Nova Direita, "às vezes chamada de Novas Direitas", é um
termo descritivo para várias políticas ou grupos associados à direita política.
Também foi usado para descrever o surgimento de
partidos da Europa Oriental após a dissolução da União Soviética e da chamada descomunização dos países que a integravam.
"Nova
Direita" por países:
1)-Nova Direita na Alemanha
Na
Alemanha, o Neue Rechte (literalmente, Nova Direita) consiste em duas partes:
os Jungkonservative ("jovens conservadores"), que procuram seguidores
entre a população mais conservadora, e os Nationalrevolutionäre
("revolucionários nacionais"), que procuram seguidores na
ultra-direita alemã. Outro grupo notável da Nova Direita na Alemanha é o Thule-Seminar de
Pierre Krebs.
2)- Nova Direita na Austrália
Na Austrália, o "Nova Direita" refere-se a um movimento das décadas de 1970/1980 tanto dentro como fora da Coalizão Liberal / Nacional, que defende políticas economicamente liberais e de políticas socialmente conservadoras (em oposição a "Velha Direita" que defendia políticas economicamente conservadoras e liberais com visões mais socialmente liberais). Ao contrário do Reino Unido e dos Estados Unidos, mas, como a vizinha Nova Zelândia, a década de 1980 viu o Partido Trabalhista Australiano iniciar reformas econômicas de terceira via, que têm alguma familiaridade com a ideologia da "Nova Direita". Depois que a coligação de John Howard foi vitoriosa encerrando 13 anos do governo do trabalhista Bob Hawke nas eleições federais de 1996, as reformas econômicas foram adotadas, alguns exemplos de desregulamentação do mercado de trabalho por (por exemplo, as reformas denominadas WorkChoices), a introdução de um imposto sobre bens e serviços (GST), a privatização do monopólio das telecomunicações (Telstra) e a reforma abrangente na assistência social, incluindo o work for the dole (emprego subsidiado). A H. R. Nicholls Society, um grupo de reflexão que defende a desregulamentação completa do local de trabalho, contém alguns deputados liberais como membros e é classificado como Nova Direita.O liberalismo econômico, também chamado de racionalismo econômico na Austrália, foi usado pela primeira vez pelo trabalhista Gough Whitlam. É uma filosofia que tende a defender uma economia de mercado livre, uma maior desregulamentação, privatização, menor tributação direta e maior tributação indireta e uma redução do tamanho do estado de bem-estar social. Os políticos que preferem a ideologia da Nova Direita foram chamados de dries ("secos"), enquanto aqueles que defendiam a continuação das políticas econômicas do consenso pós-guerra, tipicamente a economia keynesiana, ou eram mais socialmente liberais, eram chamados de wets ("molhados" - termo que foi similarmente usado na Grã-Bretanha para se referir aos conservadores que opuseram-se às políticas econômicas Thatcheristas, mas "secos" neste contexto era muito mais raro no uso britânico).
3)- Nova Direita no Brasil
A Nova Direita brasileira cresceu acentuadamente nos últimos anos dentro da população, intelectualidade, e academia. Isto se deve, principalmente, a um desapontamento generalizado com o governo da esquerda e suas políticas desastrosas. Também, por causa de uma cultura que veio se formando nos últimos anos no Brasil através do mercado de bens simbólicos, identificado com o politicamente incorreto. Este novo movimento distingue-se do que é conhecido no Brasil como "velha direita", que foi associada ideologicamente ao governo militar brasileiro, à UDN e ao integralismo.
É identificado por pontos de vista positivos sobre democracia, liberdade individual, capitalismo de livre mercado, redução da burocracia, privatização de empresas estatais, cortes de impostos, reformas políticas e parlamentares. Ele rejeita o "marxismo cultural", o socialismo do século XXI, o populismo, e o gramscismo.
Houve dois fenômenos principais relacionados ao surgimento do nova direita brasileira:
1º) -O Movimento Brasil Livre (M.B.L) e Vem pra Rua que conseguiram reunir milhões de pessoas em manifestações contra o governo em março de 2015.
2º) -E a criação do "Partido Novo e Libertários", o primeiro partido liberal desde a Primeira República Brasileira.
Alguns dos "pensadores da Nova Direita brasileira" são:
-Paulo Francis,
-Roberto Campos,
-Padre Paulo Ricardo,
-Rodrigo Constantino (segundo eles mesmos),
-Olavo de Carvalho,
-Kim Kataguiri (segundo o site Diplomatique, do Le Monde),
-Danilo Gentili (segundo o Estadão),
-Luiz Felipe Pondé,
-José Guilherme Merquior,
-Bruno Tolentino,
-Miguel Reale.
4)- Nova Direita no Chile
O termo "Nueva Derecha" entrou no discurso político
principal desde a eleição de Sebastián Piñera em 2010, quando o ministro do
interior, Rodrigo Hinzpeter, usou-o para descrever seu governo. A introdução do
termo por Hinzpeter repercutiu entre jornais, políticos e analistas. De acordo com uma coluna publicada no The Clinic, "a Nova
Direita é completamente diferente da antiga direita ditatorial de Augusto
Pinochet, no sentido de que abraça a democracia".Também é diferente do
partido religioso conservador Unión Demócrata Independiente, na medida em que é
mais aberto a discutir questões como o divórcio. De acordo com a mesma análise, a Nova Direita está se tornando
cada vez mais pragmática, como demonstrado pela sua decisão de aumentar os
impostos após o terremoto no Chile em 2010.
5)- Nova Direita na Coreia do Sul
Na Coreia do Sul, o movimento Nova Direita é uma tentativa coreana de política neo-conservadora. O governo de Lee Myung-bak e o conservador Partido Coreia Liberdade, é conhecido por ser um benfeitor do movimento doméstico da Nova Direita.
