Como ex-comunista
militante e ex-filiado ao partido por mais de 10 anos, tenho que prestar alguns
esclarecimentos sobre um FALSO IGUALITARISMO apregoado ao Comunismo. Um dos mitos
mais difundidos sobre o socialismo é que neste sistema "todos são
iguais", no sentido de que todos recebem a mesma quantia de produtos por
seu trabalho, seja ele qual for.
Um suposto "igualitarismo" salarial:
Alguns outros
mitos, ainda mais exagerados, dizem que ninguém é dono de sua própria casa, que
todos dormem debaixo de um enorme galpão comunitário compartilhando um enorme
cobertor, etc. Este
"igualitarismo" salarial soa estranho a muita gente que pensa ser
"injusto" que o mérito e o esforço pessoal não sejam levados em
consideração. Que uma pessoa que não trabalhe seja "sustentada pelo
Estado", ou que alguém que trabalhe mal ou não se esforce tenha a mesma
recompensa que uma pessoa dedicada.
Reproduzo
abaixo um trecho de uma entrevista de Stálin (ao qual tenho severas Críticas a
sua condução e liderança), ao autor alemão Emil Ludwig, de 1932, na qual o
dirigente soviético é confrontado com a questão do "igualitarismo"
salarial e esclarece que o socialismo marxista nada tem a ver com isso!
1)- Ludwig: Sou muito grato por esta sua
afirmação. Permita-me fazer a seguinte pergunta: o senhor fala de “igualamento
salarial”, dando à expressão uma conotação distintamente irônica em relação ao
igualamento geral. Mas, com certeza, o igualamento geral é um ideal socialista.
Stálin: “O tipo de
socialismo no qual todos receberiam o mesmo pagamento, a mesma quantidade de
carne e a mesma quantidade de pão, vestiriam as mesmas roupas e receberiam os
mesmos artigos nas mesmas quantidades – tal socialismo é desconhecido para o
marxismo.Tudo que o marxismo diz é que até que as classes tenham sido
finalmente abolidas e até que o trabalho tenha sido transformado de um meio de
subsistência na necessidade básica do homem, no trabalho voluntário pela
sociedade, as pessoas serão pagas por seu esforço de acordo com o trabalho
executado. “De cada um de acordo com sua habilidade, para cada um de acordo com
seu trabalho.” Esta é a fórmula marxista do socialismo, a fórmula para o
primeiro estágio do comunismo, o primeiro estágio da sociedade comunista. Apenas
no mais alto estágio do comunismo, apenas em sua fase mais desenvolvida, é que
cada um, trabalhando de acordo com a sua habilidade, será recompensado por seu
trabalho de acordo com suas necessidades: “De cada um de acordo com sua
habilidade, para cada um de acordo com suas necessidades...”
Está muito claro que as necessidades das pessoas
variam e continuarão variando sob o socialismo
O socialismo
nunca negou que as pessoas sejam diferentes em seus gostos, e na quantidade e
qualidade de suas necessidades. Leia como Marx
criticou Stirner por sua inclinação em direção ao igualitarismo; leia a crítica
de Marx ao Gotha Programme de 1875; leia os trabalhos subseqüentes de Marx,
Engels e Lênin, e você verá quão agudamente eles atacam o igualitarismo. O igualitarismo deve sua
origem ao tipo de mentalidade camponesa individual, à psicologia de compartilhar
e compartilhar igualmente, à psicologia do “comunismo” primitivo camponês.
Igualitarismo não tem nada em comum com o marxismo
socialista!
Apenas as
pessoas sem qualquer familiaridade com o marxismo podem ter a idéia primitiva
de que os bolcheviques russos desejam juntar toda a riqueza e então dividi-la
igualmente. Essa é a ideia de pessoas que não têm nada em comum com o marxismo.
