Ninguém sabe! Mas as estimativas da Agência Nacional do Petróleo é de que, com o pré-sal, o Brasil tenha 50 bilhões de barris de petróleo, só nas áreas prospectadas. E, se depender de anúncios mirabolantes do Ministério de Minas e Energia, esse número pode atingir 150 bilhões de barris. Se for verdade, o Brasil ultrapassará o Irã como a 3ª maior reserva do mundo, sim mas e dai ? O Iram é uma super potência?
Os acionistas da Petrobras - incluindo o maior deles, o governo brasileiro. A Petrobras vinha emprestando grana para fazer seus imensos investimentos. Só que a dívida bateu em 34% de todo seu patrimônio. Com a corda no pescoço, não podia mais emprestar - o que ameaçou seus planos de investir mais US$ 224 bilhões.Só sobrava uma opção: criar novas ações e ver se investidores se interessariam. Deu certo,a Petrobras ficou um Iraque inteiro mais rica e pulou de 21ª para 4ª maior empresa do mundo. Foi a maior capitalização da Petrobras, e a maior da história.Mas aí há um probleminha. Quando uma empresa emite ações, os papéis que os acionistas possuíam passam a representar uma porcentagem menor do novo total. E tudo o que o governo não queria é perder espaço na mais estratégica empresa do país. Ele foi então às compras. Sem poder tirar dinheiro da cartola, ele usou outra moeda: petróleo do pré-sal. Cedeu à Petrobras 5 bilhões de barris ainda debaixo da terra, e, em troca, aumentou sua participação de 40 para 48% das ações. Por seu lado, a Petrobras pagou US$ 8,51 por barril. Quando a empresa extraí-lo, vai valer mais - hoje, passa de US$ 80. Mesmo assim, isso custou à estatal R$ 74,88 bilhões, grana em parte emprestada do BNDES, por sua vez vinda da emissão de títulos do Tesouro. Ou seja, o governo pagou parte da conta.
E os tais royalties?
Se você encontrou petróleo ao fazer um buraco no quintal, não, não ficou rico. O que jorrar é da União. Para ter direito de explorá-lo, vale a mesma regra de gravar a música de outra pessoa: tem que pagar royalties. Hoje, 30% dos royalties vão para a União, 26,25% para estados produtores, 26,25% para municípios produtores, 8,75% para municípios atingidos pelo transporte do petróleo e 8,75% para demais estados e municípios. O argumento para essa divisão é que os royalties servem para compensar estados e municípios produtores com o que gastarem em infraestrutura, e compensar possíveis danos ambientais. Mas quem não mama chora: deputados de estados não produtores propuseram distribuir os royalties para todos - o que tiraria R$ 8 bilhões do Rio. Isso, claro, engatilhou uma guerra entre estados.
Como vão partilhar o tesouro?
Nos campos do pós-sal, a empresa que achar petróleo decide o que fazer com ele.Em 1997, FHC acabou com o monopólio da Petrobras,(Há prós e contras a esta medida) ou seja,pode explorar óleo a empresa que comprar uma concessão.Esse sistema parece uma mamata, mas não é bem assim: no pós-sal, o risco de investir horrores em prospecção e não achar nada de petróleo é alto.Quem assumir esse risco faz o que bem entender com o óleo que achar, desde que pague royalties ao governo.Já no pré-sal o governo faz pesar o punho: controla a venda do óleo e favorece a Petrobras.Como o risco de não ver óleo no pré-sal é baixo, o governo mudou a regra:licita um campo, que vai para quem oferecer mais lucro à União.O contrato pode ser exclusivamente com a Petrobras. Se houver a participação de outras petroleiras, a estatal fica com a operação e uma participação de pelo menos 30% do consórcio.Mesmo depois de extraído, o petróleo ainda pertence à União. Depois de vender o óleo, a estatal Pré-Sal Petróleo divide a grana entre União e petroleiras.
O que vão fazer com a grana?
Soa estranho, mas o melhor é tirar o dinheiro do Brasil. A exportação de petróleo inundaria o país de dólares, o que explodiria o valor do real. Ficaria então mais barato comprar produtos importados que os daqui. Isso levaria a indústria nacional para a cucuia e aumentaria o desemprego. O pré-sal seria então gasto para remediar problemas sociais que ele mesmo criou. É a doença holandesa - maldição batizada assim quando a exportação de gás na Holanda minou sua economia nos anos 70.
Um fundão vai evitar a invasão de moeda estrangeira. A parte da receita do pré-sal que cabe à União vai para o Fundo Social - uma poupança pública de longo prazo. A ideia é que esse fundo deposite grana fora do Brasil, o que compensaria a entrada de dólar vindo do petróleo.O Fundo Social vai investir em títulos de governos estrangeiros, que têm baixo risco, e em ações de empresas fora do setor petrolífero. Assim, o fundo servirá de "colchão" quando o petróleo estiver em baixa.Enquanto essa "poupança" deve continuar guardadinha, o governo deve sacar apenas seus rendimentos. Com essa grana, promete investir em tecnologia, educação, saúde, ambiente e combate à pobreza.
Pode dar tudo errado?
Sim, mas é pouco provável. Para a maioria dos países, o petróleo foi uma maldição. Felizmente a balança no Brasil pende para o lado bom, porém sempre que o Brasil cresce, vira voo de galinha: o baixo investimento cria "gargalos" na economia. Mas o pré-sal aumentará esse investimento, o que pode sustentar o crescimento (compare a porcentagem de investimentos no PIB de outros Brics).
Somos de fato autossuficientes?
