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Chamar a Deus de Pai e Paizinho é exclusivo do Cristianismo?

Written By Beraká - o blog da família on quarta-feira, 9 de março de 2016 | 11:03







Por *Francisco José Barros Araújo 




Cristo foi mais longe ao Chamar Deus não só de Pai, mas de "ABA" (Paisinho), isto sim, em nenhuma outra religião encontramos tal expressão! Mas o termo Pai referente a Deus, é encontrado sim no Antigo Testamento e em outras religiões. Ao chamar a Deus de ABA, Jesus se sentiu de tal forma e com tal intensidade vinculado a Deus, que só conseguiu expressar-se utilizando esta carinhosa categoria de filiação e paternidade relacional. Ele se dirige a Deus chamando-o de Aba, palavra Aramaica que os tradutores não ousaram tocar, e não conseguiram encontrar outra para expressar todo seu conteúdo. Aba, ou baba nas línguas semíticas, papa nas latinas, dada nas anglo-saxônicas é a forma carinhosa com que a criança chama seu pai, vocábulo primitivo, que o nenê balbucia. Ab = Pai, portanto aba é como uma intensificação do termo pai = papai, ou paizinho.





Veja a conjunção de alguns nomes encontradas no A.T.






-Abimeleque = Meu pai é rei.




-Absalon = Filho da paz , ou meu pai é paz.





Ao invés de a verem apenas como uma tradução do aramaico para o grego, alguns veem no uso de "Ab·bá" e de "Pai" juntos, primeiro, o crédito, a confiança e a submissão de um filho, seguidos pelo apreço maduro da relação filial e das suas responsabilidades. Na Bíblia, nos tempos apostólicos, os cristãos utilizavam o termo "Ab·bá" em suas orações a Deus.A palavra "Ab·bá" veio a ser aplicada como título de honra aos rabinos judeus, nos primeiros séculos da A.D., e é encontrada como tal no Talmude Babilônico. Quem atuava na qualidade de vice-presidente do Sinédrio judaico já tinha o título de ’Av, ou Pai, do Sinédrio. Em períodos posteriores, este título foi também aplicado aos bispos das igrejas cóptica, etíope e síria, e, mais especificamente, tornou-se o título do Bispo de Alexandria, tornando-o assim o "papá" ou "papa" daquela parte da igreja oriental. 





ATENÇÃO! As palavras portuguesas "abade" e "abadia" derivam ambas da palavra aramaica "ab·bá".






Velhas orações em inúmeras religiões antigas dão a Deus o epíteto de pai (Vamos nos contentar com dois estoicos, trezentos anos antes do Novo Testamento: Arato e Cleanto)







-O primeiro (Arato), diz em seus Phainumena: “Que todo cântico comece por Zeus!… Tudo está cheio de Zeus… temos todos necessidade de Deus. Tanto é, que somos de sua raça. E ele como pai muito amoroso, dá aos homens sinais propícios…(cita, então, os tempos e estações do ano, que orientam a agricultura). Salve, Pai, soberano maravilhoso, poderoso benfeitor dos mortais”.




-Cleanto, em seu Hino a Zeus, saúda “o mais glorioso dos Imortais”, “onipotente”, “autor da Natureza”, descreve poeticamente sua presença e atuação na criação e governo do universo e, depois, pede: “Salva os homens da triste ignorância, expulsa-a, ó Pai, para longe do nosso coração”




É de notar, apenas, que essas invocações a Zeus como pai estão dentro do clima emocional da poesia e da oração, e são justificadas pelas afirmações de sua atuação na criação, na origem e governo do universo. Escudadas no conceito de Zeus-Criador, essas afirmações, pouco frequentes e parecendo ousadas, estão distantes, bem distantes, da nossa intimidade com o “Pai do céu”.




E O TERMO PAI NO ANTIGO TESTAMENTO?









1)- No Antigo Testamento Deus parece também ser chamado de pai por ser o criador. Assim Dt 32,6: “Não é Ele teu pai, teu criador? Ele próprio te fez e te firmou”. Só que estamos num contexto de eleição do povo de Israel: por ter escolhido e formado, criado, aquele povo, firmando com ele uma aliança, Iahweh é o seu pai, o pai do povo eleito.



