*Significado de Azáfama: s.f. Pressa; atrapalhação; grande afã;açodamento,imprudência
e precipitação.
Exemplo de uso da palavra azáfama:
"Eu vejo as
pessoas que vão ao teatro, elas aplaudem tudo, mas estão insatisfeitas, não só
com o teatro, mas com a vida, com a azáfama que estamos vivendo. É um tropel, estamos sendo atropelados..." Folha
de São Paulo, 21/06/2011
A VIDA CRISTÃ E A AZÁFAMA:
Todos
sabemos que o Santo Padre Bento XVI é uma das grandes inteligências da
atualidade e um dos homens mais preparados por Deus para a missão, que recebeu,
de governar a Igreja do Senhor Jesus. Nas alocuções que faz toda quarta-feira
nas audiências públicas da Praça de São Pedro, vem ele dissertando sobre algum dos
grandes doutores antigos da Igreja e seus escritos: No dia 30 de janeiro p.p.,
sua catequese (como ele a designa) abordou o tema Fé e Razão, baseando-se na
vida e nos escritos de Santo Agostinho. Este luminoso Santo Agostinho torna-se,
por sua incessante busca da verdade, o protótipo do homem reto, radicalmente
reto, que não se contentava com as filosofias que não alcançavam a verdade.Assim
o itinerário intelectual e religioso por ele percorrido se torna para o homem
moderno o modelo válido de relacionar fé e razão. Foi assim que Agostinho soube
unir estas duas dimensões numa síntese que ele exprimiu em duas fórmulas
célebres: crê para compreender e compreende para crer. A
fé nos abre o caminho para a verdade e a inteligência prescruta a verdade para
encontrar a Deus. Isto, que se deu com Agostinho, de novo se repete com o homem
moderno - Quando, na azáfama da vida atual, a criatura pára para refletir, começa
então a sentir a inquietude interior do vazio da vida sem Deus. Não porque Deus
esteja distante, mas porque a criatura, distraída e mergulhada em mil
preocupações, não o sente. O próprio Agostinho o confessa: “Tu estavas diante de mim (...) e eu não me encontrava a mim
nem a ti É que o coração humano só tem descanso em Deus.”
I - INTRODUÇÃO – O
BOM PASTOR
(Moysés Azevedo Filho)
É próprio do Espírito Santo tirar do baú, coisas velhas e coisas novas. O que vamos abordar em forma de meditação, com certeza são coisas antigas que nós já conhecemos, mas que podemos, com o auxílio do Espírito, aplicar em nossa vida, de uma maneira nova. Nenhum dos temas que vamos tratar aqui são novidades, em termos absolutos para nós, mas são fruto da nossa vivência, sobre os quais o Senhor deseja nos falar de uma maneira nova ao nosso coração. Por isso, nestas páginas, apenas farei o papel de alguém que procurará, como instrumento do Senhor, meditar algumas questões, mas na verdade a obra do Senhor vai acontecer do coração de Deus para o coração de cada um de nós. Procurando nos colocar diante do Senhor, perguntando o que Ele desejaria, e por onde Ele desejaria entrar e agir em nós, que somos chamados a assumir irmãos sob nossa responsabilidade, Ele nos falou sobre a parábola do Bom Pastor, sobre a qual nós poderemos fazer uma Leitura orante. Esperamos que estas meditações lhes proporcionem momentos de oração e escuta a Deus. Vivamos isto de maneira intensa, profunda, para que este novo que o Senhor deseja realizar nas nossas vidas, segundo a medida e a necessidade de cada um, possa acontecer. E repito, isso só acontecerá na medida em que nós, no nosso relacionamento com Ele, deixarmos que Ele opere livremente, investindo em estar bem unidos a Ele.
II - ENTRANDO PELA PORTA DAS OVELHAS
“Em verdade, em verdade vos digo, aquele que não entra pela porta no redil das ovelhas, mas que nela penetra por outra parte, é ladrão e assaltante. Aquele que entra pela porta é o pastor das ovelhas. Aquele que guarda a porta lhe abre, e as ovelhas escutam a sua voz; as ovelhas que lhes pertencem, ele as chama, cada uma por seu nome, e as leva para fora. Quando ele as faz sair todas, caminha à frente delas e elas o seguem, porque conhecem a sua voz. Elas nunca seguirão um estranho; não só, mas fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos. Jesus lhes disse essa parábola, mas eles não compreenderam o alcance do que ele dizia. Jesus prosseguiu: Em verdade, em verdade, eu vos digo, eu sou a porta das ovelhas. Todos os que vieram antes de mim são ladrões e assaltantes, mas as ovelhas não os escutaram. Eu sou a porta: se alguém entra por mim, será salvo, sairá e voltará e achará com que se alimentar. O ladrão só aparece para roubar, matar e levar á perdição; eu vim para que os homens tenham vida, e a atenham em abundância, Eu sou o Bom Pastor: o Bom Pastor se despoja da própria vida por suas ovelhas. O mercenário, que não é verdadeiramente pastor e a quem as ovelhas não pertencem, ao ver chegar o lobo, abandona as ovelhas e foge; e o lobo se apodera delas e as dispersa. É que ele é mercenário e pouco lhe importam as ovelhas. Eu sou o Bom Pastor, eu conheço as minhas ovelhas, e as minhas ovelhas me conhecem, como o meu Pai me conhece e eu conheço o meu Pai; e eu me despojo da vida pelas ovelhas..."(Jo 10, 1-15).
À luz desta passagem, com uma certa interpretação alegórica, podemos entrar em nosso primeiro tema:
Quando assumimos algum ministério e temos responsabilidade espiritual sobre algumas pessoas,, podemos nos comparar com um termo que a Sagrada Escritura gosta de usar: chefes do povo. Este é um termo que no Antigo Testamento é muito usado. Jesus ao falar para os “chefes do povo” explica que os chefes de um povo são aqueles que estão à frente de um povo, não para mandar no povo, não para oprimir o povo, não para constranger o povo, mas, para conduzir o povo segundo a voz do Senhor. O Profeta Ezequiel já falara dos “maus pastores”. Conforme conferimos em Ezequiel 34,1-16. o profeta vai falar dos chefes do povo como maus pastores, criticando sua atitude diante do povo. É na linha desta visão de Ezequiel, que Jesus vai falar do mercenário e do bom pastor, identificando este último com Ele mesmo. Ao se mostrar como o Bom Pastor, ao mesmo tempo nos mostra um modelo, e uma inspiração para aqueles que Ele constitui para estar diante do povo, para conduzir o povo segundo a Sua voz. Antes de nós entrarmos na primeira meditação tomemos Atos dos Apóstolos capítulo 6. Algumas vezes quando falava para os pastores, os Padres da Igreja, particularmente Orígenes, e mais tarde S. Bernardo quis usar essa passagem para dar alguma fundamentação para a vida de oração daqueles que estão à frente do povo, adiante do povo. At 6, 1-7 , fala da instituição dos sete: “Naqueles dias, o número dos discípulos aumentava, e os helenistas se puseram a reclamar contra os hebreus, porque as suas viúvas eram esquecidas no serviço cotidiano. Os doze convocaram então a assembléia plenária dos discípulos e disseram: não convém que nós descuidemos a palavra de Deus por causa do serviço das mesas. Procurai, antes, dentre vós, irmãos, sete homens de boa reputação, repletos do Espírito e de sabedoria, e nós os encarregaremos desta função. Quanto a nós, continuaremos a assegurar a oração e o serviço da Palavra. Esta proposição foi aceita por toda a assembléia: escolheram Estevão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timon, Pármenas, e Nicolau, prosélito de Antioquia; apresentaram-nos aos apóstolos e lhes impuseram as mãos. A Palavra de Deus crescia, e o número dos discípulos aumentava consideravelmente em Jerusalém; uma multidão de sacerdotes obedecia à fé”. O
versículo 4 diz: “Quanto a nós, continuaremos a assegurar a oração e o serviço
da palavra”. Os padres da Igreja, e mais tarde S. Bernardo de uma maneira mais
incisiva, afirmam que os pastores de um povo, aqueles que estão à frente de um
povo, podem delegar tudo da sua função, menos a oração, o estar diante de Deus
em favor deste povo. A instituição dos sete
mostra que uma das missões primordiais daqueles que estão à frente de um povo,
responsáveis por uma parte do rebanho do Senhor é estar diante do Senhor. Estar
diante do povo em favor de Deus e diante de Deus em favor do povo, para escutar
Sua inspiração, a orientação e a direção de Deus para o rebanho. Esta é uma das
missões fundamentais, e eu diria até, a primeira e a essencial missão nossa,
pois é depois dela que decorre uma série de outras dimensões. A primeira é
estar diante de Deus, escutando a Sua voz, recebendo a Sua inspiração, nos
deixando configurar a Ele, para que nós tenhamos a Sua voz, e tendo a Sua voz
