Marcos 9,42-48: “...E, se alguém escandalizar
um destes pequeninos que creem, melhor seria que fosse jogado no mar com uma
pedra de moinho amarrada ao pescoço. 43 Se tua mão te leva a pecar,
corta-a! É melhor entrar na vida sem uma das mãos, do que, tendo as duas, ir para o inferno, para o fogo que nunca se
apaga. 45 Se teu pé te leva a pecar,
corta-o! É melhor entrar na vida sem um dos pés, do que, tendo os dois, ser
jogado no inferno. 47 Se teu olho te leva a pecar, arranca-o! É melhor entrar
no Reino de Deus com um olho só, do que, tendo os dois, ser jogado no inferno, 48 onde o verme deles não morre, e o fogo não se apaga...'”
O homem, imagem e semelhança do Supremo Rei e Celeste Pintor
“O magnífico Museu do Prado, em
Madri, recebe diariamente milhares de visitantes que percorrem suas extensas
galerias, desejosos de admirar o incomparável acervo de obras-primas dos
maiores artistas da História. Há muitos
anos, um homem que lá entrara despercebido em meio à multidão foi retirado
pouco depois, algemado, por policiais. Seja por desequilíbrio mental, seja
por maldade, em certo momento de descuido dos funcionários do museu, ele jogou
um líquido negro sobre o famoso retrato equestre do Imperador Carlos V,
pintado por Ticiano. O crime chocou a opinião pública. Por um gesto estúpido,
ficara seriamente danificado o célebre quadro. Ora, se grave é estragar uma
obra artística, quem
leva outros a pecar faz muito pior: estraga não uma valiosa pintura, mas uma
alma, espiritual e imortal, imagem e semelhança de Deus, da qual é
expulsa a luz da graça. E esta
imagem assim conspurcada não representa um monarca desta Terra, mas o Supremo
Rei e Celeste Pintor, autor de todos os predicados...”
O escândalo dos inocentes e da própria consciência
Nesta perícope do Evangelho
de Marcos, as palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo parecem mudar de forma
abrupta o tema. Porém, se relermos os versículos anteriores, constataremos
que Jesus apenas retoma o assunto antes discutido, ou seja, a necessidade de se
ter a humildade e a simplicidade da criança. Consideremos, pois, que
Jesus acabara de dizer:
“Em verdade vos digo, se não vos
converterdes e não vos tornardes como crianças, não entrareis no Reino dos
Céus” (Mt 18, 3).
Acrescentando: “Quem acolhe em meu nome uma
destas crianças, a Mim acolhe. E quem Me acolhe, acolhe, não a Mim, mas Àquele
que Me enviou” (Mc 9, 37).
“E, se alguém escandalizar um
destes pequeninos que creem, melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra
de moinho amarrada ao pescoço”.
Tendo tratado da
recompensa à boa acolhida dada a um pequenino, analisa agora o oposto: o
castigo para quem desedificar ou prejudicar um inocente. Ao
falar em pequeninos, Nosso Senhor não está Se referindo apenas às
crianças, mas a todos quantos não têm forças suficientes para se manterem por
si mesmos na prática da virtude, precisando para isso do apoio de outros,
sobretudo no tocante ao seu instinto de sociabilidade. Especialmente
merecedor desse auxílio é quem conserva a sua inocência batismal. Este tem a
alma constantemente aberta ao sobrenatural, pois, como explica São João Crisóstomo:
“O menino está limpo de inveja,
de vanglória e da ambição de ocupar os primeiros postos. Ele possui a maior das virtudes: simplicidade, sinceridade, humildade.
O menino está isento de orgulho, de ambição da glória, de inveja, de obstinação
e de todas as paixões semelhantes”.
Muito Se compraz Deus
com essa retidão de alma própria ao inocente. Por isso quem induz ao pecado “um
destes pequeninos” causa-Lhe um tal repúdio que se torna réu desta terrível
condenação:
“Era preferível ser lançado ao
mar! Nosso Senhor utiliza esta
severa imagem por ser inteiramente familiar aos seus ouvintes, conforme
comenta São Jerônimo: “Fala segundo o costume da região, porque esta foi entre
os antigos judeus a pena para os maiores crimes: lançar na água o criminoso
com uma pedra atada ao pescoço...”
