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As três ordens de grandeza em Pascal e o chamado a santidade

Written By Beraká - o blog da família on sábado, 16 de junho de 2018 | 00:01










I – PARTE





Pascal em 1640 quando tinha 31 anos de idade quase ia morrendo de acidente quando a carruagem em que seguia atravessava uma das pontes de Paris. Foi nesta altura que se converteu ao cristianismo. Aderiu primeiro ao Jansenismo ou seja a um grupo religioso fundado por Cornélio Jansen, conhecido por Jansénio. Os jansenistas adotaram a teoria da predestinação de Stº Agostinho segundo a qual o homem nasceu com o pecado original e só pela graça de Deus concedida a um número reduzido de eleitos e através de Jesus Cristo a salvação seria possível. Os jansenistas entraram em polémica com os jesuítas acusando-os de concederem facilmente a absolvição a quem confessasse os pecados. Mais tarde com a morte da irmã Jacqueline em 4-10-1651 Pascal repudia o jansenismo e abandona todas as disputas que o separavam da Igreja e do Papa. Pascal veio a falecer em 19-08-1662.Como filósofo Pascal começa por estabelecer a diferença de forma clara e inequívoca entre a razão (espírito geométrico) e o coração (espírito de finura). Os nossos conhecimentos provêm em primeiro lugar do método experimental com as suas três fases: observação, hipótese e verificação. A razão em sentido lato significa raciocínio ou silogismo. Mas os nossos conhecimentos provêm também do coração de forma intuitiva e é aí que têm origem os grandes princípios morais, éticos e religiosos. A este processo rápido de obter a verdade chama Pascal o “ espírito de finura “. A conhecida frase de Pascal “ o coração tem razões que a razão desconhece “ significa que conhecemos a verdade não só pela razão mas também pelo coração.







Para Pascal a realidade encontra-se dividida em 3 ordens ou domínios:






1)- A ordem sensível, ou dos corpos (material).




2)- A ordem inteligível ou do espírito (intelectual).




3)- A ordem da graça ou do coração (sobrenatural).






Na introdução ao livro Pensamentos de Pascal, Roger-Pol Droit diz o seguinte:






“os três registos ou ordens divergem radicalmente. Não se pode ver com os olhos do corpo aquilo que se vê com os olhos do espírito nem se pode perceber com o corpo e o espírito aquilo que se sente com o coração...” (Pág. 9 ).






Destas três ordens de realidade a mais importante para Pascal é sem dúvida a última, ou seja, a sobrenatural, da graça ou do coração. Para chegarmos a Deus não podemos partir de princípios à priori, de premissas ou da prova ontológica de Stº Anselmo (se eu penso num ser perfeito, esse ser é Deus e esse ser tem necessariamente de existir).Para Pascal só podemos chegar a Deus pela fé, pelo coração e pela graça.














Mas se não podemos demonstrar a existência ou a inexistência de Deus então o que poderão fazer os que têm dúvidas sobre a existência de Deus? Surge aqui o argumento da aposta em Deus. Se uma pessoa passar a vida a fazer o bem e se no fim não existir Deus não se vai arrepender do que fez. Mas se Deus existir a sua felicidade não terá fim e a beatitude será eterna. Pascal dizia:






“Se ganhares ganhas tudo, e se perderes, não perdes nada”






Pascal é um grande pensador sem no entanto ter deixado nenhum tratado filosófico ou sistema organizado de ideias ou teoria filosófica de grande complexidade. A sua filosofia anda indissociavelmente ligada à religião e à teologia. Praticou as regras do método cartesiano mas diverge em muitos aspectos de Descartes. Enquanto Descartes reconhece como trave mestra do seu pensamento o princípio “ cogito ergo sum “( penso logo existo ), Pascal não parte de nenhum princípio ou premissa para estruturar o seu pensamento. Enquanto para Descartes a razão é a única via para alcançar a verdade, Pascal entende que as grandes verdades e os grandes princípios saem intuitivamente do coração. Finalmente convém esclarecer que Pascal ao viver intensamente a sua fé utilizou a sua argumentação filosófica como meio para convencer os cépticos e os incrédulos do seu tempo.








