Por *Francisco José Barros
Araújo
Durante
muitos séculos se pensou que Moisés tivesse escrito pessoalmente todo o
Pentateuco de uma sentada só. Em 1753, Astruc, médico de Luís XV (rei da França), notando
que Deus era chamado, no Pentateuco, ora de “Iahweh” ora de “Elohim”, aventou a
hipótese de que isso se devesse a narrações paralelas. Nascia
assim a hipótese documentária. Ela passou por reformulações e sua história
foi ampliando suas fronteiras em decorrência das descobertas arqueológicas, que
restituirão antigos documentos assírio-babilônicos. Hoje dificilmente se encontrará
um especialista que não admita que o Pentateuco seja constituído por quatro
documentos, embora as pesquisas tendam, às vezes, a se diversificarem muito, e
a atribuição de um ou outro versículo a esta ou àquela tradição, possa ser
contestada. Veremos em nosso estudo então, estas quatro tradições de que
se compõe o Pentateuco: a Javista, a Eloísta, a Sacerdotal e a Deuteronômica. Antigamente
pensava-se que as fontes sacerdotal (P) e javista (J) estendiam-se também para
Josué: a semelhança entre travessia do rio Jordão por Josué e a travessia de
Moisés pelo Mar Vermelho são especialmente notáveis, por exemplo. Esta
hipótese perdeu quase todos os seus apoiadores quando se tornou evidente que
Josué é completamente deuteronomista. Enquanto a travessia do Jordão
tem elementos extremamente sacerdotais (os israelitas precisam da presença dos
levitas, segurando a arca da aliança, a fim de atravessar), é mais
provável que o Deuteronomista conhecia uma tradição "sacerdotal" do
Êxodo, separada daquele que produziu o Pentateuco.A fonte Sacerdotal ou P é uma das
fontes do Pentateuco na Bíblia, juntamente com o Javista (J), Eloísta (E) e o
Deuteronomista(D). Principalmente um produto do período pós-exílico, quando
Judá era uma província do Império Persa (no quinto século a.C.), P foi
escrito para mostrar que, mesmo quando tudo parecia perdido, Deus permaneceu
presente com Israel. Ele é composto por genealogias, itinerários e uma história
concisa, com um forte interesse na cronologia. Suas características incluem um
conjunto de declarações que são contraditadas por passagens não-sacerdotais e,
portanto, são exclusivamente características: nenhum sacrifício antes da
instituição é ordenado por Deus no Sinai, o estado exaltado de Arão e o
sacerdócio, e o uso do título divino El
Shaddai diante de Deus que revela seu nome a Moisés, para citar alguns.
A história de Judá, tanto no tempo
exílico e pós-exílico, é pouco conhecida, mas
um resumo das teorias correntes podem ser feitos como se segue:
A Religião monárquica judaica era centrada em torno de ritual de sacrifício no
Templo. Lá, o culto estava nas mãos de sacerdotes conhecidos como zadoquitas (o
que significa que traçou sua descendência de um ancestral chamado Zadok,
supostamente sumo sacerdote sob David). Houve também uma ordem inferior de funcionários
religiosos chamados levitas, que não foram autorizados a realizar sacrifícios,
e eram restritos a funções subalternas. Enquanto os zadoquitas eram os únicos
sacerdotes em Jerusalém, haviam outros sacerdotes em outros centros. Um dos
mais importante deles foi um templo em Betel, ao norte de Jerusalém. Betel, que
estava centrada no culto do "bezerro de ouro", foi um dos principais
centros religiosos do reino do norte de Israel e teve apoio real até que Israel
foi destruído pelos assírios em 721. O patriarca Aarão estava, de alguma forma,
associado com Betel.Em 587 os babilônios conquistaram
Jerusalém e levaram a maior parte do sacerdócio zadoquita para o exílio,
deixando para trás os levitas, que eram muito pobres e marginalizados para
representar uma ameaça aos seus interesses. O templo de Betel, agora assumiu
um papel importante na vida religiosa dos habitantes de Judá, e os sacerdotes
não-zadoquitas, sob a influência dos sacerdotes aaronitas de Betel, começaram a
chamar-se "filhos de Aarão" para distinguir-se dos "filhos de
Zadok". Quando os sacerdotes zadoquitas retornaram do exílio, após
c. de 538 a.C., e começaran a restabelecer o templo em Jerusalém, entraram em
conflito com os sacerdotes aaronitas. Os zadoquitas venceram o conflito, mas adotaram
o nome Aaronita, seja como parte de um compromisso, ou seja para cativar seus
adversários por cooptação com seu antepassado. O zadoquitas simultaneamente
encontraram-se em conflito com os levitas, que se opuseram à sua posição
subordinada. Os sacerdotes também ganharam esta batalha, escrevendo as histórias de
documentos sacerdotais, como a rebelião de Corá, que retrata o desafio
de prerrogativa sacerdotal como profana e imperdoável.
