FUNDAMENTAÇÃO
MAGISTERIAL (CIC):
Definição
significação e fins dos sacramentos
§774 A palavra grega "mysterion"
foi traduzida para o latim por dois termos: "mysterium" e
"sacramentum". Na interpretação ulterior, o termo
"sacramentum" exprime mais o sinal visível da realidade escondida da
salvação, indicada pelo termo "mysterium". Neste sentido, Cristo
mesmo é o mistério da salvação: "Non est enim aliud Dei mysterium,
Christus - Pois não existe outro mistério de Deus a não ser Cristo".
A obra salvífica de sua humanidade santa e santificante é o sacramento da salvação
que se manifesta e age nos sacramentos da Igreja (que as Igrejas do Oriente
denominam também "os santos mistérios"). Os sete
sacramentos são os sinais e os instrumentos pelos quais o Espírito Santo
difunde a graça de Cristo, que é a Cabeça, na Igreja, que é seu Corpo. A Igreja contém, portanto, e comunica a graça invisível que
ela significa. É neste sentido analógico que ela é chamada de (como que)"sacramento".
Eucaristia
"sacramento dos sacramentos"
§1374 O modo de presença de Cristo sob as
espécies eucarísticas é único. Ele eleva a Eucaristia acima de todos os
sacramentos e faz com que seja "como que o coroamento da vida espiritual e
o fim ao qual tendem todos os sacramentos". No santíssimo
sacramento da Eucaristia estão "contidos verdadeiramente, realmente e
substancialmente o Corpo e o Sangue juntamente com a alma e a divindade de
Nosso Senhor Jesus Cristo e, por conseguinte, o Cristo todo". "Esta
presença chama-se 'real' não por exclusão, como se as outras não fossem
'reais', mas por antonomásia, porque é substancial e porque por ela Cristo, Deus e homem, se toma presente completo."
Fins dos
sacramentos
§1123 "Os sacramentos destinam-se à
santificação dos homens, à edificação do Corpo de Cristo e ainda ao culto a ser
prestado a Deus. Sendo sinais, destinam-se também à instrução. Não só supõem a fé, mas
por palavras e coisas também a alimentam, a fortalecem e a exprimem. Por esta razão são chamados sacramentos da fé."
Fundamentos
dos sacramentos na vida de Cristo
§1115 As palavras e as ações de Jesus durante
sua vida oculta e durante seu ministério público já eram salvíficas.
Antecipavam o poder de seu mistério pascal. Anunciavam
e preparavam O que iria dar à Igreja quando tudo fosse realizado. Os
mistérios da vida de Cristo são os fundamentos daquilo que agora, por meio dos
ministros de sua Igreja, Cristo dispensa nos sacramentos, pois "aquilo que
era visível em nosso Salvador passou para seus mistérios".
Igreja “como
que” (analogamente) sacramento universal de Salvação (não se instituiu o oitavo sacramento)!
§775 "A Igreja é, em Cristo, como que o
sacramento ou o sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de
todo o gênero humano." Ser o sacramento da união íntima dos homens
com Deus é o primeiro objetivo da Igreja. Visto que a comunhão entre os
homens está enraizada na união com Deus, a Igreja é também o sacramento da unidade
do gênero humano. Nela, esta unidade já começou, pois ela
congrega homens "de toda nação, raça, povo e língua" (Ap 7,9); ao
mesmo tempo, a Igreja é "sinal e instrumento" da plena
realização desta unidade que ainda deve vir.
§776 Como sacramento, a Igreja é instrumento de Cristo.
"Nas mãos dele, ela é o instrumento da Redenção de todos os homens" o
sacramento universal da salvação" pelo qual Cristo "manifesta
e atualiza o amor de Deus pelos homens". Ela "é o projeto visível do
amor de Deus pela humanidade" que quer que o "gênero humano inteiro
constitua o único povo de Deus, se congregue no único Corpo de Cristo, seja
construído no único templo do Espírito Santo".
§780 A Igreja é no mundo presente o
sacramento da salvação, o sinal e o instrumento da comunhão de Deus e dos
homens.
