(prof. Dr. Ivanaldo Santos)
Por *Ivanaldo Santos – Filósofo
Atualmente
o Brasil e outros países ao redor do mundo passam por uma forte contradição. De
um lado, existem amplos segmentos populacionais que são contra o aborto. Esses
segmentos representam entre 75% a 95% da população que se apresenta
oficialmente contrária ao aborto. Numa sociedade democrática a maioria deve
prevalecer. Do outro lado, existem grupos e estruturas sociais que afirmam,
dentre outras cosias, que é necessário se legalizar o aborto porque trata-se de
uma medida de proteção da mulher pobre e da pobreza. Em tese, a
legalização do aborto representa algum tipo de política social de proteção
social ao pobre, de diminuição do número de pobres nas ruas das cidades, de
incentivo ao combate a pobreza.
Existem alguns problemas em torno da ideia de que a
legalização do aborto vai beneficiar as mulheres pobres. Vejamos um conjunto de
sete problemas:
1)- É estranho que se afirme, por meio de algum
levantamento estatístico, que a maioria das mulheres que abortam são pobres.
Como se chegou a essa conclusão? Todo tipo de pesquisa tem seus acertos e
pontos fracos. Não se trata de retirar a validade de alguma pesquisa. No
entanto, se o aborto é ilegal no Brasil, como foi que se conclui, por meio de
dados estatísticos, que a mulher que aborta é pobre?
2)- É afirmado que no Brasil quem aborta é mulher
pobre, mas, por incrível que pareça, quem aparece defendendo o aborto não é a
mulher pobre! Pelo contrário, é um grupo seleto de mulheres de classe média,
que estudaram em boas escolas, que possuem bons empregos, que geralmente fazem
turismo em Miami ou em alguma cidade da Europa, que levam os filhos para se
divertir na Disney e coisas semelhantes. Ao que parece no Brasil vive-se uma
experiência meio delirante semelhante ao que é narrado no filme Paris, Texas, lançado em 1984, dirigido
por Wim Wenders. Nesse filme, o personagem Travis Henderson narra a experiência
de uma pessoa que falava muito de Paris, é como se tivesse nascido e vivido
longos anos em Paris, como se conhece os recantos de Paris. No entanto, essa
pessoa nunca nasceu ou esteve um único dia em paris. Na verdade, era apenas um
caipira americano que nasceu e viveu toda a sua vida no Texas. No
Brasil e em outras partes do mundo fala-se que o aborto vai beneficiar os
pobres, que quem deseja abortar é a mulher pobre, mas quem fala isso são
pessoas que não são pobres e que, na maioria dos casos, nunca experimentou a
vida dos pobres.
3)- Afirmar que a legalização do aborto vai
beneficiar os pobres é a nova versão, a versão contemporânea, a versão cult da eugenia. A eugenia que deseja, por razões
diversas, eliminar grupos e segmentos sociais. No caso do aborto, deseja-se
combater a pobreza eliminado o pobre por meio do aborto. O aborto
aparece como arma chique, eficiente e sofisticada para a diminuição do número
de pobres.
4)- O aborto está sendo vendido, de forma
sofisticada, como um eficiente remédio para problemas pessoais e psicológicos. De
acordo com essa propaganda, esse remédio estará disponível a todos,
especialmente aos pobres. Se um indivíduo estiver com um problema psíquico fará
um aborto e, com isso, terá a cura ou uma melhora substancial do seu problema.
Com isso, o aborto é vendido como uma espécie de novo remédio psiquiátrico, um
novo Prozac ou algo semelhante. Nas décadas de 1970 e 1980 a cirurgia plástica
era indicada como terapia psicológica. Atualmente o aborto é apresentado como o
substituto das cirurgias plásticas. Em todo caso, o que temos é uma estratégia
sofisticada de vários setores da indústria (indústria médica, farmacêutica, de
propaganda, etc) para promover e vender os seus respectivos produtos. Setores
da indústria médica e farmacêutica querem vender cirurgias plásticas e outros
setores querem vender aborto. A lógica é a mesma: vender um produto. O problema
dessa venda é que o consumidor não é informado sobre os efeitos negativos e o
que realmente está em jogo nesse tipo de negócio. Estamos diante de um comércio
muito antiético!