nós possamos conduzir o Seu povo. Voltemos para o Evangelho de S. João: ( Jo 10,1-3;7-10). Vamos meditar um pouco, agora, sobre esta porta que Jesus fala. Ele é o pastor mas ao mesmo tempo Ele é a porta. A porta que dá acesso às ovelhas, e ao mesmo tempo a porta pela qual o pastor faz com que as ovelhas saiam e as conduz para o alimento seguro. Com esta porta nós poderíamos identificar Cristo Jesus, e muitas dimensões da Vida de Cristo, mas, eu gostaria de me deter, de uma maneira particular, na Vida de Oração. Quando Jesus se identifica com a porta das ovelhas, e diz que o verdadeiro pastor entra pela porta, isto para mim significa também dizer que, o verdadeiro pastor deve se configurar a Jesus Cristo que é a Porta. Só se configurando em Cristo, só tendo a face de Cristo, o entendimento de Cristo, os sentimentos de Cristo, os pensamentos de Cristo e a voz de Cristo, as ovelhas podem identificar em nós um verdadeiro pastor, podem ouvir e reconhecer a nossa voz e ouvindo e reconhecendo a nossa voz podem se deixar conduzir por ela. Esta é a nossa missão fundamental, como pastores, coordenadores de ministérios, formadores e responsáveis por grupos e comunidades. Por isto, entendamos assim todas as vezes que for lido nesta meditação sobre os pastores de um povo. Nós somos chamados a nos configurar ao Bom Pastor e nos configurar a este bom pastor é entrar por esta porta, a qual, hoje, eu gostaria de dar o nome de oração, porque entendo que é pela oração que nos configuramos a Cristo. Os Sacramentos nos enxertam em Cristo e a oração vai no dia-a-dia nos convertendo a Cristo, nos configurando a Cristo, fazendo com que o nosso pensamento não seja mais o nosso, mas o pensamento de Jesus Cristo, que os nossos sentimentos já não sejam mais os nossos, mais os sentimentos de Cristo, que o nosso amor já não seja mais o nosso, mas o nosso amor seja o de Jesus Cristo, que a nossa visão já não seja mais a nossa , mas a visão de Jesus Cristo, que a nossa voz já não seja mais a nossa, mas de Cristo. Justamente porque pensamos, sentimos, e vemos como Cristo, expressaremos e falaremos o que Ele pensa, sente e vê. Quando somos configurados a Jesus Cristo Bom Pastor, as ovelhas que pertencem a Ele, conforme Ele mesmo diz, escutarão sua voz, Ele as chamará e as levará para fora, caminhará à frente delas e elas o seguirão, porque conhecem a sua voz. Elas nunca seguirão um estranho. E
quem é o estranho? estranho é aquele que não passa pela porta, o estranho é
aquele que penetra por outra parte, e não pela porta. O estranho pode até ter
pretensões de pastor, ele pode ter até as intenções de pastor, ter até o desejo
de pastor e cuidem que ele pode ter até a função de pastor, mas ele não será um
bom pastor, porque ele não entra pela porta, que é Jesus, e a intimidade com
Ele. O pastor que não entra pela porta da intimidade com Jesus é como um
ladrão e assaltante, que rouba, mata e leva à perdição, porque não terá o
pensamento de Cristo, não terá a visão de Cristo, não terá os sentimentos de
Cristo. O
estranho terá o seu próprio pensamento, a sua visão e o seus sentimentos de
homem pecador que nós todos somos e as ovelhas, sempre o estranharão, porque
não ouvem a voz daquele que não é pastor, mas daquele que não passa pela porta. Muitas vezes nós não entendemos porque a parte do rebanho que nos é confiada não nos escuta: Em algumas situações, pode ser porque não sejam as ovelhas do Senhor, mas em outras situações, pode ser que nós não estejamos, naquela atitude, naquela situação, naquela missão, expressando a voz do Bom Pastor, os sentimentos do Bom Pastor, o pensamento do Bom Pastor, porque não estamos nos configurando a ele por meio da oração. É interessante recordarmos que no pensamento de Cristo, a autoridade é sempre vista e exercida como um serviço. As autoridades são instrumentos do discernimento da vontade do Senhor, portanto deve, a partir da graça própria que lhe foi concedida, buscar em tudo a vontade de Deus e exercer seu ministério segundo essa santíssima vontade, a qual são chamadas a discernir e a cumprir. Fundamental entre outras dimensões para nos configurarmos a Jesus Cristo, é conhecermos a sua vontade e sermos fiéis a esta vontade. Em verdade, em verdade eu vos digo: eu sou a porta das ovelhas, todos os que vieram antes de mim são ladrões e assaltantes, mas as ovelhas não o escutaram. Eu sou a porta, se alguém entra pôr mim será salvo, sairá, voltará e achará com que se alimentar. A partir dessa fundamentação, podemos fazer algumas questões
a respeito da vida de oração. Talvez todos nós tenhamos muitas dificuldades e
muitos desafios diante do chamado à contemplação. Nós da Comunidade Shalom, somos chamados a ser
contemplativos na ação. Nosso chamado nasce de um encontro com o coração de
Jesus Ressuscitado que passou pela cruz e oferece o seu lado aberto para nos
dar a paz e isto compromete toda a nossa vocação. Quando comprometemos
nossa vida de oração, todo o resto é comprometido, porque se nós não colhemos
em espírito e em verdade a paz do coração de Jesus e das suas chagas, nós não
temos como viver a unidade, encarnar esta paz, e não teremos a força e a
potência para proclamá-la. Isto encravará toda a nossa vida e a nossa missão.
Por isto sabemos que temos um risco muito grande no exercício da nossa missão
de, fragilizando a nossa vida de oração, fragilizar todo o corpo da comunidade.
Fragilizar
a vida de oração, é fragilizar todo o corpo comunitário. É tampar a fonte, e há
muitas causas para isto acontecer:
O excesso de compromissos profissionais, familiares, e também apostólicos, ou seja, os compromissos com a própria obra de Deus jamais deverão comprometer a essência de nosso chamado. O nosso excesso de compromissos, mesmo com a obra de Deus, pode nos tirar demasiadamente da vida de oração e não podemos permitir que eles nos roubem da intimidade com Deus, fonte, essência e fim de todo o nosso serviço a Ele. Sta. Teresa D’Avila, mesmo sendo contemplativa, teve muitas vezes que viajar, mas Sta. Teresa tomou uma solução muito concreta para não perder sua vida de oração: ela transformou sua carruagem num lugar de oração, que chamava “mosteiro ambulante”. Na sua carruagem, durante suas viagens, ela procurava cumprir e viver tudo aquilo que o Senhor lhe chamava para a intimidade com Ele. Quando as nossas viagens são indispensáveis, então, levemos como que um “mosteiro” dentro de nós. Dentro dos limites e das exigências que nosso apostolado nos faz, carreguemos dentro de nós este mosteiro e não nos afastemos da vida de oração. No afastamento da vida de oração pode estar uma grande ferida e uma grande causa dos nossos males, de não estarmos nos configurando a Jesus Cristo, de não estarmos passando pela porta. É verdade que a mesma Sta. Teresa que diz que em algumas situações, por exigência do próprio Deus, nós nos abstemos da oração, em vista da missão, mas é verdade que é ela mesma que continuamente aonde estava, procurava ao seu redor, construir como que uma espécie de mosteiro vivo, nos seus compromissos e na sua vida. Que nós também construamos nosso mosteiro ambulante, melhor dizendo, que nós também possamos viver neste espírito, adaptando o espírito e a inspiração de Teresa para nós. Que nenhuma desculpa, por mais nobre que seja, nenhuma causa, por mais nobre que seja, nos roube da primazia de estar diante do Senhor. Um outro problema que acredito ser necessário enfrentarmos e nos empenharmos em superar é a nossa ausência das orações comunitárias. Eu gostaria de dizer que, para nós, todos nós, pastores de um povo, é um grande e grave risco, para nós em primeiro lugar e para o povo, nos ausentarmos de orar comunitariamente.Devemos evitar o mais intensamente possível esta realidade, porque faz parte da comunhão com Deus: nos encontrarmos com Ele como povo. Se os chefes do povo não estão junto com o povo diante de Deus, com certeza tudo isso compromete a ação de Deus em nós e no povo. Por isso todos nós devemos refletir com gravidade e seriedade, cada vez que, por algum motivo que o próprio Senhor nos pede ou que talvez não, temos que nos ausentar da oração comunitária. Nós devemos pesar o grave risco, que isso comporta (nossa ausência). Todos os dias, também sinto que devemos sempre nos recolocar na presença de Deus e nos avaliar a respeito da Sua primazia na nossa vida. Eu me lembro que quando eu comecei a minha caminhada, teve um livro simples que se chamava “Deus primeiro”; nele o autor vai mostrando de uma maneira muito simples a primazia de Deus na vida do cristão que quer viver a vida no Espírito. Eu me lembro que aquilo entrou dentro de mim como um fogo: Deus primeiro, primazia de Deus, Deus absoluto, Deus centro, Deus à frente de tudo, à frente do que é mais vil e à frente do que é mais nobre, Deus acima do que é mais importante e do que é menos