2)- Em Is 64,7 o apelativo pai está em paralelo com oleiro. E o trabalho do oleiro, além de lembrar o ser humano feito do barro, traz consigo a ideia de um trabalho artístico, cuidadoso, carinhoso. O contexto todo, porém, dessa oração é um pedido de perdão, misericórdia, complacência, diante da situação miserável do pós-exílio. Deus é o pai carinhoso que nos fez seu povo, e nós, miseráveis, estamos em suas mãos como o barro nas mãos do oleiro.




3)- Pouco antes e no mesmo contexto, em Isa 63,16, duas vezes Iahweh é chamado de pai, aqui em paralelo com go’el, libertador, restaurador. E há uma comparação com os antepassados, Abraão, Israel: mesmo que eles não tomem conhecimento de seus filhos, Iahweh, não; ele é um pai amoroso, compassivo, preocupado com seus filhos.



4)- Em Jr 3,4, mesmo em se tratando de crítica à oração vazia, Deus “pai” está em paralelo com amigo ou companheiro de infância. Pai é Iahweh, o Deus presente, que aconteceu na história do povo, cuja infância é o êxodo. E o versículo 19 do mesmo capítulo confirma a alusão ao êxodo: Deus é pai, porque escolheu o povo e fez uma aliança com ele, muitas vezes infiel como a mais desavergonhada das esposas.




A MUDANÇA DE RELAÇÃO COM A "TEOLOGIA DA MONARQUIA DAVIDICA"











Quando a "teologia da monarquia" fez com que a aliança de Iahweh não fosse mais com o povo como um todo, mas com Davi, o rei, este passou a ser o Filho de Deus. “Tu és o meu filho, hoje eu te gerei”. Nessa linha temos 2Sm 7,14; 1Cr 28,6 e tantos outros paralelos. Deus, agora, é pai do rei, a ponto de “Filho de Deus” vir a se tornar um título messiânico.




O povo, porém, especialmente sua parte mais sofrida, não esqueceu que Deus é pai:




1)- Em Jeremias 31,9, prometendo a volta do exílio, Deus diz: “sou um pai para Israel, Efraim é o meu primogênito”. E a passagem não fica distante da promessa de uma nova aliança (31,31ss).



2)- No Salmo 68,6 Ele é “pai dos órfãos e defensor das viúvas”. E no mais recente texto do Antigo Testamento a chamar Deus de pai, (Eclo 51,10) ele é assim chamado para que não abandone o fiel “no dia da provação, no tempo dos orgulhosos…”. O texto grego (o canônico) está corrompido, mas o texto hebraico, descoberto em fragmentos a partir de cem anos atrás, diz: “Iahweh, tu és o meu pai, porque és o herói que me salva”.




O TERMO PAI NO NOVO TESTAMENTO:










É evidente que não podemos analisar como fizemos com relação ao Antigo, a quase totalidade das passagens onde o NT chama a Deus de pai. Só em João temos 118 vezes a palavra “pai” aplicada a Deus, e em Mateus, 45. Pode-se dizer mesmo que é esta a grande novidade do Novo Testamento!




deus Pai nos escritos de Paulo:









Paulo foi, sem dúvida, o primeiro autor do NT. Escreveu na década de 50, enquanto o mais antigo dos Evangelhos, o de Marcos, foi escrito quase vinte anos depois. O primeiro escrito de Paulo e, portanto, do NT é, segundo a grande maioria dos autores, a Primeira Carta aos Tessalonicenses. Aquela pequena comunidade de trabalhadores braçais de origem gentia e ainda mal evangelizada (1Ts 3,10) é para Paulo “a igreja dos tessalonicenses que aderiu a Deus como pai”. A expressão “em Deus Pai” a nós soa vaga e de pouco sentido; é, porém, o que caracteriza aquele grupo humano — diríamos hoje — como comunidade eclesial. São esses tessalonicenses que, abandonando os ídolos (1Ts 1,9), passaram a cultuar o Deus vivo e verdadeiro. Aderiram a Deus como pai e ao Messias Jesus como Senhor. Que teria a ver uma coisa com outra: abandonar os ídolos com aderir ao Deus vivo, Deus vivo com Deus Pai, Deus Pai e Jesus como Senhor? O único Senhor, o verdadeiro Imperador, para esses tessalonicenses, é agora o “rei” crucificado, o messias Jesus. Assim também, aderir a Deus como pai não é ficar numa frase feita, mas significa que Deus, Pai daquele crucificado, pode ser também nosso Pai. Isso é uma revolução na cabeça daqueles pobres trabalhadores braçais que, além do mais, ainda sonhavam com o mito de Cabiros, o defensor dos pobres, assassinado, que voltaria um dia para restabelecer a justiça.Logo adiante, no v. 3 Paulo volta a insistir que Deus é nosso pai e, no v. 4, que somos irmãos — e os cristãos tessalonicenses são queridos por Deus, que os escolheu. Somos filhos escolhidos, não nascidos ao acaso ou pela lei natural.Essa escolha se comprova para os tessalonicenses não a partir de uma tese ou de uma definição dogmática, mas a partir dos acontecimentos: o que ocorre com eles é o mesmo que ocorre com Paulo, com as comunidades da Judeia, e com Jesus.Jesus é o Filho fiel ao Pai que, por esta fidelidade, foi perseguido e morto; mas Deus Pai interveio, ressuscitando-o dos mortos como Messias e Senhor. Aos seus discípulos vai ocorrer o mesmo que aconteceu com ele, até que, numa intervenção final, ele nos livre da “ira futura”. Paulo é, primeiro, pequenino, criança (1Ts 2,7), infantil, filho totalmente dependente do pai. Obediente, ele se torna mãe ou ama de leite, que, com o leite, sofre, é perseguido, dá a própria vida aos filhos (2,7b-10) e, aí então, ele se torna apóstolo de Cristo, com autoridade de pai (2,11-12).Também os cristãos tessalonicenses acolheram com entusiasmo e alegria a Palavra, tornaram-se filhos de Deus e irmãos de Paulo; logo vieram as dificuldades e perseguições, mas Deus interveio fazendo com que sua adesão sincera, alegre e entusiasta ao Messias Jesus fosse evangelizadora de outras comunidades e, assim, eles se tornaram missionários (1,4-10). O mesmo ocorreu com os cristãos da Judeia (2,3-16) e deverá ocorrer em outros lugares da Macedônia e da Acaia.Na Igreja de Jesus Cristo ninguém pode chegar de paraquedas com a autoridade de pai (padre). Primeiro tem de ser criança, filho obediente; depois, sacrificar-se e sofrer como mãe ou ama de leite, que dá do seu sangue para alimentar o filho. Depois, então, poderá ter autoridade de pai, que anima e orienta, fica feliz com o crescimento do filho; diferente de um “enfant gâté” ou um déspota, cheio de vontades.Não é buscando alimento espiritual em movimentos disponíveis no shopping religioso atual, que a pessoa se tornará capaz de contribuir para a formação de comunidades verdadeiramente eclesiais; é bebendo do próprio poço, buscando viver a mesma fé que tem por obrigação fomentar. Senão, poderemos estar querendo alimentar com maionese a máquina de fazer tijolos.Nos outros escritos autenticamente paulinos, Deus é chamado de Pai nas saudações iniciais, com fórmulas mais ou menos estereotipadas, mas que lembram a correspondência entre “o Messias Jesus” e “Deus, nosso Pai”. O mesmo paralelismo aparece também em 1Cor 8,6.No início da ação de graças de 2Cor — introdução de uma carta de reconciliação com a comunidade após fase de grande tensão—, Paulo se refere ao “Pai das misericórdias”, ou Pai misericordioso, e “Deus de toda a consolação” ou Deus que consola plenamente.Na saudação da polêmica carta aos Gálatas, Paulo se diz Apóstolo não por ninguém outro que “por Deus Pai, que ressuscitou o Messias Jesus”, confirmando que Deus pode se dizer Pai, porque ressuscitou o pobre e massacrado Jesus, fazendo dele o Messias. O mesmo se vê na carta aos Filipenses (2,11), onde a exaltação de Jesus como Senhor é para (ou na ou com) a glória de Deus Pai. E também se vê na consumação final (1Cor 15,24), quando o Ressuscitado, depois de submeter a si todas as coisas, entrega o Reino a Deus Pai.Em Gálatas e em Romanos temos dois textos clássicos que conservam o vocativo aramaico Abbá, que quer dizer “Papai”, usado, sem dúvida, nas orações dos cristãos primitivos.O de Gálatas (4,3-7) está orientado para a afirmação de que o cristão é filho, portanto livre e herdeiro. Não é escravo, como escravos dos ídolos tinham sido os cristãos gálatas, e escravos da Lei estavam querendo se tornar. A escravidão à idolatria ou à Lei, anterior à chegada de Cristo, Paulo a compara à situação da criança (népioi), filho e herdeiro, mas obrigado a obedecer ao pedagogo até a idade determinada pelo pai. Jesus é o Filho, livre e herdeiro, mas fiel e obediente, nascido de uma mulher e submisso à Lei, para da Lei nos libertar, para marcar o momento determinado pelo Pai — e para alcançarmos a autonomia. E somos filhos, não por uma lei, um decreto, mas porque recebemos o espírito do Filho.Em Romanos (8,14-17), Paulo está falando do espírito, que se opõe à Lei, e, então volta, em outra perspectiva, o tema da escravidão e da liberdade: “…não recebestes espírito de escravos, mas de filhos, com o qual clamamos: Abbá, isto é, papai!”. Conclusão: somos filhos e herdeiros com Cristo, junto com quem enfrentamos os sofrimentos e somos glorificados (8,18-19).Portanto,chamar a Deus de Pai, ser filho de Deus, significa ter o espírito do Filho, fiel e obediente, capaz de dar a vida. Significa ser livre, não havendo necessidade de um elenco de leis que ensinem a agradar o pai. Coração de filho não precisa aprender a agradar o pai. Muita formalidade até provoca desconfiança.



