Em julho de 2013 o
Governo Federal (por meio da Medida Provisória n° 621) lançou aquilo que chamou
de Programa “Mais Médicos”, uma suposta resposta aos clamores da população
quanto à precariedade do Sistema Único de Saúde.
Em resumo, a proposta do Governo Federal apresenta as
seguintes medidas:
a) Abertura de 10 mil
vagas de médico no interior, mediante remuneração de R$ 10 mil.
b) Aumento do curso
de medicina em 02 anos, os quais devem dedicados a trabalho no Sistema Único de
Saúde na área de atenção básica.
c) Aumento da oferta
de aproximadamente 11,5 mil vagas nos cursos de medicina nos próximos 04 anos.
d) Contratação de
médicos estrangeiros para suprir as vagas que não forem do interesse dos
médicos brasileiros.
A coisa toda não
passa de uma farsa, uma medida paliativa com o evidente objetivo meramente
oportunista, populista e eleitoreiro, como aconteceu com as natimortas
propostas referentes a uma suposta constituinte exclusiva ou a um plebiscito.
Todos aqueles que são brasileiros (e, principalmente, aqueles que, como eu,
foram às ruas) sabem que o que a população precisa é de um serviço de saúde de
qualidade, o que claramente não será atingido com esse programa oportunista.
Não sou médico, sou “advogado” e não pretendo esgotar o assunto, mas vou tentar
explicar o que está acontecendo, já que a coisa me parece elementar até para
aqueles cuja formação na área da saúde se resume ao bom senso somado às aulas
de biologia no ensino médio.
Para tanto, vamos por pontos:
1)- Em primeiro
lugar, o problema do acesso da população carente (e interiorana) ao direito à
saúde não será resolvido com a contratação de 10 mil médicos para trabalhar nos
rincões do país, ainda que se lhes pague a quantia prometida. O
problema do Programa de Saúde da Família não é salarial, mas sim de estrutura!
Coloque no Google a expressão “quanto ganha um médico no PSF” e confira por si
mesmo. Em Londrina (LONDRINA! Deixa eu repetir: LONDRINA!!!) os médicos recusam
mais do que isso. O que leva o Governo Federal a pensar que o salário do
Programa “Mais Médicos” é atrativo? Respondo: NADA!!! Trata-se de mero
jogo de cena, no qual ele finge que ofereceu oportunidades que previamente sabe
que serão recusadas, de modo a transferir a responsabilidade para os próprios
médicos. Por outro lado: se a cidade paga bem, por que os médicos não se
dispõem a trabalhar lá? Serão eles os médicos seres diferenciados, que baseiam
suas condutas por critérios exclusivamente vocacionais e sem pensar no
dinheiro? Teríamos que ser bastante tolos para pensar que sim! Se
determinadas cidades não são atrativas para os médicos brasileiros, não é por
pagarem mal ou porque eles não se importem com dinheiro, mas sim porque as
condições de trabalho oferecidas são sofríveis. Só para se ter uma
idéia, vejam se existe dificuldade para contratar juiz ou promotor para as
mesmas cidades, às vezes ganhando até menos. Então já percebemos a falácia na
defesa deste argumento por parte do governo.
2)-O segundo ponto do
programa é de um despropósito tão descarado, que eu tenho dificuldade até de
saber por onde abordar a coisa! Parafraseando um ex-professor meu, é um absurdo
esférico: por onde quer que você olhe, a coisa não se sustenta.
Em primeiro lugar,
qual o sentido de se alterar compulsoriamente o programa dos cursos de
medicina, se o modelo atual é plenamente funcional? Para quem não sabe, um
médico especializado com quem você se consulta percorre (em regra) a seguinte
via crucis até sentar na sua frente e se declarar sei-lá-o-quê:
06 anos de faculdade
de medicina (sendo os 02 últimos de internato – época em que se estuda a
prática dos diversos campos da profissão),
02 anos de uma
residência genérica (como pediatria ou clínica médica) e
02 anos de uma
residência especializada (como endocrinologia ou pneumologia).
Em resumo: são 10
anos de estudo, dos quais 02 são de internato (realizado de graça) e 04 são de
residência (realizada mediante uma remuneração de R$ 2.384,82 com uma carga de
60 horas semanais).
