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Pe Luciano da Costa Massullo: "liturgia da Palavra e Liturgia Eucarística, quem é mais importante"?

Written By Beraká - o blog da família on sexta-feira, 8 de novembro de 2024 | 14:42


 

A liturgia da Palavra nas catequeses do Papa Francisco



Por *Luciano da Costa Massullo

  




A liturgia da Palavra "é parte essencial na celebração de todos os sacramentos da Igreja, sobretudo na celebração eucarística". Seu sentido predominante é o do diálogo que se estabelece entre Deus e seu povo. Deus fala ao povo pela Palavra proclamada, e o povo, por sua vez, responde a Deus pelo canto e pela oração. Nas catequeses sobre a celebração eucarística, o papa Francisco nos ajuda, pela ritualidade, a entender a dinâmica de cada um de seus ritos.





Introdução




O papa Francisco, no dia 8 de dezembro de 2017, deu início a uma série de catequeses sobre a celebração eucarística. Foram 15 quartas-feiras dedicadas à reflexão sobre o sentido dos principais ritos da missa. Em uma linguagem simples e direta, Francisco nos recordou a importância da missa na vida dos discípulos de Jesus.




Como o próprio papa nos diz, a finalidade dessa série de catequeses é fazer que cresçamos no grande dom que Deus nos concedeu na Eucaristia. Se a celebração eucarística, às vezes, parece um amontoado de ritos tediosos, certamente parte dessa impressão se dá pela falta de compreensão do sentido de cada um dos pequenos ritos que a constituem. É fundamental compreender bem o valor e o significado da missa, a fim de viver cada vez mais plenamente nossa relação com Deus. 




A proposta apresentada pelo papa, ao longo dessas catequeses, é responder a perguntas simples, como: Qual o objetivo da proclamação da Palavra de Deus? Qual o sentido das palavras pronunciadas na homilia? 



No intuito de contribuir para a adequada formação litúrgico-pastoral, proponho aqui uma apresentação das catequeses do papa Francisco no que diz respeito à liturgia da Palavra.




1. A Palavra de Deus




Juntamente com a liturgia eucarística, a liturgia da Palavra constitui o centro da celebração. O documento conciliar Dei Verbum recorda que: 



"A Igreja sempre venerou a Sagrada Escritura da mesma forma como venera o próprio Corpo de Cristo e, na liturgia, entrega aos fiéis o Pão da Vida, tanto da mesa da Palavra como da mesa da Eucaristia" (DV 21).




“Depois de termos refletido sobre os ritos de introdução, consideremos agora a liturgia da Palavra, que é uma parte constitutiva porque nos reunimos precisamente para ouvir aquilo que Deus fez e ainda tenciona realizar por nós” (PAPA FRANCISCO,  Audiência Geral – AG –, 31 de janeiro de 2018).



Conforme o relato dos Atos dos Apóstolos sobre as primeiras comunidades cristãs, era costume, nas reuniões, fazer memória das palavras e gestos de Jesus (At 2,41s). Passados 2 mil anos, a Igreja continua reunindo-se para ouvir o Senhor e compreender seus ensinamentos, com a ajuda do Espírito Santo. Deus continua falando-nos hoje, de modo especial, quando sua Palavra é proclamada na liturgia. 



Dessa forma, compreendemos que o anúncio da Palavra de Deus é parte integrante da celebração do mistério de Cristo e não deve ser omitido em nenhuma celebração litúrgica (PAPA BENTO XVI, VD 52). 

 


A liturgia tem sua fonte na Sagrada Escritura, dela se alimenta sempre, pois dela tudo adquire, de modo que a celebração litúrgica encontra seu sentido pleno somente se for iluminada pela Palavra de Deus!




“Cada um de nós, quando vai à missa, tem o direito de receber abundantemente a Palavra de Deus bem lida, bem proclamada e, depois, bem explicada na homilia. É um direito! E quando a Palavra de Deus não é bem lida, não é pregada com fervor pelo diácono, pelo sacerdote ou pelo bispo, não se cumpre um direito dos fiéis. Nós temos o direito de ouvir a Palavra de Deus. O Senhor fala para todos, pastores e fiéis. Ele bate à porta do coração de quantos participam na missa, cada um na sua condição de vida, idade, situação. O Senhor consola, chama, suscita rebentos de vida nova e reconciliada. E isso por meio da sua Palavra. A sua Palavra bate ao coração e muda os corações! (PAPA FRANCISCO, AG, 14 de fevereiro de 2018).