Deus Pai em Mateus: Entre os sinóticos Mateus é o que em maior número de vezes dá a Deus o apelativo de Pai !










Aqui vamos acompanhar Mateus fazendo uma ou outra comparação sinótica que, ao mesmo tempo, mostre outras perspectivas e deixe mais clara a acentuação própria de Mateus. Autor e comunidade do primeiro Evangelho não escondem seu enraizamento judaico. E o judeu fervoroso só se refere a Deus, a quem é dada a glória pelos séculos, com o máximo de respeito — o que se exige certa distância. Assim faz Mateus quando se refere a Deus, seja como pai de Jesus Cristo, seja como pai dos discípulos. Das 19 vezes que o Evangelho de Mateus chama a Deus de Pai de Jesus Cristo, em 8 cria-se distância respeitosa com a expressão “que está no céu”. É sempre Jesus que está falando em se fazer a vontade (7,21; 12,5), confessar, negar (10,32-33), ver a face (18,10) do “seu Pai que está no céu”, ou, então é o “meu Pai que está no céu” quem revelou (16,17), quem não plantou (15,13), quem fará como o senhor do servo perdoado que não perdoou (18,35).A maioria dos casos não tem paralelos em Marcos e Lucas.  Confessar ou negar “diante do meu Pai que está no céu” de Mt 10,32-33, em Lucas é confessar ou negar “diante dos anjos de Deus”. Se em 12,21, irmão de Jesus é quem faz a vontade do “meu Pai que está no céu”, em Mc e Lc irmão é quem pratica a vontade ou a palavra “de Deus”.A expressão “Pai, Senhor do céu e da terra” deve ser própria da Quelle, porque o trecho todo (Mt 11,25-27), ação de graças porque o Pai esconde “estas coisas” aos sábios e criteriosos, mas as revela aos népioi, pequeninos, crianças, se encontra transcrito, palavra por palavra, tanto em Mt como em Lc. No Evangelho de Mateus, é só aqui que Jesus se dirige a Deus chamando-o simplesmente de “Pai”, com a intimidade do “Papai” correspondente ao Abbá aramaico. E só nesse trecho se encontram 5 referências a Deus como Pai de Jesus Cristo, chamado de Filho que bem conhece o Pai e o revela. O Filho é o primeiro népios, pequenino, criancinha, porque é só a esses que o Pai se revela, e só o filho pode revelá-lo.As 6 vezes restantes em que Deus é chamado Pai de Jesus Cristo estão num contexto pascal: “Meu Pai, se é possível, afasta de mim este cálice!” (26,39); “para meu Pai enviar doze legiões de anjos…” (26,53); “até beber o vinho novo no reino…” (26,29); “vinde benditos… para o Reino…” (25,24); “sentar-se ao meu lado é para aquele para quem foi preparado por meu Pai” (20,23).Nesse último caso, Marcos deixa subentendido o nome de Deus com o simples emprego da voz passiva sem indicar o agente. Na oração no horto das Oliveiras diz: “Abbá, Papai, se é possível”. E Lucas faz o mesmo, apenas não citando a palavra em aramaico. Vê-se que, como bom judeu, Mateus tem receio de uma intimidade muito grande, mas insiste mais que Marcos e Lucas em que Deus é o pai de Jesus e que Jesus é filho de verdade, obediente e fiel.




