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Vida,obra, e pensamentos de Dom Helder Câmara: o profeta da "não violência ativa!"

Written By Beraká - o blog da família on sábado, 19 de março de 2011 | 19:40








Um profeta que sem violência e condenando toda violência ativa, foi extremamente violento, "pois  só os violentos de coração conquistam o Reino" (Mateus 11,12)”












1)-As pessoas te pesam? Não as carregue nos ombros, leva-as no coração. 



2)-Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para permanecer sempre o mesmo. 



3)-Um dos meus anseios de chegar ao infinito é a esperança de que, ao menos lá, as paralelas se encontrem. 



4)-Esperança é crer na aventura do amor, acreditar  nos homens, pular no escuro, confiando em Deus.




5)-O segredo de ser jovem mesmo quando os anos passam, deixando marcas no corpo, é ter uma causa a que dedicar a vida.




6)- "Condeno toda e qualquer violência ativa , pois o Cristão a exemplo de Cristo, não mata, mas dar a vida".




7)- A opção preferencial da Igreja pelo pobre não deve ser exclusiva ao pobre, nem excluindo os ricos do reino de Deus, pois tem rico que é tão pobre, que a única coisa que tem é dinheiro...




8)-Os homens gastam-se tanto em palavras que não conseguem entender o silêncio de Deus.




9)-Que importa que ao chegar eu nem pareça pássaro. Que importa que ao chegar eu venha me arrebentando, caindo aos pedaços, sem aprumo e sem beleza. Fundamental é cumprir a missão! E cumpri-Ia até o fim!





10)-Não há penitência melhor do que aquela que Deus coloca em nosso caminho todos os dias. 




11)- A vida é um dom de Deus e feliz de quem atravessa a vida inteira tendo mil razões para viver. 





12)-Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto porque eles são pobres, chamam-me de comunista. Pobre não precisa só de caridade, mas também de Justiça.




13)-Quando sonhamos sozinhos é só um sonho; mas quando sonhamos juntos é o início de uma nova realidade.




14)-Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio... 




15)-Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo... 




16)-O amor é o perfume das almas! 





17)-Só as grandes humilhações nos levam ao recesso último de nós mesmos, lá onde as fontes interiores nos banham de luz, de alegria e de paz.




18)- Pessoas Cana-de-açúcar, são aquelas que mesmo, sendo torturadas, esmagadas e espremidas pelas circunstâncias da vida, só sabem dar o melhor de si: Doçura...
 
 
 
 








19) -  " Não podemos ser bons, pois bom só Deus, mas podemos ser justos e agir com justiça..."




20)- Devemos tomar cuidado com uma eclesiologia vinda de baixo, baseada tão somente no Senso Comum dos fieis, pois devemos lembrar que a multidão dos fieis que seguiam Cristo e o aclamaram: "Hozana ao filho de Davi!" - pouco tempo depois, esta mesma multidão, estava a pedir: "Crucifica-o!"





BIOGRAFIA DE DOM HELDER CÂMARA:











Dom Hélder Pessoa Câmara OFS (Fortaleza, 7 de fevereiro de 1909 — Recife, 27 de agosto de 1999) foi um bispo católico, arcebispo emérito de Olinda e Recife. Foi um dos fundadores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e grande defensor dos direitos humanos durante o regime militar brasileiro. Pregava uma Igreja simples, voltada para os pobres e a não-violência. Por sua atuação, recebeu diversos prêmios nacionais e internacionais. Foi o único brasileiro indicado quatro vezes para o Prêmio Nobel da Paz, entretanto, foi acusado por seus opositores de ser conivente com o marxismo. Décimo-primeiro filho de João Eduardo Torres Câmara Filho jornalista, crítico teatral e funcionário de uma firma comercial e da professora primária Adelaide Pessoa Câmara, desde cedo manifestou sua vocação para o sacerdócio.





