O nacionalismo é uma tese,
ideológica, surgida após a Revolução Francesa. Em sentido estrito, seria um
sentimento de valorização marcado pela aproximação e identificação com uma
nação. O nacionalismo é a ideologia
fundamental da terceira fase da história da humanidade, a fase industrial, quando
os estados nacionais se tornam a forma de organização político-cultural que
substitui o império. Costuma diferenciar-se do patriotismo devido à sua
definição mais estreita. O patriotismo é considerado mais uma manifestação de
amor aos símbolos do Estado, como o Hino, a Bandeira, suas instituições ou
representantes. Já o nacionalismo
apresenta uma definição política sobretudo da preservação da nação enquanto
entidade, por vezes na defesa de território delineado por fronteiras
terrestres, mas, acima de tudo nos campos linguístico, cultural, etc., contra
processos de destruição identitária ou transformação. O historiador Lord
Acton, afirma que o patriotismo prende-se com os deveres morais que temos para
com a comunidade política, enquanto que o nacionalismo está mais ligado à
etnia.
As
consequências da Primeira Guerra Mundial modificaram o mundo!
Chamada na época
de “A Grande Guerra”, o conflito, que ocorreu entre 1914 e 1918, deixou
aproximadamente 20 milhões de mortos entre militares e civis. Dela participaram
diversos países, e suas batalhas ocorreram em vários lugares do globo. A guerra
terminou em 1918, com a rendição alemã. Ainda durante a guerra, ocorreu a
Revolução Russa, que modificou a ordem mundial e, de certa forma, influencia
esta até hoje.Com
o fim da guerra, grandes impérios caíram, novos países surgiram, uma pandemia
matou cerca de 30 milhões de pessoas no mundo e governos autoritários ganharam
força na Europa. O fim da Primeira Guerra também presenciou um dos principais
motivos da Segunda Guerra Mundial, o "Tratado de Versalhes", que foi considerado
uma humilhação pela população alemã e que potencializou a ascensão do nazismo.
A guerra também mudou a economia e cultura brasileira tais como, a participação das mulheres no
mercado de trabalho, o feminismo, os costumes, e até mesmo a moda.
Três principais consequências da Primeira Guerra Mundial
1)-Ainda
durante a guerra, a Rússia passou por uma revolução na qual a família real foi
executada e o socialismo foi implementado. Diversas repúblicas se uniram à
Rússia, formando a União Soviética.
2)-Quatro
grandes impérios chegaram ao fim com a guerra: o russo, o turco-otomano, o
alemão, e o austro-húngaro. Diversos países surgiram nos territórios desses
antigos impérios.
3)-Durante
a guerra, a gripe espanhola atingiu soldados nas trincheiras. Com o retorno
deles para seus países após a guerra, a doença se tornou uma pandemia e matou
cerca de 30 milhões de pessoas.
Consequências da Segunda Guerra Mundial
Além
das perdas humanas, o conflito custou 1 trilhão e 385 bilhões de dólares em
perdas monetárias. Do montante, 21% coube aos Estados Unidos, 13% à União
Soviética e 4% ao Japão.Todos
os 72 países envolvidos acumularam perdas em diferentes proporções. Houve
intensa queda na produção industrial e os investimentos dos governos foram
direcionados para a guerra, em detrimento de outras áreas, gerando intensos
problemas sociais. Se para
a maioria dos países houve perda, para os Estados Unidos, a guerra resultou em
fortalecimento de sua posição imperialista e econômica. Afinal, este país não
foi atacado e, portanto, não foi preciso destinar recursos para sua
reconstrução.
Consequências Geopolíticas da Segunda Guerra
-Após a Segunda
Guerra Mundial novos países surgiram e alguns tiveram suas fronteiras
redesenhadas.
-A Áustria, que havia sido anexada pela Alemanha em 1938,
ressurge como país independente.
-Itália, Hungria,
Bulgária, Romênia e Iugoslávia depõem a monarquia e a substituem pelo regime
republicano.
-Portugal e Espanha se isolam do sistema internacional até meados
dos anos 50, por conta das ditaduras de Salazar e Franco, respectivamente.
-Os países
libertados pela União Soviética como a Polônia, Hungria e Tchecoslováquia
passam à esfera de influência soviética; enquanto os demais países continuam
com a social-democracia.
Alemanha
Após a guerra, a
Alemanha teve que aceitar os quatro "Ds" impostos pelas potências
aliadas: "desnazificação", desmilitarização, democratização,
desarmamento.Assim, alguns
líderes nazistas foram julgados pelo Tribunal de Nuremberg. Destes, 12 foram
sentenciados à morte.Por outra parte,
o país foi dividido em duas zonas de influência bem claras: a República
Democrática Alemã (RDA), com um regime socialista, e a República Federal Alemã
(RFA), que continuou a ser capitalista.Na cidade de
Berlim, então capital da RDA, foi construído o Muro de Berlim que se tornou o
símbolo da divisão ideológica do mundo.Igualmente, as
Forças Armadas foram reduzidas e o país cedeu instalações para acolher tanto
tropas americanas quanto soviéticas.
Japão
O Japão foi
obrigado a reconhecer a independência da Coreia, devolver as ilhas Curilas à
União Soviética e reduzir suas Forças Armadas.O país teve as
cidades de Hiroshima e Nagasaki destruídas por duas bombas atômicas lançadas
pelos EUA e receberam 2,5 bilhões para sua reconstrução.
Surgimento da Guerra Fria
Durante o
conflito, os EUA investiram aproximadamente US$ 300 bilhões, recuperados com o
incremento de 75% da indústria armamentista.Os Estados Unidos
também passaram à posição de credores dos países destruídos e em 1948
elaboraram o Plano Marshall. Este consistia numa ajuda financeira de US$ 38
bilhões a fim de recuperar as indústrias e cidades europeias.O auxílio
norte-americano, no entanto, foi recusado pela União Soviética, dando início ao
processo que ficou conhecido como Guerra Fria.A União Soviética
estendeu sua influência aos países do leste europeu e continuaria a apoiar os
movimentos que desejavam implantar o socialismo como regime de governo.
Consequências da Segunda Guerra no Brasil
No Brasil, a Segunda Guerra Mundial influenciou diretamente no
fim do governo Vargas. Intelectuais, políticos de várias tendências, e parte da
população questionam a contradição de mandar soldados para defender a
democracia enquanto se vivia uma ditadura no Brasil.Getúlio Vargas é
deposto em 1945 através de um golpe articulado entre as Forças Armadas e
conservadores. As eleições presidenciais acontecem no ano seguinte e dão
vitória a Eurico Gaspar Dutra.Por sua vez, a
Força Expedicionária Brasileira é desmobilizada ainda na Europa, pois Vargas
temia que este contingente se voltasse contra ele.Igualmente, o
Brasil continua alinhado política e culturalmente com os Estados Unidos, cuja
aproximação se deveu através da política da Boa Vizinhança.No entanto, pela
sua participação no conflito, o Brasil é convidado a entrar na Organização das
Nações Unidas (ONU).
Origem do "Nacionalismo" e as guerras dos sec. XIX e XX que remodelaram o mapa e poderio das grandes nações
Por Felix Steiner - Clube dos Generais
O Clube dos Generais é uma
entidade de estudos e debate sobre os acontecimentos histórico-militares da
humanidade, com ênfase nas Grandes Guerras Mundiais do Século XX. Fundado em
1998 para ser um grupo de discussões sobre um jogo de computador chamado “Panzer General”, o Clube dos Generais
logo se desenvolveu em um grupo onde a Segunda Guerra Mundial era seu principal
assunto. Baseado em um grupo de e-mails do Yahoo Grupos e depois migrado para o
Google Groups, o Clube dos Generais rapidamente tornou-se mais do que apenas um
grupo de discussão, é uma irmandade onde grandes amizades foram forjadas, seja
virtualmente ou presencialmente. Para
deixar as discussões mais interessantes, todo membro deve assumir a identidade
de um combatente das Grandes Guerras Mundiais.O principal evento do Clube
dos Generais é seu Encontro Nacional, realizado uma vez por ano em local pré
determinado. Nesses encontros, os generais que se conheciam apenas por e-mail
confraternizam-se e criam momentos marcantes de amizade e fraternidade.
O movimento nacionalista, irrompido no século
XIX é um dos fatores mais importantes e dos que mais contribuíram para a
eclosão da PGM. Para se compreender, com exatidão, até que ponto a
ideia nacionalista se vincula com a PGM do século XX, precisa-se fazer remontar
as próprias origens da corrente nacionalista europeia, procurando suas raízes
mais profundas.
Para esse estudo, devem ser fixados dois
aspectos principais:
1)- O fator político: com
a fermentação nacionalista que se iniciou depois da derrota final de Napoleão.
2)- Ordem ideológica: o
movimento das nacionalidades é fruto da Revolução Romântica. Analisemos
o primeiro: De
fato, a derrota dos exércitos napoleônicos, por volta de 1815, traz profundas
modificações na política europeia. Uma verdadeira reviravolta política se
opera, parecendo mesmo existirem sérias possibilidades de um autêntico retorno
ao passado, uma volta às ideias do Antigo Regime, posto a margem pela Revolução
Francesa. Uma vaga reacionária se quebra, não só ameaçando apagar totalmente a
lembrança revolucionária, como a permanecer como tônica dominante na política
europeia.
As
nações aliadas, vencedoras, sonham por um instante ser possível a volta aos
dias que antecederam a sangrenta revolução!
As monarquias tradicionais da
Europa respiram, novamente, já mais aliviadas do furacão liberal que tanto as
amedrontara. A
Revolução fora responsável por agitações revoluções e mesmo por guerras, em
todo mundo. Urgia, pois, na impossibilidade total de apagá-la da memória, pelo
menos atenuar a sua influência. O
fato é que seus princípios haviam penetrado, de modo ou de outro, até mesmo nos
impérios mais conservadores e reacionários. A Revolução adquirira, com
Napoleão, contornos universais. A burguesia revolucionária lograra ascender e
mesmo se estabilizar no poder, em muitos países. Assim, o clima eminentemente
antirrevolucionário, dominante após a derrocada francesa, vai ser substituído,
lentamente, por um movimento que visa adaptar os ideais revolucionários de 1789
às novas condições vigentes.
Desse
modo, os ideais de Rousseau, Voltaire, Montesquieu, decorrido esse período
agitado de reação aos postulados liberais, não serão totalmente abandonados. A
igualdade, liberdade e a fraternidade, bandeiras em nome das quais o povo de
Paris assaltou a Bastilha e cercou as tulheiras, somente perderão um pouco da
sua agressividade, tão útil quando da luta contra a nobreza privilegiada e a
monarquia divina.
Os golpes que abalarão novamente as monarquias europeias, a
partir de 1820, contribuem para que essas ideias percam seu sentido original
subversivo. Dessa
maneira, verificava-se que já não havia tanta necessidade de se sustentarem os
ideais absolutos, racionais e abstratos, tão em voga no final do século, e nem
era mais preciso apregoar-se que o Homem devia ser solidário ao seu semelhante
- pois todos eles possuíam a mesma essência, todos organicamente se
assemelhavam, além de todos ficarem nivelados pela morte fatal e implacável -, já
que o inimigo estava se esfacelando, pouco a pouco. Ideias
como essas, que acabaram por minar o edifício social, político e econômico em
que repousava o arcabouço monárquico, levando-o à destruição na França, não
mais ressoavam como às vésperas da Revolução e nem levavam mais o povo e a
burguesia ao delírio.
Naquele
instante, o movimento histórico era outro. A borrasca revolucionária já se
atenuara. O que caracteriza a nova situação era a preocupação de se imprimir
outra visão às ideias liberais.
E, nessa adaptação, a burguesia, que
decididamente se instalou no poder, inicia uma verdadeira absorção de costumes
e expedientes políticos, os quais tanto combatera. Já não teme o fantasma da
antiga e arrogante nobreza. O que preocupa a nova classe dirigente é a grande
massa, sua antiga aliada contra a corja despótica. O
povo, elemento primordial na Revolução, não usufruirá materialmente da vitória.
Por
um passe de mágica, a massa será posta de lado, apesar dos ideais
revolucionários terem sido impressos, em letras douradas, nas Constituições,
nos Códigos, nas Leis em geral. A
massa será por isso a maior vítima do liberalismo econômico, e uma das
consequências práticas desse fato será o surgimento da questão social, em pleno
século XIX.