O Pai nosso (que não é somente meu, mas nosso, e nos faz irmãos):










É muito próprio de Mateus dizer que Deus é nosso Pai. O Evangelho de João chama a Deus de Pai 118 vezes contra 45 vezes de Mateus, porém sempre Pai de Jesus ou simplesmente o Pai, só em 20,17 diz “meu Pai e vosso Pai”. Em Mateus, todavia, Deus é chamado de “nosso Pai” com a mesma frequência com que é chamado “Pai de Jesus”.A expressão mais frequente é “vosso Pai que está no céu”, para não negar a origem judaica e a distância respeitosa.É a prática cotidiana do discípulo que glorifica o Pai (5,16); ser verdadeiro filho dele significa não fazer discriminações (5,45), e nisso precisamos ser perfeitos como ele (5,48); dele é que se deve esperar recompensa, a ele é que se deve procurar agradar, não aos homens (6,1); é ele quem alimenta as aves e sabe quais as nossas necessidades básicas (6,26.32); a vontade dele é que não se perca nem um dos pequeninos (18,14). Ele está também no escondido e vê o escondido (6,4.6.18).Umas cinco vezes aparece simplesmente “o vosso Pai” sem outra conotação. Ele sabe de que precisamos antes de qualquer oração (6,8); ele perdoa a quem perdoa e não perdoa quem não perdoa ao companheiro (6,14-15); é o espírito do vosso Pai que falará por vós (10,20); sem ele nem um pardal cai ao chão (10,29) e é no Reino do vosso Pai que os justos brilharão (13,43).









Ser filho de quem é Pai de todos é chegar também a ser pai para todos, caprichando para não deixar ninguém esquecido ou discriminado! É batalhar para que se realize sua vontade, o sonho, aqui na terra, de um mundo sem desigualdades — que a gente faça vir o seu Reino, pois isto é que santifica o seu nome. Pão? Basta pedir o de hoje — guardar para amanhã pode provocar a falta para alguém hoje. Ele alimenta até as aves — e sabe muito bem. Pensamos demais em nós mesmos e pouco no sonho dele. Estamos sempre devendo — mas Ele perdoa, se nós nos perdoamos. A tentação, porém, continua forte, só a confiança nele nos livra dela. Mateus chega ao máximo quando proíbe chamar de “pai” a quem quer que não seja Deus. Está no capítulo 23, nas grandes inventivas de Jesus contra o rabinismo farisaico. Essas palavras poderiam fazer um bem enorme, se fossem meditadas com maior frequência pelos dirigentes eclesiásticos de hoje.




É evidente que Jesus não proíbe chamar de pai ao pai natural, (mesmo que este seja um pai desnaturado!)










Ele diz em Mat 23,1-15: "Então falou Jesus à multidão, e aos seus discípulos, Dizendo: Na cadeira de Moisés estão assentados os escribas e fariseus. Todas as coisas, pois, que vos disserem que observeis, observai-as e fazei-as; mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não fazem; Pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; eles, porém, nem com seu dedo querem movê-los; E fazem todas as obras a fim de serem vistos pelos homens; pois trazem largos filactérios, e alargam as franjas das suas vestes, E amam os primeiros lugares nas ceias e as primeiras cadeiras nas sinagogas, E as saudações nas praças, e o serem chamados pelos homens; Rabi, Rabi. Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi, porque um só é o vosso Mestre, a saber, o Cristo, e todos vós sois irmãos. E a ninguém na terra chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus. Nem vos chameis mestres, porque um só é o vosso Mestre, que é o Cristo. O maior dentre vós será vosso servo. E o que a si mesmo se exaltar será humilhado; e o que a si mesmo se humilhar será exaltado. Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que fechais aos homens o reino dos céus; e nem vós entrais nem deixais entrar aos que estão entrando. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que devorais as casas das viúvas, sob pretexto de prolongadas orações; por isso sofrereis mais rigoroso juízo. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o fazeis filho do inferno duas vezes mais do que vós." Portanto, dentro do contexto real e não hermenêutico, trata-se do título de “Pai” que se davam os rabinos como diretores espirituais.