Formação e Presbiterado














Ingressou no Seminário Diocesano de Fortaleza em 1923, o Seminário da Prainha, então sob direção dos padres lazaristas. Nesta instituição cursou o ginásio e concluiu os estudos de filosofia e teologia. Foi ordenado padre no dia 15 de agosto de 1931, em Fortaleza, aos 22 anos de idade, com autorização especial da Santa Sé, por não possuir a idade mínima exigida.No mesmo ano, fundou a Legião Cearense do Trabalho e em 1933, a Sindicalização Operária Feminina Católica, que congregava as lavadeiras, passadeiras e empregadas domésticas. Atuou na área da educação, participando de políticas governamentais do estado do Ceará na área da educação pública. Foi nomeado diretor do Departamento de Educação do Ceará. Para aprofundar seus estudos nesta área, foi transferido em 1936 para a cidade do Rio de Janeiro, então capital da república. Aí dedicou-se a atividades apostólicas. Foi Diretor Técnico do Ensino da Religião.Neste período, sente-se atraído pela Ação Integralista Brasileira, que propunha o resgate dos valores de "Deus, Pátria e Família". Entretanto, afastou-se de qualquer compromisso político-partidário ao perceber as implicações ideológicas desta opção. No Rio de Janeiro, teve como diretor espiritual o Pe. Leonel Franca, criador da primeira universidade católica do Brasil - a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. No período pós-guerra, fundou a Comissão Católica Nacional de Imigração, para apoio à imigração de refugiados.






Episcopado














Foi ordenado bispo, aos 43 anos de idade, no dia 20 de abril de1952, pelas mãos de dom Jaime de Barros Câmara, dom Rosalvo Costa Rego, dom Jorge Marcos de Oliveira.Foi um grande promotor do colegiado dos bispos e da renovação da Igreja Católica, fortalecendo a dimensão do compromisso social. Em 1950, D. Hélder entrou em contato com o Monsenhor Giovanni Batista Montini, então subsecretário de estado do Vaticano e futuro papa Paulo VI, que o apoiou e conseguiu a aprovação, em 1952, para a criação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, com sede no palácio arquiepiscopal do Rio de Janeiro. Nesta instituição, exerceu a função de secretário geral até 1964. O mesmo monsenhor Montini apoiou a criação do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM), fundada em 1955, com sede em Bogotá. A fundação ocorreu na Primeira Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano realizada no Rio de Janeiro, tendo D. Hélder como articulador. Ele viria a participar das conferências gerais do CELAM como delegado do episcopado brasileiro, até 1992: além da conferência do Rio de Janeiro, esteve presente na Segunda Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano (Medellín, 1968), na Terceira Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano (Puebla, 1979) e na Quarta Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano (Santo Domingo, 1992). Sua capacidade de articulação torna realidade o XXXVI Congresso Eucarístico Internacional, em 1955, no Rio de Janeiro, que contou com a presença de cardeais e bispos do mundo inteiro.Em 1956, fundou a Cruzada São Sebastião, com a finalidade de dar moradia decente aos favelados.Desta primeira iniciativa, outros conjuntos habitacionais surgiram.Em 1959, fundou o Banco da Providência, cuja atuação se desenvolve no atendimento a pessoas que vivem em condições miseráveis.Teve participação ativa no Concílio Ecumênico Vaticano II: foi eleito padre conciliar nas quatro sessões do concílio. Foi um dos propositores e signatários do "Pacto das Catacumbas", um documento assinado por cerca de 40 padres conciliares no dia 16 de novembro de 1965, nas catacumbas de Domitila, em Roma, durante o Concílio Vaticano II, depois de celebrarem juntos a Eucaristia. Este pacto teve forte influência na Teologia da Libertação. Diante da conturbada situação sociopolítica nacional, a divergência de posições com Cardeal Dom Jaime Câmara torna difícil sua permanência no Rio de Janeiro.