1)- A tradição "Javista" (da realeza monárquica): 950 a.C
A
narrativa bíblica de tradição Javista, designada pela letra J é assim chamada
porque desde o começo dá a Deus o nome de Iahweh. Ela se originou provavelmente
no tempo de Salomão, em torno de 950 a.C., nos meios reais de Jerusalém. O rei
ocupa nela um lugar de proeminência; é ele que faz a unidade da fé.Ainda
não se tem uma unanimidade quanto aos limites do documento Javista, mas podemos
supor, com numerosos estudiosos, que ele comece em Gn 2, 4b e termine com a
narração de Balaão em Nm 22; 24, incluindo a narração da falta de Israel em
Baal-Fegor Nm 25, 1-5.As
narrativas da tradição Javista caracterizam-se por um vigoroso estilo de conto
popular e uma pitoresca descrição de personagens. Para o Javista, Deus
envolve-se ativamente na história da humanidade e, em especial, na de Israel. O
Javista começa a narrativa com a criação (Gn 2, 4b -31), apresentando a
história da humanidade como o pano de fundo contra o qual o Senhor chama Abraão
e lhe faz uma promessa que só o Êxodo e a conquista de Canaã realizam
plenamente. O tema da promessa e concretização predomina na apresentação
javista da história patriarcal.Assim como outra
tradição a eloísta (E) é caracterizada pelo uso do nome Elohim para Deus. Essa
forma de nominar Deus aparece nos textos em hebraico, da Bíblia Hebraica
Stuttgartensia, mas quando foram traduzidos para o português, na maioria das
versões, encontramos apenas Senhor ou Deus. Compare no texto hebraico de Gn1,1
aparece: No princípio Elohim criou os céus e a terra”. No texto em hebraico de
Gn 1,1-2,4 Deus é nominado de Elohim, e na sequência em Gn 2,5-18, Deus é
nominado e (Iahweh) Javé.Na tradução da Bíblia de Jerusalém temos: “Então
Iahweh (Javé) Deus modelou o homem com a argila do solo, insuflou em suas
narinas um hálito de vida e o homem se tornou um ser vivente” (Gn 2,7) . Essa
tradução mantém o nome, Javé, que está no original hebraico. Foram
essas diferenças, a partir do texto hebraico, na forma de nominar Deus, que
levaram os estudiosos a perceberam a existência de grupos diferentes na redação
final de muitos textos do livro do Gn, Ex, Nm e Dt e por consequência do
Pentateuco.A tradição Javista e
Eloísta são coleções que foram compostas e transmitidas oralmente e só muito
tempo depois, provavelmente, na época da monarquia de Davi e Salomão é que
foram escritas. A tradição Javista apresenta a história do Paraíso e da queda
dos Seres Humanos, o dilúvio, Noé e a vinha, a torre de Babel, a vocação de
Abraão e sua viagem a Hebron, e a consciência nacional de Israel que se
originou a partir das vitórias de Davi e da prosperidade do seu reinado.
Alguns textos da
tradição Javista:
Gn
2, 4b – 4, 26; 5,29; 6,1-8; 9,18-27; 10,8-19,25-30; 12; 21,1-7;
Ex 11,4-8;
12,21-27;
Nm 10,29-32.