A
verdade é que a burguesia, consciente ou inconsciente, cavou um poço cada vez
mais profundo, distanciando-se da grande massa. Os seus ideais, que por um
momento, convergiram numa fase da Revolução Francesa, vão definitivamente se
afastar. Com isso, os interesses advindos das questões políticas e econômicas
acabarão por lançar os países, e com eles o povo, em crises sucessivas e até
mesmo, na maioria, sem proveito para ninguém.
O
segundo ponto capital para se compreender a gênese do nacionalismo é o aspecto
ideológico, que serviu de embasamento ao movimento das nacionalidades,
justificando-o de uma maneira mais científica.
O nacionalismo do Século XIX é uma
decorrência dos postulados do Romantismo!
É
inegável que o Romantismo foi uma corrente que combateu os ideais do Classicismo,
corrente responsável pelos princípios que apearam a Monarquia francesa do
poder, em 1789. Aos ideais abstratos, racionais e universais, contrapôs o
Romantismo a liberdade de composição, deu primazia aos sentimentos e condenou a
imitação greco-romana, tão ao gosto dos escritores clássicos. A
sua inspiração não podia em nada se assemelhar à clássica. Tinha pois o
Romantismo de, forçosamente, deixar de ser universal e cosmopolita. Na busca de
uma temática inteiramente original para expressar com fidelidade os novos
cânones estéticos, encontramos a origem do nacionalismo como ideologia, tendo
ao fundo o contexto histórico-político acima. Assim,
o caminho que os românticos encontraram, para erigir em novas bases a arte, foi
a reconstrução das origens de cada país, de cada nação. O passado dos países vai ser pesquisado minuciosamente,
e suas tradições serão a musa inspiradora dos seus escritores. Ora, a maioria
dos países europeus se constituiu em plena Idade Média. Portanto, será a
História Medieval um manancial inesgotável da criação romântica. Subitamente,
para a Arte, ganha o passado histórico uma nova dimensão. A História será a
chave mestra de que se utilizarão os artistas românticos, para penetrar no
terreno que lhes fornecerá os temas para a composição de suas obras. Os costumes, as
lendas, os feitos heroicos dos cavaleiros medievais, são temas frequentes nas
obras literárias românticas. Nesse afã, aos poucos, desvenda-se as origens das
nações, e a formação de uma história pátria pode ser delineada.As
peculiaridades de cada país, a história particular de sua constituição e
evolução, tornam-se mais nítidas.
Já se pode apregoar uma nova verdade
científica:
Cada
povo, cada país teve um tipo de formação singular, e o seu desenvolvimento
através do tempo muitas vezes é totalmente diverso do país com que faz
fronteira. Evidenciam-se, assim, as diferenciações históricas de cada povo. Desse
modo, os acontecimentos históricos vão, no século XIX, demonstrar equívocos na
constituição de muitos estados, que abrigavam em suas fronteiras geográficas
diversas nações. Esse fato será, em todo o transcorrer do século, um fator de
instabilidade política, pois o nacionalismo desvendou o engano em que, segundo
a concepção da época, há muito laboravam.
Sintomáticas se revelam as palavras de Joseph de
Maistre, quando afirma: "Eu não sei o que é o homem; eu não conheço senão
russos, ingleses, alemães e franceses." Dessa maneira,
cada povo passou a conhecer melhor o seu passado nacional e, lentamente, cada habitante
gravou em sua mente as peculiaridades de sua nação e as transmitiu a seus
descendentes. Esse mecanismo revela claramente como se desenvolveu o
"embrião" nacionalista.
Resta
somente estabelecer as ligações entre o panorama político e o movimento
artístico, desenvolvido na primeira metade do século XIX - conhecido como "Revolução Romântica!"
Essa
vinculação não é difícil de ser demonstrada, se observarmos que a corrente
romântica irrompeu, justamente, no período que de imediato sucedeu às Guerras Napoleônicas.
O seu aparecimento é já um sintoma da nova era que se inaugurou. As suas
concepções vão servir, como uma luva, às tendências burguesas de então. Sem
abandonar totalmente o ideal igualitário, já consagrado nas leis, pode a
burguesia triunfante sublinhar as diferenciações raciais, nacionais,
provinciais e até mesmo locais existentes, respectivamente, entre os povos,
regiões e localidades.
O novo ensinamento, segundo a concepção da época,
acentua que todos possuem a mesma essência, de acordo com as mais puras
tradições clássicas, porém, cada um é portador de umas tantas diferenças que é
preciso não subestimar, pois as leis histórico-sociológicas demonstraram que
cada um sofre as influências do meio em que nasceu, e de onde provém e vive. De acordo com
esta regra, torna-se então justo que cada cidadão lute para defender,
engrandecer e mesmo glorificar sua terra natal.
A todo custo e sem medir
esforços, deve preservá-lo! Com essas características, o nacionalismo já se
apresenta como uma ideologia. Segundo ela, existe uma escala de valores que se
deve gerir os destinos do Homem; deve ele ser solidário com sua raça, seus
costumes, sua educação e formação, devendo, pois, se agrupar em nação e
pertencer a um Estado, tendo em vista esses valores. O movimento das
nacionalidade logrou assim erigir novas barreiras entre os homens e, mesmo
dentro dos Estados, separou nações.
As
repercussões práticas desse desse movimento, no século XIX, dentro da órbita
política, propagaram-se como um rastilho. E as consequências que fizeram-se
logo sentir nas relações internacionais, constituindo-se em elemento primordial
para a compreensão da Grande Guerra e sua sucessora, a Segunda Grande Guerra.
A unificação alemã, a unificação italiana, o sentimento
revanchista francês, o nacionalismo eslavo, o pan-eslavismo, o movimento pela
grande Sérvia, e o pangermanismo, foram os resultados imediatos da situação
criada após as Guerras Napoleônicas. Esses acontecimentos, estudados em
particular, são correlacionados com o nacionalismo.
O
movimento conhecido como unificação dos estados alemães em torno de um só
Estado unificado, agrupando este os povos de origem germânica, é uma
consequência mais ou menos direta da ideologia nacional. Contudo, a ideia
unificadora, para tornar-se realidade, passou por todo um processo de
maturação, até que o Reich alemão se apresentasse unificado, em 1870.
Esse
processo encerra uma série de fatos políticos que servem para mostrar como a
ideologia nacional, na Alemanha, foi uma conquista lenta, incluindo às vezes,
depois de consideráveis progressos do ideal unificador, recuos que chegaram a
abater o ânimo para a luta, em muitos propagandistas nacionalistas. A
situação da Alemanha antes de 1815 A
evolução do poder político na Alemanha, foi bastante diversa da experimentada
por outras nações europeias como a Inglaterra, França e Espanha.
Assim,
quando o poder dos reis, na Europa, logrou consolidar-se surgindo os
absolutismos monárquicos do século XVI, que deram origem a estados
perfeitamente unificados, a Alemanha encontrava-se ainda dividida em minúsculos
territórios.
No
século XVI, ela chegara mesmo a conhecer um breve período de prosperidade,
devido principalmente à ação de comerciantes banqueiros, em Augusburg e
Nürenberg. Contudo, sentirá de perto os efeitos da Guerra dos Trinta Anos, que
acabará por modificar a marcha de seu desenvolvimento econômico e paralisar uma
nascente ideia unificadora. A
guerra desintegrou o Império Germânico e, daí por diante, a Alemanha não
passará apenas de uma ideia geográfica. Por volta de 1700, a situação se
apresentava da seguinte maneira: os territórios de maior extensão eram a
Saxônia, o Hanover e a Baviera; a Áustria e Hungria, cujas regiões germânicas
pertenciam ao Sacro Império Romano, tinham alguma importância. Entretanto, o
fato novo é o aparecimento da Prússia, em 1701, como reino.
Passa
a ocupar, daí por diante, lugar de destaque entre os estados alemães
principalmente depois das vitórias de Frederico, o Grande sobre austríacos, na
Guerra de Sucessão da Áustria e sobre a grande coalizão austro-franco-russa, na
Guerra dos Sete Anos.
Ao findar-se o século XVIII, a Prússia já era considerada
a menor entre as grandes potências. Com
o advento da Era Napoleônica, os territórios do sul e oeste passaram a pertencer
à confederação do reno (1806 - 1814), que reduziu a meia centena de pequenos
estados - antes eram nada menos que 300 minúsculos estados independentes, os
quais, desse modo, conheceram uma primeira unificação. Durante o período da
confederação do reno, puseram-se em vigor as reformas da Revolução Francesa e
do regime de Napoleão, incluindo-se a vigência do CÓDIGO NAPOLEÔNICO.
Durante o predomínio francês, aplicaram-se no campo econômico
princípios liberais da livre troca comercial, notadamente nas regiões da antiga
Renânia e Westfália. Com isto, de1806 a 1815, eliminaram-se os obstáculos
fundamentais que impediam o desenvolvimento capitalista, na maior parte da
Alemanha.
Essas
as modificações que atingiram as regiões Ocidental e Sul , sob domínio
napoleônico. A
Leste, os estados alemães sofreram alterações, graças à legislação editada pelo
Barão Heinrich Friedrich Karl von Stein (1757 - 1831) e continuada pelo
Chanceler Hardenberg (Karl August, 1750-1822), que desferiu rude golpe no
sistema feudal da antiga Prússia, libertando os servos agrários, estabelecendo
governos autônomos nas cidades e proclamando a liberdade do comércio.
O
PERIODO 1815- 1848
Depois
de 1815, foi criado o Bund alemão, uma precária Confederação de 38 estados,
qual passava a ser tutelada pela Áustria e pela Prússia. Essa organização foi
fruto da ação diplomática de Viena que, com a criação da Confederação,
alcançava duas vitórias: o malogro da unificação alemã e o reconhecimento do poder
austríaco sobre o novo órgão, pois caiba à representação da Áustria a
presidência das assembleias do Bund. A
ação reacionária do ministro austríaco desencadeia, na nação alemã, uma
fermentação nacionalista, que culminará com a propaganda para a unificação,
dela participando os liberais, as associações estudantis (principalmente o
movimento conhecido como a JOVEM ALEMANHA), escritores e intelectuais .
Surgiram sociedades secretas, que tornaram parte ativa
nas agitações fomentadas pelo movimento!
A campanha determinará uma grande
radicalização nas diversas posições, terminando por levar um estudante liberal
a assassinar o autor teatral Kotzebue ( August von, 1761 - 1819 ), conhecido
reacionário, partidário da Áustria. O incidente
convence Metternich de que não só a Confederação Germânica, mas toda Europa
Central, estavam tendendo para uma revolução radical. Procura, então, de
poderes para enfrentar a situação. Consegue da Dieta Federal a aprovação de um
programa de medidas repressivas, conhecidas como os decretos de Carlsbad
(1819). Estabeleciam eles que toda universidade passaria a ter inspetor
oficial, os professores rebeldes seriam demitidos de seus cargos, as sociedades
estudantis dissolvidas e a imprensa submetida a uma estrita censura. As perseguições
políticas sucederam-se, impiedosas para com os nacionalistas, obrigando os
principais líderes da Alemanha unificada as fugas precipitadas e à busca de
exílio seguro.
A
execução dessa rigorosa legislação repressora fez com que o movimento liberal e
o nacional ficassem, na esfera política, amortecidos até 1848. Esse
amortecimento das ideias liberais e nacionais, empreendido pela Áustria, em
suas áreas de maior influência, em grande parte alcançou sucesso, porque a
Prússia, nesse momento, era aliada incondicional da restauração empreendida
pelo ministro austríaco, na órbita da política internacional. A
Confederação criada pelo Congresso de Viena era composta de 38 Estados,
possuindo apenas uma grande potência, a Prússia, com uma população de 10 milhões
de habitantes.