Arcebispo de Olinda e Recife





No dia 12 de março de 1964 foi designado para ser arcebispo de Olinda e Recife, Pernambuco, múnus que exerceu até 2 de abril de 1985. Instituiu um governo colegiado nesta diocese, organizada em setores pastorais. Criou o Movimento Encontro de Irmãos, o Banco da Providência e a Comissão de Justiça e Paz daquela diocese. Forteleceu as comunidades eclesiais de base. Estabeleceu uma clara resistência ao regime militar. Tornou-se líder contra o autoritarismo e pelos direitos humanos. Não hesitou em utilizar todos os meios de comunicação para denunciar a injustiça. Pregava no Brasil e no exterior uma fé cristã comprometida com os anseios dos empobrecidos.


















Foi perseguido pelos militares por sua atuação social e política, sendo acusado de Comunista. Foi chamado de "Arcebispo Vermelho". Foi-lhe negado o acesso aos meios de comunicação social após a decretação do AI-5, sendo proibido inclusive qualquer referência a ele. Desconhecido da opinião pública nacional, fez frequentes viagens ao exterior, onde divulgou amplamente suas ideias e denúncias de violações de direitos humanos no Brasil.





Foi adepto e promotor do "movimento de não-violência ativa!"



"Dom Helder Câmara, profeta, peregrino da justiça e da paz" - Esse é o título do livro do nosso amigo, Padre Edvaldo Araújo, resultado da tese de doutorado, lançado pela Saraiva Megastore de Campinas. O livro tem como objetivo resgatar a memória sobre Dom Helder, percorrendo sua vida, suas obras, seus pensamentos, seus ideais e suas lutas. Dom Helder Câmara é considerado um dos grandes protagonistas da Igreja católica no século XX, e como poucos marcou o cenário brasileiro e mundial. Seu protagonismo foi construído por meio da luta pela justiça social e pala paz, inspirada nos princípios do cristianismo. Por meio da não violência ativa mostrou a necessidade de promover revoluções com propostas concretas para transformar as estruturas e possibilitar uma vida humana e mais digna para todos, construindo uma nova sociedade, mais justa e fraterna. Dom Helder, lutando pela justiça e pela paz, destacou-se na defesa dos direitos humanos, sendo considerado o “apóstolo da não violência” e “advogado do terceiro mundo”. Para Edvaldo Araújo, autor do livro e professor da PUC-Campinas, nas faculdades de filosofia e de Teologia, escrever sobre dom Helder Câmara significa,  recordar um dos grandes personagens da história da humanidade, que lutaram através da não-violência ativa (ou como Helder definia: violência dos pacíficos) por um mundo mais humano e justo. Segundo ele, é recordar de que somos capazes de sonhar por um mundo melhor. Por fim ficamos com este pensamento de Dom Helder: “Só homens que realizam em si a unidade interior, só homens de visão planetária e de coração universal serão instrumentos válidos para o milagre de ser violentos como os Profetas, verdadeiros como o Cristo, revolucionários como o Evangelho, sem ferir o amor”.









Em 1984, ao completar 75 anos, apresentou sua renúncia. Em 15 de julho de 1985, passou o comando da Arquidiocese a Dom José Cardoso Sobrinho. Continuou a viver em Recife, nos fundos da Igreja das Fronteiras, onde vivia desde 1968. Morreu aos 90 anos em Recife no dia 27 de Agosto de 1999.Em fevereiro de 2008 foi encaminhado à Congregação para a Causa dos Santos, no Vaticano, o pedido de beatificação de D. Hélder pela Comissão Nacional de Presbíteros (CNP), vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O Regional Nordeste 2 da CNBB, a arquidiocese de Olinda e Recife, o Instituto Dom Hélder Câmara (IDHeC) e a Universidade Católica de Pernambuco estão promovendo a comemoração do centenário de Dom Hélder, que foi celebrado em 7 de fevereiro de 2009. O objetivo é manter viva a sua memória e a sua luta pela solidariedade e justiça social.