Ainda não. Embora o Brasil extraia mais petróleo do que consome, o cálculo engana. Como parte das refinarias brasileiras foi construída nos anos 70 para o petróleo leve importado do Oriente Médio, não conseguimos refinar todo o nosso óleo pesado! E aí o que fazemos é como exportar laranja e importar suco. Mas 5 novas refinarias vão dar conta do mercado interno - e externo.Na Arábia Saudita, o petróleo financia uma monarquia autoritária. Na Nigéria, alimenta conflitos étnico-religiosos. Na Venezuela, domina a economia ao ponto de a PDVSA, a "Petrobras" deles, virar um Estado dentro do Estado, e outro setores econômicos acabarem aniquilados. Mas é pouco provável que isso aconteça no Brasil. O país já era uma democracia estabelecida quando achou as megarreservas; sua economia é sólida e diversificada: apenas 8% do PIB vem do petróleo, contra 80% na Venezuela. E o Fundo Social deve evitar a doença holandesa.
Mas existem vantagens e desvantagens!
O que o Petróleo trouxe de bom e ruim em outros países?
1)- Bem-estar social – Noruega
-Exportação de petróleo - 1°
-IDH - 4°
-Índice de democracia - 5°
Recebeu de fato um bilhete premiado ao descobrir petróleo nos anos 60. Ainda que o setor petrolífero represente um quarto do PIB, um fundo soberano imunizou o país contra a doença holandesa - ele serve de colchão em crises e só rendimentos são gastos. A indústria não foi protegida por reservas de mercado, e se manteve competitiva.
2)- RIQUEZA - Emirados Árabes Unidos
-Exportação de petróleo - 3°
-IDH - 32°
-Índice de democracia - 150°
A descoberta de jazidas em 1958 transformou esses emirados atrasados em um dos maiores centros financeiros mundiais. Um dos ingredientes é o fundo soberano de Abu Dabi: US$ 627 bilhões acumulados desde 1976. Com seus rendimentos, o governo diversifica a economia local para quando o óleo acabar.
3)- POPULISMO – Venezuela
-Exportação de petróleo - 10°
-IDH - 75°
-Índice de democracia - 93°
Antes de Hugo Chávez, o petróleo concentrava renda. Depois, dele, concentrou poder no Estado. Com os lucros da estatal PDVSA, que detém 80% do PIB, Chávez financia o "socialismo do século 21": projetos sociais populistas, nacionalização da economia, expropriação de negócios e mudança na Constituição para ele e seus sucessores se reelegerem eternamente.
4)- DITADURA - Arábia Saudita
-Exportação de petróleo - 1°
-IDH - 55°
-Índice de democracia - 159°
A dona de um quarto do petróleo do mundo é uma monarquia conservadora que proíbe partidos políticos, torra 10% do PIB em gastos militares e financia extremistas islâmicos. O petróleo é responsável por 75% da economia, e a mistura de religião e dinheiro da estatal Saudi Aramco impossibilita qualquer mudança rumo à democracia.
5)- TEOCRACIA – Irã
-Exportação de petróleo - 8°
-IDH - 70°
-Índice de democracia - 139°
É governado por presidentes eleitos de forma desacreditada e por um conselho religioso conservador. O petróleo traz 80% do orçamento do governo, que subsidia desde o pão até a gasolina, alimenta um programa nuclear e financia grupos paramilitares no Oriente Médio. A indústria local é ineficiente e o desemprego, altíssimo.
6)- CAOS – NigériA
-Exportação de petróleo - 7°
-IDH - 142°
-Índice de democracia - 124°
O petróleo alimenta sangrentas disputas religiosas e étnicas e beneficia grupos ligados ao governo, mergulhado em corrupção. Aliados têm apoio para explorar jazidas sem investir em estrutura. O resultado é que, nos últimos 50 anos, já vazaram mais de 546 milhões de litros de petróleo por falta de estrutura ou por sabotagem política.
Onde vão surgir empregos?
1)- INDÚSTRIA QUÍMICA (Nordeste e RJ)
O setor negocia ficar com 4% de todo o petróleo do pré-sal. Com matéria-prima barata e US$ 167 bilhões previstos em investimentos, a indústria química ficaria bem mais competitiva internacionalmente. E a presença de refinarias no Nordeste podem tornar a região um novo polo industrial.
2)- ESTALEIROS (PE, CE, AL, BA, RJ, RS)
Em 2010 a indústria naval brasileira lançou ao mar o primeiro navio nacional em 13 anos. E a coisa vai estourar: por enquanto a Petrobras já encomendou 146 embarcações, com exigência de pelo menos 80% de conteúdo nacional - a US$ 5 bilhões. Isso sem contar plataformas - não se sabe quantas a Petrobras encomendará.
3)- OUTRAS INDÚSTRIAS
A exploração do pré-sal tem trazido encomendas de equipamentos como helicópteros, submarinos, robôs, tudo mais ou menos made in Brazil, na marra. Isso pode trazer para cá centros de pesquisas tecnológicas de empresas estrangeiras - como a GE, que deve fazer no Rio seu 5º centro de pesquisas mundial, por US$ 150 milhões. Ele deve ter 300 funcionários, a maioria doutores.
4)- EDUCAÇÃO, A VENCEDORA
Até 2012 a Petrobras quer contratar 207 mil profissionais. Para dar conta desse tsunami petroleiro, cerca de 100 novos cursos superiores voltados ao petróleo já pipocaram nos últimos dois anos, a maioria para tecnólogos.Mas o que mais falta é engenheiro: o déficit em 2012 será de 150 mil profissionais. Ainda assim, apenas 1 em cada 800 vestibulandos escolheram engenharia.
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