Padre Cícero (1844-1934) foi um líder católico brasileiro. Foi ordenado padre em Fortaleza no ano de 1870. Realizou um trabalho pastoral, com pregações e visitas domiciliares. Conquistou a simpatia dos católicos. Cícero Romão Batista, conhecido como Padre Cícero, nasceu no dia 24 de março de 1844, na cidade do Crato, Ceará. Filho de Joaquim Romão Batista, comerciante, e Joaquina Vicência Romana. Foi estudar na Paraíba, mas em 1865, com a morte de seu pai, voltou para o Crato.
Ingressou no Seminário da Prainha, em Fortaleza, onde foi ordenado Padre, em 1870, contra o voto do reitor do seminário, que “lhe censurava pelas revelações de suas visões.” Dois anos depois, Padre Cícero foi designado vigário para o distrito de Juazeiro do Norte no Ceará, onde começou um trabalho pastoral com pregações e visitas domiciliares. Restaurou a capela de Juazeiro, comprou imagens e ganhou a simpatia dos moradores, passando a exercer grande liderança na comunidade, que na época tinha apenas 300 habitantes. Um "milagre" ocorrido em 1889 transformou a vida do religioso e da cidade. Ao participar de uma comunhão geral, na capela de Nossa Senhora das Dores, a hóstia sangrou na boca de uma fiel.Logo a notícia do milagre se espalhou e o fato teria se repetido em público várias vezes. A cidade de Juazeiro passou a receber peregrinos de vários lugares. Em 1894, Padre Cícero foi punido com a suspensão da ordem. Dois médicos foram chamados para testemunhar o “milagre” e confirmaram o fato que só fortaleceu a crença do povo.Padre Cícero foi chamado ao Palácio Episcopal. O bispo mandou investigar e a igreja não aceitou o milagre decidindo punir o padre. Em 1894 foi suspenso da ordem, acusado de manipulação da crença popular pelo Vaticano. Inconformado e sem poder celebrar missa, Padre Cícero foi ao Vaticano, em 1898, pedir revogação da pena, ao papa Leão XIII. Saiu de lá com a vitória, mas o bispo não aceitou e pediu revisão do resultado.Sem poder seguir na carreira religiosa, a viagem a Roma só contribuiu para aumentar o prestígio do Padre Cícero. Graças ao fluxo de romeiros, Juazeiro tornou-se importante centro artesanal.Em 1911 o distrito foi elevado a município e o Padre Cícero foi nomeado prefeito, realizando várias benfeitorias.Levou para a cidade a Ordem dos Salesianos, doou o terreno para construção do aeroporto, abriu várias escolas, entre elas a Escola Normal Rural, construiu várias capelas, estimulou a agricultura e ajudou a população pobre, nos períodos de secas na região.
Padre Cícero participou da "Revolta do Juazeiro, em 1914", junto com grandes coronéis!
A revolta foi motivada pela vitória do coronel Marcos Franco Rabelo para governador do Estado com a derrubada de Antônio Pinto Nogueira Accioli. Quando o novo governador exonerou o padre Cícero das funções de prefeito, o médico Floro Bartolomeu da Costa foi ao Rio de Janeiro para obter de Pinheiro Machado, um influente político, o apoio do governo federal para depor Rabelo.