Títulos





1)-Seu primeiro título veio em 1969, de doutor honoris causa pela Universidade de Saint Louis, Estados Unidos. Este mesmo título foi-lhe conferido por diversas universidades brasileiras e estrangeiras: Bélgica, Suíça, Alemanha, Países Baixos, Itália, Canadá e Estados Unidos, alcançando um total de 32 títulos.



2)-Foi intitulado Cidadão Honorário de 28 cidades brasileiras e da cidade de São Nicolau na Suíça e Rocamadour, na França.



3)-Recebeu o Prêmio Martin Luther King, nos Estados Unidos e o Prêmio Popular da Paz, na Noruega e diversos outros prêmios internacionais.



4)Foi indicado quatro vezes para o Prêmio Nobel da Paz. Em 1970, o então presidente da República Emílio Garrastazu Médici, instruiu pessoalmente o embaixador brasileiro na Noruega para tentar impedir que este prêmio lhe fosse concedido.



5)-Foi escolhido o brasileiro do século na categoria religião pela revista IstoÉ.







Obras de sua autoria:






1)-"Indagações sobre uma vida melhor" (Ed. Civilização Brasileira)


2)-"Um Olhar sobre a Cidade". 2a edição. São Paulo: Editora Paulus, 1997. ISBN 853490541X.


3)-"Revolução Dentro da Paz", Editora Sabiá, Rio de Janeiro, 1968. Traduzido para o alemão, holandês, inglês, francês e italiano.


4)-"Terzo Mondo Defraudado", Editora Missionária Italiana, Milão, 1968.


5)-"Spirale de Violence", Ediciones Desclée de Brower, Paris, 1978. Traduzido para o português, espanhol, sueco, alemão, norueguês, holandês, chinês, italiano e inglês.


6)-"Pour Arriver à Temps" (Para chegar na hora certa), Ediciones Desclée de Brower, Paris, 1970. Traduzido para o espanhol, alemão, italiano, holandês, sueco, inglês e grego.


7)-"Le Désert est Fertile" (O deserto é fértil), Ed. Desclée de Brower, Paris, 1971. Traduzido para o português (1975), espanhol, italiano, holandês, inglês e coreano.


8)-"Pier Pour les Riches"(Cais para os ricos), Ed. Pendo-Verlag, Zurique, 1972.


9)-"Les Conversiones D'um Éveque"(As conversões de um bispo), Ed. Seuil, Paris, 1977. Também em italiano, alemão e inglês.


10)-"Mil Razões para Viver", Ed. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1979. Traduzido para o francês e o alemão.


11)-"Renouveau dans l'Esprit et Service l'Homme"(Renovação no Espírito e Serviço ao Homem), Ed. Lumem Vitae, Bruxelas, 1979. Traduzido para o italiano, português e inglês.


12)-"Nossa Senhora no Meu Caminho" - Meditações do Padre José, Edições Paulinas, São Paulo, 1981.






Fonte: Wikpedia








 


Embora D. helder respeitasse os que optavam pela violência ativa (de defesa, e libertação de tiranias), ele considerava que havia equívocos em tal posição: 




 

 

“Quem passa para a radicalização e a violência, se vai, em parte, porque se convenceu de que a violência dos pacíficos é utopia, canção para ninar e não canção válida para homens conscientes, decididos, e livres. Mas, o que parece realismo da parte deles, está longe de ser realismo autêntico...”

 

 


Na mesma ocasião, ano de 1970,em que fez tal afirmativa, D. Helder "elencou alguns equívocos" dos quais destacamos dois:

 

 

 

1. Não Considerar decisivo e incontestável o exemplo de Cuba (que usou da revolução violenta), pois "o povo cubano, se melhorou suas condições internas, apenas mudou de órbita (trocou seis por meia dúzia), pois não realizou sua independência política, nem completou a econômica."

 

 

 

 

2. Reconheceu que na América Latina, não ter sido possível guerrilha rural, com efetiva participação dos oprimidos, pois estes se acham em situação tão sub-humana que, não tendo razões para viver, não as encontrarão para morrer.