Além dela, havia 5 Estados de tamanho médio: a Baviera, o
Würtemberg e o Baden ao sul, e no centro a Saxônia e o Hanover . Contavam -se,
ainda, 25 Estados pequenos e 4 cidades livres: Frankfurt, Hamburgo, Bremen e
Lubeck. A ideia de unificação
teria permanecido sufocada totalmente, não fosse a formação de uma comunidade
econômica, composta pela maioria dos estados alemães. É o conhecido Zollverein,
que, oficialmente , passou a funcionar em 1834. Á
Prússia coube papel destacada na elaboração dessas comunidades de interesses. A
explicação desse fato encontra-se no desenvolvimento interno da Prússia, nesse
período. De fato, a partir de 1815, no campo interno, inspirou-se o governo
prussiano nas doutrinas do liberalismo econômico. Isso graças à ação do Barão
Friedrich von Stein e do Chanceler Hardenberg, grandes reformadores agrários e
administrativos, partidários também das ideias de Adam Smith.Isso pode parecer paradoxal pois externamente, no campo internacional, a
Prússia seguia a política reacionária de Metternich.Contudo,
em matéria de política econômica, principalmente com respeito ao comércio
exterior, seus funcionários estavam imbuídos de ideias livre-cambistas. Por
outro lado, as ideias de livre- troca também iam de encontro aos desejos dos
agricultores da margem oriental do Elba, onde se concentrava um rico setor
agrário, e que contavam vender os seus produtos (lã e grãos) . Igualmente, os
produtores de linho da Silésia e Westfália alimentavam desejo similar . Estes
eram os principais artigos de exportação da Prússia, neles se assentava a
balança comercial do país .
Um
passo decisivo no processo de formação da comunidade econômica alemã foi a lei
elaborada em 1815, visando, principalmente, os seguintes objetos:
1 -
obter maiores rendimentos para pagamento do empréstimo conseguindo junto aos
Rothschild, de Londres ;
2 -
integrar economicamente as antigas e novas províncias que se estendiam da Alta
Silésia até à fronteira renano - belga, no oeste;
3 -
estimular o desenvolvimento industrial, num país eminentemente agrário, com carvão
e outras matérias primas;
4 -
desalentar o contrabando. Os
resultados práticos obtidos pelas reformas prussianas vão de exemplo a outros
Estados. Suscitaram essas reformas um movimento tendente à criação de zonas
aduaneiras mais extensas.
Já
Friedrich List (1789-1849), economista alemão de renome internacional notava,
em, 1819, que existiam tantas unidades aduaneiras quanto unidades políticas, as
quais eram nessas época trinta e oito. Sobre o inconveniente que apresentava
essa situação para a economia dos diversos Estados, assim se referia: 38
muralhas impedem o comércio interno e têm pouco mais ou menos o mesmo efeito,
como se cada membro do corpo humano fosse atado, a fim de impedir a circulação
do sangue . Para ir de Hamburgo à Áustria ou de Berlim à Suíça, tem-se que
cruzar 10 Estados, conhecer 10 legislações e pagar 10 impostos aduaneiros. A
ideia prosseguiu, entusiasmando homens de negócios de todas as partes.
Por
volta de 1828, já se criavam 3 zonas aduaneiras mais extensivas, porém
independentes entre si, seguindo mais ou menos as bases da lei de 1815:
1 -
Uma união compreendendo a Prússia um grupo de 9 Estados ;
2 -
outra, englobando a Saxônia, o Hanover e alguns Estados Turíngios ;
3 -
finalmente, uma terceira, composta pela Baviera, Würtenberg e Banden.Desse
estágio, para a união total foi um passo pequeno .
Em 1
de janeiro de 1834, o Zollverein (união econômica dos principais Estados alemãs
) começou sua histórica carreira. O
Zollverein passou a abarcar 25 milhões de habitantes. A comunidade compreendia
grande variedade de produtos agrícolas e industriais.
Reinava elevado nível
educativo, em geral, nos Estados que a ela se associaram, além de contar com
uma entidade econômica criada, foi possível a execução de vantajosos tratados
comerciais, para todos os membros, dentro de uma política de interesses comuns. A
base da comunidade era federativa, isto é , os Estados estavam representados em
uma Assembleia e um Conselho , no qual a Prússia ocupava posição de destaque e
predomínio, pois possuía 1/3 dos votos da Assembleia.
Os Estados Membros
conservavam suas próprias administrações ; as entradas e gastos eram
repartidos, em proporção; deveriam, ainda criar leis e instituições mercantis,
sistemas uniformes de moedas, pesos e medidas. O
resultados mostraram as excelentes possibilidades advindas para um conjunto de
países, que deliberam abolir os obstáculos comerciais entre zonas mercantis
pequenas e para a criação de unidades maiores, mesmo tendo soberanias políticas
deferentes.
A Europa em 1848, mais uma vez foi sacudida por
movimentos revolucionários, que foram se alastrando, atingindo as principais
potências. Dessa vez, as tendências das agitações eram liberais, tendo como
pano de fundo a questão social, surgida, de um lado, pelo grande surto
industrial, de outro, pelas crises econômicas, que alcançaram os principais
países a partir de 1846-1846. A crise manifesta-se primeiramente na Inglaterra, dando
origem a agitações encabeçadas pela Associação dos Trabalhadores, que divulga
um documento conhecido como “Carta do Povo”, onde se exigem eleições anuais,
com sufrágio universal.
A ebulição política aumenta, com a realização de
comícios, greves e revoltas generalizadas. A situação evolui, pedindo os chefes
do movimento um levante armado. A questão social
surgida nesta época, serviria de observação aos pensadores Marx e Engels que
redigiram o “manifesto comunista de 1848”, onde criticam a mecânica da sociedade
capitalista. Esse manifesto foi o ponto de partida para uma ampla agitação
social e para a fundação dos movimentos socialistas, que se propagaram pelos
séculos XIX e XX. Entretanto, a Inglaterra superou a crise por volta de
1852, realizando algumas reformas em sua estrutura econômica, mas mantendo a
integridade do governo e do regime.
Na França, os fatos se passaram de outra
forma:
A
inquietação provém da agitação operária e do descontentamento da pequena
burguesia, que não participara dos empreendimentos lucrativos, monopólio,
depois de 1830, do governo e da alta burguesia. As
reformas políticas são igualmente solicitadas, sob um clima de extrema
agitação. O Rei Luis Felipe, que chegou ao trono pela Revolução de 1830,
descontentava grande parte da população e principalmente a pequena e média
burguesia. A recusa do rei em abrandar a tensão leva os revolucionários a
levantar trincheiras na capital, forçando o rei a abdicar. O parlamento
proclama a república (Segunda República), e convoca eleições para se eleger o
mandatário republicano. Concorrerão 4 candidatos, representando diversas
tendências políticas francesas. Venceu Carlos Luis Napoleão Bonaparte (futuro
Napoleão III) tido como simpático a ideia liberal. A
onda revolucionária chega à Áustria, centro da reação monárquica, que
continuava, ainda, sendo governada por Metternich. A 13 de março de 1848,
eclodiu um levante liderado por trabalhadores e estudantes, que forçaram a
renúncia do ministro totalitário. O imperador, assustado com a extensão do
movimento, promete uma Constituição para a Áustria alemã, excetuando a Hungria
e as possessões italianas. Exigem também os líderes do movimento que, na futura
constituição, haja a responsabilidade do Ministério perante o Parlamento, a
adoção de um sistema eleitoral e a abolição dos remanescentes feudais, ainda
existente nos campos agrícolas. A
vaga revolucionária atinge, logo após, a Hungria, sendo chefiado o levante por
Loajos Kossuth. Entretanto,
as conquistas revolucionárias não permaneceriam por muito tempo, tal e qual
foram prometidas. No verão de 1949, o imperador austríaco consegue derrubar a
República Húngara, e mesmo na Áustria, domina os liberais, deixando de cumprir
as promessas feitas nos dias tormentosos da rebelião. Valioso
apoio recebeu do imperador da Rússia que, atacando os húngaros, permite aos
austríacos lançarem-se contra os italianos. A ordem é restaurada no Império
Austríaco, mas não exatamente nas mesmas condições anteriores. Sente-se
claramente um abrandamento na reação monárquica. Na
Alemanha, ainda que as tentativas de unificação política tenham falhado, as
revoltas de 1948 serão fundamentais para o desenvolvimento econômico do país.
Isso porque foram definitivamente extirpadas as sobrevivências do feudalismo
agrário e, por outro lado, a data marca a entrada da Alemanha, decididamente,
na era capitalista, fatos estes importantes para se compreender o grande surto
de progresso que experimentará depois de 1870. Em
Berlim, Frederico Guilherme IV, ante a agitação crescente, convocou a Landtag e
deu mostras de simpatia pelo movimento unificador alemão.
O
Acontecimento que mais ameaçou a situação vigente, nessas agitações de 1848,
foi a instalação de uma Assembleia em Frankfurt, aonde acorreram os delegados
de todos os estados, tendo a Assembleia a tarefa de cuidar da unificação de
todos eles. Entretanto, os delegados desentenderam-se quando ao regime do novo
estado a ser criado, quanto à extensão geográfica que ele deveria possuir e com
relação a posição da Áustria, na nova entidade a ser estabelecida. As
diversas posições, aos poucos, se radicalizaram, comprometendo a unidade e
objetivos da Assembleia.
Num
gesto desesperado, os delegados tentam salvar o movimento, oferecendo a direção
do estado unificado ao rei da Prússia, concordando assim que a unificação se
desse em torno da potência mais forte dentre esses estados. Frederico
Guilherme IV, no entanto, recusou o oferecimento, movido de um lado pelo receio
da reação Austríaca, e de outro, ao que parece, pela repugnância de entrar em
entendimento com uma assembleia de rebeldes e revolucionários, muitos deles
republicanos convictos. Ante a recusa, a assembleia dissolveu-se, frustrando-se,
mais uma vez, a tentativa de se atingir a unificação política de toda a
Alemanha.
A
ASCENSÃO DE BISMARCK E A UNIDADE DEFINITIVA
O
movimento de unidade alemã receberia decidido apoio após a ascensão de Otto
Eduard Leopold Von Bismarck, como primeiro ministro da Prússia, em 1862. A
sua ação decisiva e a firme determinação com que se entregou a tarefa de
unificar politicamente a integração total a Alemanha. Bismarck
era originário da classe dos junkers, espécie de nobres rurais prussianos,
cujos interesses agrários eram bastantes grandes e de onde eram recrutados,
geralmente, os funcionários e as altas patentes do exército. Frequentou
as universidades de Göttingen e de Berlim.Em sua juventude, ao que parece, caracterizou-se por
apresentar uma personalidade boêmia e irresponsável. O ideal político dos seus
verdes anos inclinava-se para o liberalismo. O casamento,
contudo, haveria de modificá-lo. Casou-se com
filha de um aristocrata e sua personalidade, aos, poucos, se define melhor.
De
rebelde soturno e cínico, converteu-se num valente defensor da religião e num
trovejante reacionário, em matéria de política!
Durante
a Revolução de 1848, apoiou decididamente a monarquia e fez parte do grupo de
aristocratas que apelou para o rei prussiano, com o objetivo de fazê-lo recusar
a coroa oferecida pela assembleia de Frankfurt. Anos
mais tarde, estaria a frente da organização de um partido conservador,
considerado o guardião dos interesses agrários dos junkers, da igreja oficial e
do exército. A
sua nomeação para presidente do conselho de ministros data de 1862, ocasião em
que pode dar início a execução de um habilidoso plano de unificação. Na
tarefa de concluir a unificação, revelou-se um hábil e incomparável político.
Soube endurecer a posição da Prússia, quando julgou necessário, arrastando o
país a duas guerras com fim de ampliar a unidade, lutas aliás bem sucedidas
para seu governo. Outras vezes, revelou-se quase diabólico, principalmente
quando atuava no cenário diplomático, conseguindo armar situações equívocas e
nebulosas para a soberania das nações, envenenando interpretações de documentos
diplomáticos, divulgando maliciosamente segredos de Estado, a fim de atingir as
metas que colimava. Assim,
procurou, de início, afastar definitivamente qualquer pretensão austríaca,
dentro da
CONFEDERAÇÃO GERMÂNICA
Aliás,
as divergências entre as duas potências acentuaram-se bastante depois de 1848,
tanto no plano político, como também na concorrência comercial. De
fato, o Barão Karl Ludwig Bruck (1798-1860), ministro do comércio austríaco,
manifestara desejo de que seu país usufruísse das vantagens do Zollverein. A
Prússia , no entanto, opôs-se a pretensão, apesar da Áustria contar com a
simpatia dos Estados alemãs do sul que , por diversas vezes, solicitaram aos
demais membros a aceitação do grande império. Essa disputa constituirá um ponto
de constante divergência entre as duas potências. Bismarck
, para alcançar a unidade, envolveu a Prússia na questão surgida com a
Dinamarca, que pretendia a posse dos territórios de Schleswighostein. Esses
territórios eram habitados, em sua maioria, por alemães, e desde 1815 o
Holstein fora incluído na Confederação Germânica, mas devendo, por tradição,
vassalagem ao rei da Dinamarca. A questão surgiu mais aguda quando o rei
dinamarquês pretendeu a anexação dessas províncias . O
chanceler prussiano mostrou sua habilidade em aproveitar-se de incidentes dessa
ordem, conseguindo envolver outras nações e logrando tirar partido, para a
Prússia, de divergências que surgiram, mesmo com antigos aliados. Desse modo,
começou por incitar a Áustria contra a Dinamarca, solicitando-lhe participação
na luta, para barrar as pretensões do rei dinamarquês. A Áustria acedeu. Iniciou-se,
então, uma breve campanha militar, que terminou ao cabo de 7 semanas, em 1864,
com a vitória dos exércitos prussianos, renunciando o rei dinamarquês a
qualquer pretensão aos território que motivaram o litígio. Uma
divergência após a vitória, entre as duas potências que haviam sido aliadas,
será bem aproveitada pelo chanceler prussiano. A origem dela residiu na
repartição dos despojos.
