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Padre Gerson Schmidt: a mediação de Maria no magistério da Igreja e catequese do papa Francisco

Written By Beraká - o blog da família on sexta-feira, 28 de julho de 2023 | 16:06

 








Mediação de Maria, parte do patrimônio da fé cristã




"A mediação de Maria faz parte do patrimônio da fé cristã e é a partir desta verdade, tão presente nos ensinamentos dos santos como também no Magistério ordinário da Igreja, que a porção dos fiéis pode unir-se mais eficazmente contra os desvios mundanos, a fim de alcançar a coroa do Céu."


 

"Deus não prescindiu da Mãe: por maior força de razão, precisamos nós d’Ela. O próprio Jesus no-La deu; e não num momento qualquer, mas quando estava pregado na cruz: Eis a tua mãe (Jo 19, 27) – disse Ele ao discípulo, a cada discípulo. Nossa Senhora não é opcional: deve ser acolhida na vida. É a Rainha da paz, que vence o mal e guia pelos caminhos do bem, repõe a unidade entre os filhos, educa para a compaixão." (Papa Francisco)










Com um Decreto publicado em 3 de março de 2018 pela então Congregação do Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos (agora Dicastério), o Papa Francisco determinou a inscrição da Memória da “Bem-aventurada Virgem, Mãe da Igreja” no Calendário Romano Geral, a ser celebrada todos os anos na segunda-feira depois de Pentecostes. “Esta celebração - lê-se no Decreto - ajudará a lembrar que a vida cristã, para crescer, deve ser ancorada no mistério da Cruz, na oblação de Cristo no convite eucarístico e na Virgem oferente, Mãe do Redentor e dos redimidos”. Alguns meses antes, em 12 de dezembro de 2017, o Papa Francisco presidiu na Basílica de São Pedro, a celebração da Festa de Nossa Senhora de Guadalupe, ocasião em que afirmou que "ao longo dos tempos, a piedade cristã procurou sempre" louvar Maria "com novos títulos: tratava-se de títulos filiais, títulos do amor do povo de Deus, mas que em nada tocavam o seu ser mulher-discípula." Padre Gerson Schmidt*, que tem nos acompanhado ao longo dos últimos anos neste espaço Memória Histórica, dá início a uma série de programas sobre a mediação da Virgem Maria e sua importância na história da salvação:




"É importante agora precisar mais claramente o papel de Maria na história da salvação. A participação singular de Maria na obra da redenção não é apenas uma “opinião piedosa”, mas uma verdade ensinada repetidas vezes pelo Magistério da Igreja. Não há "fruto da graça na história da salvação que não tenha como instrumento necessário a mediação de Nossa Senhora".

 

 



A primeira vez que um Papa usou o termo de Correndentora referindo-se à Maria foi Pio XI, em uma alocução de 30 de novembro de 1933:





“Pela natureza de sua obra, o Redentor devia associar sua Mãe com sua obra. Por esta razão, nós a invocamos sob o título de Corredentora. Ela nos deu o Salvador, acompanhou-O na obra da redenção até a cruz, compartilhando com Ele os sofrimentos, agonia e morte, com os quais Jesus deu pleno cumprimento à redenção humana”.





A custo se conseguirá exprimir com maior precisão e clareza a doutrina da Corredenção mariana em Jesus Cristo com Ele e por Ele. Observa com razão Roschini: “Triunfar com Cristo, esmagando a cabeça da serpente, não é outra coisa que ser Corredentora com Cristo” [1]. Essa afirmação de Roschini se fundamenta numa declaração do Papa PIO IX - Ineffabilis Deus – que declara assim: “Ao glosar as palavras com as quais Deus, anunciando no início do mundo os remédios preparados em sua misericórdia para regenerar os mortais, confundiu a audácia da serpente sedutora e levantou maravilhosamente a esperança de nossa linhagem, dizendo: ‘porei inimizades entre ti e a Mulher, entre tua descendência e a dela’ (Gn 3, 15), os Padres da Igreja e outros doutores ensinaram que, por este divino oráculo, foi clara e patentemente anunciado o misericordioso Redentor do gênero humano, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, e foi do mesmo modo designada sua santíssima Mãe, a Virgem Maria, bem como brilhantemente posta em relevo a mesmíssima inimizade de ambos contra o demônio. Por esse motivo, assim como Cristo, mediador entre Deus e os homens, assumiu a natureza humana, anulou o decreto contra nós exarado e o cravou triunfante na Cruz, assim a Santíssima Virgem – unida a Ele por estreito e indissolúvel vínculo, exercendo com Ele e por Ele suas eternas inimizades – triunfou plenissimamente da venenosa serpente, cuja cabeça esmagou com seu pé imaculado”. Quando Bento XVI declarou não existir "fruto da graça na história da salvação que não tenha como instrumento necessário a mediação de Nossa Senhora", ele não estava simplesmente fazendo uso de um exagero retórico próprio da linguagem dos santos. A mediação de Maria faz parte do patrimônio da fé cristã e é a partir desta verdade, tão presente nos ensinamentos dos santos como também no Magistério ordinário da Igreja, que a porção dos fiéis pode unir-se mais eficazmente contra os desvios mundanos, a fim de alcançar a coroa do Céu."


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[1] ROSCHINI, OSM, Gabriel Maria. La Madre de Dios según la fe y la Teología. Madrid: Apostolado de la Prensa, 1955, v.I, p.477.

 



 

Mediação de Maria - Parte II










"A Virgem Santíssima completou na própria carne as dores que faltaram à Cruz de Cristo, segundo o ensinamento de São Paulo (cf. Col 1, 24). No último século, o Magistério ordinário da Igreja também falou repetidas vezes sobre o mesmo assunto."