5)- As pessoas e grupos sociais que afirmam que
quem aborta é a mulher pobre – vale salientar que tem gente até dentro da
Igreja com esse tipo de discurso – não conhecem a mulher pobre e muito menos os
espaços geográficos que, no Brasil, situa-se o cinturam de pobreza. Novamente
estamos diante de uma versão contemporânea do filme Paris, Texas, ou seja,
fala-se na pobreza e no pobre, mas nunca, nem de longe, se viveu as
experiências da pobreza. O motivo desse problema é que a mulher pobre,
de forma individual, pode até fazer um aborto, mas não se pode generalizar e
dizer que a mulher pobre aborta. O
motivo é que a mulher pobre, ao contrário de segmentos mais sofisticados da
classe média, não tem uma formação ética e metafísica. A mulher pobre geralmente
não sabe e não tem instrumental teórico para, por exemplo, fazer uma defesa
filosófica ou teológica da vida e contra o aborto. No entanto, geralmente a mulher
pobre não aborta. O motivo disso é que para amplos segmentos da população pobre
ter um ou mais de um filho representa, na prática, uma melhoria na renda da
família, uma ajuda nas tarefas da casa e uma possibilidade de, no futuro, a
família ou um membro da família subir na hierarquia social. Ao
contrário da classe média, que vê um filho como prejuízo, a população pobre vê
o filho como um investimento no futuro.
6)- Voltando a metáfora do filme Paris, Texas, quem diz que mulher pobre
aborta nunca conheceu as redes de solidariedade social que perpassam as
comunidades pobres. Ao contrário da classe média, que vive uma existência isolada e tem
pouco sentido de comunidade, os pobres possuem forte sentido de solidariedade e
comunidade. Uma mulher pobre que engravide terá a ajuda de várias amigas,
companheiras e parentes. Uma rede de solidariedade vai estar ao lado
dessa mulher pobre para ajudá-la no processo de gravidez e de criação do filho.
Só para se ter uma ideia dessa questão, um único carinho de bebê chega a ser
usado por 4 ou 5 mães com filhos recém-nascidos. Esse carinho vai passando de
família em família até que não tenha mais utilidade. Esse comportamento
solitário se multiplica em vários aspectos da vida social (roupas para
recém-nascido, alimento, remédios, etc). Os pobres mantêm o espírito solidário
que, muitas vezes, a classe média apenas é capaz de falar do ponto de vista
teórico.
7)-
Se os pobres não praticam, em larga escala, o aborto, então quem aborta? É
difícil responder de forma fechada essa pergunta. No entanto, existem uma série
de grupos sociais que praticam o aborto de forma muito mais radical que os
pobres. Entre esses grupos podem ser citados:
a)
Pessoas abortam por motivos diversos: mulheres que engravidaram devido a
relações sexuais extraconjugais, pessoas que são obrigadas a abortarem por
questões ligadas ao mercado de trabalho ou por envolvimento com grupos
criminosos, pessoas envolvidas no mercado da prostituição e do cinema
pornográfico, etc);
b)
Membros da alta sociedade que veem a gravidez como um ato primitivo e até
selvagem do ser humano, pessoas que não desejam deixar suas fortunas para
herdeiros e coisas semelhantes.
c)
Membros da classe média que veem a gravidez e, por conseguinte, a criação de um
filho como um prejuízo financeiro, como uma deformação estética, como uma
barreira para o crescimento profissional e coisas semelhantes.
d)
Pessoas que fazem parte de algum grupo de vanguarda cultural, de sociedade
alternativa, de pensamento cult e
pós-moderno. Pessoas que, devido a sua filiação ideológica (alguma facção da
esquerda, liberais exaltados, anarquistas radicais, etc), são levadas e até
mesmo obrigadas a fazerem um ou vários abortos.
Por
fim, afirma-se que a metáfora que envolve o filme Paris, Texas, ou seja, fala-se com muita naturalidade de alguma
coisa, mas na prática nunca se viu ou se conhece essa cosia, é uma ótima forma
de pensar o argumento, muito difundido atualmente, de que a legalização do
aborto vai beneficiar as mulheres pobres. Quem diz isso geralmente nunca
conheceu a realidade dessas mulheres. Se conhece saberia que a mulher pobre não
aborta.
*Ivanaldo Santos – Filósofo: É colaborador do Blog Berakash
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Professor Ivanaldo, uma grande perca para o pensmento brasileiro, que Deus o tenha em sua mansão celestial!
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