A
escravidão ideológica e Thomas Sowell
Por: *Ana Paula
Henkel
Em 2003, durante o governo Lula, uma nova lei determinava a inclusão da
temática “História e Cultura Afro-Brasileira” no currículo escolar. O artigo 79-B da Lei nº 9.394 diz: “O calendário escolar
incluirá o dia 20 de novembro como Dia Nacional da Consciência Negra”. Em 2011,
durante o governo Dilma Rousseff, essa data foi então oficializada como o “Dia
Nacional de Zumbi e da Consciência Negra”. A celebração do 20 de
novembro, referência ao dia da morte de Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo
de Palmares, passou a ser uma data para a reflexão sobre a posição dos negros
na atual sociedade.Com a aproximação do Dia da
Consciência Negra, dezenas de artigos sobre o assunto já circulam em jornais e
blogs pelo país, a maioria sempre empurrando o debate para o improdutivo campo
da divisão política. O mais curioso é que raríssimos artigos mencionam
personagens afrodescendentes que foram importantes para o Brasil, como:
-O nosso primeiro presidente negro, o jurista Nilo Peçanha.
E outros intelectuais negros do primeiro time como:
-André Rebouças,
-Lima Barreto
-E, claro, Machado de Assis.
Se nomes extraordinários para a nossa história são pouco lembrados
nestas datas, imaginem o de estrangeiros como do americano Thomas Sowell, outro
exemplo de quem não se curva ao canto infrutífero das sereias ideológicas que
pregam “negros x brancos” e “nós x eles”. Se existe uma “consciência negra”,
difícil imaginar um representante mais qualificado e admirável.
Sou fã convicta de
Thomas Sowell, autor de dezenas de livros fundamentais sobre política, economia
e também sobre questões raciais complexas e polêmicas!
Sowell é uma das grandes referências intelectuais das últimas décadas e
muitas de suas obras já foram traduzidas para o português. Um dos mais
brilhantes economistas da história, Sowell é uma presença inconveniente para os
embaixadores das narrativas que usam o negro para manipular ideias que vão da
eterna culpa da sociedade pela escravidão à adoração mais servil ao
politicamente correto. Sowell é um gigante do pensamento intelectualmente
honesto e um exemplo de superação, trabalho duro e talento — e, talvez por
isso, muitos preferem fingir que ele não existe.
Nascido em 1930 na
Carolina do Norte, Sowell perdeu o pai ainda criança. Sua mãe, doméstica, já
tinha quatro filhos e ele acabou sendo criado por uma tia-avó no Harlem, o
mítico bairro negro nova-iorquino. Seus primeiros anos de vida foram durante a
Grande Depressão americana, com grandes dificuldades financeiras, e, mesmo
assim, ele foi o primeiro da família a passar da sexta série. Aos 17 anos, o
adolescente teve que largar a escola para ajudar a família e foi entregador,
torneiro-mecânico. Aos 21, durante a Guerra da Coreia, alistou-se na Marinha.
De volta ao mercado, Sowell se formou com louvor
em economia em Harvard, complementando os estudos com mestrado em Columbia e um
doutorado pela Universidade de Chicago, uma das mais respeitadas escolas de
economia do mundo. Seu primeiro trabalho como economista foi no governo
federal, realizando estudos sobre o impacto do salário mínimo no emprego. Até
aquele momento, Sowell se dizia um marxista, mas nada como uma
experiência rápida como funcionário público para mudar para sempre sua cabeça.
O que pode parecer óbvio para o cidadão comum que depende do estado é motivo de
espanto para muitos intelectuais.
Ao perceber que a
política de salário mínimo criava uma barreira de entrada para negros com pouca
experiência ou especialização no mercado, gerando desemprego em vez de
vencimentos mais altos, Sowell se surpreendeu ao entender que nenhum
funcionário do Ministério do Trabalho estava interessado em suas descobertas.