 



“Maria é verdadeiramente «Mãe de Deus», pois é a Mãe do Filho eterno de Deus feito homem que, Ele próprio, é Deus. Permaneceu «Virgem ao conceber o seu Filho, Virgem ao dá-Lo à luz, Virgem grávida, Virgem fecunda, Virgem perpétua»; com todo o seu ser; ela é a «serva do Senhor» (Lc 1, 38). A Virgem Maria «cooperou livremente, pela sua fé e obediência, na salvação dos homens». Pronunciou o seu «fiat» – faça-se – «loco totius humanae naturae – em vez de toda a humanidade»: pela sua obediência, tornou-se a nova Eva, mãe dos vivos. (CIC 509 a 511)”

 




A Constituição Dogmática Lumen Gentium teve por um lado a intenção de esclarecer cuidadosamente o papel fundamental de Maria no mistério do Verbo encarnado e do Corpo místico, bem como "os deveres dos homens resgatados para com a Mãe de Deus, Mãe de Cristo e Mãe dos homens, sobretudo dos fiéis", sem no entanto pretender "propor toda a doutrina acerca de Maria, nem de dirimir as questões ainda não totalmente esclarecidas pelos teólogos".  Neste sentido, esclarece o n. 54, "conservam, por isso, os seus direitos as opiniões que nas escolas católicas livremente se propõem acerca daquela que na santa Igreja ocupa depois de Cristo o lugar mais elevado e também o mais próximo de nós”.



"Mediação de Maria, parte do patrimônio da fé cristã" foi o tema de nosso último programa. Hoje, padre Gerson Schmidt dá sequência a sua série de reflexões sobre a mediação de Maria:





"Com base na Revista Eclesiástica Pergunte e Responderemos (PR) n. 425, outubro de 1997, p. 445-450, tentamos esclarecer um pouco mais a participação de Maria na obra da Redenção. Antes do Concílio Vaticano II, houve um debate teológico promovido por um grupo de bispos que deseja obter da Igreja a definição solene, como um dogma, de Maria Santíssima como Medianeira, Corredentora e Advogada do gênero humano. Essa corrente foi mais forte, especialmente nos anos de 1959 a 1962, antecedentes ao Concílio Vaticano II (1962-1965), por meio de petições diretas de 256 Bispos desejosos de ver proclamado o dogma da “Mediação universal de Maria Santíssima”, além de outros 48 bispos que pediam a mesma coisa, mas com uma ressalva: “se fosse considerado oportuno”.

 

 


O Concílio Vaticano II, por ser ecumênico e pastoral, evitou o atributo de Nossa Senhora ser corredentora, embora a doutrina do Magistério e dos Santos Padres utilizam esse atributo de Maria na história salvífica, sendo cooperadora e medianeira, tendo Cristo como único Mediador e redentor e Maria fazendo parte da ação salvífica de Cristo. Não existe um dogma que proclame Maria corredentora. É tão somente um título que se dá àquela que participou intimamente da obra e da paixão do seu Filho, Salvador da Humanidade. Não se proclamou nenhum dogma e o Papa Francisco ultimamente evitou a discussão de se criar um novo dogma, mas ressaltando Maria como Mãe e discípula. Maria auxilia na obra salvífica enquanto ligado a Cristo, por Ele e para ele. Durante a realização do Concílio, os pedidos para que Nossa Senhora fosse reconhecida como Medianeira, Corredentora e Advogada do gênero humano tornaram-se raros, chegando a cessar à medida que se adiantavam os estudos das diversas sessões conciliares, estudos sempre acompanhados de oração.Finalmente, a Constituição Lumen Gentium, em seu capítulo VIII, apresenta uma síntese mariana que não contém a definição dogmática da Mediação Universal de Maria. Tal documento foi aprovado, em 21/11/1964, por 2151 votos numa assembleia de 2156 votantes. Este resultado beirava a unanimidade e exprimia bem o pensamento do magistério da Igreja: entre os 2151 votos favoráveis estavam, certamente, quase todos os dos 304 Bispos (256 + 48) que haviam pedido, a seu modo, a definição dogmática da Mediação Universal de Maria Santíssima. Daí, o Papa Paulo VI, ao encerrar a terceira sessão do Concílio, em 21/11/64, declarou que o capítulo VIII da Lumen Gentium vem a ser a mais vasta síntese que um Concílio ecumênico já ofereceu “da doutrina católica referente à posição que a Santíssima Virgem Maria ocupa no mistério de Cristo e da Igreja” (cf. PR, p. 447). Um dos pontos altos da Lumen Gentium sobre o tema em foco é o seu longo n. 62, redigido em linguagem teológica elevada: “A maternidade de Maria na dispensação da graça perdura ininterruptamente a partir do consentimento que ela fielmente prestou na Anunciação, que sob a Cruz ela resolutamente manteve e manterá até a perpétua consumação de todos os eleitos. Assumida aos céus, não abandonou esta salvífica função, mas por sua multíplice intercessão continua a granjear-nos os dons da salvação eterna. Por seu maternal amor cuida dos irmãos do seu Filho que ainda peregrinam rodeados de perigos e dificuldades, até que sejam conduzidos à feliz pátria”. A Lumen gentium então declara assim: “Por isto a Bem-aventurada Virgem Maria é invocada na Igreja sob os títulos de Advogada, Auxiliadora, Protetora, Medianeira. Isto, porém, se entende de tal modo que nada derrogue, nada acrescente à dignidade e eficácia de Cristo, o único Mediador”. Completa a declaração da LG: “Com efeito; nenhuma criatura jamais pode ser colocada no mesmo plano com o Verbo Encarnado e Redentor. Mas, como o sacerdócio de Cristo é participado de vários modos seja pelos ministros, seja pelo povo fiel, e como a indivisa bondade de Deus é realmente difundido nas criaturas de maneiras diversas, assim também a única mediação do Redentor não exclui, mas suscita nas criaturas cooperações diversas, que participam dessa única fonte”, que é Jesus Cristo."




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[1] LAMERA, OP, Marceliano. María, Madre corredentora o la maternidad divino-espiritual de María y la Corredención. In: Estudios Marianos. Madrid. N.7 (1948); p.146.

 



 

A mediação de Maria - Parte III










"O Papa Paulo VI, ao encerrar a terceira sessão do Concílio, em 21/11/64, declarou que o capítulo VIII da Lumen Gentium vem a ser a mais vasta síntese que um Concílio ecumênico elaborou sobre o papel de Maria na obra salvífica."