2)- A tradição "Eloísta" (dos profetas):750 a.C
A
tradição Eloísta, designada pela letra E, dá a Deus o nome de Elohim. Ela
nasceu talvez por volta de 750 a.C., no reino do Norte, depois que o reino
unido de Davi-Salomão se dividiu em dois. Muito marcada pela mensagem
de profetas como Elias e Oséias, ela dá muita importância aos profetas. Os
limites do documento Eloísta são difíceis de discernir. Podemos dizer, que o
documento Eloísta começa com o ciclo de Abraão, o seu final não é fácil de ser
determinado, fragmentos dele podem ser encontrados em Nm 25 e 32, mas
provavelmente eles não constituem o fim primitivo dessa tradição. Alguns
autores pensam que há textos Eloístas integrados no Deuteronômio.A fonte Eloísta está tão entrelaçada com a Javista, que fica muito
difícil precisar e separar as duas fontes em todas as situações. Como a fonte
Eloísta ficou subordinada a Javista, o que resta da narrativa Eloísta muitas
vezes está incompleto.Na
tradição Javista, temos como fundamento a benção de Deus, dada a Abraão, que
será transmitida ao povo e aos povos vizinhos pela realeza, principalmente por
Salomão. Já na tradição Eloísta, como o reino unido está dissolvido, a figura da
realeza não tem mais a predominância, aparecendo agora a figura do Profeta e o
fundamento será o temor de Deus, não como um medo de Deus, mas como uma
obediência à sua Palavra.Estas duas tradições se fundiram em Jerusalém
pelos anos 700 a.C. Esta fusão, chamada Jeovista (JE), não é simples adição;
ela foi a ocasião para se completarem e se desenvolverem algumas tradições,
como a tradição Deuteronômica e a tradição Sacerdotal.
3)- A tradição "Deuteronômica" (restauração da lei Mosaica): 640-609 a.C
A
tradição Deuteronômica, designada pela letra D, está contida principalmente no
Deuteronômio, mas influenciou outros livros. Começada no reino do Norte, foi
terminada no de Jerusalém. O livro Deuteronômio
não foi elaborado de uma só vez. Ele é fruto da tradição Deuteronômica ou
Deuteronomista. Para se compreender o seu alcance e significado, é necessário,
em primeiro lugar, situá-lo no seu contexto histórico.
A partir do ano 628, quando o império Assírio
começou a ruir, o rei Josias (640-609) iniciou uma reforma política e religiosa
no reino do Sul:
De fato, Josias logrou libertar-se do jugo
assírio, reconquistou grande parte do território de Israel, e realizou uma
reforma religiosa sobre a qual a Bíblia longamente se detém (2Rs 22-23). Ele
decidiu mandar fazer restaurações no templo de Jerusalém, onde o sacerdote Helcias descobriu um livro, “o
livro da Lei” (2Rs 22,3-10). Ora, ao constatar que
não se tinham obedecido às palavras desse livro (2Rs 22,13), Josias decidiu
mandar lê-lo diante de todo o povo (2Rs 23,2). Que é, afinal, esse
“livro da Lei” ou “livro da Aliança”? Reconhece-se nele uma “primeira edição”
do Deuteronômio que temos hoje. Refletindo as tradições do reino do
Norte, foi composto provavelmente em Jerusalém, no reino do Sul, após a queda
da Samaria em 722. De fato, numerosos são os sólidos indícios que permitem
concluir que o núcleo do Deuteronômio
esteja mesmo ligado ao do reino do Norte: nota-se a intenção deliberada de
fazer a Lei emanar da autoridade de Moisés e de Deus; admite-se Moisés falando
nos discursos dos capítulos 1-11. Neste sentido, o Deuteronômio segue a linha da tradição Eloísta e dos profetas do
Norte, como Elias e Oséias; a revelação fundamental de Deus, a Lei ou Decálogo, situa-se no Horeb e não no
Sinai, como na Javista. Há, de um lado, uma versão do Decálogo (Dt
5,6-21) ligada ao Horeb (5,2); ora, o Decálogo moral provém do Norte, como o
mostra o texto de Ex 20,1-17. De outro lado, o centro do livro é ocupado pelo
código deuteronômico (Dt 12-26). A “primeira edição” do Deuteronômio
deve ter sido depositada no templo durante o reinado de Ezequias (715-687). Não
nos esqueçamos que habitantes do reino do Norte tinham procurado refúgio em
Jerusalém, trazendo consigo suas tradições. Não nos esqueçamos também que,
durante o reinado de Ezequias, desenvolveu-se intensa atividade literária:
fusão das tradições Javista e Eloísta; redação de coleções de Provérbios (Pv
25,1), de Salmos e de ditos de Oséias etc. Apoiando-se nas palavras desse livro, é que, certamente, Josias
tomou algumas medidas tais como a centralização do culto em Jerusalém (Dt
12.13s) e a destruição dos altares e do “lugares altos” (Dt 12,2-3; 2Rs
23,4-14). Assim, a partir de 622, a influência do Deuteronômio
primitivo não deixou de crescer, no decorrer do tempo, o que explica as
numerosas fases que ele conheceu até chegar à sua redação final. “As
descobertas de manuscritos bíblicos, em Qumran, mostram que esse livro era
muito lido e recopiado, quase como o rolo de Isaías” (J. Briend).