Foi então que percebeu que os burocratas do governo não tinham qualquer
compromisso com os resultados práticos de suas políticas e que a única
preocupação era a manutenção dos próprios empregos. Foi a lição que mudou sua
vida.
O aluno mais
brilhante de Milton Friedman nunca relativizou ou ignorou o racismo, do qual já
foi alvo, mas escolheu rejeitar a vitimização por
entender que ela escraviza a alma numa agenda de ressentimento e ódio que nunca
termina bem. Ele preferiu vencer
com inteligência, talento e trabalho duro e sua vida é uma prova definitiva de
como tudo é possível quando há disposição pessoal e um ambiente com abundância
de oportunidades, o que só uma sociedade livre e próspera fornece.
O menino negro e pobre da Carolina do Norte se tornou um ícone no mundo
acadêmico e uma voz ativa nos anos 80 e 90 contra a política de cotas raciais,
principalmente nas universidades da Califórnia. Através de suas pesquisas, ele
mostrou que a lei de cotas americana (affirmative action) era um desastre para
a comunidade negra. Em suas palestras e entrevistas
ainda nos anos 80, Sowell mostrava que a política de cotas raciais para
admissões servia apenas para ilustrar boas intenções por parte das
universidades, mas que nunca apresentava as reais consequências positivas.
Thomas Sowell expôs
durante anos que os números de estudantes negros graduados e com diploma após
quatro anos nas universidades eram frustrantes!
Apenas na Universidade da Califórnia em Berkeley, por exemplo, 70% dos
negros que entravam usando o programa de cotas raciais desistiam da vida
acadêmica ainda no primeiro ano, o que não acontecia antes da adoção do sistema
de cotas. E Sowell foi a campo publicamente, contra o discurso vitimista e o
politicamente correto, para apontar o quanto a política de cotas prejudicava a
comunidade negra.
Aplaudido e
respeitado como professor de algumas das principais universidades americanas,
como UCLA, Harvard e Stanford, Sowell sempre defendeu — e mostrou
com vastas pesquisas — que a política de cotas raciais colocava muitos negros
em ambientes em que não estavam academicamente preparados para estar, fazendo
com que esses potenciais bons alunos de universidades menos badaladas se
tornassem péssimos estudantes de outras grandes faculdades, o
que foi comprovado por outros estudiosos e autores como Malcolm Gladwell.
Thomas Sowell
celebrou quando a política de cotas universitárias foi finalmente banida na
Califórnia em 1996 (Proposition 209), em um referendo com quase 55% dos votos a
favor do término!
Os números de admissões de negros nos anos seguintes (1998-2006) caíram
quase pela metade e Sowell foi duramente criticado por apoiar a proposição. No entanto, pouco depois, entre 2007 e 2016, as admissões de
estudantes negros voltaram ao patamar dos anos anteriores, mas dessa vez com a
diferença de que quase todos os estudantes completavam os programas acadêmicos e
conseguiam o diploma.
O menino negro e
pobre criado no Harlem, hoje um dos maiores pensadores contemporâneos, rejeita
o discurso de vítima da sociedade ou os mantras que entoam mais segregação e
divisão travestidos de “justiça social”.
Para ele, o crescimento econômico dos mais pobres precisa ser
desatrelado das políticas assistencialistas da esquerda: “Embora a grande palavra da esquerda seja ‘compaixão’, a
grande agenda da esquerda é a dependência. Quanto mais pessoas dependem do
governo, mais votos a esquerda pode contar para um estado de ‘bem-estar social’
em constante expansão. Se você dá ao governo poder suficiente para criar
‘justiça social’, você dá também poder suficiente para criar despotismo. Milhões
de pessoas em todo o mundo pagaram com a vida por ignorar esse simples fato.”