Floro Bartolomeu da Costa (Salvador, 17 de agosto de 1876 — Rio de Janeiro, 8 de março de 1926) foi um médico e político brasileiro, filho de Virgílio Bartolomeu da Costa e Carolina Costa. Em virtude das circunstâncias de perseguição em Juazeiro-Ce, se tornou um “Caudilho” (caudilho: chefe militar de forças irregulares que lhe são fiéis; chefe político que possui uma força militar própria).Formado pela Faculdade de Medicina da Bahia em 1904, chegou ao Ceará em 1908, atraído pela mina de cobre de Coaxá, no município de Aurora, mas acabou fixando moradia em Juazeiro do Norte onde adquiriu uma farmácia e passou a atender a população, como médico e também como "rábula" (pessoa que advoga sem ser formada em Direito).Tornando-se amigo do padre Cícero Romão Batista, convenceu-o a ingressar na política, visto que o Vaticano suspendera suas ordens religiosas.Em 1912, Marcos Franco Rabelo foi nomeado interventor do Ceará pelo presidente Hermes da Fonseca. Logo que assumiu o governo estadual, Rabelo tratou de minar o poder de Padre Cícero, destituindo-o da prefeitura de Juazeiro do Norte e ordenando sua prisão. Floro Bartolomeu, então, convocou os romeiros a se juntar a seus jagunços com o intuito de defender Padre Cícero. Enquanto isso, Floro foi para o Rio de Janeiro onde conseguiu o apoio do senador Pinheiro Machado. A tropa juazeirense evitou a entrada das forças policiais de Franco Rabelo em Juazeiro e, em seguida, partiram para Fortaleza, para derrubar o governador. Com o apoio de Pinheiro Machado, Franco Rabelo foi deposto e Floro eleito deputado estadual, ocasião em que exerceu a presidência da Assembleia Legislativa. A revolta ficou conhecida como sedição de Juazeiro.Em 1921, surgiu um boato de que os habitantes do Sítio Baixa Dantas estavam venerando um boi de Padre Cícero como a um deus. Para contornar a situação, Floro Bartolomeu ordenou que o boi fosse morto e o beato José Lourenço, líder do sítio, fosse preso. Em 1925, o presidente da República Arthur Bernardes encarregou Floro Bartolomeu, na época deputado federal, de defender o Ceará dos ataques da coluna Prestes. Então, Floro montou o Batalhão Patriótico. Algum tempo depois da formação do batalhão, se espalhou a notícia de que a coluna Prestes tinha entrado em confronto com Lampião, em Pernambuco. Ao tomar conhecimento disso, Floro, usando o nome de Padre Cícero, sem que o sacerdote soubesse, convidou o cangaceiro a se incorporar ao Batalhão Patriótico para combater Prestes. Lampião, que era devoto de Padre Cícero, aceitou o convite e partiu para Juazeiro, mas não encontrou Floro, que havia viajado para o Rio de Janeiro por motivos de saúde. Padre Cícero ficou perplexo quando soube que Lampião estava em Juazeiro para servi-lo. Ao encontrar Lampião e seu bando, Padre Cícero os aconselhou a abandonar o cangaço e lhes deu rosários de presente, com a condição de que só usassem depois de abandonar o cangaço.Os cangaceiros deixaram Juazeiro, mas antes Lampião recebeu a patente de capitão do Batalhão Patriótico das mãos de Pedro de Albuquerque Uchoa, funcionário público e integrante do batalhão. Os bandos de Lampião e o de Prestes nunca se encontraram.Em 1926, Floro Bartolomeu faleceu, solteiro e pobre, na capital federal, vítima de angina. Era, na ocasião, general honorário do Exército e deputado federal. Foi enterrado com as honras de seu posto militar. De volta ao Ceará, Floro comandou um ataque ao quartel da força pública de Juazeiro, em 9 de dezembro de 1913.
Era o início da “guerra dos jagunços”, com o apoio do Padre Cícero.O exército de jagunços, recrutados entre cangaceiros e romeiros, ergueu trincheiras em volta da cidade e repeliu os ataques da força oficial.Amparados pela crença de que “homem abençoado pelo “Padim Ciço” não morria de bala”, os rebeldes marcharam contra Fortaleza, saqueando as cidades no caminho.Em março de 1914 o governo federal decretou a intervenção no estado e destituiu o governador Rabelo. Era o fim da guerra civil. Nessa época, Juazeiro do Norte se tornara a segunda cidade do “Sertão do Cariri”, depois de Crato.Uma grande parte dos habitantes foi encaminhada para as fazendas da região, muitas delas de propriedade do Padre Cícero, que se tornou o maior agricultor do Cariri e importante coronel da oligarquia local. Conta-se que Lampião o teria visitado algumas vezes.Padre Cícero se elegeu sucessivamente vice-governador e deputado estadual. Só não aceitou o cargo de governador porque não quis afastar-se de Juazeiro.Quando a vida pública de Padre Cícero chegou ao fim, seu prestígio de santo deu grande impulso, principalmente depois da revolução de 1930. Era considerado santo e profeta infalível.Com sua morte, a devoção ao Padre Cícero aumentou.