A
situação evoluiu a tal ponto, que uma guerra entre a Áustria e a Prússia
tornou-se inevitável. A essa altura Bismarck aceita um desafio dessa ordem. A
Prússia, que alcançara com a unidade econômica levada a efeito pelo Zollverein,
um desenvolvimento industrial considerável em todos os setores, procurava
tornar-se, pouco a pouco, invulnerável. A unidade política que buscava seria o
coroamento desse processo de desenvolvimento. Para isso, cuidou de organizar
eficientemente o seu poderio militar, entregando a reparação de seu material
bélico ao Conde de Roon, passando pois o poderio bélico por uma verdadeira
transformação.
Desse modo, foram introduzidos melhoramentos, como o fuzil de
infantaria Dreyse, cuja novidade consistia em ser carregado pela culatra, e o
canhão de aço Krupp, igualmente carregado pela culatra, que era muito mais
rápido, preciso e de maior alcance. O efetivo militar, graças ao engajamento
obrigatório, elevou-se consideravelmente e número. A
direção desse exército remodelado, foi entregue ao Conde de Moltke, que o
tornou um corpo altamente disciplinado. Com
essa retaguarda militar, pode Bismarck enfrentar o exército austríaco,
cercando-se todavia de cuidadosa precaução contra o eventual apoio que a
Áustria poderia ter dos estados alemães do Sul (Hannover, Saxe e Baviera).
Concertou com a nascente Itália uma aliança para neutralizar essa possível
ajuda. Por outro lado, essa aliança ia de encontro aos interesses da unificação
italiana, que se fazia em torno da Casa de Savóia, a qual governava a
Lombardia, pois o Grande Império possuía territórios na Península Itálica e era
um entrave difícil para a tão almejada unidade italiana. Prometeu o chanceler,
em troca do auxílio italiano, a cessão de Veneza. A
luta iniciou-se, contando os prussianos com um efetivo maior que os austríacos.Os
chefes militares do Grande Império, além disso, cometeram sucessivos erros de
estratégia. Acossados por duas frentes, concentraram seus melhores efetivos na
frente italiana, ao invés de conter os italianos em defensiva e acumular forças
contra os prussianos. Esta falha custou caro à Áustria: derrotada pelas forças
de Bismarck e Moltke, teve, pela Paz de Nicolsburgo, de abandonar qualquer pretensão
aos territórios de Schlesswig-Holstein, ceder Veneza à Itália e consentir na
dissolução da Confederação Germânica.
O
próximo passo de Bismarck foi a formação da Confederação Germânica do Norte,
formada por todos os estados alemães situados ao norte do Rio Reno. Nessa
confederação, o rei da Prússia era o presidente hereditário e ainda foi criado
um corpo legislativo composto por uma Câmara Alta, representativa de cada
estado confederado, além de uma Câmara Baixa, eleita por sufrágio universal
masculino. A última etapa da
unificação foi cumprida quando da Guerra Franco-Prussiana. O Chanceler de
Ferro, para isso, envolveu a Prússia em outra aventura bem sucedida, graças à
eficiência e organização de seu exército. A luta com a França por suas
consequências, é a página mais importante da história da unidade alemã e a que
mais se correlaciona com a Guerra de 1914. Com
a experiência de três campanhas, nas quais as guerras foram mais simples
exercícios, o exército prussiano completou o seu aparelhamento, quer do ponto
de vista humano, no referente ao soldado e ao oficial, como ainda do ponto de
vista material. Bismarck,
além disso, havia se conciliado com os vencidos da véspera, de modo a contrair
com os alemães do sul uma aliança secreta, ofensiva e defensiva, tendo já em
vista o assalto que iria desferir contra a França. Preparada a ratoeira, os
franceses, dirigidos por uma plêiade homens sem capacidade, nela caíram de modo
grosseiro.
GUERRA
FRANCO-PRUSSIANA
O
motivo que deu origem ao conflito foi à sucessão do trono espanhol. Isso porque
Napoleão III se opôs à candidatura de Leopoldo de Hohenzollern, parente de
Guilherme I, rei da Prússia, candidatura essa apresentada por Bismarck,
temeroso do poderio francês e da sua influência junto aos demais estados
europeus. A França, por sua vez, não poderia concordar que a Espanha fosse
governada por um Hohenzollern, ficando assim comprimida entre duas potências
aliadas. Em caso de conflito, teria que lutar em duas frentes, o que lhe seria
altamente prejudicial.Guilherme I atendeu ao pedido da França, retirando a
pretensão de Leopoldo. Contudo, a França quis definitivamente afastar tal
perigo, exigindo que o rei prussiano se comprometesse a nunca mais consentir
que um Hohenzollern aspirasse ao trono espanhol. O rei prussiano, no entanto,
não quis assumir tal compromisso. Bismarck
aproveitou-se desse pretexto. Procurou utilizar todas as armas
diplomáticas para conseguir que a guerra fosse deflagrada. Ao que
parece, estava convencido que a unificação do sul só se daria após uma luta
armada. Para conseguir isso, serviu-se de um estratagema. Tornou pública a
resposta de Guilherme I, enviada por telegrama de Sem, onde estava o rei
prussiano. O telegrama tinha a seguinte redação: “O
Conde Benedetti (embaixador da França) segurou-me no passeio e pediu-me
insistentemente para lhe dar autorização de telegrafar imediatamente, pois eu
tomaria para sempre o compromisso de não consentir na candidatura Hohenzollern,
se porventura ela fosse apresentada. Naturalmente, eu lhe fiz saber não ter
nenhuma notícia, e ele, estando mais rapidamente informado do que eu, pelas
vias de Paris e de Madrid, deveria verificar estar meu governo alheio a tudo”. Bismarck
encontrava-se em um restaurante em Berlim, em companhia de Moltke, ao receber o
citado telegrama do rei. Em resposta, redigiu um telegrama, o qual deu à
publicação, em termos bastante obscuros, fazendo crer que aquele texto,
pertencia a Guilherme I.
Os termos do telegrama eram os seguintes: “Depois o
embaixador francês ainda insistiu, em Ems, para SM o rei autorizá-lo a
telegrafar a Paris, dizendo que SM o rei se comprometia, para sempre, a não dar
seu consentimento caso os Hohenzollern voltassem com sua candidatura. SM à
vista disso, recusou-se a receber o embaixador francês e lhe fez dizer, pelo
ajudante de ordens em serviço, que SM não tinha mais nada a comunicar ao
embaixador”.
O
conhecimento do teor do telegrama e a sua publicação, feita de modo totalmente
inesperado, fez muitos suporem que Guilherme I, com aquele documento havia
insultado o embaixador francês. Na
França, a notícia sobre o incidente correu célere por todo o país. Os termos
obscuros com que estava o telegrama e a falta de dados atuais, provindos da
Prússia, sobre a autoria do mesmo, contribuíram para que a opinião pública, o
parlamento e o imperador, fossem levados a um estado de extrema paixão. A 15 de
julho de 1870, os ministros de Napoleão III solicitaram ao Parlamento a
declaração de guerra. Iniciada
a luta, a Prússia recebeu o apoio dos Estados meridionais que, graças a
habilidade do chanceler prussiano estavam convencidos de que a Prússia fora
vítima de uma agressão. Bismarck, uma vez mais não se enganara...
Desde o início da batalha, a conjuntura militar
mostrou-se favorável à Prússia!
De fato, em número, a situação militar
apresentava-se da seguinte forma: a França tinha um exército disponível de
230.000 homens e a Prússia, contando-se com os estados germânicos, somava
520.000. Além disso, a organização das tropas prussianas e a disciplina dos
seus soldados, além da estratégia dos seus generais, constituíam fabuloso fator
para a vitória. As
operações logo revelaram a superioridade prussiana. Assim, a 4 de agosto,
depois de apenas dois dias de luta, todo o exército do general francês
Mac-Mahon foi vencido na batalha de Froeschviller que os alemães chamam de
Woerth. No mesmo dia, o
General Frossard fazia-se bater pelo 1º Exército alemão na Batalha de Forbach
ou Spicheren, sem que o Marechal Bazaine, que se achava nas proximidades,
interviesse contra a posição aventurada dos alemães. A
seguir, Mac-Mahon, retirou-se, abandonando a Alsácia aos alemães, que cercaram
Strasburgo e Belfort, enquanto Bazaine deixava-se cercar em Metz, depois de
haver sido batido inexplicavelmente nas batalhas de Saint-Privat ou de Gravelotte
e de Rezonville, ou de Borny. Bazaine
estava paralizado em uma praça forte, com a fina flor do exército francês,
180.000 homens e 1.600 canhões. Mac-Mahon procura socorrê-lo, mas a marcha não
é feita com o segredo exigido nem a rapidez necessária. Os exércitos dos
príncipes reais da Prússia e da Saxônia saem-lhe ao encontro e derrotam os
franceses, empurrando-os para Sedan, na fronteira belga. Apesar de seu elevado
número – 90.000 homens – não conseguem a façanha de resistir. Encurralados, são
obrigados a render-se, tendo à frente o próprio Napoleão III que entrega a sua
espada e é enviado cativo, ao castelo de Wilhemshoehe. Estava a França
praticamente sem exército com seu território invadido e o imperador
prisioneiro. A
notícia da capitulação de Sedan chega a Paris no dia 4 de setembro. Ao espanto,
sucede a revolta. A população indignada amotina-se e proclama a República.
Organiza-se um governo de defesa nacional e resolve-se continuar a guerra.
O General Trochu assumiu o comando da praça, dirigindo
uma circular que terminava com esta declaração espartana: “Nós não cederemos
nenhuma polegada de nosso território, nem uma pedra de nossas fortalezas. Uma
paz vergonhosa seria uma guerra de extermínio”.
Foi
então que Thiers, tido como o mais hábil político da França, tentou realizar um
armistício. Teve uma entrevista com o General Ducrot, convindo que se recorde a
resposta desse general, para que sirva de exemplo aos derrotistas de todos os
tempos. Ao general Ducrot, que lembrava que a resistência de Parias apagava as
vergonhas de Sedan e de Metz, Thiers retrucou que o general falava como um
soldado e não como político. “Senhor – replicou Ducrot – eu acredito também
falar como político porque uma grande nação como a nossa se levantaria sempre
de suas ruínas materiais, mas ela jamais se levantaria de suas ruínas morais”.
(Monsieur Thiers contre l´Empire”, Grasset).
Resolvido
que a guerra prosseguiria de qualquer maneira ainda que a França estivesse sem
a espada de seus exércitos, que haviam capitulado iniciou-se o seguindo período
da resistência. Esta foi épica, e Leon Gambetta tornou-se o animador
extraordinário da luta que ensanguentava o solo da França imortal. O civil se
transformou em soldado, levantando a França ferida de morte o seu exército.