6)- Nova Direita nos Estados Unidos
Nos Estados Unidos, "New Right" refere-se a três movimentos políticos conservadores historicamente distintos.Estas "novas direitas" americanas são distintas e opostas à tradição mais moderada dos chamados "republicanos Rockefeller". A Nova Direita também difere da Velha Direita (1933-1955) sobre questões relativas à política externa, com os neoconservadores opostos ao não intervencionismo da Velha Direita.
I - Primeiro
movimento nos E.U.A
A
primeira New Right (1955-1964) foi centrada em torno dos libertários,
tradicionalistas e anticomunistas no National Review de William F. Buckley Jr.
Sociólogos e jornalistas usaram o termo "Nova Direita" desde a década
de 1950; foi usado pela primeira vez como auto-identificação em 1962 pelo grupo
ativista estudantil "Young Americans for Freedom". O primeiro
movimento New Right abraçou o "fusionismo" (economia liberal
clássica, valores sociais tradicionais e um ardente anticomunismo), e reuniu-se
através da organização de base nos anos anteriores à campanha presidencial de
Barry Goldwater em 1964. A campanha de Goldwater, apesar de não vencer o
presidente interino, Lyndon B. Johnson, galvanizou a formação de um novo
movimento político.
II - Segundo
movimento
O "segundo New Right (1964 até o presente)" foi formado
na sequência da campanha Goldwater e teve um tom mais populista do que o
primeiro New Right. A segunda Nova Direita tende a se concentrar em questões
sociais e soberania nacional (como os tratados Torrijos-Carter) e muitas vezes
foi associada com a direita cristã. A segundo New Right
formou uma abordagem política e um aparelho eleitoral que levou Ronald Reagan à
Casa Branca na eleição presidencial de 1980. A New Right foi organizada no
American Enterprise Institute e Heritage Foundation para combater o
establishment liberal do EUA. Em Think Tanks de
elite e organizações comunitárias locais, novas políticas, estratégias de
marketing e estratégias eleitorais foram criadas nas últimas décadas para
promover políticas fortemente conservadoras. Foi ignorado pelos estudiosos até
o final da década de 1980, mas a formação da Nova Direita é agora uma das áreas
de pesquisa histórica em mais rápido crescimento.
III - Terceiro
movimento
Desde 2014, o termo "Nova
Direita" tem sido usado algumas vezes para descrever um grupo de jovens
conservadores, libertários de direita, liberais clássicos, nacionalistas e
apoiadores do presidente, Donald Trump. Esse surgimento veio em reação a um
aumento do progressismo social, às políticas da presidência Obama, à cultura
politicamente correta e à falta de faculdades acadêmicas conservadoras,
pós-modernismo e valores de extrema-esquerda na cultura popular, preconceito
liberal na mídia mainstream e o surgimento do socialismo democrático e do
globalismo. Esta terceira onda da nova direita
não rejeita nem aceita completamente as visões da direita alternativa,
incluindo suas visões racistas, antissemitas, homofóbicas e misóginas. As
crenças compartilhadas por seus membros incluem a liberdade de expressão, a eliminação
das políticas identitárias e do tokenismo, o debate aberto de todos os lados do
espectro político, o livre mercado, a defesa dos direitos da Constituição dos
EUA e uma firme crença no Estado-nação.
Figuras
do terceiro movimento
7)- Nova Direita na França
Na França, a "Nouvelle Droite" tem sido usada como um termo para descrever um grupo de reflexão moderno de filósofos e intelectuais políticos franceses liderados por Alain de Benoist. Outro intelectual notável, que já faz parte da GRECE de Alain de Benoist, é Guillaume Faye.
Apesar de serem acusados por alguns
críticos como sendo de "extrema direita" em suas crenças, eles
afirmam que suas idéias transcendem a divisão tradicional esquerda-direita e
encorajam ativamente o livre debate. A França também possui um grupo
identificado com a Nova Direita (relacionado com o Thule-Seminar da Alemanha);
que é o "Terre et Peuple de Pierre Vial", que já foi parte integrante e membro
fundador da GRECE de Alain de Benoist.
8)- Nova Direita na Grécia
Failos Kranidiotis, um político grego que havia sido expulso do Nova Democracia pelo presidente Kyriákos Mitsotákis, por expressar visões mais semelhantes aos do rival Aurora Dourada do que as do ex-primeiro-ministro da Grécia, Konstantínos Mitsotákis, cujo legado expressava o princípio mais importante de sua liderança recentemente eleita, incluindo Adonis Georgiadis que tinha sido membro desde que deixou o Concentração Popular Ortodoxa de extrema direita em 2012, em vez daqueles expressos pelos chefes anteriores do partido que tinham amizades próximas com ele, especificamente Kostas Karamanlís, Antónis Samarás e Vangelis Meimarakis, fundaram o partido Nova Direita baseado no nacional-liberalismo em Maio de 2016.
9)- Nova Direita na Holanda
O
Nieuw Rechts (NR) foi o nome de um partido político de extrema-direita /
nacionalista na Holanda de 2003 a 2007. O Partij voor de Vrijheid (PVV -
"partido da liberdade"), fundado em 2005 e liderado por Geert
Wilders, também é um movimento de Nova Direita. Desde Março de 2017, o
Forum voor Democratie (FvD) é outro novo partido de direita no Parlamento.
10)- Nova Direita no Irã
No Irã, a Nova Direita e o termo "Direita Moderna" (em persa: راست مدرن) estão associados ao Kargozaran ("Partido dos Executores da Construção"), que se separou da "direita tradicional".
11)- Nova Direita em Israel
Nova
Direita (hebraico: הימין
החדש, HaYamin HeHadash) é um partido político
de direita em Israel, fundado em 2018 e liderado por Ayelet Shaked e Naftali
Bennett, que pretende ser aberto a pessoas seculares e religiosas. O
partido defende a preservação de uma direita forte em Israel.