Nos lábios de um
outro, esta afirmação poderia parecer exagerada, mas quem a faz é o Filho de
Deus! E São João Crisóstomo assinala um detalhe:
“para quem escandalizar uma criança, disse Cristo: melhor seria ser atirado ao mar com uma pedra amarrada ao
pescoço; ou seja, dá a entender com isto, que o espera um castigo mais
grave...”
Pela indignação de
Nosso Senhor diante do escândalo, bem se pode medir o estreito
vínculo d’Ele com os inocentes!
A
gravidade do pecado de escândalo
“Todo escândalo é um pecado grave, mas nem todo pecado grave é um
escândalo, desde que não se tenha tornado público, e pior ainda, de forma
intencional a sua exposição...”
O
escândalo, segundo São Tomás de Aquino:
“Consiste em pronunciar palavras ou realizar ações próprias a expor alguém à ruína
espiritual, na medida em que elas o arrastam ao pecado. Significa dar más
sugestões, conselhos ou exemplos que chocam aquele a quem deveríamos, pelo
contrário, edificar, fazendo com que suas forças espirituais depereçam...”
Trata-se de um pecado
gravíssimo e cheio de malícia, que prejudica tanto quem o recebe quanto quem o
comete. Ao primeiro, porque a falta cometida em decorrência do
escândalo furta-lhe a vida da graça de Deus na alma. Ao segundo, por fazer o mesmo
papel do demônio que é: perder almas, acrescido do gosto em arruinar a
inocência alheia. Nesse sentido pode-se afirmar tratar-se de um pecado
satânico.
Com
o agravante, ainda, de ser muito difícil reparar um escândalo:
Pois, uma vez
cometido, não basta a Confissão, mas é necessária a reparação. É
fácil tomar um copo d’água e jogá-lo ao chão; mas, será o mesmo recolher o
líquido depois? E, a partir de um escândalo moral, os pecados podem se
multiplicar, avolumar-se como uma bola de neve, perpetuando-se em sucessivas
faltas decorrentes umas das outras. Como reparar todas elas? Portanto, é
daí que vem o “ai” de Jesus aos escandalosos.O mundo hoje está
pervertido, encharcado e transbordante de escândalo por todos os cantos. São
escândalos nas modas, nas conversas, nos modos de ser; são escândalos na
televisão, na internet, nos cinemas; são escândalos nos jornais, nas revistas,
no relacionamento social. Onde não há escândalo e a inocência não vai sendo
tragada pela voragem da impureza e da desonestidade? Qual será, pois, a
reação de Nosso Senhor a essa avalanche de pecados de dimensões inauditas, se
não lamentar com o “ai” e advertindo suas consequências?
Prejuízo
da própria consciência
43 “Se tua mão te leva a pecar,
corta-a! É melhor entrar na Vida sem uma
das mãos, do que, tendo as duas, ir para o inferno, para o fogo que nunca se
apaga. 45 Se teu pé te leva a pecar, corta-o! É melhor entrar na Vida sem um
dos pés, do que, tendo os dois, ser jogado no inferno. 47a Se teu olho te
leva a pecar, arranca-o!”
Provérbios 27,20: “O inferno e a perdição nunca se fartam, e os olhos do
homem nunca se satisfazem”
Para grandes males,
radicais medidas! Se Nosso Senhor condenou o escândalo dado ao próximo, nestes
versículos fustigará também, o prejuízo da própria consciência quando não
evitamos o pecado. Se grave é atentar contra a obra de Deus na alma de outrem, não será
menos condenável fazer o mesmo com a própria alma, pois a caridade começa consigo.
