4.
O que estará presente
é apresentado por João através da palavra “vi” (v.1a e 2). O que deixará de existir é indicado pela frase: “já não existe” (v.1b e
4); haverá um novo céu e nova terra - v. 1. Céu e terra é uma
expressão que indica a totalidade da criação formando agora um novo
meio-ambiente em que haverá harmonia (ver essa idéia em Is 11,6-10). Como o ser
humano, a natureza será resgatada do poder do pecado (Rm 8,20-22). A colocação
de João quer nos mostrar que não habitaremos num lugar “desconhecido”, mas
nesta mesma terra que Deus criou para o nosso regozijo. Todas as coisas belas da
criação, que hoje são afetadas pelo pecado, estarão redimidas e com toda a sua
beleza e esplendor e desfrutaremos delas como Adão e Eva no princípio.não
haverá mais o mar - v.1. Sinônimo do caos e de oposição a Deus, as águas no
Apocalipse representam os povos que estão sob o domínio de Roma (17,15). Por
isso a besta (império romano) é vista emergindo do mar, indicando com isso que
ela é colocada em evidência como a líder dos povos (cp. 13,1). Diante disso,
devemos ver a não existência do mar, não como a negação de sua realidade
física. O texto não quer dizer que os mares que existem na terra deixarão de
existir na Nova Criação, pois eles, como o resto da obra de Deus, serão
redimidos e existirão para o gozo e benefício dos salvos em Cristo. Mas o que se
pretende aqui é usar o “símbolo” do mar para indicar que aquilo para o que ele
aponta, a oposição a Deus, não estará presente nesta nova realidade de harmonia
total. Portanto, não são os “mares” que não existirão, mas sim aquilo que eles
simbolizam, o poder do império romano que perseguiu a igreja. Esse sim não
existirá.
Haverá
a nova Jerusalém que desce do céu - v.2-3.
Ela está vestida como
“noiva”. Esta indicação é importante, pois em 19,7-8 é a “Igreja”que se
apresenta como noiva, e em 22,17 é ela, a Igreja, que diz: “Vem”, para seu
noivo, Jesus Cristo. Podemos inferir, portanto, que a Nova Jerusalém, vista
como “noiva” é uma figura que refere-se à Igreja, a noiva do Cordeiro. Este
modo de interpretar também está de acordo com o v.3 onde fala-se novamente da
Nova Jerusalém, agora como o “Tabernáculo” de Deus com os homens. Nesse
versículo não se diz que Deus habitará “na Nova Jerusalém” com os homens, mas
apenas que “Deus habitará com eles”. Portanto, a Nova Jerusalém é a própria
Igreja, o Povo de Deus com o qual Ele habitará.
Não
haverá mais sofrimento - v.4.
As lágrimas e o
pranto, bem como a morte e o luto decorrente dela, que foram trazidos aos
cristãos pela perseguição, e que, no decorrer dos tempos têm vindo sobre
aqueles que são fiéis a Jesus Cristo, “não existirão”. Eles fazem parte das
“primeiras coisas” que já passaram. Representam o mundo sob o pecado e suas
conseqüências que foi vencido e não se manifesta mais.
2)-
O responsável pelo surgimento da Nova Criação - v.5-6.
Depois de descrever
como será esse novo mundo onde os salvos em Cristo habitarão, João apresenta o
responsável por tudo isso. É o que “está assentado no trono”. No Apocalipse, é
sempre Deus que está assentado ali (ver, por exemplo, 4,2-3). Ele é o “alfa e o
ômega”, o “princípio e o fim”. Isso quer dizer que tudo o que aconteceu, tem
acontecido e acontecerá, desde o começo até o fim, está sob as mãos poderosas
de Deus. Na realidade, tudo o que é descrito no Apocalipse, mesmo quando traz
sofrimento e as vezes falta de compreensão aos cristãos, faz parte do “livro
que está nas mãos de Jesus Cristo” (5,7), e que foi aberto por Ele em sua
exaltação. O seu conteúdo revela o domínio de Deus sobre a história. É por isso
que o final do livro apresenta a vitória final da Igreja. Ela é cuidada e
dirigida por Deus até o final.
3)- Quem participa e quem não participa na Nova Era - 7-8.