Os
alemães, porém, estavam senhores da situação e venceram facilmente esse punhado
de bravos. Militarmente, a França já estava vencida. Ela apenas lavou a sua
honra no sangue que soube derramar no campo de luta. A 18
de janeiro de 1871, Paris capitulava, e a 28 o armistício foi assinado, tendo
sido a 18, no Castelo de Versalhes, proclamado o Império Alemão, entre as
nações germânicas que haviam tomado parte na guerra contra a França. O
imperador aclamado era o rei da Prússia, Guilherme I, que com esse mesmo nome foi
feito chefe de todos os alemães.No dia 10 de maio de 1871, era assinada a Paz
de Frankfurt, pela qual a França era amputada de suas províncias da Alsácia e
Lorena, devendo ainda pagar uma indenização de 5 bilhões de francos em três
anos. Na Alemanha o entusiasmo
patriótico, advindo das sucessivas vitórias, possibilitou a Bismarck anexar os
estados meridionais à Confederação Germânica do Norte. Assim
no curso da guerra, foram realizados sucessivos tratados, que terminaram por
unificar toda a Alemanha em um só Império, a ser dirigido pelos Hohenzollern.O
ato formal da unificação deu-se no dia 18 de janeiro de 1871, durante a
ocupação alemã em Paris, tendo o ato sido realizado no Palácio de Versalhes,
recebendo, na ocasião Guilherme I da Prússia, o título de Imperador da
Alemanha. Bismarck foi alçado à dignidade de príncipe, tornando-se daí para
frente, chanceler do Império. Concluía-se, desse modo, o lento processo de
unidade alemã. A importância desses fatos para o futuro do império para a sua
expansão política e econômica foi transcendental. O
desenvolvimento que tomou o império de 1871 a 1914, suscitou uma concorrência
comercia e industrial, levando os países a resolver essa pendência pelas armas,
eclodindo desta maneira a Primeira Guerra Mundial.
A "REVANCHE" FRANCESA
A
fase final e definitiva da unificação alemã acabou por originar, na França, uma
reação de cunho eminentemente nacionalista que, de certo modo, teve longínqua
repercussão no conflito mundial de 1914. Não
foi um movimento decisivo e nem podemos afirmar que tenha sido um fator
primordial. Mas não há dúvida que a derrota, para a França, com a perda dos
ricos territórios da Alsácia e Lorena, tomou aspecto de dura humilhação
nacional: para o governo, para a burguesia e para o povo em geral. Para
o governo, porque nem pelas armas, nem diplomaticamente, pode evitar a
considerável perda territorial, para a burguesia industrial, porque subitamente
se viu despojada das preciosas jazidas minerais, justamente quando se retomava,
com certo ímpeto, o desenvolvimento industrial, sendo portanto, num momento
particularmente importante, obrigada a recorrer à importação de matéria-prima,
para o suprimento de seu parque industrial em expansão, para o povo, porque este
participou ativamente do movimento, visando o pagamento da indenização imposta
pelo insucesso da luta, tomando, a partir de então, consciência mais nítida do
que representara aquele fracasso, frente as tropas prussianas.
A
reação francesa iniciou-se logo após a cessação das hostilidades. Foi
principalmente liderada pela imprensa, que diariamente, através de artigos
apaixonados e transbordantes de doentio nacionalismo, logrou envenenar a
população, mantendo vivo o sentimento anti-alemão.
Até nas escolas, os ecos
dessa campanha fizeram-se ouvir. Entre intelectuais franceses, ela encontrou
apoio, destacando-se a pregação de Raymond Poincaré (1860-1934), que chegou a
afirmar não ver razão para que sua geração continuasse a viver, se não
conseguisse reaver as províncias perdidas da Alsácia e Lorena. Também
o pagamento da dívida imposta pela Alemanha, a título de indenização, erigiu-se
em ponto de honra nacional: A França inteira participou do movimento, o que
permitiu a ela saldar integralmente a quantia estipulada, em tempo recorde. Ao
que parece, até ao Chanceler Bismarck teria causado admiração a pontualidade da
França, quitando, dentro do prazo, os compromissos assumidos em virtude da
guerra. O astuto chanceler teria então afirmado que, se soubesse serem os
franceses capazes de tal mobilização, teria se esforçado por ter imposto um
resgate, com valor duas vezes superior ao estipulado. Essa
reação, bastante grande logo após o insucesso de 1870, foi no entanto se
diluindo com o tempo. Por volta de 1914, existia já forte oposição a ela.
Diversas
correntes combatiam-na vivamente, como muitos dos liberais e os socialistas em
geral. Entretanto, o ódio
cresceu em muitos espíritos. Nunca mais os interesses da França, vão coincidir
com os da Alemanha.
O sabor da revanche e da desforra, vai alimentar muitos
indivíduos. A ruptura do equilíbrio europeu, em 1914, com a consequente derrota
da Alemanha, em 1918, pode, sem dúvida, dar ensejo a uma desforra. Mas não será
o Pacto de Versalhes que porá fim à hostilidade e o ódio crescerá, novamente,
em muitos espíritos.
A UNIFICACÃO ITALIANA
Paralelamente
ao movimento em prol da unificação da Alemanha, a Península Itálica, também até
então uma simples ideia geográfica, lutava por sua unidade. Desse modo, pode-se
avaliar como o nacionalismo foi, progressivamente, estendendo seus poderosos
tentáculos por toda a Europa. Esse
movimento igualmente envolveu as nações europeias, como a Áustria, França,
Prússia e Rússia, que, de um modo ou de outro, numa ou noutra fase do processo
unificador, intervieram na luta. Por outro lado, o movimento unificador
italiano é uma peça importante, para a compreensão de todo o contexto que
antecedeu à Grande Guerra de 1914-1918.
A ITALIA ANTES DE 1815
De
há muito se haviam ofuscado as poderosas e soberbas cidades-estados italianas,
como Veneza, Florença, Gênova, Pisa, que conheceram momentos de grande glória e
considerável riqueza, na Idade Média, quando então dominavam o Mediterrâneo e
faziam a única ligação existente entre a Europa Ocidental Cristã e o Empório
comercial do Oriente. Nessas
cidades já haviam desaparecido, quase que totalmente, os vestígios de suas
opulências, responsáveis pela iniciativa capitalista, pelos primórdios das
manufaturas têxteis e por uma incipiente atividade bancária e comercial.
A política italiana, progressivamente, levou a Península à divisão do
território em uma infinidade de principados que, com sucessivas guerras,
aceleraram a decadência, não passando de um agregado de Estados de pequenas superfícies,
invejosos uns dos outros e esquecidos das glórias do passado. No
século XV, as intrigas dos chefes políticos abriram as portas à dominação dos
exércitos de Carlos VIII (1470-1498, rei em 1483), que reivindicou Nápoles para
si, seguida das novas investidas francesas por parte de Luís XII (o Pai do
Povo, 1462-1515, rei em 1498). No século XVI, foi a vez dos espanhóis, que
ficaram senhores de Milão e do Reino de Nápoles. No
século XVII, devemos destacar o fortalecimento que teve a Casa de Savóia, junto
aos Alpes.
No início, não estavam definidas totalmente as suas tendências,
apresentando interesses franceses e italianos. Depois, fixou-se definitivamente
na Península. Neste século, assinala-se ainda o decréscimo da influência
espanhola no Sul da Itália, substituída pela dominação austríaca, já grande nas
cidades setentrionais. No
século XIX, a Itália sofrerá modificação vinda do domínio napoleônico. Em
setembro de 1802, o Piemonte era anexado ao Império Francês. Em 1805, Napoleão
transformava a República Italiana em Reino Unificado. No mesmo ano, recebia, em
Milão, a coroa de ferro dos reis lombardos, e confiava o cargo de vice-rei a
seu enteado Eugênio de Beauharnais.
Por
volta de 1809, a situação da Península se apresentava mais clara, podendo distinguir-se
três divisões territoriais distintas:
1 - Os departamentos italianos integrantes do Império Francês.
2 - O Reino da Itália.
3 - O Reino de Nápoles.
Só
escaparam à ação da França a Sardenha, sob a chefia de Vitor Emanuel I
(1759-1824 rei de 1802 a 1821, de Savóia), e a Sicília, sob a égide de Fernando
I (1751-1825). Deve-se
ressaltar, finalmente, o fato de haver sido Napoleão um pré-unificador da
Península pois, além de criar o Reino da Itália, realizou muitas reformas,
instituindo a liberdade civil, religiosa, uniformidade de legislação, fatos que
acabaram por despertar a consciência nacional.
A ITÁLIA ENTRE 1815 -1830
Quando
o Congresso de Viena iniciou sua fase de compensações territoriais, as Grandes
Potências procuraram dividir os espólios da vitória sobre Napoleão, a Itália,
particularmente, serviu à voracidade dos reis vencedores, e entrou ativamente
na política de repartição de territórios, voltando pois a se constituir, de
novo, em mera ideia geográfica.
Os
fatos mais importantes dessas decisões, com relação à Península, foram:
a) a
restauração da Casa de Savóia nos reinos de Piemonte e Sardenha.
b) o
retorno dos reis pertencentes à Casa dos Bourbons de Espanha, ao Reino das Duas
Sicílias.
c) a
recuperação dos territórios papais.
d) a
entrega à Áustria de Veneza, do Ducado de Milão, predomínio reconhecido na
Toscana, Parma, Modena, onde deveriam, a partir de então, reinar pessoas
ligadas à Casa dos Habsburgos.
Isso
em compensação por ter a Áustria cedido a Bélgica à Holanda, que por sua vez
perdera territórios coloniais na África do Sul, na Guiana e no Ceilão, para a
Inglaterra. Logo
depois do Congresso, iniciou-se na Itália a luta pela unidade nacional,
liderada por chefes capazes e com muita consciência dos objetivos a serem
alcançados, além de contarem com o apoio decisivo da Casa de Savóia, em torno
da qual se processou o movimento unificador. A
unificação inicia-se com o movimento conhecido como "Risorgimento",
ou seja, desejo de retomar ao passado glorioso da Itália, representado pelas
eras de grande poderio da Península, o que se deu durante o Império Romano e na
época das repúblicas comerciais da Idade Média. A
maior manifestação do período foi o surgimento de um movimento, a princípio
clandestino, aparecendo depois as conspirações dos carbonari, que agitaram o
Piemonte, a Lombardia, e Nápoles.
AS REVOLUCÕES DE 1830 E 1848
Já
se fez menção à revolução irrompida na França em 1830, que pôs abaixo o governo
despótico de Carlos X (1757-1836, rei de 1824-1830), monarca de caráter
reacionário, mostrando-se principalmente contra os ideais de 1789. A agitação
culminou com a deposição do rei e a ascensão de Luís Filipe, que contava com a
simpatia da alta burguesia, sendo por isso cognominado o Rei Burguês. A
Revolução de 1830 teve, pois, um caráter liberal, contribuindo para abrandar,
na França, a reação monárquica, e esta tinha como líder supremo na Europa o
ministro austríaco Metternich. Na
Itália, essa onda liberal teve repercussões, em fevereiro de 1831, iniciando-se
com uma revolta em Bolonha, que contou com o apoio de revolucionários
estrangeiros, inclusive do sobrinho de Napoleão, o futuro imperador de França,
Napoleão lII. As agitações atingiram, igualmente, os Estados Pontifícios,
chefiados na ocasião, por Gregório XVI (Mauro Capellari, n. 1765; papa de 1831
a 1846), amigo dos Habsburgos, e portanto de índole conservadora.
Em Parma e Módena, manifestaram-se descontentamentos com os chefes austríacos,
originando-se agitações que foram sufocadas pelas tropas fiéis àqueles chefes,
restaurando-se a ordem. As
consequências desses movimentos, entretanto, logo se fizeram sentir.
A exacerbação nacionalista apresentou-se num crescendo,
traduzindo-se em manifestação de profundo desafeto aos dominadores
estrangeiros, chegando mesmo a assumir contornos de um sentimento de verdadeiro
ódio aos austríacos. Depois desses sucessos, a propaganda liberal organizou-se
intelectualmente. Dela participaram historiadores e escritores, como Leopardi
(Giacomo, 1798-1837) e Guerrazzi (Francesco Domenico, 1804-1873), os quais, em
suas obras, defenderam os ideais unificadores. A
partir de então, surgem diversas tendências para a realização da unidade. Uns,
como o abade Gioberti (Vincenzo, 1801-1852), que sugeria como solução uma
federação, sob a direção do papa. Massimo d' Azeglio (Massimo Taparelli,
1798-1866) e Cesare Balbo (1789-1853) sonhavam com a unificação em torno do
Piemonte, e com o recuo das fronteiras austríacas para além dos Alpes. Giuseppe
Mazzini (1805-1872), grande entusiasta da unidade, fundador do movimento A
Jovem Itália (1835), propugnava de um lado por uma unificação em que se
estendessem os ideais de liberdade e, quanto ao regime, optava pela Federação
Republicana. Mas
o expoente máximo do movimento unificador, foi Camillo Benso (Conde de Cavour,
18101861), que desenvolveu, desde 1835-1848, no campo dos negócios, intensa
atividade, promovendo a agricultura científica no Piemonte, introduzindo o
guano do Peru em terras italianas, inaugurando a manufatura mecanizada no Norte
da Itália. Dedicou-se ainda, à atividade bancária em Gênova e Turin. Dirigiu
indústrias de produtos químicos, companhias de vapores, que operavam dos Lagos
do Norte da Península e construiu primeira linha de estrada de ferro
peninsular. A simples enumeração de suas múltiplas atividades dá ideia do
dinamismo de que era dotado. Além
disso, era pensador brilhante, adepto das ideias de Rousseau, Adam Smith e
Jeremy Bentham (1748-1832). Fundou, em 1847, o famoso periódico "Il Risorgimento",
que logo se converteu em porta-voz da opinião liberal italiana. Defendia
a adoção da monarquia constitucional, com base na Sardenha, que era governada
pela Casa de Savóia. Entretanto,
as revoltas ocorridas em 1848 trouxeram à tona, novamente, os ideais liberais
democráticos e a questão social.