É assim que tais pessoas como os “comunistas” primitivos da época de Cromwell e
da Revolução Francesa imaginaram o comunismo para si próprios. Mas o marxismo e
os bolcheviques russos não têm nada em comum com tais “comunistas”
igualitaristas.O pior disso tudo é
quando essas opiniões passam a ser compartilhadas por milhões, até bilhões de
outras pessoas, até que o que era apenas uma idéia incorreta torna-se
subitamente a mais pura verdade.Há muitas pessoas - ditos intelectuais até - que
baseiam suas idéias política em um erro grotesco do que seria o socialismo
marxista! Defendem o
capitalismo porque supostamente o socialismo busca a homogeneidade, o
igualitarismo em sua forma mais simples e "pura". Ou seja, para eles,
o marxismo seria uma espécie de ditadura que impõe uma roupa igual a todos,
casas iguais, produtos iguais, enfim, tudo igual mesmo, inclusive os salários.
Daí ocorre uma supressão do individual em prol de uma coletividade homogênea.
Surge então uma sociedade estagnada, nada criativa e bastante opressiva.
Agora eu me pergunto, de onde foi que tiraram
isso?
Dos escritos
de Marx e Engels que não foi, já que nem na obra mais básica de todas, "O
Manifesto do Partido Comunista", não há nada disso! Inclusive, eles dizem
que no socialismo as pessoas devem ser remuneradas de acordo com sua habilidade
e produtividade! Bom, nas
experiências históricas também não. Já que os bolcheviques jamais igualaram
salários de ninguém, um cientista de grande importância ganhava bem mais que um
jardineiro mediano, assim como um operário como Stakhanov ganhava muito mais do
que um diretor de fábrica mediano.
É importante agora frisar uma ideia básica do
marxismo:
A igualdade, é
a igualdade de classe. Ou seja, deve-se abolir a diferenciação entre donos dos
meios de produção e trabalhadores que vendem sua força de trabalho. Em outras
palavras, deve-se abolir as classes sociais pra que todos REALMENTE possam ter
direitos iguais. Não é hipocrisia
socialista o fato de uma pessoa extremamente produtiva ser herói da nação e
viver em um apartamento maior e mais bem localizado que um trabalhador que
apenas cumpre suas metas. Não é crime
uma pessoa querer buscar algo mais que as outras, querer inovar, querer
revolucionar, querer crescer profissionalmente. Não é crime ganhar um salário
maior que o outro, ter notas maiores que os outros, não é crime destacar-se na
sociedade - senão Lênin seria o primeiro a ser condenado na URSS. O mito do
igualitarismo marxista não passa disto, de um mito. A igualdade é a igualdade
de classes. Sem classes, sem privilégios. E teoricamente sem privilégios, surge a verdadeira
democracia.
O limite político do liberalismo sempre foi a
igualdade jurídica dos cidadãos. Os cidadãos seriam iguais diante da lei, mas
desiguais entre si! Cotas Sociais ou Raciais?
A igualdade
possível seria a eqüidade. A discussão das cotas abriu uma polêmica na
sociedade brasileira, alguns defendendo o princípio meritocrático, e outros
defendendo as políticas afirmativas. As cotas
sociais e raciais são pequenas reformas ou medidas de emergência, um paliativo,
que não podem inverter a dinâmica decadente do capitalismo periférico. Mas, a
valorização progressiva que os socialistas fazem das cotas sociais e raciais só
pode ser contextualizada à luz de uma equação mais ampla: seu compromisso com a
igualdade social. O marxismo defendeu que
a passagem a uma sociedade socialista deveria ser compreendida pelo critério de
distribuição de ``cada um segundo suas capacidades, a cada um segundo suas
necessidades``, construído pela socialização da propriedade. Seu objetivo é a
gratuidade da alimentação, da educação, da saúde, dos transportes ou do lazer.
A distribuição segundo a satisfação das necessidades exigirá, portanto, ir além
do regime do trabalho assalariado. O trabalho no socialismo deixará de ser um
martírio, para alcançar o estatuto de plena realização humana. Os marxistas
nunca se iludiram, todavia, que este princípio organizador da distribuição
pudesse ser implantado imediatamente, ou à escala de um só país.