As recomendações de
Nosso Senhor Jesus: Cortar a mão, cortar o pé, arrancar o olho, devem ser
entendidas literalmente? Responde São João Crisóstomo, Doutor da Igreja (Ver
ícone de Eva, simbolicamente sem as mãos):
“Em tudo isto, não se refere o Senhor, nem de longe, aos membros do
corpo”
É preciso amar acima
de tudo a Deus e ter, em consequência, verdadeiro ódio ao pecado. Isso supõe
romper radicalmente com tudo quanto a ele conduz. No Horto das Oliveiras, Jesus
aconselhou:
“Vigiai e orai para não cairdes em tentação” (Mt 26, 41)
Não basta apenas
rezar; é necessário também vigiar, ou seja, afastar-se das circunstâncias
nas quais se costuma pecar.
Como podemos obter forças para vencer o vício?
Se a pessoa cedeu
várias vezes em alguma tentação e debilitou-se nesse ponto, a
única solução é se afastar para sempre dessa ocasião de modo
categórico, sem meios termos e concessões que podem fazer-nos cair novamente.
Para vencer, por exemplo, o vício da embriaguez, torna-se
indispensável abster-se de todo resquício de álcool, pois,
por qualquer deslize, se pode recair.
Da mesma forma,
devemos cortar irremissivelmente tudo quanto constitui para nós ocasião próxima
de pecado, como faríamos se um membro doente comprometesse seriamente a saúde
de todo o organismo. Poderá ser uma má amizade, pois:
“Nada há de mais pernicioso que uma má companhia. Aquilo que não se
consegue pela violência, obtém-se muitas vezes por meio da amizade, tanto para
o bem quanto para o mal...”
1
Coríntios 15,31-33: “Todos os dias enfrento a morte! E afirmo isso, irmãos,
porquanto sois meu orgulho em Cristo Jesus, nosso Senhor. Portanto, se foi simplesmente por razões
humanas que lutei com feras em Éfeso, que lucro obtive nisso? Ora, se os mortos
não ressuscitam: “comamos e bebamos, pois amanhã morreremos”. Não
vos enganeis! “As más companhias corrompem os bons costumes”.
Mas poderá ser também
um mau livro, imagens inconveniente ou, tantas vezes, o acesso à internet
que nos leva a pecar de forma privada e insaciável como diz Provérbios 27,20.Ora,
ao mesmo tempo que aconselha a fuga das ocasiões próximas, tendo presente a
fraqueza humana, Nosso Senhor adverte, apontando a consequência do pecado: a
condenação eterna no inferno, “onde o verme deles não morre e o fogo nunca
se apaga”. Essa radicalidade na virtude pressupõe para aqueles que creem, termos
os olhos postos na eternidade e sempre presente a máxima da Escritura: “Em
todas as tuas obras, medita no teu fim, e não pecarás eternamente” (Ecl 7, 40).
O
local onde o “fogo não se apaga”
“É melhor entrar no Reino de Deus com um olho só, do que, tendo os dois,
ser jogado no inferno, 48 onde o verme deles não morre, e o fogo não se apaga”.
Hoje, muitos ousam negar a existência
do inferno. Seria tão cômodo para a consciência se tal fosse verdade, pois se
nem Deus e nem o inferno existem, tudo é permitido!
Porém, os
Evangelhos transcrevem quinze referências de Nosso Senhor ao inferno. Ele
existe sem dúvida e, a respeito de seus tormentos, o Divino Redentor nos
fornece aqui uma noção fundamental: a existência de um verme roedor que não
morre. Como acontece com o fogo, numerosas são as interpretações dos autores
sobre o significado deste “verme”, abrangendo tanto o sentido literal quanto o
simbólico. Ora, esses diversos comentários não se excluem, pois a terrível
realidade do inferno por certo supera toda imaginação!
Interessa,
contudo, salientar aqui a identificação do “verme” com o remorso da
consciência que jamais abandona o condenado!
Pois um dos piores tormentos para ele é
saber que violou os Mandamentos de um Deus tão bom, e que só quer o nosso bem, e
o castigo é irremediável, pois perdeu o prêmio eterno por tão pouco: uma ilusão
fugaz, um prazer momentâneo, um vício pelo qual não lutou até o sangue (conf
Heb12,4). Em contraposição, o justo gozará da perfeita felicidade, da superior
alegria proporcionada pela paz de consciência. A fim de não cairmos nessa
região de tormentos, lembremo-nos do versículo do Salmo Responsorial que
suplica:
“Preservai o vosso servo do orgulho: que não domine sobre mim!”
