Há uma impressionante cadeia de homens sábios e documentos em defesa da
razão e da ciência produzidos numa única instituição, a Igreja Católica. Apesar
disso, o ensino médio e superior brasileiro continua propagando lendas
antieclesiais.
Na semana passada, meu filho
adolescente me abordou com o texto de sua prova simulada nas mãos. Ele estuda
numa escola católica, ressalte-se, o que não necessariamente torna mais fácil a
luta para que ele não perca a fé diante da forma com que as disciplinas de
história, literatura e ciências são muitas vezes apresentadas pelos
professores. Mas as questões que narro a seguir teriam o mesmo viés, ainda que a
escola não fosse católica.
No caso concreto, ele me interpelava
com uma questão de história, que tinha exatamente o seguinte conteúdo:
“Enquanto as civilizações sarracena e bizantina desenvolveram amplos
estudos de física, matemática, astronomia e medicina, as ciências, na sociedade
europeia, não avançaram muito, devido à repressão da Igreja Católica a qualquer
estudo que colocasse em risco a sua doutrina religiosa.”
Devido às conversas que temos em casa
sobre questões históricas relacionadas à Igreja, ele respondeu na prova que a
afirmativa estava errada.
Lembrou-se de como eu lhe comentava
sobre a verdade do incidente com Galileo Galilei, ou de como eu lhe mencionara
o excelente livro “Como a Igreja Católica construiu a Civilização Ocidental”,
de Thomas Woods, ou mesmo a importância da reta razão na compreensão da fé,
como ressaltado já por sábios como São Justino, do século II, pelos Padres
Alexandrinos do século II e III, por homens como Santo Agostinho (século IV),
Boécio (século V), Alcuíno (séc. VIII), Abelardo (séc. XII), Santo Anselmo Séc.
XIII), para não mencionar Erasmo e Thomas Hume (séc. XVI), todos numa
impressionante defesa da razão humana, reiterada em diversos concílios como o
IV de Latrão (1215) e os Concílios Vaticano I (1870) e Vaticano II (1965), além
da encíclica “Fides et Ratio”, de João Paulo II, a cujo respeito eu também
eventualmente comentava com ele.
É uma impressionante cadeia de
homens sábios e documentos em defesa da razão e da ciência produzidos numa
única instituição, a Igreja Católica.
Não se sabe de outra instituição com
uma história assim. Mas, uma vez divulgado o gabarito pela escola, para sua
surpresa (e a minha) a resposta correta, para a escola, é que a afirmativa
estava certa.
O que fez com que meu filho me
questionasse com uma certa agressividade na voz, e não sem um certo ar de
decepção com a confiabilidade da formação que eu lhe dava.
Resolvi entrar em contato com a direção da escola, por e-mail, e o fiz
assim:
“Prezado diretor,
Sou pai de um aluno do ensino médio, e fiquei com uma dúvida grave sobre
o simulado aplicado por vocês. Ele me
mostrou a prova, e a questão 64 é manifestamente falsa. Mas pelo gabarito
publicado, ela estaria verdadeira para a escola. A questão afirma que a
Igreja Católica manteve o ocidente na ignorância científica, repelindo as
pesquisas e os avanços científicos, com medo de que o avanço da ciência
ameaçasse a fé, que entretanto eram alcançados por sarracenos (muçulmanos) e
bizantinos. Isto é manifestamente falso:
basta olhar um noticiário de TV para perceber qual das duas esferas do mundo
desenvolveu a tecnologia, se o ocidente católico ou o oriente bizantino e
muçulmano.Não é à toa que o renascimento Carolíngeo deu-se já no século IX no
ocidente, mesmo sob a crise das invasões bárbaras, e já no século XII o sistema europeu de universidades estava firmemente
estabelecido pela Igreja Católica, sem similar no mundo. Enquanto muçulmanos
degolavam seus desafetos e bizantinos mantinham seu império sob um tacão de
autoritarismo político.