 

 


 

 

A seu ver, a luta pacífica contra a violência, requer a conversão de cada um - Onde buscar a fonte para tal conversão? 

 


 

“Os objetivos, na violência dos pacíficos, devem ser claros e corajosos! Os métodos, na violência dos pacíficos, devem ser capazes de promover mudanças de estruturas. Mas, de nada valerão objetivos e métodos, se não forem alimentados por uma mística profunda...” 

 

 

 

Não desconhecemos qual a mística que nutria D. Helder Camara. Porém, se paira alguma sombra de dúvida, vamos, mais uma vez, ouvi-lo. Ele fala, agora, para nós, como o fez em Paris, aos 25 de abril de 1968: 

 

 

 

 

“Respeito aqueles que, em consciência, se sentiram obrigados a optar pela violência ativa, mas não a violência fácil dos guerrilheiros de salão, mas daqueles que provaram sinceridade pelo sacrifício da vida. Parece-me que as memórias de Camilo Torres e de Che Guevara merecem tanto respeito quanto a do Pastor Martin Luther King;Acuso os verdadeiros fautores da violência: todos os que, de direita ou de esquerda, ferem a justiça e impedem a paz! Minha vocação pessoal é a de peregrino da paz, seguindo o exemplo de Paulo VI: pessoalmente, prefiro mil vezes ser morto a matar...” 

 

 

 

Esta posição pessoal se baseia no Evangelho. Toda uma vida de esforço para compreender e viver o Evangelho me leva à convicção profunda de que se o Evangelho pode e deve ser chamado revolucionário, é  no sentido de que ele exige uma conversão de cada um de nós. Não temos o direito de fechar-nos no egoísmo, devemos abrir-nos ao amor de Deus e ao amor dos homens. Mas, basta pensar nas Bem-aventuranças, quintessência da Mensagem Evangélica, para descobrir que a escolha, para os cristãos, parece clara:

 

 

 

“nós, cristãos, estamos do lado da não-violência, que, de nenhum modo, é escolha de fraqueza e passividade. Não-violência é crer mais na força da verdade, da justiça e do amor, do que na força da mentira, da injustiça, e do ódio...”

 

 

 

Quando fez referências ao Pastor Martin Luther King, D. Helder não se baseou apenas no fato de ele ter sido assassinado, mas a toda uma trajetória de militante de uma causa social: a dos negros dos Estados Unidos, a partir da qual sofreu prisões e recebeu o Nobel da Paz. Quando em Roma, para participar da última Sessão do Concílio Ecumênico do Vaticano II, em suas cartas-circulares, Dom Helder fez várias referências à não-violência ativa e aos seus princípios, princípios que ele percebia encarnados na Operação Esperança, então desencadeada na Arquidiocese de Olinda e Recife:

 

 

 

“No século da bomba atômica, os subdesenvolvidos e oprimidos nos lembram a existência da ação não-violenta ou resistência espiritual, arma ao alcance dos mais pobres. Para afastar dela qualquer sentido negativo e passivo, Gandhi a chama de Satyagraha, força da verdade, força do Espírito.Os indianos com Gandhi e Vinoba, os Negros dos Estados Unidos em sua luta contra a segregação a ilustram magistralmente. O Exército dos Pobres torna-se uma força. A atribuição do Prêmio Nobel da Paz a Luthuli (pequeno chefe Zulu) e, depois, ao Pastor King, salienta a importância crescente de uma nova força para a construção de uma paz dinâmica...” 