importante. Deus acima do ilícito e do lícito, Deus primeiro e absoluto em nossa vida, primazia do nosso ser. Se não temos a primazia absoluta de Deus na nossa vida, não podemos nem ser Dele, nem guiar ninguém para Ele. E interessante que, pelo menos na minha vida eu vejo isso de uma maneira muito clara. A primazia de Deus é uma conquista diária, uma decisão de vida que devemos renovar e reassumir todos os dias da nossa vida. É impressionante, pelo menos na minha vida, porque talvez na vida de vocês possa ser diferente, que quando a oração está em primeiro lugar na minha vida, em tudo o mais Deus é colocado como primeiro, como absoluto, como centro. A vida de oração se configura assim como porta fundamental para o senhorio de Jesus renovar continuamente no meu coração a graça da submissão a Ele e a Sua santíssima vontade. Quando no meu dia Deus é o primeiro, na minha vida Ele é o absoluto, Ele é o Senhor. E quando a oração é relegada, é colocada à parte e é negligenciada, as forças e as potências da minha carne logo tomam a dianteira das rédeas: como os meus pensamentos prevalecem, como os meus sentimentos, como a minha voz se torna mais forte do que a voz do Senhor. Por isso, na minha vida, primazia de Deus significa também primazia da oração. Primazia de Deus, absoluto de Deus, significa também primazia da oração, a oração em primeiro lugar. E na minha vida a negligência de oração significa colocar Deus à parte, deixar que as potências da minha carne me governem, e não Deus me governe. Como nós sabemos, oração é escuta. Fragilizando a vida de oração, nós fragilizamos toda a direção de Deus na nossa vida. Eu muitas vezes me sinto perdido, eu muitas vezes me sinto confuso, eu muitas vezes não sei direito para onde ir. Me sinto perdido na condução da minha vida pessoal, e
sobretudo, na condução do povo que Deus me confiou. Mas, é importante perceber
também, que os momentos em que isso ocorre de uma maneira mais intensa e mais
forte, é nos momento em que a primazia da oração não está presente na minha
vida, é nos momentos em que a azáfama, o ativismo, e a centralização em mim mesmo me roubaram de
estar aos pés do Senhor. Como eu posso conduzir um povo sem conhecer a direção de Deus? Como eu posso atrair um povo sem o timbre da voz que pode despertar o coração deste povo e faze-los vir após a mim? - Sem a oração nós ficamos sem rumo, porque se não há escuta não há direção, e se existe alguma direção quando nós não estamos em oração e em escuta, é importante saber: esta direção não é a do Senhor. Muitas vezes sem a oração e sem a escuta nós escolhemos direções, nós imprimimos direções, sem oração e sem escuta nós damos determinados rumos. Mas atenção, estes rumos e estas direções não são do Senhor e nos levarão a lugares sombrios, nos levarão e nós levaremos o povo, porque diz o Evangelho: nós entramos pela porta e entramos no acesso das ovelhas. Jesus por três vezes perguntou a Pedro a fidelidade do seu amor, e era na medida da fidelidade da sua resposta que Ele dizia: apascenta os meus cordeiros, as minhas ovelhas. Mais uma vez a porta aí se configura, Jesus dá a posse das suas ovelhas àqueles que o amam. E amar ao Senhor é se unir a Ele, e não há como unir-se ao Senhor, se nós não tomarmos uma verdadeira via da oração. Quando nos configuramos a Cristo nós tomamos posse das ovelhas, não para nós, mas para Ele. Tomamos posse das ovelhas para sairmos por esta mesma porta, e levarmos estas ovelhas para o alimento seguro, para a abundância dos pastos. Por meio da escuta do Senhor, nós recebemos a direção de Deus para o povo, e levamos estas ovelhas para a direção de Deus. Sem a escuta, sem o configurar-se a Cristo, sem a intimidade com Deus, se nós damos alguma direção ao povo, nós não estaremos dando para os prados verdes e tranqüilos, para as águas puras, nós estaremos dando para o vale das sombras. Se estamos com Ele e configurados a Ele, é vão temer o mal, mas se estamos sem Ele, se estamos dando a nossa própria direção, se estamos conduzindo as ovelhas no timbre da nossa própria voz, segundo os nossos planos e os nossos sentimentos, ao vale das sombras nós estamos entrando e conduzindo as ovelhas que nos foram confiadas, e Deus nos livre os temores que possamos enfrentar. É preciso zelar pelo clima orante das nossas casas. Quando entramos numa casa orante sentimos o impacto da força da graça que ali habita. Quando entramos numa casa menos orante, sofremos menos este impacto. E quando entramos numa casa não orante, sofremos o impacto do mundo, o impacto do pecado, o impacto da carne que se sobrepõe ali. Alimentar o clima orante da casa ajuda os irmãos e ajuda com que a casa cumpra a sua missão. Podemos entender “casa” a nível de Comunidade de Vida, a nível de casa dos irmãos da Comunidade de Aliança, e casas aonde se exerce o apostolado. De cada uma delas podemos ter impressão da unção, da forte presença de Deus, da pouca presença de Deus, ou da ausência de Deus. O pulsar fundamental de nossa intimidade com Deus é a Eucaristia, primeiramente celebrada e contemplada, adorada. A fragilidade da nossa vida de oração revela a grande tentação que podemos estar vivendo no campo da adoração. Os autênticos pastores revelam uma alma orante, que coloca a adoração como a primazia fundamental da sua vida, que descobriu que estar aos pés do Senhor é o segredo. Suas ovelhas terão vida em abundância.
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III - O FERVOR
Podemos continuar o tema da oração meditando sobre o que podemos chamar de “frieza da alma”. O que é a frieza da alma? - Sabemos em que consiste a frieza do corpo quando nossa pressão está baixa. Quando nossa pressão abaixa, as artérias se dilataram, e o coração tem que trabalhar mais forte. Também alguns de nós experimentamos um pouco de frieza no corpo quando temos de enfrentar uma situação de medo. Diante do medo, a taxa de adrenalina sobe para poder enfrentar a situação, então o coração tem que bater mais forte. Nos dois casos o coração tem que bombear mais forte, bater mais rápido, porque senão o corpo pode desfalecer para a frieza total que é a morte. O corpo morto é o corpo frio, é o corpo sem calor e sem sensibilidade, totalmente insensível, sem vida. Assim como o nosso corpo, nós corremos riscos de passar da frieza da alma, para uma espécie de “morte” espiritual. Penso que a frieza da alma, está diretamente ligada à falta de oração, que pode dar calor à nossa alma, vida à nossa alma, ao nosso relacionamento com Deus. E como o corpo, cujo coração precisa bater mais intensamente para que não haja o desfalecimento, também para que a nossa alma não desfaleça, não morra, é preciso bater mais forte, é preciso de cada um de nós uma decisão da vontade e da liberdade para se inclinar mais para Deus, para buscar mais a Deus, para orar mais, e orar mais intensamente. No plano espiritual, a frieza está muito próxima da dureza de coração, porque é isso que ela produz na alma. A frieza, ou seja, aquela indiferença para com as coisas de Deus, aquela indiferença para com a oração, aquela ausência de ânimo para com as coisas de Deus, aquela ausência de ânimo para a oração, aquela resistência ao sagrado, conduz invariavelmente à dureza de coração. S. Bernardo diz que ausentar-se da oração, o ausentar-se de Deus, e o preocupar-se, o ocupar-se demasiadamente com o temporal, pode levar a alma aonde ela não quer ir. E ele diz que aonde ele não que ir é a dureza de coração. E o que é a dureza de coração? É quando o nosso coração fica indiferente ou resistente a Deus e aos Seus argumentos. No Antigo Testamento lemos que o Faraó ficou com o seu coração endurecido. Isto significa que ele estava indiferente a Deus, às manifestações de Deus diante de si, e resistia a todos os argumentos divinos em relação a Sua santa vontade. Também o nosso coração por meio da frieza que vai nos afastando mais e mais da intimidade com Deus, esta frieza vai fazendo com que a nossa alma vá morrendo e por isso vá enrijecendo o nosso coração. Porque um dos sinais da morte é o enrijecimento dos membros do corpo. Então entendamos o nosso corpo espiritual também, com o desfalecimento e com a morte, enrijece o nosso coração e torna o nosso coração duro, duro para Deus e para Sua santíssima vontade. Duro e resistente, indiferente e resistente a Deus e aos Seus argumentos. E nós não queremos isto, nenhum de nós deseja a dureza de coração. Se nenhum de nós deseja a dureza de coração, devemos combater a frieza da alma. O coração tem que bater mais forte.
O que nos leva a este esfriamento e até ao endurecimento?