12)- Nova Direita na Itália
Nas origens do "eco italiano das ideias do movimento francês" pode ser considerado um artigo de Stenio Solinas, publicado no jornal Roma em Nápoles, em 21 de Junho de 1977. Nesta ocasião, Solinas propõe o retrato do novo militante de direita: "O retrato de uma juventude decididamente revolucionária, que se incomoda com o binômio ordem-legalidade; que tem mais com o sistema do que com o comunismo; que sonha com uma limpeza geral, mas sabe, no final, que todas as revoluções são traídas...São pessoas que escolheram Corneliu Zelea Codreanu e Julius Evola como mestres, os antigos códigos de honra e o gosto pela intransigência; que estima Pierre Drieu La Rochelle porque com seu suicídio honrou uma assinatura, e Ezra Pound porque com seu silêncio desprezou o mundo." É por isso que, continua Solinas, "na rejeição de uma época e de uma mentalidade, de um regime e de um sistema, eles estão muito mais próximos das franjas do Indiani metropolitani (ver: Movimento do '77) do que pensam: em outros há o mesmo sentimento de desamparo, a mesmo clima de marginalização, a mesma consciência de guetização. O mundo da juventude é um barril de pólvora e o esquadrão antibomba pode chegar de qualquer lugar."O movimento, desde o final dos anos setenta, tomou iniciativas inicialmente destinadas a rejuvenescer a cultura da extrema-direita (Marco Tarchi foi líder até 1981 no Movimento Social Italiano-Direita Nacional e esteve entre os primeiros a promover o uso desse termo, simétrico àquele de extrema-esquerda, em comparação com a definição então comum de "extrema-direita"), para então "abandonar definitivamente o neofascismo" e buscar novas sínteses culturais que pudessem ir além dos limites do conceito de direita política em geral. A relativa experiência foi declarada oficialmente concluída pelo Cientista político Marco Tarchi em 1994, após quase vinte anos de existência em que animou algumas reuniões e publicações.
13)- Nova Direita na Nova Zelândia
Na Nova Zelândia, como na Austrália, foi o Partido Trabalhista que inicialmente adotou as políticas econômicas da "Nova Direita", ao mesmo tempo em que prosseguiu com posições sociais liberais, como a descriminalização da homossexualidade masculina, a igualdade de remuneração para as mulheres e a adoção de uma política sem armas nucleares. Isso significou um realinhamento temporário na política da Nova Zelândia, pois os eleitores da classe média da "Nova Direita" votaram nos trabalhistas nas eleições gerais da Nova Zelândia de 1987, em aprovação por suas políticas econômicas. No início, os trabalhistas incorporaram muitos departamentos governamentais e ativos estatais, emulando o governo conservador de Margaret Thatcher e os privatizou completamente durante o segundo mandato do Partido Trabalhista. No entanto, a recessão e a privatização resultaram em tensões crescentes no Partido Trabalhista, que levaram ao cisma, e a saída de Jim Anderton e a fundação de seu NewLabour Party, que mais tarde fez parte do Alliance com os Verdes e outros opositores da política econômica da Nova Direita. No entanto, a dissidência e o cisma não se limitaram apenas ao Partido Trabalhista e ao Alliance. Durante o segundo mandato do Partido Trabalhista, o opositor Partido Nacional da Nova Zelândia (popularmente conhecido como "Nacional") selecionou Ruth Richardson como porta-voz de finanças da oposição e, quando o Nacional ganhou as eleições gerais de 1990, Richardson tornou-se ministra das finanças, enquanto Jenny Shipley tornou-se ministro da previdência social. Richardson introduziu a legislação de dessindicalização, conhecida como Lei de Contratos de Emprego, em 1991, enquanto Shipley promoveu cortes de benefícios sociais, destinados a reduzir a "dependência do estado bem-estar" - ambas as principais iniciativas políticas da Nova Direita. No início dos anos 1990, o deputado nacional rebelde Winston Peters também opôs-se às políticas econômicas da New Right e levou seu antigo bloco de votação para fora do Partido Nacional. Como resultado, seu partido o anti-monetarista Nova Zelândia Primeiro tornou-se um parceiro de coalizão tanto para os governos de coalizão liderados pelo governo nacional (1996-98) como para os trabalhistas (2005-08). Devido à introdução do sistema eleitoral de representação proporcional mista, um novo partido de "associação de consumidores e contribuintes" (ACT Nova Zelândia), foi formado por ex trabalhistas aliados da Nova Direita, como Richard Prebble e outros, e mantendo as iniciativas da política econômica da Nova Direita, tais como o contratos de trabalho, ao mesmo tempo em que introduziram "reformas do bem-estar social" de estilo estadounidense. O ACT aspirou a se tornar o parceiro da coalizão de centro-direita do país, o que foi dificultado pela falta de unidade partidária e liderança populista a quem muitas vezes faltou direção estratégica.Quanto aos trabalhistas e o "Nacional", seus destinos estavam entrelaçados. Os trabalhistas ficaram sem cargos durante a maior parte dos anos 1990, apenas recuperando o poder quando Helen Clark levou a vitória numa coalizão do Partido Trabalhista / Alliance e do governo de centro-esquerda (1999-2002). No entanto, esta aliança desintegrou-se em 2002. O Nacional foi derrotado em 1999 devido à ausência de um parceiro de coalizão adequado e estável, desde a desintegração parcial do Nova Zelândia Primeiro, depois que Winston Peters abandonou a coalizão nacional anterior. Quando Bill English assumiu o "Nacional", pensou-se que ele poderia levar a oposição para longe das políticas econômicas e sociais anteriores de linha dura da New Right, mas sua indecisão e falta de direção política firme levaram a ACT Nova Zelândia a ganhar votos dos eleitores classe média de Nova Direita em 2002. Quando Don Brash assumiu o cargo, tais eleitores retornaram ao seio do Nacional, causando seu ressurgimento nas eleições gerais da Nova Zelândia de 2005. No entanto, ao mesmo tempo, o ACT Nova Zelândia criticou fortemente por se desviar das suas primeiras perspectivas de política econômica da New Right, e na mesma eleição, o Nacional fez pouco para permitir a sobrevivência do ACT. Don Brash renunciou como líder do partido nacional, sendo substituído por John Key, visto como mais moderado.Quanto à centro-esquerda, Helen Clark e sua coalizão liderada pelo Partido Trabalhista foram criticados pelos ex-membros do Alliance e por organizações não governamentais por sua alegada falta de atenção às políticas sociais de centro-esquerda, enquanto a afiliação sindical se recuperou devido a revogação da Lei de Contratos de Emprego de 1991 e desregulamentação do mercado de trabalho e a dessindicalização que a acompanhou nos anos 1990. É plausível que Clark e seu gabinete tenham sido influenciados por Tony Blair e seu governo trabalhista britânico, que prossegue um equilíbrio entre a responsabilidade social e fiscal no governo.