Sensíveis modificações deram-se no
panorama político peninsular:
Os
governantes, premidos pelos levantes revolucionários, são obrigados a fazer
concessões democráticas. Assim,
na Sardenha, Carlos Alberto (1798-1849, rei de 1831 a 1849), proclama o
Estatuto Fundamental: conjunto de leis reguladoras das liberdades civis e que
previam a formação de um governo parlamentar. Para atender à pressão dos
liberais, é obrigado a colocar-se à frente de suas tropas, contra os
austríacos. Em Veneza, a república foi proclamada por Manin (Daniel,
1804-1857). No entanto, a situação estabilizou-se, pela apatia manifestada pelo
papa em relação à causa nacional, e pelo desinteresse do rei de Nápoles. A
chegada de reforços austríacos faz com que Carlos Alberto seja derrotado, em
Custozza (23-25 de julho de 1848), obrigando-o a assinar o armistício. A
fúria liberal prosseguiu, no entanto, com um levante na Sicília e o
assassinato, em Roma, do Ministro Rossi (Pelegrino, conde, 1787-1848), ocorrido
em novembro, fazendo com que o Papa Pio IX (Giovanni Maria Mastai-Ferretti, n.
1792; papa de 1846 a 1878) se refugiasse em Gaeta.O
ano de 1849 foi marcado por novos sucessos: Carlos Alberto sofreu nova derrota
em Novara, abdicando em seguida em favor de seu filho Vitor Emanuel II
(1820-1878); o papa, nesse mesmo ano, voltou a Roma, e a Áustria contentou-se
simplesmente a receber indenizações pelas lutas que teve de empreender. Mais
uma vez, adiava-se a unificação.
A ASCENSÃO DE CAVOUR E A UNIDADE
DEFINITIVA
Camillo
Bemo, Conde de Cavour, além de suas variadas atividades em prol do
desenvolvimento do Piemonte e da Sardenha, teve ainda destacado papel na
conquista da unidade definitiva da Itália. Assim,
em 1850, foi nomeado ministro do Comércio e Agricultura e, dois anos mais
tarde, passou a ser primeiro-ministro, quando, teve oportunidade de encaminhar
o problema da unificação, realizando-a sob a tutela da Casa de Savóia. Embora
fosse de personalidade, temperamento e métodos diversos dos de Bismarck,
revelou-se, contudo, um hábil político, tal qual foi o Chanceler do Reich. Com
a mira voltada para obter o concurso da França, nos acontecimentos
político-militares que deveriam preceder a unificação - pois Cavour era de
opinião que jamais seu objetivo seria obtido sem a participação de uma potência
estranha, como a França, que mantinha acesa uma luta contra a casa d'Austria,
desde Francisco I -, fez o reino SardaPiemontês entrar na Guerra da Criméia, contra
a Rússia, ao lado da França, da Inglaterra e da Turquia. Para isso, preparou um
pequeno corpo expedicionário, o qual tomou parte em todos os encontros da luta
que terminou em 1855. Cavour
toma parte no Congresso de Paris, destinado a resolver "A Questão do
Oriente". Aproveitando o ensejo, lavra ali o seu protesto contra a tirania
que a Áustria exerce na Itália. As potências reunidas aplaudem suas palavras,
mas se recusam a intervir na questão italiana. Os
patriotas exigem o auxilio da França e procuram obtê-lo por todos os meios.
Recorrem aos atentados pessoais destinados a intimidar Napoleão III (atentado
de Pianori, em 1855; de Orsini, em 1858) ; fazem larga campanha jornalística,
nos principais países da Europa; e conseguem, por fim, que o imperador francês
se encontre com Cavour, em Plombieres (julho de 1858). Napoleão III ouve o
patriota, concorda com as suas razões e promete auxiliar o rei da Sardenha, em
caso de agressão da Áustria, com a condição de receber a Sabóia e Nice. Obtidos
estes resultados, Cavour, que fundara em 1857 a Sociedade Nacional Italiana,
destinada a unir todos os patriotas, redobra as atividades: Estreita as
relações com a França, mediante o casamento da Princesa Clotilde, filha de
Vitor Emanuel, com o Príncipe Jerônimo Napoleão, primo do imperador, e converte
em tratado a entrevista de Plombieres. A Áustria, conhecedora destes
acontecimentos, reforça o seu exército na região lombardoveneziana.
A
Sardenha declara-se ameaçada, mobiliza suas forças e aceita voluntários de toda
a Itália. A Inglaterra tenta resolver a questão num congresso. No momento,
porém, em que este está para ser iniciado em Viena, o Imperador Francisco José
I (1830-1916; monarca em 1848) perde a paciência e envia um ultimatum a Vitor
Emanuel: Exige o desarmamento no prazo de três dias e o licenciamento dos
voluntários. O rei da Sardenha se recusa. A Áustria declara guerra contra o
pequenino reino dos Savóia. Cumpriam-se os desejos de Cavour, que manobrara no
sentido de ser a Áustria a primeira a atacar, permitindo a Napoleão III
intervir. Iniciada a guerra, os
austríacos passam o Ticino e apoderam-se de Novara.
Napoleão IlI fiel a seu
compromisso, dirige-se para a Itália com um exército de 180.000 homens,
estabelecendo o seu quartel-general em Alessandria, enquanto as forças de Vitor
Emanuel tomam posições para enfrentar os austríacos. Os
franceses vencem a Batalha de Montebello (20 de maio de 1859) e os piemonteses
a de Palestro (22 de maio). Em 4 de junho de 1859, fere-se a cruenta Batalha de
Magenta, ganha por Mac-Mahon, que por esse feito recebe o título de Duque de
Magenta e o bastão de marechal. Com esta vitória, o exército aliado entra em
Milão. Os austríacos, vencidos, retiram-se para além do Míncio. A
Batalha de Solferio (24 de junho), desastrosa para os austríacos, decide a
sorte da guerra.
Napoleão
III, inesperadamente, oferece a paz ao inimigo. O acordo é concluído em
Villafranca (11 de julho) e estas preliminares são confirmadas pelo Tratado de
Zurich (10 de novembro). A
explicação que se pode encontrar para o recuo de Napoleão III parte da
apreciação de dois fatos principais: primeiro, o receio de uma ampla coligação
dos Estados germânicos contra a França, levando-a a uma derrota final e
comprometendo assim o prestígio francês, segundo, a campanha que Cavour movia
contra os Estados Pontifícios, pois o papa, em sucessivas oportunidades,
mostrou-se indiferente à luta pela unificação, levando Cavour a mover acirrada
oposição ao poder papal naqueles territórios.
Essa
situação levou o imperador da França a temer uma incompatibilização com os
patriotas católicos, os quais, poderiam então, acusá-lo de ajudar uma causa
anticlerical. Entretanto,
apesar desses contratempos, um balanço geral da conjuntura era francamente
favorável ao incansável ministro italiano, pois conseguira anexar a Lombardia,
os ducados de Toscana, Parma e Módena. Obtivera, também, a adesão da
setentrional dos Estados Pontifícios, os quais, no transcorrer da luta, eram liderados
pela Casa de Savóia. Dessa maneira, a Sardenha já era então considerada o mais
poderoso dos Estados italianos.
O
ano de 1860 foi pródigo para a causa unificadora!
A Casa de Savóia pode
estender seu poderio até ao Reino das Duas Sicílias. E isso se realizou de
maneira quase inesperada. O herói romântico, Garibaldi (Giuseppe 1807-1882),
atacou o reino, nessa época governado por Francisco II (18361894), da Casa dos
Bourbons. Com um regimento de 1.000 camisas vermelhas, libertou a Sicília e
marchou triunfalmente sobre Nápoles. No decorrer do ano, todo o reino estava em
mãos do extraordinário condottiere, cujo nome também se ligou à Guerra dos
Farrapos, no Sul do Brasil (1835-1845). Garibaldi,
de índole republicana, ao que parece, quis tornar o reino conquistado, em
república independente. No entanto, recuou de seu propósito inicial,
entregando-o, finalmente, ao domínio da Sardenha. As
cláusulas do Tratado de Zurich não agradam aos partidários da unificação, que
se insurgem contra Napoleão III, ao qual acusam de haver faltado à palavra.
Realmente, Vitor Emanuel não obtivera as compensações desejadas. Portanto,
a luta prossegue, cada vez mais intensa. Aproveitando-se
da retirada dos austríacos, os ducados da Itália Central sublevam-se, mesmo
antes de encerrado o Congresso de Zurich. Parma, Módena, Bolonha e Florença,
revoltam-se em massa. Realizados
plebiscitos, favoráveis à união, colocam-se na dependência do Piemonte. A
campanha continua, com um entusiasmo cada vez mais crescente. Para a unificação
completa, faltam apenas o Reino das Duas Sicílias e os Estados Pontifícios. No
dia 25 de maio de 1860, Garibaldi, em concordância com Vitor Emanuel, simula um
ato de pirataria: Apodera-se de dois navios, no Porto de Gênova, embarca com os
seus 1.000 voluntários (Garibaldi e i Mille), dirige-se sobre a Sicília
(Expedição dos Mil) e desembarca em Marsala. Apodera-se da ilha, com
facilidade. Em seguida, marcha rumo a Nápoles, onde quase não encontra
resistência, instituindo aí um governo republicano. Por
seu lado, Vitor Emanuel prepara um plano destinado a dar-lhe a posse dos
Estados Pontifícios: Finge grande inquietação, pela desordem reinante em
Nápoles. Afirma que, visando o interesse da Itália e da França, vê-se forçado a
intervir. Para tanto, é obrigado a atravessar os Estados da Santa Sé. Obtém de
Napoleão III a neutralidade da França e coloca suas tropas em movimento. O
exército pontifício é derrotado na Batalha de Castelfidardo (18 de setembro de
1860). O monarca atravessa as Marcas e a Úmbria, que se lhe reúnem, após
realizarem um plebiscito e marcha sobre Nápoles. Garibaldi retira-se para a
Ilha de Caprera e renuncia a todas as honras que lhe são oferecidas. O Reino
das Duas Sicílias é incorporado ao Piemonte. Em
17 de março de 1861, Vitor Emanuel II da Sardenha é proclamado Rei da Itália.
Roma,
no entanto, continua na posse da Santa Sé. Em
1870, quando estava sendo vencida pela Prússia, a França teve de retirar suas
tropas que protegiam o Papa Pio IX. Os italianos aproveitam-se da ocasião, para
atacar as províncias que a Santa Sé ainda possui. Conquistam Roma, em 20 de
setembro, tendo Garibaldi, que voltara à luta, nela penetrado pela Porta Pia. Cavour,
entretanto, morreu sem ver seu ideal totalmente realizado. Mas os passos
decisivos para a sua consecução, inegavelmente foram de sua inspiração. Quando
da Guerra Austro-Prussiana de 1866, os austríacos foram obrigados a ceder
Veneza à Itália, após a derrota, como recompensa pela participação dos
italianos no conflito.
A fase final da unidade foi a conquista dos Estados
Pontifício;. em mãos do papa que os administrava sediando o seu poder em Roma. Vitor Emanuel
tenta resolver a situação oficial do Sumo Pontífice. Deixa-lhe o Vaticano, o
palácio e basílica de Latrão, a Catedral de São Pedro e o castelo de Gandolfo,
residência de verão.
A
lei das garantias, votada pelo parlamento italiano, dá ao papa liberdade de
ação dentro destes limites. Pio IX, mantendo a opinião de que a lei das
garantias fora feita sem seu consentimento, recusa-se a aceitá-la,
considerando-se como prisioneiro. Disso resulta a famosa questão romana, apenas
resolvida em 1929.