Muitas coisas devem nos levar, mas eu selecionei aqui algumas, que talvez possam nos ajudar a refletir um pouco melhor. O primeiro é o orgulho. E o que é o orgulho? É o voltar-se para si, centralizar-se em si mesmo, e renegar o abrir-se para Deus e para os irmãos. O orgulho, o apego a si mesmo, à sua vontade, à sua visão, ao seu pensamento, produz uma frieza na alma, e é muito presente quando a oração é bastante ausente.
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(Sem oração, e intimidade com Deus, somos cegos a conduzir cegos) |
Outra coisa que muitas vezes pode nos levar a uma frieza da alma, é o cansaço fruto da azáfama: Azáfama é um
pecado, é o ativismo. É quando a gente age, age, age até o cansaço. Existe
o cansaço fruto da vontade de Deus. Eu não posso imaginar que Jesus, depois de
todos aqueles dias de trabalho, não deveria estar cansado. Ele deveria estar
cansado. Há um santo que morreu de cansaço! Ele era um missionário tão
esquecido de si mesmo que se fragilizou, viveu uma espécie de martírio, porque
a vontade de Deus lhe pedia esta entrega.
Qual é a diferença do cansaço fruto da Azáfama e do cansaço dos justos?
A diferença é o centro da vontade de Deus e
ausência da frieza da alma. Eu tenho certeza que o cansaço dos justos não os
afasta de Deus. Eu me refiro àqueles que estão buscando viver a justiça de
Deus, a vontade de Deus. O
cansaço destes justos os aproxima de Deus, mas o cansaço da Azáfama, nos afasta de Deus, porque
na verdade, no fundo no fundo,às vezes começando com reta intenção e às vezes
acreditando que com boas intenções, - nós muitas vezes estamos buscando a nós
mesmo, a nossa vontade, o nosso plano, o nosso projeto. Quando
isto acontece, no fundo no fundo estamos buscando nossa própria glória ao invés
da glória de Deus e a Salvação das almas. Este cansaço, fruto da azáfama, produz a frieza
espiritual e nos afasta de Deus.
V - CONSEQUÊNCIAS DOS RESSENTIMENTOS:
Outra coisa que também pode produzir a frieza espiritual em nós é o ressentimento, ausência do perdão, a ausência de considerar o meu irmão mais justo do que eu, Deus e o meu irmão mais justo do que eu. Tais coisas esfriam a alma e enrijecem o coração: Quando nós não perdoamos, julgamos que temos motivos suficientes para condenar aquele que nos magoou, feriu, ou supostamente assim o fez. Isto é um “não” muito grande a Deus e à sua misericórdia, porque na medida que nós medirmos, seremos medidos e isto produz de imediato uma ruptura também com Deus. Quando condenamos o nosso irmão, condenamos a nós mesmos e cortamos a nossa comunhão e a nossa relação com Deus. O ressentimento produz frieza na alma e enrijecimento no coração. Outra coisa que também produz frieza na alma e a dureza do coração é o pecado assumido e consentido:Pecadores, todos nós somos, todo nós pecamos, todos nós caímos, mas na hora em que conscientemente eu assumo o meu pecado, eu defendo o meu pecado, eu reconheço como pecado, conscientemente e o torno parceiro da minha vida, ou seja, me torno amigo dele e não inimigo dele, o meu coração vai esfriando até a dureza. Temos pecados contra os quais teremos que lutar até o final da nossa vida, mas devemos conviver com eles como inimigos, nunca como amigos. Na hora em que na minha vida o pecado se transforma em meu amigo eu o assumo, o defendo e o cultivo, ele está assumido e consentido, esfriando a alma e endurecendo o coração.
VI - A IMPIEDADE:
O último ponto que gostaríamos de salientar nesta lista é a impiedade. A impiedade esfria a alma e endurece o coração. Mas o que é a impiedade? Segundo a definição do Padre Raniero Cantalamessa, esta consiste em recusar glorificar e agradecer a Deus. A recusa de glorificar e de agradecer a Deus, em termos mais práticos, é ignorar a Deus, agir como se Ele não existisse. O ímpio pode aparentemente reconhecer que Deus existe e aparentemente ter uma vida religiosa, mas no fundo não glorifica a Deus com a sua vida, pois não dá o lugar de Deus na sua vida diária, onde ignora a Deus, e age como se Ele não existisse. A impiedade não é uma realidade só daqueles que nós vemos como figuras de ímpios, que estão longe e afastados da vida da Igreja, mas, a impiedade pode morar muito perto de nós, pode estar muito próximo de nós, porque sempre que nós, na nossa vida, nas nossas decisões, no nosso dia-a-dia, ignoramos a Deus e agimos como se Ele não existisse, à revelia da sua Santíssima vontade, estamos nos aproximando da impiedade, não estamos glorificando a Deus, não estamos pondo Deus como o centro. Isto esfria a alma e endurece o coração.
Bem, nós aqui detectamos o mal, mas precisamos detectar o remédio. Qual é o remédio?
Devem haver muitos remédios, porque a graça de Deus é múltipla na sua ação, mas eu queria dar, entre muitos um, que acredito ser fundamental. É a humildade de coração, ou seja, desejar a humildade de coração, porque a humildade não é algo que nós conquistamos, é algo que Deus opera em nós. Aspirá-la, cabe a nós, realizá-la, cabe a Deus, mas Deus só realiza em quem aspira. Então precisamos aspirar a humildade de coração, deseja-la intensamente e profundamente.
VII - SOBRE A HUMILDADE – PARTE I
Não pode haver oração sem humildade de coração. Para a oração ser profunda, autentica, frutuosa, e eficaz, precisa nascer de um coração contrito e humilde, pelo reconhecimento da sua fraqueza, pelo reconhecimento do seu nada. O Catecismo da Igreja Católica, nos pergunta o seguinte: de onde falamos nós ao rezar? Das alturas do nosso orgulho e vontade própria, ou das profundezas de um coração humilde e contrito? A verdadeira oração, a oração que agrada a Deus, a oração que é fecunda, a oração que é transformante, deve nascer em um coração humilde e contrito. Isto encontramos na parábola do publicano e do fariseu: os olhos de Deus estão sobre o humilhado e humilde publicano e resistem à presunção e ao orgulho do fariseu. O Evangelho nos diz: quem se humilha será exaltado, e quem se exalta será humilhado. Então, por meio do coração humilde, Deus nos exalta. Por meio de um coração humilde que reconhece o seu nada e a grandeza de Deus, é que Deus pode nos elevar e nos trazer para junto dele. Diz também o Catecismo da Igreja Católica: a humildade é o fundamento da oração. Sto. Agostinho diz: a humildade é a disposição para receber gratuitamente o dom da oração. O homem é um mendigo de Deus. E o soberbo, como ele pode começar a rezar? Na hora em que ele reconhece que ele é soberbo e a isto abomina, a partir desse momento, a graça o leva por um caminho de humildade e de humilhação. Na hora em que, pela graça, ele reconhece a sua auto-suficiência, a graça já está gerando nele a virtude da humildade. A fidelidade à oração é fruto do convencimento profundo do homem da necessidade de Deus e do Seu amor. Ela é fruto do convencimento da impotência do homem de por si mesmo superar os seus desafios: isto, é um outro nome que se dá a humildade.
Quando é que eu me decido a orar?
Quando essa palavra de Sto. Agostinho, de que “o homem é um mendigo de Deus”, se transforma numa realidade essencial na minha vida. Quando o homem julga que não tem necessidade da graça de Deus, do Seu amor, e acha que pode por si mesmo conduzir, resolver e superar os desafios da vida, ele é soberbo, e por mais que ore, a sua oração não tem efeito, não tem fruto, pois sua oração é a do fariseu e não a do publicano e ele não persevera na oração, porque não tem necessidade dela.
Quem já viu alguém que não persevera em comer?
