Por *Francisco José Barros Araújo
Supõe (latim suppono - ere): submeter; indução; Confrontar: sopor.
CIC §1375 - É ela
a "conversão" (não transformação de uma matéria em outra como em Caná) do
pão e do vinho no Corpo e no Sangue de Cristo que este se torna presente em tal
sacramento. Os Padres da Igreja afirmaram com firmeza a fé da Igreja na
eficácia da Palavra de Cristo e da ação do Espírito Santo para operar esta
conversão. Assim, São João Crisóstomo declara: “Não
é o homem que faz com que as coisas oferecidas se tomem Corpo e Sangue de
Cristo, mas o próprio Cristo, que foi crucificado por nós. O sacerdote, figura de Cristo, pronuncia essas palavras, mas
sua eficácia e a graça são de Deus. Isto é o meu Corpo, diz ele. Estas palavras
transformam (convertem) as coisas oferecidas.”E Santo Ambrósio afirma acerca
desta conversão: “Estejamos bem persuadidos de que
isto não é o que a natureza formou, mas o que a bênção consagrou, e que a força
da bênção supera a da natureza, pois pela bênção a própria natureza é mudada. Por acaso a palavra de Cristo, que conseguiu fazer do nada o que
não existia, não poderia mudar as coisas existentes naquilo que ainda não eram? Pois
não é menos dar às coisas a sua natureza primeira do que mudar a natureza
delas.”
O ser Cristão nos pede, ou melhor, exige uma
atitude evangélica diante das mais variadas circunstâncias; tal atitude pode
ser resumida na auto-definição de Jesus: “Eu sou manso e humilde de coração”
(Mat 11,29), portanto “tende em vós aquele sentimento que houve também em Cristo
Jesus” (Fl 2,5). Ou seja, o cristão se esmera por ser bondoso e gentil com seu
semelhante (Gl 5,22-23).É um desafio porque nossa inclinação tende ao contrário
(Rm 7,18-20).Nosso temperamento em combinação com nosso caráter são assediados
pelo pecado. Daí, dupla necessidade: ascese e oração; autocontrole e graça.
O
temperamento é herdado, é genético, NÃO É UM HÁBITO! Basicamente são quatro tipos, a grosso modo
(conf. LAHAYE, 2004):
1)- Sanguíneo: É cordial, eufórico, vigoroso, folgazão.
2)- Colérico: É vivaz, ardente, ativo, prático e voluntarioso.
3)- Melancólico: Um temperamento hostil e sombrio; na verdade, é o mais
rico dos temperamentos, é um tipo analítico, abnegado, perfeccionista.
4)- Fleumático: É o tipo calmo, frio e bem equilibrado. A vida para ele
é algo severo e agradável com o qual não quer muito envolvimento.
Um modo mais simplista é a tipologia de
primário e secundário, sendo que aquele é ativo e emotivo, e este não-ativo e
não-emotivo. O primeiro geralmente cai na característica colérica e outro
amorfo. São possíveis noves combinações a partir daí. Os tipos não são puros,
características se combinam em todos, mas há preponderância. É a virtude da temperança
que pode ou não exercer autocontrole sobre os possíveis desequilíbrios destes
tipos de temperamento: excessos, desrespeito aos limites e as fragilidades
alheias, ativismo sem paciência, isolamento e descaso, agressividade,
irritabilidade crônica, sensualidade inoportuna e desregrada, etc.
Óbvio, os efeitos colaterais só podem ser tristeza e magoa. (ver sobre a
temperança, cf. Catecismo 1808). Além do temperamento o caráter de cada
pessoa exerce influencia em nossas decisões e atos. O caráter tem mais
relação com a educação recebida na família e no ambiente cultural e menos com
hereditariedade. Segundo a doutrina cristã o pecado instalado em nós exerce uma
ação continua e continuada (inclinação), na vida e nas relações sociais, privadas, individual
e ou íntima, por vezes como uma sensação irresistível como expressa muito bem o apostolo Paulo em Romanos 7,15-25:
“Porque o que faço não o aprovo; pois o que quero isso não faço, mas o
que aborreço isso faço. E, se faço o que
não quero, consinto com a lei, que é boa. De maneira que agora já não sou eu
que faço isto, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto
é, na minha carne, não habita bem algum; e com efeito o querer está em mim, mas
não consigo realizar o bem. Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não
quero esse faço. Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o
pecado que habita em mim. Acho então esta lei em mim, que, quando quero fazer o
bem, o mal está comigo. Porque, segundo
o homem interior, tenho prazer na lei de Deus; Mas vejo nos meus membros outra
lei, que batalha contra a lei do meu entendimento, e me prende debaixo da lei
do pecado que está nos meus membros. Miserável homem que eu sou! quem me
livrará do corpo desta morte? Dou graças a Deus por Jesus Cristo nosso Senhor.