Enquanto Sowell, aos
89 anos, continua fornecendo contribuições intelectuais incomparáveis, o Brasil
verá daqui a alguns dias o país parar em várias cidades, numa quarta-feira,
para um feriado que tem como símbolo Zumbi dos Palmares. Respeito todos os que idolatram
Zumbi, mas acredito que Thomas Sowell deveria ser seriamente considerado como
um modelo alternativo para quem quer conhecer histórias inspiradoras de
superação da comunidade negra. Sowell é avesso à tietagem e dá poucas
entrevistas, mas isso não impede que façamos a nossa parte em render homenagens
a esse gigante intelectual.
O Brasil é a prova viva dos efeitos catastróficos das falsas políticas
que Sowell condena e de uma política econômica totalmente equivocada onde o
Estado acorrenta seus cidadãos a abusivas regulações, infinita burocracia e
altíssimos impostos que são perdidos entre tantos esquemas de corrupção e
governos grandes e ineptos.
Mesmo com algumas
necessárias correções de rota no atual governo, vivemos uma janela única de real
crescimento e progresso no país!
Bons resultados já
começam a aparecer. Nações prósperas que prezam e estimulam a criação de
ambientes mais propícios para que todos, incluindo negros, tenham mais
oportunidades para uma vida livre, próspera e feliz, aplicam as ideias de
Sowell e sua verdade mais óbvia: que a realidade e a lógica sempre e
inevitavelmente triunfarão sobre qualquer narrativa ou crença criada para a
manipulação das massas. Quanto mais
populares as ideias e ensinamentos deste ícone, melhor para Brasil e o mundo. Urge fecharmos as revistas de fofoca e abrirmos os
livros de Thomas Sowell.
*Ana Paula Henkel é analista de política e esportes. Jogadora de vôlei
profissional, disputou quatro Olimpíadas pelo Brasil. Estuda Ciência Política
na Universidade da Califórnia.
A
verdadeira cultura negra!
Por: *Olavo de
Carvalho
Quando ouço falar de
"cultura negra", saco do meu exemplar da "História da
Inteligência Brasileira", de Wilson Martins, e esfrego-o na cara do
interlocutor:
"Cultura negra? Cultura negra para mim é o Aleijadinho, é Gonçalves
Dias, é Machado de Assis, é Capistrano de Abreu, é Cruz e Sousa, é Lima
Barreto. Quer Vossa Senhoria me explicar como esses
negros e mulatos puderam subir tão alto, numa sociedade escravocrata, enquanto
seus netos e bisnetos, desfrutando das liberdades republicanas, paparicados pela
'intelligentsia' universitária, não conseguem hoje produzir senão samba, funk e
macumba, e ainda se gabam de suas desprezíveis criações como se fossem
elevadíssima cultura?"
O interlocutor,
aterrorizado ante a perspectiva de ter de raciocinar por uns minutos fora da
área de segurança dos chavões estabelecidos, fica mudo. Então, dou eu mesmo a
resposta:
É que aqueles ilustres brasileiros não tinham
bebido o veneno universitário norte-americano e conservavam seus cérebros em
bom estado. Entendiam que suas remotas origens africanas tinham sido
neutralizadas pela absorção na cultura ocidental, que
sua condição de raça era apenas um fato biológico sem significação cultural por
si, que a cultura a que tinham se integrado não era branca, mas universal, que
era mais útil e mais honroso para o negro vencer individualmente no quadro da
nova cultura mundial do que ficar choramingando coletivamente as saudades de
culturas tribais extintas.Ao afirmar-se como valores da cultura
ocidental, esses homens ainda prestaram a ela o mais relevante serviço:
cobraram dela o compromisso universalista firmado na cruz do Calvário,
libertando-a das amarras do falso compromisso, acidental e transitório, que ela
firmara mais tarde com a raça branca. Elevando-se, elevaram-na.
Quem eram, afinal,
ante os negros, os portadores dessa cultura?
