No ano 49 foi realizado o 1° Concílio da Igreja: o Concílio de Jerusalém. O Concilio de Jerusalém foi uma reunião inicial entre as lideranças cristãs nos meados do século I, para abordar se os gentios (não-judeus) deveriam seguir as leis de Moisés. Em Jerusalém havia um grupo de Judeus cristãos (judaizantes), que insistiam em manter a exigência da circuncisão e da observância da lei de Moisés para os pagãos que aceitavam a Boa Nova de Jesus. Vindos de Jerusalém, “eles doutrinavam os irmãos de Antioquia, dizendo: “Se não forem circuncidados, como ordena a Lei de Moisés, vocês não poderão salvar-se. Isso provocou alvoroço e uma discussão muito séria deles com Paulo e Barnabé. Então ficou decidido que Paulo e Barnabé e mais alguns iriam a Jerusalém para tratar dessa questão com os apóstolos e anciãos” (At 15,1-2).
O concílio de Jerusalém surgiu para dar uma resposta definitiva a
essa polêmica: “saber se os gentios, ao se converterem ao cristianismo, teriam
que adotar algumas das práticas antigas da Lei Mosaica para poderem ser salvos”,
(inclusive o fazer-se circuncidar)?
O
apóstolo Paulo, apesar de ser judeu, ao levar o cristianismo a outros povos, não exigia a
circuncisão desses novos cristãos. Diante disso os presbíteros de Jerusalém se
reuniram em torno de Tiago, o Justo para fazer valer a "obrigatoriedade
da circuncisão".
Após algumas discussões sobre a polêmica, o apóstolo Tiago
concluiu:
“Eis porque, pessoalmente, julgo que não se devam molestar aqueles
que, dentre os gentios, se convertem a Deus. Mas se lhes escreva que se
abstenham do que está contaminado pelos ídolos, das uniões ilegítimas, das
carnes sufocadas, e do sangue. Com efeito, desde antigas gerações tem Moisés em
cada cidade seus pregadores, que o leem nas sinagogas todos os sábados".
(Atos 15,19–21)
Em Jerusalém, “os apóstolos e os anciãos se reuniram para tratar
desse assunto” (At 15,6-21).
Depois de longa discussão, Pedro levantou-se e disse: “Irmãos, vocês sabem que, desde os primeiros dias, Deus me escolheu no meio de vocês, para que os pagãos ouvissem de minha boca a palavra da Boa Notícia e acreditassem” (At 15,7; cf. 10,1-48). E continuou dizendo: “Ora, Deus, que conhece os corações, testemunhou a favor deles, dando-lhes o Espírito Santo como deu a nós. 9 E não fez nenhuma distinção entre nós e eles, purificando o coração deles mediante a fé. 10 Então, por que vocês agora tentam a Deus, querendo impor aos discípulos um jugo que nem nossos pais nem nós mesmos tivemos força para suportar? 11 Ao contrário, é pela graça do Senhor Jesus que cremos ser salvos, exatamente como eles.” 12 Houve então um silêncio em toda a assembleia. Depois disso, ouviram Barnabé e Paulo contar todos os sinais e prodígios que Deus havia realizado por meio deles entre os pagãos” (At 15,8-12).Em seguida, Barnabé e Paulo contaram todos os sinais que por meio deles foram realizados entre os pagãos durante a primeira viagem missionária (At 15,12). Finalmente, Tiago, citando a escritura, disse que a entrada dos pagãos já estava prevista. E ele terminou dizendo: “Por isso, eu sou de parecer que não devemos importunar os pagãos que se convertem a Deus. 20 Vamos somente prescrever que eles evitem o que está contaminado pelos ídolos, as uniões ilegítimas, comer carne sufocada e o sangue. 21 De fato, desde os tempos antigos, em cada cidade Moisés tem os seus pregadores, que o leem todos os sábados nas sinagogas.” (At 15,19-21). Todos concordaram e escreveram a seguinte carta para comunicar o resultado da reunião para as outras comunidades:
A Carta Conciliar de Jerusalém
“Nós,
os apóstolos e os anciãos, irmãos de vocês, saudamos os irmãos que vêm do
paganismo e que estão em Antioquia e nas regiões da Síria e da Cilícia. 24 Ficamos sabendo que alguns dos nossos
provocaram perturbações com palavras que transtornaram o espírito de vocês.