II – PARTE







“Sejam santos porque eu, vosso Deus, sou santo”






O tema desta meditação é o capítulo V da Lumen gentium, intitulado “A vocação universal à santidade na Igreja”. Nas histórias do Concílio este capítulo só é lembrado por uma questão, digamos, de redação. Os vários Padres conciliares, membros de ordens religiosas, pediram com insistência que fosse dedicado um tratado a parte sobre a presença dos religiosos na Igreja, como tinha sido feito para os leigos. Foi assim que aquilo que tinha sido lembrado até então como um capítulo unicamente relacionado à santidade de todos os membros da Igreja, foi dividido em dois capítulos, dos quais o segundo (VI da LG), dedicado especificamente aos religiosos. O chamado à santidade foi formulado desde o início com estas palavras:





“Por isso, todos na Igreja, quer pertençam à Hierarquia quer por ela sejam pastoreados, são chamados à santidade, segundo a palavra do Apóstolo: «esta é a vontade de Deus, a vossa santificação»” (cfr. 1 Tess. 4,3;  Ef. 1,4)






Este chamado à santidade é o ponto mais necessário e urgente do concílio. Sem isso, todos os outros requisitos são impossíveis ou inúteis. De fato, normalmente, isso é deixado de lado porque só Deus e a consciência que a exigem e pedem, e não as pressões ou interesses de grupos humanos particulares da Igreja. Às vezes, parece que em certos ambientes e em certas famílias religiosas, depois do concílio, focaram mais no compromisso de “fazer os santos” do que no de “fazer-se santos”, ou seja, mais esforço para levar aos altares os próprios fundadores ou correligionários do que em imitar os exemplos e as virtudes. A primeira coisa que deve ser feita, quando se fala de santidade, é libertar esta palavra da submissão e do medo que dá, por causa de certas deturpações que fizeram dela. A santidade pode acarretar fenômenos e provas extraordinárias, mas não se identifica com essas coisas. Se todos são chamados à santidade, é porque, devidamente compreendida, ela está ao alcance de todos, faz parte da normalidade da vida cristã. Os santos são como as flores: não existem só aqueles que são colocados no altar. Quantos deles desabrocham e morrem escondidos, depois de terem lançado silenciosamente seu perfume no ambiente. Quantas dessas flores escondidas floresceram e florescem continuamente na Igreja!







A motivação de fundo da santidade é clara desde o início e é que Deus é santo:





“Sede santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo” (Lv 19, 2).






A santidade é a síntese, na Bíblia, de todos os atributos de Deus. Isaías chama Deus de “o Santo de Israel”, aquele que Israel conheceu como o Santo. “Santo, santo, santo”, Qadosh, qadosh, qadosh, é o grito que acompanha a manifestação de Deus no momento do seu chamado (Is 6, 3). Maria reflete fielmente essa ideia de Deus dos profetas e dos Salmos, quando exclama no Magnificat: “Santo é o seu nome”.Quanto ao conteúdo da ideia de santidade, o termo bíblico qadosh sugere a ideia de separação, de diversidade. Deus é santo porque é o totalmente outro com relação a tudo o que o homem pode pensar, dizer ou fazer. É absoluto, no sentido etimológico de ab-solutus, solto de tudo e à parte. É o transcendente, no sentido de que está por acima de todas as nossas categorias. Tudo isso no sentido moral, antes mesmo que metafísico; diz respeito ao atuar de Deus e não só ao seu ser. Na Escritura define-se como “santos” principalmente os juízos de Deus, as suas obras e os seus caminhos.Contudo, santo não é um conceito principalmente negativo, que indica separação, ausência de mal e de mistura em Deus; é um conceito sumamente positivo. Indica uma “pura plenitude”. Em nós, a “plenitude” nunca se mistura totalmente com a “pureza”. Sempre conquistamos a nossa pureza, purificando-nos e tirando o mal das nossas ações (Is 1, 16). Em Deus não; pureza e plenitude coexistem e constituem juntas a suma simplicidade de Deus. A Bíblia expressa perfeitamente esta ideia de santidade quando fala que a Deus “nada pode ser acrescentado e nada tirado” (Sir 42, 21). Em quanto suma pureza, nada lhe deve ser tirado; em quanto suma plenitude, nada lhe pode ser acrescentado.Quando se procura entender como o homem entra na esfera da santidade de Deus e o que significa ser santo, logo prevalece, no Antigo Testamento, a ideia ritualística. Os trâmites da santidade de Deus são objetos, lugares, ritos, prescrições. Seções inteiras do Êxodo e do Levítico se intitulam “códigos de santidade” ou “lei de santidade”. A santidade está contida em um código de leis. É tal esta santidade que é profanada se alguém se aproxima do altar com uma deformidade física ou depois de ter tocado num animal imundo:





“santificai-vos e sede santos …não se contaminem com qualquer um destes animais” (Lev. 11, 44; 21, 23).






É possível ler diferentes vozes nos profetas e nos salmos. À pergunta; “Quem subirá o monte do Senhor, quem entrará em sua santa habitação?”, ou: “Quem dentre nós pode habitar com um fogo abrasador?”, responde-se com indicações requintadamente morais: “Quem tem mãos puras e inocente coração”, e “quem caminha na justiça e fala com lealdade” (cf. Sl 24, 3; Is 33, 14 s.). São vozes sublimes que, porém, permanecem isoladas. Ainda no tempo de Jesus, nos fariseus e em Qumram prevalece a ideia de que a santidade e a justiça consistem na pureza ritual e na observância de certos preceitos, especialmente o do Sábado, embora se, na teoria, ninguém esquece que o primeiro e maior mandamento é o do amor a Deus e ao próximo.








A novidade do chamado a santidade em Cristo



















Passando agora para o Novo Testamento, vemos que a definição de “nação santa” estende-se bem cedo aos cristãos. Para Paulo, os batizados são “santos por vocação”, ou “chamados a ser santos”. Ele designa habitualmente os batizados com o termo “os santos”. Os fieis são “escolhidos para ser santos e imaculados diante dele no amor” (Ef 1, 4). Mas sob a aparente identidade de terminologia vemos mudanças profundas. Santidade não é mais um fato ritual ou legal, mas moral, até mesmo ontológico. Não reside nas mãos, mas no coração; não se decide fora, mas dentro do homem e resume-se na caridade. “Não é o que entra pela boca que contamina o homem; o que sai da boca, isso contamina o homem “(Mt 15, 11).Os mediadores da santidade de Deus não são mais lugares (o templo de Jerusalém ou o monte Carizim), ritos, objetos e leis, mas é uma pessoa, Jesus Cristo. Ser santo não consiste tanto em um estar separado disto ou daquilo, mas em um estar unido a Jesus Cristo. Em Jesus Cristo está a própria santidade de Deus que nos alcança pessoalmente, não em uma luz distante dele. “Tu és o Santo de Deus!”: duas vezes ressoa esta exclamação dirigida a Jesus nos Evangelhos (Jo 6, 69; Lc 4, 34). O livro do Apocalipse chama Cristo simplesmente “O Santo” (Ap 3,7) e a liturgia ecoa exclamando no Glória “Tu solus Sanctus”, Só Tu és o Santo.Há duas maneiras de entrar em contato com a santidade de Cristo e esta é comunicada a nós: por apropriação e por imitação. Dessas, a mais importante é a primeira que se realiza na fé e por meio dos sacramentos. A santidade é, antes de mais nada, graça e é obra de toda a Trindade. Porque, de acordo com o Apóstolo, nós pertencemos a Cristo mais do que a nós mesmos (cf. 1 Cor 6, 19-20), segue-se que, inversamente, a santidade de Cristo nos pertence mais do que a nossa própria santidade.