Todos os
anos, no dia de finados, uma multidão de romeiros, vinda de várias partes do
Nordeste, chega a Juazeiro para visitar o túmulo do santo, na Igreja de Nossa
Senhora do Perpétuo Socorro.Padre Cícero é considerado
um "Santo Popular" para muitos fieis católicos nordestinos. É chamado
de "Santo Padrinho Padre Cícero do Juazeiro".Padre Cícero
Romão Batista faleceu no dia 20 de julho de 1934, em Juazeiro do Norte, Ceará.
Sábios Conselhos do
nosso padrinho Padre Cícero Romão Batista de Juazeiro
• Sempre é mais seguro obedecer a Deus do que aos homens.
• Ânimo, deixe tudo o que Deus não quer.
• Dê o primeiro passo, e o resto o nosso bom Deus dará.
• Só Deus nos basta.
• Rezem em espírito de fé e de verdade, como Deus manda, e com certeza
Ele nos livra e nos guarda como seus filhos.
• Todo bem, ainda os mínimos, vêm de Deus, e de
todo mal, Deus é quem nos livra, ou por meio da Santíssima Virgem ou de seus
santos, ou por qualquer criatura, ou diretamente por si, porque só ele,
Deus, é o Criador de todo bem e de toda graça.
• Deus é o Sr e dono de todas as coisas e dirige o homem por caminhos que
só Ele sabe.
• As coisas de Deus vão devagar e se peça tudo com perseverança que ele
cumprirá a sua palavra.
• Deus perdoa ainda o pior pecador, mas exige arrependimento sincero.
• Deus nunca deixou trabalho sem recompensa nem lágrimas sem consolação.
• Toda pessoa que tem Deus como seu refúgio se salva.
• Estamos nas mãos de Deus, Ele se compadece de nós.
• Quando Deus quer, água fria é remédio.
• Estou contente de sofrer alguma coisa pelo meu Deus.
• O Pai Eterno não tem corpo, Ele é puro espírito, Ele é como o vento
que existe e vaga entre nós e nós não vemos. Quem foi, meus amiguinhos, que já
viu o vento? Ninguém nunca viu, mas Ele está aí toda hora entre nós, mesmo
assim está Deus entre nós.
• Preparemos-nos para o céu, que lá, sim, seremos felizes.
• O melhor lugar é o que de onde mais facilmente se vai para o
céu.
• Como estou certo de que vamos todos para a eternidade e lá serão
recompensados os que sofrem as injustiças do mundo, eu, já velho como estou me
conforto e não me incomodo mais com as injustiças do mundo. Tudo fica aí e nós
vamos para Deus que vê o que verdadeiramente somos.
• Nunca é tarde para cuidarmos de nossa salvação, e quanto mais próximos
da morte pela idade.
• O sacrifício individual tem sido muitas vezes a salvação.
• A gratidão, com certeza, é uma virtude do Céu.
• Só na velhice, pelas sinceras provas de
lealdade durante toda a vida do homem, é que se pode ter a convicção da
verdadeira amizade.
• A amizade só se conhece é na adversidade.
• Não olho para nada do que eles (os políticos) querem dar: com bananas
e bolos se enganam a todos.
• Aspiro a um cantinho esquecido e desapegado de tudo, cuidando só de
salvar-me.
• Desejaria que Nosso Senhor me condenasse, contanto que remediasse a
salvação de tantas almas.
• Até o dia de hoje, ainda não perdi uma hora de
sono por inquietação de consciência. Minha consciência nunca me acusou
de ter desobedecido.
• O demônio nunca deixou de procurar destruir toda obra de Deus.
• Se os maus tivessem todo poder sobre os bons, o
mundo já desde muito era um composto só de demônios se devorando uns aos
outros.
• As ambições e elementos corrosivos movem os que governam.
• Tomei o propósito, desde o começo desta enorme perseguição contra mim,
de entregar tudo a Deus e a Nossa Senhora das Dores e
não me defender de coisa alguma.
• Propagaram contra mim quanta calúnia e inverdades que nunca sequer
pensei produzirem tantas prevenções contra mim.
• A calúnia, com audácia e autoridade, moveu uma perseguição que deu a
morte de Jesus Cristo, quanto mais a mim.