Presença
de Cristo nos 7 sacramentos
§1088 - ESTA PRESENTE NA LITURGIA TERRESTRE - "Para levar a efeito tão grande
obra" a saber, a dispensação ou comunicação de sua obra de salvação" Cristo está sempre presente em sua Igreja, sobretudo nas
ações litúrgicas. Presente está no sacrifício da missa, tanto na pessoa
do ministro, pois 'aquele que agora oferece pelo ministério dos sacerdotes é o
mesmo que outrora se ofereceu na cruz', quanto sobretudo sob as espécies
eucarísticas. Presente está por sua força nos sacramentos, a tal ponto que,
quando alguém batiza, é Cristo mesmo que batiza. Presente está por sua
palavra, pois é ele mesmo quem fala quando se lêem as Sagradas Escrituras na
Igreja. Presente está, finalmente, quando a Igreja reza
e salmodia, ele que prometeu: 'Onde dois ou três estiverem reunidos em meu
nome, aí estarei no meio deles' (Mt 18,20)."
Presença “real”
de Cristo no Santíssimo Sacramento
§1374 O modo de presença de Cristo sob as
espécies eucarísticas é único. Ele eleva a Eucaristia acima de todos os
sacramentos e faz com que seja "como que o coroamento da vida espiritual e
o fim ao qual tendem todos os sacramentos". No santíssimo sacramento da
Eucaristia estão "contidos verdadeiramente, realmente e substancialmente o
Corpo e o Sangue juntamente com a alma e a divindade de Nosso Senhor Jesus
Cristo e, por conseguinte, o Cristo todo" . "Esta
presença chama-se 'real' não por exclusão, como se as outras não fossem
'reais', mas por antonomásia, porque é substancial e porque por ela
Cristo, Deus e homem, se toma presente completo."
§1127 Sacramentos da salvação Celebrados
dignamente na fé, os sacramentos conferem a graça que significam. São eficazes
porque neles age o próprio Cristo; é ele quem batiza, é ele quem atua em seus
sacramentos, a fim de comunicar a graça significada pelo sacramento. O Pai sempre atende à oração da Igreja de seu Filho, a qual,
na epiclese de cada sacramento, exprime sua fé no poder do Espírito. Assim
como o fogo transforma nele mesmo tudo o que toca, o Espírito Santo transforma
em vida divina o que é submetido ao seu poder.
§1509 "Curai os enfermos!" (Mt
10,8). A Igreja recebeu esta missão do Senhor e esforça-se por cumpri-la tanto
pelos cuidados aos doentes como pela oração de intercessão com que os
acompanha. Ela crê na presença vivificante de Cristo, médico da alma e do
corpo. Esta presença age particularmente por intermédio dos sacramentos e, de
modo especial, pela Eucaristia, pão que dá vida eterna a cujo liame com
a saúde corporal São Paulo alude.
Os Sacramentos
não renováveis
§698 O selo é um
símbolo próximo ao da unção. Com efeito, é Cristo que "Deus marcou com seu
selo" (Jo 6,27) e é nele que também o Pai nos marca com seu selo. Por
indicar o efeito indelével da unção do Espírito Santo nos sacramentos do
batismo, da confirmação e da ordem, a imagem do selo ("sphragis") tem
sido utilizada em certas tradições teológicas para exprimir o "caráter" indelével impresso por estes três
sacramentos que não podem ser reiterados.
Importância
dos sacramentos na catequese litúrgica
§1074 "A liturgia é o ápice para o qual
tende a ação da Igreja, e ao mesmo tempo é a fonte donde emana toda a sua
força." Ela é, portanto, o lugar privilegiado da catequese do povo de Deus.
"A catequese está intrinsecamente ligada a toda ação litúrgica e
sacramental, pois é nos sacramentos, e sobretudo na
Eucaristia, que Cristo Jesus age em plenitude para a transformação dos homens."