De cada um segundo sua capacidade, a cada um
segundo o trabalho realizado!
O marxismo
propôs como princípio de distribuição para uma sociedade de transição "`de
cada um segundo sua capacidade, a cada um segundo o trabalho realizado".
Mas a eqüidade é ainda uma igualdade formal. Ao reconhecer que a distribuição
seria regulada segundo o trabalho realizado, portanto, salários desiguais, os
socialistas estavam admitindo uma distribuição desigual, transitoriamente, o
que é o mesmo que aceitar algum critério de racionamento. A questão colocada
seria como definir os produtos e serviços que seriam racionados, e quem os
receberiam.Os socialistas
reconheceram que a diminuição da desigualdade social impulsionada pelo
princípio de distribuição meritocrático - a tirania do esforço ou do talento -
não garantiria ainda a igualdade social, porque estaríamos diante de um
tratamento igual para os desiguais, perpetuando-a. Trabalhos
diferentes, pela complexidade da educação exigida, ou pela intensidade do
desgaste ou ainda do perigo, não poderiam ter salários iguais. Aceitaram a
necessidade de seleção para o acesso às melhores oportunidades. Descartaram o
sorteio porque seria ainda pior, premiando o acaso, e desqualificando o
sacrifício ou a capacidade.
A igualdade social é, contudo, um objetivo superior
à igualdade de oportunidades!
A meritocracia
considera de forma igual os desiguais. Os socialistas defendem que, em uma
sociedade desigual, para que se diminuam as diferenças sociais, não bastaria a
equidade, seria necessária tratar de forma desigual os desiguais. Admitiram,
portanto, fatores de correção social e culturalmente progressivos dos critérios
meritocráticos. Essa discussão, as discriminações positivas para aqueles que
foram vítimas de opressões seculares, surgiu a propósito das reivindicações das
mulheres e dos setores mais explorados dos trabalhadores, mas o critério é o
mesmo quando discutimos o racismo.
Verdade seja dita: Cotas são justas, porém insuficientes!
No Brasil do
início do século XXI a mobilidade social é muito pequena. O capitalismo
periférico mantém taxas de crescimento que não superam as taxas de natalidade,
o desemprego oscila dento de margens muito elevadas, e os salários médios ora
ficam estagnados, ora caiem.A escolaridade
média não supera os seis anos, quando já atingiu os doze anos na Europa do
Mediterrâneo e os dezesseis anos na Europa nórdica. Pelo menos metade da
população brasileira com mais de quinze anos de idade é iletrada, ou seja, não
reconhece sentido no que lê. O governo Lula foi incapaz de inverter este sentido
histórico decadente que se abate como um flagelo sobre a população brasileira!
As cotas são um bombom e um bolo envenenado!
A reforma
universitária que legaliza a transferência de verbas públicas para o ensino
privado, através do Prouni, anistiando as dívidas fiscais de um setor que
estima faturar dezenas de bilhões de reais em 2006.Todos sabemos
que os inscritos no vestibular de acesso às universidades públicas têm
igualdade de condições formais, portanto, abstratas, porque a seleção será
decidida favorecendo os que tiveram melhores condições de preparação.As políticas
afirmativas de cotas de acesso ao ensino público ou aos concursos públicos para
afro-descendentes corrigem, parcialmente, mas corrigem, um obstáculo que só é
invisível para os que secundarizam o racismo. Opor às cotas a bandeira
do acesso livre para todos parece um argumento razoável, mas não é! O ensino de
qualidade significa a desmercantilização de uma das necessidades humanas mais
sentidas. Nem um governo dos trabalhadores, pelo menos nas fases iniciais da
transição ao socialismo num país como o Brasil, poderia garantir acesso
irrestrito ao ensino superior para todos, ou em qualquer curso.
BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA:
MARX, Karl, Os
debates na Dieta Renana sobre as leis castigando os roubos de lenha, in
Escritos de Juventud, México, Fondo de Cultura Econômica, 1987.
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