O documento conciliar Sacrosanctum Concilium, ao falar da presença de Cristo na liturgia, lembra que ele está presente em sua Palavra, pois, quando se leem as Sagradas Escrituras, é ele mesmo que fala (CNBB, IGMR, n. 7). Assim, o leitor, o salmista e aquele que proclama o Evangelho agem como ministros. Cristo fala por eles. Sua voz, expressão, entonação, olhar e todo o seu ser estarão a serviço da comunicação entre Deus e os seus.




“As páginas da Bíblia deixam de ser um escrito para se tornar Palavra viva, pronunciada por Deus. É Deus quem, através da pessoa que lê, nos fala e nos interpela, a nós que ouvimos com fé. O Espírito ‘que falou por meio dos profetas’ (Credo), inspirando os autores sagrados, faz com que ‘a Palavra de Deus atue realmente nos corações aquilo que faz ressoar aos ouvidos’. […] Às vezes, talvez, não entendemos bem por que algumas leituras são um pouco difíceis. Mas Deus fala-nos igualmente de outro modo. [É preciso estar] em silêncio e ouvir a Palavra de Deus. Não vos esqueçais disso. Na missa, quando começam as leituras, ouçamos a Palavra de Deus” (PAPA FRANCISCO, AG, 31 de janeiro de 2018).





O sentido predominante em toda a liturgia da Palavra é o diálogo que se estabelece entre Deus e seu povo!

 


Deus fala ao povo pela Palavra proclamada, e o povo, por sua vez, responde a Deus pelo canto e pela oração. É o diálogo nupcial entre o Esposo (Cristo) e a esposa (Igreja). Um fala, e o outro ouve. Não se trata de conversa de amigos, de conhecidos ou de troca de palavras, como tantas que fazemos no dia a dia, mas sim de um diálogo apaixonado. A assembleia reunida está desejosa de ouvir a Deus e deixar-se transformar pela sua Palavra. Deus, de sua parte, está disposto a ouvir e acolher nosso desejo de transformação. Para que o diálogo possa acontecer, são necessários atenção e silêncio. Sem silêncio, não há verdadeira escuta.



Em sua catequese, o papa Francisco chama a atenção para um fato muito recorrente em nossas assembleias litúrgicas: "a distração durante a liturgia da Palavra"




“E quantas vezes, enquanto se lê a Palavra de Deus, se comenta: ‘Olha aquele…, olha aquela… olha o chapéu que ela tem: é ridículo…’. E começa-se a fazer comentários. Não é verdade? Devem-se fazer comentários durante a leitura da Palavra de Deus? Não, porque, se tu tagarelas com as pessoas, não ouves a Palavra de Deus. Quando se lê a Palavra de Deus na Bíblia – a primeira leitura, a segunda, o salmo responsorial e o Evangelho –, devemos ouvir, abrir o coração, pois é o próprio Deus que nos fala, e não podemos pensar em outras coisas nem falar de outros assuntos” (PAPA FRANCISCO, AG, 31 de janeiro de 2018).







Se perguntássemos aos participantes de uma celebração eucarística se todos creem na presença de Cristo em sua Palavra proclamada, seguramente a resposta seria afirmativa. Contudo, é fácil perceber que seguidamente nos esquecemos dessa presença sacramental. Cesário, bispo de Arles no século VI, refletindo sobre a presença de Jesus na Palavra, exortava sua comunidade:




Eu lhes pergunto, irmãos e irmãs, digam o que, na opinião de vocês, tem mais valor: a Palavra de Deus ou o Corpo de Cristo? Se quiserem dar a verdadeira resposta, certamente deverão dizer que a Palavra de Deus não vale menos que o Corpo de Cristo. E, por isso, todo cuidado que tomamos quando nos é dado o Corpo de Cristo, para que nenhuma parte escape de nossas mãos e caia por terra, tomemos este mesmo cuidado, para que a Palavra de Deus que nos é entregue não morra em nosso coração enquanto ficamos pensando em outras ou falando de outras coisas; pois aquela pessoa que escuta de maneira negligente a Palavra de Deus não será menos culpada do que aquela que, por negligência, permitir que caia por terra o Corpo de Cristo (Cesário de Arles, Sermão 78,2).



A dinâmica proposta pela celebração litúrgica constitui, em si mesma, a melhor e mais perfeita leitura orante da Palavra de Deus. Nela, a Palavra é proclamada e ouvida, explicada e meditada pela homilia, transformada em oração nas preces dos fiéis (que sempre deveriam estar inspiradas na Palavra proclamada), e encontra seu sentido mais pleno na mesa da Eucaristia, que realiza o que antes fora anunciado. Desse modo, para favorecer esse encontro com Deus, o papa nos recorda dos cuidados necessários para com a celebração da liturgia da Palavra.