§1075 A catequese litúrgica tem em vista
introduzir no mistério de Cristo (ela é "mistagogia"), procedendo do
visível para o invisível, do significaste para o significado, dos
"sacramentos" para os "mistérios". Tal catequese é da competência
dos catecismos locais e regionais. O presente Catecismo, que pretende servir
para a Igreja inteira, na diversidade de seus ritos e de suas culturas,
apresentará o que é fundamental e comum a toda a Igreja no tocante à liturgia
como mistério e como celebração (Seção I), e em seguida os sete
sacramentos e os sacramentais (Seção II.).
Sacramentos
proporcionam crescimento e cura aos membros de Cristo
§798 O Espírito Santo é "o Princípio
de toda ação vital e verdadeiramente salutar em cada uma das diversas partes do
Corpo". Ele opera de múltiplas maneiras a edificação do
Corpo inteiro na caridade: pela Palavra de Deus, "que tem o poder de
edificar" (At 20,32); pelo Batismo, por meio do qual forma o Corpo
de Cristo; pelos sacramentos, que proporcionam crescimento e cura aos membros
de Cristo; pela "graça concedida aos apóstolos, que ocupa o primeiro lugar
entre seus dons"; pelas virtudes, que fazem agir segundo o bem; e, enfim,
pelas múltiplas graças especiais (chamadas de "carismas"), por meio
das quais "torna os fiéis aptos e prontos a tomarem sobre si os vários
trabalhos e ofícios que contribuem para a renovação e maior incremento
da Igreja".
Sacramentos
caminho da iniciação cristã
§1212 Pelos sacramentos da iniciação cristã;
Batismo, Confirmação e Eucaristia são lançados os fundamentos de toda vida
cristã. "A participação na natureza divina, que os homens recebem como dom
mediante a graça de Cristo, apresenta certa analogia com a origem, o
desenvolvimento e a sustentação da vida natural. Os fiéis, de fato, renascidos
no Batismo, são fortalecidos pelo sacramento da Confirmação e, depois, nutridos
com o alimento da vida eterna na Eucaristia. Assim, por efeito destes
sacramentos da iniciação cristã, estão em condições de saborear cada vez mais
os tesouros da vida divina e de progredir até alcançar a perfeição da
caridade."
§1275 A iniciação cristã realiza-se pelo
conjunto de três sacramentos: o Batismo, que é o início da vida nova; a
Confirmação, que é sua consolidação e a Eucaristia, que
alimenta o discípulo com o Corpo e o Sangue de Cristo em vista de sua
transformação nele.
§1425 Por que um sacramento da Reconciliação
após o Batismo? "Vós os lavastes, mas fostes santificados, mas fostes
justificados em nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito de nosso Deus"
(1 Cor 6,11). É preciso tomar consciência da grandeza do dom de Deus que nos é
oferecido nos sacramentos da iniciação cristã para compreender
até que ponto o pecado é algo que deve ser excluído daquele que se "vestiu
de Cristo". Mas o apóstolo São João também diz: "Se dissermos:
"Não temos pecado", enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está
em nós" (1Jo 1,8). E o próprio Senhor nos ensinou a rezar:
"Perdoa-nos os nossos pecados" (Lc 11,4), vinculando o perdão
de nossas ofensas ao perdão que Deus nos conceder de nossos pecados.
§1533 - OS SACRAMENTOS DO SERVIÇO DA COMUNHÃO -
O batismo, a Confirmação e a Eucaristia são os sacramentos da iniciação cristã.
São a base da vocação comum de todos os discípulos de Cristo,
vocação à santidade e à missão de evangelizar o mundo. Conferem
as graças necessárias à vida segundo Espírito nesta vida de peregrinos a
caminho da Pátria.
Sacramentos
comunicam a graça da salvação por eles significada – OS FRUTOS!
§1127 Sacramentos da salvação Celebrados
dignamente na fé, os sacramentos conferem a graça que significam. São eficazes
porque neles age o próprio Cristo; é ele quem batiza, é ele quem atua em seus
sacramentos, a fim de comunicar a graça significada pelo sacramento. O Pai
sempre atende à oração da Igreja de seu Filho, a qual, na epiclese de cada
sacramento, exprime sua fé no poder do Espírito. Assim
como o fogo transforma nele mesmo tudo o que toca, o Espírito Santo
transforma em vida divina o que é submetido ao seu poder.