14)- Nova Direita na Polônia
Na
Polônia, o libertário conservador e eurocético Kongres
Nowej Prawicy ("Congresso da Nova Direita") foi fundado em 25 de
Março de 2011 com a fusão dos antigos partidos Wolność i Praworządność
("Liberdade e Legalidade" - WiP) e Unia Polityki Realnej ("União
da Política Real" - UPR) por Janusz Korwin-Mikke. É apoiado por eleitores
desapontados, alguns conservadores, incluindo pessoas que querem legalizar a maconha e os
cidadãos que endossam o mercado livre e o capitalismo.
15)- Nova Direita no Reino Unido
No Reino Unido, o termo "New Right" refere-se mais especificamente a uma vertente do conservadorismo influenciado por Margaret Thatcher e Ronald Reagan. O estilo de ideologia New Right de Thatcher, conhecido como "thatcherismo", foi fortemente influenciado pelo trabalho de Friedrich Hayek (em particular o livro O Caminho da Servidão).
Eles estavam ideologicamente comprometidos com uma versão econômica do libertarianismo, além de serem socialmente conservadores. As principais políticas incluíram a desregulamentação dos negócios, o desmantelamento do Estado de bem-estar social, a privatização das empresas estatais e a reestruturação da força de trabalho nacional, a fim de aumentar a flexibilidade industrial e econômica em um mercado cada vez mais global.
Fonte:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Nova_Direita#Brasil
A "nova direita reflete uma sinergia entre modernidade e conservadorismo" - Entrevista especial com *Carlos A. Gadea
Por: Patricia Fachin
*Carlos A. Gadea é graduado em História pelo Instituto de Professores Artigas - IPA, no Uruguai, mestre e doutor em Sociologia Política pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Realizou pós-doutorado na Universidade de Miami, nos EUA, e foi professor visitante na Universidade de Leipzig, na Alemanha e na Faculdade de Ciências Políticas e Sociais da Universidade Nacional Autônoma do México - UNAM, no México. Atualmente leciona no Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais da Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos.
Muito
mais do que uma mudança política, a emergência “de uma nova onda de supostos
governos de direita” sinaliza que está em curso uma “mudança
cultural” caracterizada pela “sinergia” entre modernidade e conservadorismo,
afirma Carlos A. Gadea à IHU On-Line. Um dos traços que indica
essa mudança, menciona, é a “renovação da esfera privada como âmbito
privilegiado da vida cotidiana”. Segundo o pesquisador, embora a nova direita
torne público muitos dramas privados, ela vai “à esfera pública para reivindicar
a esfera privada, para assinalar que no seu retorno é possível achar as
fórmulas que corrigiriam os desvios sociais e culturais desta acelerada,
flexível, volátil e banalizada vida contemporânea”. Trata-se,
portanto, “de uma discussão sobre os contornos da esfera pública e a esfera
privada, sobre seus diferentes pesos na vida individual e social, e em
definitivo, sobre o contraproducente efeito cultural de politizar a vida
cotidiana”, explica. Na avaliação de Gadea, a “nova direita” não se
encaixa num “compêndio de ideologias correspondentes a uma metanarrativa
clara”, porque “os jovens da ‘nova direita’ podem até criticar o
neoliberalismo, mas são contra o aborto”. Já para alguém de esquerda,
menciona, “criticar o neoliberalismo e estar a favor do aborto faz parte de uma
coerência ideológica surgida de uma interpretação dos fatos econômicos e
culturais como estritamente entrelaçados. Não existe autonomia entre as
esferas, e se tratando destes casos concretos, o neoliberalismo e o direito ao
aborto se inscrevem numa narrativa que teriam como matriz o chamado patriarcado
e o machismo”. Entretanto, adverte, “as esferas têm se autonomizado cada vez
mais, e o que em algum aspecto um indivíduo se pode compreender progressista ou
de esquerda, em outro pode confessar ser conservador”. Apesar das
diferenças que separam esquerda e direita, comenta, ambas têm como tema
prioritário “o retorno aos princípios do universalismo”, com a diferença de que
para a nova esquerda, “a secularização da sociedade e o pragmatismo são o
combustível para a reconquista da res-pública”. Já a
“nova direita”, pontua, “tem nos valores morais e na religião sua nova
teleologia; para a suposta ‘nova esquerda’, o gesto pós-moderno e pragmático de
contínua secularização da vida social é algo inegociável, empreendendo um
grande desafio: derrubar as energias populistas do passado. No entanto, esta
‘nova direita’ e ‘nova esquerda’ se encontram pelos corredores da grande babel
que habitamos”.
Na entrevista a seguir, concedida por e-mail, Gadea também compara as diferenças entre a velha e a nova direita brasileira, e menciona as mudanças políticas e culturais que levaram à eleição de Jair Bolsonaro no país. Confira as melhores partes da entrevista:
1)-IHU
On-Line - Hoje muitos analistas afirmam que há uma nova onda de governos de
direita em vários países do mundo, inclusive na América Latina. O senhor
concorda com esse tipo de análise, ou o fenômeno político que se observa hoje é
de outro tipo?
Carlos A.