Eles estariam os “endeusando”? E quem faz questão de ser chamado de “Padre”, estará se endeusando também?







 



Para responder a esta pergunta devemos entender que a Bíblia não deve ter suas letras retiradas do contexto para qualquer interpretação. Este é um princípio básico para a hermenêutica bíblica. Como dizem “texto fora de contexto é pretexo”, e este é um dos exemplos de textos fora do contexto, usados e ensinados pelos protestantes para tentar polemizar a Igreja Católica. Porém, mais uma vez, sem sucesso. Vejamos porque:Jesus, nesta citação, ao invés de estar proibindo qualquer um de chamar alguém de pai, está tratando de um assunto bem diferente. Ele está falando a respeito da hipocrisia dos fariseus e doutores da lei, que punham Deus de lado e se colocavam em Seu lugar. Vejamos os versículo 6 e 7 deste mesmo capítulo:“6Gostam de ocupar os primeiros lugares nos banquetes e os primeiros assentos nas sinagogas; 7de serem saudados pelas pessoas na rua e serem chamados mestres...”Jesus está explicando em quê sentido não se deve chamar ninguém de Pai. Se tomarmos este versículo fora do contexto, e de forma literal, estaremos criando um grande problema, pois nos Evangelhos encontramos muitas citações onde é usado este título de pai:

 

 

 

Mt 10,37: “Quem amar seu pai ou sua mãe mais que a mim, não é digno de mim; quem amar seus filho ou sua filha mais que a mim, não é digno de mim”

 

 

 

Mt 15,4: “Pois Deus mandou: sustenta teu pai e tua mãe. Aquele que abandona seu pai ou sua mãe é réu de morte”.

 

 

 

Mt 19,5: “E disse: por isso, um homem deixa seus pais, junta-se à sua mulher e os dois se tornam uma só carne“.

 

 

 

Mt 19,9: “Honra o pai e a mãe, e amarás o próximo como a ti mesmo“.

 

 

 

Mt 19,29: “E todo aquele que por mim deixar casas, irmãos ou irmãs, pai ou mãe, mulher ou filhos, ou campos, receberá cem vezes mais e herdará a vida perpétua“.

 

 

 

Lc 12,53: “Opor-se-ão pai a filho e filho a pai, mãe a filha e filha a mãe, sogra a nora e nora a sogra”.

 

 

 

Lc 14,26: “Se alguém vem a mim e não põe em segundo lugar seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e irmãs, e até sua própria vida, não pode ser meu discípulo“.

 

 

 

Ex 20,12: E não podemos esquecer do mandamento divino: “Honra teu pai e tua mãe, para que teus dias se prolonguem sobre a terra que te dá o Senhor, teu Deus”.

 



 






 

ATENÇÃO! Dessa forma nós podemos perceber que Jesus não se apõe a títulos, mas à forma como estes são utilizados! Os padres católicos são nossos pais na fé, mas nunca nós ou eles alegam ser substitutos de Deus ou se colocam posição de soberania como faziam os fariseus e doutores da lei a quem Jesus está se referindo em Mt 23,19. Vemos que o apóstolo Paulo chama a si mesmo de pai dos coríntios:“Não vos escrevo isto para vos envergonhar, mas para admoestar-vos como a filhos queridos. Pois, embora tenhais como cristãos dez mil instrutores, não tendes muitos pais. Anunciando a boa notícia, eu vos gerei em Cristo“. (1Cor 4,14-15).Da mesma forma nós temos os nossos sacerdotes. São nossos pais porque nos geraram em Cristo. O padre Mitch Pacwa na revista apologética católica norte-americana This Rock de janeiro de 1991, no artigo intitulado Call no Man Father, cita o seguinte:“Existem cerca de 144 ocasiões no Novo Testamento onde o título de pai é usado para outro que não seja Deus. É utilizado para os patriarcas de Israel, para os pais de família, aos líderes judeus e aos líderes cristãos”.