§1128 Este o sentido da afirmação da Igreja:
os
sacramentos atuam ex opere operato (literalmente: "pelo próprio
fato de a ação ser realizada"), isto é, em virtude da obra salvífica de
Cristo, realizada uma vez por todas. Daí segue-se que "o sacramento não é
realizado pela justiça do homem que o confere ou o recebe, mas pelo
poder de Deus". A partir de momento
em que um sacramento é celebrado em conformidade com a intenção da Igreja, o
poder de Cristo e de seu Espírito agem nele e por ele, independentemente da
santidade pessoal do ministro. Contudo,
os frutos dos sacramentos dependem também das disposições de quem os
recebe. (ATENÇÃO!!!)
§1129 A Igreja afirma que para os crentes os
sacramentos da nova aliança são necessários à salvação. A "graça
sacramental" é a graça do Espírito Santo dada por Cristo e peculiar a cada
sacramento. O Espírito cura e transforma os que o recebem, conformando-os com o
Filho de Deus. O fruto da vida sacramental é que o Espírito de adoção
deifica os fiéis unindo-os vitalmente ao Filho único, o Salvador.
Sacramentos
prenunciam a glória futura da vida eterna
§1130 Os sacramentos da Vida Eterna A Igreja
celebra o mistério de seu Senhor "até que Ele venha" e até que
"Deus seja tudo em todos" (1 Cor 11,26; 15,28). Desde a era
apostólica a liturgia é atraída para seu termo (meta final) pelo gemido do
Espírito na Igreja: "Maran athá!" (Palavras aramaicas que significam:
"O Senhor vem") (1 Cor 16,22). A liturgia participa
assim do desejo de Jesus: "Desejei ardentemente comer esta páscoa convosco
(...) até que ela se cumpra no Reino de Deus" (Lc 22,15-16). Nos
sacramentos de Cristo, a Igreja já recebe o penhor da herança dele, já
participa da Vida Eterna, embora ainda "aguarde a bendita esperança, a
manifestação da glória de nosso grande Deus e Salvador, Cristo Jesus" (Tt
2,13). "O Espírito e a esposa dizem: Vem! (...) Vem, Senhor Jesus!"
(Ap 22,17.20). Santo Tomás resume assim as diversas dimensões do sinal
sacramental: "Daí que o sacramento é um sinal rememorativo daquilo que
antecedeu, isto é, a Paixão de Cristo; e demonstrativo daquilo que em nós é
realizado pela Paixão de Cristo, a saber, a graça; e prenunciador, isto é, que
prenuncia a glória futura".
Sacramentos
agem ex opere operato
§1128 Este o sentido
da afirmação da Igreja: os sacramentos atuam ex opere operato
(literalmente: "pelo próprio fato de a ação ser realizada"), isto é,
em virtude da obra salvífica de Cristo, realizada uma vez por todas. Daí segue-se que "o sacramento não é realizado pela
justiça do homem que o confere ou o recebe, mas pelo poder de Deus". A
partir de momento em que um sacramento é celebrado em conformidade com a
intenção da Igreja, o poder de Cristo e de seu Espírito agem nele e
por ele, independentemente da santidade pessoal do ministro. Contudo, os frutos dos sacramentos dependem também
das disposições de quem os recebe.
APROFUNDAMENTO
TEOLÓGICO: SACRAMENTO DO “TOCO DE CIGARRO” (Leonardo Boff)
Capítulo I. Porta de
entrada do edifício sacramental.
O homem está no
mundo. Ele “é capaz de ler a mensagem do mundo” (p. 9) através das realidades
que, em suma, são sinais de outra realidade. E assim chegamos a Deus, a
“realidade fundante de todas as coisas” (p. 10). O homem pode “fazer de um
objeto um símbolo e de uma ação um rito” (p. 11). Quando
essa ação e esse objeto apontam para outra coisa maior, então chamamos de
sacramento. Para o cristianismo a
matéria é sacramental. Esta chegou à sua máxima densidade em Jesus Cristo,
Sacramento Primordial do Pai. Este deixou a Igreja que é (COMO QUE...) sacramento
universal de salvação. Ela se concretiza nas várias situações da vida e funda a
estrutura sacramental centrada especialmente nos sete sacramentos (p. 12).