4)- A tradição "Sacerdotal" (no exílio): 587-538 a.C
A
tradição Sacerdotal, designada pela letra P do vocábulo alemão Priesterkodex,
que quer dizer “código sacerdotal”, se originou durante o exílio em
Babilônia, de 587 a 538 a.C., e depois. No exílio, os sacerdotes reliam as suas
tradições para manterem a fé e a esperança do povo. Essa obra se
empenha em procurar na herança do passado uma resposta para a seguinte pergunta: em
que apoiar-se para continuar a viver no meio das nações? Insiste
primeiro no pertencer a um povo, na comunidade do sangue, o que explica a
importância das genealogias na história sacerdotal: trata-se de manter, por
meio delas, a identidade de Israel em Babilônia a fim de evitar a dissolução do
povo e permitir a Deus a realização de suas promessas. Como não é mais possível ir ao
templo (por estarem no exílio) insiste-se no sábado, como o tempo consagrado a
Deus e na circuncisão, como sinal de pertencer a Israel. Com isso, já é
possível uma vida religiosa; ela consiste em criar uma comunidade dirigida por
um sacerdote, na qual a função do templo é desempenhada pela palavra de Deus. Nesta
tradição, a figura fundamental não será então mais o rei,
nem o profeta, mas o sacerdote e
o fundamento não serão mais a benção nem o temor de Deus, mas a fé e uma
esperança de um tempo melhor.A fonte P é responsável pela
primeira das duas histórias da criação em Gênesis (Gn 1), para a genealogia de
Adão, parte da história do Dilúvio, a Tabela das Nações, e a genealogia de Sem
(i.e., da descendência de Abraão). A maioria do restante do Gênesis é do
javista (J), mas P fornece a aliança com Abraão (cap. 17) e algumas
outras histórias sobre Abraão, Isaac e Jacob.O livro de Êxodo também é
dividido entre o javista e P, e o entendimento comum é que o(s) escritor(es)
sacerdotal(is) foram somando textos à uma narrativa javista já existente.
Os capítulos 1-24 (da escravidão no Egito para aparições de Deus no Sinai) e os
capítulos 32-34 (o incidente do bezerro de ouro) são do javista, e adições de P
são relativamente menores, observando a obediência de Israel para a ordem de
ser fecundo e a natureza ordenada de Israel, mesmo no Egito. Ainda
no livro de Êxodo, P foi responsável pelos capítulos 25-31 e 35-40, as
instruções para fazer o Tabernáculo e a história de sua fabricação.Levítico
1-16 vê o mundo como dividido entre as massas profanas (ou seja, não santas) e
os sacerdotes santos. Qualquer pessoa que incorra em impureza deve ser separada
dos sacerdotes e do Templo, até que a pureza seja restaurada através da
lavagem, do sacrifício, e da passagem do tempo. Levítico 17-26 é chamado o
Código de Santidade, dado o fato de sua repetida insistência de que Israel
deveria ser um povo santo; eruditos a aceitam como um conjunto discreto dentro
da fonte Sacerdotal maior, e traçaram escritos sobre santidade semelhantes em
outras partes do Pentateuco.Em Números a
fonte Sacerdotal contribui com os capítulos 1-10:28, 15-20, 25-31 e 33-36,
incluindo, entre outras coisas, dois censos, decisões sobre a posição de
levitas e sacerdotes (incluindo o fornecimento de cidades especiais para os
levitas), e o alcance e proteção da Terra Prometida. Os temas sacerdotais em Números
incluem o significado do sacerdócio para o bem-estar de Israel (o ritual dos
sacerdotes é necessário para tirar as impurezas), e prestação de sacerdócio
como meio de Deus pelo qual ele expressa sua fidelidade à aliança com Israel. A
fonte Sacerdotal em Números originalmente terminou com um relato da morte de
Moisés e a sucessão de Josué ("Então subiu Moisés das planícies de
Moab ao monte Nebo ..."), mas quando o Deuteronômio foi adicionado ao
Pentateuco, este trecho foi transferido ao fim.Tribos do sul, de Judá, chamavam Deus por seu nome,
Yahweh ou Javé. Já as tribos ao norte adotava um título mais formal, Elohim. Para
resolver o problema, o editor do Gênesis contou a história dos eloístas no
primeiro capítulo e dos javistas, no segundo. São duas tradições diferentes.