“O que é de Cristo, escreve o teólogo bizantino Nicolau Cabasilas, é mais nosso do que aquilo que é nosso”






Essa é a ideia genial, ou ato corajoso, que temos que realizar na vida espiritual. A sua descoberta não se faz, geralmente, no começo, mas no final do próprio itinerário espiritual; não no noviciado, mas mais tarde, quando já se experimentou todas as outras estradas e vemos que não levam muito longe.Paulo nos ensina como fazer este “ato corajoso”, quando declara solenemente não querer ser encontrado com a sua própria justiça, ou santidade, resultante do cumprimento da lei, mas apenas com aquela que deriva da fé em Cristo (cf. Fl 3, 5-10). Cristo, diz, se tornou para nós “justiça, santificação e redenção” (1 Cor 1,30). “Para nós”: portanto, podemos exigir a sua santidade como nossa em todos os efeitos. Um ato corajoso é também o que faz São Bernardo, quando grita:







“eu, quando me falta, o aproprio (literalmente, o usurpo) do lado de Cristo”. “Usurpar” a santidade de Cristo, “arrebatar o reino dos céus”! Isso é ato corajoso que deve ser repetido muitas vezes na vida, especialmente, no momento da comunhão eucarística.







Dizer que nós participamos da santidade de Cristo, é como dizer que participamos do Espírito Santo que vem dele. Ser ou viver “em Cristo Jesus” equivale, para São Paulo, ser ou viver “no Espírito Santo”. “A partir disso, por sua vez, escreve São João, se reconhece que nós permanecemos nele e ele em nós: ele nos fez o dom do seu Espírito” (1 Jo 4, 13). Cristo permanece em nós e nós permanecemos em Cristo, graças ao Espírito Santo.É o Espírito Santo, portanto, que nos santifica. Não o Espírito Santo no geral, mas o Espírito Santo que foi em Jesus de Nazaré, que santificou a sua humanidade, que se recolheu nele como em um vaso de alabastro e que, da sua cruz e em Pentecostes, ele derramou sobre a Igreja. Por isso, a santidade que está em nós não é uma segunda e diferente santidade, mas é a mesma santidade de Cristo. Nós somos verdadeiramente “santificados em Cristo Jesus” (l Cor 1,2). Como no batismo, o corpo do homem está imerso e lavado na água, assim a sua alma é, por assim dizer, batizada na santidade de Cristo:







“Fostes lavados, fostes santificados, fostes justificados no nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus”, diz o Apóstolo referindo-se ao batismo (1 Cor 6,11).






Ao lado deste meio fundamental da fé e dos sacramentos, deve estar também a imitação, as obras, o esforço pessoal. Não como meio independente e diferente, mas como o único meio adequado de manifestar a fé, traduzindo-a em ato. A oposição fé – obras é um falso problema que se manteve por causa da controvérsia histórica. As boas obras, sem a fé, não são obras “boas” e a fé sem as obras boas não é verdadeira fé. Basta que por “obras boas” não se entendam principalmente (como infelizmente era no tempo de Lutero) indulgências, peregrinações e práticas piedosas, mas a observância dos mandamentos, especialmente o do amor fraterno. Jesus disse que no juízo final alguns serão excluídos do Reino por não terem vestido o nu e alimentado o faminto. Não há salvação, portanto, pelas obras boas, mas não há salvação sem as obras boas. Podemos resumir assim a doutrina do concílio de Trento.Acontece igual à vida física. A criança não pode fazer absolutamente nada para ser concebida no seio da mãe; precisa do amor dos pais (pelos menos foi assim até hoje). Uma vez que nasceu, deve fazer trabalhar os seus pulmões para respirar, sugar o leite; em suma, deve trabalhar, senão a vida que recebeu morre. A frase de São Tiago: “A fé, sem as obras é morta” (Tg 3, 26) deve ser entendida neste sentido, isto é, no presente: a fé sem as obras morre.No Novo Testamento, dois verbos são usados para referir-se à santidade, um no indicativo e um no imperativo: “Sois Santos”, “Sede santos”. Os cristãos são santificados e santificantes[9]. Quando Paulo escreve: “Esta é a vontade de Deus, a vossa santificação”, é claro que se refere justamente a esta santidade que é fruto de compromisso pessoal. Acrescenta, de fato, como para explicar em que consiste a santificação da qual está falando: “Que vos abstenhais da imodéstia, que cada um saiba manter o próprio corpo com santidade e respeito” (cf. 1 Ts 4: 3-9).O nosso texto da Lumen Gentium enfatiza claramente estes dois aspectos, um objetivo e outro subjetivo, da santidade, baseados respectivamente na fé e nas obras. Diz:







“Os seguidores de Cristo, chamados por Deus e justificados em Jesus Cristo, não segundo as suas obras, mas segundo o desenho e a graça Dele, no batismo da fé foram feitos realmente filhos de Deus e coparticipantes da natureza divina, e, por isso, realmente santos. Esses devem, portanto, com a ajuda de Deus, manter e aperfeiçoar, vivendo-a, a santidade que receberam”






Porque, de acordo com Lutero, a Idade Média tinha se desviado sempre mais para acentuar o lado de Cristo como modelo, e ele acentuou o outro, afirmando que ele é dom e que este dom corresponde à fé aceitar”. Hoje estamos todos de acordo que não se deve contrapor as duas coisas, mas mantê-las unidas. Cristo é, antes de mais nada, dom a ser recebido por meio da fé, mas é também modelo a ser imitado na vida. Ele próprio fala isso no Evangelho: “Eu vos dei o exemplo, para que façais como eu vos fiz (Jo 13, 15); “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração” (Mt 11, 29).








Santos ou fracassados?







Este é o ideal novo de santidade do Novo Testamento. Um ponto permanece inalterado, e é possível aprofundá-lo na passagem do Antigo ao Novo Testamento e é a motivação de fundo do chamado à santidade, o “porquê” é necessário ser santos: porque Deus é santo. “À imagem do santo que vos chamou, sede também vós santos”. Os discípulos de Cristo devem amar os inimigos, “para ser filhos do Pai celeste que faz chover sobre justos e sobre injustos” (Mt 5, 45). A santidade não é, portanto, uma imposição, um fardo que nos é colocado sobre os ombros, mas um privilégio, um dom, uma honra suprema. Uma obrigação, sim, mas que deriva da nossa dignidade de filhos de Deus. Aplica-se à ela, no sentido pleno, o ditado francês “noblesse oblige”.A santidade é exigida pelo próprio ser da criatura humana; não diz respeito aos acidentes, mas à sua própria essência. Ele deve ser santo para realizar a sua identidade profunda que é de ser “a imagem e semelhança de Deus”. Para a Escritura, o homem não é principalmente, como para a filosofia grega, o que é determinado a ser pelo seu nascimento (physis), ou seja, um “animal racional”, mas o que é chamado a se tornar, com o exercício da sua liberdade, na obediência a Deus. Não é tanto natureza, mas vocação.Se, portanto, somos “chamados a ser santos”, se somos “santos por vocação”, então fica claro que seremos pessoas verdadeiras, realizadas, na medida em que formos pessoas santas. Caso contrário, seremos pessoas fracassadas. O contrário de santo não é pecador, mas fracassado! Pode-se fracassar na vida de muitas formas, mas são fracassos relativos que não comprometem o essencial; aqui se fracassa radicalmente naquilo que se é, não só naquilo que se faz.Tinha razão Madre Teresa quando perguntada à queima roupa por uma jornalista o que ela sentia quando era aclamada santa por todo o mundo, respondeu: “A santidade não é um luxo, é uma necessidade”.O filósofo Pascal formulou o princípio das três ordens ou níveis de grandeza: a ordem dos corpos ou da matéria, a ordem da inteligência e a ordem da santidade:Uma distância quase infinita separa a ordem da inteligência da dos corpos, mas uma distância “infinitamente mais infinita” separa a ordem da santidade da ordem da inteligência. Os gênios não precisam das grandezas materiais; não podem tirar ou acrescentar nada a eles. Da mesma forma, os santos não precisam das grandezas intelectuais; a sua grandeza é de outra ordem. “Eles são vistos por Deus e pelos anjos, não pelos corpos e pelas mentes curiosas; basta-lhes Deus”.Este princípio permite avaliar da forma certa as coisas e as pessoas que nos rodeiam. A maioria das pessoas permanecem paradas no primeiro nível (material), e nem sequer suspeitam da existência de um plano superior. São aqueles que passam a vida preocupados só em acumular riquezas, cultivar a beleza física, ou aumentar o próprio poder. Outros acreditam que o valor supremo e o vértice da grandeza seja o da inteligência. Procuram se tornar célebres no campo das letras, da arte, do pensamento.Só poucos sabem que existe um terceiro nível de grandeza, a santidade. Esta grandeza é superior porque eterna, porque é tal aos olhos de Deus que é a verdadeira medida da grandeza e também porque realiza o que há de mais nobre no ser humano, ou seja, a sua liberdade. Não depende de nós nascermos fortes ou fracos, bonitos ou menos bonitos, ricos ou pobres, inteligentes ou pouco inteligentes; depende de nós, sim, sermos honestos ou desonestos, bons ou maus, santos ou pecadores. Tinha razão o musico Gounod, ele próprio um gênio, quando dizia que “um gota de santidade vale mais do que um oceano de gênios”.A boa notícia, sobre a santidade, é que não se é obrigado a escolher um destes três tipos de grandeza. Pode-se ser santos em cada um deles. Houve, e há santos entre os ricos e entre os pobres, entre os fortes e entre os fracos, entre os gênios e as pessoas sem cultura. Ninguém está excluído desta magnitude do terceiro nível.








