É a segunda vez que TCU dá parecer pela rejeição de contas de um
presidente. Foi a primeira vez, desde 1937, que o TCU encaminhou ao Congresso
Nacional um parecer pela rejeição das contas de um presidente da República. A
primeira foi em 1937, durante a ditadura de Getúlio Vargas. Na ocasião, o
Congresso Nacional não seguiu a recomendação e aprovou as contas.
Por unanimidade, os
ministros entenderam que o balanço apresentado pela União continha
irregularidades que feriram preceitos constitucionais, a Lei Orçamentária e a
Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). A reprovação teve como base,
principalmente, as chamadas pedaladas fiscais, manobras que consistiram em
atrasar repasses do Tesouro Nacional aos bancos para pagamento de despesas de
programas sociais obrigatórios.
Nos últimos 78 anos, o tribunal sempre havia aprovado, com ou sem ressalvas,
o balanço da União enviado pelo Executivo. A oposição e setores rebelados da
base governista no Congresso pretendem usar essa recomendação como base para um
processo de impeachment da presidente Dilma, conforme medida prevista na lei.
Caberá ao Legislativo, agora, julgar as contas de Dilma,
seguindo ou não a opinião do TCU:
As contas rejeitadas
precisam passar por análises na Comissão Mista do Orçamento antes de chegar ao
plenário. Isso só deve ocorrer em 2016, o que agrada ao Planalto, que aposta
num esfriamento da crise política até lá. Eventual reprovação das contas nesse
âmbito pode tornar a presidente inelegível, com base na Lei da Ficha Limpa, o
que a impediria de disputar cargos eletivos.
A Advocacia-Geral da União (AGU) tentará anular o
resultado desta sessão histórica pela UNANIMIDADE do TCU em novo pedido ao
Supremo Tribunal Federal:
Após o Tribunal de
Contas da União (TCU) as contas de 2014 do governo da presidente Dilma
Rousseff, o relatório com essa recomendação será agora encaminhado ao
Congresso, que tem a prerrogativa de fazer o julgamento das contas. Uma
reprovação das contas no Congresso pode levar até à abertura de um processo de
impeachment da presidente. Partidos de oposição argumentam que a rejeição das
contas configuraria crime de responsabilidade e daria base para a abertura do
processo.
Por estar ligado ao Poder Legislativo e ser considerado um “braço
auxiliar” do Congresso, o tribunal não tem o poder de reprovar as contas. Mas todos os anos tem o dever de
produzir um parecer em que avalia a atuação e o cumprimento de regras e leis
pela presidente e sua equipe e enviá-lo para análise do Congresso.
Entenda cada etapa NATURAL e LEGAL da análise das contas
no Congresso Nacional:
1ª)- Ordem de votação no plenário
Antes de o parecer do
TCU sobre as contas de 2014 ser julgado pelo Congresso, os parlamentares
deverão terminar de votar os relatórios de anos e governos anteriores, já que
há contas de presidentes anteriores pendentes de análise pelos parlamentares.
Com isso, a pauta fica limpa para o parlamento
julgar as contas de 2014.
2ª)- Relatório do TCU no Congresso
Após ser votado no
TCU, o relatório será, primeiro, avaliado pela Comissão Mista de Orçamento do
Congresso e, depois, pelos plenários da Câmara e do Senado – ou em sessão
conjunta do Congresso Nacional, se houver acordo para isso. Os
parlamentares podem acatar a recomendação do TCU e reprovar as contas ou votar
pela aprovação.
3ª)- Eventual rejeição no Congresso
Se as contas do
governo forem rejeitadas nessas votações, a presidente Dilma Rousseff pode ser
alvo de um processo de impeachment, caso fique configurado que ela cometeu
crime de responsabilidade.
4ª)- Aprovação no Congresso com ressalvas
Outro cenário
possível é a aprovação com ressalvas. Esse tipo de resultado no Congresso pode
ocorrer, por exemplo, caso os parlamentares optem por aprovar o balanço. Na
prática, as ressalvas não implicam punições significativas. Elas indicam,
apenas, que há problemas a serem corrigidos na gestão fiscal para o próximo
ano. Esta tese é defendida pelo governo federal.