Nós somos tão
orgulhosos, que sentimos orgulho em dizer que somos orgulhosos. No
inferno, não nos iludamos, são mais numerosos os condenados por causa do
orgulho do que por outros pecados. Não há praticamente pecado algum que
não tenha raiz neste defeito. O orgulho é a fonte de todo pecado!
A
obrigação do bom exemplo
Esta passagem tão
rica e tão profunda do Evangelho, nos leva a compreender que, assim como
não podemos causar escândalos, sobretudo
aos pequenos, em sentido contrário, temos a obrigação de edificar o próximo. E
como reparação pelos inúmeros escândalos que observamos, devemos viver dando
bom exemplo a todos, praticando o esforço de fazer tudo aquilo que possa
nos tornar modelos de santidade para os que conosco convivem. Porque
são os exemplos que arrastam e motivam a trilhar o mesmo caminho. Não é por
outro motivo que a Igreja nos apresenta a vida dos santos como modelo para
seguirmos. A cada momento, todo homem está influenciando o
seu próximo ou recebendo a influência dele. Está sendo para ele ora pastor, ora ovelha; ora mestre, ora discípulo;
continuamente dando e recebendo algo. É o princípio da Comunhão
dos Santos, por onde cada ato nosso repercute no Corpo Místico da Igreja. Nesse
sentido, nada em nossa vida é neutro: tudo pesa para bem ou para mal.
O
que me impede de praticar a virtude, principalmente a da pureza? (que não é ingenuidade):
Diante de uma leitura
que nos exorta a rejeitar tudo quanto pode nos afastar de Deus e nos estimula a
edificar o próximo, não é descabido propor um pequeno exame de consciência:
O que me impede de praticar com
integridade a virtude? Que apegos materiais me impelem a tomar em consideração
muito mais as coisas humanas do que as divinas? O que me leva a fechar-me
sobre mim e, portanto, a não passar na prova desta vida, cujo desfecho será o
prêmio ou o castigo eterno? Há algo que me arrasta ao pecado com frequência ou
revela em mim defeitos da alma como caprichos, comparações, invejas,
impureza ou o apego ao dinheiro? O que devo cortar para salvar-me?
E, depois de nos
analisarmos, precisamos pedir a graça de ter a coragem de agir com presteza,
porque sem o auxílio de Deus não é possível praticar os Mandamentos de forma
estável, menos ainda com perfeição.
Em Nossa Senhora encontraremos a força e o modelo plenamente
humano para mudarmos!
Nesta perícope aqui
meditada não é mencionada Nossa Senhora. Entretanto, é a Ela que devemos
dirigir o nosso olhar, porque, como afirma São Bernardo no Memorare: Ela
jamais abandona quem recorre à sua maternal proteção.Portanto, cientes
da nossa miséria, voltemo-nos para Maria Santíssima, pedindo: “Ó
Mãe, tende misericórdia de nós! Obtende-nos a graça de ter no coração a alegria
de praticar a Lei de Deus na sua integridade”. E como Deus deseja a
nossa plena santificação, estejamos certos de sermos atendidos com
superabundância de sua graça que transborda das mãos de Maria!
(Revista Arautos do
Evangelho, Set/2012, n. 129, p. 10 à 17)
|
(Maria a toda pulcra) |
“Santa Pureza, a rainha das virtudes, a virtude angélica,
é uma jóia tão preciosa que aquele que a possui se torna como os anjos de Deus
no Céu, ainda que revestidos da mortalidade da carne.” (São João Bosco)
“Uma alma pura é
uma pérola preciosa. Enquanto está
escondida na concha no fundo do mar, ninguém pensa em admirá-la. Mas se a
trouxermos para a luz, esta pérola brilhará e atrairá todos os olhares.