 




“Sobretudo desejamos seja claramente evidenciado que Maria, humilde serva do Senhor, é toda relativa a Deus e a Cristo, único mediador e Redentor nosso. E igualmente sejam ilustradas a verdadeira natureza e as intenções do culto mariano na Igreja, especialmente lá onde se acham muitos irmãos nossos separados, de modo que os que não fazem parte da comunidade católica compreendam que, longe de ser fim em si mesma, a devoção a Maria é, ao contrário, meio essencialmente ordenado a orientar as almas para Cristo, e assim uni-Ias ao Pai, no amor do Espírito Santo. (Papa Paulo VI, 21 de Novembro de 1964)”. Na Santa Missa pela América Latina celebrada pelo Papa Francisco em 12 de dezembro de 2017, festa de Nossa Senhora de Guadalupe, o Papa Francisco recordou - falando de Maria -  que "ao longo dos tempos, a piedade cristã procurou sempre louvá-la com novos títulos: tratava-se de títulos filiais, títulos do amor do povo de Deus, mas que em nada tocavam o seu ser mulher-discípula." Ela - frisou Francisco - foi discípula! Nunca roubou para si mesma nada do seu Filho; serviu-o porque é mãe, dá a vida na plenitude dos tempos, como ouvimos, àquele Filho nascido de mulher."




Padre Gerson Schmidt continua a nos propor algumas reflexões sobre a mediação de Maria, em particular do Concílio Vaticano I até o pontificado de São João Paulo II:




"A questão da mediação mariana na salvação retorna periodicamente na história moderna da Igreja. A Igreja já ensina quatro dogmas relacionados à Virgem, a saber, sua perpétua virgindade, sua dignidade como Mãe de Deus, sua Imaculada Conceição e sua gloriosa Assunção ao céu em alma e corpo.Já no Concílio Vaticano I (1869-1870), havia quem apoiasse a ideia de um novo dogma para permitir que Maria participasse do poder redentor de Jesus. Pio XI (1922-1939) foi o primeiro pontífice que falou de Maria corredentora. João Paulo II fez isso várias vezes, mas todos os Pontífices rejeitaram a ideia de um novo dogma. No Concílio Vaticano II (1962-1965), alguns bispos também apresentaram o pedido, em particular, mas João XXIII e Paulo VI não o levaram em consideração, inclusive porque os protestantes não veneram Maria e tal manobra arriscaria arruinar as relações entre os cristãos em pleno Concílio ecumênico. O Papa Paulo VI, ao encerrar a terceira sessão do Concílio, em 21/11/64, declarou que o capítulo VIII da Lumen Gentium vem a ser a mais vasta síntese que um Concílio ecumênico elaborou sobre o papel de Maria na obra salvífica. Disse São Paulo VI, enquanto Papa que encerrava as conclusões dos padres conciliares na Lumen Gentium: “A Igreja não hesita em proclamar essa função subordinada de Maria. Pois sempre de novo experimenta e recomenda-se ao coração dos fiéis para que, encorajados por esta maternal proteção, mais intimamente deem sua adesão ao Mediador e Salvador” (PR, p. 448-449). O Papa João Paulo II, aplicando o Concílio na Igreja, mandou que o assunto sobre a mediação de Maria fosse estudado com vivo interesse por renomados teólogos, especializados em Mariologia, cabendo destaque ao XII Congresso Mariológico de Chestochowa (Polônia), ocorrido em agosto de 1996. Os estudiosos reunidos para o XII Congresso Mariológico Internacional atenderam a um especial pedido da Santa Sé e estudaram “a possibilidade e a oportunidade” da definição dos títulos marianos de “Medianeira”, “Corredentora” e “Advogada”. Era uma Comissão de quinze teólogos, peritos em Mariologia, vindos de diversas regiões e universidades do mundo católico, além de alguns poucos membros de outras comunidades cristãs: anglicanos, luteranos e ortodoxos.A que conclusões chegaram os estudiosos em Chestochowa? Os especialistas foram desfavoráveis, por ora, à definição de Nossa Senhora como Medianeira, Corredentora e Advogada do gênero humano por seis principais razões que veremos na resposta à questão seguinte deste capítulo, pois se fazem merecedoras de atenção.





Eles chegaram às seguintes conclusões:





1)Os títulos propostos podem não ter sentido devidamente claro a todos, de modo que correriam o risco de serem compreendidos de maneiras diversas pelo Povo de Deus;



2) Deve-se manter a linha do Concílio Vaticano II que não quis definir nenhum desses títulos, mas, ao contrário, os usou de modo muito sóbrio na Lumen Gentium (n. 62);



3) Desde o Papa Pio XII, o título de “Corredentora” não é usado em documentos papais de grande relevo doutrinário;



4) Quanto ao título de “Medianeira”, a Comissão recordou que, desde os primeiros decênios do século XX, a Santa Sé o estudou por meio de três comissões diferentes e acabou por abandonar a questão;



5) Mesmo se houvesse conteúdo doutrinário para definir esses títulos de Nossa Senhora agora, essa definição não seria teologicamente acertada, pois o assunto requer um aprofundamento na perspectiva da Trindade, da Eclesiologia e da Antropologia, e...



6) os teólogos não católicos, bem como alguns católicos, viram na definição desse dogma, pontos de maiores dificuldades ao diálogo ecumênico (cf. L’Osservatore Romano, 24/06/1997; PR, p. 450).

 

 



O grande Mariólogo São Luís Maria Grignon de Montfort, disse o seguinte: "Se a devoção à Santíssima Virgem nos afastasse de Jesus, seria preciso rejeitá-la como uma ilusão do demônio. Mas é tão o contrário [...], esta devoção só nos é necessária para encontrar Jesus Cristo, amá-lO ternamente e fielmente servi-lO". Maria nunca quer nada para Ela. Ao contrário, a Virgem sempre nos direciona para o Seu Filho, a fim de que deixemos de ofendê-lO com nossos pecados e possamos crer no único Redentor dos homens."