Mais religiosos, os eloístas falavam que Deus criou o mundo em seis dias,
descansando no sétimo. O homem apareceria ao lado da mulher e de outros animais
no sexto dia. Mas no texto javista, Deus cria o mundo
em um único dia. Depois, forma o homem que teria papel ativo
para formar os elementos do mundo. Até a mulher surge depois, na história?,
escreve a historiadora norte-americana Karen Armstrong em seu livro “A Bíblia”
(Jorge Zahar Editor).Segundo ela, seria a primeira de muitas edições do texto
sagrado. Para Armstrong, eventos como o Êxodo nunca existiram. Porém, como Canaã
estaria sob domínio egípcio, era necessário criar um relato que inspirasse o
povo a lutar contra essa dominação. Por isso, quando a Bíblia conta que as leis
mosaicas foram encontradas no templo, durante o reinado de Josias, por volta de
622 a.C., na verdade, inventaria um relato para explicar o surgimento de leis
escritas na oportunidade para tornar viável a administração do reino
(?). Moisés transmitiu os ensinamentos de Deus apenas oralmente. Quem escreveu
textos como Deuteronômio foram os sacerdotes dos tempos de Josias, que chamamos
de deuteronomistas, sustenta Armstrong.Em 589 a.C., Jerusalém foi invadida e
arrasada pelos babilônios. A maior parte da população foi aprisionada e levada
para o atual Iraque. Quando os hebreus voltaram para sua terra, décadas depois,
tinham sua fé transformada.Antes eles
eram politeístas e adoravam vários deuses, sendo Yahweh apenas mais um entre
tantos outros como Baal, Astarote e El. Agora, após contato com os persas,
Yahweh era o único Deus. Isso precisava ficar claro e, sob o comando do
sacerdote Esdras, os textos foram novamente editados e enriquecidos. Teriam
surgido ali os Dez Mandamentos e leis rígidas, como a proibição do casamento de
hebreus com outros povos. Outras passagens, continuaram refletindo o clima de
séculos de guerras com assírios e babilônios. Em vez de Deus, os autores do
Antigo Testamento seriam influenciados por essa atmosfera de ódio e estariam
apenas extravasando suas angústias, segundo esta linha de interpretação destas
narrativas bíblicas.O Pentateuco ou Torá descreve a história dos israelitas
desde a criação do mundo, através dos primeiros patriarcas bíblicos e suas
peregrinações, o êxodo do Egito e o encontro com Deus no deserto. Os livros
contêm muitas repetições, diferentes estilos de narrativa e nomes diferentes
para Deus. Há, por exemplo, dois relatos da criação, duas genealogias de Seth e
duas genealogias de Sem, dois pactos com Abraão e duas revelações para Jacob em
Betel, dois chamados para Moisés ir resgatar os israelitas do Egito, dois
conjuntos de leis no Sinai , e duas narrativas do Encontro do Tabernáculo/Tenda.
As repetições, estilos e nomes não são aleatórios, mas seguem padrões
identificáveis, e o estudo destes padrões levou os estudiosos à conclusão de
que são estas quatro fontes distintas que estão por trás destas narrativas.Os estudiosos do século 19 viram
essas fontes como documentos independentes, que tinham sido cuidadosamente
editadas em conjunto, e para a maioria dos estudiosos do século 20 este foi o
consenso aceito.Em 1973, o estudioso bíblico norte-americano F. M. Cross
publicou um trabalho influente chamado Canaanite Myth and Hebrew Epic, no qual
argumentava que P não era um documento independente (isto é, um texto escrito contando
uma história coerente com começo, meio e fim) , mas sim uma expansão editorial
de outra das quatro fontes, a javista/eloista combinadas (chamada JE).
O estudo de Cross foi o início de uma série de ataques contra a Hipótese
Documentária, continuada nomeadamente pelo trabalho de Hans Heinrich Schmid
(Der sogenannte Jahwist, de 1976, questionando a data da fonte javista), M.