 

 

 

“[…] compreende-se por que são proibidas algumas escolhas subjetivas, como a omissão de leituras ou sua substituição com textos não bíblicos. Ouvi dizer que alguém, quando há uma notícia, lê o jornal, porque é a manchete do dia. Não! A Palavra de Deus é a Palavra de Deus! Depois podemos ler o jornal. Mas ali lê-se a Palavra de Deus. É o Senhor que nos fala. Substituir aquela Palavra com outras empobrece e compromete o diálogo entre Deus e seu povo em oração. Ao contrário, [exige-se] a dignidade do ambão e o uso do Lecionário, a disponibilidade de bons leitores e salmistas. Mas é preciso procurar bons leitores, que saibam ler, e não aqueles que leem [deturpando as palavras] e não se entende nada. É assim. Bons leitores! Devem preparar-se e ensaiar antes da missa, para ler bem. E isso cria um clima de silêncio receptivo” (PAPA FRANCISCO,  AG, 31 de janeiro de 2018).




Como garantir o diálogo entre Deus e seu povo quando descuidamos do sistema de som de nossas igrejas? 




Quando escolhemos os leitores poucos minutos antes da missa, sem nenhum preparo? Quando improvisamos uma melodia para o salmo alguns minutos antes da celebração? Quando trocamos ou omitimos os textos bíblicos? Parece que ainda estamos bastante longe do que a liturgia propõe.



De outra parte, pensemos no quanto nos deixamos transformar, ou não, pela Palavra de Deus?



De nada serviria uma celebração bonita ao redor da Palavra, com todos os ritos bem executados, se não estivéssemos dispostos a permitir que essa Palavra transforme nossa vida, nosso modo de pensar, agir e reagir diante do mundo em que vivemos e das pessoas que nos cercam. Uma comunidade que se reúne todos os domingos para ouvir a Palavra de Deus é comunidade que, semana após semana, caminha em direção à santidade. É comunidade que vive, cada dia, mais próxima do Reino dos céus, sem divisões, ciúmes, intrigas, fofocas e competição. Afinal, “tua Palavra é assim, não passa por mim sem deixar um sinal!”




 

“Sem dúvida, não é suficiente escutar com os ouvidos, sem acolher no coração a semente da Palavra divina, permitindo que ela produza frutos. […] A ação do Espírito, que torna eficaz a resposta, tem necessidade de corações que se deixem modelar e cultivar, de modo que quanto é ouvido na missa passe para a vida de todos os dias […]. A Palavra de Deus percorre um caminho dentro de nós. Escutamo-la com os ouvidos e ela passa para o coração; não permanece nos ouvidos, mas deve chegar ao coração; e do coração às mãos, às boas obras. Eis o percurso da Palavra de Deus: dos ouvidos ao coração e às mãos. Aprendamos estas coisas” (PAPA FRANCISCO, AG, 31 de janeiro de 2018).




2. A proclamação do Evangelho




O ponto alto da liturgia da Palavra é, sem dúvida, a proclamação do Evangelho. Por sinal, é com base no Evangelho que são escolhidos os outros textos bíblicos proclamados na liturgia dominical, de modo especial no Tempo Comum, com exceção da segunda leitura, que, via de regra, não se conecta com os demais textos. Nos tempos fortes da liturgia, isto é, nos ciclos do Natal e da Páscoa, a escolha do Evangelho se dá à luz da espiritualidade própria de cada tempo. Nos domingos do Tempo Comum, ou seja, na celebração da Páscoa semanal, o texto do Evangelho segue os acontecimentos da vida de Jesus, suas ações e palavras, conduzidas, cada ano, por um dos evangelistas com grande sintonia entre si (sinóticos): Mateus, Marcos e Lucas.




“Do mesmo modo que os mistérios de Cristo iluminam toda a revelação bíblica, assim, na liturgia da Palavra, o Evangelho constitui a luz para compreender o sentido dos textos bíblicos que o precedem, tanto do Antigo como do Novo Testamento” (PAPA FRANCISCO, AG, 7 de fevereiro de 2018).



 

 

 

-A primeira leitura, quase sempre extraída do Antigo Testamento, apresenta uma imagem (figura, contexto, exemplo) daquilo que, no Evangelho, será apresentado por Cristo na perfeição. É o que na teologia chamamos de leitura tipológica. O Antigo Testamento anuncia, de modo imperfeito, o que se realiza em Cristo no Novo Testamento. O salmo, por sua vez, é resposta à primeira leitura. Portanto, a chave de leitura da liturgia da Palavra dominical será sempre a proclamação do Evangelho, para a qual deve ser reservada toda a atenção (CNBB, IGMR, n. 60).