Também não é à toa que o ocidente deu ao mundo, no século XIII, um Santo
Alberto Magno, doutor em ciências, e que os monges inventaram os arreios de
cavalo eficazes que renovaram a face da Europa durante a baixa idade média. Não
é à toa que Galileo Galilei somente pode ter escrito o que escreveu porque era
um professor de universidades católicas no século XVI, e que baseou seu estudo
nas teorias de Copérnico, que era um padre católico. Há uma série de imbecilidades escritas sobre Galileo, inclusive a de
que ele teria sido queimado na fogueira, e repetidas por professores de
história de formação antirreligiosa por aí. É uma lenda negra. Galileo morreu
de velho, em seu leito, cercado por suas cinco ou seis filhas freiras,
confessou-se, recebeu a comunhão e a unção dos enfermos está enterrado numa
igreja católica.
Note-se que a cientista Marie Curie era uma devota católica, e que seu
trabalho repercutiu no Brasil com o padre Roberto Landell de Moura, que foi a
primeira pessoa no mundo a transmitir voz por rádio, em 1903, e que seu
professor marxista de história não deve conhecer, é claro, apesar das inúmeras
patentes que este padre tem no Brasil e nos EUA.
Mesmo a Wikipedia, que muitas
vezes não é confiável em suas informações, faz um interessante reconhecimento
da importância da Igreja no fomento da razão através da história:
"Muitos clérigos da Igreja
Católica ao longo da história fizeram contribuições significativas para a
ciência. Dentre esses clérigos-cientistas estão nomes ilustres tais como
Nicolau Copérnico, Gregor Mendel, Alberto Magno, Roger Bacon, Pierre Gassendi,
Ruđer Bošković, Marin Mersenne, Francesco Maria Grimaldi, Nicole Oresme, Jean
Buridan, Robert Grosseteste, Christopher Clavius, Nicolas Steno, Athanasius
Kircher, Giovanni Battista Riccioli, William de Ockham, e muitos outros.
Centenas de outros nomes têm feito contribuições importantes para a ciência
desde a Idade Média até os dias atuais.Na verdade, pode-se perguntar por que a
ciência se desenvolveu em um ambiente majoritariamente católico. Esta questão é
considerada pelo padre Stanley Jaki em seu livro “The Savior of Science”. Jaki
mostra que a tradição cristã identifica Deus como racional e ordenado. Ele
identifica os escolásticos da Alta Idade Média pela sua despersonalização da
natureza.” (http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_cl%C3%A9rigos-cientistas_cat%C3%B3licos,
acesso em 15.09.2014)
O artigo da Wikipedia, que é um
tanto longo, não deixa de ressaltar a importância dos jesuítas para a ciência
moderna, e inclusive o fato de que nada menos do que trinta e cinco crateras
lunares têm o nome de cientistas jesuítas. Isto parece deixar bem claro qual é a posição institucional da Igreja
sobre a ciência, bem diferente daquela maldosamente exposta na referida
afirmação da prova. É muito fácil para um jovem adolescente perder a fé – de
fato, muitas vezes ocorre sem motivo; certamente fica muito mais fácil quando
há uma colaboração externa deste tipo.
Gostaria de esclarecer esta dúvida, inclusive tendo acesso à fonte da
qual o professor que elaborou a questão retirou a informação, que, das coisas
que conheço, é manifestamente falsa e agressiva à fé católica - à qual a escola
alega pertencer.
Mas não se trata de questão de fé, trata-se da necessidade de expor um
erro acadêmico grave, que não consigo acreditar ter sido intencional. Não vejo nenhum problema em que se exponha
publicamente os erros que historicamente os filhos da Igreja Católica
cometeram, mas acho que, no ambiente acadêmico, existe o direito de saber o
fundamento de uma afirmação tão grave, tão contrária à boa evidência histórica,
e que parece apenas ser a repetição leviana, em meio acadêmico, de uma
hostilidade propagada em meios anticlericais para minar a confiança na Igreja.”
A escola deu-me um
retorno burocrático, através de uma assessora, que prometeu rever o assunto com
a professora, mas ainda não fez nenhuma crítica sobre estas afirmações.
Não posso evitar a sensação de ser
minoria, mesmo dentro de uma escola católica. Mas é hora de não ter
constrangimentos em lutar pela verdade, mormente quando a mentira propagada
constitui, ademais, uma ataque à fé.
Por Paulo Vasconcelos
Jacobina – Comissão da Verdade
FONTE: Zenit
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