Eles não foram enviados por nós. 25
Então decidimos, de comum acordo, escolher alguns representantes e mandá-los
até vocês, junto com nossos queridos irmãos Barnabé e Paulo, 26 homens que
arriscaram a vida pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo. 27 Por isso, estamos
enviando Judas e Silas, que pessoalmente transmitirão a vocês a mesma
mensagem. 28 Porque decidimos, o
Espírito Santo e nós, não impor sobre vocês nenhum fardo, além destas coisas
indispensáveis: 29 abster-se de carnes
sacrificadas aos ídolos, do sangue, das carnes sufocadas e das uniões
ilegítimas. Vocês farão bem se evitarem essas coisas. Saudações!” (At 15,23-29)
As três exigências finais, impostas aos que aderiram à fé e se deixaram batizar no nome de Jesus, tinham como objetivo facilitar a convivência entre pagão batizados e judeus batizados na mesma comunidade
Depois
do Concílio de Jerusalém, Paulo convidou Barnabé para visitar as comunidades
por eles fundadas durante a primeira viagem missionária. Barnabé aceitou o
convite e disse que ia levar consigo João Marcos (At 15,36-37). Paulo não
concordou com Barnabé neste ponto. João Marcos era sobrinho de Barnabé (Cl
4,10). Ele tinha participado da primeira viagem missionária (At 13,5), mas no
meio do caminho ele os abandonou e voltou para casa em Jerusalém (At 13,13).
Paulo achava que quem abandonou o trabalho missionário na primeira missão (cf.
At 13,13) não devia ir com eles na segunda missão. O desentendimento entre os
dois foi tanto, que eles se separaram: Barnabé foi com João Marcos para
confirmar as comunidades na ilha de Chipre, e Paulo foi com Silas para visitar
as comunidades da Síria e da Cilícia (At 15,36-41).
Conclusão
Com exceção para as "palavras de Cristo que não passam, mas são de vida eterna" (confr. Mateus 24,35), todo Concílio, e algumas decisões da igreja são filhas de seu tempo, bem como do contexto, e trazem as suas marcas, algumas permanecem, outras caducam (como a proibição das mulheres falarem nas assembleias, conforme 1 Coríntios 14,34-36). Apesar de ser tecnicamente mais correto considerar esta reunião como um sínodo ou um concílio regional, esta primeira reunião magna cristã foi muito importante para o início do cristianismo, porque teve como principal decisão libertar a Igreja nascente do peso da Lei mosaica (Efésios 2,8-22), acabando assim com o problema relativo à da circuncisão para os não-hebreus, confirmando para sempre o ingresso e a aceitação dos gentios (não-hebreus) na fé cristã. Por isso, a sua importância não é inferior (nem superior) à de qualquer dos outros concílios ecuménicos que lhe vieram a suceder a partir do século III. A Enciclopédia Judaica considera a decisão de Tiago e Paulo por não obrigar a circuncisão de não judeus, assim como as leis referentes ao sangue, carne sufocada e prostituição, "originada do conceito de Leis de Noé, leis que o judaísmo considerava que deveriam ser seguidas pelos gentios". Portanto o concílio não estava chegando a novas conclusões em relação a como tratar os gentios, mas já seguindo uma tradição judaica que já vinha se estabelecendo.
*Francisco José
Barros Araújo – Bacharel em Teologia pela Faculdade Católica do RN, conforme
diploma Nº 31.636 do Processo Nº 003/17
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