O Sacramento da
Caneca e do toco de cigarro!?
A Igreja sempre percebeu que tudo pode ser sinal sacramental da graça divina. Sacramentos são “sinais que contém, exibem, rememoram, visualizam e comunicam uma outra realidade diferente deles, mas presente neles” (p. 18). A linguagem da religião e do sacramento nunca é apenas descritiva, mas principalmente evocativa: de um passado e de um futuro vividos no presente (p. 18). O exemplo da caneca que traz Boff, evoca muito bem isso. Quem olha de fora com um olhar científico não enxerga o mesmo que quem olha de dentro com um olhara sacramental. Nesse sentido, o toco de cigarro do pai lembra ao autor, o pai que viveu e vive com ele. Ele remota à fé, que “ilumina e exorciza o absurdo da morte” (p. 22). Quando mais profundamente o homem se relaciona com o mundo e com as coisas do seu mundo, mas encontra a sacramentalidade (p.23).
Recordemos também, a
ilustração do pão que uma mãe faz para os filhos na história contada por Boff
Esse pão é “diferente porque recorda e traz presente por si mesmo (in-manência) e através de si mesmo (trans-parência) algo que vai além de si mesmo (trans-cendência)” (p. 29). E essa é a dimensão sacramental daquele gesto que a mãe zelosamente repete. Esse gesto depende também de quem observa. Isso pode ser alargado ao mundo. No capítulo II, Boff fala da caneca. Aquele utensílio doméstico que nos remete a épocas tão antigas, e a diversas situações com ela vividas. Diz que a caneca vista de fora, com os óculos do cientista, é tão-somente um objeto de louça ou de ferro, porém, com os olhos da fé sacramental, a mesma caneca adquire uma importância inefável:"A caneca fala da história da família que ela sempre acompanhou, na vida e na morte. Ela foi entrando cada vez mais na família. No final era um filho a mais cercado de carinho. E hoje está lá ainda a falar e a relembrar na fidelidade e na humanidade de servir a água que agora ficou doce, fresca e boa por causa da caneca...Essa é a visão interior da caneca. Foi o relacionamento havido com ela que a fez ser um sacramento familiar." (p. 19).No capítulo III, o autor discorre sobre o sacramento do toco de cigarro. Nos soa estranho, banal e reducionista referir-se a tão grande mistério dessa forma, comparando a Eucaristia, o Sacramento por excelência a um simples toco de cigarro. Principalmente hoje em dia, onde temos campanha contra o fumo, despersuadindo os tabagistas de continuarem no vício que já ceifou tantas vidas, talvez até de alguém bem próximo(a) a nós. Nesta parte do livro, Boff narra uma experiência pessoal, para fazer essa analogia:"Era o dia 11 de agosto de 1965. Munique, na Alemanha. Lembro-me bem: lá fora as casas aplaudiam o sol vigoroso do verão europeu; flores multicores explodiam nos parques e acenavam ridentes das janelas. São duas horas da tarde. O carteiro me traz a primeira carta da pátria. Ela vem carregada de saudade deixada pelo caminho percorrido. Sofregamente abro-a. Todos de casa escreveram. Parece quase um jornal. Paira um mistério: "Já deves estar em Munique quando leres estas linhas. Iguais a todas as outras, esta carta, embora diferente das demais, te traz uma bela mensagem, uma notícia que, vista sob o ângulo da fé, é deveras alvissareira. Deus exigiu de nós, há poucos dias, um tributo de amor, de fé e de penhorado agradecimento. Ele desceu no seio da nossa família. Olhou-nos um a um e escolheu para si o mais perfeito, o mais santo, o mais maduro, o melhor de todos, o mais próximo d'Ele, o nosso querido papai. Querido, Deus não o tirou de nós, mas deixou-o mais ainda entre nós. Deus não levou papai só para si, mas deixou-o mais ainda para nós. Ele não arrancou papai da alegria de nossas férias, mas plantou-o mais fundo na memória de todos nós. Deus não furtou papai da nossa presença, mas deu-o mais presente. Ele não o levou, mas o deixou. Papai não partiu, mas chegou. Papai não foi, mas veio para que papai fosse mais pai ainda, para que papai estivesse presente hoje e sempre, aqui no Brasil com todos nós, contigo na Alemanha, com o Ruy e o Clodovis Boff em Lovaina, e com o Waldemar nos Estados Unidos." (p. 22, negritos meus).