Em
julho de 1871, Roma passou a ser a capital do Reino Unido (antes, o fora
Florença). Completava-se assim, a reunião dos Estados Italianos. E, com isso,
mais uma página do nacionalismo era escrita na História Europeia! Só
faltavam as terras irredentas que motivaram a entrada da Itália na Primeira
Guerra Mundial, pois o seu objetivo, arrebatando-as da Áustria, era levar suas
fronteiras até ao Tirol e até a Dalmácia.
O NACIONALISMO NOS BALCÃS
Dos
movimentos nacionalistas, a Questão dos Bálcãs foi a que teve relações mais
diretas com a Primeira Grande Guerra. De
fato, a unidade alemã, observando-se mais detidamente, relaciona-se com o
conflito mais pelo aspecto econômico por ela representado, pois a Alemanha
unificada conquistou um desenvolvimento industrial que assombrou as demais
nações, principalmente no período de 1870-1914. A revanche francesa foi, por
assim dizer, uma repercussão político-econômica da unidade alemã, atuando como
pano de fundo nos acontecimentos que antecederam a Guerra. A unidade italiana
teve ressonância na esfera diplomática, parte essencial para se compreenderem
os eventos que levaram à guerra, porém o papel por ela desempenhado, nessa
revolução diplomática, foi bastante secundário, e a unificação é mais um
capítulo que exprime fielmente o nacionalismo do século XIX. Entretanto, os problemas
surgidos nos Bálcãs propiciaram sucessivas crises internacionais, que abalaram
definitivamente o equilíbrio europeu. Basta
adiantar que a última das crises balcânicas levou as potências a um tal estado
de excitação nacional, que a guerra tornou-se inevitável. Assim,
pode-se apresentar a primeira característica do nacionalismo balcânico: ele se
vinculou diretamente aos incidentes que conduziram à guerra e constituiu
permanente ponto de atrito entre grandes Estados, ameaçando constantemente a
paz mundial. O
segundo aspecto a ser destacado, é com respeito às proporções que atingiram os
acontecimentos balcânicos e às lutas que se sucederam para agrupar as nações
eslavas. Os conflitos ali surgidos não lograram contar com a união global de
todos os eslavos. Isso se explica pelo esfacelamento progressivo que esses
povos sofreram em suas autonomias, no curso da história, pertencendo muitos
deles a Estados tradicionalmente rivais, dificultando e impedindo sua união
total. Esses fato levaram as lutas nacionais a serem muito mais ásperas e
árduas, e acabaram trazendo maiores tropeços ao já tão frágil equilíbrio
europeu. Tudo terminou na
decadência do Império Otomano, o qual dia a dia ia se enfraquecendo e perdendo
seu prestígio internacional. Esta desmoralização não era somente exteriorizada
na sua decadência, mas também nos contínuos massacres e abominações praticados
pelos turcos para dominar as nacionalidades cristãs, habitantes do Império
otomano, ansiosas por sua liberdade.
A FORMACÃO E DECADÊNCIA DO IMPÉRIO
OTOMANO (1299-1827)
Data
de 1299, o início da independência do pequeno Estado Otomano. O primitivo
território independente foi depois acrescido, graças às lutas empreendidas por
Osman I (1259-1326), contra os castelos bizantinos. Por volta de 1330, outro
chefe turco, Orkhan Ghasi (1280-1360), conquistou Nicéia, a segunda cidade do
Império Bizantino em importância. Com essa expansão, a Asia Bizantina ficou
sensivelmente reduzida. Em
1335, os turcos tomavam Pérgamo. A partir de então, fizeram um esforço
concentrado para se instalarem em território europeu. Com Murad I (1319-1389),
inicia-se a tão sonhada conquista. Na
Europa, a atenção dos otomanos voltou-se para os estados balcânicos.
Os
sérvios, húngaros e outras nações dos Bálcãs, coligaram-se para enfrentar o
perigo muçulmano. O esforço desses estados foi inútil. Em 1390, os otomanos
conquistaram a Macedônia, a Bulgária e a Sérvia. Chegou-se
a formar uma cruzada, a pedido de Sigismundo (1368-1437 imperador da Alemanha,
em 1410-1437, rei da Hungria, em 1387-1437, e da Boêmia, em 1436-1437), rei da
Hungria. Dela participaram João sem Medo (duque de Borgonha, 1371-1419) e os
grão-mestres da Ordem dos Cavaleiros de Rodes e dos Cavaleiros Teutônicos.
Entretanto, os exércitos cristãos foram derrotados em Nicópolis (1396).
Em
decorrência desse fato, a Tessália caiu em mãos dos infiéis. Em
1453, data que os historiadores escolheram para marcar o início da Idade
Moderna (1453-1789), chegou a vez de Constantinopla sucumbir e, com ela, o que
restava do Império Romano do Oriente. Em
1456, os turcos apoderaram-se da Grécia, em 1464, da Bósnia e Herzegovina, de
1461 a 1475, assenhoreiam-se de todo o Mar Negro e dos territórios de Cata,
Criméia e Azov. No século XVI, os cristãos conseguiram derrotar os
otomanos em Lepanto (1575), mas em 1683, os turcos assediaram Viena, que
resistiu ao seu avanço. Depois destas investidas, o ímpeto otomano diminuiu de
intensidade. Inicia-se um processo de decadência, que irá terminar no início do
século XX. Fatores
internos, como o aparecimento dos janízaros - classe guerreira contrária a
qualquer tipo de reformas, e que se converteu em verdadeira guarda pretoriana
-, aliado à corrupção administrativa e, também, questões religiosas, acabaram
levando o império a um desmoronamento territorial. É curioso
observar que a decadência otomana gerou, na política europeia, um problema
conhecido como a Questão do Oriente, levando as potências a participarem de
intrigas diplomáticas, tendo como objeto o decadente Império.
Tomou-se
conhecida, igualmente, a política de defesa da integridade do território turco.
Os despojos do Império eram motivo constante de desavenças nas cortes
europeias. Dessa maneira, no
século XVII, assistimos ao início da ruptura territorial otomana. Em 1687, a
Áustria recuperou, para sempre, a Hungria. Em 1718, após sucessivas lutas,
Veneza recebeu as praças da Albânia, Dalmácia, Herzegóvina, e a Áustria,
Belgrado e a Valáquia. O ano de 1771 é a data da independência da Criméia. Em
1812, entregava-se aos russos a Bessarábia.
Em
1827, a França, Inglaterra e Rússia desbarataram a esquadra turca, em Navarino. Contudo,
apesar destes insucessos, o Império era ainda bastante extenso, tendo os
otomanos recuperado algumas de suas perdas territoriais, graças à política
diplomática e aos interesses em jogo das grandes potências. Porém,
os desmembramentos ocorridos depois de 1829 aguçariam os apetites europeus,
gerando discórdias mais sérias.
A AUSTRIA E A "QUESTÃO BALCANICA"
Quando
se iniciou o desmoronamento do grande Império Turco, a Áustria,
progressivamente, procurou ampliar sua área de influência na região dos Bálcãs.
Recuperou a Hungria e foi estendendo o seu domínio, em praças arrancadas aos
otomanos. Entretanto, quando se
consolidou o absolutismo dos Habsburgos, implantada por Maria Teresa e seguido
por outros monarcas, a política austríaca foi, paulatinamente, enveredando para
a proteção dos germanos, gozando esses de privilégios e posições administrativas
mais importantes, em detrimento dos povos eslavos, que ajudavam a compor o
Império austríaco. Impôs ainda a governo imperial o idioma alemão, coma língua
oficial. Ora, o Império austríaco era de caráter bastante heterogêneo,
integrado por diversas nacionalidades como alemães, checos, húngaros,
eslovacos, romenos, eslavos do sul. Não apresentava, portanto., nenhuma unidade
linguística ou racial. Essa
situação dará origem a um crescente antagonismo dentro do Império, levando
esses povos a participarem de sucessivas lutas, em todo o século. XIX, e ainda
dando margem ao aparecimento de fortes preconceitos em relação aos eslavos,
chegando. alguns a entender que um eslavo não é um homem. Tal
conjuntura levou a uma exacerbação nacionalista sem precedentes, e tornou a
Questão Balcânica explosiva, constituindo-se num verdadeiro barril de pólvora.
A RÚSSIA E O NACIONALISMO BALCÂNICO
O
movimento nacionalista balcânico manifestou-se de forma dramática, em 1830,
quando a Polônia, então sob dominação russa, tentou conquistar sua autonomia,
pretendendo formar uma nova pátria. Contudo,
o último e grande instrumento do absolutismo austríaco, o Ministro Metternich,
colaborou para que se desse a mais terrível repressão a um movimento nacional.
O pretexto para a sua intervenção veio com a agitação da Galícia. Incitou, a
seguir, os camponeses contra os senhores feudais, revivendo uma verdadeira
"jacquerie medieval" (movimento que se deu na Idade Média, numa época
de grande escassez de víveres, e caracterizado por ser um grande levante
camponês contra a nobreza, convertendo-se em verdadeiro massacre). A
Rússia sufocou a revolta, mas a repressão foi inesquecível para os poloneses,
que tiveram de aceitar, para sempre, a influência russa. A
partir de então, muitos poloneses resignaram-se a não esperar a salvação da
Polônia, senão através da salvação de todos os eslavos. A
posição dos checos era bastante curiosa. Situavam-se numa verdadeira
encruzilhada: afins dos poloneses, mostram-se sensíveis às aspirações dos
eslavos da Áustria, daquele oceano de povos fraternos, no qual a Hungria é como
que uma ilha flutuante. Aparecem,
no campo intelectual, obras que demonstram a afinidade dos povos eslavos. Em
1837, surgiu Antiguidades Eslavas e, em 1842, Etnografia Eslava. Em toda parte,
há uma fermentação dos ideais dos povos eslavos, escravizados e dominados por
nações estrangeiras. Calculou-se,
por exemplo, que os eslavos da Europa representavam 80 milhões de almas. É um
período em que escrevem-se histórias sérvias, histórias búlgaras; compõem-se
gramáticas, ressuscitam-se velhas lendas e todo um turbilhão de poesia sai da
multissecular alma dos povos. Os
eslavos, no entanto, não se apresentaram unidos. Essas divisões e
desentendimentos facilitaram, aos políticos austríacos, a perpetuação de seu
domínio sobre essas populações. Os
eslavos encontraram um poderoso aliado, disposto a estender sua influência
sabre a Península. Procura-se mesmo convencer as nações menores da Europa Oriental, sobre
a conveniência de serem amparadas por uma grande potência que, assim, liderará
o movimento nacional eslavo. Esse aliado é a Rússia, que intervirá abertamente
na Questão Balcânica, na segunda década do século XIX, pois até então toda a
Península dos Bálcãs, banhada pelos mares Egeu, Negro e Adriático, estava sob
domínio dos turcos. Assim,
a Rússia começa a imiscuir-se diretamente nos Bálcãs a partir de 1828-29,
quando da guerra russo-turca. Com esse conflito, o czar vibrou rude golpe no
sistema de Metternich e na política de legitimidades do Congresso de Viena,
sendo mais uma nação a sair da quíntupla aliança (Áustria, Rússia, Inglaterra,
Prússia e França, sendo que a Inglaterra foi a primeira a discordar). Intervindo no Império Turco,
a política russa possuía dois objetivos: aguardava o desmembramento do Império
Otomano, para expandir sua influência nos Bálcãs; por outro lado, queria
assegurar o domínio dos estreitos do Bósforo e Dardanelos, a fim de que sua
esquadra não encontrasse eventuais barreiras para sair do Mar Negro. A
primeira oportunidade para alcançar esses objetivos, surgiu quando os gregos
desencadearam uma rebelião contra os turcos. Porém Alexandre I, um dos
participantes ativos do Congresso de Viena não se animou, ao que parece, a
quebrar o conceito legitimista imposto pelo ministro austríaco. Depois
de sua morte (1825), seu sucessor, Nicolau I (1796-1855, czar em 1825), não
manteve os mesmos escrúpulos de seu antecessor. Aproveitou-se também da
simpatia, manifestada pela França e Inglaterra, em prol da causa balcânica.