Rose ( em 1981, que propôs que o javista foi composto como um prólogo para a
história que começa em Josué), e J. Van Seters (Abraham in History, que propôs
o sexto século a.C. como sendo a data para a história de Abraão e, portanto,
para o javista). Ainda mais radical foi R. Rendtorff (Das
überlieferungsgeschichtliche Problem des Pentateuch, 1989), que argumentou que
nem o javista e nem o eloista existiram como fontes, mas em vez disso
representavam coleções de histórias fragmentárias e independentes, poemas, etc.Nenhum novo consenso surgiu para substituir a Hipótese Documentária, até que,
aproximadamente em meados dos anos de 1980, surgiu uma teoria influente que
relaciona o surgimento do Pentateuco à situação de Judá no século 5 a.C. sob o
governo imperial persa. A instituição central na província persa pós-exílico de
Yehud (o nome persa para o antigo reino de Judá) foi o segundo templo
reconstruído, que funcionava tanto como o centro administrativo da província
como o meio através do qual Yehud pagava os impostos ao governo central. O
governo central estava disposto a conceder autonomia às comunidades locais por
todo o império, mas era primeiro necessário para a pretensa comunidade autônoma
apresentar as leis locais para a autorização imperial. Isso proporcionou um
poderoso incentivo para que os vários grupos que constituíam a comunidade
judaica em Yehud chegassem a um acordo. Os principais grupos foram as famílias que
desembarcaram e que controlavam as principais fontes de riqueza, e as famílias
sacerdotais que controlavam o Templo. Cada grupo teve a sua própria história
das origens que legitimaram suas prerrogativas. A tradição dos
proprietários foi baseada na velha tradição deuteronomista, que já existia pelo
menos desde o século 6 a.C., e teve suas raízes mais antigas, e para as
famílias sacerdotais foi composta a composição "correta" e
"completa" dos proprietários de terras. No documento final Genesis
1-11 estabelece as bases, Gênesis 12-50 define o povo de Israel, e os livros de
Moisés definem as leis da comunidade e sua relação com Deus.Segundo os estudiosos do tema a tradição sacerdotal foi
composta a partir do séc. V antes de Cristo, período do pós-exílio da Babilônia
e entra em muitos pormenores a respeito do sacerdócio, sacrifício, festas e
culto. Também faz uma descrição minuciosa do tabernáculo e do seu
mobiliário, e uma centralização da vida do povo do antigo Israel e do culto em
torno do Templo de Jerusalém. Apresenta Moisés mais como um legislador do que
um Profeta Libertador.
Alguns textos da
Tradição sacerdotal:
-Gn 1,1-2,4a; 5,1-28; 6,5-9; 13,6.11ss; 16,1.3.15s; 17;
21,3-5;
-Ex 1,1-5.7.13s; 2,23-25; 6,2-30; 7,1-13,19s;
-Todo o livro do Levítico;
-Nm 1 -10;15;
-Dt 32,48-52; 54,1.
O Teólogo, professor de Literatura Bíblica, chefe da
divisão de estudos bíblicos no Western Seminary EUA, titulado mestre pelo mesmo
Seminary, doutor pelo Dallas Thological Seminary, Stanley Ellisen; quando
em suas teses sobre o Antigo Testamento discorreu sobre as hipóteses
documentárias que descredibilizaram a autoria do Pentateuco de sua formação
original, quanto a autoria do Pentateuco de fato ser de Moisés, e, para tanto
se utilizou provavelmente da hipótese documentária de Wellhausen, sabendo-se
que existem outras quatro, aquela que atribui uma data muito tardia para o
Pentateuco, e que para tanto, teria sido escrito no período do exílio ou mais
tarde. Como nos afirma Stanley E. esta já não é mais uma hipótese considerada,
portanto, está ultrapassada a referida hipótese.
Alguns diriam que a negação da autoria mosaica de
algumas narrativas, traz inevitavelmente dois questionamentos:
a)- É questionada a inspiração divina, pois os livros
passam a ser considerados meros produto de maquinações de lideranças
religiosas, principalmente a sacerdotal, em vez de palavras diretas de Moisés,
o profeta inspirado por Deus.
b. A exatidão histórica das narrativas e da legislação
também é desfiada, haja vista uma aparente aura de embuste que se difunde no
conjunto. Como consequência, os acontecimentos passam a ser vistos como mitos
inventados por devotos da religião, em vez de história autêntica.
Temos inúmeras
confirmações que ratificam algumas narrativas como de autoria do próprio Moisés, e não de outros, bem como em sua época e não outra, afirmando que:
-Moisés era o homem mais erudito da
Antiguidade e aquele que alegou ter escrito sob a direção de Deus (Êxodo 17,14.
34,27; Dt 31,9.24 e Atos 7,22).
-A unidade de conteúdo, o estilo antigo e o
gênero de palavras diferenciam os livros do Pentateuco de todos os outros do
A.T. Há uma continuidade óbvia de conteúdo e estilo em todos os cinco livros.
-Cristo
e os escritores do Novo Testamento afirmam ser Moisés o autor dos cinco livros conhecidos
como “A Lei” (Joao 1,17; 5,46-47; 7,19 e Romanos 10,5.19).