Os que gozarão da
comunhão eterna com Deus são descritos como “vencedores” (ver 2,7.11.17.26;
3,5.12.21). Eles são os que não assimilaram os valores de Roma e, quando
necessário, pagaram o preço da fidelidade com a própria vida. Os que não
participam são descritos no v.8. É uma descrição genérica, que inclui todos os
homens que tiveram esse tipo de comportamento. Porém é importante observar que
alguns “cristãos” podem estar presentes nessa lista. É significativo que ela
comece com os “covardes”. Poderia ser uma referência aos cristãos que não
tiveram coragem de assumir sua fé até os últimos limites. Os “incrédulos” podem
também indicar não apenas os que não crêem em Deus, mas também aqueles que não creram
nas palavras de João, o escritor do livro, achando-o muito radical em sua
postura. Portanto, essa advertência é para todos os homens, mas também para os
cristãos “nominais”.
1.2.
Descrição da Nova Jerusalém - 21,9-22,5.
Estes versículos
desenvolvem o tema da Nova Jerusalém apresentado em 21,2-3. A descrição começa
no v. 12. Devemos lembrar que já consideramos a Nova Jerusalém como uma figura
para a Igreja. Tal posição pode parecer estranha ou pouco comum, mas creio que
ela se enquadra no estilo literário de João. Ele usa comumente figuras e
imagens simbólicas. A “Babilônia” simboliza Roma (17,9a) que por sua vez
simboliza o centro do poder imperial. O “Dragão” simboliza Satanás (12,9), os
“sete espíritos” (1,4) representam o Espírito Santo, “mil anos” simbolizam o
período entre a encarnação, morte e ressurreição de Jesus Cristo e um tempo
imediatamente anterior à sua segunda vida, e assim por diante. Se a simbologia
é tão comum no livro, por que justamente agora deveríamos tomar a descrição da
Nova Jerusalém como algo literal e concreto? Portanto, creio que nossa
interpretação está coerente com o resto do livro.Sendo
assim, devemos tomar por certo que, onde o escritor fala da cidade, ele está
usando uma linguagem simbólica para falar do povo de Deus, da Igreja, de nós
mesmos:
a.
É protegida - v.12.
Essa proteção é
indicada pela referência à “muralha alta” (Ver Is 26,1). Na antigüidade era
inconcebível uma cidade que não estivesse protegida contra seus inimigos
através de uma muralha inexpugnável. Essa idéia é usada aqui para dar certeza
aos que estarão na presença do Pai de que nenhum mal os ameaçará. O tempo das
ameaças e perigos já terminou.
b.
Tem nos apóstolos seu fundamento - v.14.
Esta afirmação era
básica para todos os outros escritos do Novo Testamento. A Igreja foi
constituída sobre o ensino, o fundamento dos apóstolos (ver Ef 2,20). Assim, só
participa do povo de Deus aqueles que seguiram os ensinos dos apóstolos, que
por sua vez eram os ensinos de Jesus Cristo. Os que seguiram ensinamentos estranhos
(2,14-15. 20-23) correm o risco de ficarem destituídos da vida na Nova Era.
c.
Tem a presença intensa de Deus - v.16.
A cidade é um “cubo”.
Tem comprimento, largura e altura iguais. Isso lembra 1Rs 6,20 que fala do
“santo dos santos” como um cubo. A idéia desse texto vétero-testamentário
estaria presente no texto de João. Se antes Deus se manifestava somente no
Santo dos Santos e apenas para o sumo-sacerdote, agora, na Nova Jerusalém, Ele
se manifesta em toda a cidade (ver 21,3), isto é, a todas as pessoas de modo
glorioso.
d.
É preciosa - v. 18-21.
Lembremos novamente
que a idéia da cidade aponta para a realidade do “povo de Deus”. Portanto,
todas as pedras preciosas alistadas ali, bem como “a cidade de ouro puro” (v.
18) não são realidades concretas, mas símbolos para falar da Igreja. Talvez
alguns de nós fiquemos tristes ao saber que “não andaremos em ruas de ouro” na
Nova Jerusalém, mas eu pergunto: o que é mais importante, andar em ruas de ouro
(que não têm valor monetário nenhum na nova vida), ou ser, você mesmo,
comparado com o ouro, e com pedras preciosas? Para Deus seu povo é tão precioso
como o ouro ou as pedras mais belas e preciosas que existem. Será que pensamos
assim de nós mesmos e dos outros irmãos?
e.