Voltar ao caminho da santidade


















O nosso tender à santidade é semelhante ao caminho do povo eleito no deserto. Esse também é um caminho feito de contínuas paradas e partidas. De tanto em tanto o povo parava e acampava; ou porque estava cansado, ou porque tinha encontrado água e comida, ou simplesmente porque cansa caminhar sempre. Mas eis que chega de improviso a ordem do Senhor a Moisés de levantar as tendas e recomeçar a caminhada: “Levante, saia daqui, tu e o teu povo, rumo à terra que prometi” (Ex 15, 22; 17, 1).Na vida da Igreja, essas chamadas para voltar à caminhar são ouvidas, especialmente, no início dos tempos fortes do ano litúrgico ou por ocasiões particulares como é o jubileu da misericórdia divina aberto recentemente pelo Papa. Para cada um de nós, tomados individualmente, o tempo de levantar as tendas e recomeçarmos a caminhada rumo a santidade é quando nos damos conta, no íntimo, da misteriosa chamada que vem da graça. No começo, há como que um momento de parada. A pessoa para no turbilhão de suas ocupações, toma, como se costuma dizer, as distâncias de tudo para olhar a sua vida quase que de fora ou do alto, sub specie aeternitatis. Surgem, então, as grandes perguntas: “Quem sou? O que quero? O que estou fazendo da minha vida?” Embora fosse um monge, São Bernardo teve uma vida muito movimentada: concílios que presidiu, bispos e abades que reconciliou, cruzadas que pregou. De vez em quando, diz o seu biógrafo, ele parava e, quase entrando em diálogo consigo mesmo, se perguntava: “Bernardo, a que viestes?” (Bernarde, ad quid venisti?). Por que deixastes o mundo e entrastes no mosteiro? Nós podemos imitá-lo; pronunciar o nosso nome (também isso serve) e perguntar-nos: Por que es cristão? Por que es sacerdote ou religioso? Estás realizando aquilo pelo qual estás no mundo?