Só quem está doente, porque comer é uma necessidade vital do homem. E quem já viu quem não persevera no respirar? Respirar é uma necessidade vital da humanidade. Quando nós descobrimos de fato, não através de conceito, mas na nossa existência, no profundo da nossa vida, a necessidade real que temos de Deus, a nossa impotência total diante de nós mesmo e da vida, que sem Ele nós nada podemos, nada fazemos, então nós O buscamos na oração, nós descobrimos que somos mendigos e que precisamos esmolar e buscamos Aquele que pode nos dar o que necessitamos. O Salmo 130(131) que nós conhecemos tanto, parece ser exatamente o fruto desta descoberta que o salmista faz. Diz assim o salmista: “Senhor, meu coração está sem pretensões, meus olhos não miram metas altas demais, não visei grandezas maravilhas que me ultrapassam, pelo contrário, meus desejos se acalmaram e se calaram como uma criança carregada pela mãe, como tal criança são os meus desejos, Israel, Põe tua esperança no Senhor desde agora e para sempre”. A oração na nossa vida não é outra coisa, do que o convencimento da nossa alma da graça, pois sem ela nós nada somos, nada podemos, nada realizamos. Nisto consiste a primazia da graça, sobre qualquer tipo de conceitos, ideologias, aonde o homem é posto no centro. O homem que ora é um testemunho vivo de Deus como centro do mundo, o homem que ora é um testemunho vivo que o mundo é sustentado por Deus, o homem que ora é um sinal grandíssimo da primazia da graça em todas as coisas, de que sem a graça de Deus nós não passamos de uns desgraçados, que é exatamente o termo sem a graça de Deus. Todo o nosso caminho de busca da graça e do papel da graça na nossa vida sempre foi muito marcado no início da nossa caminhada com aquele, aquele ensino, que muitas vezes a gente nem sabe mais ainda que é o do poço de Jacó, do encontro da Samaritana com Jesus, que está em Jo 4, quando Jesus se encontra com a Samaritanta. A antiga aliança estava fundamentada na lei, e a nova aliança é fundamentada na graça. Na antiga aliança, o homem deveria agradar a Deus, na nova aliança, o homem é agraciado por Deus, a graça vem em seu auxílio. Na antiga aliança o homem tem que fazer, na nova aliança, o homem tem que deixar Deus fazer em si, e aí está todo o veio da oração, quando lá no poço de Jacó, Jesus encontra aquela mulher Samaritana. Ele vai beber água no poço de Jacó e encontra, simbolizando toda a lei, aquela mulher que tira com muito esforço a água do poço. E Jesus lhe diz: dá-me de beber. Jesus manifesta a sua sede para aquela mulher e ao mesmo tempo, na verdade, está revelando a sede do homem por Deus. Jesus está manifestando a grande sede que o homem tem de Deus e reclama e queixa-se porque o homem não reconhece que é um sedento de Deus, que é um necessitado de Deus. Ele diz: “se tu soubesses quem te diz: dá-me de beber, tu mesmo é que pedirias e eu te daria uma água viva, que brota para sempre no teu coração. Na verdade ali é o encontro das duas sedes, da sede de Deus pelo homem e da sede do homem por Deus. Sto. Agostinho diz: Deus tem sede de que nós tenhamos sede Dele. É dentro de toda essa dimensão do novo poço que a oração toma exatamente o seu papel:A oração é onde nós permitimos que a graça aja em nós, que Deus sacie a nossa sede e ao saciar a nossa sede aumente ainda mais esta sede por Ele, para que nós possamos crescer em graça, em conhecimento dele, para que Sua graça possa operar na nossa vida, porque a nossa vida não é fruto das nossas forças humanas. Nem a nossa salvação, nem a construção do mundo, nem da comunidade ou grupo ao qual pertencemos, fruto dos empenhos que temos, nem dos compromissos que temos, nem é fruto somente da nossa boa vontade, nem das nossas mãos humanas, mas é fruto da ação da graça em nós e da urgência que nós temos de buscar a fonte da graça, com humildade de coração. A busca da humildade de coração faz nascer e crescer em nós a sede de Deus e a sede de Deus, abre os portais da ação da graça na nossa vida.
Vamos ver como a oração e a ação da graça aconteceu na vida de vários homens bíblicos e aprender com eles alguns pontos muito importantes para nós:
Primeiro vamos meditar sobre Abraão. Segundo as Sagradas Escrituras, Deus disse a Abraão: “Sai da tua terra e vai aonde eu te disser”. Sem dúvida Abraão era amigo de Deus. E Abraão sai, diz a Sagrada Escritura. Abraão parte como lhe disse o Senhor. Para discernir a voz de Deus Abraão tinha que ser um orante. É na oração que Abraão escuta, por meio dos sinais da sua vida ou por meio da intervenção de Deus, a voz de Deus, que diz: “sai da tua terra”. Para Deus, o essencial à oração é se decidir por Ele e pela sua vontade, as palavras que usamos para orar são relativas. Para Abraão, o importante da sua oração é o seu coração se colocar à escuta de Deus e decidido por ele. Como ele vai realizar isso é relativo. O que importa é a escuta da ordem do Senhor e a decisão por ela. Muitas vezes nós não progredimos na oração, porque o nosso coração não está nesta postura, não buscamos a oração como uma fonte de escuta a Deus, não estamos decididos a conhecer a Deus e a sua Santíssima vontade por meio da oração. Diz
um famoso pregador, que nós não rezamos para mudar a vontade de Deus, mas nós
oramos para ajustar a nossa vontade à vontade de Deus. Quem ora querendo dobrar
a vontade de Deus, quem busca se relacionar com Deus, e entrar em intimidade
com Ele para domina-lo e não para se submeter a Ele, não progride na oração,
porque como já dissemos antes, Deus resiste aos soberbos. Deus
não se deixa dominar, e por isso a primeira coisa e fundamental para nós termos
verdadeira oração é a disposição do coração de se decidir por Deus, de ouvir a
sua voz e se submeter à Sua Santíssima vontade. Mesmo se temos receios, mas
queremos e oramos para que a nossa vontade se dobre a vontade soberana de Deus,
oramos para nos fortalecer na vontade soberana de Deus. Jacó vai nos mostrar uma outra dimensão da oração, quando ele luta com o anjo e o anjo ao sair lhe abençoa. A tradição da Igreja identificou esse combate do anjo com Jacó, como o combate da oração, como o combate da fé e vitória da perseverança. Durante a noite inteira Jacó perseverou na luta e não desistiu, porque sabia que combatia com o sagrado e confiava em Deus. Também para nós a oração é um combate. Jacó assim nos ensina e quem não está disposto a combater, não está disposto a crescer na oração. Quem busca a oração como uma comodidade, não tem como crescer na oração, mas quem entende a oração como um combate para crescer na fé e entende que a perseverança é que traz a vitória nesse combate, então se determina a combater continuamente na oração.
Vejamos o que Deus tem a nos ensinar através de Moisés:
O Senhor disse a Moisés que toda a Sua casa lhe seria confiada e falou-lhe face a face, claramente, não em enigmas. O Livro dos Números, mostra a intimidade que Moisés tinha com Deus e nos explica porque. É que Moisés era um homem muito humilde, o mais humilde dos homens que havia na terra. Por isso ouvia Deus claramente e não em enigmas. A humildade, nos faz desvendar o véu de Deus e da sua santa vontade. Os pastores e os profetas do povo, em toda a Sagrada Escritura, são sempre colocados como mestres de oração, como aqueles que devem educar o povo na oração, como aqueles que oram e por isso devem educar o povo para a oração. Se esses mestres, se esses pastores, e se esses profetas são autênticos, o povo voltará a Iahweh, o povo aprenderá a se relacionar com o seu Deus. O povo aprende a orar porque o fruto da escuta dos profetas traspassa a alma e o coração do povo e eles chamam o povo a voltar para o seu Deus. Mas se os seus chefes, se os seus pastores e seus profetas são falsos, estão buscando a si mesmos, a engordar a si mesmos, a bajular os reis, ou a serem guiados pela sua vontade própria, a desgraça se estabelece na casa de Israel e o povo se afasta do seu Deus. Davi se apresenta para nós como exemplo de louvor e arrependimento. Muito temos também a aprender com Davi, e seria muito importante encontrarmos, em nossa Lectio individual, as leituras bíblicas que se referem a ele. Elias
é o símbolo do profetismo e no tempo do profetismo o povo vinha ao templo para
aprender a cultuar a Deus. O templo tinha sido construído como um desígnio de
Deus neste sentido, mas chegou um tempo em que o ritualismo tomou o lugar do
verdadeiro culto e para aqueles, Elias veio a ser um dos sinais do verdadeiro
profetismo. Os verdadeiros profetas vêm para transmitir o chamado divino para o povo voltar à verdadeira religião, à conversão do coração. O profeta vem para o povo, sempre chama o povo, e alerta o povo contra o ritualismo mostrando que o caminho da verdadeira oração passa pelo desejo da conversão do coração. Também na nossa vida, nós corremos o risco da nossa oração se transformar num verdadeiro ritualismo. Se nós rezamos porque devemos rezar, se fazemos coisas somente porque devemos fazer, essas não são motivações suficientes. Nós devemos saber que a verdadeira oração não é simplesmente um ritual. Podemos entrar num louvor comunitário, cantar todas as músicas, fazer todos os gestos e sairmos do jeito que entramos. Quando isto acontece, Deus bem pode olhar pra nós e dizer: esse povo me honra com seus lábios, mas o seu coração está longe de mim. Podemos entrar numa adoração cochilando de sono e sermos agradáveis a Deus ou não, dependendo da disposição da alma e do coração que trazemos. Se colocamos toda a nossa alma, toda a sinceridade do nosso coração, e todo o nosso empenho na oração, estaremos fazendo o que nos cabe e Deus fará generosamente o que cabe a Ele. O ritualismo para nós significa fazer todas as coisas mecanicamente, como algo que vai agradar a Deus simplesmente pelo fazer, sem olhar o conteúdo, que colocamos, o coração, a alma, a sinceridade é um dos grandes riscos que podem esterilizar a nossa vida de oração. Sta Teresinha dizia que mesmo mortos de cansados, mesmo com sono, podemos derramar a alma diante de Deus. Para Sta. Terezinha, a oração nada mais era do que elevar a alma a Deus. Se elevamos a nossa alma a Deus e se usamos de todo o nosso ser, junto com o nosso corpo, as nossas expressões para nos ajudar a elevar a alma a Deus, então temos a visita da graça, mas se o nosso coração está longe, não está dentro da oração, não está em Deus, não está empenhado e as nossas potências não estão aplicadas a Ele, como diz Sto. Agostinho, se não tivermos o desejo de Deus, podemos gritar o mais alto que pudermos, mas Deus não nos ouvirá, porque Deus só ouve a alma que tem sede Dele, que tem desejo dele. O desejo de Deus é a força da nossa oração. O desejo de Deus não é um sentimento, mas uma aplicação da nossa alma, um derramar da nossa alma, um empenho do nosso coração, que compreende necessitar dele como do ar que respiramos. Por isto, quando perdemos o fervor por causa do ritualismo, pela azafama, pelo orgulho, pela soberba, por acharmos que já sabemos de tudo, que já podemos tudo, que já fazemos tudo, pelo intelectualismo, por acharmos que, pelas funções que exercemos, somos isso ou aquilo, já estamos bem longe de Deus. A soberba, o orgulho, que nos faz deixar de ser mendigos de Deus, de reconhecer a necessidade de Deus, pode estar por trás das justificativas mais nobres que colocamos diante de nós mesmos. Por isto nos cabe discernir nossas justificativas. Algumas que são o próprio Deus que nos coloca, mas há muitas que somos nós mesmos que colocamos. Será que elas não são a fonte muitas vezes para perdermos o nosso fervor?