Eram portugueses - uma raça céltica, tardiamente cristianizada por
invasores imperialistas. E de onde vinha a força dos
portugueses? Vinha da desenvoltura, do otimismo, da pujança com que, em vez de
cair no ressentimento saudosista, em vez de revoltar-se contra a perda de suas
"raízes" locais e raciais, em vez de buscar falsos consolos no ódio
aos colonizadores, souberam se integrar criativamente no mundo cristão e
tornar-se, mais que seus porta-vozes, seus soldados e seus poetas.Coisas
análogas podem dizer-se dos franceses, dos ingleses, dos dinamarqueses, dos
suecos e, enfim, de todos os povos europeus: todos abandonaram seus cultos
primitivos para integrar-se na nova cultura. Transfigurados pela cultura
universalizante que os absorveu, puderam por isso mesmo tornar-se nações
grandes e poderosas, ganhando com a renúncia e recuperando sua identidade num
plano mais alto.
E de onde veio a
tragédia cultural do povo alemão senão de sua cristianização imperfeita, de sua
deficiente universalização, que, deixando à mostra as doloridas raízes da velha
cultura bárbara, ocasionou a crise de regressão uterina que foi o nazismo?
É precisamente por não ter se libertado de seu
apego a origens raciais e a cultos mitológicos que a Alemanha jamais alcançou,
no mundo, o posto de liderança a que tão ardorosamente aspira: não há grandeza
fora do senso de universalidade, que exclui por definição o apego atávico à
comunidade de sangue. O destino da Alemanha é uma lição para os negros.
E o anti-semitismo do sr. Louis Farrakhan não é, definitivamente, mera
coincidência.Se os portugueses, em vez de agir como
agiram, tivessem dado ouvidos ao saudosismo rancoroso, apegando-se a cultos
bárbaros e abominando o cristianismo como "religião dos dominadores",
teriam sido varridos do cenário histórico e hoje teriam de viver da caridade
dos museus de antropologia. A máxima expressão de sua cultura não seria
Luís de Camões, mas alguma coisa como o sr. Pierre Verger.
E Portugal mesmo,
mais tarde, ao abdicar da vocação universalista para cair no culto atávico do
passado, saiu da história...
Os negros de gênio
que se ocidentalizaram galhardamente, sem um gemido de rancor impotente, e que
enriqueceram a cultura ocidental com suas criações imortais fizeram mais pelos
seus irmãos -da sua e de todas as raças- do que os demagogos e palhaços que
hoje querem não apenas escravizar os negros na adoração regressiva de cultos
museológicos, mas africanizar todo o Brasil.
*Olavo de Carvalho, 50, jornalista, é autor de "O Jardim das
Aflições", "O Imbecil Coletivo" e "Aristóteles em Nova
Perspectiva".
Miscigenação
entre brancos e negros é, na verdade, genocídio?
A frase da foto acima, foi exibida por manifestantes na 14ª Marcha da
Consciência Negra, em São Paulo (SP), que gera debate e divide opiniões
Miscigenação e genocídio. É quase impossível juntar essas duas palavras em uma única frase sem levantar polêmica. Com o tema Contra o Racismo e o Genocídio: Por um Projeto Político de Vida para o Povo Negro, militantes de diversos coletivos e entidades defenderam, entre outras pautas, a luta contra a violência policial, a tolerância religiosa e a valorização da mulher negra na sociedade; gritaram palavras de ordem, como “Juntos Somos Fortes!”, e carregaram faixas e cartazes, com os dizeres “Zumbi Somos Nós”, “Basta de Extermínio da Juventude Negra” e “A Escravidão Não Acabou. Não Temos O Que Comemorar”. Uma delas, porém, se sobressaiu às demais:
“Miscigenação Também é Genocídio”. Denúncia, argumentariam uns.
Retrocesso, rebateriam outros.