 

 

 

-A proposta ritual para a proclamação do Evangelho cuidou de cercá-la de ações e gestos que destacam sua importância diante dos outros textos proclamados. A liturgia propõe que o Evangeliário (livro que contém somente os textos dos Evangelhos proclamados) seja conduzido na procissão de entrada e depositado sobre o altar. Sua proclamação está reservada ao ministro ordenado. Assim como a assembleia e o altar, o Evangelho é incensado antes da proclamação. Há um anúncio solene precedido por um canto aclamativo. A escuta é feita de pé, e todos traçam o sinal da cruz sobre si. Ao final, o ministro beija o livro em sinal de veneração (CNBB, IL, n. 17-18).

 

 

 

“[…] na missa não lemos o Evangelho para saber o que aconteceu, mas ouvimos o Evangelho para tomar consciência do que fez e disse Jesus outrora; e aquela Palavra é viva, a Palavra de Jesus que está no Evangelho é viva e chega ao meu coração. Por isso, ouvir o Evangelho é muito importante, com o coração aberto, porque é Palavra viva” (PAPA FRANCISCO, AG, 7 de fevereiro de 2018).

 




Esses sinais querem nos indicar que toda a atenção deve ser dada à proclamação do Evangelho. Nele, Cristo se manifesta plenamente e se dá como alimento ao seu povo reunido para escutá-lo. O que vem antes é uma preparação para a escuta e a compreensão do Evangelho; o que vem depois, a homilia, é desdobramento e consequência: aderimos ao que foi proclamado pela profissão de fé e pedimos a Deus que realize o que foi anunciado pelas preces da assembleia.




“Porque a Boa Notícia, a Palavra de Deus, entra pelos ouvidos, vai ao coração e chega às mãos para fazer boas obras” (PAPA FRANCISCO, AG, 7 de fevereiro de 2018).

 



3. A homilia




A homilia é um elemento importante em nossas assembleias dominicais e, por isso, mereceu especial atenção do papa em suas catequeses sobre a celebração eucarística. Embora não seja um elemento novo, somente no contexto do Concílio Vaticano II a homilia voltou a ser parte integrante da celebração litúrgica (SC 7).




Durante muitos séculos, ela esteve completamente separada da celebração, tanto na forma como no conteúdo. O sermão, como era costume chamar a homilia, estava focado em pregações sobre temas que pouco ou nada se relacionavam com a Palavra de Deus e, menos ainda, com a vida da assembleia.




O Concílio buscou devolver a homilia à liturgia, por isso postulou que fosse encarada como parte da liturgia, inspirada na Palavra proclamada ou nos textos das orações propostas pelo Missal (CNBB, IGMR, n. 65).

 



Sabemos que o caminho percorrido até agora foi muito importante e grandes progressos foram feitos. As tentativas de ajudar os pregadores (homiliastas) a preparar e fazer uma boa homilia multiplicam-se em todos os âmbitos, tanto na formação seminarística como nas inúmeras publicações de roteiros homiléticos de autores renomados, incluindo biblistas, liturgistas e outros, sem contar as inúmeras iniciativas das conferências episcopais.




“O que é a homilia? É ‘um retomar este diálogo que já está estabelecido entre o Senhor e o seu povo’, para que seja posta em prática na vida. A autêntica exegese do Evangelho é a nossa vida santa! A Palavra do Senhor termina a sua corrida fazendo-se carne em nós, traduzindo-se em obras, como aconteceu em Maria e nos santos. Recordai aquilo que eu disse na última vez: a Palavra do Senhor entra pelos ouvidos, chega ao coração e vai às mãos, às boas obras. E também a homilia segue a Palavra do Senhor, fazendo inclusive esse percurso para nos ajudar, a fim de que a Palavra do Senhor chegue às mãos, passando pelo coração” (PAPA FRANCISCO, AG, 14 de fevereiro de 2018).