Na opinião do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal
(STF), Carlos Velloso, a tendência é de que os senadores e deputados sigam a
recomendação do tribunal.
“O TCU não tem decisão final. Eles emitem um parecer que deve ser, e é, considerado pelo Congresso.
Seria uma leviandade o Congresso aprovar as contas caso o tribunal vote pela
rejeição”, explicou o ministro aposentado.
O que são as 'pedaladas'
As chamadas “pedaladas
fiscais”, um dos itens questionados pelo TCU, consistem no atraso dos repasses
para instituições financeiras públicas do dinheiro de benefícios sociais e
previdenciários, como Bolsa Família, seguro-desemprego e subsídios agrícolas.
Esse tipo de atraso permite ao governo ter dinheiro em caixa por mais
tempo, mas obriga instituições como Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil a
usar recursos próprios para honrar compromissos. Para o TCU, a prática
configura "empréstimo" ao governo, o que estaria violando a Lei de
Responsabilidade Fiscal.
Segundo o processo no
tribunal, as “pedaladas” somam R$ 40 bilhões. Para auditores do TCU, os atrasos
nos repasses e a não contabilização das dívidas com os bancos públicos
contribuíram para “maquiar as contas públicas”, inflando o chamado superávit
primário (economia para pagar juros da dívida pública).
Desde que ficaram
constatadas as manobras das pedaladas, o governo adotou a estratégia de
argumentar que os atrasos no repasse de recursos são regulares e que a prática
não é nova, tendo sido adotada desde 2001, ano em que o país era governado por
Fernando Henrique Cardoso.
Impeachment
Caso as contas de
Dilma sejam rejeitadas pelo Congresso, há possibilidade de setores da oposição
darem início a um processo de tentativa de impedimento da presidente, alegando
crime de responsabilidade.
Apesar disso, a tese pode ser enfraquecida pelo fato de que a prática
das “pedaladas” foi identificada no primeiro mandato de Dilma, e não no atual.Para
o ministro Carlos Velloso, o fato de Dilma ter sido reeleita pode fazer com que
ela sofra um impedimento. “Mas essa tese não é unânime”, ressalvou. “A
Constituição foi escrita quando não existia a reeleição. Depois veio a emenda
que a possibilitou. Essa situação de reprovação nas contas no último ano do
primeiro mandato ficou em aberto na legislação. Na reeleição, esta questão não
está bem tratada”, explicou o ministro.
Análise 'política'
Desafeto declarado do
Palácio do Planalto, o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ),
afirmou, há alguns meses, que a análise das contas públicas, em especial
das “pedaladas fiscais”, será “política”, e não técnica, como defende o
governo. Cunha ressaltou que a decisão “técnica” caberá aos ministros
do TCU, e que a decisão final sobre a aprovação ou não das contas do governo
caberá ao Legislativo, que fará uma análise política.
Papel do TCU
A Constituição de
1988 conferiu ao TCU o papel de auxiliar o Congresso Nacional no exercício do
controle externo. Entre as competências constitucionais estão:
1)- Apreciar as
contas anuais do presidente da República.
2)- Julgar as contas
dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores
públicos;
3)- Realizar
inspeções e auditorias por iniciativa própria ou por solicitação
do Congresso Nacional.
4)- Fiscalizar a
aplicação de recursos da União repassados a estados, ao Distrito Federal e a
municípios.
5)- Também cabe ao
tribunal determinar a correção de ilegalidades e irregularidades em atos e
contratos.
6)- Emitir
pronunciamento conclusivo, por solicitação da Comissão Mista Permanente de
Senadores e Deputados, sobre despesas realizadas sem autorização.
7)- Apurar
denúncias apresentadas por qualquer cidadão, partido político, associação ou
sindicato sobre irregularidades ou ilegalidades na aplicação de recursos
federais.
Fonte: G1 noticias
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