Assim que eu mesmo com o entendimento sirvo à lei de Deus, mas com a carne à
lei do pecado.”
Para São Tomás de Aquino, o significado mais
comum e usual da palavra "natureza" é o que designa o mundo físico. O seu
sentido "técnico-filosófico-teológico" indica a essência de uma coisa vista como
princípio de ação. A natureza neste segundo sentido é entendida como princípio
intrínseco de uma realidade. Sobre a relação de natureza e graça, São Tomás
afirma que:
“A natureza é uma
capacidade passiva, uma mera potentia oboedientialis à elevação ao estado sobrenatural.
E a graça é um dom absolutamente gratuito que ajuda a natureza a agir bem” [S.Theo. I-II, q.110, a.4].
"A natureza humana, depois do pecado original,
permaneceu íntegra, com relação ao seu constitutivo essencial. Contudo,
perdeu seu ordenamento natural ao bem que, quanto ao seu fim último, é a
felicidade humana, que consiste em ver a Deus face a face" [In II Sent.
D.32, q.2, a.2, sol.].
Portanto, a dimensão
essencial [natureza] do ser do homem permanece, mas a dimensão do operar [o
agir] humano, com relação ao seu fim próprio foi perdida. Com o pecado, o homem
não deixou de ser homem, mas perdeu a capacidade de agir como homem, segundo o
fim para o qual foi criado. Santo Agostinho, o bispo e santo de Hipona é
Doutor da Graça. Em sua obra "A natureza e a graça", encontramos um "perene
ensinamento", o qual transcrevemos abaixo, na íntegra, a excelente resenha desta obra publicada na
forma de introdução por Roque Frangiotti:
“Para Agostinho, a natureza merece elogios como obra saída das mãos criadoras
de Deus, mas, no estado atual, acha-se
enferma e debilitada devido ao pecado, necessitada de socorro divino, isto é,
da graça. Esta aperfeiçoa, enobrece, cura e santifica o homem. Reconhece o valor da natureza, porém, deixada
a si mesma, não tem nenhuma potencialidade, a não ser para o pecado. Deus
criara, de fato, o homem com perfeição, equilíbrio e íntegro. Com a
transgressão, perdeu a integridade e este despojamento foi transmitido às
gerações sucessivas. Neste estado, o
homem não teria salvação se não lhe fosse dada a graça de Deus. Esta é dom
gratuito. Não é devida aos méritos humanos: gratia gratis data, unde et gratia
nomiatur [a graça é dada de graça, pelo que esse nome lhe é dado]. Agostinho
insiste em que a graça não é dada em recompensa a nossos méritos. O mérito não
é fruto do ato humano, mas da ação amorosa de Deus. Do contrário, a graça não
seria dom, mas soldo. Para Agostinho, a verdadeira graça é aquela obtida
pelos méritos de Jesus Cristo, aquela que não é a natureza, mas a que salva a
natureza. Contudo, o homem não permanece meramente passivo sob a ação da graça.
Há cooperação humana. A graça nos faz
cooperadores de Deus, porque, além de perdoar os pecados, faz com que o
espírito humano coopere na prática das boas obras: nós agimos, mas Deus opera
em nosso agir. Natureza e graça não são forças que se opõem, que se destroem,
mas que se irmanam, se ajudam. Assim como a medicina não vai contra a natureza,
mas contra a enfermidade, a graça vai contra os vícios e defeitos da natureza.
Por isso a graça não destrói a natureza, mas a aperfeiçoa [gratia non tollit,
sed perficit naturam]. Contra aqueles que crêem na inocência do homem, no
seu poder de viver sem pecado graças a seus próprios esforços, Agostinho
explora a miséria espiritual profunda do homem, tanto antes quanto depois do
batismo. Antes, pelo fato da transmissão hereditária e da imputação do pecado
de Adão. Depois do batismo, o homem continua inevitavelmente pecador por força
da concupiscência...”
CONCLUSÃO:
Para Tomás de Aquino, a graça supõe a natureza e a leva à perfeição!