São Tiago diz, falando de Elias:
"A oração fervorosa do justo tem grande poder..." Vejam bem, justo nós não somos, mas nós podemos entrar na brecha do justo que é Jesus, então a nossa justiça é Jesus Cristo. O que nós podemos fazer fora disso? Ser fervorosos. Nisso nós podemos nos empenhar, porque embora seja o Espírito que nos afervora, podemos colaborar. A oração é este caminho, peçamos a Deus que nós nunca percamos o fervor e que nos configuremos no justo, que é Jesus Cristo, assim com o coração humilde, sem ele, ela não existe, desejoso e sedento, a nossa oração terá grande poder. Porque? Porque ela atrairá o Espírito Santo e o Espírito de Deus realizará o que nós não podemos, não sabemos, nem entendemos. Que o Senhor nos dê esta graça. Amém.
VIII - A HUMILDADE – PARTE II
No Catecismo da Igreja Católica, lemos que a humildade é o fundamento da oração. Vamos procurar refletir um pouco sobre esse tema da humildade como fundamento para a intimidade com Deus, pois é também a própria Sta. Tereza D’Avila que nos dá essa direção: sem humildade, não há intimidade com Deus, a intimidade com Deus leva a humildade, e a humildade faz progredir a intimidade com Deus. Se não há disposição de um coração humilde, não há progresso na vida divina, porque Jesus, ele é o manso e o humilde de coração e Ele só se revela aos pequenos, Ele não se revela aos grandes. Para esta tarefa de falar e de aprofundarmos sobre este caminho da humildade, nós não podemos faze-lo sem o auxílio do Espírito Santo. Nada nós podemos fazer na vida cristã sem o auxílio do Espírito Santo, mas de uma maneira particular, falarmos sobre este caminho da humildade, é só uma obra do Espírito, porque nós não a temos em nós. Por causa da ferida do pecado, não tendemos por nós mesmos à humildade, mas ao orgulho, ao engrandecimento, como diz o padre Raniero Cantalamessa. A graça da humildade é algo que só o coração de Deus, o Espírito Santo de Deus pode gerar no nosso coração, porque a ferida do nosso pecado tende à soberba e este é o nosso pecado fundamental. Nesse sentido, o orgulho do homem é o “não” dado a Deus e o “sim” a nós mesmos. O orgulho consiste em rejeitar e renegar a nossa origem em Deus, rejeitar enxergar que Deus é que é o nosso tudo e que realiza tudo em nós. Deus nos criou e tudo o que somos é Dele. O orgulho faz resistir a Deus e nos apropriarmos dos dons de Deus, nos comportando como falsos deuses. Essa é a tendência do pecado original em nós, que é contrária a da humildade. Só o Espírito pode nos convencer a respeito do nosso pecado e nos fazer trilhar os caminhos da humildade. Por isso, vamos aproveitar este momento de reflexão e pedir o que não temos, pois se há uma coisa que nenhum de nós tem é a humildade. Então, vamos pedir o Espírito Santo, que docilmente, misericordiosamente nos ajude a trilhar neste caminho. No silêncio do coração, peçamos esta graça ao Senhor. No Antigo Testamento, a palavra de Deus já nos alerta sobre o caminho da humildade. Tomemos Eclo 3, que vai nos falar de uma maneira excelente sobre humildade. Nesta palavra Deus nos exorta à mansidão em todas às nossas ações: “Quanto mais fores grande, tanto mais é preciso que te humilhes, e encontrarás graça diante do Senhor, pois é grande o poder do Senhor e Ele é glorificado pelos humildes. O que é muito difícil para ti, não procure, o que está acima das tuas forças, não investigues, reflete sobre os mandamentos que te foram dados, pois não necessitas das coisas escondidas, não te afadigues com obras que te ultrapassa, o que já te foi mostrado é mais do que a mente pode conceber, muitos se transviaram por suas especulações, sua imaginação perversa, falseou os seus pensamentos e atenção, o coração endurecido acabará na desgraça, pois quem ama o perigo, nele perecerá. O coração endurecido, será acabrunhado de fadigas, pois o pecador acumula pecado sobre pecado, não há remédio para desgraça do orgulhoso, pois a planta da perversidade está enraizada nele, o homem inteligente, medita os provérbios em seu coração, ouvido atento, eis o que o sábio deseja”(Eclo 3) - Já no Antigo Testamento a palavra de Deus, eleva o humilde e abaixa o orgulhoso, porque quanto mais formos grande aos olhos dos homens, mais é preciso que nos humilhemos e encontraremos graça diante de Deus. O humilde encontra a graça de Deus, já o orgulhoso, não, pois não há remédio para a desgraça do orgulhoso, pois a planta da perversidade está enraizada nele. O orgulhoso é incapaz de encontrar a graça. O humilde é o terreno fecundo aonde a graça pode se derramar, pode se deitar e pode fecundar. Já saindo do Antigo Testamento e entrando no Novo Testamento, já encontramos a Virgem Maria, a humilde no sentido objetivo e subjetivo. Quando Nossa Senhora no seu Magnificat, diz que “o Senhor olhou para a humildade (o nada) de sua serva”, se refere à sua pobreza e não à virtude da humildade. Na verdade Nossa Senhora se identificava com os pobres, ela se identificava com os pequenos. Algumas das traduções bíblicas mais corretas, quando tratam dessa parte do Magnificat traduzem: “ele olhou para a pequenez, para a pobreza de sua serva”. Nossa Senhora se via assim, mas Deus não via assim Nossa Senhora. Deus olha pra ela e vê a virtude da humildade que ela acolhe com perfeição. Nossa Senhora não vê em si a virtude da humildade, porque essa é uma das características fundamentais daquele que verdadeiramente acolhe esta graça da parte de Deus. O verdadeiro humilde, ele sabe que ele não é humilde por si mesmo. Já o falso humilde, diz que é humilde para parecer humilde. Ele as vezes nem diz, mas vive em busca de ser reconhecido como humilde, mas no fundo no fundo, busca somente o seu orgulho, a sua vaidade. Uma outra dimensão da humildade, podemos ver no Evangelho de São João, na Pessoa de João Batista. Este anunciava a chegada do Reino de Deus, quando, ao ser indagado sobre sua própria identidade, respondeu: “Eu não sou o Cristo,; sou aquele que foi enviado diante dele. Aquele que tem a esposa é o esposo; quanto ao amigo do esposo, mantém-se ao pé dele, e o escuta, e a voz do esposo o enche de alegria. Tal é a minha alegria, ela é perfeita, É preciso que ele cresça e eu diminua”(Jo 3,28-30).