Dessa maneira, em 1828, declarou guerra à Turquia e, em pouco mais de um ano,
os exércitos russos chegaram às portas de Istambul (antiga Constantinopla,
conquistada aos cristãos em 1453). Os turcos foram forçados, então, a assinar o
Tratado de Andrianopla (setembro de 1829). As cláusulas desse tratado
estabeleciam: a independência da Grécia e o protetorado russo sobre a Sérvia,
Moldávia e Valáquia. Depois
dessa intervenção bem sucedida, a Rússia incentivará os povos eslavos, tanto
sob o domínio dos turcos, como depois sob influência da Áustria, a se
rebelarem, sob sua proteção, pois o czar russo era o chefe mais poderoso dos
estados eslavos e deveria ser o guia e protetor das pequenas nações irmãs dos
Bálcãs. Essa a política oficial do governo russo, até antes de 1914. O
movimento adquiriu amplitude e foros de doutrina, sendo mais conhecido como
pan-eslavismo. Pode-se
compreender quão perturbador para o equilíbrio europeu, apresentava-se esse
corpo de ideias. Com a adoção dessa política, a Rússia se antagonizou com a
Áustria pois ambas disputavam influência na mesma área. Terá como inimigo o
Império Otomano, pois cobiça os territórios pertencentes a este, dispondo-se
ainda a defender as nações cristãs, dominadas pelos chefes muçulmanos. Mas
o jogo de influências não cessou por aí. A Inglaterra, por exemplo, não
assistiu de braços cruzados à expansão russa nos Bálcãs. Sabia quão poderosa
ela se tornaria, se conseguisse estender suas fronteiras até à Península,
podendo inclusive participar e imiscuir-se em problemas da Europa Ocidental. Esse
era o quadro, na primeira metade do século. O clima reinante nos Bálcãs
apresentava tendência a tornar-se o mais rigoroso possível. Dentro
desse espírito reinante na Europa, e particularmente nos Bálcãs, o Império
otomano começa a desmoronar-se. Seu esfacelamento não se dá de pronto, por que
as potências, imersas em suas complexas formas de política diplomática, não o
permitiram. Por esse motivo, durante todo o transcorrer do século, o Império
perderá territórios, mas não sucumbirá totalmente. É
bastante curiosa a conjuntura turca: o extremo estado de decomposição, em que
se encontrava o Império, ajuda-lhe a sobrevivência. A sua fraqueza acaba sendo
elemento de segurança e estabilidade. Todas as nações anteviam seu fim, porém o
grande enfermo, como era mais conhecido, era mantido com precioso plasma,
através de sucessivas transfusões que as grandes potências lhe ministravam,
segundo seus interesses mais imediatos. Com
uma estrutura arcaica, avessa a reformas em seu organismo interno, a diplomacia
europeia mantinha a integridade do Império Turco, esperando apenas por melhor
oportunidade, para cair sobre seus despojos. A
partir da segunda metade do século, a situação torna-se mais crítica para o
sultão. Começa a enfrentar séria oposição interna, advinda de um movimento que
se destina a reformar o Império. São os Jovens Turcos, que acabarão por
controlar a situação, em 1908, destruindo o absolutismo imperial. Crítica
igualmente se torna a situação nos domínios balcânicos. Em 1876, eclodem
revoltas na Bósnia e Herzegóvina, Sérvia, Montenegro e Bulgária. O sultão, para
não perder o controle nesses domínios e para punir os revoltosos, reprime as
rebeliões com pulso de ferro, tomando a repressão aspectos desumanos, e mesmo
sanguinários. O
relato das atrocidades feitas a cristãos ortodoxos deu pretexto, à Rússia, para
reacender sua luta secular no domínio balcânico. Em
1877, começa a guerra, conseguindo as tropas do czar uma vitória esmagadora.
Apressou-se o sultão em assinar um tratado que pusesse fim ao avanço russo. Em
1878, as duas potências assinaram o Tratado de Santo Estefânio, estabelecendo
que deveria o sultão entregar quase todo seu território europeu. As
demais potências europeias, interessadas em evitar que a Rússia se fortalecesse
em demasia, principalmente a Alemanha, a Áustria e a Inglaterra, pressionaram o
czar, e este teve de rever o tratado.
O
documento definitivo, que satisfazia de um modo geral a todos, foi assinado no
mesmo ano e é conhecido como Tratado de Berlim (1878). O novo Tratado estabelecia:
a) a
Rússia ficava com a Bessarábia;
b) a
Tessália era concedida à Grécia;
c) a
Bósnia e Herzegóvina ficavam sob controle da Áustria;
d) a
Sérvia e Romênia eram proclamadas independentes;
e) o
Montenegro recebia Antivari;
f)
restituía-se grande parte do território europeu à Turquia.
Esse
tratado teve consequências bastante grandes para o equilíbrio europeu, pois os
maiores problemas e crises, que antecederam ao conflito mundial, têm o seu
ponto de partida nesse documento, firmado pela Turquia e pelas potências mais
diretamente interessadas. De
fato, quando a Áustria resolveu anexar a Bósnia e a Herzegóvina, tornando essas
províncias partes integrantes do Império Austríaco, criou-se um sério problema
para a Europa, pois a Sérvia discordou desse proceder, iniciando uma política
de franca agressividade contra a Áustria, o que acabará, em 1914, conduzindo ao
conflito armado. Após
a Guerra Russo-Turca de 1878, a influência do czar junto às nações balcânicas
cresceu, levando o grande império oriental a comprometer-se, cada vez mais, com
as nações eslavas. A proteção russa à Sérvia, por exemplo, é dado fundamental
para se compreender o comportamento de ambas as potências, no mecanismo
diplomático que funcionou até 1914. E, graças ao apoio dado pela Rússia, surgiu
o chamado Movimento pela Grande Sérvia. O
movimento é um desdobramento do nacionalismo balcânico. A pequena Sérvia alimentou, a
partir do início do século XX, a ideia de estender sua jurisdição sobre todos
os povos de sua raça e cultura, constituindo assim uma Grande Sérvia. Desse modo, essa Grande
Sérvia seria constituída pelas províncias turcas da Bósnia e Herzegóvina,
croatas e eslovenos das províncias meridionais da Austria-Hungria. Depois
de 1908, quando a Áustria anexou as províncias eslavas, o plano da Grande
Sérvia voltou-se todo contra o Império Austríaco. Inúmeras conspirações foram
feitas, para perturbar a paz da dual monarquia Austro-Húngara.
O PANGERMANISMO
Por
outro lado, surge poderoso e forte o Movimento Pangermanista. A formação do
Império, enche os alemães de justo orgulho. Sentem-se superiores a todos os
povos e julgam que lhes cabe a missão de condutores, não só da Europa, mas do
Mundo. É esta a opinião dos pangermanistas, que defendem a ideia da criação de
um grande Estado, abrangendo todos os povos germânicos.
Além do Império, os limites desse Estado conteriam a Dinamarca, a Holanda, o
Luxemburgo, a Suíça, a Bélgica e a Áustria, como também toda a Europa Central
(Mittel Europa), estendendo-se pela Turquia, Península Balcânica, Oriente
Próximo, ultrapassando os limites do Continente Europeu, através de uma
extensão de 23 milhões de quilômetros quadrados, ocupados por 137 milhões de
habitantes.
"A
quem deverá pertencer o cetro do Universo? Quem deverá impor as suas vontades
às outras nações enfraquecidas ou em decadência? pergunta um pangermanista. A
Alemanha, responde orgulhosamente, somente a ela, cabe a missão de assegurar a
paz do Mundo, pois todos os restantes países da Europa, encontram-se arruinados
e decadentes: - A Rússia, colosso imenso e em formação, mas de pés de argila,
ver-se-á absorvida pelas suas dificuldades econômicas e internas. A Inglaterra,
mais forte na aparência do que na realidade, há de perder as suas colônias e
esgotar-se em lutas estéreis. A França, enfraquecida pelas discórdias
intestinas e contendas políticas, caminhará apressadamente para a decadência
definitiva. A Itália, bastam os cuidados em que se vê, para assegurar o pão a
alguns de seus filhos. O futuro, conclui, não pode pois, deixar de pertencer à
Alemanha, à qual virá juntar-se a Áustria, se esta quiser viver".
Esta
ambição de domínio é fundamentada num patriotismo de raça, que os
pangermanistas exaltam em termos entusiastas. Somos os melhores guerreiros do
Mundo; somos os mais competentes no domínio da ciência e das belas-artes; somos
os melhores colonos, os melhores marinheiros, e mesmo os melhores comerciantes,
escreve um dos teóricos do pangermanismo. Não há povo mais persistente e
disciplinado do que o povo alemão, afirma outro. Ninguém possui as nossas
aptidões musicais, as nossas qualidades de trabalho, o nosso método. Raça
alguma é comparável à raça germânica, em superioridade moral, intelectual e
física, assevera um terceiro. O
movimento tinha raízes intelectuais, e entre seus defensores encontrava-se o
filósofo alemão Fichte (Johann Gottlieb, 1762-1814), partidário de audaciosas
teses sobre a superioridade espiritual dos germanos e atribuindo uma missão
predestinada ao Estado, que idealizava para os germanos, devendo este impor a paz
ao resto da Europa. Originaram-se
do mesmo modo, nesta época doutrinas tendo por princípio serem os nórdicos
naturalmente superiores, e o arianismo (teoria de uma suposta raça pura, a que
pertenceriam os nórdicos) começou a ganhar adeptos fervorosos. Com Heinrich von Treitschke
(1834-1896), surgiram as ideias que atribuíam ao Estado uma tarefa quase
divina, servindo este de instrumento ideal, para uma política de
engrandecimento puramente nacional.
CONCLUSÃO
As
ideias nacionais, no final do século, estavam assumindo caracteres deformados e
servindo a fins bastante duvidosos. Estudadas
as principais influências e consequências do nacionalismo na Europa, podem-se
extrair algumas conclusões sobre os diversos problemas propostos. Em
primeiro lugar, deve-se observar o quanto as aspirações nacionalistas
constituíram-se em pontos de atrito, entre as principais potências europeias,
em todo o transcorrer do século XIX. Por
outro lado, pode-se verificar que as barreiras nacionais tenderam a se
levantar, cada vez mais altas, e, devido a este fato, a ideologia nacional
começou a ser deturpada para envenenar constantemente a opinião pública, nesta
altura já habilmente manipulada pelos poderes políticos e econômicos, tudo em
nome do sagrado princípio das nacionalidades. Por
esse motivo, o equilíbrio europeu, a todo momento se rompe. A custo se refaz
das seguidas crises. Contudo, no decorrer desses conflitos menores, começaram a
se delinear, nitidamente, os principais interesses que passariam a dominar o
jogo político, por parte das Grandes Potências. Elas progressivamente tenderam,
de acordo com seus anseios imediatos e, a longo prazo com suas políticas
externas, a aproximarem-se de outras, cujo círculo de ambições era coincidente
com os seus, e, pouco a pouco, foram se afastando daquelas cujos propósitos
lhes eram adversos. A
corrente das fronteiras nacionais foi igualmente o elemento que impulsionou os
Estados, na procura do engrandecimento econômico de suas unidades territoriais.
Essa corrida em direção ao desenvolvimento econômico, correspondeu à segunda
fase do nacionalismo e atuou, no cenário europeu, de 1870 a 1914, criando
graves antagonismos. Finalmente,
como reflexo direto dos fatores anteriores, assistiu-se a uma corrida
armamentista, sem precedentes na História até aquele período, tendo como
justificativa a defesa intransigente das barreiras nacionais e dos valores
econômicos em jogo. O
nacionalismo, assim, esteve sempre presente nos fatores que levaram à Primeira
Grande Guerra e na seguinte. Em nome dele, foram sacrificadas preciosas vidas
humanas.
Fonte:
Clube dos Generais
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No decorrer desses conflitos menores, começaram a se delinear, nitidamente, os principais interesses que passariam a dominar o jogo político, por parte das Grandes Potências. Elas progressivamente tenderam, de acordo com seus anseios imediatos e, a longo prazo com suas políticas externas, a aproximarem-se de outras, cujo círculo de ambições era coincidente com os seus, e, pouco a pouco, foram se afastando daquelas cujos propósitos lhes eram adversos. A corrente das fronteiras nacionais foi igualmente o elemento que impulsionou os Estados, na procura do engrandecimento econômico de suas unidades territoriais. Essa corrida em direção ao desenvolvimento econômico, correspondeu à segunda fase do nacionalismo e atuou, no cenário europeu, de 1870 a 1914, criando graves antagonismos, que perduram até os dias de hoje!
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