Realmente, é um lindo e
comovente relato! No dia seguinte, Boff examina melhor o envelope da missiva e
observa a presença de um toco de cigarro.
"Fora o último que havia
fumado, momentos antes de um enfarte do miocárdio o haver libertado
definitivamente desta cansada existência." (p. 22). E Boff define sacramento: "Toda vez que uma realidade do mundo,
sem deixar o mundo, evoca uma outra realidade diferente dela, ela assume uma
função sacramental. Deixa de ser coisa para se tornar um sinal ou um símbolo.
Todo sinal é sinal de alguma coisa ou de algum valor para alguém. Como coisa
pode ser absolutamente irrelevante. Como sinal pode ganhar uma valoração
inestimável e preciosa. Tal o toco de cigarro de palha que, como coisa, é
lançado ao lixo. Como símbolo é guardado qual tesouro inapreciável." (p.
23).
CRÍTICAS A TEOLOGIA SACRAMENTAL DO TOCO DE CIGARRO DE LEONARDO BOFF
Essencial é, assim, compreender qual é o sentido que o teólogo Boff empresta a este termo análogo, a partir de sua obra: Igreja Carisma e Poder:"A Igreja é aquela parte do mundo que, na força do Espírito, acolheu o Reino de forma explícita na pessoa de Jesus Cristo, o Filho de Deus encarnado na opressão, guarda a permanente memória e a consciência do Reino, celebra sua presença no mundo e em si mesma detém a gramática do seu anúncio, a serviço do mundo" (p.16).
A definição é longa
e precisa de explicação. O mundo é, para Boff:
"O lugar da realização histórica do Reino" (idem). E o Reino - "que engloba mundo e Igreja" - "é o fim bom da totalidade da criação em Deus finalmente liberta totalmente de toda imperfeição e penetrada pelo Divino que a realiza absolutamente" (idem) - Assim, o Reino - tão estranhamente formulado particularmente por Boff - se realiza no mundo e a Igreja é mediadora dele - mas segundo Boff não exclusiva mediadora (pp.84 e 139) - mas um de seus sinais, não o único sinal.
Boff abandona, desta
forma, dois conceitos fundamentais do catolicismo!
1)-Um, expresso
diretamente por Nosso Senhor Jesus Cristo ao dizer: "o
meu Reino não é deste mundo".
2)-E outro, decorrente
do "quem
crer e for batizado será salvo, quem não crer será condenado". (Mc
16,16),complementado por: "quem vos ouve a mim ouve " (Lc 10,16), e sintetizado na fórmula "extra Ecclesiam nulla salus".
O que ele prega é
pois uma outra igreja que conduz a um Reino meramente terreno.
Uma igreja que é cósmica, igualitária e pneumática. Diz ele:"Se porém o Cristo pneumático (ressuscitado) não conhece mais limitações e limites estanques então Seu corpo que é a Igreja não pode também se encapsular dentro dos limites de sua dogmática, de sua liturgia e de seu direito canônico. A Igreja possui as mesmas dimensões do Cristo ressuscitado. E essas dimensões são cósmicas. Suas funções e mistérios, suas estruturas e serviços que existem e devem existir, devem contudo manter-se sempre abertos ao Espírito que sopra onde quer e que é uma permanente força dinâmica no mundo. Todos os homens agraciados e que estão com o Espírito Santo deveriam por isso mesmo sentir-se membros da Igreja e encontrar um lugar para si dentro de suas estruturas visíveis. Ninguém está fora da Igreja, porque não existe mais um "fora", porque ninguém está fora da realidade de Deus e do Cristo ressuscitado. O homem pode contudo negar-se à cobertura; pode subjetivamente recursar-se a aceitar semelhante realidade. Mas nem por isso ele deixará de estar dentro" (p.232).