• Todo aquele que ensina é portador de luz para os que não sabem.
• Nosso Senhor sabe que, com sua graça, nunca desobedeci nem pratiquei
nem ensinei coisa alguma contra o ensino da Santíssima Igreja e nem quero o
mal.
• Somente a ambição se atreve a perturbar o direito alheio.
• Nada é oculto que não se descubra.
• Sem educação religiosa perfeita, não há agremiação que progrida e que
seja útil a si, à família, à sociedade e à Pátria.
• Em busca dos pecadores é que devemos andar, pois estes é que precisam
de misericórdia.
• Sabemos que promessas humanas nada valem quando não são filhas da fé.
• Oremos e celebremos a Mãe das Dores por essa pobre humanidade que nem
sabe o que faz e nem vê para onde marcha.
• Depois de uma infelicidade, as desculpas não remediam coisa
alguma.
• Como sacerdote cristão, tenho o sagrado dever de prestar meu apoio
moral ou ao menos dar um conselho a quem quer que me busque.
• Como sacerdote católico não tenho outra lei senão obedecer àqueles a
quem Deus constituiu meus superiores.
• Se acaso chega a hora das trevas contra mim, eu mesmo não quero fugir
da cruz ou do que tiver decretado a Providência; e se ainda não chegou e Ele
(Deus) me guarda, é por mim, quem será contra mim?
• É certo: os discípulos não podem ser mais bem julgados que o mestre.
• Tenho feito e continuo a fazer uma propaganda, quando me é possível,
para que na nova organização do nosso País predominem os ensinamentos da nossa
Santa Religião, cujos princípios são os únicos capazes de regenerar a nossa
sociedade em processo decadencial.
• Todos ainda podem ser santos, assim queiram e obedeçam ao chamado de
nosso bom Deus, que ainda mais do que nós, nos quer fazer santos com Ele no
céu.
• Que horror é a guerra! Não há dúvida, é o começo do fim. É Deus
obrigado a castigar a Terra com severidade.
• Muito pode a calúnia feita e movida com audácia.
• Ninguém pode ter um bom fim fazendo o mal desde o começo. Nosso Senhor
Jesus Cristo fez o bem e morreu na cruz, quanto mais quem pratica o mal.
• Quem bebe obedece a Satanás; e quem obedece a Satanás não se salva,
vai para o inferno.
• Perdoem, e ainda que as nossas paixões não queiram perdoar, perdoem,
porque Deus Nosso Pai, que é dono de nós, manda; e é preciso para nos salvar
que perdoemos aos que nos ofendem.
• Ninguém pegue no alheio, ainda que seja uma simples agulha.
• Todo ladrão é filho legítimo de Satanás.
• Eu não quero absolutamente luta nem questão com ninguém e muito
principalmente com os meus superiores.
• Esta cidade (Juazeiro) é um centro de romaria e de devoção. Nesta
terra todos trabalham.
• Aqui (Juazeiro) tem sido um refúgio dos náufragos da vida. Tem gente
de toda parte que, modestamente, vem abrigar-se debaixo da proteção da
Santíssima Virgem.
• Nossa cidade é muito perseguida e invejada. O motivo disto é que nós
temos aqui coisas que em nenhuma outra parte do mundo tem. Juazeiro ainda
crescerá tanto e irá ser uma cidade tão famosa que a posteridade a julgará.
• Depois da minha morte é que Juazeiro irá crescer.
• Não tem quem acabe com a romaria em Juazeiro. Foi um chamado da Mãe de
Deus.
• Haverá de chegar o tempo, que de quatro pés só ficam na terra cadeira
e banco ou então algum móvel. Os bichos morrerão tudo no tempo da seca do sol
escuro. Nesse tempo, será muita sala e pouca fala, muitos chapéus e poucas
cabeças, poucos moços e alguns velhos, muita peste e pouco rastro.
• De *70 em diante vai haver sinais e dores do fim do mundo.