Deus será pleno nela -v. 22-23.
Na Nova Era não
existirá Templo (v. 22), lugar de culto e adoração a Deus, pois Ele será
cultuado em todo lugar. Não haverá sol nem lua (v.23; 22,5) - Deus será a luz
que guiará os seus em todo o tempo (ver Sl 27,1a).
f.
Tem vida abundante - 22,1-2.
Essa idéia é
evidenciada pela repetição da palavra “vida”. Existirá a “água da vida” (ver Jo
7,38-39), e a “árvore da vida” (ver Gn 2,9). Se essas imagens serão literais ou
não, não se sabe. O importante é o sentido delas. Mostram que a vida não será
inerente ao homem, mas será dada por Deus. Temos novamente a idéia da Nova
Criação como em 21,1a e agora de modo mais claro seguindo os moldes do paraíso
(v. 2. Compare com Gn 2,9). Isso reforça o que dissemos lá. Não moraremos num
lugar estranho, cercado de nuvens e sem fazer nada o tempo todo. Com a imagem
da Nova Criação apresentada como o retorno do paraíso, nos é dito que
voltaremos à vida como Adão e Eva tinham antes do pecado. Pense nisso.
Poderemos gozar de toda a criação de Deus, passeando pelas matas, vales e
montanhas, tomando banho de mar e tendo Deus a todo instante e em todo o lugar
em nossa companhia. Pensar na eternidade assim significa encher o “céu” de
vida. Devemos ter vontade de estar com Deus na eternidade, porque lá haverá uma
continuidade de nossa vida, em nosso mundo, agora totalmente redimidos, para o
nosso prazer.
Apoc 22,6-21
Depois de tanta luta
e sofrimento descritos no Apocalipse, João traz-nos uma imagem da Nova Era, o
Novo Mundo que, por sua beleza, torna-se difícil de descrever. Os santos fiéis
a Cristo que já morreram fizeram por merecê-la. Não que tenham sido salvos por
suas “obras”, mas por que elas evidenciam sua fidelidade e amor a Jesus. Ao
invés de morarem na Nova Jerusalém eles mesmos, e nós também, “seremos a cidade
santa de Deus”. E o Novo Mundo não será novo no sentido de algo estranho, ou
desconhecido, mas será este mesmo velho e maravilhoso mundo onde moramos, mas
renovado e redimido, como nós, onde habitaremos em perfeita harmonia e comunhão
para sempre. Aleluia!Com este estudo
terminamos o livro do Apocalipse. Depois de uma longa caminhada, temos as
últimas palavras de João. Estes versículos funcionam como uma conclusão onde o
escritor volta a citar vários pontos que já foram mencionados no começo do
livro para que lembremos do objetivo e da função desse escrito. Traz também
várias advertências sobre a não observância daquilo que foi revelado.Embora seja um texto
um tanto complexo, trazendo certa dificuldade para se perceber sua estrutura,
podemos dividi-lo em duas partes tendo como fator estruturador a frase: “eis
que (certamente) venho sem demora” (vs. 7. 12 e 20).Objetivo do livro e
advertências contra sua não observância - 22,6-10 e vs.16-21. O comportamento dos
homens diante da iminente vinda de Jesus Cristo - 22,11-5.
OBJETIVO DO LIVRO E ADVERTÊNCIAS CONTRA SUA NÃO OBSERVÂNCIA - 22,6-10 e vs.
16-21.
