O arcebispo de Olinda
e Recife era um defensor dos pobres. Contraditório, apoiou o integralismo de
Plínio Salgado, a ditadura de Getúlio Vargas, criticou a ditadura dos militares
pós-1964 e pediu censura para filme de Martin Scorsese. Um filósofo não muito
requestado disse uma frase que é um marco do realismo: “Quer pureza? Não vá ao
convento”. Não é uma crítica aos conventos, e sim uma constatação de
que não há pureza em lugar algum! Por que, tendo uma vida desregrada, ainda
assim Agostinho, padre e intelectual da Igreja Católica, se tornou santo?
Porque, tendo experimentado a vida e buscado redenção por intermédio da
religião e das coisas do espírito, tinha uma compreensão mais acurada da vida
e, deste modo, poderia ter uma visão mais distanciada e compreensiva das falhas
humanas (afinal, como assinala uma escritora, “não é possível fazer o bem
apenas aos inocentes”).Fez algum milagre? É
possível, considerando o que a Igreja Católica e seus adeptos entendem por
milagre, o que, independentemente da religião que se tenha ou se seja ímpio,
merece ao menos respeito. Dom Hélder Pessoa Câmara (1909 - 1999), que foi bispo
auxiliar do Rio de Janeiro e arcebispo de Olinda e Recife, merece ser
considerado santo pela Igreja Católica? Religiosos brasileiros e de outros
países acreditam que sim.(no Brasil as opiniões de dividem).Em Roma, comenta-se
que deve ser finalizada, no primeiro semestre de 2017, a primeira fase do
processo de canonização.
Há duas etapas para
que a Igreja Católica santifique uma pessoa:
Na fase diocesana, examina-se a
história pessoal do santificável e elabora-se um documento que é enviado ao
Vaticano. Aí o Vaticano indica um relator. Se comprovado um milagre, o
religioso se torna beato. O processo de beatificação já foi aceito pela cúpula
da Igreja Católica. Para que dom Hélder se torne santo, é preciso comprovar que tenha feito
pelo menos dois milagres (por sua intercessão junto a Cristo, comprovação de
que já goza a visão beatífica em espírito e em verdade, dos eleitos).
O frei Jociel Gomes,
um dos articuladores do processo de canonização, disse ao “Correio
Braziliense”:
“Dom Hélder atuou na proteção dos
mais fracos durante o regime militar e foi muito difícil. Ele era opositor de
todo aquele sofrimento, das torturas e das violações contra a liberdade de
expressão. Ele sempre pensava nas necessidades que as pessoas mais pobres
passavam. A lição que ele nos deixa é
que devemos realizar o enfrentamento por meio do Evangelho (e não por meio de ideologias) - Os cristãos
devem se preocupar com a sociedade, não apena com os próprios problemas. Toda
essa vida voltada aos necessitados nos fez pedir sua santificação”.
Religioso complexo e ideologicamente de carreira
contraditória:
Dom Hélder é um
religioso dos mais complexos: começou a atuar politicamente como integralista,
que literalmente quer dizer, como fascista, liderado pelo escritor Plínio
Salgado, e, a partir da década de 1960, aproximou-se da esquerda, definindo-se
como socialista, defensor de uma “socialismo de face humana”. A pesquisadora
Verônica Veloso, no incontornável “Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro
Pós-1930”, da Fundação Getúlio Vargas, sintetiza a biografia de Hélder Câmara,
que será usada neste texto. Nascido em Fortaleza, em 1909, Hélder Câmara se
tornou padre em 1931. Organizou a Juventude Operária Cristã, que
se integrou à Legião Cearense do Trabalho, “inspirada no salazarismo
português”. Daí, o religioso aderiu à Ação Integralista Brasileira, de extrema
direita e com forte simpatia pelo fascismo italiano e pelo nazismo alemão. Anticomunista,
mas também crítico do capitalismo e do liberalismo, a AIB conquistou o apoio do
jovem padre.
Ao assumir a chefia
do setor de educação da AIB no Ceará, o padre Hélder disse que era “comunitarista” em um
manifesto elaborado pelos ideólogos da Associação Brasileira de Educação, como
Anísio Teixeira e Manuel Lourenço Filho. Em 1933, quando o país, no
governo de Getúlio Vargas, se preparava para eleger os integrantes da
Assembleia Constituinte, a Liga Eleitoral Católica, criada pelo cardeal dom
Sebastião Leme, arcebispo do Rio de Janeiro, patrocinou candidatos em todas as
regiões. O padre Hélder fez campanha em todo o Estado do Ceará, pedindo apoio
para candidatos conservadores, contrários, por exemplo, ao divórcio.
Eleito Francisco de
Meneses Pimentel para o governo, o padre Hélder assume o cargo de diretor do
Departamento de Educação do Ceará, em 1935. Porém, atritado com o governador,
deixa sua equipe e aceita assessorar o secretário da Educação do Distrito
Federal, Francisco Campos (autor da Constituição de 1937, a fascista Polaca).