 



A mediação de Maria - Parte IV










“No decurso dos séculos a Igreja refletiu sobre a cooperação de Maria na obra da salvação, aprofundando a análise da sua associação ao sacrifício redentor de Cristo. Já Santo Agostinho atribui à Virgem a qualificação de ‘cooperadora’ da Redenção."

 



Temos ressaltado entre outros, nesta série de programas sobre a mediação de Maria, que a Constituição Dogmática Lumen Gentium do Concílio Vaticano II não teve a pretensão de "propor toda a doutrina acerca de Maria, nem de dirimir as questões ainda não totalmente esclarecidas pelos teólogos".  Neste sentido, o n. 54 esclarece que, "conservam, por isso, os seus direitos as opiniões que nas escolas católicas livremente se propõem acerca daquela que na santa Igreja ocupa depois de Cristo o lugar mais elevado e também o mais próximo de nós”. São João Paulo II, em 1997,  destacou que "o ensinamento da Igreja sublinha com clareza a diferença entre a Mãe e o Filho na obra da salvação, ilustrando a subordinação da Virgem, enquanto cooperadora, ao único Redentor. o ensinamento da Igreja sublinha com clareza a diferença entre a Mãe e o Filho na obra da salvação, ilustrando a subordinação da Virgem, enquanto cooperadora, ao único Redentor." Mais recentemente, o Papa Francisco  chamou-nos a atenção para outro aspecto, afirmando que "São Bernardo disse-nos que quando falamos de Maria, nunca são suficientes o louvor, os títulos de louvor, mas eles em nada tocavam este seu discipulado humilde. Discípula! Fiel ao seu Mestre, que é o seu Filho, o único Redentor, jamais quis reter para si algo do seu Filho. Nunca se apresentou como corredentora. Não, discípula!".




A mediação de Maria vem sendo o tema das reflexões do Pe. Gerson Schmidt, que hoje destaca outros aspectos levantados pelos Padres da Igreja, teólogos e Pontífices:





"São Luís Maria Grignon de Montfort resume todo o fundamento da doutrina católica acerca da participação da Mãe de Deus na redenção da humanidade, afirmando assim: "Foi pela Santíssima Virgem Maria que Jesus Cristo veio ao mundo, e é também por Ela que deve reinar no mundo". Como em Deus não há movimento nem mudança, a sua vontade permanece sempre a mesma para todos os efeitos [4]. Ora, Ele escolheu livremente ter uma mãe segundo a carne humana e manter-se submisso aos seus cuidados durante a maior parte de sua vida terrena. Não é difícil concluir, portanto, que essa maternidade divina continua no Céu. A própria Sagrada Escritura nos confirma isso em inúmeras passagens, em especial, nos relatos de São João sobre as últimas palavras de Cristo pregado à cruz: Maria é dada como mãe para toda a humanidade (cf. Jo 19, 25-27; Gn 3, 15; Ap 12, 1-18). E é por meio da cooperação dessa mesma Mãe que nos devem chegar todas as graças da salvação, ou seja, o próprio Jesus Cristo. Estamos plenamente de acordo com estas palavras do eminente mariólogo Pe. Marceliano Lamera: “A Corredenção é uma função maternal, ou seja, é adequada a Maria que a exerce em sua condição de Mãe. Ela é Corredentora por ser mãe. É Mãe Corredentora” […][1]. Santos de todas as épocas dão crédito a essa doutrina. Falando sobre a cooperação de Nossa Senhora na obra da Redenção, Santo Irineu disse: "Obedecendo, Ela tornou-se causa de salvação para si e para todo o gênero humano". A Virgem Santíssima completou na própria carne as dores que faltaram à Cruz de Cristo. Algo semelhante escreveu um discípulo de Santo Anselmo: "Deus é Senhor de todas as coisas, constituindo cada uma delas na sua própria natureza pela voz do seu poder, e Maria é Senhora de todas as coisas, reconstituindo-as na sua dignidade primitiva pela graça, que lhes mereceu". E para que não reste qualquer dúvida dessa cooperação de Maria, citemos a profecia de Simeão acerca da espada de dor com a qual Ela seria ferida (cf. Lc 2, 35). A Virgem Santíssima completou na própria carne as dores que faltaram à Cruz de Cristo, segundo o ensinamento de São Paulo (cf. Col 1, 24). No último século, o Magistério ordinário da Igreja também falou repetidas vezes sobre o mesmo assunto. Leão XIII, por exemplo, redigiu 13 encíclicas para ressaltar o valor da oração do Rosário. É de sua pena esta belíssima prece, na qual o grande pontífice pede que a Virgem "restitua a tranquilidade da paz aos espíritos angustiados; apresse enfim, na vida privada como na vida pública, o retorno a Jesus Cristo": "Que, no seu poder, a Virgem Mãe, que outrora cooperou por seu amor no nascimento dos fiéis na Igreja, seja ainda agora o instrumento e a guardiã da nossa salvação". O Papa Pio XII que, conforme contam algumas testemunhas, teria visto o milagre do sol nos jardins do Vaticano, ensinava: "Se Maria, na obra da salvação espiritual, foi associada por vontade de Deus a Jesus Cristo, princípio de salvação, pode-se dizer igualmente que esta gloriosíssima Senhora foi escolhida para Mãe de Cristo 'para lhe ser associada na redenção do gênero humano'". Palavras semelhantes são encontradas também nas cartas de Pio X, Bento XV, Pio XI, João XXIII, Paulo VI e João Paulo II. Paulo VI afirmou assim: “A reforma pós-conciliar considerou a Virgem Maria com uma perspectiva adequada no mistério de Cristo; reconheceu-Lhe o lugar singular que Lhe compete no culto cristão, enquanto alma cooperadora do Redentor”. São João Paulo II, logo após, afirmou assim: “Maria, enquanto concebida e nascida sem a mancha do pecado, participou de forma admirável nos sofrimentos do seu divino Filho, a fim de ser Corredentrora da Humanidade”[2]. Continua João Paulo II afirmando em outra audiência geral em 1997: “No decurso dos séculos a Igreja refletiu sobre a cooperação de Maria na obra da salvação, aprofundando a análise da sua associação ao sacrifício redentor de Cristo. Já Santo Agostinho atribui à Virgem a qualificação de ‘cooperadora’ da Redenção. […] Aplicado a Maria, o termo ‘cooperadora’ assume, porém, um significado específico. A colaboração dos cristãos na salvação atua-se depois do evento do Calvário, cujos frutos eles se empenham em difundir mediante a oração e o sacrifício. O concurso de Maria, ao contrário, atuou-se durante o evento mesmo e a título de Mãe; estende-se, portanto, à totalidade da obra salvífica de Cristo. Somente Ela esteve associada deste modo à oferta redentora, que mereceu a salvação de todos os homens. Em união com Cristo e submetida a Ele, colaborou para obter a graça da salvação à humanidade inteira”[3]."