*(A Grande Seca, ou a seca no Nordeste brasileiro de 1877–1879, foi o mais devastador fenômeno de seca da história do Brasil, ocorrido no período imperial brasileiro.A calamidade é responsável pela morte de entre 400.000 e 500.000 pessoas. De um total de 800.000 pessoas que viviam na área afetada da região Nordeste, em torno de 120.000 migraram para a Amazônia, enquanto 68.000 migraram para outras partes do Brasil. A região mais afetada foi a província do Ceará. Foram três anos seguidos sem chuvas, sem colheita, sem plantio, com perda de rebanhos e com a fuga das famílias, deixando despovoado o sertão. Tanto esse evento de estiagem quanto anteriores e posteriores estão associados ao fenômeno El Niño e suas interferências diretas ao clima dessa e outras regiões).
• O homem e a mulher só encontram a salvação para a alma por meio de uma
vida honesta.
• O maior pecado que tem no mundo é o pecado dos amancebados, que são os homens casados que têm outras mulheres fora da
esposa, ou as mulheres, outro homem fora o esposo.
• O casamento religioso é um sacramento indispensável. O casamento civil
é a lei e a segurança da família. Não abençôo quem não
casa primeiro no civil. O civil é a lei da Nação, mas é preciso também a união
pela Igreja.
• Mãe de Deus, Mãe Nossa! Porque perseguem tanto à humilde pessoa. Os romeiros não são maus. Todos eles são vossos. Por
isso mesmo, aqui (Juazeiro) virão até a consumação dos séculos.
• Eu tenho aconselhado sempre a todos que aqui (Juazeiro) vêm que rezem o Santíssimo rosário da Mãe de Deus em sufrágio e
salvação das almas do purgatório, para que ela nos tome e nos guarde e nos
livre de tão grandes males, e desses pecadores que tantos crimes e males
praticam.
• Muita gente reza o rosário da Mãe de Deus, porém poucos são os que
sabem do valor e da força do mesmo. Quem o faz com
devoção estará livre de qualquer mal, porque mesmo querendo o inimigo
prejudicar, Nossa Senhora das Dores intervém, evitando qualquer
desgraça.
• A calúnia e a má vontade, que não respeitam a ninguém...
• A gente fecha a porta ao mal é com o rosário da Mãe de Deus.
• Rezem o rosário da Mãe de Deus que é quem nos poderá livrar das
calamidades que a maldade e a perversidade dos homens estão atraindo para a
Terra.
• Sejam fiéis em rezar cada dia o rosário da Mãe de Deus,
mesmo andando pelas estradas, mesmo doentes. Não deixem um só dia de rezar.
• Não há mais dúvida de que a religião boa é a nossa, a Católica,
Apostólica, Romana.
• Precisamos de um nacionalismo inteligente, sadio, sem embargo de
espírito de cordialidade, de fraternidade mesmo que deve existir entre as
nações, unindo os povos, mas respeitando-se a integridade territorial de cada
país, que os seus filhos receberam dos antepassados e devem transmitir intacta
às gerações vindouras.
• Para uma Nação jovem e despovoada como a nossa, as atividades
constantes de cada cidadão representam um valor inestimável ao impulsionamento
do seu progresso.
• Cada cearense deve ser uma trombeta na imprensa e em toda parte,
gritando com toda força, pedindo socorro para o grande naufrágio do Ceará. Pode
ser que esses governos que têm o dever de salvar os Estados nas calamidades
públicas desistam e não queiram passar por assassinos, deixando caprichosamente
morrer milhares de vidas que podiam salvar e não querem.
• Só quem viu 77 entre nós, pode avaliar o que seja o flagelo das secas
nos sertões do Norte.
• Nunca desejei ser político. Não tenho cores políticas: sou amigo de
todos.
• Posso afirmar, sem nenhum peso de consciência, que não fiz Revolução
de 14, nela não tomei parte, nem para ela concorri, nem tive nem tenho a menor
parcela de responsabilidade direta ou indiretamente.
• Nunca desejei ser político, mas em 1911, quando foi elevado o
Juazeiro, então povoado, à categoria de Vila, para atender aos insistentes
pedidos do então Presidente do Estado, o meu saudoso amigo Comendador Antonio
Pinto Nogueira Accioly, e para evitar, ao mesmo tempo, que outro cidadão, na
direção deste povo, por não saber ou não poder manter o equilíbrio de ordem até
esse tempo mantido por mim, comprometesse a boa marcha desta terra, vi-me
forçado a colaborar na política.