-Evidências
arqueologias dignas de total credibilidade confirmam hoje atividade literária
intensa antes de Moisés, pelo menos a partir da época de Abraão; quase todas as
tradições judaicas, reconhecem até os tempos modernos, a autoria de Moisés; e
por final, o reconhecimento de que Moisés usou no processo seletivo vários
documentos antigos disponíveis, não é incoerente, mas é totalmente compatível
com a inspiração divina, pois muitos outros escritores bíblicos se utilizaram
dessa prática. (conf. Lucas 1,13).
ESCLARECIMENTOS NECESSÁRIOS:
A Bíblia não é um documento científico, nem muito menos
um livro de mitologia, é um documento que contém narrativas históricas em
vários estilos, conforme o autor e sua intenção. Mito costuma ser associado com
falsidade, mentira, como se a única narração veraz fosse a história, e para
muitos como se restringisse à única verdade demonstrável (científica). Esse
juízo obedece a idéia que não corresponde à dignidade de Deus e da Bíblia a
outro tipo de narração que não seja a história. Interpretar desta forma
seria negar que as parábolas de Cristo não contem verdades e não tem nenhum
valor.O fato, no entanto, é que o mito, a parábola, a poesia o conto,a
narrativa, etc, buscam expressar uma verdade. É uma maneira de dar
expressão compreensível a uma realidade não sensível. Esta verdade é do tipo da
poética, que não é o mesmo tipo de um relato histórico. Poesia não representa
história, no entanto, tem “sua verdade”, e uma verdade freqüentemente mais
profunda do que a de um relato histórico. Mitos como a “Espada de Dâmocles, do
Minotauro e tantos outros” tem sua verdade, ou moral histórica perenis - Um narrador bíblico por exemplo, não tomaria o relato
mítico com a mesma certeza histórica com que tomaria o relato da conquista de
Judá por Nabucodonozor. Não é propósito do mito comunicar memória
histórica de acontecimentos realmente ocorridos (Mas a moral ou, experiência
vivida), embora o narrador pudesse pensar que alguns desses eventos se
deram sim (quão difícil é saber o que os outros pensavam, ou o que de fato ocorreu
, e mais ainda antigamente).Julgar o passado com a mentalidade do presente
chama-se: ANACRONISMO, só pessoas ignorantes e anacrônicas procedem desta
forma).O símbolo e o real, estão ambos, presentes na mente
daquele que apela para o mito para expressar uma realidade difícil de explicar
em linguagem humana. O mito e a linguagem mítica são empregados para explicar
realidades transcendentes e as interrogações profundas do homem, as
realidades religiosas e existenciais, que a ciência não tem resposta: Porque
existimos ? Porque o mal e o sofrimento ? Por que uns são mais capacitados e
agraciados que outros ? Porque a Morte ? O que acontece depois da morte ? Os
sentidos não captam todas as realidades, e certamente não as do “além”, e para
falar delas, é necessário empregar uma linguagem humana. O mito é a maneira por
excelência de falar dessas realidades transcedentais. Os escritos da Bíblia não recorreram a linguagem
filosófica da nossa Cultura Grega ocidental
para falar dessas dimensões, mas à linguagem mítica, figurada, de
imagens tomadas do mundo de suas experiências cotidianas, enfim, da cultura
oriental, que é mais experiencial que intelectual (Exemplo: Vaidades das vaidades
tudo é vaidade...O autor experimentou para depois narrar).O relato do
rapto de Elias ao céu (2Rs 2) é mítico (ele não é um mito puro como tal, pois Elias foi real) como o é aquele das
tentações de Jesus e seus intercâmbios com o “ADVERSÁRIO” (diablos). Mas,
mediante esse modo de falar, cada um desses relatos expressam uma verdade:
Elias não morreu, vive com Deus (como se dirá da ascensão de Jesus em Lucas e
Atos); Jesus não cedeu às tentações que o mundo oferece, mas submeteu-se
durante sua vida à vontade de Deus.Fala-se de Deus como juiz, pai, rei,Sr. dos exércitos,
etc (que são metáforas analógicas), como alguém que fala, age, se encoleriza,
como se fosse um humano, embora Deus não seja humano e esteja acima
de nossas categorias de compreensão.