Boff deseja pois uma
Igreja sem definições dogmáticas, litúrgicas ou canônicas - Enfim, uma Igreja Casa-da-mãe-Joana!
Não é de estranhar assim que ele considere "importante" a afirmação de T. Bruneau:"A desintegração institucional é, a meu ver, a condição sine qua non da participação do leigo na Igreja do Brasil". É, aliás, sobre a Igreja enquanto instituição que ele descarrega o mais pesado de suas críticas, acusando-a de ser não acidental, mas essencialmente, uma violadora dos direitos humanos (pp.58 e ss.). De acordo com Boff, na Igreja "a desigualdade estrutural produzida pela detenção dos meios de produção simbólica por parte de um grupo gera uma situação de permanente conflito com os direitos humanos". Os "detentores dos meios de produção simbólica" são os membros da hierarquia eclesiástica, encarregada por Cristo de ensinar a Verdade e de conduzir os homens à salvação.Para Boff, enquanto perdurar uma "compreensão dogmática e doutrinária da revelação e da salvação de Jesus Cristo dever-se-á contar irretorquivelmente com a repressão da liberdade do pensamento divergente dentro da Igreja" (p.75).Para afastar-nos de tal perigo o zeloso teólogo recomenda-nos um estudo seu publicado na REB 35. Mas, como realizar esse benéfico trabalho de destruição da estrutura eclesiástica?
Serão suficientes os
estudos e as palavras de tão inefável, INERRANTE e INFALÍVEL teólogo?
Não! "Em primeiro lugar convém exorcizar a tentação idealista de que basta um recurso à modificação das consciências para produzir uma mudança estrutural na Igreja. Mais do que as novas idéias são as práticas diferentes (com o suporte de suas respectivas teorias) que modificam a prática eclesial. Estas modificações por sua vez abrem caminho para uma compreensão teórica e temática correspondente propiciando uma leitura nova do Evangelho e da Tradição”.Certamente devemos reconhecer Marx e Antonio Gramsci se tratassem do assunto, não o diriam melhor. Santo Agostinho humildemente recinheceu erros em sua teologia e fez uma RETRATAÇÃO. Boff é inerrante, quem tem que se retratar é a Igreja Coluna e sustentáculo da verdade(1 Tim 3,15). Não se pense, entretanto, que Boff defenda essas sublimes teorias sem apoiar-se nas autoridades competentes da matéria. Longe disso! Ao comentar, por exemplo, a "patologia" da "compreensão dicotômica" da Ecclesia docens e discens, depois de rejeitar a autoridade do Papa S. Pio X, que ele cita em segunda mão e numa tradução falseada (cfr. p. 218), apoia-se numa autoridade surpreendente em matéria eclesiástica:O pedagogo marxista Paulo Freire, o qual "mostrou o caráter patológico desse tipo de relação" - o tipo de relação defendido por S. Pio X - "que desumaniza um polo e o outro".Mereceriam também comentário os textos de Boff sobre a natureza do Corpo de Cristo Ressuscitado - que ele identifica com o Espírito - sobre a unidade, santidade, catolicidade e apostolicidade da Igreja, sobre os sacramentos, sobre a Fé e - resumindo - sobre praticamente todos os temas por ele tratados.Uma pessoa ingênua que lesse este livro de Boff poderia pensar que se enganou julgando comprar um livro católico. A religião professada em suas páginas é outra. A Igreja é outra, outro é o Evangelho, outra a Fé, outros os Sacramentos, outro o Deus.