 


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[1] LAMERA, OP, Marceliano. María, Madre corredentora o la maternidad divino-espiritual de María y la Corredención. In: Estudios Marianos. Madrid. N.7 (1948); p.146.

[2] SÃO JOÃO PAULO II. Audiência, 8/9/1982.

[3] SÃO JOÃO PAULO II. Audiência geral, 9/4/1997.

 

 



 

A mediação de Maria - Parte V











"Acompanha-nos neste itinerário a Virgem Santa, que seguiu em silêncio o Filho Jesus até o Calvário, participando com grande dor no seu sacrifício, cooperando assim no mistério da Redenção e tornando-se Mãe de todos os crentes". (Bento XVI)

 


 

“Consideram com razão os santos Padres que Maria não foi utilizada por Deus como instrumento meramente passivo, mas que cooperou livremente, pela sua fé e obediência, na salvação dos homens. Como diz S. Ireneu, «obedecendo, ela tornou-se causa de salvação, para si e para todo o gênero humano» (Lumen Gentium n. 56)”

 

 

O Papa Francisco observou em sua homilia na celebração da Festa de Nossa Senhora de Guadalupe, em 12 de dezembro de 2017,  que Maria "nunca roubou para si mesma nada do seu Filho; serviu-o porque é mãe". "Fiel ao seu Mestre, que é o seu Filho, o único Redentor, jamais quis reter para si algo do seu Filho. Nunca se apresentou como corredentora. Não, mas, discípula!"




Padre Gerson Schmidt, inspirando-se nos escritos dos Santos Padres, no magistério dos Papas e documentos conciliares, continua nos propondo neste nosso espaço reflexões sobre a mediação de Maria, destacando seu papel de colaboradora na obra de salvação realizada por seu Filho Jesus:

 



Estamos refletindo sobre a mediação de Maria na obra salvífica da humanidade, sempre subordinada a Cristo. Maria é colaboradora na obra da redenção enquanto conduz ao único Salvador Jesus Cristo. Em nenhum outro nome nós seremos salvos. São João Paulo II, na sua grande encíclica Redemptoris Mater, declarou assim: “Maria tornou-Se não só a ‘mãe-nutriz’ do Filho do Homem, mas também a ‘cooperadora generosa, de modo absolutamente singular’, do Messias e Redentor. Ela avançava na peregrinação da Fé e, nessa sua peregrinação até aos pés da Cruz, foi-se realizando, ao mesmo tempo, com as suas ações e os seus sofrimentos, a sua cooperação materna e esponsal em toda a missão do Salvador. […] A cooperação de Maria participa, com o seu carácter subordinado, na universalidade da mediação do Redentor, único Mediador”[1]. Portanto, São João Paulo II destaca aqui o caráter subordinado de Maria sempre ao divino Redentor dos homens. Bento XVI, por sua vez, afirmou assim: “Acompanha-nos neste itinerário a Virgem Santa, que seguiu em silêncio o Filho Jesus até o Calvário, participando com grande dor no seu sacrifício, cooperando assim no mistério da Redenção e tornando-se Mãe de todos os crentes (cf. Jo 19, 25-27)”. Não se pode dizer ingenuamente que a "mediação universal" de Maria e o seu papel na obra salvífica sejam mera opinião. Embora a Igreja ainda não tenha se manifestado solenemente a esse respeito, por meio de uma declaração “ex cathedra”, a sua notável presença nos documentos comuns dos Santos Padres leva-nos àquela obediência da fé, que também se aplica ao que propõe o Magistério ordinário e universal, isto é, "o ensino comum e universal de uma determinada doutrina pelo papa e por todos os bispos espalhados pelo mundo". Em nosso espaço Memória Histórica 60 anos do Concilio, lembramos que o próprio Concílio Vaticano II referendou tudo isso que dissemos até agora. Tendo embora, por sua constante preocupação ecumênica, evitado a palavra Corredentora – para não ferir os ouvidos dos irmãos cristãos que não veneram a Virgem Santíssima – o Concílio Vaticano II expôs de modo claro e sem equívoco a doutrina da mediação de Maria tal como a entende a Igreja Católica. 




Eis alguns textos da Constituição Dogmática Lumen gentium especialmente significativos: 

 



 

Diz assim a Constituição Dogmática Lumen gentium, no número 56:  “Ao aceitar a mensagem divina, Maria, filha de Adão, tornou-Se Mãe de Jesus e, abraçando de todo coração e sem qualquer torpor de pecado a vontade salvífica de Deus, consagrou-Se totalmente, como escrava do Senhor, à pessoa e à obra de seu Filho, servindo com diligência ao mistério da Redenção com Ele e subordinada a Ele, pela graça de Deus onipotente. Com razão, pois, julgam os Santos Padres que Maria não foi mero instrumento passivo nas mãos de Deus, mas cooperou com livre fé e obediência para a salvação dos homens. Como disse Santo Irineu, ‘obedecendo, tornou-Se causa de salvação para Si mesma e para todo o gênero humano’”




“Concebendo, gerando e alimentando a Cristo, apresentando-O ao Pai no Templo, padecendo com Ele quando morria na Cruz, cooperou de modo inteiramente singular, com a sua Fé, esperança e ardente caridade, na obra do Salvador para restaurar nas almas a vida sobrenatural. Por isso é nossa Mãe na ordem da graça” (Lumen gentium, n.61)."