Sendo assim, no
modelo atual, você paga R$ 114.471,36 ao médico e ele trabalha efetivamente 72
meses em atividade prática, ou seja, sob o argumento (plausível) de que se
trata de ensino, pega-se um profissional que já teve toda a formação teórica e
se explora o seu trabalho por 06 anos (dos quais 04 com carga horária de 60
horas semanais!), mediante uma remuneração média de R$ 1.589,88.
A proposta genial da Dilma é a seguinte:
Sem qualquer motivo
razoável (já que o modelo atual funciona), exigir que os médicos trabalhem mais
dois anos de graça, já que vai haver uma extensão do internato. Olha, se isso não for uma medida inconstitucional e autoritária,
decorrente exclusivamente de uma mentalidade esquerdista que acredita que o
indivíduo deve existir em função da sociedade, então eu realmente não sei o que
possa ser.Pense
assim: será que o mundo não “seria melhor” se todos os estudantes da sua área
de formação específica também trabalhassem de graça por dois anos?
3)- O terceiro ponto
é aquele referente ao aumento significativo de vagas nos cursos de medicina do
país. Sinceramente, qual a possibilidade de uma medida assoberbada dessas dar
certo?Todo mundo sabe que medicina é um curso que depende de uma estrutura
bastante complexa para que possa ser de qualidade, tanto que talvez seja o
curso para o qual se fazem mais exigências para a criação de novas vagas. Isto
posto, como é que, de repente, 11,5 mil alunos a mais vão ingressas na
estrutura atualmente existente? Sim, porque, do alto da minha
inocência, estou supondo que os hospitais não vão surgir num passe de mágica,
né?
Ora, só existe uma resposta lógica, qual seja a de que o Ministério da
Educação vai reduzir significativamente as exigências para a abertura de novas
vagas nos cursos de medicina pela país, especialmente nas faculdades
particulares! O solução do Governo Federal, portanto, consiste em aumentar a
oferta de médicos com má formação.
Aqui não se trata de
especulação, todo mundo sabe o que aconteceu com o nível dos profissionais nos
casos em que houve expansão acelerada e exagerada de vagas, sendo o curso de
direito o exemplo mais emblemático. O que virá na seqüência? Uma “prova da OAB”
pra evitar que médicos despreparados causem danos irreversíveis à saúde das
pessoas? Se sim, então o plano do Governo Federal tem um viés perverso, na
medida em que pretende permitir que os médicos estrangeiros contornem a
avaliação, ao mesmo tempo em que nos proporciona uma geração de médicos que
precisarão se submeter a ela.
Por fim, falemos da “importação” de médicos estrangeiros, começando por
destacar que não é proibido que qualquer pessoa formada em medicina no exterior
exerça a atividade médica no Brasil.
Para tanto, basta que
ela revalide o seu diploma, em uma das universidades públicas competentes para
tanto. No caso específico dos médicos, tal revalidação é condicionada à
aprovação ao Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos – REVALIDA,
obrigação que continuará a existir para os médicos formados no estrangeiro, com
exceção daqueles que se dispuserem a trabalhar no Programa “Mais Médico”, que
serão dispensados de avaliação.
Vejam bem: não se
trata de que os médicos estrangeiros serão submetidos a uma prova mais simples,
mas sim de que eles não serão submetidos a prova nenhuma. Nesse ponto, a medida
provisória atualmente decretada é absolutamente clara, em seu artigo 10, §3°,
ao dizer que “a declaração de participação do médico intercambista no Projeto
Mais Médicos para o Brasil, fornecida pela coordenação do programa, é condição
necessária e suficiente para a expedição de registro provisório pelos Conselhos
Regionais de Medicina”. Ou seja, a solução do Governo Federal para melhorar a
qualidade da saúde é permitir que médicos formados no exterior exerçam a
medicina no Brasil, sem que se avalie a qualidade da formação deles.
Por tudo isso, fica
evidente não apenas que a presidenta Dilma está se valendo de uma tentativa
desesperada de recuperar a sua popularidade (com vistas a manter viva a esperança
da reeleição de seu partido, mas também que o Governo Federal não tem a menor
pretensão de resolver em definitivo o problema da saúde no Brasil.
Com o intuito de jogar pra torcida, o Programa “Mais
Médicos” se propõe a uma série de absurdos:
1)-Mascarar o fato de
que a falta de condições de trabalho é a principal causa da falta de médicos no
Programa de Saúde da Família – PSF.
2)- Criar um serviço
compulsório gratuito de 02 anos para os médicos, sem que isso tenha qualquer
valor pedagógico comprovado.