Portanto, a alma pura que está escondida aos olhos do mundo um dia irá brilhar
ante os anjos no sol da eternidade.” (São João Maria Vianney)
Quando perdemos a inocência, só nos resta a
penitência!
Por: Padre Paulo Ricardo
Com a contínua banalização do vício na modernidade,
a ideia de preservar ou recuperar a inocência parece um tanto irrelevante.
Hoje, apenas alguns pais (geralmente de alguns grupos protestantes, ou católicos
tradicionais) levam a sério a inocência de sua família e fazem o possível para
proteger os filhos da corrupção reinante em todas as formas de mídia e
ambientes. Eles educam em casa, restringem ou proíbem o tempo de
televisão e procuram limitar as companhias e amizades de seus filhos. Na
maioria dos casos, seus vizinhos mais progressistas os ridicularizam como
loucos e fariseus modernos, principalmente quando veem seus filhos
alimentando a fé e vivendo prudentemente, enquanto os seus próprios caem em
todos os pântanos morais imagináveis.
“Hoje, apenas
alguns pais levam a sério a inocência de sua família”
Diante
de tal êxito, pode-se perguntar por que mais pessoas não seguem essas
famílias saudáveis em vez de zombar delas. Algumas o fazem, e isso explica
por que as comunidades religiosas ortodoxas mais tradicionais estão crescendo
rapidamente, enquanto as liberais continuam a decair de forma vertiginosa.
Outros não o fazem porque não
compreenderam o que realmente significa a inocência, ou a virtude
da Pureza, que não se deve confundir com ingenuidade. Com demasiada frequência, ela é entendida em
termo negativos: não
ser exposto a más influências, não
observar ou conhecer o mal, não
ter maus pensamentos ou cometer ações más etc.
Se as pessoas veem a inocência
como um conjunto de “não-experiências”, os que a ela se opõem podem tratá-la
como algo que denota ignorância, ingenuidade e até insensibilidade, negando a
nossa própria humanidade.
A
consequência dessa redefinição é clara, especialmente nas escolas, no
entretenimento e na vida familiar. Na
escola, as crianças são sistematicamente escandalizadas em relação à sua fé,
aos seus relacionamentos e à sua própria identidade. Elas aprendem cedo a equiparar religião com
superstição, amor com utilidade e o “eu” com características acidentais. Os
alunos que praticam sua fé, evitam o sexo e renunciam ao status de “vítima” são
considerados estranhos e atraem o desprezo universal. Por outro lado, os estudantes “de gênero fluido”, com muitos parceiros
e sem religião, são cada vez mais celebrados e admirados.
“Não há melhor maneira de tirar a inocência de uma
geração inteira do que transformá-los em viciados”
(viciados da Cracolândia)
No
entretenimento, as crianças veem o bem e o mal relativizados, com o vilão
muitas vezes interpretando heróis andróginos, e virtudes como a bravura e a
honestidade sendo dissolvidas em desprezo, incompetência e superficialidade.
Pode até ser que os telespectadores mais jovens aprendam a ser gentis com as
pessoas, mas o que eles costumam aprender com mais frequência é a tirar sarro
dos outros, esquecer suas boas maneiras e agir como palhaços. Além de absorver
a imoralidade desse entretenimento, o ato de consumir passivamente imagens e
sons, na tela, atrai as crianças para o vício. Não há melhor maneira de tirar a inocência de uma geração
inteira do que transformá-los em viciados. É claro que a escola e o
entretenimento não teriam tanto efeito sobre a inocência dos jovens se os
adultos estivessem em guarda. Mas, infelizmente, a maioria dos adultos
abandonou o posto, deixando suas casas um caos e as crianças se virando por si
mesmas. Incentivados por uma propaganda onipresente, eles têm cada vez menos escrúpulos em
submeter seus filhos à corrupção.
Assim, as crianças passam os
primeiros anos de formação em lares onde abuso, palavrões e mentiras são algo
comum.
