A estratégia do PT
para se defender das denúncias de corrupção que apodreceram o partido pode
criar até um precedente jurídico. Os petistas não negam que tenha havido roubo
nos governos Dilma e Lula. Não. Eles se contentam em provar que houve roubo
também no governo Fernando Henrique e nos governos estaduais de outros
partidos. Vemos muita gente do PT vibrando por
Agripino (RN) ter sido flagrado em esquema de corrupção. Como se isso
justificasse seus esquemas de Corrupção, infelizmente tornou-se um partido que não
tem vida ética para mostrar se põe agora a tentar diminuir seus pecados, não
tirando a trave de seus olhos, mas enxergando apenas cisco nos olhos dos
outros, acho que já vimos este filme. Já estou vendo até os advogados do país se
valendo doravante desta jurisprudência:
_ É verdade, meritíssimo, o meu cliente é traficante de drogas. Mas o
Elias Maluco também é!
_ Sim, senhores do júri, o meu cliente matou, mas 92% dos assassinatos
no Brasil não são resolvidos. Por que querem resolver justamente este? A quem
interessa condenar o meu cliente?
Compreensível o
esforço dos petistas. O PT surgiu como uma bela ideia de que seria possível
fazer política ética. Lembro de uma entrevista do Cazuza para o Jô Soares no
final dos anos 80, em que ele falava com simpatia da “pureza” dos petistas, que
não aceitavam negociatas. Tal era o espírito do PT, ao ser fundado num
fevereiro como este, 35 anos atrás. Era essa pureza.
O PT ganhou o poder e perdeu a pureza
“De que adianta ganhar o mundo inteiro, se você perder a própria alma?”,
escreveu Marcos, citando Jesus. O PT perdeu a própria alma. Seria melhor não
ter conquistado a Presidência, melhor não ganhar o mundo inteiro. Ainda
teríamos a ilusão da ideia fundadora do PT: de que fazer política decente é
possível.Quando o PT se apresenta como um novo Adhemar de Barros, um rouba mas
faz do século 21, quando o PT se apresenta como um Robin Hood caboclo, que tira
dos ricos para dar aos pobres, quando o PT se justifica argumentando que rouba
porque todos roubam, só torna tudo mais triste e sombrio. Porque parece não ser
possível.
Antes os petistas
dignos reconhecessem que as coisas deram errado, que não saíram como eles
queriam, e tentassem de novo, de outra forma, não mais pelo PT. Porque o PT
acabou. O PT tomou o rumo de outras legendas históricas do Brasil. O velho PCB
de Prestes se liquefez com as contradições da União Soviética, o PTB de Brizola
hoje é um balcão de fisiologismos, o MDB de Simon virou uma geleia disforme, o
PDS se orgulhava de ser “o maior partido do Ocidente”, mas era sucedâneo da
Arena e hoje não existe mais nem como sigla, o PSDB surgiu como um seguidor da
moderna social-democracia europeia e se mostrou um servidor da plutocracia
paulista, e o PFL… Bem, o PFL sempre foi o PFL.
Hoje, o Brasil não precisa da ladainha supostamente
ideológica dos defensores do governo:
Ninguém mais acredita
nessa conversa de que há uma luta entre os representantes das elites versus os
representantes dos pobres. Todos sabemos que só há uma luta, no Brasil: a luta
pelo poder.Hoje, o Brasil não precisa de um bom governo, não precisa nem de um
governo competente. Só precisa de um governo honesto. Porque o brasileiro não é
um povo de corruptos, como querem fazer crer os interessados na relativização
da roubalheira. Corrupto é o governo do PT. Corruptos foram governos passados.
Porém, há petistas e
políticos de outros partidos tanto de esquerda, como direita e centro honestos.
Há muita gente dos outros governos que é honesta. A maioria das pessoas que
conheço é honesta. O povo brasileiro é tão honesto quanto qualquer povo do
mundo.O problema dos políticos desonestos e inescrupulosos é que vivem neste
mundo de corrupção e já endureceram suas conciências, e a corrupção passou a
ser algo natural, e dai acham que todos são corruptíveis iguais a eles.
O PT errou. Muitos
outros erraram. Mas a indignação do brasileiro com esses erros já basta para
mostrar que isso se tornou intolerável. Que nós iremos em frente. Que é
possível. Sim, é possível.
Obras sem projeto ou
com projetos precários, caras, superfaturadas, com contratos aditados por uma,
duas e sabe-se lá por quantas vezes. Boa parte delas atrasada, postergada,
paralisada. Ano após ano, o governo joga nos bolsos de alguns poucos os bilhões
de impostos dos muitos que trabalham e produzem riqueza, e que quase nada têm
de volta. Algo de dar engulho, de alimentar a desesperança.