A mediação de Maria - Parte VI




"No mistério da Igreja, a qual é também com razão chamada mãe e virgem, a bem-aventurada Virgem Maria foi adiante, como modelo eminente e único de virgem e de mãe (189). Porque, acreditando e obedecendo, gerou na terra, sem ter conhecido varão, por obra e graça do Espírito Santo, o Filho do eterno Pai; nova Eva, que acreditou sem a mais leve sombra de dúvida, não na serpente antiga, mas no mensageiro celeste. E deu à luz um Filho, que Deus estabeleceu primogénito de muitos irmãos (Rom. 8,29)".

 



“A maternidade de Maria na economia da graça perdura sem interrupção, desde o consentimento, que fielmente deu na anunciação e que manteve inabalável junto à cruz, até à consumação eterna de todos os eleitos. De fato, depois de elevada ao céu, não abandonou esta missão salvadora, mas, com a sua multiforme intercessão, continua a alcançar-nos os dons da salvação eterna. Cuida, com amor materno, dos irmãos de seu Filho que, entre perigos e angústias, caminham ainda na terra, até chegarem à pátria bem-aventurada. Por isso, a Virgem é invocada na Igreja com os títulos de advogada, auxiliadora, socorro, medianeira. Mas isto entende-se de maneira que nada tire nem acrescente à dignidade e eficácia do único mediador, que é Cristo. (Lumem gentium, 62)”

 

 

"Efetivamente - acrescenta a Constituição Dogmática do Concílio Vaticano II - nenhuma criatura se pode equiparar ao Verbo encarnado e Redentor; mas, assim como o sacerdócio de Cristo é participado de diversos modos pelos ministros e pelo povo fiel, e assim como a bondade de Deus, sendo uma só, se difunde variamente pelos seres criados, assim também a mediação única do Redentor não exclui, antes suscita nas criaturas cooperações diversas, que participam dessa única fonte." Assim, essa "função subordinada de Maria, não hesita a Igreja em proclamá-la; sente-a constantemente e inculca-a aos fiéis, para mais intimamente aderirem, com esta ajuda materna, ao seu mediador e salvador."

 

 

O capítulo VIII da Lumen Gentium, nas palavras de Paulo VI, constitui a mais vasta síntese que um Concílio ecumênico já ofereceu “da doutrina católica referente à posição que a Santíssima Virgem Maria ocupa no mistério de Cristo e da Igreja”. 




Na linha deste documento, com comentários enriquecidos por afirmações de João Paulo II, Bento XVI, do próprio Papa Francisco e de renomados teólogos, padre Gerson Schmidt nos propôs uma série de reflexões sobre a mediação de Maria, que se conclui com estas observações:

 




"Temos ressaltado nesta série de programas sobre a mediação de Maria que a Constituição Dogmática Lumen Gentium do Concílio Vaticano II não teve a pretensão de "propor toda a doutrina acerca de Maria, nem de dirimir as questões ainda não totalmente esclarecidas pelos teólogos".  Neste sentido, o n. 54 esclarece que, "conservam, por isso, os seus direitos as opiniões que nas escolas católicas livremente se propõem acerca daquela que na santa Igreja ocupa depois de Cristo o lugar mais elevado e também o mais próximo de nós”. Por isso, não podemos ficar intrigados que nosso Papa Francisco tenha ultimamente ressaltado o papel de Maria como Mãe e discípula e atenuado o atributo de corredentora, uma vez que esse título não é dogma e a Igreja não tenha feito nenhuma declaração oficial “ex-catedra” a respeito, pelo contrário, evitado uma definição desde o Concilio Vaticano II, em busca de uma caminhada mais ecumênica. O Papa Paulo VI, ao encerrar a terceira sessão do Concílio, em 21/11/64, declarou que o capítulo VIII da Lumen Gentium vem a ser a mais vasta síntese que um Concílio ecumênico elaborou sobre o papel de Maria na obra salvífica:







“Sobretudo desejamos seja claramente evidenciado que Maria, humilde serva do Senhor, é toda relativa a Deus e a Cristo, único mediador e Redentor nosso. E igualmente sejam ilustradas a verdadeira natureza e as intenções do culto mariano na Igreja, especialmente lá onde se acham muitos irmãos nossos separados, de modo que os que não fazem parte da comunidade católica compreendam que, longe de ser fim em si mesma, a devoção a Maria é, ao contrário, meio essencialmente ordenado a orientar as almas para Cristo, e assim uni-Ias ao Pai, no amor do Espírito Santo. (Papa Paulo VI, 21 de Novembro de 1964)”.

 




A constituição dogmática Lumen Gentium nos aponta o influxo salutar de Maria e a mediação de Cristo, afirmando no número 60: “O nosso mediador é só um, segundo a palavra do Apóstolo: «não há senão um Deus e um mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo, que Se entregou a Si mesmo para redenção de todos (1 Tim. 2, 5-6). Mas a função maternal de Maria em relação aos homens de modo algum ofusca ou diminui esta única mediação de Cristo; manifesta antes a sua eficácia. Com efeito, todo o influxo salvador da Virgem Santíssima sobre os homens se deve ao beneplácito divino e não a qualquer necessidade; deriva da abundância dos méritos de Cristo, funda-se na Sua mediação e dela depende inteiramente, haurindo aí toda a sua eficácia; de modo nenhum impede a união imediata dos fiéis com Cristo, antes a favorece”.