• Após a queda do Governo Accioly, por motivo de ordem moral, retraí-me
da política, mantendo, entretanto, relações de cordialidade com o Governo
Franco Rabelo, sendo até eleito terceiro vice-presidente do Estado. E o meu
amor à ordem foi tão manifesto que, a despeito da má vontade do partido
dominante para comigo, não hesitei em atender ao pedido da população desta
terra e autorizar que o meu nome fosse apresentado para voltar ao cargo de
Prefeito desde município naquele governo que me era sobremaneira hostil.
• Dom Bosco sabia o segredo de corrigir sem molestar. O seu saber
assombrou os centros mais cultos do mundo.
• Não tenho ascendentes vivos nem tampouco descendentes, e assim julgo
poder dispor dos meus bens que se acham livres e desimpedidos, de acordo com as
leis do meu País.
• Desde a minha ordenação, mesmo durante o pouco tempo em que fui
vigário de São Pedro do Crato, nunca percebi um real sequer pelos atos
religiosos que tenho praticado como sacerdote católico.
• Neste mundo, durante toda a minha vida, quer como homem quer como
sacerdote, nunca, graças a Deus, cometi um ato de desonestidade, seja sob que
ponto de vista se possa ou se queira encarar.
• É uma grandessíssima calúnia dizer que tenho revoltas contra a Igreja.
Eu nunca tive dúvidas sobre a Fé Católica; nunca disse nem escrevi, nem em
cartas particulares nem em jornais, nem em qualquer escrito nenhuma proposição
falsa, nem herética, nem duvidosa, nem coisa alguma contra o ensino da Igreja.
• Nunca disse nada contra o ensino da Igreja e da Moral Cristã. Não
preguei às escondidas e Nosso Senhor me justificará.
• Sempre perdoei por amor de Deus e da Santíssima Virgem a todos que me
fizeram mal, consciente ou inconscientemente.
• Quem não ouvir e obedecer à Igreja deve ser tido como pagão e
publicano. Fora da Igreja não há salvação.
• Graças à bondade e misericórdia de Nosso Senhor Jesus Cristo minha fé
na doutrina ensinada pela Santa Igreja é viva, inteira e pura, pela qual
ajudado na Graça Divina darei, se preciso for, a própria vida.
• Eu condeno tudo o que a Santa Igreja condena, sigo tudo que ela manda
como a Deus mesmo.
• Não quero de forma alguma sustentar nem defender os fatos ocorridos em
Juazeiro, quando já declarei e torno a declarar que uma vez que a Suprema
congregação do Santo Ofício os condenou e os reprovou, eu os condeno e reprovo,
obedecendo sem restrição nem reserva a sua decisão e decretos, como filho
submisso e obediente da Santa Igreja.
• Graças a Deus, tenho a consciência de não ter cometido crime algum e
tenho sido sempre obediente aos meus superiores, como Deus e todos que me
conhecem são testemunhas.
• O que Deus não quer o diabo não tem poder de contrariar!
• Quem bebeu não beba mais. A cachaça é um poderoso enviado agente de
Satanás. Quem matou não mate mais. Ninguém tem o direito de ofender o seu
semelhante. Só Deus tem o poder de tirar a vida de suas criaturas. Quem roubou
não roube mais. Quem rouba vai para o inferno. Quem mentiu não minta mais. A
mentira é filha do diabo e o mentiroso, seu encarregado.
• Façam de mim o que quiserem. Não quero ter vontade. Faça-se em tudo a
vontade de Deus.
• A bondade do Sagrado Coração de Nosso Senhor é infinitivamente maior
do que a maldade dos que nos perseguem. Ele quer mais a nossa felicidade do que
nós a desejamos.
• Tempos virão, meus amiguinhos, que o Norte vai virar Sul, e o Sul,
Norte. Quando esse tempo chegar, em vez de vocês irem para lá, eles é que virão
para cá.
• A prudência dos velhos e o respeito e temor a Deus é que devem
governar a todos.