 

 

 

 

O entusiasmo pela vida e atuação do Pastor M. L. King é evidenciado em inúmeras cartas-circulares de D. Helder. Em várias ocasiões houve tentativas, lamentavelmente sem êxito, de encontro entre os dois. Testemunha dessa busca é uma carta enviada pelo Dom Helder, que citamos na íntegra: “Meu caro Irmão, Pastor Martinho Lutero King - Quando da minha última viagem aos Estados Unidos, estava com uma audiência marcada com você para segunda-feira, quando, no domingo anterior, você foi preso, em Alabama. Permita-me aproveitar a visita que lhe faz a Drª. Hildegarde Goss-Mayr, para transmitir-lhe um apelo que me parece de importância capital para a paz do Mundo. Acompanhamos suas lutas. Lemos “Strength to Love” (FORÇA PARA AMAR) e “Why we can’t wait” (POR QUE NÃO SE PODE ESPERAR?). Você nos enche de alegria. A integração racial nos fala como um problema humano, diante do qual ninguém pode permanecer indiferente e estranho. Mas, continuando a ser o Campeão da revolução não-violenta contra a segregação, é preciso, dada a sua fama (cuja importância, para um pastor como você, se mede pelos resultados que puder trazer em favor dos homens), que você se transforme em Campeão do Desenvolvimento.Nós amamos a paz. Mas não haverá paz sem justiça. E não haverá justiça sem que se chegue à revisão da política internacional do comércio e do desenvolvimento. 

 

 

 

Tudo o mais – ajudas, talvez, generosas; tentativas de identificar “desenvolvimento” com “controle de natalidade” – não nos leva ao âmago do problema. Seus compatriotas se batem contra o comunismo, porque ele esmaga a pessoa humana e os direitos do homem...

 

 

 


 

 

Dom Helder Câmara: "vencer ou convencer?



É mais difícil, mas é mais humano e mais belo do que vencer, é convencer! Vencer está ao alcance dos animais, convencer, não! O cupim, por exemplo, consegue vencer a viga poderosa que sustenta o telhado. Parece-me incrível como um bichinho tão pequeno consegue devorar por dentro madeiras tão grossas. Numa briga de galos, apreciadíssima nas periferias de nossas cidades, o vitorioso deixa o colega e irmão galo vencido de crista rasgada, o pescoço ensanguentado, não raro estrebuchando pelo chão da rinha, e morrendo, pois foi vencido. O gato vence rato. As piranhas sangram e matam animais até de grande porte, como o boi, e são ainda capazes de liquidar tranquilamente uma desavisada criatura humana.Claro que homem e a mulher também sabem e conseguem vencer. Vence-se em partidas de xadrez, no jogo damas. Vence-se o outro em um jogo de futebol, uma luta esportiva, podendo até mata-lo e esfola-lo. Quando se diz que uma nação perdeu a guerra e outra venceu, isto quer dizer, nas entrelinhas, que a nação vencedora tinha razão e venceu porque teve a ajuda de Deus para vencer? De maneira nenhuma! E hoje, não raro, é possível vencer uma guerra, e arrasados podem sair não só quem foi vencido, mas o próprio vencedor da guerra. Se os Pais em casa, sem ouvir possíveis e justas razões dos filhos, cortam sem mais  qualquer discussão, e resolvem e decidem sem oportuno diálogo, por vezes esmagando a garotada, parecem vencedores? o certo, porém, é que venceram, mas nem sempre convenceram. Em uma discussão, quando há quem tenha um vozeirão mais forte, talvez maior poder dialético, não raro amigos que aplaudem, pode até haver vencedores, sem que os vencidos saiam convencidos.Tenhamos portanto, como desafio permanente convencer, e não apenas vencer! É evidente que em lugar de convencer, eu possa ser convencido. E não me parece vergonha nenhuma mudar de ideia, de posição, de ponto de vista, de conduta, se me convencerem de que eu estou enganado, e que havia caminho melhor seguir.(Já fiz isto várias vezes em minha vida passando até pelo integralismo).E feliz é aquele que é capaz de mudar para permanecer sempre o mesmo, ou seja fiel a seus princípios.Para vencer numa discussão, vale o grito, vale a ameaça, a mentira, a calúnia, vale até o suborno. Porém, para convencer, o ideal é que não se trate de sofismas. O ideal é que nem o oponente, nem ninguém queira me convencer, me enganando, me enrolando subjugando a nossa inteligência. Para convencer, o ideal é que a pessoa esteja ela própria esteja convencida, tenha calma, saiba apresentar os argumentos, saiba ouvir, reconhecendo toda a parte de razão que haja no adversário. Lembram-se de terem vencido alguém? E lembram-se quando o convenceram? Diz o ditado de que toda vez que vencemos alguém ganhamos um inimigo, mas quando convencemos ganhamos um amigo. Quem convence não deve cantar vitória. No rigor do termo, quem vence é a Verdade, é a Justiça. Quando muito, eu devo me alegrar por ter ajudado meu irmão a ver mais claro, a ver o que eu estava vendo e ele não.Um singelo conselho para quem por ventura entre num embate: experimente a alegria de trocar sempre mais o Vencer pelo Convencer. O importante é que Você e eu estejamos, sempre mais, a serviço da Verdade, da Justiça e do Amor. Vamos, Você e eu, aceitar sermos convencidos. E quando alguém nos convencer, fiquemos humildes, não apenas por fora, na aparência. A humildade que só existe por fora é farisaica e triste. Quando, por minha vez, me couber o "convencer", é bom que eu tenha humildade por fora e por dentro. E que eu me alegre por ter servido e ter sido convencido pela Verdade, que é o mesmo que servir e ser convencido pelo próprio Deus...”