Na opinião do
filósofo e articulista da Gazeta do Povo Paulo Cruz, trata-se de uma
contradição. Segundo ele, as mesmas pessoas que levantam
cartazes contra a miscigenação adoram dizer que, no Brasil, há mais de 50% de
negros. Mas nunca dizem que, desses 50%, 43% são pardos ou mestiços.
Ou seja, os pretos – aqueles mais visivelmente negros – são apenas 7%.
“ISSO MOSTRA QUE A MISCIGENAÇÃO – VISTA COM BONS OLHOS PELOS
REPUBLICANOS DO INÍCIO DO SÉCULO 20 E COM MAUS OLHOS PELO MOVIMENTO NEGRO QUE
SE FORMAVA – FOI E É FUNDAMENTAL PARA A TESE DA MAIORIA NEGRA, QUE OS
MOVIMENTOS ATUAIS UTILIZAM O TEMPO TODO, PARA O BEM E PARA O MAL”, DIZ.
Luiz Felipe Pondé,
doutor em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), é direto:
E rebate a tese de que miscigenação é genocídio. “A menos que você
violente mulheres para impor biologicamente certos caracteres”, ressalva. “Mas
se pessoas de raízes diferentes transam numa relação livremente escolhida,
claro que não é”.
Integrante da Frente
Alternativa Preta (FAP), uma das entidades organizadoras da Marcha de
Consciência Negra, a professora Adriana Moreira explica que a passeata é uma
ação coletiva e, por essa razão, as pautas, muitas vezes, não convergem.
Sobre a faixa em questão, acrescenta que é de um
grupo específico que não construiu a marcha e não representa a ideia central do
movimento. “O debate da mestiçagem está superado porque a própria ideia
de raça está superada. Somos todos seres humanos”, afirma Adriana. “O que
buscamos hoje é construir um projeto político que garanta a vida das pessoas”.
A diretora do
Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro), Elisa Larkin
Nascimento, salienta que, longe de ser a única, a tal faixa fazia parte de um
conjunto de denúncias dos vários aspectos do genocídio do negro brasileiro,
como assassinato de jovens negros e negras, violação de direitos no atendimento
à saúde e exclusão no mercado de trabalho, só para citar alguns.
“A grande mídia, que fez pouquíssima cobertura da marcha no dia, vem
agora com certo atraso focalizar esse assunto como se fosse a única bandeira
levantada no Dia Nacional da Consciência Negra. O efeito é distorcer a imagem
da marcha e desqualificar o movimento negro”, reclama.
O “branqueamento” do
Brasil
Elisa lembra que a miscigenação como instrumento de engenharia social
não é novidade no Brasil. Em 1911, o médico e antropólogo João Baptista de
Lacerda, então diretor do Museu Nacional, participou do I Congresso
Internacional das Raças, em Londres, e apresentou a teoria do “branqueamento do
povo brasileiro”. Graças ao processo de miscigenação,
acreditava-se que, a cada nova geração, os descendentes de negros tenderiam a
ficar “mais brancos.A população mista do Brasil deverá ter, no intervalo de um
século, um aspecto bem diferente do atual. As correntes de imigração europeia,
aumentando a cada dia mais o elemento branco desta população, acabarão, depois
de certo tempo, por sufocar os elementos nos quais poderia persistir ainda
alguns traços do negro”, escreveu ele no artigo Sur Les Métis au Brésil
(Sobre os Mestiços do Brasil, em livre tradução).
“Resquícios da teoria da eugenia continuam vivos
na sociedade brasileira, mascarados pela ideia de uma ‘democracia
racial’ que não corresponde à expectativa vivida pela população negra. É essa
vivência que leva os militantes a tal posicionamento”, esclarece Elisa.
O vereador negro Fernando
Holiday postou em seu perfil no Facebook:
“Seria o movimento negro tão racista quanto um supremacista branco?...”
A pergunta não ficou
sem resposta.