Gadea - O que se observa como nova onda de supostos governos de direita
reflete, na realidade, uma mudança cultural em curso, e é isso o que é
verdadeiramente significativo. Mudança cultural que, inclusive, compreende-se
melhor se a observamos no seu devido contexto: por exemplo, não se podem
considerar culturas de países tão diferentes como França, Polônia, Áustria,
Hungria, Argentina ou Chile passíveis de expressar uma direita política
homogênea e sintomática de uma “nova onda”, uma direita organizada e com
ideologia plenamente elaborada. Enquanto alguns europeus
estão contrariados com a imigração, a União Europeia e a “liberação dos costumes”,
a suposta direita na América Latina se debate em uma série de preocupações
muito próprias das suas histórias políticas recentes (corrupção, papel do
Estado, direitos humanos, crise econômica), seus desafios institucionais e as
novas agendas identitárias. Não há uma única direita política: aos tradicionais
partidos políticos liberais e conservadores têm que acrescentar o embalo da
sedução dos populismos recentes, tanto na Europa ocidental como oriental, na
América Latina e nos Estados Unidos, e cuja marca que distingue a sua
expressividade particular depende dos acontecimentos políticos das últimas
décadas em cada país ou região.
Não
me parece convincente diagnosticar que estes governos, supostamente de direita,
estejam inseridos numa “nova onda” política, ou como exemplos de um novo ciclo
político que estaria se iniciando – Carlos Gadea
O presidente Maurício Macri, da Argentina, não é análogo, na sua postura ideológica e condução de governo com o presidente da França, Emmanuel Macron. Nem sequer emergiram de contextos políticos prévios parecidos. Por outro lado, na base demográfica do surgimento cultural e político de grupos de direita na Europa se encontra a Igreja Católica, com suas recentes variantes “carismáticas”, enquanto na América Latina o protagonismo desta suposta “nova onda” tem nas igrejas neopentecostais e neo-evangélicas um eixo de aglutinação importante. Não me parece convincente diagnosticar que estes governos, supostamente de direita, estejam inseridos numa “nova onda” política, ou como exemplos de um novo ciclo político que estaria se iniciando. Parece-me que a situação é menos orgânica, e melhor entendida como próprio de reações pontuais e contextuais a um ciclo político e cultural que lhe precedeu, seja ao chamado “progressismo” latino-americano ou a um tipo de socialdemocracia europeia, pró-globalização e multiculturalista que, inclusive, pareceu angustiar as camadas populares pela primeira vez. Digamos que três fatores precipitaram o triunfo eleitoral destas posições políticas “não de esquerda”, de direita ou de centro-direita, nos últimos anos:
-Em primeiro lugar, o desgaste da imagem dos chamados governos “progressistas” e de um tipo de socialdemocracia europeia.
-Logo, a confiança que despertaram no eleitorado para a resolução das diversas crises apresentadas.
-E, por último, uma inserção no debate entre o público e o
privado que embaralhou o tabuleiro cultural constituído até o momento, e que
conseguiu ter certo apelo entre as "maiorias silenciosas" urbanas.
2)-IHU
On-Line - Em geral, existe alguma diferença entre o que se classifica de
“direita” e “nova direita” nos dias de hoje?
Carlos
A. Gadea - Sim, e bastante! O que todo mundo chama de “direita” se sustenta no
imaginário social do que representou a implementação das chamadas políticas
neoliberais na região, a redução do gasto público, redução das funções do
Estado, e como aquilo que se contrapôs, de maneira clara, à esquerda política, sua
antítese, esta como instituída na defensora dos mais pobres e vulneráveis, da
ampliação das políticas sociais, de um Estado capaz de atuar em áreas vitais
para o desenvolvimento de um país. No entanto, esta distinção, na prática,
ficou cada vez mais nebulosa. Acontece que muitos dos governos ditos de
esquerda deram continuidade às políticas neoliberais que tanto criticaram dos
anos 1980 e 1990, implementando, inclusive, a prática laboral da
“terceirização” de algumas funções da máquina pública, realizando ajustes
fiscais e reduzindo investimentos em áreas sociais importantes em momentos de
retração da economia, logo após do pouco rigor na sustentabilidade do modelo
político e econômico levado adiante. Sem contar que, em ocasiões, conseguiu
favorecer os grandes grupos de empresários nacionais e internacionais, bem como
aos bancos privados, enquanto os mais pobres estavam perdendo capacidade de
consumo e espaços sociais. Políticas compensatórias de redução ou contenção da
pobreza resultaram ineficientes no decorrer do tempo, quando, por exemplo,
aquela fórmula clássica que relaciona pobreza à violência urbana se viu
questionada pela força dos fatos: a violência e a insegurança bateram na porta,
também, nas periferias. Aliás, a insegurança e a violência se tornaram
preocupações centrais tanto nas classes medias como entre os que residem nas
periferias urbanas. Bom lembrar que o esgotamento do ciclo “progressista” se
deu por uma virada no destino econômico da região. A queda do preço das
matérias primas terminaria afetando diretamente a folga orçamentária que
permitiu financiar políticas públicas e subsídios, levando, em ocasiões, a
práticas de deliberado clientelismo político, como no caso da Argentina sob os
governos dos Kirchner.
A
“nova direita” diz respeito a uma nova identidade individualista e global, com
preocupações tanto religiosas quanto ecológicas, sobre o “cuidado de si mesmo”
– Carlos Gadea
Neste cenário, a “direita” era definida como própria dos “neoliberais”, mas também da truculência das figuras do poder político e econômico real do meio rural, definidos ora como de direita, ora como conservadores, ora como neoliberais.
A “direita” era também apelidada de “classista”, ao serviço das classes altas e detentoras do poder econômico; que desconversa quando o assunto é tratar justiça social, direitos iguais, solidariedade. No entanto, muitas coisas parecem ter mudado neste universo político e cultural, já que esta “direita” ou não parece existir mais, ou se metamorfoseou ou se misturou com novos elementos políticos e sociais. Interessante considerar que, nos anos 1980 e 1990 não vivíamos o impacto das novas tecnologias como são hoje vividas, e isso trouxe uma grande diferença também no momento de compreender o que mudou a respeito. A modernidade da esquerda política ficou para trás. Deixou de ser a vanguarda ética e estética.