Fonte: “Um olhar sobre a Cidade” – Dom Helder Câmara – Editora Civilização Brasileira – 2ª edição, pag.133- Ano 1977






CONCLUSÃO:

 

 

 

 

Até Monge da Marcelo de Barros em seu blog: marcelobarros.com/blog (do qual discordo em muitas de suas ideias pessoais), define Dom Helder Câmara como o profeta da não violência, como aquele que prefere violentar-se a si mesmo, que ao próximo: 





“...Jesus revela isso no sermão da montanha e aí nos dá seis exemplos do que isso significa. No evangelho que acabamos de ouvir, escutamos o sexto exemplo. É esse da lei do amor. Em cada um desses exemplos, ele diz: "Vocês ouviram o que foi dito aos antigos...” Agora eu lhes peço mais. Radicalizo o mandamento e mostro como a justiça de vocês deve ir além da lei jurídica, religiosa e civil. E a sua recomendação é sobre o amor: o amor como base para se reconstruir a sociedade: o amor que vai até o ponto de amar aos inimigos. Primeiramente, Jesus cita a lei mosaica, mas de forma polêmica. Na Bíblia, a lei não diz: ame o próximo e odeie o inimigo. Mas a interpretação que os escribas e fariseus faziam da lei acabava compreendendo o próximo como a pessoa da mesma família, da mesma raça, do mesmo partido, da mesma religião. Então, à medida que essa interpretação religiosa da lei restringe o amor só a quem está dentro da minha cultura, de acordo com Jesus, a lei diz que se ama o amigo e se odeia o inimigo. Jesus exige que se vá além dessa estrutura da lei, mesmo religiosa. Ele alarga os horizontes. Na parábola do samaritano, ele diz: o problema não é quem é o meu próximo. O problema é de quem eu sou próximo. E responde: eu sou próximo de quem aparece no meu caminho ou das pessoas em cujo caminho eu me coloco. Eu devo ser próximo do samaritano que o israelita detestava por ser alienado políticamente, misturado com os romanos, sem educação e sem linha igual à nossa. Se é uma pessoa ferida na estrada, é meu próximo e eu sou responsável por ele. Esse foi o testemunho de Dom Helder e essa é a herança que recebemos dele. Durante todo o tempo do seu ministério de bispo, Dom Helder lutou pelos direitos humanos. No entanto, ele sabia que a lei pode proibir de matar, pode proibir de discriminar, pode proibir de explorar, mas não pode obrigar ninguém a amar. A lei que diz "ame o próximo" não é uma lei jurídica. É uma orientação de pai, de mãe, de educador. É uma orientação de vida...Certamente, se Dom Helder pudesse nos propor alguma coisa nesse momento, ele nos pediria o AMOR como resposta à crise. Quem vinha aqui no Recife logo nos primeiros anos em que Dom Helder deixou a sua função de arcebispo, via escrito pelos muros da cidade: Dom Helder, o Dom do Amor. Hoje, Dom Helder nos diria que o amor não é uma coisa só romântica. Não é apenas expressão de bons sentimentos. O amor ou melhor a Amorosidade é algo que toca na estrutura do ser e da vida. Não podemos e não devemos restringir o amor à vida privada e às relações interpessoais. O Amor ou como o papa Francisco tem proposto em cada uma de suas falas, a Misericórdia pode ser resposta à estrutura da vida pública, pode ser resposta aos problemas da vida coletiva...A proposta do evangelho é o Amor, mesmo o Amor aos inimigos. É claro que o Amor aos inimigos não se expressa do mesmo modo do amor aos amigos. Em primeiro lugar, parte do princípio que eles são inimigos e não se podem confundir inimigos com amigos. Em segundo lugar o melhor modo de exercer o amor aos inimigos é impedir que eles façam o mal, que eles explorem os outros, é combater de forma não violenta o mal que eles praticam ou querem praticar. O melhor modo de amar o inimigo é deixar bem claro qual é nossa linha, o que pensamos e o que queremos. É denunciar, é criticar e ser claro. Uma diocese, uma paróquia, grupo de Igreja, um de nós que não tem linha ou posição definida com receio de ser partidário, no fundo, seria como alguém que pensa: para não cair no risco de me fechar ao exclusivismo, eu não vou amar ninguém. É o contrário: construir o mundo a partir de uma proposta de amorosidade...”