“Os negros não estão no mesmo lugar social e histórico dos brancos. Logo
não se pode dizer que esses militantes negros são iguais politicamente aos
supremacistas brancos. Mas, sim, pode-se dizer que
gostam de odiar tanto quanto os supremacistas brancos”, afirma Pondé.
Dia da
Consciência Negra: chega de papéis reducionistas!
Por: Rodrigo
Constantino
Celebramos, no 20 de novembro, o Dia da Consciência Negra. Fatos
memoráveis em uma história humana trágica de escravidão ainda ressoam na mente
de todos, num silêncio eloquente da consciência de cada um e no barulho das
redes sociais, que atacam o preconceito ainda existente por conta da
objetificação do humano, no caso, dos negros. Vejo que
há ainda um misto de consciência dessa tragédia passada com um certo
ressentimento que vitimiza exacerbadamente os negros. Claro que tenho
que explicar isso, exatamente porque enfatizo que é a cor da pele do negro que
é mais lembrada do que ele mesmo, o ser humano, o outro.
A modernidade e suas
sequelas humanas, entre as quais o desejo messiânico do “bem” na justiça social
a qualquer custo (mesmo que o preço seja a vida do outro), fizeram surgir um
certo apodrecimento dos direitos humanos que se reverte em tirania e prejuízo
do próprio humano!
Só para ilustrar esse
trecho, acabei de assistir a um vídeo de “suicídio legal” pela internet. Longe
disso ser fake news, acredito piamente na feição mortal desse apodrecimento dos
direitos humanos, como se todos tivessem direito a tudo, mesmo à morte a
qualquer custo e pouco importando o quão louco isso possa parecer, o quanto de
imoralidade essa subjetividade possa redundar. Infelizmente, essa é a realidade
de hoje. Mas, volto ao texto:
Claro que a consciência negra é enfatizada em grande medida pelo
despertamento que ela provoca, a noção de que o negro foi diminuído à condição
de objeto e não de sujeito de direitos. Mas o negro
deve ser erigido à altura de humano, de outro, e não apenas de negro. Quero
dizer que o indivíduo deve ser ressaltado por ser humano e não somente por seus
atributos físicos. É que o verdadeiro amor é despertado pela consciência da
humanidade, não por eventuais direitos que o sujeito possa ter ou querer ter.O
que deve ser enfatizado, então, são necessidades não reducionistas do papel do
humano na sociedade. Entre negro e humano, por esse ponto de vista e com
esse objetivo, prefiro o segundo.
Nessa espécie de
engrenagem do Eu, o outro ou os outros são apenas nossas sombras, sinais saídos
de nosso interior (Gustavo Corção). É que o mundo não mais acredita no amor,
que é o olhar o humano tal como ele é, sem papéis sociais reducionistas. No futuro, o amor de muitos se esfriará (trecho bíblico).
Indo mais além ainda nesse particular não reducionista que proponho, o humano
deve ser lembrado pelo seu semelhante, como um semelhante. O outro faz
despertar na consciência humana o ser humano como tal, criatura à imagem e
semelhança de Deus. Jesus Cristo deixou isso muito claro, quando em vida cuidou
de seus irmãos (nós) e filhos do homem (Deus).Já que é momento de lembranças,
destaco A Descoberta do outro, de Gustavo Corção,
pela Vide Editorial, um livro que toca exatamente nesse ponto. Em um trecho ele
afirma:
“Aparecem pedagogos e sociólogos pedantes para nos propor uma
solidariedade de camaradas humanos na base de uma tolerância que respeita tudo
no outro, exceto o que ele é. Para evitar os cachações dos muitos corpos
atirados no estreito vale de lágrimas, instituem-se regras especiais de bem
viver, regulamentos, leis sociais, boas educações, moral, civismo, para que as
sombras circulem na caverna escura sem atritos de mais e saibam dizer umas às
outras: Com licença, com licença…”
E por mais incrível
que possa parecer, uma personalidade da mídia também deve ser lembrada. A
jornalista Glória Maria, utilizou uma frase muito conhecida atribuída a Morgan
Freeman e fez questão de ressaltar a sua própria condição de humana! Pra todos
que não concordam com este pensamento do Morgan Freeman:
Não concordar é um direito de vocês! Mas
pretender que todos pensem igual é no mínimo prepotente! Eu concordo
totalmente com ele! Pra começar ele não é brasileiro e não está citando o dia
da Consciência Negra. Uma conquista nossa! Está falando
de algo muito maior. Humanidade! Eu e ele também nascemos negros e pobres e
conquistamos nosso espaço com muita luta é trabalho! Não somos privilegiados.