 



No número 65 da LG aponta assim: “Esta maternidade de Maria na economia da graça perdura sem interrupção, desde o consentimento, que fielmente deu na anunciação e que manteve inabalável junto à cruz, até à consumação eterna de todos os eleitos. De fato, depois de elevada ao Céu, não abandonou esta missão salvadora, mas, com a sua multiforme intercessão, continua a alcançar-nos os dons da salvação eterna. Cuida, com amor materno, dos irmãos de seu Filho que, entre perigos e angústias, caminham ainda na terra, até chegarem à pátria bem-aventurada. Por isso, a Virgem é invocada na Igreja com os títulos de advogada, auxiliadora, socorro, medianeira. Mas isto se entende de maneira que nada tire nem acrescente à dignidade e eficácia do único mediador, que é Cristo. Efetivamente, nenhuma criatura se pode equiparar ao Verbo encarnado e Redentor; mas, assim como o sacerdócio de Cristo é participado de diversos modos pelos ministros e pelo povo fiel, e assim como a bondade de Deus, sendo uma só, se difunde variamente pelos seres criados, assim também a mediação única do Redentor não exclui, antes suscita nas criaturas cooperações diversas, que participam dessa única fonte. Esta função subordinada de Maria, não hesita a Igreja em proclamá-la; sente-a constantemente e inculca-a aos fiéis, para mais intimamente aderirem, com esta ajuda materna, ao seu mediador e salvador”.

 


 

Fonte:https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2023-05/mediacao-de-maria-patrimonio-fe-crista.html



 

 

 

 

PAPA FRANCISCO - AUDIÊNCIA GERAL (Biblioteca do Palácio Apostólico - Quarta-feira, 24 de março de 2021)- Catequese - 27:  "Rezar em comunhão com Maria"







 



Prezados irmãos e irmãs, bom dia!

 



A catequese de hoje é dedicada à oração em comunhão com Maria, e ocorre precisamente na véspera da Solenidade da Anunciação. Sabemos que a via mestra da oração cristã é a humanidade de Jesus. Com efeito, a confiança típica da oração cristã não teria sentido se o Verbo não se tivesse encarnado, doando-nos no Espírito a sua relação filial com o Pai. Na leitura ouvimos falar daquela reunião dos discípulos, das mulheres piedosas e de Maria, que rezavam depois da Ascensão de Jesus: era a primeira comunidade cristã, que esperava o dom de Jesus, a promessa de Jesus. Cristo é o Mediador, a ponte que atravessamos para nos dirigirmos ao Pai (cf. Catecismo da Igreja Católica, 2674). É o único Redentor: não existem corredentores com Cristo. É o Mediador por excelência, é o Mediador. Cada oração que elevamos a Deus é por Cristo, com Cristo e em Cristo, e realiza-se graças à sua intercessão. O Espírito Santo alarga a mediação de Cristo a todos os tempos e lugares: não há outro nome no qual podemos ser salvos (cf. At 4, 12). Jesus Cristo: o único Mediador entre Deus e os homens. Da mediação única de Cristo adquirem significado e valor as outras referências que o cristão encontra para a sua oração e devoção, em primeiro lugar à Virgem Maria, Mãe de Jesus. Ela ocupa um lugar privilegiado na vida e, portanto, também na oração do cristão, porque é a Mãe de Jesus. As Igrejas do Oriente representaram-na frequentemente como a Odigitria, aquela que “indica o caminho”, ou seja, o Filho Jesus Cristo. 










Vem-me à mente aquela bonita, antiga e simples pintura da Odigitria, na catedral de Bari: Nossa Senhora mostra Jesus nu. Depois vestiram-lhe a camisa para cobrir aquela nudez, mas na verdade Jesus é representado nu, para indicar que Ele, homem nascido de Maria, é o Mediador. E Ela indica o Mediador: Ela é a Odigitria. Na iconografia cristã a sua presença está em toda a parte, às vezes até com grande destaque, mas sempre em relação ao Filho e em função d'Ele. As suas mãos, o seu olhar, a sua atitude são um “catecismo” vivo e indicam sempre o âmago, o centro: Jesus. Maria está totalmente voltada para Ele (cf. CIC, 2674). A tal ponto que podemos afirmar que é mais discípula do que Mãe. Aquela indicação, nas bodas de Caná, Maria diz: “Fazei o que Ele vos disser!”. Indica sempre Cristo; é a sua primeira discípula. Este foi o papel que Maria desempenhou ao longo de toda a sua vida terrena e que conserva para sempre: ser a humilde serva do Senhor, nada mais. Numa certa altura, nos Evangelhos, Ela parece quase desaparecer; mas volta nos momentos cruciais, como em Caná, quando o Filho, graças à sua intervenção solícita, fez o primeiro “sinal” (cf. Jo 2, 1-12), e depois no Gólgota, ao pé da Cruz. Jesus estendeu a maternidade de Maria a toda a Igreja quando lhe confiou o discípulo amado, pouco antes de morrer na cruz. A partir daquele momento, fomos todos colocados debaixo do seu manto, como vemos em certos afrescos ou quadros medievais. Também na primeira antífona latina, Sub tuum praesidium confugimus, sancta Dei Genitrix: Nossa Senhora que, como Mãe a quem Jesus nos confiou, envolve todos nós; mas como Mãe, não como deusa, não como corredentora: como Mãe. É verdade que a piedade cristã sempre lhe atribui títulos bonitos, como um filho à mãe: quantas palavras bonitas um filho dirige à sua mãe, a quem ama! Mas tenhamos cuidado: as belas palavras que a Igreja e os Santos dirigem a Maria em nada diminuem a singularidade redentora de Cristo. Ele é o único Redentor. São expressões de amor, como de um filho à mãe, às vezes exageradas. Contudo, como sabemos, o amor leva-nos sempre a fazer coisas exageradas, mas com amor. E assim começamos a rezar a Ela com algumas expressões que lhe são dirigidas, presentes nos Evangelhos: “cheia de graça”, “bendita sois vós entre as mulheres” (cf. CIC, 2676 ss.). Em breve, à oração da Ave-Maria seria acrescentado o título “Theotokos”, “Mãe de Deus”, sancionado pelo Concílio de Éfeso. E, analogamente ao que acontece no Pai-Nosso, depois do louvor acrescentamos a súplica: pedimos à Mãe que reze por nós, pecadores, para que interceda com a sua ternura, “agora e na hora da nossa morte”. Agora, nas situações concretas da vida, e no momento final, a fim de que nos acompanhe - como Mãe, como primeira discípula - na passagem para a vida eterna. Maria está sempre presente à cabeceira dos seus filhos que deixam este mundo. Se alguém se encontra sozinho e abandonado, Ela é Mãe, está ali perto, tal como estava próxima do seu Filho quando todos o tinham abandonado.Maria estava e está presente durante os dias da pandemia, perto das pessoas que infelizmente concluíram o seu caminho terreno numa condição de isolamento, sem o conforto da proximidade dos seus entes queridos. Maria está sempre presente, ao nosso lado, com a sua ternura maternal. As orações a Ela dirigidas não são vãs. Mulher do “sim”, que aceitou prontamente o convite do Anjo, responde também às nossas súplicas, ouve as nossas vozes, até aquelas que permanecem fechadas no coração, que não têm a força para sair mas que Deus conhece melhor do que nós mesmos. Ouve-as como Mãe. Como e mais do que todas as mães bondosas, Maria defende-nos nos perigos, preocupa-se conosco, até quando estamos ocupados com os nossos afazeres e perdemos o sentido do caminho, colocando em perigo não só a nossa saúde, mas a nossa salvação. Maria está presente reza por nós, reza por quem não ora. Reza conosco. Porquê? Porque Ela é a nossa Mãe!