Isto quer dizer que: "Deus prefere agir de acordo com o ordinário do mundo por Ele mesmo criado e ordenado (leis naturais)!" A graça divina pode sim fazer brotar um rio no deserto (confr. Isaías 41, 18), bem como fazer o deserto florir (confr. Isaías 35, 1) mas, Deus não vai fazer isso de forma mágica ou sobrenatural, ou seja, transladando parte da Amazônia para um deserto! (não que Ele não pudesse fazer, pois a Deus nada é impossível).Mas, Deus faz o deserto florir e brotar água com a colaboração humana (com a tecnologia, e inteligência humana dada por Ele, como vemos atualmente nas terras de Jerusalém). Da mesma forma, é com a nossa colaboração, respeitando o nosso livre arbítrio, a fé vai supondo a nossa natureza e nos aperfeiçoando! Assim, o homem racional, através da luz da fé, se liberta de fraquezas e limitações com o paciente exercício das virtudes, auxiliados pela graça. Há em nossa natureza humana, ferida pelo pecado, uma espécie de necessidade de pecar, de satisfazer os apetites sensíveis da carne (confr.Romanos 7,15-25). Por
essa razão, o homem tem necessidade a cada instante e em cada um de seus atos
de um socorro divino! Destas constatações bastante simples e diretas pode-se
dizer que, apesar das dificuldades, somos nós mesmos a escolher a reação e
comportamentos. Podemos ser agressivos, agir por impulsos, sermos mansos, prudentes, ou imprudentes.É necessário pelo uso da razão, conscientizar-se
e preparar-se. Se nós sabemos por experiência que ocorrerá um conflito e um
desgaste emocional quando chegamos do trabalho ou no trabalho, no trânsito, onde ou com quem quer que
seja, por amor a nós mesmos e ao próximo, nos antecipamos ao confronto, quando
este não é absolutamente necessário, preparando-nos psico e espiritualmente.
Como? Antes de encontrar a pessoa e ou a situação, e antes de entrar no mesmo ambiente que a
mesma, imagine uma postura, uma atitude mental de serenidade, faça uma oração
(Vinde Espírito Santo... por exemplo); se não for possível ficar em silêncio pare
e pense na resposta mais adequada, e faça memória de como Cristo agiria nestas
circunstancias? Este exercício das virtudes Cristãs, quanto mais se pratica,
menos difícil será vivenciá-los no dia a dia! Deus criou o homem composto de corpo material e de alma racional. Em nossa alma, possuímos três faculdades ou potências (Note: não são partes da alma, mas capacidades da alma) que são: a capacidade de conhecer, ou inteligência; a capacidade de querer ou vontade; e a capacidade de sentir, ou sensibilidade. Deus, além de nos dar essa natureza, bondosamente quis nos dar ainda um bem infinitamente maior: a graça santificante! Isso significa que Deus quis que nós participássemos da sua vida divina. Assim como um ferro, colocado ao fogo, fica em brasa, (continuando, porém, a ser naturalmente ferro), assim também, Deus quis viver em nossa alma. Pelo Batismo, recebemos a Deus na alma, por meio da graça habitual ou graça santificante, que nos torna filhos adotivos de Deus e herdeiros do céu. Quando estamos em estado de graça, quando Deus vive em nossa alma, continuamos a ser seres humanos. Porém, assim como o ferro em brasa continua a ser ferro, mas adquire a luz e o calor do fogo, assim também nós, continuando a ser naturalmente homens, podemos agir junto com Deus, e assim adquirir méritos infinitos, assim fizeram os santos! A graça nos faz semelhantes (não iguais) a Deus! Viver em estado de graça é viver numa ordem acima da natureza, ter vida sobrenatural. Mas, a vida sobrenatural, supõe a vida natural, não a nega. Isto é, Deus só pode dar a sua vida a nós, porque somos naturalmente racionais, com inteligência e vontade, como Ele mesmo tem Inteligência e Vontade infinitas. Se recebemos a graça santificante pelo Batismo, nós a perdemos quando cometemos pecado mortal, que é uma deliberada expulsão de Deus de nossa alma, e voltamos a escravidão do pecado. Com a confissão dos pecados, Deus nos perdoa e nos torna a dar a vida da graça, a participação em sua vida divina.
“A alternativa é
clara: ou o homem comanda as suas paixões e alcança a paz, ou se deixa dominar
por elas e torna-se infeliz” (Catecismo 2339).
*Francisco José
Barros Araújo – Bacharel em Teologia pela Faculdade Católica do RN, conforme
diploma Nº 31.636 do Processo Nº 003/17
BIBLIOGRAFIA:
-Santo
Agostinho, A Graça (I). São Paulo: Paulus, 1999, Introdução por R. Frangiotti,
pp.106-108.
-AQUINATE,
n°3, (2006), 400-401
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