Essa
extinção da inocência continua, perigosa, até a idade adulta. Colocados em uma
ladeira escorregadia e achando que nada mais têm a perder, a maioria dos
adultos continua perdendo ainda mais a inocência. Seu lazer, educação e vida doméstica
se tornam ainda mais escandalosos e destrutivos, a ponto de
males extremos como o aborto, a eutanásia e a perseguição religiosa começarem a
ser tratados como opções desejáveis para revolucionar a cultura. Infelizmente,
a maioria dos adultos abandonou o posto de guardiões, deixando suas casas um
caos e as crianças se virando por si mesmas.
“Só os covardes vencem o pecado, porque fogem dele...” (Pe. Pio)
Essa
situação deixa duas opções para o indivíduo que ainda acredita na inocência:
lutar ou fugir. A curto prazo, aqueles que escolherem a última opção podem ser
mais eficazes em lidar com esse movimento espiral de decadência moral, pois
dialogar com o pecado, é relativizar, justificar, e por fim, se tornar amigo
dele.A tão criticada “Opção Beneditina” poderia funcionar em uma sociedade
feudal descentralizada, que é o que a Europa se tornou após a queda do Império
Romano. Mas se torna difícil de funcionar em países modernos, onde um governo autoritário tem os meios e
o apoio para simplesmente proibir ideias e práticas contrárias à sua ideologia.
Por exemplo: as leis do Canadá que anulam a autoridade dos pais para pressionar
a doutrinação LGBT, ou as leis draconianas da Alemanha contra o
ensino em casa, indicam qual será o destino final das famílias que tentarem se
afastar da corrupta cultura secular da nossa época.Em vez disso,
a melhor opção para preservar a inocência é combater a corrupção predominante.O
primeiro passo requer recuperar a definição adequada de inocência. Muito mais
do que uma mera falta de experiências negativas, a inocência é uma confiança em
realidades superiores, tais como: a Verdade, a Bondade e a Beleza. É
inocente a pessoa que acredita na verdade da revelação de Deus, na bondade dos
amigos e familiares, na beleza da Criação e da imaginação. Essa pessoa tem uma
visão transcendente do mundo e é capaz de enxergar para além de si mesma. Ela
não reduz toda a experiência a fenômenos materiais aleatórios, mas encontra
significado em tudo e em todos.
1
Coríntios 15,19: “Ora, se a nossa esperança em Cristo se restringe apenas a esta vida, somos os
mais miseráveis de todos os seres humanos, dignos de pena.”
Por terem menos experiências que as levariam a
duvidar das realidades mais elevadas, as crianças são naturalmente mais
inocentes. No Sermão da Montanha, Cristo, a própria encarnação da inocência,
claramente quer preservar essa qualidade nos jovens e recuperá-la nos velhos:
“Em verdade vos digo: se não vos transformardes e vos tornardes como
criancinhas, não entrareis no Reino dos Céus” (Mt 18, 3).Ora, Jesus não ordena que os adultos abandonem suas
responsabilidades ou seus conhecimentos, como ele deixa claro três versículos
depois (cf. Mt 18, 6), mas exorta a manterem sua inocência na confiança
em Deus. Felizmente, apenas conhecer ou experimentar algo feio, mau ou falso
não leva necessariamente as pessoas a perderem a inocência, embora isso
certo aconteça se não tivermos cuidado.
Dostoiévski ilustra essa
situação com os protagonistas de “Crime
e Castigo”
Na esperança de provar a teoria de que indivíduos verdadeiramente iluminados podem dispensar a
moralidade (se Deus não existe, então tudo é permitido), o protagonista Raskólnikov comete um duplo
homicídio, perdendo a inocência no sentido não apenas jurídico, mas também
espiritual. A miséria por ele experimentada não provém da culpa por tirar a
vida de um inocente, mas da decisão de desistir da Verdade, da Bondade e da
Beleza pela falsa sensação de poder
resultante do pecado. Em contraste
direto, a personagem Sônia preservou a inocência. Ela brilha como um anjo, apesar de experimentar
males muito piores como prostituta, apoiando o pai alcoólatra, com
uma mãe histérica e irmãos pequenos e indefesos. Nas conversas entre os dois, Sônia é inocente, afirmando sua
confiança em Deus e em seu amor, enquanto
Raskólnikov se sente qualificado para lhe dizer o quão errada e ingênua ela é,
ainda que ele mesmo nunca se dê conta da própria estupidez, ao cometer um crime
pela simples razão de justificar uma hipotética moral de adolescente. Em vez de evitar Raskólnikov para
manter sua pureza, Sônia pacientemente o
confronta sobre seu crime e o desafia ao arrependimento...”