A CONVERSÃO DA MEDIOCRIDADE:







No Novo Testamento se descreve um tipo de conversão que poderíamos definir como a conversão-despertar, ou a conversão da mediocridade. No Apocalipse se leem sete cartas escritas aos anjos (segundo alguns exegetas aos bispos) de várias outras Igrejas da Ásia Menor. Na carta ao anjo de Éfeso, ele começa reconhecendo o que o destinatário fez de bom: “Conheço as tuas obras, o teu cansaço e a tua constância… És constante e tens sofrido muito pelo meu nome, sem cansar-te”. Depois passa a listar o que, pelo contrário, não lhe agrada: “Abandonastes o teu primeiro amor!”. E eis que, neste ponto, ressoa, como uma trombeta entre adormecidos, o grito do Ressuscitado: Metanòeson, ou seja, converte-te! Levanta-te! Sacode-te! (Ap 2, 1 ss.).Essa é a primeira das sete cartas. Muito mais severa é a última dessas, aquela dirigida ao anjo da Igreja de Laodiceia:






“Conheço as tuas obras: tu não eres nem frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente!”. Converte-te e volte a ser zeloso e fervoroso: Zeleue oun kai metanòeson! (Ap 3,15 ss). Também esta, como todas as outras, termina com aquele misterioso aviso: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (Ap 3, 22).







CONCLUSÃO:
















Santo Agostinho nos dá uma dica: começar a despertar em nós o desejo de santidade: “Toda a vida do bom cristão, escreve, consiste em um santo desejo [ou seja, em um desejo de santidade]: Tota vita christiani boni, sanctum desiderium est”. Jesus disse: “Bem aventurados aqueles que tem fome e sede de justiça, porque serão saciados” (Mt 5, 6). A justiça bíblica, se sabe, é a santidade. Nos deixamos, por isso, com uma pergunta para meditar:






“Eu tenho fome e sede de santidade, ou estou me contentando com a mediocridade?”







Algumas sentenças de Pascal extraídas do livro “ Pensamentos” – Edição: Livraria Morais Editora:







"A religião não é contrária à razão; Dois excessos: excluir a razão, ou só admitir a razão"



"Eu detesto igualmente o muito engraçado e o vaidoso: não me faria amigo nem de um nem de outro"



"É sem dúvida um mal, estar cheio de defeitos; mas ainda é um mal muito maior estar cheio e não os querer reconhecer"



"Dou por certo que se todos os homens soubessem o que dizem uns dos outros, não havia quatro amigos no mundo"



"A grandeza do homem é grande na medida em que ele se reconhece miserável. Uma árvore não se reconhece miserável"



"Não posso reconhecer o homem sem pensamento: seria uma pedra ou um animal"



"É o coração que sente Deus, e não a razão. Eis o que é a fé: Deus sensível ao coração, não à razão"



"Não conhecemos nem a existência nem a natureza de Deus, porque Ele não tem extensão nem limites, por isso se conclui que a verdade é maior que nossa inteligência que não consegue “apreender” Deus em sua plenitude"








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Neste Apostolado APOLOGÉTICO (de defesa da fé, conforme 1 Ped.3,15) promovemos a “EVANGELIZAÇÃO ANÔNIMA", pois neste serviço somos apenas o Jumentinho que leva Jesus e sua verdade aos Povos. Portanto toda honra e Glória é para Ele.Cristo disse-nos:Eu sou o caminho, a verdade e a vida e “ NINGUEM” vem ao Pai senão por mim" (João14, 6).Defendemos as verdade da fé contra os erros que, de fato, são sempre contra Deus.Cristo não tinha opiniões, tinha a verdade, a qual confiou a sua Igreja, ( Coluna e sustentáculo da verdade – Conf. I Tim 3,15) que deve zelar por ela até que Ele volte(1Tim 6,14).Deus é amor, e quem ama corrige, e a verdade é um exercício da caridade. Este Deus adocicado, meloso, ingênuo, e sentimentalóide, é invenção dos homens tementes da verdade, não é o Deus revelado por seu filho: Jesus Cristo.Por fim: “Não se opor ao erro é aprová-lo, não defender a verdade é nega-la” - ( Sto. Tomás de Aquino).Este apostolado tem interesse especial em Teologia, Política e Economia. A Economia e a Política são filhas da Filosofia que por sua vez é filha da Teologia que é a mãe de todas as ciências. “Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao vosso nome dai glória...” (Salmo 115,1)

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