Refiro-me a uma esquerda suicida, que foi capaz, no passado, de lutar com valentia contra os regimes militares, pela defesa dos direitos humanos e as liberdades democráticas, mas que hoje comete a imoralidade de ser cúmplice com as atrocidades que se cometem na Venezuela e na Nicarágua. Esquerda que insiste na retórica beligerante e de polarização da sociedade, que faz lembrar as épocas da Guerra Fria, da constituição de um cenário do “nós” contra “eles”. A esquerda que ainda acredita, inclusive, que a pobreza e a deterioração da sociedade cubana é o resultado de “bloqueios econômicos” e não da sua falta de liberdades em todos os sentidos.
A esquerda épica, do espírito moderno e a modernidade, transformou-se em caricatura dela mesma. Concordo, neste sentido, com Mark Lilla quando afirma que “a esquerda tem o velho e mau costume de subestimar seus adversários e explicar as ideias deles como simples camuflagem para atitudes e paixões desprezíveis”. Esta descrição resulta importante porque não se pode compreender “do nada” o que hoje se observa como suposta “nova direita” emergindo em diferentes cenários mundiais.
Como contraponto, esta suposta “nova direita” traz a aparência de modernidade, ao se apropriar do discurso do novo, do que está “por vir”. Discurso que transita mais claramente, em certo aspecto, por vias do estético: entre os jovens, parece haver uma substituição daquelas vestimentas tradicionais das classes médias-altas e altas para uma nova densidade estética exemplificada, por exemplo, na proliferação de tatuagens e piercings em muitos dos seus aderentes, contrastando com a imagem austera ou “careta” de tempo atrás. Exemplos deste “afrouxamento” no estilo de vida e estético pode se encontrar na figura da primeira deputada transexual na história da Assembleia Nacional da Venezuela, Tamara Adrián, do setor “Voluntad Popular”, quando bem se sabe que tem sido sempre a esquerda política quem levantava a bandeira da diversidade sexual. Uma deputada transexual opositora ao chavismo é tudo o que a esquerda tradicional não consegue digerir pacientemente. E exemplos semelhantes não faltam.
Certamente,
estamos perante uma “terceira via” da direita política e cultural – Carlos
Gadea
Esta suposta modernidade está conduzida, inclusive, pelo domínio da linguagem digital e o manejo das redes sociais virtuais. A “nova direita”, também, acompanha de perto o destino da sociedade norte-americana, resgatando desse heterogêneo país a glorificação do trabalho e do esforço individual, a “herança de meritocracia” que o constituiu, abandonando a retórica passada do latino-americanismo como aquilo que permitiria a construção de um espaço de pertencimento a um destino comum. Deixa-se de escutar Mercedes Sosa, a música popular com flautas do altiplano boliviano, a música de apelo “ao povo” como entidade inserida no metarrelato da esquerda dos anos 1960 e 1970. Galeano e suas “veias abertas da América Latina” deixaram de ser leitura de culto desde o mesmo instante em que o próprio Galeano falou:
“Eu não seria capaz de reler esse livro; cairia dormindo. Para mim, essa prosa de esquerda tradicional é extremamente árida, e meu físico já não a tolera”. Novos filmes de culto parecem próprios dessa “nova direita”, aqueles cujas temáticas se centram numa espécie de glorificação do conceito de “self-made man”, do sucesso que se alcança por méritos próprios, filmes que ressignificam os valores familiares e da amizade, da entrega patriótica, filmes em que a nostalgia por tempos passados remetem a valores morais mais fortes e estáveis, à vida comunitária e segura que se percebe perdida. Filmes que materializariam uma “nova virada afetiva”, mais intimistas, apelativos da simplicidade da vida cotidiana, sem grandes pretensões existenciais. Paralelo a isto, a “nova direita” diz respeito a uma nova identidade individualista e global, com preocupações tanto religiosas quanto ecológicas, sobre o “cuidado de si mesmo”. Trata-se de cidadãos de hábitos saudáveis, que praticam esportes e têm uma posição crítica perante o consumo de drogas. Olham de maneira positiva a revalorização do cotidiano e o “normal”, a vida familiar e o encontro em espaços reservados, a sociabilidade, no respeito a individualidade de cada um.
Isto parece ser, ao mesmo tempo, um gesto de reserva perante o que representou uma exaltação da política por parte da cultura hegemônica de esquerda nas duas décadas passadas. Diminuindo a centralidade da política na cotidianidade, emerge uma modernidade conservadora (desculpas pelo eventual paradoxo) de relaxamento individual, resposta ao sacrifício totalizante (emoldurado como coletivista) do modelo anterior. Mas esta “nova direita” é eclética. Como bem Mark Lilla considera, um conservadorismo de novo tipo é elemento constitutivo fundamental, na política e na cultura, desta nova sensibilidade política, conservadorismo que critica duramente a fluidez excessiva da vida tanto em suas formas neoliberal como cosmopolita, não importando se você está numa grande metrópole ou em um pequeno centro urbano. Assim, se autocritica, desde as injustiças impostas pelo capitalismo selvagem e suas consequentes desordens sociais: a inevitável migração, o desemprego, a contaminação, o crescimento dos divórcios, o aborto, a morte entre jovens pelo uso de drogas. Em definitivo, modernidade e conservadorismo entram em sinergia. Eclética e híbrida, rural e urbana, religiosa e com tatuagens, pluriclassista e inter-racial.
Mas se observa, também, uma direita política nos moldes dos conflitos típicos do século XX, e que por momentos parece se apresentar como “nova”. Refiro-me a uma tendência cultural visivelmente crescente que ressalta também, os princípios políticos e ideológicos do nazismo e o fascismo, com seu cardápio de novos bodes expiatórios: os migrantes, os muçulmanos, os negros, os latinos, as feministas, e por aí vai. Estes grupos são definidos como “inimigos íntimos”, como vizinhos próximos que estariam gerando a fratura social e cultural da Europa, da civilização moderna e ocidental. Se a compreendemos, então, como “nova direita”, certamente não se pode inscrever, tão facilmente, no decálogo acima, na medida em que parece ser definida como uma reação mesma à própria modernidade de uma “nova direita” verdadeiramente eclética.