Muda-se para o Rio de Janeiro. O cardeal dom
Sebastião Leme decidiu afastá-lo das atividades políticas, inclusive da
militância no integralismo, e o padre Hélder assumiu a diretoria-técnica do
ensino de religião da arquidiocese, “com a missão de implantar o ensino
religioso nas escolas públicas do Rio de Janeiro”.Vocacionado para o
serviço público, o padre Hélder foi nomeado, em 1937, para a seção de Medidas e
Programas do Instituto de Pesquisas Educacionais do Distrito Federal. Em 10 de
novembro de 1937, com o pretexto de combater o “golpe comunista”, uma campanha
criada com o apoio do integralista Olímpio Mourão Filho, o militar que criou o Plano Cohen,
devido a ameaça de golpe dos reds patropis, Getúlio Vargas fecha o Congresso,
outorga uma Constituição e cria o Estado Novo. Plínio Salgado e o
padre Hélder apoiaram o golpe de Getúlio Vargas, que levou várias pessoas à
prisão (já antes do Estado Novo, depois da Intentona Comunista, o governo,
ainda dito democrático, deteve várias pessoas, entre elas o escritor Graciliano
Ramos, que contou a história das prisões arbitrárias no livro “Memórias do
Cárcere”).
Convidado por Plínio Salgado, e liberado pelo cardeal Leme, o padre
Hélder tornou-se integrante do conselho supremo da Ação Integralista
Brasileira. Como a AIB só tinha 12 membros, fica registrada a
importância do religioso como fascista. Logo Getúlio Vargas baniu os partidos
políticos e a AIB, proscrita, rebelou-se, e inclusive tentou um golpe de
Estado.
O que explica o fascismo do padre Hélder? - O religioso definiu
sua militância integralista como:
“Um erro de juventude. O aspecto social não era o forte de meus mestres,
disse. Tanto assim, que a nossa visão era a de que o mundo se dividiria entre
direita e esquerda, entre capitalismo e comunismo. E nos sopravam [os líderes
da Igreja Católica], discretamente, que, dos males, o menor. Pouco a pouco foi
fácil ver que não era verdadeiro este embate...”
A serviço do povo
Deixou o
integralismo, que havia perdido espaço político, mas o padre Hélder continuou
nas proximidades da ditadura de Getúlio Vargas. O ministro da Educação e
Cultura, Gustavo Capanema,que se cercava de escritores, como o poeta Carlos
Drummond de Andrade, e alguns intelectuais de esquerda, convocou um concurso e
o religioso foi aprovado para o cargo de técnico em educação. Em 1946, no governo
do general Eurico Dutra, o padre Hélder deixa o governo. O cardeal dom Jaime de Barros
Câmara tenta transformá-lo em bispo-auxiliar, mas a nunciatura católica veta a
promoção. O papa impediu sua ascensão pelo fato de o religioso ter sido
fascista-integralista. A Igreja Católica fazia um certo “mea culpa” em
relação aos crimes de Benito Mussolini, na Itália, e Adolf Hitler, na Alemanha,
e, para se purgar, passou a boicotar religiosos ligados à extrema direita
política.Articulador nato, o
padre Hélder organiza o secretariado nacional da Ação Católica Brasileira
(ACB), em 1947, com a intenção de integrar leigos e a Igreja. Ele foi seu
primeiro assistente-geral. Em 1949, assume a direção da “Revista Catequética”. Como conselheiro do
núncio dom Carlo Chiarlo e, depois, de dom Armando Lombardi, agora já como
bispo, dom Hélder passa a trabalhar para a fundação da Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB). Ele começa a pensar numa igreja a serviço do povo,
distanciando-se completamente agora do pensamento integralista. Ao estudar “as 18
teses selecionadas para o Congresso de Leigos, realizado no Vaticano em 1950”,
dom Hélder escreve num parecer, a pedido do núncio Carlo Chiarlo: “Isto será
impraticável sem a criação da Conferência dos Bispos do Brasil”. Em Roma,
discutiu o assunto, o envolvimento da Igreja com o povo, com o monsenhor
Giovanni Montini, que, em 1963, se torna o papa Paulo VI, também canonizado
como santo.Em 1952, o Vaticano
deu autorização para a criação da CNBB e dom Hélder se torna bispo-auxiliar do
Rio de Janeiro. O religioso foi eleito secretário-geral da CNBB, criada em
outubro de 1952. Em 1955, organizou o 36º Congresso Eucarístico Internacional,
no Rio de Janeiro.Mesmo tendo apoiado a
gestão democrática de Getúlio Vargas, quando seu vice, Café Filho (conspirava
contra o presidente), assumiu o governo, depois do suicídio do titular, dom Hélder
Câmara decidiu apoiá-lo.Prestigiado pela
cúpula da Igreja Católica, foi promovido, em 1955, a arcebispo-coadjutor do Rio
de Janeiro, participa da criação do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam)
e se torna integrante do Conselho Nacional de Educação.Em 1956, com o
objetivo de “urbanizar, humanizar e cristianizar” as favelas do Rio de Janeiro,
dom Hélder cria a Cruzada de São Sebastião. “Em menos de um ano construiu os
primeiros conjuntos habitacionais da cidade”, relata a pesquisadora Verônica
Veloso. No mesmo ano, indiferente às críticas, articula o 1º Congresso Geral
das Favelas Cariocas, no Teatro João Caetano.Irrequieto, dom Hélder cria, em
1959, o Banco da Providência, que atendia sobretudo os pobres, “recolhendo e
distribuindo para pessoas necessitadas alimentos, remédios, roupas e dinheiro,
além de dar-lhes orientação para trabalho, moradia e educação”, relata
Verônica Veloso. Depois, funda a Feira da Providência.Cada vez mais influente e
posicionado na Igreja Católica, dom Hélder “foi eleito segundo vice-presidente
do Concelho Episcopal Latino-Americano (Celam)”, em 1960. Dois anos depois,
cria o Centro de Abastecimento São Sebastião.