São Tomaz de Aquino dizia que a verdade é maior que nossa inteligência,
portanto, jamais teremos condições de apreender toda a verdade em nosso
intelecto humano limitado.O Fundamentalista nega a
possibilidade de erros (acidentais e não propositais) na bíblia, argumentando
que quando se admite que esses existem (fazem coro com os ATEUS) então, a
bíblia não merece nossa plena confiança e deixaria de ser PALAVRA DE DEUS. A
bíblia são ações TEÂNDRICAS: Ações divino-humanas. Inspirada sim por Deus, mas
com o elemento humano como seu instrumento.O termo ERRO para os estudiosos é um
tanto equívoco. Melhor seria tratar de verdade bíblica. Verdade é a
correspondência AFIRMATIVA entre aquilo que é pensado e expresso e a realidade
CONSTATÁVEL. Dai resulta a máxima filosófica: “A verdade não está no
observador, mas no objeto observado.” A verdade não depende de pontos de vista,
de crenças, gostos, preferências, ou desejos
pessoais e comunitários. A “ NÃO VERDADE ACIDENTAL” é denominada de
ERRO, e pode ser devida à incompreensão, à informação incorreta, ao
desconhecimento, ou à distração. A NÃO VERDADE “INTENCIONAL” é denominada
MENTIRA. Ambos erro e mentira, contradizem a realidade que se pode verificar e
demonstrar. Porém, uma é por acidente, a outra é intencional. É importante não
confundir erro com mentira, ou equívoco(não intecional,mas acidental) - Como veremos a bíblia contém erros
acidentais, contudo, não contem mentiras!É preciso esclarecer que quando falamos de verdade, ou erro
na bíblia, fazemos a partir de nosso ponto de vista, e segundo nosso conceito
OCIDENTAL de verdade, que é de origem filosófica especificamente grega
(alétheia).
ATENÇÃO! No mundo onde a Bíblia nasceu, o conceito de verdade era
diferente: Verdade é tudo que é fiel, estável, e experimentalmente merecedor de
confiança. O oposto de tudo isto é a mentira (hipocrisia), e não erro, ou
equívoco. O nosso conceito de
verdade é intelectual, o da bíblia é existencial. É com este conceito
de verdade ORIENTAL que foram compostos os escritos da bíblia. A verdade que se
trata nos escritos da bíblia, situa-se no plano da mensagem e não dos dados
reais em si mesmo. Projetar nosso
conceito de “verdade OCIDENTAL” nos escritos bíblicos e situá-los em um mundo conceitual
e intelectual como o dos gregos, que não era o seu, é esperar deles o que não
pretenderam nunca nos oferecer!
POR FIM, O REAL CONCEITO DE INFALIBILIDADE E
INERRÃNCIA DAS ESCRITURAS, é conforme está expresso na DEI VERBUM-Nº 11:
“Deve-se confessar que os livros da Escritura ensinam firmemente,
com fidelidade e SEM ERRO, a verdade que Deus quis manifestar nas sagradas
letras PARA NOSSA SALVAÇÃO" (Nostrae Salutis Causa). - Por isto, fala-se de verdade PARA NOSSA SALVAÇÃO, que
concerne à mensagem e não à informação fatídica e sua exatidão histórica. Finalmente,
quando se afirma que a Bíblia está livre de qualquer classe de erro,
implicitamente afirma-se que essa inerrância em vista de nossa salvação, é
válida para todos os tempos!
Por *Francisco José Barros
Araújo – Bacharel em Teologia pela Faculdade Católica do RN, conforme diploma
Nº 31.636 do Processo Nº 003/17
-A Brief Introduction to the Old Testament, M. D. Coogan (2009). Oxford
University Press
-The Pentateuch: a story of beginnings, P. Gooder (2000). T&T Clark
-The Pentateuch, J. Van Seters, (1998) Bloomsbury T&T Clark
-
A Bíblia sem Mitos – Uma introdução Crítica, Eduardo Arens. Ed Paulus
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Uma grande verdade! "No mundo onde a Bíblia nasceu, o conceito de verdade era diferente: Verdade é tudo que é fiel, estável, e experimentalmente merecedor de confiança. O oposto de tudo isto é a mentira (hipocrisia), e não erro, ou equívoco. O nosso conceito de verdade é intelectual, o da bíblia é existencial. É com este conceito de verdade ORIENTAL que foram compostos os escritos da bíblia. A verdade que se trata nos escritos da bíblia, situa-se no plano da mensagem e não dos dados reais em si mesmo. Projetar nosso conceito de “verdade OCIDENTAL” nos escritos bíblicos e situá-los em um mundo conceitual e intelectual como o dos gregos, que não era o seu, é esperar deles o que não pretenderam nunca nos oferecer!"
Marlúcia - MG
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