Esta tendência cultural, de jovens carecas que lembram os skinheads, manifesta uma forte organicidade, um sentido de grupo e comunitário claro. Muito mais do que o conteúdo ideológico que os movimenta, a forma da sua sociabilidade chama a atenção, pois se apresenta como uma espécie de encapsulamento e estratégia mobilizatória de microgrupo, em procura da reserva, da proteção de estar entre iguais. Não é de suspeitar que estes grupos tenham surgido com mais força na Europa do Leste, em países do antigo mundo socialista. Na cidade de Dresden, no sul da Alemanha, por exemplo, é onde se concentra um número importante de grupos neonazistas; Dresden, a conhecida “cidade da inocência” em épocas da Alemanha Oriental.
3)- IHU
On-Line - No artigo “Dois caminhos para a direita francesa”, publicado
recentemente na revista Piauí, Mark Lilla apresenta a nova direita francesa
como uma terceira via à esquerda e à direita tradicional, e aponta semelhanças
entre o pensamento dos novos intelectuais de direita franceses com a doutrina
social da Igreja. Como avalia essa nova direita? Em que aspectos ela se
apresenta como uma terceira via?
Carlos A. Gadea - Nesse artigo Mark Lilla consegue dimensionar muito bem o fenômeno político e cultural dessa “nova direita”, e o faz trazendo para a reflexão o complexo e multifacetado cenário político mundial atual. Ele se interessou pela figura da jovem política francesa Marion Maréchal, de 28 anos, neta de Jean-Marie Le Pen, fundador do partido de extrema direita Frente Nacional. Começa dizendo que Marion tem pouco em comum com seu avô, algo interessante; e aproveitando a descrição desse afastamento pessoal das duas figuras conduz o leitor a também ir se afastando da ideia de uma direita política um tanto intransigente e beligerante para ir desenhando um quadro cultural diferente, em que a “nova direita” ganharia forma em jovens ecléticos e preocupados com os problemas globais reais. Marion Maréchal, em um discurso em Washington em 2018, perante uma plateia típica da convenção anual da Conferência de Ação Política Conservadora, conseguiria captar a atenção de muitos quando suas palavras não pareciam saídas de um roteiro esperado. Falando para uma plateia de republicanos radicais, fanáticos por armas e “absolutistas da propriedade privada” (palavras de Lilla), daria uma virada interessante no seu discurso ao atacar o princípio do individualismo e afirmar que o “primado do egoísmo” está na base de todos os males da sociedade contemporânea. Para Marion, a economia global escraviza os estrangeiros migrantes, “roubando” os empregos dos trabalhadores locais. De fato, para Mark Lilla, Marion é uma representante de uma “terceira força à direita” política (nem clássica, nem populista), que vem se mobilizando em torno das chamadas questões sociais, e que não se sente contemplada no sistema de partidos políticos francês. “Terceira força” que seria muito próxima dos chamados partidários de “La Manif”, compartilhando duas principais convicções: que um forte conservadorismo seria a única alternativa para o “cosmopolitismo neoliberal”, e que tal conservadorismo pode ganhar força com recursos provenientes dos dois lados da polarização política tradicional entre direita e esquerda. É que como bem menciona Lilla, surpreendentemente estes jovens conservadores também se permitiriam ser admiradores do democrata de esquerda norte-americano Bernie Sanders. Se bem recusam a União Europeia, a imigração e o casamento entre pessoas do mesmo sexo, também criticam a desregulamentação dos mercados financeiros, a austeridade neoliberal, o consumismo, a sociedade da livre competência desenfreada e o mero interesse econômico pessoal dos indivíduos.
Bolsonaro
chega ao governo com um apoio heterogêneo e não necessariamente de uma “nova
direita” em ascensão – Carlos Gadea
Apresentam-se preocupados com os cidadãos mais vulneráveis, e de maneira direta com as dificuldades dos Estados nacionais europeus de poderem atuar devido ao peso das políticas fiscais impostas aos países pela União Europeia e a carência de políticas soberanas, por fora da União, para se responsabilizar diretamente nas questões sociais.
Na defesa da família, estes jovens conservadores sustentam que a economia deveria subordinar-se aos imperativos sociais, e quando o assunto é o cuidado do meio ambiente, manifestam preocupação com a degradação ambiental e a qualidade dos alimentos que chegam às nossas mesas. Tudo isto, sem dúvida, parece muito próximo do que representa a denominada “doutrina social da Igreja”, e mais ainda quando parecem aliar o tradicionalismo católico com um sentido prático de realidade bem aguçado.
Citando o mesmo Lilla, esta “terceira via” na política de direita ao chamar a “atenção para problemas reais: um número crescente de novas famílias, a geração de filhos em idade mais e mais avançada, a proporção cada vez maior de mães e pais solteiros, os adolescentes imersos em pornografia e confusos quanto à própria sexualidade, além de pais e filhos estressados que fazem as refeições em separado, com os olhos grudados no celular”, está diagnosticando que se deve ao “individualismo radical que nos torna cegos para a necessidade social de famílias fortes e estáveis” (p. 34). Certamente, estamos perante uma “terceira via” da direita política e cultural. Mas Mark Lilla não destaca um ponto importante nesta suposta conformação de uma “nova direita”. Refiro-me à relação que se pode estabelecer, a partir do seu diagnóstico, dessa preocupação pelas mudanças culturais atuais e as agendas políticas identitárias com uma renovação da esfera privada como âmbito privilegiado da vida cotidiana. Embora façam público muitos dos dramas privados, tal qual a dinâmica mobilizatória que nos tinha acostumado a esquerda política, esta “nova direita” chama para uma espécie de recuo na política de vida, na defesa da vida privada, ao perceber que seria na esfera privada onde residiria o capital simbólico, cultural e até político de transformação da vida pública. Saem à esfera pública para reivindicar a esfera privada, para assinalar que no seu retorno é possível achar as fórmulas que corrigiriam os desvios sociais e culturais desta acelerada, flexível, volátil e banalizada vida contemporânea. O que quero particularmente destacar é que também se trata de uma discussão sobre os contornos da esfera pública e a esfera privada, sobre seus diferentes pesos na vida individual e social, e em definitivo, sobre o contraproducente efeito cultural de politizar a vida cotidiana. Mas, ainda, outro ponto é relevante destacar, a propósito do anterior.