O Socialismo humano de D. Helder!
Em 1962, se torna
membro da Comissão para Disciplina do Clero, prévia do Concílio Vaticano 2º,
que havia sido convocado pelo papa João 23º. O chefe da Igreja Católica
“pregava uma reformulação na forma de apresentar a fé cristã ao mundo moderno,
onde a ciência e a crítica tivessem acesso. A preocupação era sempre colocar o
homem no centro das discussões e a religião católica em face das exigências do
mundo, enquadrando cada povo na sua realidade política, social e econômica”,
anota Verônica Veloso. O papa queria “preservar a cultura cristã no
essencial e apreciar os aspectos relativos à mutabilidade do progresso humano”.Não muito diferente
do que está fazendo, neste momento, o papa Francisco, o argentino convocado
para atualizar a Igreja Católica, mas sem alterar seus princípios básicos, o
que, na verdade, lhe confere universalidade. Não se trata de aderir aos
modismos, àquilo que é passageiro, e sim de inculturar-se para levar o
evangelho a estes novos tempos.É pelos preceitos
propagados pelo papa João 23º, que dom Hélder acata de bom grado, a Igreja
Católica, sem perder seu caráter universalista e sem deixar de ser pastora de
todos, e não apenas de classes sociais específicas, fez uma “opção preferencial
pelos pobres” (não exclusiva pelo pobre e não excludente de outras realidades), e definiu que tinha a “intenção de trabalhar com eles e não
apenas para eles”. Dom Jaime Câmara e dom Hélder se desentenderam a respeito da temática
e o segundo teve de se afastar do Rio de Janeiro.
Dom Helder, Jango e Regime Militar
Como presidente da
CNBB, dom Hélder e o arcebispo de São Paulo, Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos
Mota, encontram-se com o presidente João Goulart, em março de 1964, para
adverti-lo, sublinha Verônica Veloso, “contra uma atitude precipitada e lhe
mostraram a falta de um plano sério de reformas das estruturas, a falta de um
plano para estabelecimento de um verdadeiro socialismo humano” e explanam sobre
a reação da extrema-direita.O Socialismo humano de
Dom Helder parece uma contradição, porque o socialismo “real” não é humanista, e
sim de práxis utilitarista, onde os fins justificam os meios. Certamente os
bispos eram próximos da socialdemocracia, mas, como a esquerda sempre
demonizou-a, tratando-a como “reformista”, uma espécie de tática capitalista
para salvar o capitalismo, era menos inadequado falar em “socialismo
humano”. O equívoco dos religiosos era pensar que João Goulart era
socialista. Não era. Era até defensor do capitalismo, mas certamente pensava num
capitalismo ao estilo do norte-americano dos tempos de Franklin D. Roosevelt,
nos Estados Unidos, que investiu fortemente no social, ou no estilo do bem-estar
social da Inglaterra. Curiosamente, a esquerda e a direita nunca entenderam
Jango de maneira ampla: sempre pensaram-no como um homem de esquerda, até
comunista.Em abril de 1964, o
governo sob o comando militar de Castello Branco, ainda moderado, a
cúpula da Igreja Católica afasta dom Hélder da CNBB, e o papa Paulo VI o
transforma em arcebispo de Recife e Olinda.As relações entre o
regime civil-militar e dom Hélder eram ruins. O bispo “foi acusado de proteger padres
suspeitos de subversão, entre os quais dom José Lamartine e os padres Almeri e
Sena”. Ele começou a discutir políticas de desenvolvimento e,
consequentemente, a tecer críticas ao governo de Castello Branco. Em 31 de
março de 1966 dom Hélder recusou-se a celebrar uma missa em comemoração ao
segundo aniversário do movimento de 1964, anota Verônica Veloso. O general
Itiberê Gouveia do Amaral, comandante da 10ª Região Militar, critica-o
asperamente. O general Itiberê sustenta que dom Hélder desagrega “o rebanho
católico em consequência de suas atitudes” e o aponta como “esquerdista” e
associado à Ação Popular (AP) - De fato, dom Hélder nesta
fase de sua vida, era de esquerda, ou estava na esquerda, mas não se
considerava, ao contrário do que pensavam militares mais ortodoxos, como comunista.
