Os
jornais noticiam que a ex-gerente da Venina Fonseca, que denunciou a corrupção
no setor de Abastecimento da Petrobras e acabou demitida por justa causa, será
ouvida pelos procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato.
Conforme
reportagem-denúncia do Valor Econômico, a funcionária enviou e-mails alertando
a atual diretoria da estatal sobre desvios na companhia. Uma dessas mensagens,
enviada em 16 de janeiro de 2009 ao então diretor de Abastecimento da
Petrobras, Paulo Roberto Costa, Venina Fonseca disse ser fiel a ele, mas que
passou por “momentos difíceis” por não conseguir praticar atos contra as regras
da estatal.O novo escândalo foi divulgado pelo “Jornal Nacional”, da TV Globo.
E-MAIL PARA COSTA:
No
início do e-mail, Fonseca afirmou ter gratidão pelo fato de Costa, um dos
acusados de desvios na Petrobras, ter colaborado para a evolução profissional
dela.
“Nos últimos tempos tenho vivido momentos difíceis… diariamente me
deparo com situações que geram um grande conflito de valores. Não vou entrar em
detalhes porque sei que você sabe do que eu estou falando.”
Documentos obtidos pelo jornal “Valor Econômico” e
publicados nesta sexta-feira comprovam que a atual diretoria da Petrobras sabia
das irregularidades em contratos da estatal muito antes da Operação Lava-Jato,
desencadeada pela Polícia Federal em 17 de março deste ano. O alerta foi feito
pela gerente afastada da empresa, Venina Velosa da Fonseca, que enviou e-mails
à atual presidente Graça Foster e a outros superiores, incluindo o ex-diretor
de Abastecimento Paulo Roberto Costa. Para Graça, Venina comunicou até as ameaças
que sofrera após apresentar as denúncias.
De acordo com a reportagem, os desvios envolvem o
pagamento de R$ 58 milhões para serviços que não foram realizados na área de
comunicação, em 2008; superfaturamento de US$ 4 bilhões para mais de US$ 18
bilhões nos custos da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco; e contratações
atuais de fornecedores de óleo combustível das unidades da Petrobras no
exterior que subiram em até 15% os custos.
Além de Graça Foster, os desvios de dinheiro detectados pela ex-gerente foram comunidados a José Carlos Cosenza, substituto do delator Paulo Roberto Costa na Diretoria de Abastecimento. Cosenza é atualmente o responsável pela Comissão Interna de Apuração de desvios na estatal.
Para
Graça foram enviados e-mails e documentos informando as irregularidades
ocorridas tanto antes de ela assumir a presidência, em 2012, quanto depois. Em
2014, afirma o jornal, foram remetidas a Graça denúncias envolvendo os
escritórios da estatal no exterior. Nenhuma providência foi tomada com relação
a esse último caso, ocorrido sob a sua presidência.
Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista da Petrobras, em 29 de outubro, Cosenza afirmou nunca ter ouvido falar em desvios de recursos na estatal desde quando começou a trabalhar na Petrobras há 34 anos. No entanto, ele recebeu de Venina, nos últimos cinco anos, diversos e-mails e documentos com alertas a respeito dos mesmos problemas.
Venina Velosa da Fonseca estava na estatal
desde 1990, onde ocupou diversos cargos. Ela começou a apresentar denúncias
quando ainda era subordinada a Paulo Roberto como gerente executiva da
Diretoria de Abastecimento, entre novembro de 2005 e outubro de 2009. À época,
Venina foi transferida para o escritório da Petrobras em Cingapura, na Ásia.
Ela foi afastada em 19 de novembro e vai depor ao Ministério Público, em
Curitiba, onde tramita o processo da Operação Lava-Jato.
Segundo o "Valor Econômico", as suspeitas
de Venina começaram em 2008, quando ela verificou que os contratos de pequenos
serviços atingiram R$ 133 milhões entre janeiro e 17 de novembro daquele ano. O
valor ultrapassou os R$ 39 milhões previstos para 2008.
A ex-gerente procurou Paulo Roberto Costa.
Segundo ela, o então diretor de Abastecimento apontou o dedo para o retrato do
presidente Lula e perguntou se ela queria "derrubar todo mundo".
Costa disse também que Venina deveria procurar o
diretor de comunicação, Geovanne de Morais, que cuidava desses contratos.Venina
também encaminhou a denúncia ao então presidente da estatal, José Sérgio
Gabrielli. Ele instalou comissão sob a presidência de Rosemberg Pinto para
apurar o caso. Assim como Geovanne, Gabrielli e Rosemberg são do PT da Bahia.
Esse último foi eleito deputado estadual pelo partido.
O relatório da comissão apurou que foram
pagos R$ 58 milhões em contratos de comunicação para serviços não realizados.
Além disso, foram identificadas notas fiscais com o mesmo número para diversos
serviços, totalizando R$ 44 milhões.
Irregularidades também em Cingapura
O caso, afirma o "Valor Econômico", foi
remetido para a auditoria interna. Geovanne foi demitido, mas entrou em licença
médica, o que evitou que fosse desligado imediatamente da Petrobras, onde
permaneceu por mais cinco anos.
Em 3 de abril de 2009, Venina enviou um e-mail para
Graça Foster pedindo ajuda para concluir um texto sobre problemas identificados
na estatal. Na época, Graça era Diretora de Gás e Energia. Em 7 de outubro de
2011, Venina escreveu novamente para Graça Foster:
"Do imenso orgulho que eu tinha pela
minha empresa passei a sentir vergonha". Diretores passam a se intitular e a agir
como deuses e a tratar pessoas como animais. O que aconteceu dentro da Abast
(Diretoria de Abastecimento) na área de comunicação e obras foi um verdadeiro
absurdo. Técnicos brigavam por formas novas de contratação, processos novos de
monitoramento das obras, melhorias nos contratos e o que acontecia era o
esquartejamento do projeto e licitações sem aparente eficiência".
Na mensagem, Venina diz que, após não ver mais
alternativas para mudar a situação, iria buscar outros meios e sugere
apresentar a documentação que possui a Graça.
"Parte dela eu sei que você já conhece. Gostaria de te ouvir antes de dar o próximo passo", completa, dirigindo-se à então diretora de Energia e Gás.
De acordo com o "Valor Econômico", em
2012, a gerente afastada voltou ao Rio, onde ficou por cinco meses sem nenhuma atribuição.
A alternativa foi retornar a Cingapura, como chefe do escritório. Em 25 de
março de 2014, Venina encaminhou um e-mail a Cosenza sobre perdas financeiras
em operações internacionais da estatal que ela identificou a partir do trabalho
em Cingapura. A Petrobras comercializa combustível para navios, denominados
bunkers.
Em nota divulgada nesta sexta-feira, a Petrobras
afirmou que realizou instaurou comissões internas em 2008 e 2009 para
investigar "indícios de irregularidades" em contratos da área de
comunicação do abastecimento. Segundo a petroleira, o processo resultou na
demissão do ex-gerente da área, que acabou não sendo efetivado por causa de uma
lincença médica.
Fonte:http://oglobo.globo.com/brasil/graca-foster-sabia-das-irregularidades-na-petrobras-antes-da-operacao-lava-jato-diz-jornal-14813735
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