De um lado está o homiliasta, que a cada domingo deve proferir uma homilia à sua assembleia, sem ser repetitivo e, ao mesmo tempo, sendo capaz de falar de forma simples, para que possa ser entendido por um público tão diverso. De outro, está a assembleia, sedenta da Palavra de Deus, mas nem sempre disposta a escutar e, muitas vezes, com alguns preconceitos em relação ao pregador. Em sua catequese, retomando o que já fora dito na Evangelii Gaudium, o papa propõe algumas pistas importantes a respeito da homilia. O pontífice começa recordando que ela é uma resposta à Palavra proclamada, por isso deve estar intensamente relacionada com ela. A homilia, por ser parte da liturgia, não pode desconsiderar a Palavra de Deus, esta é sua fonte primeira de inspiração. Depois, é preciso relacionar essa palavra com a vida da comunidade. A Palavra deve encarnar-se, assumir o rosto daquela assembleia e trazer luzes à sua vida. É preciso transformar-se em Boa-nova, capaz de encher de esperança quem a ouve. Seria possível fazer isso se o pregador não conhecesse a assembleia que tem diante dele? Penso, recordando o que disse Francisco, que somente o pastor que tem o cheiro das ovelhas conseguirá ter sua voz reconhecida por elas.




 

“Quem profere a homilia deve cumprir bem o seu ministério – aquele que prega, sacerdote, diácono ou bispo –, oferecendo um serviço real a todos aqueles que participam na missa, mas também quantos o ouvem devem desempenhar sua parte. Antes de tudo, prestando a devida atenção, ou seja, assumindo as justas disposições interiores, sem pretensões subjetivas, conscientes de que cada pregador tem qualidades e limites. Se às vezes há motivos para se entediar, porque a homilia é longa, ou não está centrada, ou é incompreensível, outras vezes, ao contrário, o obstáculo é o preconceito. E quem pronuncia a homilia deve estar consciente de que não faz algo próprio, mas prega dando voz a Jesus, prega a Palavra de Jesus. E a homilia deve ser bem preparada, deve ser breve, breve!” (PAPA FRANCISCO, AG, 14 de fevereiro de 2018).




Como o próprio nome indica, homilia é uma conversa amigável, familiar, conversa entre irmãos, buscando juntos a compreensão da Palavra de Deus para encorajar, animar, exortar, corrigir, educar, consolar e alegrar o coração.Homilia é ação sacramental: pelas palavras humanas, de modo ministerial, Deus se faz presente, atinge-nos com sua Palavra e nos transforma. Por isso, na dinâmica da liturgia da Palavra, a homilia continua o diálogo entre Deus e seu povo. É teofania (lugar da manifestação de Deus). A missão do pregador consiste em ajudar a Palavra de Deus a chegar verdadeiramente ao coração dos fiéis, a fim de orientar-lhes a vida. É preciso lembrar, contudo, que os fiéis são chamados a colaborar com o homiliasta. Primeiro com a atenção devida, escutando sem prevenções ou preconceitos, sabendo respeitar os limites do pregador que têm diante de si. Nem todos os bispos, padres e diáconos são iguais. Alguns possuem maior facilidade para a comunicação que outros, mas todos são chamados ao exercício desse ministério, apesar de suas limitações. É preciso dizer, também, que a comunidade pode ajudar, partilhando com o pregador suas impressões, sem falsos elogios, mas com caridade e sinceridade. Num mundo tão apressado como o nosso, não podemos imaginar que as pessoas estejam dispostas a ouvir como outrora. Tudo é muito rápido hoje. As informações são dadas de forma apressada. Não se pode abusar do tempo. Quando se prepara bem, pode-se dizer em pouco tempo o que se quer. Quando não se prepara, diz-se, em muito tempo, o que não se quer! Preparar bem significa estudar, ler e refletir, mas também rezar. Talvez uma pergunta a fazer é: O que o Senhor quer que eu diga?




“Por isso, por favor, que a homilia seja curta, mas bem preparada. E como se prepara uma homilia, caros sacerdotes, diáconos, bispos? Como se prepara? Com a oração, com o estudo da Palavra de Deus e fazendo uma síntese clara e breve, não deve superar dez minutos, por favor!” (PAPA FRANCISCO, AG, 14 de fevereiro de 2018).




Terminada a homilia, recomenda-se um breve tempo de silêncio para que a assembleia possa digerir a Palavra ouvida e elucidada na homilia.




Conclusão




O Concílio Vaticano II, por meio de seus documentos, deixa-nos claro que a celebração eucarística é composta de duas mesas, a da Palavra e a da Eucaristia. Preparar essas mesas e oferecê-las à assembleia é dever da Igreja e, por conseguinte, responsabilidade dos pastores e das equipes de liturgia. A liturgia terá sentido na medida em que alimentar a vida e a fé daqueles que dela se aproximam, por isso é tão importante cuidar da ritualidade. Embora o modo de celebrarmos a Eucaristia seja o de um banquete festivo, pois a celebramos no contexto de uma ceia judaica, o motivo ou o fato celebrado continua a ser a entrega de Jesus. A forma da celebração deve estar em sintonia com seu conteúdo. Quero dizer com isso que, por mais festivas que sejam nossas celebrações – e é bom que sejam assim –, a maneira de celebrarmos deve nos conduzir sempre para o encontro com o Cristo e favorecer o diálogo entre Deus e o humano. Celebrações que chamam a atenção mais para o esteticismo, para o barulho, para as aptidões comunicativas de quem preside ou para as apresentações musicais dos cantores acabam por distrair a assembleia e prejudicar esse encontro-diálogo. Corre-se o risco de fazer das celebrações um evento puramente humano e desprovido do sagrado.