Ele
propugnava por uma sociedade mais igualitária, mas não sob o comando dos
comunistas. Era, acima de tudo, um homem do establishment da Igreja
Católica,como o papa Francisco.Dom Hélder denunciava
injustiças contra trabalhadores e isto, em tempos radicalizados da Guerra Fria,
do “nós contra eles”, era interpretado pelos militares, sobretudo os da Linha
Dura, como ser comunista. O presidente Castello Branco, um dos
melhores quadros políticos da ditadura, chega a conversar pessoalmente com dom
Hélder. Mantêm uma conversa cordial, pois Castello Branco, se era
resoluto, não era truculento. Porém, ao criticar a atuação de bispos da Igreja
Católica, o presidente desagrada dom Hélder e seus aliados. “Vários setores da
Igreja se mostraram solidários a dom Hélder. O arcebispo de Goiânia [Dom
Fernando] denunciou como subversivos os oficiais que o criticavam”, conta
Verônica Veloso.Em 1967, no governo
de Costa e Silva, da Linha Dura, o intimorato dom Hélder defende uma América
Latina “livre, não apenas no plano político, mas também no plano econômico” (curiosamente,
os militares, embora apoiados pelos Estados Unidos, mantinham o país
independente, com posições firmes e nacionalistas). O bispo adverte que
“só a ação social da Igreja poderá fazer fracassar a revolução violenta no
Nordeste”. O religioso estava dizendo que o socialismo do tipo bolchevique
poderia ser evitado, ou seja, a tomada do poder pela força (a violência como
parteira da história), desde que a ação social pudesse ser feita pela Igreja,
mas por certo era um “convite” a uma ação do governo. Por exemplo que
defendesse a reforma agrária, que, a rigor, é uma medida típica tanto do
sistema capitalista quanto do socialista (no caso da União Soviética, com sua reforma
agrária coletivista, resultou em milhões de mortes e baixa produção agrícola).No
mesmo ano, a CNBB condena, por meio de um manifesto, a subversão de esquerda
e, ao mesmo tempo, solidariza-se com os clérigos perseguidos pelo regime.Em 1968, as relações
entre o governo e a Igreja Católica, ou com parte dela, pioram com a declaração
de um
bispo de Santo André: “Uma revolução armada pode ser lícita quando reina a
opressão e quando vigoram salários de fome”. Dom Hélder, corroborando a
crítica, afirma que, ao menos no Nordeste, o regime, mais do que capitalista,
era feudal. Radicalizado, frisa sua “convicção na marcha inelutável do socialismo”.
Tese, aliás, que não era compartilhada por toda a Igreja Católica e muito menos
pelo Vaticano. Era, no máximo, discurso radicalizado de um religioso,
de proa, dadas as circunstâncias políticas do país e, sobretudo, do Nordeste
(no qual os trabalhadores rurais eram tratados praticamente como escravos ou
servos). Havia, na região, formas pré-capitalistas de lidar com o trabalhador. Assim
como na União Soviética socialista trabalhadores escravos foram usados para
construir obras pesadas,com milhares deles morrendo de fome e de excesso de
trabalho. Um quadro muito pior, até incomparável, do que o brasileiro.A Igreja Católica,
que havia apoiado o golpe de 1964, mesmo com algumas restrições, passa a defender, no complicado
ano de 1968, com o regime militar instalado, bem como do AI-5, reformas e as
liberdades individuais, além de criticar a violência policial e política.Na 2ª Assembleia
Geral do CELAM, em 1968, dom Hélder defende uma opção preferencial pelos pobres
e um desenvolvimento de fato inclusivo, e lança o movimento Ação, Justiça e
Paz. O governo militar critica abertamente o clero dito progressista. “Em maio
de 1969, o padre Antônio Henrique Pereira Neto, coordenador da Pastoral da
Juventude no Recife e assessor do arcebispo, foi sequestrado, torturado e
assassinado, sendo o crime atribuído a extremistas de direita”, assinala
Verônica Veloso.
Em Paris, em 1970, falando para 10 mil pessoas, dom
Hélder denuncia torturas de presos políticos no Brasil:
“O que fiz foi defender a
justiça. Se combato as injustiças quando são cometidas em qualquer parte do
mundo (carece de confirmação se combateu as dos Comunistas), por que haveria de me calar quando essas injustiças e arbitrariedades se
passam dentro do meu país?”
O principal sociólogo do país, Gilberto Freyre, autor do seminal clássico “Casa Grande & Senzala”, pontua que dom Hélder era “aliado do comunismo internacional”, com uma certa razão, se não vejamos: Em 1947, Padre Helder Câmara foi nomeado Assistente Geral da Ação Católica brasileira, que, sob sua influência, começou a deslizar para a esquerda para abraçar, em alguns casos, o marxismo-leninismo. A migração foi particularmente evidente na JUC (Juventude Universitária Católica), da qual Helder Câmara era particularmente próximo.