 




APELOS

 



-Foi com tristeza que recebi a notícia sobre os recentes ataques terroristas no Níger, que provocaram a morte de 137 pessoas. Oremos pelas vítimas, pelas suas famílias e por toda a população, a fim de que a violência sofrida não faça perder a fé no caminho da democracia, da justiça e da paz.

 


-Nestes dias, grandes inundações causaram graves prejuízos no Estado de New South Wales, na Austrália. Estou próximo das pessoas e famílias atingidas novamente por esta calamidade, especialmente de quantos viram as suas casas destruídas, e encorajo aqueles que trabalham para procurar os desaparecidos e para levar socorro.

 


-Hoje é o Dia Mundial de Luta contra a Tuberculose. Possa esta celebração favorecer um impulso renovado no tratamento desta doença e uma maior solidariedade para com quantos dela sofrem. Sobre eles e sobre as suas famílias invoco a consolação do Senhor.

 



Saudações:

 




Saúdo os ouvintes de língua portuguesa e convido, nas vésperas da solenidade da Anunciação, a dirigir-vos com confiança à Virgem Mãe. Mulher do “sim”, que acolheu com prontidão o convite do Anjo, responde de igual forma às nossas súplicas. Como e mais do que toda a boa mãe, Maria protege-nos nos perigos. Lá, está Ela a rezar por nós, a rezar por quem não reza. Porque é a nossa Mãe!

 




Resumo da catequese 27 do Santo Padre, o papa Francisco:





Na oração do cristão, a Virgem Maria ocupa um lugar privilegiado, porque é a Mãe de Jesus. Sabemos que a estrada-mestra da oração cristã é a humanidade de Jesus: por esta sua humanidade, o Espírito Santo introduz-nos na relação filial de Jesus com o Pai celeste e daí nascem a intimidade e a confidência típicas da oração cristã: «Abbá, Papá!» Cristo é o único Mediador, a ponte que atravessamos para chegar ao Pai. Desta mediação única de Cristo, recebem sentido e valor todos os outros intermediários a quem recorremos na nossa devoção, a começar pela Virgem Maria. Na iconografia das nossas igrejas, Ela está sempre presente, e por vezes até com grande realce, mas sempre associada ao Filho, sempre em função d’Ele. Nas suas mãos, nos seus olhos, na sua atitude geral, temos um «catecismo» vivo: sempre indicam o ponto cardeal, ou seja, Jesus. Este é o papel que Maria ocupou durante a sua vida terrena e mantém para sempre: ser a serva humilde do Senhor. Mas, pouco antes de morrer na cruz, Jesus estendeu a maternidade de Maria a toda a Igreja quando Lhe confiou o discípulo amado. Colocados assim sob o seu manto protetor, começamos a rezar-Lhe usando algumas expressões presentes nos Evangelhos, como «cheia de graça» e «bendita entre as mulheres». E, na Ave Maria, depressa entra o título de «Mãe de Deus» consagrado no Concílio de Éfeso. Como sucede no Pai Nosso, depois do louvor vem a súplica: pedimos à Virgem Mãe que reze «por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte». Sabemos que Maria esteve e está presente, nestes dias de pandemia, junto das pessoas que concluíram o seu caminho terreno numa condição de isolamento, sem o conforto dos seus entes queridos. Com a sua ternura materna, estava lá Maria.




 

Fonte:https://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2021/documents/papa-francesco_20210324_udienza-generale.html





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Neste Apostolado APOLOGÉTICO (de defesa da fé, conforme 1 Ped.3,15) promovemos a “EVANGELIZAÇÃO ANÔNIMA", pois neste serviço somos apenas o Jumentinho que leva Jesus e sua verdade aos Povos. Portanto toda honra e Glória é para Ele.Cristo disse-nos:Eu sou o caminho, a verdade e a vida e “ NINGUEM” vem ao Pai senão por mim" (João14, 6).Defendemos as verdade da fé contra os erros que, de fato, são sempre contra Deus.Cristo não tinha opiniões, tinha a verdade, a qual confiou a sua Igreja, ( Coluna e sustentáculo da verdade – Conf. I Tim 3,15) que deve zelar por ela até que Ele volte(1Tim 6,14).Deus é amor, e quem ama corrige, e a verdade é um exercício da caridade. Este Deus adocicado, meloso, ingênuo, e sentimentalóide, é invenção dos homens tementes da verdade, não é o Deus revelado por seu filho: Jesus Cristo.Por fim: “Não se opor ao erro é aprová-lo, não defender a verdade é nega-la” - ( Sto. Tomás de Aquino).Este apostolado tem interesse especial em Teologia, Política e Economia. A Economia e a Política são filhas da Filosofia que por sua vez é filha da Teologia que é a mãe de todas as ciências. “Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao vosso nome dai glória...” (Salmo 115,1)

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