Nesse sentido, ela reflete os santos que brandiram sua inocência
diante da corrupção
Eles entenderam que isso era mais persuasivo do que
qualquer argumento. São Paulo conquistou mais convertidos na
Grécia com sua inocência do que os maiores filósofos fizeram com seus diálogos
e tratados. O próprio Santo Agostinho se converteu não por sua
educação retórico-filosófica, mas por causa dos exemplos morais de sua mãe
Santa Mônica e de seu mentor, Santo Ambrósio. São Bernardo de Claraval
superou o lógico e célebre Pedro Abelardo (numa época em que havia pessoas
assim) mais pelo poder de suas
convicções do que por seu brilhantismo. São João Paulo II, um gênio por
mérito próprio, dedicou sua vida a Deus depois de testemunhar a fé inabalável do pai, a quem considerou como seu “primeiro
seminário”. Nada disso exclui a
necessidade da razão; indica, porém, que esta
é muito mais convincente quando associada à inocência.
Além de provar o poder da inocência, esses exemplos
do passado demonstram que ela constitui o remédio concreto para um presente já
fadigado. Obviamente, os que preservaram sua inocência devem torná-la um modelo
para os outros. Eles podem esperar retaliações, mas pelo menos as pessoas
notarão e talvez até venham a tomar consciência mais profunda dos efeitos
encantadores da inocência.O que é menos óbvio nesses exemplos, mas ainda assim
imprescindível, é a necessidade subsequente do afastamento do mundo
(conf. Rom 12,2). A inocência impulsiona os homens para o céu; a corrupção
os afasta.
A pessoa deixa de confiar na Verdade, na Bondade e
na Beleza quando passa tempo ouvindo mentiras, sucumbindo ao vício e se rendendo
à autossuficiência. Portanto, o homem deve se afastar dessas
influências. Tal
mudança acontece para Raskólnikov quando ele passa anos em uma prisão siberiana,
antes de finalmente se arrepender. São Paulo escolheu viver no
anonimato por três anos após sua conversão, antes de iniciar seu apostolado em
Antioquia. Após sua conversão, Santo Agostinho se afastou permanentemente do mundo
e de todos os seus prazeres e, praticamente, formou sua própria Ordem
religiosa. São Bernardo ingressou na comunidade monástica mais rígida
da França de sua época, e São João Paulo II perdeu o sono para passar mais
horas em oração.
Para todos esses homens, foi o
afastamento do mundo que permitiu à inocência criar raízes e florescer.
Eles pareciam haver entendido que, sem essa separação, a inocência continuaria
sendo um ideal distante que induziria mais a remorsos do que à
mudança de vida.
Na
era da informação, esse afastamento se tornou cada vez mais difícil, à medida
que novos dispositivos preenchem todos os espaços da vida; e
inventores e psicólogos desonestos incorporam “tecnologia persuasiva” para
destruir a possibilidade de autocontrole das pessoas. Por esse
motivo, é necessário ter um propósito de mudar os próprios hábitos e reordenar
as prioridades da vida. O
tempo gasto anteriormente na televisão e nas mídias sociais pode ser
preenchido com oração, trabalho, estudo e momentos de convivência.
Se tal mudança puder ser sustentada sem recaídas, surgirão momentos de
inocência em que a pessoa perceberá, e se revoltará, com o profano; e exaltará
o belo, cheia de gratidão pelas muitas bênçãos presentes no mundo ao seu redor.