*Luciano da Costa Massullo - é presbítero da Arquidiocese de Porto Alegre-RS. Formado em Teologia pela PUCRS e mestre em Liturgia pelo Instituto de Liturgia de Barcelona, atualmente é professor de Liturgia e Sacramentos na Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana em Porto Alegre.




Fonte - https://www.vidapastoral.com.br/edicao/a-liturgia-da-palavra-nas-catequeses-do-papa-francisco





O Corpus Christi e a Eucaristia como fonte ápice da vida crista









O Concílio Vaticano II afirmou que a eucaristia é fonte e ápice da vida cristã (LG 11), porque ela norteia toda a vida sacramental e a sua relação com a família, comunidade e sociedade.A eucaristia é a presença Real do Senhor no pão e no vinho consagrados. Ela torna-se fonte de vida porque se trata da Pessoa de Jesus Cristo, dado como alimento para o momento presente e um dia na eternidade.




Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA




O Corpus Christi, o Corpo de Cristo é a grande manifestação pública da eucaristia. É a fé na presença no pão e no vinho consagrados sendo o corpo e o sangue de Cristo que caminha pelas ruas das cidades, vilas, nas comunidades dos campos, das florestas., concedendo-lhes as bênçãos divinas pela passagem do santíssimo sacramento. O Concílio Vaticano II afirmou que a eucaristia é fonte e ápice da vida cristã (LG 11), porque ela norteia toda a vida sacramental e a sua relação com a família, comunidade e sociedade. Ela alimenta os seguidores e as seguidoras de Jesus Cristo, da Igreja em vista de uma atuação melhor no mundo e para a glória de Deus Uno e Trino. 



Jesus Cristo fez diversas ceias em sua vida como o grande evangelizador do Pai. No entanto uma permaneceu para sempre, que foi a última ceia, onde ele disse aos seus discípulos para que tomassem de seu corpo através do pão e tomassem do cálice com vinho, através de seu sangue (Mt 26,26-29). Jesus ficou com o seu povo para sempre: “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22,19). 



É muito importante uma vida de unidade e de amor conforme a eucaristia que se recebe na família, na comunidade e na sociedade. A eucaristia prepara as pessoas para a vida divina, pois a comunhão realizada ajuda a viver bem neste mundo, estando ao lado das pessoas, sobretudo das mais necessitadas e um dia na eternidade. Uma visão será dada a partir dos padres da Igreja, os primeiros escritores cristãos.





A eucaristia celebrada na Comunidade




A Didaqué, escrito no século I afirmou a importância da celebração eucarística para o bem das pessoas e do Senhor Jesus na comunidade. Era preciso dizer sobre o cálice o agradecimento a Deus Pai por causa da vinha do servo Davi, que foi revelada por meio do seu Servo Jesus. A ele, a glória para sempre. Em relação ao pão partido o ministro dizia um agradecimento a Deus Pai por causa da vida e do conhecimento que revelou por meio do seu Servo Jesus. A ele a glória para sempre. Na mesma forma como o pão partido semeado sobre as colinas, e depois foi recolhido para se tornar um, da mesma forma a Igreja está reunida desde os confins da terra no seu reino, por meio de Jesus Cristo, para sempre[1]. A eucaristia visa a unidade das pessoas e com o Senhor Jesus.




O culto agradável a Deus










A Carta de Barnabé, escrito do século II afirmou a palavra da Escritura, sobretudo dos profetas, que Deus não tem necessidade de sacrifícios, nem de holocaustos e nem de ofertas. O Senhor está farto dos holocaustos de carneiros e da gordura de cordeiros e também não quer o sangue de touros e de bodes, para que assim não se apresentem essas coisas diante dele (Is 1,11-15). O Senhor não pediu que ao saírem do Egito oferecessem holocaustos (Jr 7,22-23). O culto que agrada a Deus é um coração contrito; de conversão, de volta para Deus e para as pessoas. O perfume de suave odor para o Senhor é o coração que glorifica o Criador (Sl 51,17) [2]. O Senhor se compraz das pessoas que o amam acima de tudo e amam os necessitados, os pobres.