• Conselho a Lampião: Eu acho que já é tempo de
você mudar de vida... Você precisa me fazer uma promessa. Eu quero que me
prometa que ao sair daqui (Juazeiro) vai procurar mudar de vida. Com essa vida
que você leva, está condenado ao inferno. Deus castiga com muita
severidade aquele que tira a vida do irmão, aquele que rouba, aquela que
desonra as filhas alheias. É preciso que você se arrependa e faça como Luís
Padre e Sinhô Pereira, que seguindo meus conselhos, deixaram o cangaço e hoje
vivem honestamente em Goiás, servindo a Deus e à sociedade.
• Conselho aos voluntários da Sedição de Juazeiro: Não tomem bebida
alcoólica de qualquer espécie. Não desperdicem cartucho porque a munição é
muito pouca. Chegando às primeiras casas, não queiram logo entrar na cidade:
dêem tempo às famílias e também aos soldados para fugirem; e em nenhuma
hipótese façam fogo sobre os fugitivos. Ninguém pegue no alheio, ainda que seja
uma simples agulha. Respeitem as famílias e os prisioneiros.
• O que eu quero, na nossa cidade, é a vinda de gente que sirva para
ajudar o desenvolvimento da nossa cultura, progresso nas artes e tudo o mais
que beneficie o nosso povo.
• Deus castigou o demônio com o fogo dos infernos, mas não lhe tirou sua
sabedoria ou ciência, que com ela o demônio faz tudo o que quer.
• O Papa não faz nada sem a determinação de Deus.
• Vocês, meus amiguinhos, não bulam com padre que Deus castiga vocês. Os
padres são ministros de Deus. Deus não tira a vista deles um só instante de
tanto bem que quer a eles.
• A beata Maria de Araújo era uma santa! Sua vida foi uma maravilha da
graça de Deus.
• A Igreja somos nós, não é só os padres não!
• Ah, se os homens ricos soubessem o que é o outro mundo, eram eles quem
mais serviam Deus, porque têm tempo e vivem descansados. É eles quem são mais
beneficiados por Deus. É terras, é gado, é burros, é cavalos, é grupos de
ovelhas, é cabras, é animais de toda espécie, é frutas de todo jeito e de toda
espécie. Até peixes nos grandes açudes eles possuem. É engenhos, é fábricas, é
lojas, é armazém, é afinal uma riqueza sem fim aqui na terra. É uma riqueza
grande neste mundo que Deus lhes deu que faz gosto. Mas não agradecem. Só vivem se servindo com o que é de Deus para ir pecar
contra Deus, com ofertas que receberam das mãos de Deus. E se um homem
destes morrer no pecado, que é que lhe responde Deus?
• Os ricos, se quiserem ganhar o céu, é só viver se confessando,
comungando, rezando, praticando a caridade, não andar fazendo mal a ninguém.
• O maior presente que Deus nos deu aqui foi a vida e na eternidade a
Salvação!
• Nós devemos nos confessar aos oito anos, antes que o demônio tome
conta de nossos corações.
• Para ganhar o céu é preciso ter caridade e não invejar nada de
ninguém, que contra a inveja é a caridade; dar esmola ao menos uma vez por dia,
de qualquer coisa se dá uma esmola. A caridade não é só dando o que tem não,
meus amiguinhos, é também não enfezar os outros e quando se vir um aperreado,
ajudar em seus sofrimentos, aconselhando com calma, e se ver uma pessoa pobre,
sem ter nada em casa, com um doente, vá e varra a casa, bote água nos potes,
lave as roupas, ajude à noite a fazer sentinelas ao doente com todo o silêncio
para não incomodar o doente e para ajudar a dona da casa ou o dono, para que
eles possam dormir. Os ricos botem no hospital os
pobres para se tratar, ou levem um médico para receitar o doente. Tudo
isto é caridade.
• Quem ama a Deus, faz todos os meios de não pecar contra Ele.
• A pessoa que nega os pecados não recebe a benção e aprovação de Deus.
O padre absolve, mas não voga diante de Deus! Ele absolve porque padre não
adivinha pensamento de ninguém, mas Deus está vendo a tua má intenção, por isto
Ele não pode aprovar e abençoar.
• Vocês deixem de mandar fazer feitiço, que quem ensinou feitiço foi
Satanás, e Deus não quer que se sirvam com a arte diabólica, a arte do diabo.