Mas a indignação da
presidente Dilma Rousseff é o avesso disso. “EU ACHO UM ABSURDO PARAR OBRA NO
BRASIL”, disse, ao comentar a recomendação do Tribunal de Contas da União (TCU)
ao Congresso Nacional de suspender a remessa de recursos para sete obras, todas
elas com vícios graves, em que a ROUBALHEIRA CORRE SOLTA. Para Dilma, o que
importa é concluir o que for possível antes das próximas eleições. Em tom de desafio,
de quem defende a tese de que os fins justificam os meios, garantiu: “DE
QUALQUER JEITO, ESSA OBRA VAI FICAR PRONTA. E NÓS VAMOS INAUGURÁ-LA”. UMA
VARIANTE DO CLÁSSICO “ROUBA, MAS FAZ”, tão popular na política brasileira.
Obras na BR-448 A presidente se referia à BR-448, extensão de 22,5 quilômetros
entre Porto Alegre e Sapucaia do Sul, essencial para aliviar o tráfego saturado
da BR-116 na região metropolitana da capital gaúcha. Em abril, a obra custaria
R$ 530 milhões. Agora, já passa de R$ 1 bilhão. O TCU diz que R$ 91 milhões são
originários de falcatruas. Mas Dilma afirma que vai inaugurar a obra assim
mesmo. As terras do sul esperam outra obra que já nasce atiçando pulgas por
detrás das orelhas: a nova ponte sobre o Rio Guaíba, promessa de campanha. Como
não saiu do papel, a travessia ainda não é alvo do TCU. E, se não sofrer
embargos, deve ficar pronta em 2020. A estimativa em 2011 era de que a obra
custaria em torno de R$ 400 milhões. Hoje, ultrapassa R$ 900 milhões. Isso para
erguer uma ponte de menos de dois quilômetros. Mais de R$ 450 milhões por
quilômetro, VALOR QUASE TRÊS VEZES SUPERIOR AO DO QUILÔMETRO DA MAIOR PONTE DO
MUNDO, DE 42 QUILÔMETROS, CONSTRUÍDA ENTRE QINGDAO-HIAWANN, NA CHINA. Sobre as
outras seis obras – esgoto em Pilar (AL), ferrovia Caetité-Barreiras (BA),
Avenida Marginal Leste, Teresina (PI), Vila Olímpica de Parnaíba (PI), ponte
sobre o Rio Araguaia (TO-PA) e ferrovia Norte-Sul –, Dilma não bateu de frente.
Afinal, não tem chance de vê-las concluídas. Podem apostar: a culpa por
promessa não cumprida será do TCU, jamais de Dilma. Por sua vez, ela vai correr
para acelerar o que der a qualquer custo. Não pode correr o risco de seu
governo ser taxado como “ROUBA E NÃO FAZ”.
O petismo é o malufismo pós-romântico
Sempre que príncipes
do pensamento — e da gramática! — como Emir Sader saúdam o caráter
“progressista” do PT, eu e ele pomos a mão na carteira, por motivos diferentes.O petismo,
obviamente, não é e nunca foi, digamos, “progressista”. A turma é autoritária,
aí sim, e isso, obviamente, é outra coisa. O petismo é hoje um meio de vida. A
turma se apoderou do estado e não quer largar o osso de jeito nenhum. E aí vale
tudo.E, se vale tudo, vale também uma aliança com Paulo Maluf não apenas por
motivos pragmáticos. Ao contrário. Eles têm é orgulho mesmo.
O petismo é a profissionalização e APERFEIÇOAMENTO do malufismo. O
petismo é malufismo transformado num sistema. O petismo é o malufismo
pós-romântico, entendem? O malufismo ainda era aquela coisa que dependia do
talento individual para certas práticas, como Butch Cassidy e Sundance Kid.
Notem: há uma certa inocência perversa em Maluf, como alguém que não consegue
fugir à sua natureza. O PT é a racionalização da voracidade malufista.
A foto em que Lula e
Fernando Haddad posam — Emir Sader escreveria “pousam” — ao lado de Paulo Maluf
nos Jardins da Babilônia da mansão do notório político já fez história.
Alexandre Padilha deve achar que o chefão do PP em São Paulo é uma espécie de
talismã. E foi também ele em busca da sorte. Vejam as duas imagens, publicadas
pela Folha.
É isso aí. Em 2010, Marilena Chaui tentou explicar a aliança do PT com
Maluf. Segundo essa grande pensadora, Maluf não é de direita porque “sempre se
apresentou como engenheiro”. Para Marilena, quando o sujeito é engenheiro, não
é de direita; quando é de direita, não é engenheiro.Entenderam onde foi parar o
petismo? Dá pra descer mais? Sempre dá,pois já diz o velho ditado: “Nada é tão
ruim que não possa piorar.”
Adaptação do texto de Reinaldo Azevedo
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