É possível observar que no registro das sensibilidades e as potenciais preocupações que aparecem sobre assuntos sociais e econômicos, não há possibilidade de esgotar esta “nova direita” num compêndio de ideologias correspondentes a uma metanarrativa clara. Por exemplo, os jovens da “nova direita” podem até criticar o neoliberalismo, mas são contra o aborto.
Para alguém de esquerda, por exemplo, criticar o neoliberalismo e estar a favor do aborto faz parte de uma coerência ideológica surgida de uma interpretação dos fatos econômicos e culturais como estritamente entrelaçados. Não existe autonomia entre as esferas, e se tratando destes casos concretos, o neoliberalismo e o direito ao aborto se inscrevem numa narrativa que teriam como matriz o chamado patriarcado e o machismo. No entanto, é possível um indivíduo se compreender de esquerda, votar em partidos políticos de esquerda ou de centro-esquerda, e estar contra o aborto? Ou estar a favor do porte de armas de fogo pela população sem maiores restrições? Diria que sim, fundamentalmente porque a agenda econômica e política não necessariamente tem correspondência com agendas culturais ou morais, ou religiosas. As esferas têm se autonomizado cada vez mais, e o que em algum aspecto um indivíduo se pode compreender progressista ou de esquerda, em outro pode confessar ser conservador. Assim, a “nova direita” parece se encontrar com uma “nova esquerda”, esta ainda sem lineamentos evidentes e claros. Encontram-se, por exemplo, na contrariedade perante mudanças culturais recentes, como na ênfase dada aos assuntos identitários nas discussões políticas, na referência a supostas questões privadas como definidoras de identidades de relevância na esfera pública. Tanto para a “nova direita” como para uma “nova esquerda”, o retorno aos princípios do universalismo são um tema prioritário, com a diferença de que para estes últimos, a secularização da sociedade e o pragmatismo são o combustível para a reconquista da res-pública. A “nova direita” tem nos valores morais e na religião sua nova teleologia; para a suposta “nova esquerda”, o gesto pós-moderno e pragmático de contínua secularização da vida social é algo inegociável, empreendendo um grande desafio: derrubar as energias populistas do passado. No entanto, esta “nova direita” e “nova esquerda” se encontram pelos corredores da grande babel que habitamos.
4)- IHU
On-Line - Qual é a peculiaridade da chamada “nova direita” no Brasil e em que
ela distingue do que era chamado de a direita até então?
Carlos A. Gadea - Se a pergunta tem relação com procurar
compreender o triunfo eleitoral de Bolsonaro, é bom lembrar que isso é
resultado da construção discursiva de uma polarização política do país. Não
considero que exista de fato, embora vejamos, insistentemente, este binarismo
reproduzido na mídia e no senso comum. O eleitorado se expressou de maneira
mais diversa. Veja, por exemplo, a grande quantidade de votos nulos e brancos,
e de abstenções, em torno de 42 milhões, a maior desde 1989 [5]. Desde 2013 e 2014, os governos do PT vinham sofrendo um processo de
deterioração quanto a sua imagem, e esse processo levou à construção de figuras
políticas curiosas como Bolsonaro. Na realidade, o sistema político foi quem
pagou o preço de não ter se constituído em espaço de confrontação política
séria durante anos, pois bem sabemos que praticamente os governos do PT atuaram
sem oposição política. O eleitorado assimilou que o sistema político e o PT
faziam parte de uma mesma realidade, permitindo, inclusive, a prática da
corrupção. Feita essa leitura, a figura de um
“outsider” calou prontamente, e Bolsonaro navegou na onda. Sabemos dos escassos
recursos políticos e intelectuais que possui. Também da inexperiência em cargos
executivos. No entanto, um setor importante da população o levou à presidência
mais por ressabio ao ciclo político anterior do que por suas eventuais virtudes. Dito isto, Bolsonaro chega ao governo com um apoio heterogêneo e
não necessariamente de uma “nova direita” em ascensão. É mais o resultado de um
contexto do que de um processo de construção política e cultural de décadas ou
anos. O coquetel de desemprego, os ventos da corrupção e a insegurança trouxe a
ressaca e o Bolsonaro. Mas, evidentemente, em Bolsonaro se canalizaram
energias políticas, também, de uma direita tradicional e uma eventual “nova
direita”. Muitas das características apontadas acima se enquadram com essas
energias, ainda que veja algumas particularidades, em especial três. Em
primeiro lugar, o seu vínculo com as igrejas neo-evangélicas e neopentecostais.
Em segundo lugar, seu lado “liberal”, apostando na crítica à carga impositiva
do país, e finalmente o seu vínculo com as lutas identitárias, com a busca da
hegemonia cultural. Neste terreno é onde mais se tem desenvolvido os embates
políticos, e aqui é onde a “nova direita” embarcou em certo sentido. No
entanto, não vejo nesta “nova direita” que supostamente acompanharia Bolsonaro
o caráter modernizador da sociedade. Seu híbrido entre modernidade e
conservadorismo é menos evidente, conduzindo a que uma suposta “nova direita”
critique o viés autoritário do governo. A diferença da
direita tradicional e a suposta “nova direita” no país é o abandono, desta
última, do discurso belicoso e o apelo à violência para a resolução de conflitos.
A imagem de um governo autoritário não seduz suficiente, algo que
à direita tradicional não incomodava...
Fonte - www.ihu.unisinos
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