3)-Promover o
declínio da qualidade dos cursos de medicina, mediante a oferta súbita de vagas
sem o aumento correspondente de estrutura; e permitir que uma série de
estrangeiros despreparados (como mostram os resultados das últimas edições do
Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos – REVALIDA) exerça a medicina
no país.
4)- De quebra, a
cereja do bolo: vai intervir no mercado para promover a desvalorização de uma
das classes profissionais que mais investe em formação e que mais tem
relevância para a sociedade! Percebam a lógica da coisa: em vez de valorizar os
professores, elevando-os ao níveis dos médicos; a proposta é desvalorizar os
médicos.
Por fim, seria eu um cínico se trouxesse toda essa carga
de críticas e não apresentasse a solução que entendo adequada:
Há 20 anos, existe no
Brasil uma coisa que se chama desvinculação das receitas da União – DRU e que
permite que o Governo Federal gaste 20% do dinheiro que é arrecadado para a
seguridade social. Trata-se de arrecadação vinculada a 03 áreas: A da saúde, da
previdência social e da assistência social, e que acaba sendo desvinculada, ou
seja, não é gasta nas áreas específicas para as quais se realiza a tributação.
Agora, sabem quanto
isso significa por ano? Façam o seguinte: digitem vocês mesmos no Google a
seguinte pesquisa ” aprovada prorrogação da DRU e bilhões” e caiam pra trás.
Pronto, é isso mesmo que vocês leram aí.
A expectativa para
2013 é de que 62 bilhões de reais sejam objeto de desvinculação, ou seja, todo
esse dinheiro é arrecadado, deveria ser destinado à saúde e é acumulado pelo
Governo Federal.
Eis então a minha sugestão:
Vamos colocar em
pauta que sejam investidos em saúde os recursos que atualmente são objeto de
desvinculação das receitas da União – DRU! Não precisa criar novo tributo nem
aumentar a alíquota dos existentes, basta gastar o dinheiro arrecadado no local
onde ele seria devido.
Onde e como gastar?
Bom, aí eu deixo para o pessoal da área da saúde discutir e decidir! Para um
alienígena, acho que já falei até demais…
Sobre o
que precisa avançar, o secretário
de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Eider Pintodestacou a
necessidade de provocar os gestores estaduais e municipais a definir regras que
qualifiquem o atendimento na saúde pública.
“Não
basta ter o médico e deixá-lo de lado. Essa é a oportunidade para qualificar a
atenção básica, reduzir o tempo de espera e alcançar melhorias na saúde”,
explicou. Eider lembrou que o programa prevê a criação de 11,5 mil vagas de
graduação em medicina e de 12,4 mil vagas de residência médica.
“O
lugar de atuação desses médicos é no SUS. A expectativa é que a gente tenha 18
mil vagas de residência em 2018 – número de estudantes que deve se formar em
medicina neste ano”, disse. “É uma tarefa grande para a saúde e a educação.
Temos que preparar as urgências, as unidades básicas, os centros de atenção
psicossocial e de atenção domiciliar para receber esses médicos.”
O primeiro-secretário do Conselho Federal de Medicina
(CFM), Desiré Callegari, garante que a categoria vê o programa com muitas
críticas. Segundo ele, o Mais Médicos não resolve o problema da saúde pública
uma vez que tem prazo para começar e para terminar. Outra crítica da entidade é
que não há monitores ou responsáveis por avaliar a atuação dos profissionais no
Brasil. “A gente continua achando que um plano de cargos e salários seria muito
mais bem aplicado do que o dinheiro que se evade do país de uma forma que não
consideramos correta”, avaliou.
Callegari
se referiu ao programa como uma espécie de “importação de médicos” e lembrou os
inúmeros casos de profissionais que abandonaram a iniciativa. Outro problema, de acordo com o secretário, é que, com a
criação do Mais Médicos, muitas prefeituras optaram por dispensar profissionais
contratados e solicitar outros pelo programa, numa tentativa de economizar
verba com a saúde.
“O CFM
continua achando que o programa não é a melhor resposta para a saúde no Brasil
via SUS. Ele promove um atendimento primário, mas a gente continua com o
atendimento secundário e terciário ruins. Os pacientes se acumulam em
corredores, no chão, em macas, sem o tratamento devido”, disse.
*Carlos Marden Cabral
Coutinho - Procurador Federal - Professor Universitário - Doutorando em Direito
Processual da PUC Minas.