Os dois blocos de
versículos (vs. 6-10 e 16-21) são analisados conjuntamente devido ao conteúdo
deles. Ambos começam afirmando que um “anjo foi enviado para comunicar a
mensagem” (vs. 6 e 16). No v.6 é “Deus” quem envia o anjo; já no v.16 é “Jesus
Cristo”. Segundo 1,1 é Jesus quem envia seu mensageiro, porém nesse mesmo
versículo Deus é o autor primeiro de tal revelação, sendo, portanto,
indiretamente também responsável pelo envio do anjo.No v. 6 a mensagem é
dirigida aos “servos” de Deus. O v. 16 especifica quem são esses servos: são
“as igrejas”, ou seja, as sete igrejas dos capítulos dois e três. Isso deve nos
lembrar que para entendermos a mensagem devemos primeiramente perceber o que
ela queria dizer para aqueles cristãos no “tempo em que eles viviam”. Somente
depois é que poderemos atualizá-la. Grande parte dos erros de interpretação do
Apocalipse acontecem pela desconsideração dessa questão.Diante da afirmação
de que Jesus “vem sem demora” (v.7), o Espírito Santo e a Igreja (noiva) dizem:
“Vem” (v.17). Mas para que esse desejo se cumpra de modo eficaz na vida do
cristão é necessário que ele “guarde” as palavras do livro (v.7b). Isso já foi
dito em 1,3. “Guardar” significa “viver, observar, cumprir na vida”. De modo
mais específico, “guardar” significa “não acrescentar nada” (v.18) e “não
retirar nada” (v.19). O que Deus tinha que revelar está no livro, não existem
acréscimos. Isso é importante diante de tanta fantasia que tem existido em
torno do Apocalipse durante a História. Acrescentar pode significar uma mudança
da mensagem numa visão meramente “espiritualista e mística” do livro que não
leva em consideração todo o caráter político e social do confronto da Igreja
com a besta e o dragão. “Tirar” pode revelar o pensamento por parte de alguns
de que João foi muito radical em suas posições, que a realidade não é assim.
Isso pode ter acontecido na época de escritor e pode acontecer em nossos dias.
Talvez essa tentação se apresente na vida daqueles que acham que podem ter uma
vida fiel a Deus e ao mesmo tempo andar de mãos dadas com o mundo e seus
conceitos.Finalmente, João
novamente nos apresenta sua definição sobre o livro que escreveu: é uma
“profecia” (v.7. 10. 19 com 1,3). Já falamos do sentido de profecia na
Introdução - II. A profecia é o “testemunho de Jesus” segundo 19,10b. Ou seja,
este livro é uma profecia na medida em que fala dos desígnios de Jesus Cristo,
Sua vontade para seu povo e para a Humanidade. Portanto, o livro é muito
importante, visto que não contém palavras de João, mas de Jesus mesmo.
O COMPORTAMENTO DOS HOMENS DIANTE DA IMINENTE VINDA DE JESUS CRISTO - 22,11-15.
Este bloco, por estar
no meio dos dois textos anteriores (vs.6-10 e 16-21) apresenta como que uma
conseqüência em relação à eles. Os servos de Deus, aqueles que desejam
ansiosamente a vinda de Jesus Cristo, que não acrescentam nada e nem retiram nada
do livro, têm um tipo de comportamento no presente. Aqueles que não observam as
palavras da profecia e não se importam com a vinda de Jesus Cristo, apresentam
um modo de vida próprio. Os vs.11-15 tem como função realçar essa questão como
um alerta para os cristãos daquela época e para nós, os que vivemos no
presente.O texto apresenta um
tom realístico impressionante. Se no último estudo vimos a beleza e glória da
vida com Jesus Cristo no Novo Céu e na Nova Terra, este texto nos traz de volta
ao presente fazendo-nos esquecer de qualquer pensamento ingênuo que nos leve a
pensar que a vida não precisa ser exatamente igual àquela apresentada no
Apocalipse. “As coisas podem ser mais fáceis”, dirão alguns. Mas para João a
vida é dura e cheia de conflitos exatamente como o livro nos mostra. Vemos isso
no v.11 onde se diz que os homens continuarão até a vinda de Jesus Cristo sendo
“injustos e imundos” de um lado, e “justos e santos” de outro. Embora o cristão
tenha um compromisso social com a sociedade segundo outros textos do Novo
Testamento, o conflito entre a vontade de Deus e a ação do diabo continuará até
o fim. Não existe meio termo. Ou se está de um lado, ou de outro. É a postura