 

 




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Anônimo
27 de agosto de 2024 às 21:49

Escrever sobre dom Helder Câmara significa, recordar um dos grandes personagens da história da humanidade, que lutaram através da não-violência ativa (ou como Helder definia: violência dos pacíficos) por um mundo mais humano e justo. Segundo ele, é recordar de que somos capazes de sonhar por um mundo melhor. Por fim ficamos com este pensamento de Dom Helder: “Só homens que realizam em si a unidade interior, só homens de visão planetária e de coração universal serão instrumentos válidos para o milagre de ser violentos como os Profetas, verdadeiros como o Cristo, revolucionários como o Evangelho, sem ferir o amor."

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CIDADÃO DO MUNDO, NORDESTINO COM ORGULHO, Brazil
Neste Apostolado APOLOGÉTICO (de defesa da fé, conforme 1 Ped.3,15) promovemos a “EVANGELIZAÇÃO ANÔNIMA", pois neste serviço somos apenas o Jumentinho que leva Jesus e sua verdade aos Povos. Portanto toda honra e Glória é para Ele.Cristo disse-nos:Eu sou o caminho, a verdade e a vida e “ NINGUEM” vem ao Pai senão por mim" (João14, 6).Defendemos as verdade da fé contra os erros que, de fato, são sempre contra Deus.Cristo não tinha opiniões, tinha a verdade, a qual confiou a sua Igreja, ( Coluna e sustentáculo da verdade – Conf. I Tim 3,15) que deve zelar por ela até que Ele volte(1Tim 6,14).Deus é amor, e quem ama corrige, e a verdade é um exercício da caridade. Este Deus adocicado, meloso, ingênuo, e sentimentalóide, é invenção dos homens tementes da verdade, não é o Deus revelado por seu filho: Jesus Cristo.Por fim: “Não se opor ao erro é aprová-lo, não defender a verdade é nega-la” - ( Sto. Tomás de Aquino).Este apostolado tem interesse especial em Teologia, Política e Economia. A Economia e a Política são filhas da Filosofia que por sua vez é filha da Teologia que é a mãe de todas as ciências. “Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao vosso nome dai glória...” (Salmo 115,1)

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