Para muitas pessoas que perderam sua inocência, seja por que ficaram envolvidas com o crime, corrupção, depravações,
prostituição, adultério e homossexualismo, a percepção de que ela pode ser
resgatada é uma ocasião de grande alívio, e até de emancipação, uma verdadeira
sensação de liberdade. Elas não
precisam mais se desesperar por terem se afastado da inocência, nem continuar
fingindo que estavam melhor por tê-la perdido. Em vez disso, elas podem ser
encorajadas pela possibilidade de se tornarem inocentes novamente, protegendo a
inocência de outrem e confrontando as forças que trazem à nossa sociedade essa
tão sufocante corrupção, trilhando um caminho de volta, de metanoia para a verdade do que Deus quer e pensa dela.
Por fim, um retorno à inocência através do
afastamento do mundo é a única maneira de amar verdadeiramente ao próximo e aos
inimigos, sem se perder e permitir o pecado. É a única maneira de combater os escândalos sem ser
escandalizado. Mais importante ainda, é o único caminho para
Deus.
“Bem aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus” (Mt 5,8)
Apocalipse
21,27: “Nela jamais entrará qualquer coisa impura”
Apoc 22,14-15:
“Bem-aventurados todos os que lavam as
suas roupas no sangue do Cordeiro, e assim ganham o direito à árvore da vida, e
podem adentrar na Cidade através de seus portais. No
entanto, fora estão os cães, os bruxos e ocultistas, os que cometem (verbo está no presente)
imoralidades sexuais, os assassinos, os idólatras e todos os que amam e
praticam a mentira.”
Isaias 26,10: “Ainda que se mostre
favor ao ímpio, nem por isso aprende a justiça; pois até na terra da retidão
ele pratica a iniqüidade, e não atenta para a majestade do Senhor”
CONCLUSÃO:
Com o avanço da tecnologia, e das modas imodestas, de
uma sociedade sensual e erotizada, tornou-se cada vez mais difícil permanecer
com a virtude pureza fortalecida. Entretanto a pureza é uma das virtudes mais
importantes ao católico, e São João Maria Vianney nos ensina que sem ela não é
possível conquistar a Glória Eterna. Por este motivo precisamos fazer
violência contra as tentações que nos afligem dia-a-dia e rogar a Deus as
graças necessárias para mantermos nosso corpo e nossa mente sempre puros. Aprenda
esta poderosa oração que pode ser rezada todos os dias, pedindo pela
intercessão de Maria Santíssima exercitar a virtude da Pureza, que não se
confunde com ingenuidade, Maria como todos os santos e santas, era pura, não se
permitia misturas que pudessem comprometê-los, mas jamais foi igênua,
ou ignorante, que não são virtudes, mas defeitos,oremos:
“Coração
Puríssimo de Maria, por vosso amor e com
vosso auxílio, estou resolvido a não consentir, neste dia, em nenhum pensamento
impuro. Ajudai-me, Senhora, a afastá-los logo.
Ave Maria...
Coração Puríssimo de Maria por
vosso amor e com vosso auxílio, estou resolvido a não proferir, neste dia,
palavra alguma indecente. Purificai, Senhora, a minha língua.
Ave Maria...
Coração Puríssimo de Maria por
vosso amor e com vosso auxílio, estou resolvido a guardar, neste dia, especial
modéstia em todas as minhas ações. Ó Senhora minha! Ó minha Mãe!
Impetrai-me a graça de sempre e em tudo dar gosto ao vosso Puríssimo
Coração.
Ave Maria...
Meu Sr Jesus...
Fazei-me puro. Puro nos olhos,
pensamentos e nas ações.
Fazei-me humilde, que eu sempre desconfie de mim mesmo e não me exponha ao perigo do
pecado.
Fazei-me penitente, dai-me amor ao
sofrimento involuntário, permitido por TI, que tanto sofrestes por mim, que
quero agora sofrer por vós e por aqueles que são alvos de tua misericórdia.
Fazei-me generoso, para que eu nada vos
recuse e toda a minha vida seja vossa.
Fazei-me zeloso pela Glória de Deus e
pela Salvação das almas
Meu Jesus, fazei-me obediente aos
meus pais, autoridades e superiores.
Amém!
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