A eucaristia tinha o sentido de agradecimento, ação de graças. As pessoas agradeciam após a comunhão elevando ao Senhor um louvor pela comida e bebida espirituais em vista da vida eterna. A oração era dirigida também para a Igreja em vista da sua unidade e da sua santificação[3].




A eucaristia anunciou a nova Páscoa!



São João Crisóstomo, bispo de Constantinopla, séculos IV e V afirmou que Jesus celebrou a Páscoa na Nova Aliança assumida por ele, mostrando a nova realidade sobre o seu mesmo altar de imolação e de vida que se daria na cruz. Ele tomou o pão e depois tomou o vinho, tornando-se o seu corpo e o seu sangue. Cristo, nossa Páscoa foi imolado por nós (1 Cor 5,7) e toda a vez que as pessoas comam daquele pão e bebam daquele cálice, é anunciada a morte do Senhor (1 Cor 11,26) e a sua ressurreição. A oferta que a Igreja faz em todos os momentos faz memória da última ceia, aquela que anunciou a nova Páscoa[4].




Único pão, único corpo




Santo Agostinho, bispo dos séculos IV e V afirmou a unidade do corpo de Cristo que a pessoa recebe em si e com os outros. Aquilo que se vê há um aspecto material, enquanto aquilo que se entende, possui um aspecto espiritual. As pessoas formam o corpo de Cristo e os seus membros: mas sobre a mesa do Senhor coloca-se o mistério que está nos fieis, a recepção do mistério da fé, pela eucaristia. Quando o fiel ouve: O corpo de Cristo, a pessoa responde: Amém. É muito importante, dizia o bispo que a pessoa seja um membro do corpo de Cristo, para que assim o seu Amém seja verdadeiro. Tudo isso é dado no pão consagrado porque como diz o Apóstolo São Paulo muitas coisas formam o único pão, um único corpo (1 Cor 10,17)[5].




O dia natalício dos mártires




Santo Agostinho percebeu a importância de celebrar a eucaristia a respeito do dia natalício dos mártires, no sentido de que a comunidade fizesse a devida memória. O fato era que as pessoas recordassem o seu heróico testemunho de fé, de esperança e de caridade. Os mártires estavam saciados pelo sagrado banquete[6] na eternidade junto com o Senhor. Os altares erguidos na unidade de suas memórias serviram para a celebração da eucaristia[7].





O Senhor dá a todas as pessoas o seu pão








Santo Agostinho afirmou que as pessoas pedem no pai-nosso o pão cotidiano, sendo um pão que restaura o corpo, na qual o Senhor o dá não somente para aqueles que o louvam, mas também aqueles que o blasfemam, ele que faz surgir o sol sobre os maus e sobre os bons, e faz chover sobre os justos e o sobre os injustos (Mt 5,45). Ele é dito pão cotidiano, o pão nosso de cada dia, sem o qual não é possível viver. É preciso pedir a Deus o pão cotidiano. O Senhor dá também outro alimento, que é o seu corpo para todas as pessoas que o queiram segui-lo e põem em prática a sua palavra de salvação, de amor, ajudando-as em vista da vida eterna. Assim o pão cotidiano é também nesta terra a Palavra do Senhor, o seu corpo, para que as pessoas vivam unidas, não separadas do altar, ou seja da eucaristia[8].








O corpo, comida; o sangue, bebida e a vida de Cristo permanece integra




Santo Agostinho tinha dito que quem o come e quem bebe de seu sangue, permanece nele e Ele na pessoa (Jo 6,54-56). Ele falou de seu corpo e do seu sangue, chamando alimento o corpo e bebida o sangue. Jesus recomendou o alimento e a bebida no sentido de quem não comer a sua carne e nem beber o seu sangue, não terá nele a vida (Jo 6,53) o fazia pelo fato de que somente Ele tem a vida em si mesmo, de modo que as pessoas são convidadas a comer da sua carne e a beber de seu sangue. O Senhor deu o seu corpo e o seu sangue como comida salutar em vista da integridade da sua pessoa. Quando se recebe o pão consagrado é o Senhor da vida que se recebe, o corpo de Cristo. A pessoa é convidada a comer e a beber da vida, que é Jesus e assim ela terá a vida e a esta permanece integra, pois ela participará da verdadeira vida[9].










A eucaristia é a presença do Senhor no pão e no vinho consagrados. Ela torna-se fonte de vida porque se trata da Pessoa de Jesus Cristo, dado como alimento para o momento presente e um dia na eternidade. Todos os ministros, os fieis e o povo de Deus são chamados a viver o espírito da comunhão eucarística fazendo-os entrar em unidade com as pessoas que mais sofrem, vivendo assim o amor a Deus, ao próximo como a si mesmo neste mundo e um dia na eternidade.