Somos pessoas que nunca aceitaram o lugar reservado pra nós num mundo branco!
Algum de vocês conhece a minha história e a dele? Se contentam em tirar
conclusões e emitir opiniões equivocadas em redes sociais! Nós estudamos,
lutamos, resistimos e combatemos todo tipo de discriminação! O preconceito
racial é marca nas nossas vidas! Mas não tenho que mudar minhas ideias por
imposição de quem quer que seja! Apagar este post? Nunca! Quem não concorda com
ele, ok! Acho triste mas entendam. As cabeças e
os sentimentos graças a Deus não são iguais! Como lutar contra a desigualdade
se não aceitamos as diferenças? Queridos vivam suas vidas e nos deixe viver a
nossa! Temos que tentar sempre encontrar nosso próprio caminho! Sem criticar e
condenar o dos outros! Cada um precisa combater o racismo da maneira que achar
melhor! Lembrando sempre do direito e da opinião do outro! sou negra e me orgulho. Mas não sigo cartilhas. Minhas dores
raciais conheci e combati sozinha! Sem rede social para exibir minhas
frustrações! Tenho direito e dever de colocar o que penso num espaço que
é meu! Não imponho e não aceito que me digam como devo viver ou pensar!?”
Se Glória Maria é de
direita, esquerda, centro, extrema-direita, extrema-esquerda, branca, negra,
loira, morena, cafuza, cabocla, descendente de escrava? Isso pouco importa! O
que Glória Maria quer dizer é:
Chega de papéis reducionistas!
De quebra e mesmo sem
querer, Glória Maria também nos faz lembrar de Theodore Dalrymple, na sempre
lembrada Podres de mimados: as consequências do sentimentalismo tóxico (É
Realizações). Dalrymple ensaia sobre o papel maximalista do Estado de bem-estar
social enquanto reducionista da condição das pessoas, dos humanos, fazendo-os
frutos podres evoluídos de uma anterior situação comestível, nessa contínua
marcha para frente progressista e num porvir desconhecido, querido e evoluído
(Hegel).
BIBLIOGRAFIA:
-CARVALHO, Olavo de. O imbecil coletivo. Rio de Janeiro:
Editora Record, 2018.
-CÉSAIRE, Aimé. Discurso sobre o colonialismo. Lisboa:
Livraria Sá da Costa Editora, 1978.
-FANON, Frantz. Os condenados da terra. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1968.
-FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Salvador:
Editora da UFBA, 2008.
-MBEMBE, Achille. Sair da grande noite: ensaio sobre a
África descolonizada. Luanda: Edições Mulemba, 2014a.
-MBEMBE, Achille. Crítica da razão negra. Lisboa:
Antígona, 2014b.
-MEMMI, Aimé. Retrato do colonizado precedido pelo
retrato do colonizador. Rio de Janeiro: Civili-zação Brasileira, 1967.
-https://www.geledes.org.br/miscigenacao-entre-brancos-e-negros-e-na-verdade-genocidio/
-https://www.gazetadopovo.com.br/rodrigo-constantino/artigos/dia-da-consciencia-negra-chega-de-papeis-reducionistas/
------------------------------------------------------
APOSTOLADO
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e nos demais países que nos leem, merece o acesso a conteúdo verdadeiro e com
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