Duas frases de João Batista, revelam a obra do Espírito da graça de humildade que desde a sua gestação, o Senhor foi operando nele:
A primeira é: um homem não pode atribuir-se nada além do que lhe é dado do céu. O que é que o homem tem que não lhe é dado do céu? Nada além do pecado, tudo o que o homem tem é dado do céu, então, o que é que ao homem pode atribuir-se? Nada, além do pecado e João Batista chega a esse conhecimento profundo da alma e do coração, ele sabe que em si mesmo, de si mesmo e por si mesmo, nem a existência ele teria, tudo o que ele tem é de Deus, por si mesmo, nada. Essa é a idéia bíblica fundamental a respeito do homem, a dimensão da criação e a dimensão do pecado. Tudo que há de bom e belo no homem, vem de Deus, sem nada excluir, Deus nos criou, tudo que nós temos de bom e de belo, vem de Deus, foi Deus que nos deu, é criação de Deus, é dom de Deus, é graça de Deus, toda a dignidade que o homem tem e o homem tem uma dignidade, ela é dom de Deus, o homem recebeu de Deus, então, como diz o salmo 100, ele nos fez, nós não nos fizemos por nós mesmos. A segunda verdade sobre o pecado, tudo o que no homem é verdadeiramente errado e mal no sentido moral, provém da sua liberdade, dele mesmo, o homem bíblico, tende sempre a humildade, tende pelo bem que ele encontra nele, todos os bens e todos os dons que ele encontra nele vem de Deus, não vem de si mesmo, tende para a humildade pelo mal que ele encontra nele. Todo mal que ele encontra nele, vem dele mesmo, do pecado, não vem de Deus.
Aí nós entendemos o conceito de humildade que Sta. Tereza D’Avila nos dá de uma maneira tão clara:
“eu me perguntava, porque motivo o Senhor ama tanto a humildade e acudiu-me a mente de improviso, sem reflexão alguma de minha parte, que deve ser porque ele é suma verdade e a humildade é verdade”. - Quando trilhamos o caminho da humildade, chegamos à verdade a respeito de nós mesmos e a respeito de Deus. As vezes queremos fazer esse caminho no inverso, partindo de um convencimento de que somos muito bons, e acabamos descobrindo o contrário. Mas quanto mais o homem busca a humildade, ele chega ao conhecimento da verdade a respeito dele mesmo e a respeito de Deus e chega ao conhecimento que tudo o que ele tem de bom, toda a dignidade pessoal, ele encontra em Deus, pois de si mesmo ele nada tem nem nada é, a não ser a sua própria fraqueza e o seu próprio pecado. Como Deus é pura verdade, Deus só pode se relacionar conosco na verdade e se nós não entramos no caminho da humildade, nós estamos na mentira. Não há como ter um relacionamento autêntico com Deus na base da mentira. Por isso a graça de Deus vai nos levar sempre à humildade, porque a humildade é a verdade e progredir nessa graça, depende de nunca nos esquecermos disto. Progredir na graça de Deus passa por progredir na humildade, porque isto é progredir na verdade. A grande tentação que o homem tem é aquela que São Paulo fala quando não buscamos a justa estima de nós mesmos, mas queremos aspirar coisas altas demais para nós, acabamos por nos tornar ignorantes. Quando com inquisições desmedidas que não levam em conta a limitação pessoal e o mistério começamos a inquirir a Deus. Também quando ambicionamos posições e funções prestigiosas, este é outro pecado que conspira contra a humildade, a ambição da vontade. A presunção da mente e a ambição da vontade são um risco contínuo para a humildade.No Evangelho de São Lucas, cap. 14,7-11, lemos que Jesus disse: “quando fores convidado para uma festa de casamento, não vás te colocar no primeiro lugar, para que não ocorra que tenham convidado alguém mais importante do que tu e aquele que convidou a ti e a ele venha a te dizer cede-lhe o lugar. Então irás todo envergonhado tomar o último lugar. Ao contrário, quando fores convidado, vai-te colocar no último lugar, a fim de que a sua chegada, aquele que Te convidou te diga: meu amigo, vem mais pra cima, então, será para ti uma honra, perante todos os que estiverem a mesa contigo, pois todo homem que se eleva, será rebaixado, mas quem se rebaixa será elevado”. Muitos de nós,resistimos a esta verdade do Evangelho: “todo homem que se eleva será rebaixado, mas quem se rebaixa será elevado”, mas este é um princípio fundamental no Reino de Deus. O que é o banquete? É o banquete do Reino, é o banquete celestial. Jesus diz para nós que na nossa vida comunitária, nós não devemos aspirar os primeiros lugares, o prestígio, o governo. Não deve ser uma aspiração nossa estar a frente, ser reconhecido, porque ele diz que dentro do seu Reino não cabe a aspiração humana do orgulho e da vaidade. No Evangelho quando a mãe dos filhos de Zebedeu chega pra Jesus e pede para um ficar à sua direita e outro ficar a sua esquerda Jesus pergunta se eles quererão ser batizados do batismo com o qual Ele vais ser batizado, e isto significa sofrer com Ele a humilhação e a incompreensão dos homens. No Reino de Deus, são os desígnios do Pai que devem definir nossas escolhas. Às vezes queremos encobrir nossos desejos de glória, dizer que fazemos tudo por causa dos irmãos, mas se você formos a fundo, vamos encontrar a ambição da vontade corroendo o nosso coração. O orgulho, o desejo de nos impor e de sermos reconhecidos. Jesus nos orienta a, no Reino de Deus, sermos pequenos, os menores, porque quem aspira coisas altas, quem deseja ser o maior, quem deseja ser o melhor, mesmo revestido de aparente humildade, este será rebaixado, este será humilhado, porque para os olhos de Deus, grande é quem tem um coração pequeno e quem tem o coração pequeno é quem busca ser pequeno, quem busca ser menor. Esta é a minoridade de São Francisco de Assis e de João Batista que é a segunda frase que ele diz: importa que Ele cresça e que eu diminua. Esta é uma lei fundamental dentro do Evangelho: Deus só cresce e resplandece na nossa vida, as grandezas e as maravilhas de Deus, só se manifestam nas almas dos pequenos, nas almas do menores. Está aí Francisco, está aí Sta. Tereza que primou pela humildade, toda a sua vida e de uma maneira especial aqui a pequena Tereza, Sta. Terezinha que escolheu a virtude da humildade como um caminho, viveu dentro do seu mosteiro, desconhecida. Ela não buscou ser exaltada, mas sempre buscou o caminho da minoridade, do ser pequena, do não ser o centro, mas ter Deus como o centro. Qual é a justa estima de si? São Paulo diz: “não vos estimeis mais do que convém estimar-se, mas estimai-vos de modo a terdes de vós uma estima justa”...“não aspireis coisas altas demais, mas pelo contrário, deixai-vos atrair pelas humildes”. Infelizmente, às vezes não prestamos muita atenção a esta Palavra. Quando São Paulo diz isso, a gente começa a pensar: então, a gente tem um conceito, então, a gente tem uma estima. Sim, esse conceito e essa nossa estima consiste em reconhecer mais uma vez repetimos que tudo que somos e que temos vem de Deus, e é dom de Deus, que toda a nossa dignidade vem dele, que por nós mesmos, nós não somos nada. Isto é o que diz o próprio São Paulo na primeira carta aos Coríntios: “O que tens que não haja recebido? E se o recebeste, porque glorias como se não o tivesse recebido?”. E aos Gálatas, ele vai dizer: “ Se alguém pensa ser alguma coisa quando é nada, engana-se a si mesmo”. A justa estima de si mesmo é portanto reconhecer que por nós mesmos nós não somos, não temos nada, nem existíamos, tudo que somos e tudo que temos devemos a Deus, este é o terreno sólido, aonde a humildade é plantada. A humildade não é para destruir a dignidade do homem, mas postula que o homem nada tem de seu como próprio, nada de que possa vangloriar-se. Na verdade a humildade, vem destruir a vanglória, e não a dignidade.
E o que é a vanglória?