Fonte - https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2023-06/corpus-christi-eucaristia-fonte-apice-vida-crista.html




REFERÊNCIAS:




[1] Cfr. Didaqué, 9,1-4. In: Padres Apostólicos. São Paulo, Paulus, 1995, pg. 353.


[2] Cfr. Carta de Barnabé, 2,1-10. In: Idem, pgs. 286-287.


[3] Cfr. Idem, 10,3-5, pg. 354.


[4] Cfr. Giovanni Crisostomo. In eos qui Pascha ieiunant, III, 4-5; PG 48, 866-870. In: Gerardo di Nola. Monumenta Eucharistica. La Testimonianza dei Padri della Chiesa. Vol. 1, Sec. I-IV. Roma, Edizioni Dehoniane, 1994, pgs. 569-570.


[5] Cfr. Agostino d`Ippona. Sermone272,1. In: Ogni giorno con i Padri della Chiesa, A cura di Giovanna della Croce, Presentazione di Enzo Bianchi. Milano, Paoline, 1996, pg. 190.


[6] Cfr. In Io. Ev. tr. 84,1, BAC 139,378. In: Angelo Marini. La Celebrazione eucaristica presieduta da Sant´Agostino. Brescia, Pavoniana, 1989, pg. 99.


[7] Cfr.De Civ. Dei 22,10, BAC 172,173. In: Idem, pg. 99.


[8] Cfr. Agostino. Sermone 56,6,10; RB 32: PL.38,381; NBA XXX/1,150. In: Gerardo di Nola. Monumenta Eucharistica. La Testimonianza dei Padri della Chiesa. Vol. II, Sec. V. Roma, Edizioni Dehoniane, 1997, pgs. 292-293.


[9] Cfr. Idem. Sermone 131,1; PL 48, 729-730; NBA XXX/1, 190-192. In: Agostino, Idem, pgs. 307-309.

 



BIBLIOGRÁFIA




-CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II. Sacrosanctum Concilium: Constituição sobre a sagrada liturgia (SC). São Paulo: Paulinas, 2011.

______. Dei Verbum: Constituição Dogmática sobre a revelação divina (DV). São Paulo: Paulinas, 2011.

-CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB). Instrução Geral do Missal Romano e Introdução ao Lecionário (IGMR/IL). Brasília: CNBB, 2008.

______. Liturgia em mutirão: subsídios para formação. Brasília: CNBB, 2007.

-PAPA BENTO XVI. Verbum Domini: Exortação Apostólica pós-sinodal sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja (VD). São Paulo: Paulinas, 2010.

-PAPA FRANCISCO. Audiência Geral (AG). Vaticano, 2017. Disponível em: <http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2017.index.html>. Acesso em: 9 dez. 2020.

______. Audiência Geral (AG). Vaticano, 2018. Disponível em: <http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2018.index.html>. Acesso em: 9 dez. 2020.

______. Evangelii Gaudium: Exortação Apostólica sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual. Brasília: CNBB, 2013. (Documentos Pontifícios, 17).


 



 




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Neste Apostolado APOLOGÉTICO (de defesa da fé, conforme 1 Ped.3,15) promovemos a “EVANGELIZAÇÃO ANÔNIMA", pois neste serviço somos apenas o Jumentinho que leva Jesus e sua verdade aos Povos. Portanto toda honra e Glória é para Ele.Cristo disse-nos:Eu sou o caminho, a verdade e a vida e “ NINGUEM” vem ao Pai senão por mim" (João14, 6).Defendemos as verdade da fé contra os erros que, de fato, são sempre contra Deus.Cristo não tinha opiniões, tinha a verdade, a qual confiou a sua Igreja, ( Coluna e sustentáculo da verdade – Conf. I Tim 3,15) que deve zelar por ela até que Ele volte(1Tim 6,14).Deus é amor, e quem ama corrige, e a verdade é um exercício da caridade. Este Deus adocicado, meloso, ingênuo, e sentimentalóide, é invenção dos homens tementes da verdade, não é o Deus revelado por seu filho: Jesus Cristo.Por fim: “Não se opor ao erro é aprová-lo, não defender a verdade é nega-la” - ( Sto. Tomás de Aquino).Este apostolado tem interesse especial em Teologia, Política e Economia. A Economia e a Política são filhas da Filosofia que por sua vez é filha da Teologia que é a mãe de todas as ciências. “Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao vosso nome dai glória...” (Salmo 115,1)

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