Nós não podemos ter crença em Satanás. Satanás é o pai da mentira.
• Os pais de família não ensinam mais os filhos a rezar. Os meninos se deitam e se levantam da cama ou da rede sem
rezar porque os pais não ensinam e nem ligam em ensinar. E querem
receber os dons das mãos de Deus sem fazer por onde. Como é que estas crianças
podem pedir alguma coisa a Deus sem saber? Se os pais criaram eles como se
criam os animais, só comendo e brincando?
• Quando uma moça encontra um noivo ou namorado, cuidado nela, que a
moça pode ser boa como quiser, mas achou um noivo, fica doida, sem juízo. É
preciso ter todo cuidado. Os pais de famílias criem coragem e falem dizendo:
“Eu não empato minha filha de casar, mas não aceito falta de respeito em minha
casa”.
• Conselhos às moças: Ninguém não pode se confiar nos homens de hoje.
• Os amancebados só tem uma carreira para dar: É para o inferno.
• É preciso plantar a mandioca-preta, conservar ela, porque, quando vier
a seca, não acha o povo desprevenido.
• Parece que o Pai Eterno se arrependeu de ter acabado o mundo de uma só
vez. Agora vai acabar é de pedaço em pedaço, é de tempo em tempo, um pedaço
aqui e outro acolá, um com fome e outro com peste, um com tempestades e outro
com inundações, e outro com guerra e outro com tremores de terra.
• Em Roma: Se não fosse a minha gente que não tem, abaixo de Deus, outro
amparo senão eu, com certeza não ia nunca mais ao Brasil. Ficava num desses
asilos onde as almas que não pretendem nada deste mundo, como as que sofrem,
acham descanso.
• Em Juazeiro, desiludido diante das perseguições sofridas: Eu até tinha vontade de ir embora com a minha família para
Roma que lá fui muito bem acolhido pelos padres, mas quando eu fazia planos de
escrever para o Papa, Nossa Senhora vinha e me empatava e eu tinha que me
aquietar que ela queria que eu cuidasse de seus romeiros porque Deus vai
precisar deste povo no fim do mundo para punir a Igreja de Deus.
• Sejam sempre obedientes às autoridades civis e da Santa Igreja
Católica Apostólica Romana.
• Aproveito o ensejo para pedir a todos os moradores desta terra, o
Juazeiro, muito especialmente aos romeiros, que depois da minha morte não se
retirem daqui, nem a abandonem. Que continuem
domiciliados aqui no Juazeiro, venerando e amando sempre a Santíssima Virgem
Mãe de Deus, único remédio de todas as nossas aflições, auxiliando a manutenção
do culto e de todas as instituições religiosas que aqui se fundarem, e com
especial menção a dos Beneméritos Padres Salesianos, que serão os meus
continuadores nas obras de caridade que aqui iniciei. Insistindo, peço,
como sempre aconselhei, que sejam bons e honestos e respeitadores às leis e
autoridades civis e da Santa Igreja Católica Apostólica Romana, no seio da qual
tão-somente pode haver felicidade e salvação.
• Estes conselhos que sempre os dei em minha vida, não me canso de
repeti-los aqui para que depois da minha morte bem gravados fiquem na lembrança
deste povo, cuja felicidade e salvação sempre foram objeto da minha maior
preocupação.
• Eu preguei quarenta anos. Quem me ouviu bem e quem não me ouviu, não
ouve mais. Quem quiser saber do que eu disse, procure saber de quem me ouviu.
Fonte: "Padre Cícero, a sabedoria do conselheiro do
sertão", de Daniel Walker
Bibliografia:
-Daniel Walker. Padre Cícero, a sabedoria do conselheiro do sertão.
-SOUZA, Anildomá
Willans. Lampião: Nem herói
nem bandido - A história. Serra Talhada: GDM Gráfica, 2006.
-TAVARES NEVES,
Napoleão. Cariri: ninho da
história regional, berço de heróis, de mártires e de santos. Crato: Edições
IPESC-URCA, 1997
-PINHEIRO, Raimundo
Teles. O caudilho-deputado
Floro Bartolomeu da Costa, in Rev. Inst. do Ceará, Fortaleza, 99: 53-60,
jan/dez. 1979.
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