Assim escreve Luiz Alberto Gomes de Souza, então secretário da JUC:
“A ação dos militantes da JUC foi convertida em um compromisso que, pouco a pouco, se revelou socialista” (Luiz Alberto GOMES DE SOUZA, A JUC. Os estudantes católicos e a política, Editora Vozes, Petrópolis 1984, p. 156.) - A revolução comunista em Cuba (no ano de 1959) foi recebida com entusiasmo pela JUC. De acordo com Haroldo Lima e Aldo Arantes, líderes da JUC, “o ressurgimento das lutas populares e o triunfo da revolução cubana em 1959 abriu a idéia de uma revolução brasileira à JUC”. O deslize para a esquerda foi muito facilitado pela cooperação da JUC com a UNE (União Nacional de Estudantes), muito próxima ao Partido Comunista. “Como resultado de sua militância no movimento estudantil – prosseguem Arantes e Lima – a JUC foi forçada a estabelecer uma agenda política mais ampla para os cristãos de hoje. Foi assim que, no Congresso de 1960, foi aprovado um documento (…) no qual se anunciava a adesão ao socialismo democrático e à idéia de uma revolução brasileira “(Haroldo LIMA e Aldo ARANTES, História da Ação Popular. Da JUC ao PC do B, Editora Alfa-Omega, São Paulo 1984, p. 27-28),Durante o governo de esquerda do presidente João Goulart (1961-1964), foi formada dentro da JUC uma facção radical chamada inicialmente de O Grupão, que mais tarde veio a ser transformado em Ação Popular (AP) que, em 1962, se definiu a si mesmo como socialista . No congresso de 1963, a AP aprovou seus estatutos por meio dos quais “abraçava o socialismo e propunha a socialização dos meios de produção.” Estatutos que continham, entre outras coisas, elogios à revolução soviética e um reconhecimento da “importância decisiva do marxismo na teoria e na práxis revolucionária” (Haroldo LIMA e Aldo ARANTES, História da Ação Popular. Da JUC ao PC do B, Editora Alfa-Omega, São Paulo 1984, p. 27-37.)
O desvio, no entanto, não parou por aí:
No Congresso Nacional,
de 1968, a Ação Popular se proclamou marxista-leninista, mudando o nome para
Ação Popular Marxista-Leninista (APML). Visto que nada mais a separava do
Partido Comunista, em 1972 foi decidido que ela deveria ser dissolvida e incorporada
ao Partido Comunista do Brasil. Através desta migração, muitos militantes da
Ação Católica acabaram indo participar da luta armada durante aqueles anos de chumbo no Brasil.Contra o parecer de não poucos bispos, Mons.
Helder Câmara foi um dos defensores mais entusiasmados e convictos da migração
da JUC para a esquerda.
Contra o papa Paulo VI e outras esquisitices(?)
Em
1968, quando o Papa Paulo VI estava prestes a publicar a encíclica Humanae
Vitae, Mons. Helder Câmara tomou partido abertamente contra o Pontífice,
qualificando a sua doutrina sobre a contracepção como “um erro destinado a
torturar os esposos e perturbar a paz de muitos lares” (Cfr. Helder PESSOA CÂMARA, Obras Completas, Editora
Universitária, Instituto Dom Helder Câmara, Recife, 2004. Cfr. Massimo
INTROVIGNE, Una
battaglia nella notte, Sugarco Edizioni, Milano 2008).
Em um poema que realmente provocou celeuma, o arcebispo de
Olinda-Recife, ironizava as mulheres:
“Vítimas” da doutrina da Igreja, forçadas, segundo ele, a gerar “monstros”: “Filhos, filhos, filhos! Se a relação sexual é o que você quer, você tem de procriar! Mesmo que seu filho nasça sem órgãos, as pernas feito palitos, a cabeça grande, feio de morrer!”
ATENÇÃO!
Até os santos erram! (sozinhos, não gozam da infalibilidade) -
D. Helder Câmara também defendia o divórcio!
Endossando a posição das igrejas ortodoxas
que “não excluem a possibilidade de um novo casamento religioso para quem foi
abandonado [pelo cônjuge].” Perguntado se isso não iria dar razão para os
secularistas, ele respondeu: “Que importa se alguém cante vitória, se ele está
certo?..."
O inquieto Arcebispo reivindicava também em alta voz a ordenação de mulheres!
Falando a um grupo de bispos durante o Concílio Vaticano II,
perguntava insistentemente: “Diga-me, por favor, se encontram algum argumento
efetivamente decisivo para impedir o acesso de mulheres ao sacerdócio, ou se
trata apenas de um preconceito masculino? E que importa se o Concílio
Vaticano II impediu depois essa possibilidade? Segundo Câmara, temos de ir
além dos textos conciliares [cuja] interpretação compete a nós.”
Mas os novos devaneios progressistas de D. Helder não terminam por aí!
Em uma conferência
realizada na frente dos Padres conciliares, em 1965, ele afirmava: “Eu creio
que o homem criará a vida artificialmente, chegará à ressurreição dos mortos, e obterá resultados milagrosos na recuperação de pacientes do sexo masculino
através do enxerto de glândulas genitais de macacos”.
Defendendo as ditaduras da União Soviética, China e Cuba!