+ Comentário. Deixe o seu! + 2 Comentário. Deixe o seu!
O excelentíssmo procurador não ignora que verbas para a saúde provenientes do governo federal são muitas vezes desviadas por governos estaduais como aconteceu com o de Aécio Neves, quatro bilhões desviados da saúde e educação, em SP. idem, até verba da merenda desviaram. E que muitos médicos não cumprem os horários devidos em seu expediente pelo SUS. O Mais Médicos finalmente leva assistência a quem jamais a teve, este Brasil não é somente os estados mais ricos, e é lamentável que alguém queira desqualificar este programa por motivos de ódio de classe que é o que move as pessoas contra este governo. E é ainda mais lamentável em se tratando de um homem que ocupa um cargo importante na justiça e devia ser o primeiro a se colocar a favor do combate às desigualdades. E com tudo que se fez pelo social, somos um dos países mais desiguais do mundo. E só vamos sair disso investindo em políticas como a do Mais Médicos, e tantas outras que os governos do PT implantaram. E devem também não ignorar que na europa antes de fazer medicina, a pessoa tem que se expor a uma avaliação longa para que mostre que tem realmente condições de ser um bom médico. Só depois irá fazer o curso. A medicina no Brasil tem sido um curso para pessoas ricas que tem grana pra pagar cursinho e se têm condições financeiras, deveriam sim, dar um retorno financeiro a um país onde tanta gente não tem o mínimo. E onde tantos alunos pobres fazem o maior esforço pra estudar e ainda pagando faculdades privadas.
Prezada Ptista TANIA ORSI VARGAS ,
A coisa toda não passa de uma farsa, uma medida paliativa com o evidente objetivo meramente oportunista, populista e eleitoreiro, como aconteceu com as natimortas propostas referentes a uma suposta constituinte exclusiva ou a um plebiscito. Todos aqueles que são brasileiros (e, principalmente, aqueles que, como eu, foram às ruas) sabem que o que a população precisa é de um serviço de saúde de qualidade, o que claramente não será atingido com esse programa oportunista. Não pretendemos com isto da uma palavra final e esgotar o assunto, pelo contrário, pretendemos sim abrir o debate.Porem, o bom senso (Coisa que falta ao Ptistas militantes em seu fanatismo cego e doentio) nos leva a perceber que o problema do acesso da população carente (e interiorana) ao direito à saúde não será resolvido com a contratação de 10 mil médicos para trabalhar nos rincões do país, ainda que se lhes pague a quantia prometida. O problema do Programa de Saúde da Família não é salarial, mas sim de estrutura! Coloque no Google a expressão “quanto ganha um médico no PSF” e confira por si mesmo. Em Londrina (LONDRINA! Deixa eu repetir: LONDRINA!!!) os médicos recusam mais do que isso. O que leva o Governo Federal a pensar que o salário do Programa “Mais Médicos” é atrativo? Respondo: NADA!!! Trata-se de mero jogo de cena, no qual ele finge que ofereceu oportunidades que previamente sabe que serão recusadas, de modo a transferir a responsabilidade para os próprios médicos. Por outro lado: se a cidade paga bem, por que os médicos não se dispõem a trabalhar lá? Serão eles os médicos seres diferenciados, que baseiam suas condutas por critérios exclusivamente vocacionais e sem pensar no dinheiro? Teríamos que ser bastante tolos para pensar que sim! Se determinadas cidades não são atrativas para os médicos brasileiros, não é por pagarem mal ou porque eles não se importem com dinheiro, mas sim porque as condições de trabalho oferecidas são sofríveis. Só para se ter uma idéia, vejam se existe dificuldade para contratar juiz ou promotor para as mesmas cidades, às vezes ganhando até menos. Então já percebemos a falácia na defesa deste argumento por parte do governo.
Aguardamos seus argumentos contrários e contundentes, baseados na razão e não em seus sentimentos apaixonados pelo PT.
Shalom !!
Postar um comentário
Todos os comentários publicados não significam a adesão às ideias nelas contidas por parte deste apostolado, nem a garantia da ortodoxia de seus conteúdos. Conforme a lei o blog oferece o DIREITO DE RESPOSTA a quem se sentir ofendido(a), desde que a resposta não contenha palavrões e ofensas de cunho pessoal e generalizados. Os comentários serão analisados criteriosamente e poderão ser ignorados e ou, excluídos.