 

 

 

Para provar como este argumento protestante não é correto, vemos o exemplo dentro do próprio protestantismo:

 

 

 



Os ministros protestantes são chamados “pastores”. Mas nós sabemos que somente Jesus é o “bom pastor”: “Eu sou o bom pastor: conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem, como o Pai me conhece e eu conheço o Pai; e dou a vida pelas ovelhas. Tenho outras ovelhas que não pertencem a este redil; a estas tenho que guiar, para que escutem a minha voz e se forme um só rebanho com um só pastor” (Jo 10,14-16).Entretanto ninguém se revolta contra este título utilizado pelos pastores. É porque a intenção não é retirar o título de pastor de Jesus, mas dividir de forma subordinada o sacerdócio de Jesus. Da mesma forma os padres e bispos da Igreja Católica. Todos são chamados de pais no sentido menor da palavra, não no sentido último, como o de Pai todo-poderoso, mas no sentido subordinado à missão de Cristo na terra: fazer discípulos, gerar filhos de Deus. Não há a menor pretenção de tomar o lugar de Deus, como faziam os fariseus, mas dividir, subordinadamente, o ministério de Jesus.

 



 

Interpretar a Bíblia de forma literal e pessoal é cair no grave e perigoso risco do FUNDAMENTALISMO!

 

 

 

Muitos hoje em dia julgam possuir o Espírito Santo assim que adentram em uma igreja ou seita que adere ao princípio do livre-exame, e com isso conhecem, desde então, todos os mistérios bíblicos e, portanto, não há erro em suas interpretações, mesmo contraditórias entre si. Porém é isso que está levando à desestruturação da mensagem do Evangelho: a divisão no cristianismo, fruto da desobediência e do indivudualismo. Santo Agostinho um dos padres do cristianismo primitivo, dizia:




“Não somente uma parte da Escritura diz, mas toda a Escritura é que diz”.

 

 


*Francisco José Barros Araújo – Bacharel em Teologia pela Faculdade Católica do RN, conforme diploma Nº 31.636 do Processo Nº  003/17





BIBLIOGRAFIA:




-LÉVI, Israel: The Hebrew Text of the Book of Eclesiasticus, E. J. Brill, Leiden, 1904, reimpressão de 1951.

-FERREIRA, Joel Antônio: Primeira Epístola aos Tessalonicenses, Col. Comentário Bíblico, Metodista-Vozes-Sinodal, 1995, pp. 27-31.


-PATTE, Daniel: Paulo, sua fé e a força do Evangelho, Paulus, São Paulo, 1987.






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29 de junho de 2017 às 02:54

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Neste Apostolado APOLOGÉTICO (de defesa da fé, conforme 1 Ped.3,15) promovemos a “EVANGELIZAÇÃO ANÔNIMA", pois neste serviço somos apenas o Jumentinho que leva Jesus e sua verdade aos Povos. Portanto toda honra e Glória é para Ele.Cristo disse-nos:Eu sou o caminho, a verdade e a vida e “ NINGUEM” vem ao Pai senão por mim" (João14, 6).Defendemos as verdade da fé contra os erros que, de fato, são sempre contra Deus.Cristo não tinha opiniões, tinha a verdade, a qual confiou a sua Igreja, ( Coluna e sustentáculo da verdade – Conf. I Tim 3,15) que deve zelar por ela até que Ele volte(1Tim 6,14).Deus é amor, e quem ama corrige, e a verdade é um exercício da caridade. Este Deus adocicado, meloso, ingênuo, e sentimentalóide, é invenção dos homens tementes da verdade, não é o Deus revelado por seu filho: Jesus Cristo.Por fim: “Não se opor ao erro é aprová-lo, não defender a verdade é nega-la” - ( Sto. Tomás de Aquino).Este apostolado tem interesse especial em Teologia, Política e Economia. A Economia e a Política são filhas da Filosofia que por sua vez é filha da Teologia que é a mãe de todas as ciências. “Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao vosso nome dai glória...” (Salmo 115,1)

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