As tomadas de posições concretas de Dom Helder Câmara em
favor do comunismo (embora às vezes criticava o ateísmo) foram numerosas e
consistentes. Por exemplo, permanece tristemente notório seu discurso de 27 de
Janeiro de 1969, em Nova York, durante a sexta conferência anual do Programa
Católico de Cooperação Interamericana. Sua intervenção foi assim tão favorável
ao comunismo internacional, que lhe valeu o epíteto de “arcebispo vermelho”, um
apelido que permaneceria indissoluvelmente ligado ao seu nome. Depois de ter reprovado duramente a política os EUA e a sua
política anti-soviética, Dom Helder propôs: Um corte drástico nas forças armadas
dos EUA, enquanto pedia à URSS para manter suas capacidades bélicas, a fim
confrontar o "imperialismo”.
Ciente das consequências desta estratégia, ele
defendeu-se de antemão:
“Não me digam que esta abordagem colocaria o mundo nas
mãos do comunismo!" - Do ataque contra os Estados Unidos, Helder Câmara passou a tecer
o panegírico da China de Mao Tse-Tung, então repleta da “revolução
cultural”, que causou milhões de mortes. O Arcebispo Vermelho pediu formalmente
a admissão da China comunista à ONU, com a consequente expulsão de Taiwan. Ele
terminou seu discurso com um apelo a favor do ditador cubano Fidel Castro, que
naquela época estava ativamente empenhado em promover a guerrilha sangrenta na
América Latina. Ele também exigiu que Cuba fosse readmitida na OEA
(Organização dos Estados Americanos), da qual havia sido expulsa em 1962.Esta intervenção, tão descaradamente pró-comunista e anti-ocidental,
foi denunciado pelo prof. Plinio Corrêa de Oliveira no manifesto: “O Arcebispo
Vermelho abre as portas da América e do mundo para o comunismo”: “As
declarações contidas no discurso de Dom Helder delineiam uma política de
rendição incondicional do mundo ao comunismo. Estamos diante de uma realidade chocante:
um bispo da Igreja Católica Romana empenha o prestígio decorrente da sua
dignidade como um sucessor dos Apóstolos para demolir os bastiões da defesa
militar e estratégica do mundo livre de frente ao comunismo. O Comunismo, que é
o inimigo mais radical, implacável, cruel e insidioso, que mais atacou a Igreja
e a civilização cristã em todos os tempos". (Plinio CORRÊA DE
OLIVEIRA, O Arcebispo vermelho abre as portas da América e do mundo para o
comunismo,
“Catolicismo” Nº 218, febbraio 1969. È interessante confrontare – per rilevarne
le numerose somiglianze – il discorso di Dom Helder con quello tenuto da
Ernesto “Che” Guevara all’ONU il 12 dicembre 1964)
Um projeto da revolução comunista para a América Latina?
Mas talvez o episódio que causou maior espanto foi o chamado
“affaire Comblin”.Em junho de 1968, um documento bomba preparado sob os
auspícios de Dom Helder Câmara pelo padre belga José Comblin, professor do
Instituto Teológico (seminário), em Recife, vazou para a imprensa brasileira. O
documento propunha, sem véus, um plano subversivo para desmantelar o Estado e
estabelecer uma “ditadura popular” de matriz comunista.
Aqui
estão alguns pontos:
-Contra
a propriedade. No documento, Comblin defende uma reforma tripla – agrícola,
urbana e fiscal – partindo do pressuposto de que a propriedade privada e,
portanto, o capital são intrinsicamente injustos. Qualquer uso privado do
capital deve ser proibido por lei.
-Total
Igualdade. O objetivo, afirma Comblin, é estabelecer a igualdade total. Cada
hierarquia, tanto no plano político-social como eclesial, deve ser abolida.
-A
Revolução política e social. No campo político-social essa revolução
igualitária propunha a destruição do Estado por mãos de “grupos de pressão”
radicais, os quais uma vez tomado o poder, deverão estabelecer uma férrea
“ditadura popular” para amordaçar a maioria, considerada “indolente”.
-Revolução
na Igreja. Para permitir que essa minoria radical governe sem obstáculos,
o documento propõe a anulação virtual da autoridade dos bispos, que estariam
submissos ao poder de um órgão composto apenas por extremistas, uma
espécie de “Politburo” eclesiástico.
-Abolição
das Forças Armadas. As Forças Armadas deveriam ser dissolvidas e suas armas
distribuídas ao povo.
-A
censura na imprensa, rádio e TV. Enquanto o povo não tiver
atingido um nível aceitável de “consciência revolucionária”, a imprensa, rádio
e TV seriam estritamente controladas. As elites que discordam devem deixar o
país.
-Tribunais
Populares. Acusando o Poder Judiciário de ser “corrompido pela
burguesia”, Comblin propõe o estabelecimento de ” tribunais populares
extraordinários ” para aplicar o rito sumário contra qualquer um que se oponha
a este vento revolucionário. No caso, que não fosse possível implementar este plano
subversivo por meios normais, o professor do seminário de Recife considerava
legítimo recorrer às armas para estabelecer, pela força militar, o regime que
ele teorizou (Si veda Plinio CORRÊA DE
OLIVEIRA, TFP pede
medidas contra padre subversivo, “Catolicismo”, Nº 211, luglio
1968.)