A Santa Sé pediu o
Silêncio Obsequioso (conf. Rom 14,22) a Boff. Ele a princípio se calou. Por
que? Ele mesmo o explica:
"Evidentemente a velha Igreja olhará com certa desconfiança para a nova Igreja na periferia e para as liberdades evangélicas que ela se toma. Poderá ver nela uma concorrente; gritará em termos de Igreja paralela; magistério paralelo, falta de obediência e lealdade para com o Centro! A Igreja nova deverá saber usar de uma inteligente estratégia e tática: não deverá entrar no esquema de condenações e suspeitas como o Centro poderá fazer. Deverá ser evangélica, compreender que a instituição enquanto é poder somente poderá usar a linguagem que não ponha em risco o próprio poder, que sempre temerá qualquer afastamento do comportamento ditado pelo Centro e verá isto como deslealdade. Apesar de poder compreender tudo isso, a Igreja nova deverá ser lealmente desobediente. Explico-me: deverá buscar uma profunda lealdade para com as exigências do Evangelho; deverá ouvir a voz do Centro para se questionar da verdade de sua interpretação evangélica; caso estiver crítica e profundamente convencida de seu caminho, deverá ter a coragem de ser desobediente no Senhor e no Evangelho às imposições do Centro, sem rancor nem lamúria, mas numa profunda adesão à mesma vontade de ser fiel ao Espírito que presumimos existir também no Centro. Salva-se, portanto, a comunhão básica. Esta pureza evangélica é provocação para o Centro para ele mesmo despertar para o Espírito que não pode ser canalizado segundo os interesses humanos. A abertura à comunhão com o todo, a exclusão sequer da possibilidade de uma ruptura que destruísse a unidade e a caridade, mesmo que isso signifique isolamento, perseguição e condenação por parte do Centro constitui a garantia de autenticidade cristã e zelo de inspiração evangélica" (p.107). - Ou seja, para Boff a Igreja nova deve compreender que o Centro, porque é poder, não pode falar senão pelos poderosos, sendo sua palavra no mínimo suspeita; deve, além disso, sem se submeter, não romper nunca com Roma, embora a comunhão essencial - a da Fé - já esteja rompida. A grande verdade por trás de tudo isso que Boff apregoa é que já não se trata, na realidade, de manter a unidade pela caridade, mas de dissimular hipocritamente o rompimento. Esse procedimento foi comum a muitas heresias, de modo especial às mais perigosas dentre elas. Repetindo-o, a nova Igreja, da qual Boff é um dos mentores, segue o caminho daqueles que através da história, quiseram utilizar a Arca da Salvação para propagar o erro e a mentira, talvez até de forma sincera, mas sinceramente equivocada.
CONCLUSÃO
A heresia de Leonardo Boff não é Cristológica e nem Trinitária, mas eclesiológica. Ou seja, Boff está apegado a um conceito pessoal e equivocado da Igreja, mas quer tornar esse erro universal. Para ele toda a Igreja hierárquica está errada, mas apenas ele está certo! Com esse seu malabarismo achológico e sentimentalóide em querer comparar os Sacramentos e por conseguinte, a eucaristia como mero simbolismo memorial, confunde a ordem de Cristo para fazer memória de seu sacrifício, com a presença real dentro deste mesmo memorial, que é a eucaristia, ou seja: “A celebração da Santa Missa é realmente memorial, porém, a presença de Cristo nas espécies consagradas é Real” (conf. Lucas 22,19).Do contrário, seria negar o que Jesus disse e São Paulo RATIFICOU:1 Cor 11,28-29: “Examine, pois, cada um a si próprio, e dessa maneira coma do pão e beba do cálice. Pois quem come e bebe sem ter consciência do corpo do Senhor, come e bebe para sua própria condenação.” Boff e seus familiares, não serão condenados se darem um “trago no toco de cigarro de seu pai, considerando-o apenas um reles toco de cigarro”, já com as espécies consagradas (já não mais possíveis pelas mãos de Boff), os resultados seriam catastróficos. Portanto, comparar o toco de cigarro com a eucaristia, pode até se aplicar ao memorial da missa, porém, jamais com a presença real de Jesus na Eucaristia, a qual pode operar maravilhas que com todo respeito ao seu falecido genitor, "o toco de cigarro do pai de Boff" jamais vão poder operar!
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