diante da mensagem do livro que irá decidir qual nossa posição.Falando do destino
final dos seres humanos, João novamente apresenta de uma divisão entre os
homens. Haverá aqueles que “entrarão na cidade pelas portas”. São os que foram
julgados por “suas obras” (21,11-15) e que receberão o “galardão” (v.12. Ver
11,18). Possivelmente esse galardão significa simplesmente a salvação, “o
direito à árvore da vida” (v.14b). Mas enganam-se aqueles que pensam que o
Apocalipse trabalha com o conceito da salvação “pelas obras”. Para João, as
obras são evidência da fé e da fidelidade. Porém todos os cristãos estarão na
presença de Jesus Cristo porque “lavaram suas vestiduras no sangue do Cordeiro”
(v.14).Por outro lado,
haverá aqueles que ficarão de fora. São apresentados no v.15. Eles já
apareceram em 21,8 como aqueles que, longe de participarem do Novo Céu e da
Nova Terra, irão para a “segunda morte”. São os que não levam em conta as
advertências do Apocalipse. São os mesmos “injustos e impuros” do v.11a.Através destas
palavras, João está advertindo solenemente a todos os homens, cristãos ou não,
a darem ouvidos às palavras da Revelação. Nós temos levado seu ensino a sério?Estes últimos
versículos do livro querem dar um caráter solene à obra diante de seus
ouvintes. Ela não pode ser menosprezada. Seu objetivo é abrir os olhos daqueles
que têm contato com ela a fim de poderem discernir a época em que vivem. O fim
“não está distante”. O diabo não irá se manifestar apenas no “futuro”. A besta
não é nenhum ser “bizarro” que aparecerá com uma placa indicando: “besta”, nem
seu sinal será uma “tatuagem”, ou o “código de barras” das embalagens. O
Apocalipse é atual e sempre será. Ele nos ajuda a ver, por trás das estruturas
sociais e políticas, quem está realmente agindo. Ele nos questiona se “já” não
temos a marca da besta, se não seguimos o estilo de vida de uma sociedade
secularizada que é guiada pelo diabo.Espero que o estudo deste
livro tenha ajudado você a discernir melhor a vida e a se posicionar diante
dela. Meu desejo é que diante da mensagem do Apocalipse você não seja
considerado como “morno”. Isso será muito perigoso. Se este estudo ajudou-o a
quebrar barreiras que se levantavam contra o Apocalipse, e se você passou a
“simpatizar” , “gostar” e a “respeitar” este livro, já estarei satisfeito.
Afinal, devemos reconhecer que a Bíblia não poderia terminar com outro livro
tão maravilhoso como o Apocalipse!
*Dentre estes comentários, o de Prigent é o mais completo, sendo o melhor em língua portuguesa até o momento presente. Porém é um texto técnico, de difícil leitura para pessoas não acostumadas com a linguagem exegética. Para os que lêem inglês sugiro o livro de Talbert. Ele trabalha bastante as questões literárias e é de leitura agradável. Em português, para uma primeira leitura Mesters é muito sugestivo. Para aprofundamento, os textos de Hendricksen (embora um tanto antigo) e de Wilcock ajudarão bastante.
BIBLIOGRAFIA
-BORING, M. Eugene. Revelation. Louisville, John Knox
Press. 1989. 236 p. (Série: Interpretation. A Bible Commentary for Teaching and
Preaching).
-CAIRD, G.B. The Revelation of Saint John. Peabody,
Hendrickson Publishers. 1966. 316 p. (Série: Black’s New Testament Commentary).
-HENDRIKSEN, W. Mais
que Vencedores. Grand
Rapids, T.E.L.L, 1977. 256 p. (Existe tradução em português
pela Casa Editora Presbiteriana).
-LADD, George Eldon.
Apocalipse. Introdução e Comentário. São Paulo, Edições Vida Nova e Editora Mundo
Cristão. 1980. 224. (Série: Cultura Cristã).
-MESTERS, Carlos.
Esperança de um povo que luta. O Apocalipse de São João. Uma chave de leitura.
7a ed. São Paulo, Paulus. 1983. 82 p.
-PRIGENT, Pierre. O
Apocalipse. São Paulo, Edições Loyola. 1993. 455 p. (Série: Bíblica Loyola, no.
8).
-TALBERT, Charles H. The Apocalypse. A Reading of the
Revelation of John. Louisville, Westminster John Knox Press. 1994. 123 p.
-WILCOCK, Michael. A Mensagem do Apocalipse. São
Paulo, ABU (Aliança Bíblica Universitária) Editora. 1986. 196 p. (Série: A
Bíblia Fala Hoje).
Fonte: Monergismo
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