O apoio de Helder
Câmara - O “Documento Comblin” no Brasil teve o efeito de uma bomba
atômica!
Em meio a polêmica que se seguiu, o Padre Comblin não negou a
autenticidade do documento, mas disse apenas que, se tratava “só de um esboço”
(sic!). Por seu lado, a Cúria de Olinda-Recife admitiu que o documento havia
saído do seminário diocesano, sim, mas afirmava que “não é um documento
oficial” (sic de novo!).Interpretando a legítima indignação do povo
brasileiro, prof. Plinio Corrêa de Oliveira, então, escreveu uma carta aberta
ao Mons. Helder Câmara, publicada em 25 jornais. Lemos na carta: “Estou certo de
interpretar o sentimento de milhões de brasileiros pedindo a Sua Excelência que
expulse do Instituto Teológico do Recife e da Arquidiocese, o agitador que tira
proveito do sacerdócio para apunhalar a Igreja, e abusa da hospitalidade brasileira
para pregar o comunismo, a ditadura e a violência no Brasil”.
D. Helder
Câmara respondeu evasivamente:
“Todo mundo tem o direito de discordar. Eu
simplesmente ouço todas as opiniões”. Mas, ao mesmo tempo,
confirmou Padre Comblin no cargo de professor do Seminário, respaldando-o com a
sua autoridade episcopal. No final, o governo brasileiro revogou o visto do
padre belga, que, em seguida, teve que deixar o país.
Dom Helder e a Teologia da Libertação marxista e revolucuonária
Dom Helder Câmara também é lembrado como um dos paladinos da chamada
“Teologia da Libertação”, condenada pelo Vaticano em 1984.Duas declarações
sintetizam essa teologia. A primeira, do compatriota de Dom Helder, Leonardo
Boff: “O que propomos é o marxismo, o materialismo histórico, na teologia” (Leonardo BOFF, Marxismo na Teologia, in “Jornal do Brasil”,
6 aprile 1980). - A
segunda, do peruano Gustavo Gutiérrez, padre fundador da corrente: “aquilo que
entendemos como teologia da libertação é o envolvimento no processo político
revolucionário” (Gustavo
GUTIÉRREZ, Praxis
de libertação e fé cristã,
Appendice a Id., Teologia da libertação, Editora Vozes, Petrópolis 1975, p. 267, p. 268).
Gutiérrez até explica o sentido dessa participação:
“Só indo muito além de uma sociedade dividida em classes. (…) só eliminando a propriedade privada da riqueza criada pelo trabalho humano, nós seremos capazes de estabelecer as bases para uma sociedade mais justa. É por isso que os esforços para se projetar uma nova sociedade na América Latina estão se movendo cada vez mais em direção ao socialismo". (Gustavo GUTIÉRREZ, Liberation Praxis and Christian Faith, in Lay Ministry Handbook, Diocese of Brownsville, Texas 1984, p. 22.) - Precisamente sobre este tema recentemente foi publicado na Itália um livro pela editora Cantagalli: “Teologia da Libertação: um salva-vidas de chumbo para os pobres” (Julio LOREDO, Teologia della liberazione: un salvagente di piombo per i poveri, Cantagalli, Siena 2014. - Portanto, o título de defensor da liberdade cai muito mal pra quem elogiou algumas das ditaduras mais sangrentas que flagelaram o século XX. Primeiramente o nazismo e depois o comunismo em todas as suas vertentes: soviética, cubana, chinesa.Acima de tudo, todavia, o título de amigo dos pobres não corresponde exatamente a alguém que apoiou regimes que causaram uma pobreza tão espantosa a ponto de serem qualificados pelo então cardeal Joseph Ratzinger como a “vergonha de nosso tempo” (ACRA CONGREGAZIONE PER LA DOTTRINA DELLA FEDE, Istruzione Libertatis Nuntius, XI, 10) - FATO: Numa análise cuidadosa da América Latina, país por país, mostra claramente que onde foram aplicadas as políticas propostas por Dom Helder, o resultado foi um aumento significativo da pobreza e do descontentamento popular. Lá onde, ao invés, foram aplicadas políticas opostas ao socialismo real, o resultado foi um aumento geral de bem-estar.Líderes da Arena, como Clóvis Stenzel e Roberto Abreu Sodré, o atacam. Em retaliação, a ditadura proíbe o arcebispo de “discursar no país, assim como de falar no rádio e na televisão. A imprensa”, censurada “pelo governo, foi proibida de mencionar seu nome”. Impossibilitado de falar no país, dom Helder começa uma peregrinação pelo mundo. Mas não esteve em países comunistas, porque, frisou, “não teria ali a liberdade de falar o que quero”. No exterior, afiançava que era indispensável mudar o mundo, dada a integração das economias, e não apenas o Brasil. Suas viagens eram autorizadas pelo papa.Em 1978, com o regime militar já em fase de abertura democrática, dom Hélder concede entrevista à revista “Veja” e propõe:
O SOCIALISMO HUMANO:
“a implantação de um sistema
político capaz de dar fim às estruturas injustas. O grave é que ao pensarmos em socialismo humano, que salve efetivamente
a pessoa humana e não esmague a liberdade a pretexto de assegurar a igualdade,
a pior contrapropaganda vem da Rússia e da China, diz o arcebispo. Ao lado do
inaceitável socialismo materialista, há lugar para socialismos que, de modo
algum, se prendem ao materialismo dialético e ao ateísmo militante. A
Igreja vai admitir que o cristão tente um socialismo que, sem a ilusão de
realizar paraísos na Terra, evite um mundo de oprimidos e opressores.”