É a glória que não nos pertence, é a glória vã, é a glória que devemos dar a quem a pertence, que é Deus. É a vanglória que a humildade destrói. Ela não destrói o reconhecimento e a gratidão a Deus mas, pelo contrário, ela reconhece a dignidade do homem como dom de Deus e dá glória a Deus e não a si mesmos. Se nós queremos agradar realmente a Deus, esse é o caminho: permanecer na verdade de que somos pequenos, e termos um coração manso e humilde, buscando as coisas humildes. Só assim a glória, a potência e a grandeza de Deus podem se manifestar, porque Deus resiste aos soberbos e se revela aos humildes. No Evangelho de São Lucas, 10,21-22 lemos que Jesus exultou sobre a ação do Espírito e disse: “eu te louvo pai Senhor do céu e da terra, por teres ocultado isso aos sábios e aos inteligentes e por tê-lo revelado aos pequeninos, sim, pai, foi assim que tu dispuseste em tua benevolência, tudo me foi entregue por meu pai e ninguém conhece quem é o filho a não ser o pai, nem quem é o pai, a não ser o filho e aquele a quem o filho aprouver revelá-lo. A
quem o filho aprove a revelar os segredos de Deus? Aos pequeninos. Portanto, se
queremos conhecer a Deus, e contemplar a grandeza e a beleza de Deus, se
queremos ser instrumentos do Deus poderoso e do Deus grande, sejamos pequenos. Não se pode conhecer a Deus, nem ser usado por Deus se somos grandes aos nossos próprios olhos, se buscamos ser grandes aos olhos dos outros, e alimentamos todos esses desejos, porque quem não deseja na sua carne, ser grande, este já morreu e está no céu. É próprio do homem pecador, do homem velho desejar e aspirar as grandezas e é próprio do homem novo mortificar este desejo. É próprio do homem velho desejar ser reconhecido, é próprio do homem velho desejar ser elogiado, é próprio da concupiscência, desejar os primeiros lugares, é próprio da concupiscência desejar ser lembrado, mas é próprio do homem novo, mortificar pela graça de Deus, estas realidade dentro de si, porque ele sabe que quanto mais ele se abaixar, mais Deus o elevará, quanto mais ele for pequeno, mais próximo ele está da verdade a respeito de si mesmo e a respeito de Deus. Quanto mais ele buscar ser pequeno, mais Deus poderá utiliza-lo para realizar as suas grandes coisas, as grandes coisas de Deus. Quanto mais formos pequenos e buscarmos ser pequenos diante de Deus e diante dos homens, tanto mais ele revelará a sua face, o seu rosto, a sua bondade e a sua misericórdia a nós e através de nós. Essa é uma tarefa grandiosa que só o Espírito Santo pode realizar, e que nós não podemos realizar por nós mesmos. Este é um caminho que Deus inaugura na nossa vida. O Pe. Raniero Cantalamessa, quando fala sobre humildade e humilhações, diz que o caminho da humildade passa por muitas vezes dentro da providência divina por caminhos de humilhações, porque o orgulho é muito forte. A vanglória é capaz de transformar, atenção, em ato de orgulho até o nosso pendor para a humildade. Se de fato, como podemos sair desta terrível batalha?Só a graça de Deus, só a graça de Deus, só a graça de Deus é capaz de realizar o que para nós, por nós mesmos e pela nossa concupiscência é impossível. Pela graça de Deus, reconhecendo e desmascarando os atos de orgulho. A melhor maneira de aplicarmos uma palavra do Evangelho, é dirigindo-a para nós mesmos e nunca para os outros. Este é o caminho da humilhação, da humildade que entra pela humilhação que dentro da sua providência Deus nos permite viver. É importante ver que muitas vezes nós somos capazes de nos acusar dos nossos pecados e das nossas fraquezas e nos julgamos humildes por isso, mas não aceitamos que outros nos acusem. Podemos dizer o pior de nós mesmos, mas não admitimos que ninguém o diga. Por exemplo, nós chegamos ao Padre e dizemos: Padre, pequei, eu sou um orgulhoso, mas se alguém diz algo de nós, todo o nosso orgulho se levanta, e não admitimos. O caminho da humildade é aquele caminho que o Senhor vai fazendo em nós e permitindo que nós acolhamos as críticas e as humilhações que a vida muitas vezes nos permite passar para nos fazer crescer na humildade.Nenhum homem é capaz de bater em si mesmo até se ferir demais, mas outro é capaz de nos ferir o suficiente. O caminho da humildade passa por reconhecer esta obra de Deus em favor de nós. Deus permite que acontecimentos da vida nos façam crescer na humildade, e gerar este coração manso e humilde. O filho de Deus, o manso e humilde de coração passou por este caminho. O filho de Deus nos convida a passar as rejeições do mundo, o desprezo do mundo, as críticas do mundo, unidos a ele, para assim nos comunicar o seu coração manso e humilde. Aí as rejeições e as críticas do mundo não nos ferirão mais, não nos degradarão mais, não destruirão mais a nossa estima, mas pelo contrário, produzirão bem ao nosso coração, sejam justas ou sejam injustas. Deus reverterá em grande bem a todo aquele que tem um coração manso e humilde ou que deseja ter pela sua graça, porque ninguém tem, mas pela graça ele pode operar em nós.
Até agora nós vimos que somos chamados ao conhecimento de Deus pela oração, que não pode existir oração, se não existir um coração, pequeno, não se pode progredir no conhecimento de Deus sem um coração pequeno. E se nós vimos que a humildade é o campo fértil para crescermos no conhecimento de Deus, a verdadeira humildade é serviço, é operativa, existe em favor da caridade, da glória de Deus e salvação dos homens. O Evangelho de Mateus 12,15-21 nos mostra o exemplo do humilde, que é o servo de Deus, Jesus Cristo. Jesus é o Servo, Ele que é o Senhor, Ele que recebeu do Pai toda autoridade, todo o poder. Por amor a nós, o Pai manifestou-se e disse: “ Ele é o servo a quem eu elegi, diz o Senhor, meu bem amado que me aprouve escolher, sobre ele eu porei o meu Espírito”. Sobre o humilde, sobre o servo, sobre aquele que opera a caridade, o Pai põe o Seu Espírito. É no Espírito que ele será humilde, que será servo e operará a caridade. Ele anunciará o direito as nações, porque este é o direito divino. O direito divino não é a dominação, o direito divino não é imposição, o direito divino não é a exaltação, o direito divino não é uma autoridade que se impõe, porque se assim fosse, Deus teria escolhido salvar o mundo por meio de relâmpagos, trovões, terremotos, pestes. Ele poderia ter imposto a sua autoridade pelo temor, mas não foi por este meio que Deus quis se manifestar no meio dos homens. Em vista da Sua salvação, Ele se fez homem, Ele se fez menino, Ele se fez criança, Ele se fez servo, Ele se fez humilde, Ele se fez caridade e é assim que Ele anuncia o direito as nações, não de outra forma. Deus não se envolverá em disputas, não soltará gritos, não quebrará o caniço rachado, não apagará a mecha que ainda fumega até ter conduzido à vitória, ao direito, pela humildade e pela caridade, que é a fonte da autêntica autoridade, que convence, que destrói o mal, que não impõe, mas se impõe, que não domina, mas se manifesta em Seu nome. É no nome do Senhor que as nações porão sua esperança e a vitória do direito. A esperança das nações vem por meio da humildade, do serviço e da caridade. E é exatamente isso que Jesus diz em Mateus 20: “Os
chefes das nações as mantém sobre seu poder e os grandes sobre seu domínio, mas
não deve ser assim entre vós. Pelo contrário, se alguém quer ser grande entre
vós, seja vosso servo e se alguém quer ser o primeiro dentre vós, seja vosso
escravo, assim é que o filho do homem veio, não para ser servido, mas para
servir e dar a sua vida em resgate pela multidão...” (Mt 20,25-28). Esta é a mentalidade de Cristo, que destoa da mentalidade do mundo e da mentalidade do homem velho que existe dentro de nós. O homem velho que luta por prevalecer em nós deseja exercer a autoridade não como um serviço. Por mais que julgue que esteja servindo e até deseje servir, ele usa os meios do mundo. Mas os meios do mundo não conduz aos fins do Reino.Na história de muitos séculos da Igreja, desde o início, sempre houve pessoas que se afastam do barulho e dos movimentos para, no ermo silencioso dos mosteiros ou mesmo nas alturas das montanhas, viverem na intimidade contemplativa da infinitude divina. Assim se multiplicaram pelo mundo os mosteiros masculinos e femininos, onde se conseguisse viver o fervor da fé no silêncio fecundo da intimidade com Deus, sem incômodos externos, sem barulho, sem invasão indevida.Estes eloqüentes testemunhos de desprendimento do mundo e de busca do transcendente enriqueceram a história religiosa do passado. Mosteiros muitos se espalharam pelo mundo e, até hoje ainda, se erguem como núcleos de vida interior pelas nossas cidades. São respiradouros de saúde espiritual, que não podem deixar de existir para purificar os ares de miasmas infecciosos.Estes
testemunhos valiosos de transcendência e eternidade enriquecem a Igreja de
santidade. No barulho inquieto do mundo são ilhas de vida silenciosa, onde
almas privilegiadas – como Moisés no monte – erguem os braços para o alto em
súplicas intercessoras pelos que, na azáfama da vida, se esquecem de erguer os olhos para as
alturas infinitas. Benditos estes recantos privilegiados, nesgas silenciosas
onde Deus se encontra, verdadeira antecipação do céu.Mas, mesmos fora destes “paraísos” silenciosos e fecundos de contemplação, há por certo almas
privilegiadas, que Deus enriquece prodigamente com dons singulares de silêncio
interior, extasiadas com a beleza transcendente do Infinito. Sem sair do
mundo, conseguem elevar-se e viver contemplando o que não se vê com os olhos do
corpo, mas com a luz da fé.Também
estes são contemplativos: olhar fixo na beleza incriada, coração nos braços
amorosos e paternos de Deus.
FONTE: http://www.comshalom.org/formacao/exibir.php?form_id=2053
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