Por que não conceituar com precisão qual socialismo propõe?
Inclusive se é possível um socialismo
diferente do soviético ou do chinês, não fica-se sabendo o que dom Hélder
estava de fato propondo. Sintomaticamente, as alternativas propostas pela
esquerda ao socialismo de matiz stalinista são sempre vagas, imprecisas. O
socialismo referencial e real, ainda é o stalinista e o chinês, filho das
políticas de Ióssif Stálin, que adotou medidas econômicas, produzindo um
comunismo na política e um capitalismo na economia, tão-somente para evitar
qualquer debacle.
Em 1980, no governo
do general João Figueiredo, o papa João Paulo 2º visitou o Brasil e elogiou dom
Hélder devido ao seu trabalho com os pobres de Pernambuco. A ovelha era rebelde, mas muito
menos rebelde do que comumente se pensa. O papa, nesse ano, era um dos
combatentes do comunismo, ao lado de Ronald Reagan, dos Estados Unidos, Helmut
Khol, da Alemanha Ocidental, e Margaret Thatcher, da Inglaterra. O
trabalho que reconhecia era o evangélico, o fato de dom Helder atrair o povão
para Igreja Católica. Em 1983, dom Hélder
recebeu o prêmio Niwano da Paz, “por seu trabalho em favor dos pobres e por sua
vida dedicada à valorização da dignidade humana, à libertação da opressão e da
pobreza e à promoção da cooperação religiosa com outros países”. O prêmio é
concedido pela Fundação Niwano, organização budista do Japão.Em 1984, dom Hélder
passou a se dedicar à Fundação das Obras de Frei Francisco, cujo objetivo é
ajudar os pobres. Em 1985, com a posse de José Sarney na Presidência da
República, dom Hélder defende a reforma agrária, “como forma de evitar a
violência”, e a Assembleia Constituinte. A aposentadoria do
cargo de arcebispo de Olinda e Recife se dá em 15 de julho de 1985. Dom
Hélder elogia o Plano Nacional de Reforma Agrária do governo Sarney. Era um
“bom começo”.Em 1986, o chefe do
Gabinete Militar, general Rubens Bayma Denis, o condecora, no Itamaraty, com a
Ordem do Rio Branco. “Eu não mudei. Mas se isto está acontecendo
é sinal de que alguma coisa mudou”, frisa dom Hélder. Nesse ano, a
Prefeitura de Roma concede-lhe o Prêmio Roma-Brasília, Cidade da Paz. CURIOSIDADE: Numa decisão
estranha, dom Hélder não assinou um documento da Comissão Pró-Diretas da
OAB-Seção de Pernambuco, que cobrava eleição direta para presidente da República. Ele alegou que era
preciso “equacionar os problemas do país”, pois, se isto não fosse feito, o
sucessor de José Sarney “não resistiria nem seis meses”. Errou em suas previsões, pois Fernando Collor foi
eleito em 1989 e durou mais do que seis meses. Caiu não por pressões dos militares,
e sim devido a uma escalada de corrupção irrefreável no seu governo. - No fim da década de
1980, alinha-se ao presidente Sarney e aos conservadores da Igreja Católica e
condena “o filme ‘A Última Tentação de Cristo’, de Martin Scorsese, por enfocar
de maneira desrespeitosa a figura de Jesus Cristo”. O arcebispo, um
defensor da liberdade, unia-se aos censores?Em 1990, defendeu as
medidas econômicas do governo de Fernando Collor, que, ao final, revelaram-se
desastrosas. Dom Hélder morreu em 27 de agosto de 1999, aos 90 anos.
CONCLUSÃO:
Dom Hélder era um
homem e religioso contraditório? Era. Mas, sem dúvida, era um grande homem da
Igreja Católica. Merece ser santo? É provável que sim, pois, ao lado das coisas
terrenas, de suas lutas políticas, era um evangelizador. Mas o homem
espartano gostaria de ser considerado santo? Não dá para saber, é provável que como
todos os santos, não. Se sagrado santo, porém, não “envergonhará” nenhum outro
santo, até mesmo por que já dizia santo Agostinho:
“Não existe santo sem passado, e nem pecador sem futuro”
(Adaptado de Euler de: França Belém - Jornal Opção - Edição 2171- 18/02/2017)
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